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A EDUCAÇÃO NA CORDA BAMBA DA BNCC

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A EDUCAÇÃO BRASILEIRA NA CORDA BAMBA DO CAPITAL!
Em meados da década de 80, mais precisamente no ano de 1985, foi elaborado um estudo pelo Banco Mundial, Educação na África Subsaariana, que produziu um diagnóstico sobre os sistemas educacionais de 39 países. Quatro anos depois, foi elaborado um novo documento internacional de recomendações que ficou conhecido como: Consenso de Washington. O novo documento apontava a necessidade dos países “subdesenvolvidos" adotarem políticas neoliberais com o objetivo de combater crises e misérias.
As formulações dos relatórios produzidos desses eventos confluíram para a intensificação de ações nos países subdesenvolvidos, sobretudo os da América Latina.
Em 1990 foi realizada a Conferência Mundial de Educação para Todos, em Jontiem, na Tailândia, convocada e patrocinada pelo BIRD (Banco Mundial), Unesco, Unicef e PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), com a presença de delegações de 155 países, 20 organismos intergovernamentais e 150 organizações não governamentais.
Nesse encontro, os Organismos Internacionais controlados pelo capital internacional pautaram as necessidades dentro da sua ótica para a educação dos países periféricos, definindo uma receita de políticas educacionais que seriam impreterivelmente aplicadas em seus sistemas educacionais, adotando formas de treinamentos para corrigir as dificuldades de aprendizagens.
Nessa Conferência, entre os principais países, estavam a China, a Índia, o Brasil, o Paquistão, Bangladesh e a Tailândia, e lá fizeram a constatação de que vivenciavam uma catástrofe nos seus sistemas educacionais, apresentando dados que comprovavam essa realidade:
— mais de 100 milhões de crianças, das quais pelo menos 60 milhões são meninas, não têm acesso ao ensino primário;
— mais de 960 milhões de adultos – dois terços dos quais mulheres — são analfabetos, e o analfabetismo funcional é um problema significativo em todos os países industrializados ou em desenvolvimento;
— mais de um terço dos adultos do mundo não têm acesso ao conhecimento impresso, às novas habilidades e tecnologias, que poderiam melhorar a qualidade de vida e ajudá-los a perceber e a adaptar-se às mudanças sociais e culturais; e
— mais de 100 milhões de crianças e incontáveis adultos não conseguem concluir o ciclo básico, e outros milhões, apesar de concluí-lo, não conseguem adquirir conhecimentos e habilidades essenciais. (Declaração Mundial sobre Educação para Todos -1990).
Os Organismos Internacionais, autoproclamando-se os paladinos na defesa da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que em um dos seus artigos garante que "toda pessoa tem direito à educação", estavam se prontificando em ajudar os milhões de seres humanos que continuavam na pobreza, privados de escolaridade, mergulhados em problemas crônicos na educação (repetência, evasão e altas taxas de analfabetismo).
Engana que eu gosto! Toda essa carta de boas intenções, vinda do capital, revelava, na realidade, seus verdadeiros interesses: preparar o terreno para transformar a educação em um produto atraente e vendável para os capitalistas internacionais.
Os Organismos Internacionais, para darem prosseguimento à aplicação das definições da Conferência de 1990, elaboram em 1995 um novo documento: Prioridades e Estratégias para a Educação: estudo setorial do Banco Mundial – e realizaram a Conferência de Dakar, tendo como resultado a reafirmação das diretrizes do projeto dos organismos multilaterais.
A globalização da economia deu o ritmo necessário para os Organismos Internacionais elaborarem as concepções e valores para o seu projeto de oferecer de bandeja a educação para as corporações transnacionais, com o objetivo de garantir e potencializar a acumulação de seu capital, usando como mercadoria a educação. Para implementarem todo esse projeto, os governos de plantão, com sua subserviência e interesse em lucrarem, foram parceiros na empreitada.
O Movimento dos Trabalhadores em Educação, que se forjou no final da década de 70 até meados dos anos 80, constituindo-se em uma poderosa rede de sindicatos combativos e enraizado na organização de base, com representantes nas unidades escolares e além das direções estaduais, construiu-se com uma camada de organismos intermediários, aglutinando centenas de dirigentes sindicais e uma base participativa, que davam impulso às lutas da classe trabalhadora, se transformando em uma grandiosa trincheira de resistência nas batalhas travadas em defesa da Escola Pública, estatal, gratuita, laica e de qualidade em todos os níveis, e na valorização dos profissionais em educação.
Fruto das inúmeras lutas na década de 80 e desse grau de organização sindical, muitas bandeiras defendidas pelos trabalhadores(as) foram aproveitadas no processo da elaboração da Constituição Brasileira de 1988, sendo incorporadas em artigos:
Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. 
E com as lutas invadindo e pressionando o Plenário Constituinte, o legislativo da União, na Constituição de 1988 em seu Art. 22, Inciso XXIV, estabelece que compete privativamente à União legislar sobre “diretrizes e bases da educação nacional” (BRASIL, 1988, Art. 22, Inciso XXIV).
Nos anos 90, já sob a influência e os reflexos da rota traçada na Conferência da Educação para Todos, banhada na onda do neoliberalismo, que invadiu aquela realidade política, com os governos Collor, e principalmente nos dois anos do governo Itamar, com a regência do “Príncipe da Sociologia” Fernando Henrique Cardoso, que inaugurou as bases para as mudanças na legislação educacional, que vai ser potencializada durante seus dois governos(1995/1998 e 1999/2002), todo um processo de reformas educacionais, conduzido e orientado por conglomerados internacionais privados, que disponibilizaram especialistas e financiaram os governos que assumiram o compromisso de adaptarem os seus projetos educacionais aos objetivos do interesses do grande capital. 
Nos anos 90 todas as metas definidas na Conferência da Educação para todos, foram batizadas no neoliberalismo, que na época, influenciaram os governos Collor e o do seu vice Itamar, que depois do impeachment, assumiu a Presidência da República, constituindo uma espécie de um governo de coalizão, nomeando Fernando Henrique Cardoso, primeiramente como Ministro das Relações Exteriores e em seguida, como Ministro da Fazenda com o desafio de estabilizar a economia, criando para isso, o Plano Real.
Nas eleições de 1994, FHC é eleito Presidente da República, permanecendo por dois mandatos (1995/1998 e 1999/2002) no exercício do poder.
A frente do Governo Central inaugurou um processo de reformas educacionais, que elaborou a constituição de praticamente uma nova legislação educacional.
Com a agenda educacional privilegiando políticas de avaliação, financiamento, padrões, formação de professores, currículo, instrução e testes, o governo FHC realiza a maior intervenção no Sistema Educacional Brasileiro, respondendo às necessidades do mercado, adequando a educação nacional à economia globalizada sob a hegemonia do capital financeiro.
Na era FHC, o discurso privatizante da economia ganha repercussão e foi balizado de forma cretina em que tudo que era público não funcionava, não tinha qualidade e não tinha eficiência.
O capitalismo aprofundou o seu domínio para acumular mais e mais e bateu asas para abocanhar as instituições educacionais (escolas, faculdades, universidades, etc.), e jurava para todos que o controle das instituições internacionais privadas seria a garantia de padrões de qualidade para a Educação Brasileira.
Portanto, o governo FHC, como um instrumento eficaz do capital, assume e se responsabiliza como prioridade em pavimentar o caminho para a mercantilização da educação no Brasil. E inicia sua peregrinação por constituir um novo arcabouço de legislação para o Sistema EducacionalBrasileiro.
O Governo de FHC e o seu legislativo assumiram com toda exatidão e subserviência ao capital o desafio de elaborar a nova Lei de Diretrizes e Bases. E começa por absorver algumas bandeiras do Movimento, sem o seu verdadeiro conteúdo, esvaziando as suas reivindicações históricas. Adotou ardilosamente um discurso de modernização do ensino, de reconhecimento das limitações do sistema escolar, de melhoria da qualidade da escola pública e, o pior, enfatizou a necessidade do envolvimento da comunidade nas decisões, etc. Tudo armação!
Os trabalhadores em educação, reunidos em um Fórum em defesa da educação pública, que já vinha dos embates da elaboração da Constituição de 1988, assume a bandeira de uma LDB democrática, fruto de reivindicações das lutas dos trabalhadores.
Para possibilitar as discussões, foram constituídos espaços dos movimentos sociais, que potencializaram a elaboração de uma proposta de LDB que contemplava no singular as bandeiras históricas do Movimento dos Trabalhadores em Educação.
Mas o governo, convicto de seu papel patronal, impõe a sua proposta de LDB, que garante a destinação de verbas públicas para as escolas privadas; não garante a gestão democrática, a exemplo de eleições para diretores e conselhos deliberativos; impõe a municipalização, através da E.C.14; aumenta os dias letivos sem melhorar a qualidade do ensino, entre outras. 
O Movimento entendeu que, por mais que a LDB do capital tenha incorporado algumas reivindicações originárias de nossas lutas, não contemplava de conjunto uma proposta que possibilitasse edificar um sistema educacional que comtemplasse os interesses da maioria da população usuária da educação pública. E conclamou o conjunto dos trabalhadores a não cair em mais uma armadilha do capital. Por outro lado, chamou os profissionais da Educação a escrever com as suas próprias mãos uma LDB que fosse interessante para a Classe trabalhadora.
Em dezembro de 1996, o governo aprova seu projeto de LDB.Com essa bandeira, desce para o chão das escolas para disputar a consciência do conjunto dos trabalhadores. Logo em seguida, em 1998,  impõe os Parâmetros Curriculares Nacionais  -  PCNs - e constrói, juntamente com  as Secretarias Estaduais e Municipais de Educação de todo país, sem nenhuma discussão com os Movimentos Sociais, a implementação dos PCNs no interior das escolas. Chegaram a promover alguns seminários, não com o propósito de debater amplamente a proposta de PCNs, mas sim, com o objetivo de doutrinar os profissionais em educação e garantir a sua implementação.
Com a LDB nº 9394/96, a E.C. nº 14 (municipalização do ensino), o FUNDEF, as reformas do ensino técnico-profissional e do ensino médio, Programa Nacional do Livro Didático, Programa de Aceleração da Aprendizagem, Sistemas Nacionais de Avaliação da Educação Básica e Superior, os PCNs e o PNE,  sancionado em 2001 (Lei 10.712) pelo o governo FHC, tudo isso serviu de  articulação das diretrizes políticas para a formalização de um sistema educativo nacional, subordinado às  diretrizes do Banco Mundial.  
E o governo continuou avançando na aplicação da política neoliberal na educação, ainda gestada pelos organismos internacionais em 1990, desde a Conferência em Jontiem, na Tailândia, atendendo à lógica da mercantilização da educação.
O governo FHC, para respaldar a sua reforma educacional, promoveu uma Conferência Nacional de Educação para Todos, a qual aprovou o Pacto Nacional de Valorização do Magistério e que, pelo fato de prometer um acordo que garantiria o pagamento ao magistério de um Piso Salarial Nacional, trouxe a adesão de entidades da sociedade civil, da CUT e CNTE para validar o documento governamental.
FHC terminou seu governo em 2002 sem cumprir a promessa de valorizar a educação e os seus profissionais, mas satisfazendo aos seus sócios, atendendo a todas as demandas do receituário dos organismos internacionais, trilhando o caminho da mercantilização da educação na forma de privatização das instituições públicas de ensino.
O Movimento dos Trabalhadores em Educação se apoiou na organização do Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública para desenvolver a luta com o objetivo de reivindicar um projeto alternativo à reforma educacional de FHC. A definição de um PNE da sociedade brasileira, definido no CONED, apresentou-se como um contraponto ao PNE-MEC de FHC.
Com o fim da Era FHC e a chegada do Governo Lula com a Frente Popular, foi alimentado no seio do conjunto da classe trabalhadora que agora seria a vez de todas as suas reivindicações históricas, sempre negada por todos os governos anteriores, serem plenamente atendidas.
O Governo Lula, antes mesmo de vencer as eleições, havia celebrado um acordo, que ficou expresso na Carta aos Brasileiros. Nesta carta, Lula sinalizava que iria cumprir e seguir à risca as políticas definidas em acordos anteriores, como, principalmente, garantir a drenagem de recursos para os conglomerados, através do pagamento religiosamente dos juros e amortização da dívida pública.
O governo, atado, começa seu governo fazendo o que FHC não conseguiu realizar, por ter sido barrado com as lutas dos trabalhadores. Inicia justamente impondo uma Reforma da Previdência, atingindo em cheio os servidores públicos. Com esse ataque, o governo revela já no início de seu governo que não seria tão diferente dos demais.
No campo da educação, Lula não consegue romper com a legislação educacional herdada do governo anterior, e continua com os planos de ajuste neoliberal, que obedecia à lógica de adequar o sistema educativo nacional às leis do mercado, impulsionado pela globalização econômica.
Portanto, todo o programa da área da educação do governo do PT e seus aliados tomou como referência a reforma educacional de FHC. A política de financiamento de Lula não alterou a de FHC, e continuou alocando recursos públicos para o ensino privado, através do FIES e PROUNI, privilegiando os grandes conglomerados do ensino, concedendo empréstimo do BNDES.
As políticas definidas no governo, como a transformação do FUNDE, que só atendia ao ensino fundamental, para o FUNDEB, que passou a incorporar toda a educação básica e a política de piso nacional foram feitas de forma maquiada, sem alterar substancialmente a política ditada pelo Banco Mundial.
A Frente Popular caiu na onda da escola ideal, abandonando as reivindicações produzidas nas batalhas de lutas que, muitas delas, o PT incorporou no seu programa, quando não era governo, mas quando assumiu o poder, deixou de lado.
Vale ressaltar que Lula teve a oportunidade de vetar algumas pendências do PNE elaborado pelo governo de FHC, mas preferiu se omitir.
O Governo Dilma não foi diferente e continuou na mesma linha dos governos anteriores, seguindo fielmente a legislação educacional.
Apoiado no Conselho Nacional de Educação dá continuidade à elaboração das políticas para a educação, sempre secundarizando as proposições construídas nos fóruns de trabalhadores. Com a finalização do PNE da Era FHC, constituiu-se o novo Plano Nacional de Educação (PNE/2014-2024), que ficou quase três anos empacado, numa total inércia, mergulhado em indefinições, principalmente quanto aos valores de percentuais para o financiamento da educação. E quando foi para a provação do PNE, o governo Dilma, já com os acordos velados com os tubarões do ensino, aprova sem realizar nenhum veto.
Nesse meio, em 2013 foram definidas as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) que passaram a nortear as discussões para a definição de uma Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
Os 13 anos do PT e seus aliados à frente do governo federal marcaram, de forma indelével, constantes cortes no orçamento destinado à educação. Tanto Lula quanto Dilma afiaram a tesoura, cortando volumosas quantias de verbas que seriam destinadas à educação. Apresentavam como uma saída a aplicação dos royalties do pré-sal, o mesmo pré-sal que continuou sendo leiloado pela Petrobrás a mando do governo. Tudo isso para acumular o superávit primário, com o objetivo de cumprir à risca o pagamento da dívida pública.A BNCC: UMA COLCHA DE RETALHOS COSTURADA PELO CAPITAL
O Plano Nacional de Educação (PNE - Lei nº 13.005/14), sancionado pelo governo Dilma, apontava a necessidade de constituir a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). E na visão governamental a aprovação de uma BNCC perpassava os governos, com seus respectivos partidos, e em 2015 iniciam-se os primeiros passos para a sua construção.
Com a crise aberta, a partir da queda de Dilma e a saída do PT do governo, Michel Temer, ex-vice de Dilma e aliado do PT, dá prosseguimento à elaboração da BNCC, dentro da ótica da nova localização de seus parceiros no interior do governo.
Para ter um controle maior na definição e constituição de uma BNCC que se enquadrasse mais dentro do perfil de seu governo, Temer redesenhou uma nova composição do Fórum Nacional de Educação, descaracterizando a formação anterior, mudando substancialmente os sujeitos políticos no Fórum. E manteve um Conselho Nacional de Educação submisso às suas determinações, com o funcionamento de atrelamento, prática alimentada por todos os governos que já estiverem no controle do governo.
Nesse momento de intensa instabilidade política no país, a aprovação de qualquer que seja a lei, certamente irá refletir um processo sem nenhum respaldo da população, principalmente a categoria de trabalhadores em educação, e vai suar como a continuidade dos ataques ao direito essencial, que é o acesso à educação pública.
O Processo de elaboração da BNCC é formalizada no interior de uma bolha, sem a ampla participação dos trabalhadores nas discussões, se negando a contemplar os acúmulos realizados, mesmo com suas limitações nas Conferências Nacionais de Educação (CONAE-2010/2014) que formalizou um projeto constituído nesses fóruns. Na cabeça do governo as três versões foram submetidas a consultas públicas e a realizações de audiências públicas. Isso, e somente isso, foi a garantia da participação dos trabalhadores na elaboração desse documento.
Para coroar o processo antidemocrático na elaboração da BNCC, o governo desconsidera as versões anteriores, apreciadas por determinados segmentos, e apresenta e encaminha uma terceira versão conduzida pelo MEC, para a aprovação no Conselho Nacional de Educação no dia 15 de dezembro de 2017. Como se trata de um conselho que aceita a interferência governamental, acata e vota amplamente favorável, com apenas 3 votos de conselheiros contrários ao projeto apresentado.
O projeto foi homologado cinco dias depois de aprovado no CNE, em Brasília, pelo Ministro da Educação José Mendonça Filho, com o aval das seguintes entidades: Conselho Nacional dos Secretários Estaduais de Educação (Consed), União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) e Conselho Nacional de Educação (CNE).
A BNCC não é uma ruptura dos referenciais legais (a Constituição Federal, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a Política Curricular Nacional e as Diretrizes Curriculares Nacionais, PNEs), mas sim, a concretização das elaborações contidas na legislação educacional, formalizada nos últimos trinta anos. Reforma educacional absorvida por todos os governos que já passaram no Planalto Central do país. E ficou distante das teses formuladas pelo movimento sindical ao longo desses últimos 30 anos.
A proposta do Ministério da Educação (MEC) representa a instituição de um instrumento centralizador, autoritário, reducionista e de controle dos conteúdos a serem ministrados por professores(as) (Doc do Andes-SN).
O texto elaborado padroniza um conteúdo, impondo para as escolas de todo o território nacional uma homogeneidade, incapaz de considerar a diversidade e realidades das localidades e regiões do país, contrariando as potencialidades da riqueza e diversidade cultural, geográfica e étnica deste imenso Brasil, fechando os olhos para as disparidades existentes de infraestrura.
A definição de matrizes curriculares homogeneizadas termina por prejudicar a formação do corpo docente, como fere a autonomia dos sistemas estaduais e municipais de ensino, interferindo de forma prejudicial na elaboração dos Projetos Político-Pedagógicos-PPP das unidades escolares e nos processos educativos e de avaliação de ensino e aprendizagem.
Para dar prosseguimento a essa visão, o governo impulsiona os Estados e Municípios a adotarem o documento da BNCC como referência para a construção dos currículos e dos PPPs das escolas de todo país. Com o intuito de garantir a implementação, irão injetar recursos financeiros e disponibilizar, no orçamento de 2018, R$ 100 milhões para apoiar os Estados e Municípios a investirem na implementação da BNCC, tudo para construir um clima que dê a transparência e o coroamento de uma BNCC como modelo ideal para a educação em vigor em nosso país.
Construíram o chamado dia D, em 6 de março de 2018, momento em que apresentaram o documento, na verdade pela primeira vez, de maneira mais ampla. O MEC tem como objetivo atingir a revisão dos currículos para o próximo ano e chegar ao prazo máximo do ano letivo de 2020.
Os movimentos sociais que ficaram à margem desse processo têm denunciado que não houve transparência nos debates que antecederam a elaboração do documento que deu origem à BNCC e que a formalização desse documento é a continuidade do acolhimento dos interesses dos grupos empresariais e de ideologia retrógrada que têm objetivos evidentes de lucrarem com a educação.
As políticas educacionais em nosso país perpassaram por todos os governos de plantão, que seguiram os passos da OMC em atender a solicitação em transformar a educação em serviço, aprofundando o percurso para a mercantilização da educação brasileira.
Por isso, projetos foram implementados, garantindo o deslocamento de verbas públicas para a iniciativa privada, como foi o PROUNI, na Era de Lula/Dilma. Na ótica da OMC, a educação seria um setor estratégico fundamental e que teria um potencial para se extrair a mais-valia.
A BNCC no dia a da educação ocorre quando o currículo é de fato construído no interior das unidades escolares, enfrentando a realidade das escolas e das redes   públicas de ensino. 
A BNCC apresentada ao povo brasileiro é uma proposta adequada à situação financeira do pais e se encaixa dentro das políticas de gastos públicos do atual governo.
 
1)               A terceira versão da BNCC apresentada ao apagar das luzes retrocede ainda mais do que já estava apresentado. Ente os pontos questionados, estão:
 
a) A inclusão do Ensino Religioso na terceira versão do texto com o status de área do conhecimento ou como componente curricular em ciências humanas no ensino fundamental. Mesmo facultativo para os alunos, o Ensino Religioso terá diretrizes definidas do 1º ao 9º ano. Fruto da concessão política e jurídica, por um lado, impulsionada pela decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) que permitiu o ensino confessional nas escolas públicas, ferindo o princípio da liberdade religiosa. Aceitando diretamente as pressões das empresas/igrejas fundamentalistas e, por outro lado, a aceitação plena pelo governo Temer, que determinou que o MEC reincluísse o Ensino Religioso no texto, ficando evidente o enfraquecimento da laicidade do Estado Nacional;
b) A exclusão de qualquer referência à identidade de gênero e orientação sexual do documento, ficando a cargo do CNE as definições de resoluções com orientações específicas para abordar o tema;
c) A retirada do Ensino Médio da versão aprovada fragmenta e dissocia os alicerces da educação básica, com o objetivo nítido de enxugar o currículo para mudar a estrutura e propor uma flexibilização da grade curricular e, além disso, caminhar para a profissionalização no Ensino Médio, com o sentido de acompanhar o mercado de trabalho desregulamentado pela Reforma Trabalhista, que desfigurou os direitos trabalhistas. Para definir com mais precisão, preferiram construir posteriormente uma versão própria para o Ensino Médio;
d) A antecipação da meta de alfabetização para o segundo ano do Ensino Fundamental, que apareceu apenas em abril de 2017, quase dois anos após o início deelaboração do documento, que vai ocasionar uma pressão desnecessária sobre os educadores e crianças;
e) Na Educação Infantil, a terceira versão apresenta uma redução nas concepções de linguagem e de ensino/aprendizagem, indo de encontro às diretrizes curriculares dessa etapa de ensino.
O que fazer?
Essa é a pergunta muitas vezes realizada no momento em que ficamos perplexos.
É preciso, num momento como este, mergulhar profundamente no estudo e ampliar o nosso conhecimento do projeto apresentado pelo MEC, para sabermos profundamente quais as consequências dessas propostas para a educação brasileira. Propostas que não foram amplamente debatidas, nem discutidas, especialmente com os trabalhadores em educação e o conjunto da comunidade escolar.
Para os governistas e entusiastas desta proposta, estamos diante de uma joia rara. Essa pérola é considerada uma descoberta, que a sua aplicação influirá na redução da desigualdades do ensino brasileiro.
Isso não é verdadeiro. A BNCC arquitetada por conglomerados internacionais tem a intenção de abocanhar a educação pública para a estratégia neoliberal, com objetivos claros de estimular a acumulação de capital, aprofundando ainda mais a segregação dos que precisam da escola pública.
Sabemos como foi gestada a BNCC, antes e depois do governo Temer. Sabemos que antes, pelo fato de termos as entidades sindicais parceiras do governo Dilma, não se teve muita iniciativa de mover os trabalhadores para influir na construção dos debates que preparassem os trabalhadores para enfrentar essa discussão. Lembramos, também, como foi aprovado o PNE em 2014, sem uma ampla discussão com a comunidade escolar, pelo fato de as entidades estarem atreladas aos interesses governamentais. Agora o governo Temer faz a escolha de isolar o movimento sindical e se recusa ao diálogo, e tenta impor uma aprovação aligeirada sem a interferência dos movimentos sociais, e como eles dizem bem, é uma escuta da sociedade brasileira. Só escuta.
Será que é possível sair desse fogo cruzado? Acreditamos que sim. É possível se rebelar contra todas as saídas que não estejam pautadas na independência de classe. O chão da escola é o espaço privilegiado para reagirmos e impormos uma grande rebelião que rejeite a imposição do Governo Temer com sua proposta de BNCC que só atende aos interesses do capital internacional, proprietários de empresas que querem o monopólio da educação.
A BNCC da educação infantil e fundamental não se encerrou com a sua aprovação, o governo tem jogado todas as suas forças para implementá-la, e isso se concretizará na elaboração ou a reformulação do currículo nos Estados e Municípios, como a do Ensino Médio que ainda está em andamento. Por isso, o movimento dos trabalhadores poderá se contrapor e derrotar as mudanças drásticas imposta pelo governo.
A realidade só revela que a construção de uma escola emancipadora não virá sem a transformação da sociedade. A luta contra os projetos conservadores, como a Escola sem Partido, será vitoriosa quando ganharmos as ruas. A arena da luta é a nossa trincheira para reafirmarmos a luta em defesa da Escola pública, estatal, gratuita, laica e universal.
REFERÊNCIAS
Constituição de 1988
LDB/96
PARAMENTROS CURRICULARES NACIONAIS-1998
Cadernos de Tese dos Congressos da CNTE-1995/1997/1999/2005/2008
Revista Desafios na Educação – Nº 3/97 e 4/99
Caderno de Debate 2 – ILAESE-2005
Documento Final da CONAE-2010/2014 
Plano Nacional de Educação (PNE) – 2011
Plano Nacional de Educação (PNE) – 2018
BNCC - 2017
Natal, 03 de agosto de 2018
Fernando Antonio Soares dos Santos (NANDO POETA) – Sociólogo, formador do ILAESE, poeta e Técnico Pedagógico do Núcleo Estadual de Educação para a Paz e Direitos Humanos-NEEPDH/SEEC-RN.

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