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Aula 01 02 hist educ brasil

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Aula 01 
A nossa viagem pela história da educação no Brasil tem início no século XVI, na Europa, onde
uma nova visão de mundo ganhava cada vez mais espaço, fruto das transformações decorrentes de um período denominado de Renascimento. Com a chamada crise do século XIV na qual as sociedades europeias foram fortemente abaladas pelas guerras, a fome e a Peste Negra, a estrutura social, econômica e política dominante desde o século V, que caracterizava a Idade Média, começava a ser contestada por novos grupos sociais que procuravam dar uma nova ordem tendo o homem e as necessidades humanas como centro das atenções e não mais Deus.
Novos valores e formas de pensamento baseados em um crescente racionalismo e individualismo surgem como forma de reerguer uma Europa dividida pelos interesses comerciais e materialistas dos Estados Nacionais absolutistas em formação. 
O Rei e a nobreza, associados à burguesia comercial, buscam no mercantilismo fórmulas alternativas para a sustentação econômica de uma nova sociedade.
Na transição do século XIV para o XV, a Igreja Católica, instituição símbolo da unidade cultural e religiosa e guardiã dos valores cristãos, não consegue dar sustentação ideológica ao moderno mundo que estava emergindo dos escombros da sociedade medieval.
Na educação, a crise do modelo escolástico permite o avanço do humanismo, o que significou a valorização do pensamento humano nas artes, na filosofia e uma maior secularização do saber. O homem desvia-se do céu para se preocupar mais com as coisas da terra.
Com isso observa-se um aumento do número de colégios voltados à educação dos filhos, principalmente da burguesia, a fim de melhor prepará-los para a administração dos negócios da família.
A Reforma Protestante foi um movimento religioso, no século XVI, que mudou consideravelmente os rumos da sociedade e da educação na Europa. A unidade da fé e o monopólio da interpretação das escrituras sagradas, até então sob o controle da Igreja Católica, foi rompida de forma definitiva, dando origem a diversas religiões, tais como o Luteranismo, o Calvinismo e o Anglicanismo.
Este movimento pode ser explicado por um conjunto de fatores de ordem religiosa, política, social e econômica. 
As severas críticas feitas pelo padre e teólogo alemão Martinho Lutero (1483-1546) à venda de indulgências e de relíquias religiosas e o comportamento mundano do clero tinham como alvo a hierarquia eclesiástica e a corrupção moral da Igreja de Roma.  
Lutero pretendia um retorno às origens do cristianismo, das quais, segundo ele, o clero católico teria se afastado ao longo dos mil anos da Idade Média.
Martinho Lutero
Do ponto de vista político e econômico a reforma recebeu apoio da burguesia e de elementos da nobreza alemã. 
A burguesia via no movimento reformista uma maneira de se libertar do jugo da Igreja Romana, já que esta condenava diversas práticas comerciais e financeiras que impediam o acúmulo de capital. 
Da sua parte, romper com o Papa significava para a nobreza alemã maior autonomia política e o controle sobre as terras que pertenciam à Igreja.
Qual a relação entre a reforma protestante na Europa e a história da educação no Brasil?
Será a partir da reação da Igreja Católica à Reforma Protestante de Lutero, a chamada Contra-Reforma, que poderemos observar um impacto direto. 
Uma das consequências imediatas da disseminação das ideias de Lutero em toda a Europa foi a perda de fiéis por parte da Igreja Católica. Reunidos no Concílio de Trento (1545-1563), os representantes da Igreja tomaram importantes medidas para conter a expansão do protestantismo. Dentre elas, podemos citar a reafirmação da supremacia papal, dos princípios da fé e da doutrina católica, a criação da lista de livros proibidos (Index), o fortalecimento da atuação do Tribunal de Inquisição e o estímulo à criação de seminários para a formação de padres e de novas ordens religiosas.
Em 1534, foi criada a principal ordem religiosa: a Companhia de Jesus.
Fundada pelo militar espanhol Inácio de Loyola, a Companhia de Jesus teve atuação destacada na propagação da fé católica e na luta contra os infiéis e hereges.
Conhecidos como “os soldados de Cristo”, os jesuítas se espalharam pelo mundo, a fim de cumprir o seu trabalho missionário.
Como estratégia para atingir os seus objetivos, a Companhia de Jesus optou pela criação de colégios, estabelecimentos voltados para a educação de jovens dentro do ensino das primeiras letras e da doutrina cristã.
Os professores jesuítas eram do Colégio Romano, fundado em 1550, e encaminhados para a Ásia, América e África onde prestavam os seus serviços religiosos e pedagógicos.
Aula 02
Nesta aula, o nosso ponto de partida é o ano de 1549, na colônia portuguesa na América. Mais precisamente na Bahia, quando em terras brasileiras desembarcam os primeiros jesuítas, do navio que trouxe de Portugal o governador-geral Tomé de Souza.
Liderados pelo padre Manuel da Nóbrega, a Companhia de Jesus iniciava um período de intensa atuação na sociedade colonial brasileira, cujo legado pode ser percebido nos dias de hoje.
Até a expulsão do Brasil por decreto do Marquês de Pombal, então primeiro-ministro do rei de Portugal D. José I, a Companhia de Jesus possuía “25 residências, 36 missões e 17 colégios e seminários, sem contar os seminários menores e as escolas de ler e escrever, instaladas em quase todas as aldeias e povoações onde existiam casas da Companhia”.
Quais eram os objetivos da Companhia de Jesus ao enviar seus “soldados de Cristo” para o Brasil acompanhando o governador-geral Tomé de Souza, representante do Rei português D. Manuel I?
Recordando a aula passada, temos que ter em mente que o contexto político e religioso na Europa, no século XVI, não era favorável a Igreja Católica, que teve o seu poder contestado pelos reformistas protestantes. A perda do monopólio sobre as verdades cristãs proporcionou uma acentuada evasão de fiéis da Igreja Católica, que viam nas novas igrejas reformistas uma oportunidade maior de salvação de suas almas. 
Com isso, um dos objetivos da Companhia de Jesus ao chegar ao Brasil era conquistar um maior número de fiéis e seguidores, a fim de expandir a fé cristã e o poder de Roma. Outro objetivo da Companhia de Jesus tem relação com a aliança entre a Igreja e o Estado português. A intenção de Portugal era colonizar o Brasil. Colonizar, na visão da metrópole portuguesa, significava defender, explorar e povoar a terra. A Companhia de Jesus, por seu termo, se enquadrava no projeto colonizador do Brasil na condição de disseminadora da cultura “civilizatória” europeia entre os índios e colonos. Sem dúvida, dentre os aspectos culturais, expandir a religião e a moral católica cristã estavam entre os principais objetivos dos jesuítas.
Ainda no papel de parceira de Portugal na colonização da América portuguesa, a Igreja tinha a importante função de garantir a unidade política, a partir da uniformização da fé e das consciências. Essa uniformização seria atingida através de um árduo trabalho pedagógico nos colégios, nas missões e nas pregações religiosas onde os jesuítas estivessem.
Nos primeiros anos de sua atuação no Brasil, a Companhia de Jesus voltou-se para a catequese e o ensino de ler e escrever para índios e filhos dos colonos que dividiam o mesmo espaço pedagógico: os colégios. 
O ensino das letras, de acordo com José Maria de Paiva, significava a confirmação da organização da sociedade. A sociedade seria hierarquizada pelo acesso às letras.
Com o decorrer do tempo, os colégios e o domínio das letras passam a ser destinados primordialmente aos filhos dos colonos. Os colégios da Companhia de Jesus tinham uma função que iam além do próprio ensino formal. O dia-a-dia intramuros formatava consciências e modelava indivíduos que acabavam por servir de agentes da ordem e da cultura europeia e cristã. Todo o comportamento desviante da moral cristão deveria ser identificado e corrigido para a purificação da sociedade. Caso fosse necessário, castigos e punições eram aplicados àqueles que insistissem emcontrariar as regras do bom comportamento.
Havia um documento que reunia as diretrizes pedagógicas que os jesuítas deveriam seguir tanto em termos de conteúdo quanto em relação aos métodos a serem empregados: o Ratio Studiorum.
O currículo do colégio definido pelo Ratio era composto de:
· A Gramática Média , a gramática superior.
· As humanidades
· A retórica
· A filosofia e a teologia, em um estagio mais avançado.
A educação dos gentios, principalmente dos curumins, prosseguia e Padre José de Anchieta foi um dos seus mais atuantes pedagogos. Utilizando entre outros recursos o teatro, a música e a poesia, Anchieta pode ser apontado como um dos nomes de maior destaque da história da educação brasileira naquele período.
O índio era alvo da disputa entre os jesuítas, que queriam convertê-lo ao cristianismo, e os colonos, que o escravizavam para a execução de trabalhos forçados. Tanto os jesuítas quanto os caçadores de escravos penetraram pelo interior da colônia portuguesa para “capturá-lo”. 
Tendo em vista a dificuldade que os jesuítas encontravam para realizar a sua obra evangelizadora nas tribos indígenas, eles acabaram por criar as chamadas missões.
As missões eram espaços sob a administração da Companhia de Jesus, onde os gentios, além de receberem a educação religiosa, aprendiam a viver sedentariamente em unidades individualizadas por família e a executar o trabalho agrícola com divisão de tarefas, a criação de gado, a construção de templos, fabricação de instrumentos musicais etc. Estabelecendo áreas específicas para trabalhar, descansar e realizar o culto, entre outras. O jesuíta passou a controlar os índios e a substituir os hábitos considerados bárbaros (a poligamia, a antropofagia, a “ociosidade”, a “desorganização”, o andar nu etc.) por condutas mais “civilizadas”.
Nas missões, os índios abriam mão de sua cultura original para receberem uma cultura totalmente estranha a eles. Este processo de aculturamento vai tornar o índio mais dócil e fragilizado. A perda do hábito da guerra entre tribos, por exemplo, vai permitir que os aldeamentos indígenas fossem presa fácil para aqueles que se ocupavam em aprisioná-lo e comercializá-lo como escravo.
A educação “letrada” no Brasil Colonial era direcionada aos homens. As mulheres não tinham acesso aos colégios e eram educadas para a vida doméstica e religiosa. Como esposas dos colonos portugueses, elas deveriam servir como reprodutoras, ou seja, gerar filhos para o seu senhor e marido.
De acordo com a hierarquia familiar, dentre as famílias dos colonos portugueses o primogênito teria direito sobre todas as propriedades da família; o segundo filho era enviado aos colégios e, possivelmente, completaria seus estudos superiores na Europa; o terceiro seria entregue à Igreja para seguir a vida religiosa.
Sobre a educação dos negros africanos no período colonial, Luiz Alberto de Oliveira Gonçalves nos adverte que a ação educativa da Igreja Católica em relação ao negro restringia-se à catequização. Ao contrário dos índios, a palavra escrita lhes era inacessível. A doutrinação, segundo o mesmo autor, se deu a partir das devoções aos santos e à Virgem Maria.
Como vimos no início dessa aula, o acesso à palavra escrita era uma forma de inserir o indivíduo na sociedade colonial brasileira. Assim, a exclusão social dos negros era notória e a sua condição de escravo justificada pela Igreja Católica.
Em 1750, com a assinatura do Tratado de Madrid entre Portugal e Espanha, a confortável e estável situação usufruída pela Companhia de Jesus na América portuguesa começou a se deteriorar, até atingir um momento crucial, em 1759, com a expulsão desta ordem religiosa das terras brasileiras.

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