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101 O PROCESSO DE EVASÃO ESCOLAR NA VIDA DOS ALUNOS DA EJA DE UMA ESCOLA ESTADUAL DE UBERABA- MG Dayane Aparecida Silva Costa1 (UniUbe) Greicy Aparecida da Cunha2 (UniUbe) Mariana Furtado Arantes3 (Orientadora) 1 INTRODUÇÃO Esse trabalho é um nota introdutória de uma pesquisa mais ampla sobre o processo sócio-histórico da formação educacional dos discentes do EJA, em uma Escola Estadual de Uberaba - MG, enfatizando os fatores que os levaram a evadirem do ensino regular, bem como retornarem ao estudo supletivo. Assim, tal pesquisa analisa as dificuldades encontradas pelos discentes no cotidiano escolar do ensino regular e desvenda os motivos que levaram esses discentes a retornarem para a Educação de Jovens e Adultos. Tal pesquisa é de natureza exploratória, que se apóia na pesquisa quantitativa, a qual objetiva [...] a mensuração de variáveis preestabelecidas, procurando verificar e explicar sua influência sobre outras variáveis, mediante a análise da freqüência de incidências e de correlações estatísticas. O pesquisador descreve, explica e prediz. (CHIZZOTTI,1998, p. 52). Assim, constatamos que a pesquisa qualitativa se foca na análise da realidade através de coleta, observação sistemática, dados aparentes, descrição, não considerando no entanto, a complexidade, os dados subjetivos como cultura, valores, crenças, dentre outros. A revisão de literatura é uma forma necessária à identificação do que foi escrito por outros autores sobre o tema. Portanto, para dar embasamento teórico a nossa pesquisa, fundamentamos em livros, artigos científicos e revistas impressas e eletrônicas. Além disso, realizamos pesquisa de campo que, propõe a aplicação de 1 Graduanda do Curso de Serviço Social da Universidade de Uberaba (UNIUBE). Contato: dayaninha_costa@hotmail.com 2 Graduanda do Curso de Serviço Social da Universidade de Uberaba (UNIUBE). Contato: gracycunha@hotmail.com 3 Professora do Curso de Serviço Social da Universidade de Uberaba (UNIUBE). Mestranda em Serviço Social pelo Programa de Pós-Graduação da UNESP/Franca. Assistente Social do Instituto Nacional de Seguro Social. Contato: marianafurtado@hotmail.com 102 questionário caracterizado como um conjunto de questões objetivas e subjetivas sobre o processo de formação educacional que foram respondidas, por escrito, pelos próprios sujeitos desta pesquisa, sem qualquer interferência da equipe pesquisadora. O cenário da pesquisa é uma Escola Estadual de Uberaba - MG, sendo que o universo da pesquisa foram os discentes de duas turmas da Educação de Jovens e Adultos – EJA, totalizando 51 alunos matriculados nesta escola. Para obter o perfil do ciclo escolar destes discentes e os reais motivos da evasão escolar e do retorno aos estudos foram distribuídos questionários, acompanhado do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, a todos os discentes da EJA. Com a autorização da Direção da escola, utilizamos uma aula para a distribuição, preenchimento e recolhimento dos questionários, na própria sala de aula dos alunos. Para análise das informações coletadas, os dados coletados com o questionário são tratados através de uma análise de conteúdo e a utilização de tabulação e de gráficos para organização, exploração e tratamento dos dados em sua freqüência relativa (%), podendo fazer cruzamento de categorias para exploração de dados, tais como as que se referem ao trabalho e a formação educacional. (MARSIGLIA, 2000) Sabendo que a Escola Estadual de Uberaba - MG é uma escola que apresenta diversas expressões da questão social, uma delas nos chamou a atenção – evasão escolar. E é este o objetivo principal da nossa pesquisa, procurar saber quem são os discentes em situação de evasão escolar. A evasão escolar é uma expressão da questão social resultante da desigualdade social no Brasil e ao mesmo tempo perpetua a desigualdade através da manutenção da exclusão impedindo que parte da sociedade tenha acesso ao conhecimento. Nesse trabalho, buscamos dar relevância à discussão da política de educação no Brasil direcionada para jovens e adultos, analisando a realidade social dos discentes e o papel do Estado perante a realidade educacional. Além disso, destacamos que, esta escola não constitui em seu quadro de funcionários o assistente social, propomos também caminhos para atuar frente às demandas apresentadas no seu cotidiano. 2 PROCESSO DE EVASÃO ESCOLAR DOS ALUNOS DA EJA 103 A evasão escolar historicamente permeia as discussões, as reflexões e os debates no âmbito da educação, uma vez que, até os dias de hoje, essa temática tem sido notória como uma manifestação da questão social na sociedade capitalista brasileira. Em virtude disso, os debates a respeito dos rumos que a evasão tem tomado estão se pautando no dever da família, da escola e do Estado para a permanência do aluno, como estabelece a Lei de Diretrizes e Bases – LDB: Art. 2º. A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Em face disso, destaca-se que, a educação não tem sido plena para todos os cidadãos, dos quais a grande maioria, por diversos motivos/fatores não concretizam o acesso ao direito de concluir os níveis básicos de escolaridade, caracterizando, portanto, os significantes índices de evasão e repetência escolar. No Brasil, a Educação Básica é destinada para crianças de até 3 anos de idade que geralmente são atendidas em creches ou em estabelecimentos equivalentes privados, e também é direcionada para crianças de 4 a 5 anos nas pré- escolas, neste caso podemos denominar de educação infantil. A partir dos seis anos de idade, inicia-se o processo de educação formal, através de leis e políticas de educação onde todo o conhecimento científico é processado de forma que os estudantes vão se aproximando de diversos assuntos e temas (gerais e científicos), o que se prossegue ao longo do ensino fundamental. O ensino fundamental hoje tem a duração de 8 anos e 9 anos em alguns estados e se estende do 1º ano ao 9º ano obedecendo a obrigatoriedade da constituição sendo contemplado pelo artigo 208 que diz: “[...] I- ensino fundamental obrigatório e gratuito, assegurada, inclusive, sua oferta gratuita para todos os que a ele não tiveram acesso na idade própria”. (BRASIL, 2006, p.102). Já no ensino médio, que tem duração de 3 anos, como não há a obrigatoriedade, existem problemas em todo país, com o ingresso dos alunos que concluem o ensino fundamental pois o número de vagas oferecidas muitas vezes não correspondem aos números de alunos. Neste momento já começa uma peregrinação por parte dos pais em busca de vagas para seus filhos no ensino médio. Neste caso, na constituição ainda não rege a obrigatoriedade do ensino 104 médio que também contempla no artigo 208: “[...] II- progressiva universalização do ensino médio gratuito.” (BRASIL, 2006, p.102). Afirma-se que o número de abandono no ensino médio é maior devido o ensino não ser obrigatório e neste período muitos ingressam no mercado de trabalho, tendo a carga horária exaustiva, não tendo assim, disposição para estudar. (CUNHA, 2003). No Brasil, o problema da repetência costuma ser associado também ao da evasão. Os dados do Mec mostram que o aumento do número de estudantes que abandonam a escola foi maior no ensino médio. A taxa de evasão, que em 1997 estava em 5,2 % aumentou para 8,3% em 2001. (CUNHA, 2003, online). A partir do Gráfico 1, pode-se observar a direção do caso municipal estudado para a evasão escolar, segundo o quesito grau de escolaridade: GRAU DE ESCOLARIDADE NA EVASÃO ESCOLAR 57%33% 10% FUNDAMENTAL MÉDIO NR Gráfico 1 Grau de escolaridade naevasão escolar FONTE: Pesquisa de campo, 2010. A realidade municipal estudada aponta que a maioria dos alunos (57%) evadiram no ensino fundamental, contra 33% que evadiram do ensino médio. Levantou-se, também, a informação da série que cursavam quando evadiram da escola e identificou-se maior incidência se deu na sexta série do ensino fundamental e no primeiro e segundo ano do ensino médio. Apesar dessa tendência municipal diversa da realidade nacional, observa-se uma similitude dos dados com relação à faixa etária que se evade da escola, conforme o gráfico 2. 105 0 5 10 15 20 25 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 23 NR NÃ O EV AD IU -S E AN AL FA BE TO IDADE DE EVASÃO % % Gráfico 2 Idade de evasão escolar FONTE: Pesquisa de campo, 2010. Conforme o gráfico acima, observa-se que é na adolescência (15-17 anos) que ocorreu o maior índice de evasão escolar entre aqueles alunos estudados, período que deveriam estar ingressando no ensino médio. Os motivos elencados pelos estudantes da EJA para seu primeiro processo de evasão escolar estão dispostos no gráfico 3. 45 20 18 6 2 2 2 6 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 % TRABALHO CASAMENTO, FILHO, GRAVIDEZ FALTA DE INTERESSE FALTA DE OPORTUNIDADE PROBLEMAS DE SAÚDE DIFICULDADE NA VIDA REPROVAÇÃO ESCOLAR NR Gráfico 3 Motivos da Evasão escolar FONTE: Pesquisa de campo, 2010. Neste viés, subtendemos que são inúmeras as expressões da questão social que atuam no processo da evasão escolar. A pesquisa de campo trouxe como resultado que o trabalho (45%), casamento, filho, gravidez, falta de interesse, falta 106 de oportunidade, problemas de saúde e dificuldade na vida são os fatores que levaram para está tal evasão, com destaque para o trabalho. Assim, pode-se levantar mais uma equiparação entre a realidade municipal e a nacional, visto que um dos principais motivos para evasão escolar dos adolescentes é a necessidade de se ingressar no mercado de trabalho como forma de sobrevivência. De acordo com Ruiz (2007, p. 12): As causas da evasão escolar estão ligadas às condições econômicas e sociais adversas de grande proporção de alunos da rede pública. O percentual de alunos de 1ª e 8ª séries oriundos de famílias com renda per capita inferior a meio salário mínimo é de 55,4% e 36,4%,respectivamente.Quando se avança na idade escolar, no Ensino Médio, os alunos tendem a ir desaparecendo das salas de aula. A proporção de estudantes cursando o ensino médio no Brasil é de menos da metade, 45%[...]. Todos esses motivos vêm evidenciando ainda mais a evasão escolar como uma importante expressão da questão social, pois a interrupção do aluno na sua trajetória escolar gera uma série de prejuízos tanto para sociedade civil como para si mesmo, pois se tornará um trabalhador sem qualificação, mal remunerado e sempre a mercê do desemprego. Dessa forma reproduz esse modelo em um ciclo vicioso passando de geração para geração. De acordo com Nascimento (2009, online): O impacto negativo ocorre nos planos pessoal, político, social e econômico. É um impacto profundo na condição de sujeito desses jovens. Cada um deve ser sujeito de sua vida, e a falta de acesso à educação empobrece os horizontes. É por isso que, contraditoriamente, muitos alunos retornam aos estudos com idade mais avançada. E Quando retornam para os estudos, a grande maioria se ingressam na sua maior parte na EJA- Educação de Jovens e adultos, que é um ensino destinado para pessoas que não tiveram acesso ou condições de concluir os níveis de ensino fundamental e médio na idade própria e assim retoma seus estudos em um determinado período da vida. Com este estudo identificamos o perfil dos alunos que estão realizando a Educação de Jovens e Adultos - EJA, em que conforme o Gráfico 4 abaixo indica expressivamente que 33% estão na fase adulta (31-59 anos) e 53% estão na fase Jovem (18-30 anos), com destaque para a faixaetáaria dos 18-19 anos, que totalizaram 27%. 107 Gráfico 4 Dados Pessoais dos alunos da EJA: faixa etária FONTE: Pesquisa de campo, 2010. O gráfico 5 indica os motivos de retorno aos estudos, através da EJA, tais como 31% futuro para a vida, 29% ingresso no mercado de trabalho, 27% qualificação no mercado de trabalho 2% incentivo da família, 2% gosta de estudar e o restante não respondeu. MOTIVO PARA RETORNAR AOS ESTUDOS - EJA 31 29 27 2 2 8 0 5 10 15 20 25 30 35 % FUTURO PARA VIDA INGRESSO NO MERCADO DE TRABALHO QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL/CURSAR ENSINO SUPERIOR INCENTIVO DA FAMÍLIA GOSTA DE ESTUDAR NR Gráfico 5 Motivo para retornas aos estudos-EJA. FONTE: Pesquisa de campo, 2010. Esses dados são devido às metamorfoses no mundo do trabalho que têm mostrado resultados na sociedade muito preocupantes, tais como: desemprego, pobreza, miséria, violência, mortes, dentre outros agravantes. Como o sistema econômico da atualidade está voltado para a flexibilização e valorização do trabalho 108 morto, às oportunidades e o acesso ao trabalho na contemporaneidade pelos que detêm apenas a força de trabalho têm ficado cada vez mais distantes e utópicas. (IAMAMOTO, 2007) As discrepâncias sociais decorrentes da contradição capital/trabalho estão sendo muito banalizadas, devido ao não interesse dos que dominam, com a intenção de permanecer no poder, a fim de adquirir e aumentar ainda mais as suas riquezas. Dessa forma, a classe menos abastadas não tem outra escolha a não ser trabalhar para ter acesso a bens e serviços necessários à sua sobrevivência. Muitas pessoas devido aos vários processos de trabalho não têm a oportunidade de conciliar trabalho e educação, tendo assim, que escolher entre um e outro. E contraditoriamente, é também pelo trabalho que procuram a educação com a finalidade de ampliar a sua qualificação profissional e as oportunidades de ingresso no mercado de trabalho. Prevalece na maioria das vezes o trabalho, por fatores determinantes de sobrevivência, ou até mesmo, ideo-cultural. Esses fatos geram um grande número de alunos que no decorrer da vida escolar evade do ensino regular. Assim, como o mercado de trabalho a cada dia tem exigido especializações, qualificações, esses sujeitos que evadiram os estudos são pressionados, ou, vêem a necessidade de corresponder ao que o mercado de trabalho exige retornando assim a EJA. A partir do gráfico 6 aprofunda-se a discussão entre a relação da evasão escolar e o trabalho: Gráfico 6 Dificuldade do Aluno da EJA em ingressar no mercado de trabalho FONTE: Pesquisa de campo, 2010. 109 Os alunos foram interrogados sobre as suas dificuldades de ingresso no mercado de trabalho. Observou-se que a maioria (55%) apontou que não encontram dificuldades para o exercício do seu trabalho; porém foi expressivo também o número daqueles que já encontram barreiras para realizar sua força de trabalho (37%). Dessa forma, aponta-se os motivos elencados por aqueles alunos que afirmaram encontrar barreira para se inserirem no mercado de trabalho: “Concorrência.” “Por não ter grau de escolaridade.” “Por não ter melhor preparo profissional.” “Falta de estudo completo.” “Por falta de estudo, experiência e capacitação.” “Falta de especialização e oportunidade.” Segundo Marrach (1996, p.46-48): [...] 1.Atrelar a educação escolar à preparação para o trabalho e a pesquisa acadêmica ao imperativo do mercado ou às necessidades da livre iniciativa. Assegurar que o mundo empresarial tem interesse na educação porque deseja uma força de trabalho qualificada, apta para a competição no mercado nacional e internacional. [...] 2. Tornar a escola um meio de transmissão dos seus princípios doutrinários. O que está em questão é a adequação da escola à ideologia dominante. [...] 3. Fazer da escola um mercado para os produtos da indústria cultural e da informática, o que, aliás, é coerentecom idéia de fazer a escola funcionar de forma semelhante ao mercado, mas é contraditório porque, enquanto, no discurso, os neoliberais condenam a participação direta do Estado no financiamento da educação, na prática, não hesitam em aproveitar os subsídios estatais para divulgar seus produtos didáticos e paradidáticos no mercado escolar. Subtendemos que a autora salienta a educação como uma forma de mercantilizar o ensino, isto é, para atender aos ditames do projeto neoliberal, deixou de fazer parte do campo social e político, para servir de instrumento no campo econômico. Assim, o processo de evasão escolar diante desses fatores supracitados vem ganhando espaço em debates na área da educação. O abandono escolar ocorre, portanto, com parte expressiva de alunos, majoritariamente por motivos de trabalho. Deixam de freqüentar a escola e rompem, portanto, com a possibilidade de um 110 crescimento intelectual, técnico e formal, tendo dificuldades não só de inclusão no mercado de trabalho, como também uma formação por toda a vida social e política. A evasão escolar é uma expressão da questão social resultante da desigualdade social no Brasil e ao mesmo tempo perpetua a desigualdade através da manutenção da exclusão impedindo que parte da sociedade tenha acesso ao conhecimento. E nesse trabalho, buscamos, discutir a política de educação no Brasil direcionada para jovens e adultos, analisando a realidade social dos discentes e o papel do Estado perante a realidade educacional. Em consonância com a Constituição de 1998, a Lei de Diretrizes e Bases n.9394/1996, estabelece que “o dever do Estado com a educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de ensino, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria”. (Artigo 4). No seu artigo 37, “a educação de Jovens e Adultos será destinada àquelas que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria”. No inciso 1º deixa clara a intenção de assegurar educação gratuita e de qualidade a esse segmento da população, respeitando a diversidade que nele se apresenta. “A educação de jovens e adultos (EJA) ainda é vista por muitos como uma forma de alfabetizar quem não teve oportunidade de estudar na infância ou aqueles que por algum motivo tiveram que abandonar a escola”. (SATO, 2009, p. 36). Na Educação de jovens e Adultos, como muitos já são adultos, tendo responsabilidades de garantir o sustento da família, muitos conciliam trabalho com o estudo, conforme o quadro abaixo. Gráfico 7 Aluno da EJA em exercício de algum trabalho. FONTE: Pesquisa de campo, 2010. 111 Diante do exposto, confirma-se que a questão social atravessa o universo escolar a partir da situação sócio-econômica dos discentes, os quais podem estar desprovidos de todos direitos, bens e do acesso às políticas públicas. Há ainda aqueles que estão situados em lugares que não tem rede de serviços básicos, deixando os mesmos em situação de total miserabilidade e toda essa precariedade vai se manifestar no seu cotidiano e, inclusive no processo escolar. Exposto isso, subentende-se que: A situação sócio-econômica do estudante condiciona não só sua entrada para a escola como também constitui uma série de restrição durante toda sua trajetória escolar. [...] Em outras palavras, o êxito escolar está condicionado pela capacidade econômica do estudante. (GUTIÉRREZ, 1988, p. 26-27) Sob esse prisma, define-se que as demandas apresentadas pelos discentes de escola pública expressam a realidade sócio-econômica a que estão submetidos. Dessa forma, é real “que o êxito escolar não depende exclusivamente de sua vontade, de sua inteligência ou de suas aptidões” (GUTIÈRREZ, 1988, p. 27) e depende, principalmente, da posição de classe social, do contexto e conjuntura em que o discente está inserido. Mediante isso, o Serviço Social é uma profissão que constitui aparatos teóricos-metodológicos, ético-políticos e técnico-opertativos (GUERRA, 2000) para intervir nos determinantes sociais existentes no âmbito educacional. A inserção do profissional nessa realidade com visão crítica trará contribuição para a política, além de fortalecer as interfaces entre os setores e os diversos sujeitos que compõem a rede pública de ensino. A busca pela efetivação e ampliação dos direitos sociais e educacionais perpassa o trabalho desenvolvido pelo assistente social, sendo a política social elemento decisivo para a efetivação da prática profissional. Dessa forma, o Serviço Social na educação lutará em prol a compreensão da mesma, com mecanismos de transformação da realidade para além do capital (MÉSZAROS, 2005). Transformando-a para a liberdade, como fruto das relações entre os homens, sem preconceito e sem desigualdade, criando novas formas de se ter acesso aos direitos sociais. 3 CONSIDERAÇÕES 112 Diante dos dados apresentados pelos discentes da Educação de Jovens e Adultos – EJA de uma Escola Estadual de Uberaba - MG foi possível observar que os discentes, na sua maioria adolescente no período de evasão escolar, apontaram o trabalho como fator dificultante para permanecerem no ensino. Outro motivo elencado pelos alunos foi à o casamento, gravidez e filhos na adolescência. Em relatos muitas tiveram que interromper os estudos, tanto durante a gravidez, quanto posteriormente para cuidar dos filhos. E por último os discentes colocaram a falta de interesse em querer continuar com os estudos. Além disso, em contrapartida apontam que os principais motivos para retornarem aos estudos pelo EJA se encontram na crença de que a educação pode oportunizar uma nova e progressista direção às suas vidas, bem como facilitar seu ingresso no mercado de trabalho e melhorar sua condição de sobrevivência na classe trabalhadora. Considerando o exposto, observamos a importância de tratar a evasão escolar com mais relevância pelos órgãos competentes, pela sociedade e pelas famílias. Mediante esses fatores, a aproximação da profissão Serviço Social ao campo educacional pode oportunizar, portanto, a realização de ações políticas e profissionais críticas, efetivas e conscientes frente às expressões da questão social. Para que o profissional possa defender o acesso aos direitos sociais da política educacional em um contexto, em que o Estado não vem garantindo o que é de direito, o que está previsto na lei. 4 REFERENCIAS BRASIL. Constituição (1988). Constituição Federal. São Paulo: Atlas 2006. _______. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília. CHIZZOTTI, A Pesquisa em ciências Humanas e Sociais. São Paulo : Cortez, 1991. CUNHA, C. Evasão escolar aumenta em quatro anos. Folha de São Paulo, São Paulo, on line, 22 set. 2003. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u13730.shtml>. Acesso em: 10 mar. 2010. GUTIERREZ, F. Educação como práxis política. São Paulo: Smmus, 1998. 113 IAMAMOTO, M. V. O Serviço Social na Contemporaneidade: trabalho e formação profissional. 11.ed. São Paulo: Cortez, 2007. MARSIGLA, R. M. G. O projeto de pesquisa em Serviço Social. IN: PROGRAMA de capacitação continuada para Assistentes Sociais – Brasília: UNB – CEAD, - CFESS – ABEPSS, 2000. (MODULOS). MARRACH, S. A. Neoliberalismo e Educação. In: GUIRALDELLI JUNIOR, P. (Org). Infância, educação e neoliberalismo. São Paulo: Cortez, 1996. MÉSZÁROS, István. A educação para além do capital. Tradução de Isa Tavares – São Paulo: Boitempo, 2005. 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