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1 UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS NÚCLEO DE EDUCAÇÃO CIENTÍFICA AMBIENTES AO AR LIVRE DO CENTRO DE ENSINO MÉDIO SETOR LESTE COMO POTENCIAIS ESPAÇOS EDUCADORES GABRIELLA FERREIRA DE SOUZA BRASÍLIA- DF JUNHO DE 2018 GABRIELLA FERREIRA DE SOUZA AMBIENTES AO AR LIVRE DO CENTRO DE ENSINO MÉDIO SETOR LESTE COMO POTENCIAIS ESPAÇOS EDUCADORES Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Núcleo de Educação Científica do Instituto de Ciências Biológicas como requisito parcial de finalização do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da Universidade de Brasília. Orientadora: Profª Drª Maria Rita Avanzi BRASÍLIA- DF JUNHO DE 2018 AMBIENTES AO AR LIVRE DO CENTRO DE ENSINO MÉDIO SETOR LESTE COMO POTENCIAIS ESPAÇOS EDUCADORES GABRIELLA FERREIRA DE SOUZA BANCA EXAMINADORA Profª Drª Maria Rita Avanzi (Orientadora) Núcleo de Educação Científica, IB- UnB Profª Draª Cássia Beatriz Rodrigues Munhoz Departamento de Botânica, IB- UnB Profª Msc. Deliane Leite Teixeira Secretaria de Estado de Educação do DF Profª Drª Ana Júlia Pedreira (Suplente) Núcleo de Educação Científica, IB- UnB DEDICATÓRIA Dedico este trabalho a Louise Maria Ribeiro, que não teve oportunidade de concretizar este passo por ter sua vida interrompida pelo machismo estrutural arraigado em nossa sociedade. Louise, presente! Além disso, dedico este trabalho ao meu pai Delfino Costa Souza, que faleceu logo após a entrega deste trabalho à banca examinadora, pela intensa dedicação e trabalho durante toda sua vida para que eu conseguisse alcançar tudo que eu desejasse. AGRADECIMENTOS Agradeço a minha família por todo o apoio durante o processo, especialmente a minha mãe Célia Regina por acreditar que eu chegaria até aqui, sem você nada disso teria se concretizado. Agradeço aos professores da disciplina João Paulo da Cunha Menezes e Maria Rita Avanzi pela condução ao longo da construção deste trabalho. Agradeço a minha orientadora Maria Rita Avanzi, por ter aceitado me orientar e me conduzir com tanta sabedoria por esta trajetória, vou me lembrar durante toda a vida do exemplo de excelente professora que deixou em mim. Agradeço a toda equipe do Centro de Ensino Médio Setor Leste, instituição cuja qual fui aluna no ensino fundamental e médio, e que sempre esteve de portas abertas para receber propostas de melhorar o processo educacional que tanto me ensinou, tanto intelectualmente quanto moralmente. Em especial agradeço aos alunos do grupo focal e aos professores entrevistados Salvador Dourado, Daniel Lucena e Rosana Eulâmpio, que deram toda a base para que este trabalho fosse concretizado. Agradeço a orientadora dos projetos de educação que sustentaram este trabalho Cássia Munhoz, que me orientou durante toda a graduação e que é a maior inspiração de cientista em minha vida, fico imensamente grata por ter compartilhado tantos momentos de aprendizado científico e moral contigo. Ao meu círculo de amigos e colegas, agradeço imensamente as conversas, ajudas, leituras, opiniões e conselhos e escutas durante todo este processo, sou muito abençoada por ser rodeada por tantas pessoas incríveis, em especial as duas colegas que me ajudaram no desenvolvimento do grupo focal Waira Machida e Renata Heinzelmann. Agradeço a todos os brasileiros que trabalham arduamente e contribuem com seus impostos para sustentar esta universidade pública federal que nem todos têm oportunidade de ingressar. Por fim, agradeço ao Ser que rege este universo, que sempre me encheu com tanta energia positiva e estímulos durante este processo, para que eu tivesse forças para encarar mais esta etapa em minha vida. “Deixe-me ir Preciso andar Vou por aí a procurar Rir pra não chorar Quero assistir ao sol nascer Ver as águas dos rios correr Ouvir os pássaros cantar Eu quero nascer Quero viver” (Cartola- Preciso me encontrar) RESUMO A partir da reflexão sobre a exploração da potencialidade de diversos espaços para fins educativos, foram construídas e aplicadas propostas como as de estruturas, espaços e até mesmo cidades inteiras com potencial educador. Em âmbito escolar, espaços educadores são aqueles cujos objetivos pedagógicos levam em consideração: a temporalidade, o espaço físico, sua função educativa, a constante (re)construção do processo educativo, as relações sociais e a socialização dos saberes. O objetivo deste trabalho foi investigar a percepção que a comunidade escolar possui acerca dos ambientes ao ar livre do Centro de Ensino Médio Setor Leste, uma escola pública do DF, como potenciais espaços educadores para o processo ensino- aprendizagem e socialização dos saberes. Esta unidade escolar, conta com imensas áreas verdes que parecem ser minimamente utilizadas para o processo de ensino-aprendizagem. Com base na metodologia qualitativa de pesquisa, foram realizadas entrevistas a três docentes da instituição e um grupo focal composto de 10 alunos. Foi identificado que as experiências de ensino mais marcantes de todos os três professores entrevistados e da metade dos alunos do grupo focal ocorreram ao ar livre. Nenhum dos professores entrevistados desconsiderou os espaços ao ar livre propostos por esta pesquisa como potenciais para o desenvolvimento de atividades de ensino-aprendizagem. Entre os estudantes, alguns dos espaços mencionados como potenciais para a aprendizagem de conteúdos das disciplinas e para socialização de saberes coincidem com os espaços propostos nesta pesquisa. A partir do que foi levantado neste estudo, vê-se que os ambientes ao ar livre do Centro de Ensino Médio Setor Leste têm potencial para serem espaços educadores, mas que para isso necessita adequar seus espaços físicos para os objetivos educacionais que a instituição deseja alcançar. Este trabalho aponta para a importância de uma construção participativa desses objetivos no intuito de constituir a escola como espaço educador. Palavras-chave: pertencimento, educação ambiental, escola pública. ABSTRACT From a reflection about the exploration of the potentiality of different/ spaces for teaching, proposals regarding structures and even whole cities with educational potential have been planned and applied. At the school level, an environment that educates is that whose pedagogical objectives take into account: temporality, physical space, its educational function, the constant (re) construction of the educational process, social relations and the socialization of the knowledge. This study aimed to investigate the perception of the school community about the outdoor environments of the Centro de Ensino Médio Setor Leste, a public school of DF, as potential environment that educates for the process of teaching-learning and the socialization of knowledge. This school has many green areas that seem to be scarcely used for the teaching- learning process. Using qualitative methodology, interviews were carried out with three teachers of the institution and a focus group composed of 10 students. It was identified that the most outstanding teaching experiences of all three teachers interviewed and half of the focus group students happened in outdoor spaces. None of the interviewed teachers disregarded the outdoor spaces proposed by this research as potential spots for the development of teaching- learning activities. Among the students, some of the spaces mentioned as potential spots for learning subjects’ contents and for the socialization of knowledge coincide with the spaces proposed in this research. From what was found inthis study, it can be seen that the environments of Centro de Ensino Médio Setor Leste has the potential to be an environment that educates, but for this it needs to adapt its physical spaces to the educational objectives that the institution wishes to achieve. This work indicates the importance of a participative construction of these objectives in order to constitute the school as an educational space. Keywords: feeling of belonging, environmental education, public school SUMÁRIO 1- INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 14 2- REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................................. 19 3- METODOLOGIA ............................................................................................................. 25 3.1- Centro de Ensino Médio Setor Leste ............................................................................. 25 3.2- A potencialidade do CEMSL como espaço educador ................................................... 27 3.3- Etapas da pesquisa e sujeitos da investigação ............................................................... 32 3.3.1- Pesquisa diagnóstica .................................................................................................. 32 3.3.2- Observação ................................................................................................................. 34 3.3.3- Entrevista com os professores .................................................................................... 34 3.3.4- Grupo focal com estudantes ....................................................................................... 35 3.3.5- Análise dos dados ...................................................................................................... 37 4- RESULTADOS E DISCUSSÃO ...................................................................................... 39 4.1- Espaços preferidos da escola na visão dos participantes da pesquisa ........................... 41 4.2- Experiências de ensino mais marcantes......................................................................... 45 4.2.1- Limitações .................................................................................................................. 48 4.3- Espaços considerados oportunos para a realização de aulas ......................................... 49 4.4- A percepção sobre os ambientes ao ar livre focados neste estudo como potenciais espaços educadores ................................................................................................................... 53 4.4.1- Área verde localizada próximo ao portão principal “bosque” ................................... 54 4.4.2- Praças e jardins entre os blocos de prédios ................................................................ 56 4.4.3- Área verde próximo às quadras de esporte ................................................................ 58 4.4.4- Horta desativada ........................................................................................................ 58 4.4.5- Área arborizada localizada atrás de um dos blocos de sala de aula ........................... 59 4.4.6- Campo de espécies nativas “campão”........................................................................ 60 4.4.7- A relevância dos ambientes ao ar livre no processo educacional .............................. 61 4.4.8- A visão dos docentes acerca das limitações para o acesso e apropriação desses espaços 62 5. O acesso dos alunos aos espaços da escola ....................................................................... 63 5- O Centro de Ensino Médio Setor Leste como uma escola educadora: considerações finais Error! Bookmark not defined. 6- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 72 7- APÊNDICES ..................................................................................................................... 78 APRESENTAÇÃO Retornar a escola em que fui aluna para dar aula foi, confesso, um pouco estranho. Entretanto, havia ali um conforto de que estava pisando em um terreno conhecido, por ter estudado no Centro de Ensino Médio Setor Leste por quatro anos. Percebi posteriormente que compartilhar o conhecimento que adquiri com o lugar que tanto me ensinou era o mínimo que poderia fazer. Meus antigos professores que ainda lecionam na escola ficaram muito alegres em ver uma antiga aluna agora como professora, dando aquela famosa sensação de dever cumprido a eles. Adentrar pareceu ser tão simples, mas no mesmo instante tão intenso. As pessoas que estavam ali eram diferentes, mas os comportamentos pareciam os mesmos de quando eu era aluna, será mesmo? A partir dessa reflexão acerca das relações, vieram os espaços. Lugares que enquanto aluna frequentava para encontrar colegas de outras turmas para conversar, lanchar, trocar informações acerca de alguma disciplina eram também usados pelos alunos atuais da instituição. Parecia que eu estava revivendo o ensino fundamental e médio outra vez, mas as pessoas eram diferentes. Ao mesmo tempo em que tudo mudou, o uso dos ambientes pouco se alterou ao longo dos anos: espaços que eram específicos de estudo, lazer, jogar algum esporte ou até mesmo espaços de apresentações culturais, ainda eram usados para os mesmos fins pelos alunos que agora estudam na instituição. Ao retornar à instituição no ano de 2017, quatro anos após o término do ensino médio para a realização da disciplina obrigatória Estágio Supervisionado no ensino de Biologia, percebi que não mais frequentava os mesmos espaços da época de aluna, não somente por ter acesso à sala dos professores - na qual nunca havia entrado - mas por ser vista pelos próprios alunos de forma diferente, não mais cabendo em sua socialização nesses espaços por conta da minha imagem de professora, uma estranha no ambiente de socialização deles. Apenas ao observar o comportamento dos alunos que percebi o quanto sou diferente daquela aluna de ensino médio e como, naquele momento, o espaço teve outro significado para mim. A restrição dos alunos a alguns espaços - a piscina, a academia e os laboratórios - e até mesmo a proibição de acesso a outros - sala dos professores, reforçam claramente as relações hierárquicas de poder estabelecidas ali. Os alunos, considerados “inferiores” de conhecimento, só podem acessar locais pré-determinados pela hierarquia superior, que no caso é a direção e o corpo de professores, reforçando a transparente ideia de imaturidade dos alunos em relação ao uso e ocupação de certos espaços. Mas, se os alunos nunca tiverem acesso a esses espaços, como terão maturidade para conservá-los? Voltar para realizar o estágio em docência me trouxe principalmente essa visão: a de enxergar o quanto a estrutura educacional é opressora para o aluno, muitas vezes ele não tem espaço para criar e se expressar, sendo encarado como um ser que está ali apenas para absorver conhecimento. Também ao longo de minha trajetória enquanto estudante de licenciatura, percebi que é perpetuado, na maioria das instituições nas quais tive contato, que a sala de aula é o único local que proporciona o processo de ensino aprendizagem, ignorando a possibilidade de outros espaços para uso educativo. A partir da percepção desta ausência de atividades que deixem os alunos mais livres e participativos no processo de ensino, se inseriram os dois projetos de ensino desenvolvidos por mim na instituição. Ambos os projetos, advindos das disciplinas obrigatórias Práticas de Educação em Ciências e Práticas de Educação em Biologia, previam a realização de atividades de ensino fora da sala de aula, com turmas cujos alunos tiveram raras experiências de aulas que fugiam desse padrão. Um deles foi inspiradoa partir de experiências1 que tive quando fui aluna da instituição, nele tentei reproduzir atividades fora da sala de aula que tiveram importância significativa em minha aprendizagem. E o outro foi uma proposta de aula prática utilizando elementos já 1 As experiências mencionadas ocorreram durante um projeto da instituição que previa a transformação de uma área que era um depósito de lixo em uma horta, com o intuito de melhorar a merenda escolar e promover um espaço de ensino para diferentes componentes curriculares. existentes fora da sala de aula, mas dentro do perímetro escolar. Em ambos, percebi que os alunos raramente têm autonomia sobre seu aprendizado, e que, quando atividades que lhes propõem isto ocorrem, se sentem amedrontados. Por não estarem acostumados, houve muita resistência da maioria no início, que se resumiu a poucos relutantes no final. Durante o desenvolvimento desses projetos, observei que somente o fato de sair da monotonia da sala de aula já chama a atenção dos alunos, em que atividades em espaços fora da sala de aula já lhes causam motivação. Muitos indagaram o porquê de outras aulas ao ar livre não serem realizadas, já que a escola possui um enorme espaço para o desenvolvimento de atividades de diversas disciplinas. Duas coisas ficaram bastante perceptíveis. A primeira é que momentos como esses despertaram nos alunos uma visão que nunca havia sido apresentada a maioria deles: a de que outros espaços, além da sala de aula, espaços que inclusive são usados por eles para lazer, podem ser potenciais espaços de ensino. A segunda é que os alunos têm uma enorme carência em serem efetivamente ouvidos pelos professores, pois mesmo com o constante apelo por parte dos alunos para que os professores realizem atividades mais dinâmicas, grande parte continua no mesmo padrão monótono de aulas teóricas em sala de aula. A partir dessas vivências e reflexões, surge este trabalho com o intuito de investigar o potencial de ambientes ao ar livre dentro do perímetro escolar para oferecer uma educação mais emancipadora, em que os alunos a partir da apropriação dos espaços atribuem outros sentidos aos espaços da escola e ao processo de aprendizagem. 14 1- INTRODUÇÃO A proposta de edificações específicas para o ensino no Brasil foi uma preocupação que começou a surgir na segunda metade do século XIX com a instauração da república (DÓREA, 2000), quando a educação seria um dos alicerces fundamentais para a reestruturação do país (FARIAS FILHO, 1998). As escolas desempenhariam um papel social na cidade e no campo como espaço onde ocorreria o processo de formação do cidadão (DÓREA, 2000). Em meados do século XX, propostas de organização do sistema educacional público brasileiro foram sendo pensadas em grande escala, tendo início nas cidades do Rio de Janeiro e Salvador, principalmente pelo educador Anísio Teixeira (DÓREA, 2000). Apesar de em todas essas cidades os espaços do sistema educacional nos quais pensou não terem sido completamente implementados, seus ideais foram bem-sucedidos a ponto de se tornarem referência no país. Segundo o educador, o sistema educacional deveria proporcionar as ferramentas necessárias para a formação de um cidadão com ideias autônomas, com capacidade de reflexão sobre a realidade na qual está inserido (DÓREA, 2000). Entretanto, o governo não havia estrutura para atender as demandas que o país exigia e, por excesso de demandas e alto custo financeiro para prover uma educação pública de qualidade, deixou a educação em segundo plano (RIBEIRO, 2004). A partir disso começa a deterioração dos espaços educacionais e muitos improvisos desses se refletem em seus ideais (RIBEIRO, 2004). A má preparação ou improvisação das escolas faz com que o espaço de ensino aprendizagem seja reduzido à sala de aula, que apesar de ser um espaço importante para o processo de ensino-aprendizagem, não deve ser considerado como o único. Nesse contexto, desenvolve-se um sistema educacional que padroniza os alunos (FARIAS FILHO, 1998) e o processo de ensino por desconsiderar as necessidades individuais e os ideais propostos para a educação brasileira, se tornando um espaço de desgosto por seus alunos. A forma como organizamos o espaço físico da sala de aula, que pouco varia entre as 15 instituições (MATAREZI, 2005), constitui nela própria uma mensagem curricular que reflete nosso modelo educativo (TEIXEIRA E REIS 2012). A disposição padrão, com o enfileiramento de alunos em direção ao professor, dificultando a possibilidade de discussão com os colegas, pressupõe que todos devem ouvir e prestar atenção unicamente no professor. Não havendo espaço para criar e expressar suas diferenças no processo de ensino e aprendizagem, o aluno se torna um mero espectador, um ser que está ali apenas para absorver conhecimento de uma pessoa “superior”, no caso o professor. Fora da sala de aula, os espaços escolares são utilizados quase que exclusivamente para convivência dos alunos nos intervalos e na entrada e saída da escola, onde associam esses espaços como unicamente de convívio, inexistindo a formação do aluno para a responsabilidade, a autonomia e o cuidado com o espaço escolar (OLIVEIRA, 2012). Em estudos realizados em escolas públicas de ensino fundamental no estado de São Paulo por Oliveira (2012), percebeu-se que na maioria dos projetos políticos pedagógicos (PPP), não foi encontrado um uso do espaço considerando o seu potencial educador, protagonizando-se como mero local de passagem. Toda essa simplificação da constituição do aprendizado reduzido à sala de aula (BRANDÃO, 2005a) traz uma suposição de que a multiplicidade de possíveis metodologias de ensino não está sendo levada em consideração, sendo esta importante para um processo de ensino aprendizagem que abarque diferentes formas de pensar. A fim de descentralizar a sala de aula como único espaço de ensino e aprendizagem, articulações pontuais no espaço escolar são realizadas em algumas instituições. Tais espaços proporcionam a interação de diferentes segmentos - direção, professores, pais, alunos e comunidade - em prol de uma causa comum. Além disso, também promove nos alunos o sentimento de que podem, em conjunto, transformar o espaço ao qual pertencem em prol de um ambiente escolar mais agradável, como nos projetos escolares de hortas e jardins. O sentimento de pertencimento desenvolvido no aluno é perceptível nesses projetos, através da apropriação 16 dos espaços para atividades em que os alunos fazem parte da construção do próprio conhecimento (PIMENTA; RODRIGUES, 2011; BRANDANI et al., 2014). Atividades como essas tornam o processo de conhecimento fluido, onde há integração a partir do partilhamento de ideias e conhecimentos, como no caso de alunos que possuem hortas ou jardins em casa (BRANDANI et al., 2014; ENO; LUNA E LIMA., 2016). Proporcionam a reflexão crítica dos aspectos vistos no currículo em um espaço diferente do qual os alunos estão cotidianamente aprendendo, sendo este em específico caracterizado como um espaço para o ensino sob responsabilidade de todos (BARROS, 2011; CAJAÍBA, 2013). Diferentes espaços podem ser então dotados de intencionalidade educativa, como jardins, hortas e áreas de convivência dentro da área escolar por exemplo. Podem atuar com diferentes objetivos a fim de diversificar o processo de ensino aprendizagem e assim atingir os objetivos institucionais propostos pela escola (BRUM; SILVEIRA, 2011; PIMENTA; RODRIGUES, 2011; ENO; LUNA E LIMA 2016). Uma das escolas que desde a construção do espaço e constituição de seu formato pensou neste com intencionalidade educativa foi a Escola do Bosque, localizada na Ilha de Caratateua, pertencente ao estado do Pará. Neste, todo o espaço escolar se instituiu como local de integração entre o fazerpedagógico e reflexão sobre a realidade socioambiental a partir de projetos pedagógicos que propõem alternativas de soluções para os problemas ambientais locais (SILVA, 2007). Assim como na escola do bosque, nos estudos de Matarezi (2005) e Oliveira (2012) o conceito de espaços educadores pode e deve ser utilizado não apenas para vivências relacionadas a sustentabilidade, mas por diferentes componentes curriculares. Ao educar através dos seus diversos espaços, a escola mobiliza e amplia o fazer pedagógico para além da sala de aula, adentrando nos ideais de que todos os espaços da escola devem contribuir para o ensino aprendizagem (SILVA, 2007). 17 No que se refere às escolas do Distrito Federal, buscando adequar o sistema educacional às necessidades de uma população em processo acelerado de desenvolvimento, na década de 1960, Anísio Teixeira foi convidado a delinear um plano para o sistema educacional da nova capital que seria chamada Brasília. Segundo o próprio idealizador, as escolas de Brasília tinham como proposta “oferecer à nação um conjunto de escolas que se constituísse exemplo e demonstração para o sistema educacional do país.” (TEIXEIRA, 1961, p.1). O sistema educacional de Brasília seria, portanto, um modelo alternativo ao vigente, que se modificaria em função das novas necessidades exigidas pela sociedade, priorizando a individualidade do aluno. Os blocos de sala de aula seriam agrupados em torno de uma praça central, de modo que o espaço escolar contaria com bibliotecas, salas ambientes, ateliês e laboratórios, para longos momentos de convivência entre professores e alunos (PEREIRA; ROCHA, 2005). O Centro de Ensino Médio Setor Leste, objeto desta investigação, é uma das instituições com tal configuração. Trata-se de umas das primeiras escolas de ensino médio do Distrito Federal, que se localiza no Plano Piloto, Asa Sul. Apesar de possuir uma excelente estrutura física como, laboratórios, salas de dança e ginástica e auditórios, quanto em áreas abertas como áreas verdes praças, jardins e afins, estes espaços parecem ser minimamente utilizados para o ensino, o qual se restringe, primordialmente, à sala de aula. O que foi idealizado para o sistema educacional do DF difere do que é observado na escola atualmente, que procura atender as demandas tanto de oferta de vagas quanto de cumprir o currículo em movimento (DISTRITO FEDERAL, 2014). Segundo o Projeto Político Pedagógico (PPP) da instituição, a mesma estimula a realização de práticas que levem à melhoria no processo de ensino aprendizagem, mas não menciona a possibilidade dos espaços ao ar livre como potenciais espaços de ensino (DISTRITO FEDERAL, 2017). 18 Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi investigar a percepção que a comunidade escolar possui acerca dos ambientes ao ar livre do Centro de Ensino Médio Setor Leste como potenciais espaços educadores para o processo ensino aprendizagem e socialização dos saberes. 19 2- REFERENCIAL TEÓRICO A partir da reflexão sobre a exploração da potencialidade de diversos espaços para o ensino, se planejaram e aplicaram propostas como de estruturas aprendentes (MATAREZI, 2005), comunidades aprendentes (BRANDÃO, 2005a), e até mesmo cidades inteiras com potencial educador (AICE, 2014), além de projetos governamentais de municípios educadores sustentáveis (BRANDÃO, 2005b). Em todos esses se estabelece a potencialidade dos espaços e das relações estabelecidas ali para um caráter educador, sendo um processo que ocorre a todo o momento. Somos seres aprendentes, não somente quando estamos na escola. A denominada socialização, quando assumida no processo de ensino aprendizagem, se apresenta de múltiplas formas, sendo vivida com grupos diversos, em diferentes momentos (BRANDÃO, 2005a). Dentro de qualquer grupo humano que esteja reunido para pensar ou realizar algo, todas as pessoas que ali se encontram são fontes originais de saber, constituindo-se na comunidade aprendente descrita por Brandão (2005a). Todo e qualquer tipo de ato aprendente ocupa um determinado espaço em um dado momento da vida de cada um (MATAREZI, 2005); o ambiente também nos informa (TEIXEIRA E REIS, 2012). A cidade, por exemplo, dispõe de um imenso leque de possibilidades que podem ser utilizadas com intencionalidade educadora, encorajando a aprendizagem de gerações diversas em um mesmo espaço. A partir dessa concepção, em 1990 se apresentou a proposta das cidades educadoras, a partir de um manifesto que contém os princípios de cidades que se pretendem educadoras. Essas devem ampliar seus horizontes para além das suas funções tradicionais, assumindo também uma função educadora, de traduzir os princípios em experiências práticas inovadoras através de projetos para a capacitação de 20 toda a população para e pela cidadania, diante das inúmeras possibilidades que a cidade oferece (GADOTTI, 2006; AICE, 2014). No programa do Ministério do Meio Ambiente Municípios educadores sustentáveis2, a constituição de espaços educadores com cunho sustentável é um dos quatro pilares de seu processo de implantação. Estes espaços, além de serem espaços de delineamento de estratégias em prol de uma sociedade mais sustentável, têm também a intencionalidade educativa de promover a reflexão sobre os motivos de implementação (BRASIL, 2005). O convívio em espaços carregados de valores, propicia às pessoas a adoção de medidas menos impactantes ao planeta a partir da troca de experiências científicas e culturais (BRANDÃO, 2005b), fator significativo para os espaços que se propõem a ser educadores sustentáveis (OLIVEIRA, 2012). Estes espaços também são citados no programa Mais educação, instituído pelo decreto 7083/10 (BRASIL, 2010), que dita a oferta da educação básica em tempo integral, e prevê entre seus princípios: “o incentivo à criação de espaços educadores sustentáveis com a readequação dos prédios escolares, incluindo a acessibilidade, e à gestão, à formação de professores e à inserção das temáticas de sustentabilidade ambiental nos currículos e no desenvolvimento de materiais didáticos (Art. 2º, V)” Apesar de todos esses termos referentes a espaços com caráter educador, elementos precisos para conceituar o que seria um espaço educador ainda se encontram em delineamento. Na estrutura sensorial transdisciplinar Trilha da Vida: (Re)Descobrindo a Natureza com os Sentidos, idealizada por Matarezi (2005), a experiência sensorial é a essência de um espaço que se diz educador, sendo somente através dela que se constrói o 2 O Programa Município Educadores Sustentáveis foi proposto pela Diretoria de Educação Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, em 2004, com o intuito de “estimular iniciativas educadoras nos municípios, de modo que os cidadãos se envolvam e participem na busca por soluções dos problemas socioambientais locais; e também fortalecer a articulação entre municípios vizinhos, para que trabalhem propostas para a sustentabilidade de forma integrada no território.” (BRASIL, 2007, p. 8). O projeto local deveria contemplar quatro processos educacionais: formação de educadores ambientais; educomunicação ambiental; estruturas e ações educadoras; foros e coletivos educadores. 21 conhecimento. A vivência na trilha, realizada de olhos vendados e em grupo, aflora reflexões individuais, sendo através dessas que ocorre o aprimoramento de ideias que geram narrativas a serem compartilhadas ao coletivo. Em âmbito escolar, as chamadas escolas sustentáveis, descritas por Trajber e Sato (2010), são reconhecidas por conectar três dimensões, sendo uma delas o espaço físico e as outras o currículo e a gestão escolar. As autoras incentivam que os ambientes da instituição sejam repensados e articulados ao currículo escolar por meio de projetos ambientais comunitários que envolvam,durante todo o processo, o corpo docente, discente, gestão e comunidade escolar (TRAJBER; SATO, 2010). Nos estudos de Mota (2016) acerca de espaços educadores sustentáveis, estes são conceituados como: “Lugares que proporcionariam momentos para o ensinar, o cuidar a construção e a ressignificação dos saberes, valores e atitudes, os quais estão interligados em prol de uma aprendizagem significativa tanto individual quanto coletiva” (MOTA, 2016, p.3) Ao mencionar os espaços educadores sustentáveis, é necessário integrar todo o corpo escolar para que o currículo englobe a utilização desses espaços para a educação que a instituição deseja, que neste caso, são os ideais de sustentabilidade. Já que o currículo designa todas as ações que permeiam o espaço educacional (SILVA, 2014), além de ensinar os ideais de sustentabilidade, estes devem ser praticados dentro dos espaços. Oliveira (2012) utilizou diferentes elementos para definir o que seria um espaço educador a partir dos objetivos educacionais e dos conceitos de escola das instituições de ensino da cidade de Piracicaba, localizada no estado de São Paulo, analisadas no estudo. Para a autora, as escolas que se constituem como espaço educador são aquelas cujos objetivos pedagógicos levam em consideração: a temporalidade, o espaço físico, sua função educativa, a constante (re)construção do processo educativo, as relações sociais e a socialização dos saberes. 22 Ainda segundo a autora, por escola e tempo entende-se que todo o conhecimento possui um elemento temporal para que o aluno possa refletir sobre as temáticas abordadas no processo de ensino aprendizagem. A noção de espaço físico ultrapassa a ideia de ser um local de transmissão de saberes teóricos a um ambiente de integração desses conhecimentos com o espaço, no qual o processo de ensino aprendizagem acontece. Como função educativa, deve oferecer experiências sensoriais que levam à construção do conhecimento e, além disso, o espaço educador deve ter a concepção de (re)construção do processo educativo, entendido como um processo que dura toda a vida. Além disso, deve- se considerar as relações sociais como importante na formação do indivíduo e tornar o acesso aos espaços da instituição irrestrito, para que qualquer membro da comunidade escolar possa acessá-lo, visando oportunizar a chamada socialização dos saberes (OLIVEIRA, 2012). O Projeto Político Pedagógico (PPP) do Centro de Ensino Médio Setor Leste (DISTRITO FEDERAL, 2017) apresenta entre seus objetivos institucionais a melhoria da qualidade de ensino e o incentivo ao uso de espaços pedagógicos. A distribuição espacial interna da instituição mostra o tipo de organização que deveria prevalecer no sistema educacional (ROCHA, 2000), onde no Centro de Ensino Médio Setor Leste, além dos diversos prédios existentes, praças com bancos largos em formato circular estão dispostos entre os blocos de salas de aulas, que deveriam proporcionar momentos de ensino aprendizagem fora dos espaços da sala de aula. Apesar do PPP não mencionar os ambientes ao ar livre como potenciais espaços pedagógicos, tais objetivos se aproximam dos elementos “socialização dos saberes” e “função educativa”, utilizados por Oliveira (2012), e por tal motivo esses serão os elementos que irão orientar a definição de espaço educador deste trabalho. Além disso, um dos aspectos da socialização de saberes envolve as relações sociais estabelecidas nos locais de ensino-aprendizagem, e por isso este 23 elemento também será considerado na delimitação do que seria um espaço educador neste estudo. A escola como função de educação deve proporcionar vivências que ampliem as capacidades dos alunos para que possam agir com autonomia, tendo como exemplo as estruturas de Matarezi (2005), que tem como pilar essencial a experiência sensorial. Prezando a individualidade do aluno, as percepções e experiências que cada um teve ao longo da vida (GADOTTI, 2006), Alessandra Oliveira considera que, para serem espaços de socialização de saberes, todos os espaços da escola devem estar disponíveis aos alunos para que explorem de forma autônoma seu potencial educativo (OLIVEIRA, 2012). A escola, ao dar condições para que seus alunos vivenciem por si só através da experiência concreta e sensível, inspira-os a refletir acerca do seu papel na sociedade (OLIVEIRA, 2012), criando seres críticos, emancipados e transformadores. Diante de tanta cobrança do ensino médio, em que muitos conteúdos são previstos para pouco tempo (BORGES; SILVA, 2017), observa-se a dificuldade do estabelecimento de práticas pedagógicas que envolvam outros espaços além da sala de aula. Pretende-se neste trabalho que a escola transcenda o senso comum pedagógico de utilização rotineira e monótona da sala de aula, e dê sentido a todos os espaços existentes ali, estabelecendo conexões entre os ambientes e as práticas pedagógicas educativas (AMARAL; SANTOS, 2017). Que a partir da integração entre currículo, espaço e gestão, proposta por Trajber e Sato (2010), ocorra a apropriação do currículo por parte da comunidade escolar, integrando-o a todos os espaços presentes na instituição, para que o professor, em contato direto com o aluno, atue como tradutor das demandas reais que motivam a existência daquele tema no currículo (BORGES; SILVA, 2017). O ambiente possui inúmeros elementos que se revelam como conteúdos de aprendizagem (TEIXEIRA; REIS 2012), basta estarmos dispostos a enxergar o seu potencial e integrar o espaço existente a nossa própria experiência de aprendizagem (KUNEIDA, 2010). 24 25 3- METODOLOGIA 3.1- Centro de Ensino Médio Setor Leste O Centro de Ensino Médio Setor Leste (CEMSL) é uma escola pública localizada na capital do Distrito Federal, criada em 1963. Possui cerca de 750000m² e conta com nove blocos, sendo que em três deles se distribuem as 24 salas de aula e, no restante, os outros espaços como auditório, biblioteca, secretaria, bloco administrativo (Direção, assistência administrativa e orientação educacional), laboratórios de química/biologia e matemática/física, salas de recurso (generalista e deficiente visual), sala de informática, sala da empresa terceirizada que presta serviço de limpeza, cantina escolar, espaço cultural e lanchonete. Para a prática desportiva, a escola contém um ginásio com aparelhos de ginástica artística, duas quadras e duas mesas permanentes de ping-pong, salas de dança/ginástica e piscina. A instituição conta com muitos espaços verdes com presença de árvores, inclusive algumas nativas do Cerrado, que se localizam entre os blocos com intensa visitação de animais, principalmente pássaros e insetos. Entre os blocos que contêm as salas de aula se localizam jardins com bancos organizados de forma circular em torno de alguma árvore que os sombreia, criando um espaço agradável de socialização. O acesso a alguns espaços da instituição é limitado pela presença de grades, onde os espaços são acessados por vários portões que estão presentes na entrada dos seguintes espaços: entrada da escola, blocos de sala de aula, quadras e piscinas, campo de solo descoberto atrás das quadras “campão”, e área nativa presente atrás de um dos blocos de sala de aula. O acesso a estes espaços é limitado aos alunos, onde estes possuem acesso restrito a espaços como ao horta, o “campão”, a área com espécies arbóreas plantadas atrás de um dos blocos de salas de aula e as quadras de esporte. Estes locais são somente acessados quando alguma aula ocorre naquele espaço, que por exemplo, no caso da quadra de esportes, são acessadas apenas nas aulas de educação física. 26 A instituição oferta todas as séries do ensino médio, com cerca de 1600 alunos distribuídos em dois turnos: 1ª e 2ª séries pela tarde e 2ª e 3ª séries pela manhã, não havendo oferta noturna. A escola possui ótimos índices de aprovação nos examespara ingresso no ensino superior quando comparada a outras escolas do Distrito Federal e por isso, grande parte dos estudantes que frequentam a escola é de famílias de classe média/baixa, que moram em outras cidades satélites ou no entorno do Distrito Federal (DF) que vêm em busca de uma educação melhor. Além da matriz curricular obrigatória, existe também uma parte diversificada em que a instituição tem a liberdade de escolha e planejamento das atividades que pretendem desenvolver, sendo que no CEMSL são realizados diversos projetos que abordam os eixos transversais do Currículo em Movimento da Secretaria de Estado de Educação do DF (DISTRITO FEDERAL, 2014). Projetos envolvendo produção audiovisual - Festival de Curtas- , desenvolvimento e apresentação de produções científicas – Feira de Ciências- e até mesmo práticas culinárias e culturais de diferentes países- Feira Gastronômica-, são desenvolvidos ao longo do ano em diferentes épocas. Além disso, alguns projetos como o famoso Festival de Teatro, que ocorre há mais de 20 anos na instituição, e o projeto de recuperação e análise do histórico do estabelecimento da região do DF- Projeto Re(vi)vendo Êxodos-, já foram divulgados em jornais e televisão. Este último, que ocorre desde 2001 na instituição, ganhou inclusive prêmios como o Primeiro Lugar do V Prêmio José Aparecido de Oliveira em 2013, sobre defesa do patrimônio da capital, da Secretaria de Cultura do DF e o Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade do Instituto do Patrimônio Histórico e Natural (IPHAN) em 2015, em sua 28ª edição na área de Educação Patrimonial, concedido pelo Ministério da Cultura. Entretanto, projetos importantes como o de desenvolvimento de uma composteira e uma horta ficaram ativos por certo período, mas foram paralisados pelo não envolvimento da comunidade escolar, o que seria importante para sua continuidade. A escola possui murais entre 27 as salas que estão sempre coloridos com manifestações artísticas dos trabalhos produzidos pelos alunos como atividades dos projetos da instituição. Além da excelente estrutura, a escola tem aspecto de bem cuidada por possuir arborização agradável e pinturas novas. A comunidade que mora próxima a escola não é muito participativa na instituição, visto que é um bairro de classe socioeconômica diferente da maioria dos alunos que frequentam a instituição. A alegria e entusiasmo da maioria dos alunos e corpo docente é notória, demonstrando o quão afetivo é aquela instituição para toda a comunidade escolar. 3.2- A potencialidade do CEMSL como espaço educador O estudo adotou a metodologia qualitativa, que segundo Lüdke e André (2015) tem como premissas: “O ambiente natural como fonte direta de dados e o pesquisador o principal instrumento; os dados coletados são predominantemente descritivos; a preocupação com o processo é muito maior do que com o produto; o significado que as pessoas dão as coisas e a sua vida são focos de atenção especial do pesquisador e a análise de dados tende a seguir um processo indutivo.” (LÜDKE; ANDRÉ, 2015, p. 2) O método deste trabalho foi o estudo de caso, a fim de investigar os ambientes ao ar livre do CEMSL como potenciais espaços educadores para o processo ensino aprendizagem e socialização dos saberes. De acordo com as autoras, ao estudar um caso delimitado, este método visa revelar com o uso de variadas fontes os diferentes e às vezes conflitantes pontos de vista, sendo que a partir da interpretação dentro do contexto em que os sujeitos de estudo se encontram inseridos busca-se representar o objetivo do estudo da forma mais completa e profunda possível (LÜDKE; ANDRÉ 2015). As técnicas de pesquisa utilizadas neste estudo foram entrevistas a grupo de professores selecionados, observação participante e grupo focal com estudantes. Os ambientes ao ar livre da instituição que tiveram sua potencialidade educadora investigada a partir da percepção de representantes da comunidade escolar foram os seguintes: a) Área verde localizada próximo ao portão principal; 28 Possui em sua maioria espécies arbóreas com mais ou menos 3 metros de altura sob um tapete graminoso (Figura 1), criando um aspecto agradável pela ventilação e sombra no local. Há uma trilha no meio desta área que conduz pessoas advindas da entrada da escola aos espaços da biblioteca, auditório e secretaria. Figura 1. Área verde localizada próximo ao portão principal do Centro de Ensino Médio Setor Leste, Brasília- DF. b) Praças e jardins entre os blocos de prédios; Os acessos existentes entre os blocos da instituição ocorrem por meio de calçadas de concreto, e entre estes tem-se a presença de diversas plantas como trepadeiras, arbustos e árvores que abrigam animais como borboletas, formigas e aves (Figura 2). Entre dois blocos de salas de aulas se localizam três praças com presença de bancos em formato circular, sendo que em uma delas há sombreamento por árvore de grande porte (aproximadamente 5 metros), gerando uma sombra que cria um ambiente agradável de permanência no espaço. 29 Figura 2. Praças e jardins entre os blocos de prédios do Centro de Ensino Médio Setor Leste, Brasília- DF. c) Área verde próxima às quadras de esportes; Este espaço conta com árvores de porte entre 5 e 10 metros, com banquinhos em configuração circular (Figura 3). Em relação às praças entre os blocos de salas de aula, os banquinhos deste espaço estão em menor número, tendo em média seis banquinhos unitários. Três blocos contendo esses bancos estão presentes neste espaço, sendo um local agradável para realização de discussões em grupos menores. 30 Figura 3. Área verde próximo as quadras de esportes do Centro de Ensino Médio Setor Leste, Brasília- DF. d) Horta desativada; A área que era anteriormente um depósito de lixo começou a ser transformada em uma horta no ano de 2009. O intuito do espaço era que este fosse local de ensino de diversas disciplinas e seus produtos foram utilizados na incrementação ou como tempero da merenda escolar. O espaço teve apoio da empresa de agricultura orgânica Malunga, nos anos de 2010 e 2011, porém no ano de 2012 o projeto foi interrompido. Sem apoio desta empresa e do corpo escolar da instituição, o espaço, que era coordenado por apenas um professor da instituição, foi desativado. Em 2015 foi realizado um projeto de pesquisa com o intuito de reativar a horta para o ensino interdisciplinar, inclusive contribuindo para o diagnóstico desta pesquisa, porém logo após a finalização deste projeto, no fim do ano de 2016, foi novamente desativada. Em 2017 o grêmio chegou a realizar algumas atividades no espaço, mas nada de caráter contínuo foi realizado (Figura 4). 31 Figura 4. Horta desativada do Centro de Ensino Médio Setor Leste, Brasília- DF. e) Área com espécies arbóreas plantadas, localizada atrás de um dos blocos de sala de aula Espaço que conta com algumas espécies nativas do Cerrado que foram preservadas na época da construção da escola (Figura 5), além de espécies exóticas arbóreas que foram plantadas ao longo do histórico da escola, sendo que o último plantio de mudas foi no ano de 2017. No ano de 2011 foi produzida uma horta no espaço por um professor de química, que o utilizava em suas aulas com a 2ª série. No ano seguinte, a horta foi desativada e o espaço, que também é gradeado em relação aos outros espaços da escola, raramente tem visitas de qualquer pessoa do corpo escolar. Figura 5. Área com espécies arbóreas localizada atrás de um dos blocos de sala de aula do Centro de Ensino Médio Setor Leste, Brasília- DF. 32 f) Campo de reflorestamento de espécies nativas do Cerrado, “campão” Área de 3 hectares presente atrás de todas as estruturas físicas da escola, que passou por um processo de reflorestamento no ano de 2000. Atualmente a área possuisolo descoberto com as mudas sobreviventes plantadas, onde uma grade separa este espaço dos outros espaços da escola. A área é utilizada pelo professor de educação física para realização de caminhadas com os alunos, mas além desta situação o espaço não é frequentado pelo corpo escolar. Figura 6. Campo de reflorestamento de espécies nativas do Cerrado “campão” do Centro de Ensino Médio Setor Leste, Brasília- DF. 3.3- Etapas da pesquisa e sujeitos da investigação Esta investigação foi desenvolvida nas seguintes etapas: pesquisa diagnóstica, observação participante, entrevista a docentes selecionados, e grupo focal com alunos da instituição. 3.3.1- Pesquisa diagnóstica Foram desenvolvidos projetos de pesquisa entre os anos 2015 a 2017 com turmas de 2º ano da instituição como parte de disciplinas Práticas de Educação em Biologia 1 e 2 e Práticas de Educação em Ciências 1 e 2, obrigatórias para o curso de Licenciatura em Ciências 33 Biológicas. As informações coletadas nesses projetos serviram de pesquisa diagnóstica para este trabalho. O primeiro dos projetos realizado na instituição, entre 2015 e 2016, foi o desenvolvimento de uma horta e análise do seu potencial de ensino interdisciplinar. Em Práticas de Educação em Ciências 1, realizou-se uma pesquisa diagnóstica por meio de questionário aplicado a alunos e professores acerca da percepção que esses segmentos tinham acerca do potencial interdisciplinar da horta e posteriormente, em Práticas de Educação em Ciências 2, foi ministrada uma aula expositiva-dialogada, contextualizando o histórico da horta e sua importância na atualidade. Em seguida, duas aulas práticas foram realizadas no espaço designado para a horta, uma para a preparação e plantio e outra para a observação do crescimento das plantas e discussão de possíveis conexões com diferentes disciplinas ao longo do processo de realização da horta. Após a prática, um questionário foi aplicado aos alunos a fim de entender se houve a percepção da interdisciplinaridade no espaço da horta. Infelizmente, posteriormente ao fim deste projeto, que se deu em 2016, a horta foi desativada. Ainda em 2016, um segundo projeto focado na disciplina de biologia foi realizado, verificando o potencial da realização de aulas ao ar livre para melhor compreensão do conteúdo de botânica. Na disciplina Práticas de Educação em Biologia 1, um diagnóstico prévio realizado por meio de questionário a alunos da 2ª série foi realizado, a fim de obter se há dificuldade no ensino de botânica e se aulas ao ar livre poderiam ajudar a esclarecer o conteúdo. Pela análise das respostas dos questionários aplicados a 79 alunos, foi constatado que 65% tem dificuldade de compreensão em botânica e 95% achou que aulas ao ar livre poderiam contribuir para o entendimento do conteúdo. Em 2017, com parte da disciplina Práticas de Educação em Biologia 2, foi planejada e realizada com alunos da 2ª série que estavam discutindo botânica na disciplina de biologia, uma aula ao ar livre mostrando as estruturas reprodutivas dos grandes grupos vegetais presentes no currículo em movimento. Um questionário realizado 34 posteriormente a aula ao ar livre foi aplicado a estes alunos para verificar a contribuição desta metodologia no esclarecimento do conteúdo de botânica. Ambas as pesquisas, mesmo não possuindo estreita relação com o objetivo deste trabalho, vem ao encontro do que me proponho a analisar neste estudo de caso: os ambientes ao ar livre. Sendo assim, os dados produzidos nesses projetos contribuíram para delimitar o problema e os objetivos deste Trabalho de Conclusão de Curso. 3.3.2- Observação A técnica de observação foi realizada com a observadora atuando como participante. Neste tipo de observação, a pesquisadora e os objetivos de sua pesquisa são revelados aos participantes desde o início, pedindo variadas informações a partir da cooperação do grupo observado (LÜDKE; ANDRÉ 2015). A observação se deu durante o processo de imersão na instituição, que se iniciou em 2015, ano em que fui realizar o primeiro dos dois projetos de pesquisa, ocorrendo até o ano de 2017, concomitante à realização do estágio supervisionado em ensino, sendo retomada em 2018 durante o desenvolvimento deste Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). O observador pode se valer dos seus próprios conhecimentos e experiências pessoais para interpretar e compreender o fenômeno estudado (OLIVEIRA, 2012), sendo assim, a partir da percepção advinda da minha experiência enquanto ex-aluna, pesquisadora e estagiária sobre a forma como ocorre o uso dos espaços da instituição que ocorreu a delimitação do que seria analisado neste estudo. A observação foi registrada em forma de anotações em caderno de campo. 3.3.3- Entrevista com os professores A técnica de entrevistas a docentes da instituição foi adotada a fim de registrar sua percepção acerca dos ambientes focados neste estudo para o processo de ensino aprendizagem e socialização dos saberes. Um dos procedimentos prévios adotados foi a seleção de possíveis 35 docentes a serem entrevistados, para tanto foi constituído um grupo composto de três docentes, sendo que este grupo atende aos seguintes critérios: 1- Possui projetos multi ou interdisciplinares inseridos no Projeto Político Pedagógico da instituição; 2- Desenvolvem ou desenvolveram algum projeto fora da sala de aula; 3- Participaram de projetos educacionais de pesquisas realizados na instituição; 4- Abrangem as diferentes áreas de conhecimento (Humanas e exatas); 5- Contemplam as três séries do ensino médio. O grupo de docentes entrevistados foi composto por um docente da 1ª e 2ª série, do componente curricular biologia - Professor Daniel Lucena-, uma docente da 2ª e 3ª série, do componente curricular artes - Professora Rosana Eulâmpio- e um docente da 3ª série, do componente curricular geografia - Professor Salvador Dourado. A entrevista, cujo roteiro consta do Apêndice A, foi realizada durante o mês de maio do ano de 2018 e teve caráter semiestruturado (LUDKE; ANDRÉ, 2015), composto de questões que instigavam a expressão de opinião acerca da potencialidade dos espaços acima elencados para o processo ensino aprendizagem e socialização dos saberes, possíveis entraves e limitações para uso desses espaços - caso tenham consciência de seu potencial educador, e descrição de relatos de experiências de ensino fora da sala de aula na instituição. Previamente ao início de cada entrevista os participantes foram esclarecidos sobre seus objetivos e assinaram um Termo de Consentimento Livre Esclarecido, onde optaram por ter sua identidade revelada. Antes da realização das entrevistas aos docentes selecionados foi realizado um teste do roteiro da entrevista, a fim de analisar o entendimento das questões que foram elaboradas, e se tinham o potencial de levantar respostas condizentes com o objetivo do estudo. 3.3.4- Grupo focal com estudantes 36 Entendendo que a percepção dos alunos acerca da potencialidade educativa desses espaços é de extrema importância, foi constituído um grupo focal. Dentre as indicações para uso dessa técnica está a obtenção de informações sobre um contexto específico, em que a interação pode fomentar uma variedade de informações e experiências acerca de um tema determinado (KIND, 2004). A escolha dos estudantes para compor o grupo foi feita de forma aleatória pela coordenadora, que percorreu as salas de aula e convidou alunos que desejassem participar do estudo. O grupo (Tabela 1) foi composto de três estudantes da 1ª série, dois estudantes da 2ª série e cinco estudantes da 3ª série, um total de dez alunos. Os estudantes participantes possuíam aproximadamente entre 14 e 18 anos de idade. Para manter o anonimato, os estudantes receberam nomes fictícios inspirados na flora do cerrado. Tabela 1. Perfil dos alunos participantes do grupo focalrealizado no Centro de Ensino Médio Setor Leste, Brasília- DF. Nome fictício Série Gênero Turno Aroeira 1ª série Masculino Vespertino Urucum 1ª série Masculino Vespertino Mangaba 1ª série Feminino Vespertino Quaresmeira 2ª série Feminino Matutino Pequi 2ª série Masculino Matutino Caliandra 3ª série Feminino Matutino Gabiroba 3ª série Feminino Matutino Lobeira 3ª série Masculino Matutino Ipê 3ª série Masculino Matutino Buriti 3ª série Feminino Matutino O grupo focal foi conduzido no mês de maio do ano de 2018, a partir de um roteiro semiestruturado (Apêndice B), tendo questões acerca da percepção dos ambientes elencados acima para o processo de ensino-aprendizagem e socialização dos saberes. Foi solicitado 37 também que compartilhassem experiências de ensino-aprendizagem que consideravam marcantes, nos ambientes da escola. As atividades com o grupo focal foram realizadas em dois dias, cada dia com duração média de uma hora, contando com a colaboração de duas colegas da graduação do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas. No primeiro dia, houve a participação de dez alunos, em um primeiro momento reunidos em um grupo único. No segundo momento, ao se discutir a experiência de ensino mais marcante deles na instituição, foram divididos em dois grupos, sendo eles: Grupo 1: Gabiroba, Aroeira, Mangaba, Ipê, Buriti, Urucum, conduzido pela autora deste trabalho. Grupo 2: Quaresmeira, Pequi, Lobeira, Caliandra, conduzido pelas duas colegas colaboradoras. Ao final do primeiro dia, foi pedido aos alunos que trouxessem algum registro visual (foto ou vídeo) para o próximo encontro juntamente com algum depoimento (áudio, texto ou vídeo) de um espaço da escola onde eles gostariam de ter aulas. O segundo dia do grupo focal ocorreu dois dias depois do primeiro, com a participação de 8 dos 10 alunos. Num primeiro momento, discutimos acerca dos locais que cada aluno escolheu. Posteriormente, foram dispostas fotos dos ambientes ao ar livre que são foco deste estudo, sendo requisitado que cada aluno escolhesse dentre elas os espaços que consideram possíveis de terem aulas. Para finalizar, apresentaram sua opinião acerca do acesso dos estudantes aos diversos espaços que a instituição possui. 3.3.5- Análise dos dados Os registros tanto do grupo focal quanto das entrevistas aos docentes foram feitos com uso de gravador e anotações em caderno de campo ao longo da entrevista. Procurou-se com estas duas técnicas obter, como proposto por Ludke e André (2015), uma parte descritiva, que 38 consistiu em relatar sujeitos, eventos, atividades relevantes para a pesquisa; e uma parte reflexiva, analisando as declarações dos alunos e professores sobre a percepção dos dois critérios elencados neste estudo para definição de um espaço educador. As gravações foram transcritas para texto, complementadas com as respectivas anotações da caderneta de campo dos momentos da pesquisa. A partir da leitura das transcrições, foram determinadas unidades de registro em forma de temas que nortearam a análise do texto através de agrupamento dos depoimentos dos alunos e docentes para a apresentação dos resultados (OLIVEIRA, 2008). 39 4- RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados e discussão foram organizados da seguinte forma: • Espaços preferidos da escola na visão dos participantes da pesquisa Será mencionado o primeiro momento do grupo focal, a fim de mostrar os desenhos e depoimentos dos alunos acerca do espaço preferido de cada um dentro da instituição, explicitando porque o escolheram. • Experiências de ensino mais marcantes Depoimentos das experiências de ensino mais marcantes dentro da instituição tanto dos alunos do grupo focal quanto dos professores, sendo agregados de acordo com local em que ocorreram. Além disso, serão discutidas as sensações que afloraram e um subtópico específico para as limitações destas experiências elencadas pelos participantes da pesquisa. • Espaços considerados oportunos para a realização de aulas Este tópico conta com relatos acerca dos espaços que tanto alunos como professores elencaram como oportunos para a realização de aula, independentemente de serem os espaços elencados neste estudo. Além disso, há os relatos fotografias dos alunos acerca do espaço da instituição cujo qual eles gostariam de ter aulas. Quando mencionados, os depoimentos acerca dos ambientes que são objetos deste estudo foram remanejados para o tópico seguinte. • A percepção sobre os ambientes ao ar livre focados neste estudo como potenciais espaços educadores Neste tópico serão apresentados os resultados acerca de quais ambientes ao ar livre elencados neste estudo são vistos como locais de realização de aulas para alunos e professores. Foram discutidos os motivos que os levaram tanto a escolher como desconsiderar cada espaço, divididos em subtópicos. Por fim, há um subtópico acerca da opinião dos docentes acerca da importância destes espaços no processo educacional. 40 • A visão dos docentes acerca das limitações para o acesso e apropriação desses espaços Discute-se aqui os relatos dos professores acerca dos motivos elencados acerca da não utilização destes espaços por seus colegas no processo de ensino-aprendizagem. • O acesso dos alunos aos espaços da escola Procurou-se neste tópico apresentar a opinião dos alunos e docentes acerca do acesso que os alunos possuem aos diferentes espaços da escola. Discutiu-se as frustrações dos alunos sobre a atual forma cujo qual os diferentes espaços da escola estão disponíveis a eles, além do anseio deste e dos professores diante de ideias de ocupação destes espaços. • Os ambientes ao ar livre do Centro de Ensino Médio Setor Leste como espaços educadores: considerações finais Para finalizar, pretendi, diante de toda a minha experiência enquanto ex-aluna, estagiária e pesquisadora na instituição, agregar tudo que foi relatado neste estudo e colocar minhas impressões diante da proposta deste estudo, minha opinião acerca dos ambientes ao ar livre do CEMSL como potenciais espaços educadores. 41 4.1- Espaços preferidos da escola na visão dos participantes da pesquisa Dentre os diversos espaços do CEMSL, um dos mais escolhidos pelos participantes do grupo focal foi o espaço cultural, citado por quatro alunos. De acordo com o aluno Ipê (Fig. 7A), este é “um espaço muito bom que a escola tem, mas que não é aproveitado”, pois para eles é um pátio amplo onde deveriam ocorrer atividades culturais, mas segundo o aluno Pequi (Fig. 7B) “é usado como refeitório mesmo, e de cultura lá não tem nada”. Para os alunos Mangaba (Fig. 7C) e Lobeira (Fig. 7D) é o espaço que eles mais gostam por ser um lugar onde eles ficam relaxados e ficam com os amigos conversando durante os intervalos e as aulas vagas, e ainda segundo Mangaba, é um lugar onde eles podem comer, já que o espaço abriga a cantina. Mesmo com a falta de uso do espaço para atividades culturais, para os alunos Ipê, Pequi, Mangaba e Lobeira este ainda é o espaço de preferência deles dentro da escola. Entretanto, Ipê e Pequi indagaram que deveriam ser realizadas atividades culturais, que é o propósito do espaço, contribuindo para o sistema de valores descrito por Ribeiro (2004), propiciando ainda mais sentimento de pertencimento e afetividade ao espaço. Figura 7. Desenhos realizados pelos participantes do grupo focal do espaço cultural, local preferido dos alunos Ipê (A), Pequi (B), Mangaba (C) e Lobeira (D) dentro do Centro de Ensino Médio Setor Leste, Brasília- DF. 42 Tão escolhido quanto o espaço cultural foi o bosque, que para os alunos que o escolheram, é considerado um espaço tranquilo, calmo, e para Quaresmeira (Fig. 8) “por ser um pouco afastado do bloco de salas de aulas, é um local sem muito barulho”. Segundo a aluna Gabiroba, este é um espaço que “alunos e professoresdeveriam aproveitar em conjunto”, e assim como o espaço cultural, completa que “deve ser muito mais aproveitado, que vai render muito mais e gerar muitas coisas positivas”. Figura 8. Desenho realizado pela participante do grupo focal do “bosque”, local preferido das alunas Quaresmeira, autora do desenho, e Gabiroba dentro do Centro de Ensino Médio Setor Leste, Brasília- DF. Outro ambiente ao ar livre contemplado neste estudo e considerado preferido pelos estudantes foi uma das praças (Fig. 9) presente na frente da coordenação, “onde tem bancos e uma árvore aqui no meio”. A árvore no centro da praça cria uma sombra boa e um ar mais frio, aspectos destacados pelo aluno Aroeira, que criam um “lugar bom para se pensar, eu gosto de ficar lá sozinho pensando, é um lugar bom para estudar também”. Para Brandão (2005a), estes momentos são necessários para a constituição das comunidades aprendentes, onde todas as trocas são aprendizados, sejam eles com outras pessoas, ou na sua individualidade com o espaço. 43 Figura 9. Desenho realizado pela participante do grupo focal de uma das praças, local preferido do aluno Aroeira dentro do Centro de Ensino Médio Setor Leste, Brasília- DF. O auditório (Fig. 10) foi caracterizado como preferido por ser um espaço para “libertar a alma”, segundo a aluna Buriti a escolha se deu porque “a gente se expressa, e acho muito importante a gente se expressar”. Percebe-se que esta aluna prioriza um espaço onde ela possa expressar suas diferenças, o que permite estabelecer uma relação com Gadotti (2006) que defende que a nossa pedagogia se dirige a um aluno médio, que é uma abstração: “cada um deles é diferente e precisa ser tratado em sua individualidade, sua subjetividade” (GADOTTI, 2006, p. 139). Figura 10. Desenho realizado pela participante do grupo focal do auditório, local preferido da aluna Buriti dentro do Centro de Ensino Médio Setor Leste, Brasília- DF. 44 Além do bosque, a biblioteca (Fig. 11) foi um segundo espaço que a aluna Gabiroba considera como preferido porque “conheci uma pessoa que representa muito para mim”, indicando a afetividade ao espaço que representa relações sociais estabelecidas ali. Figura 11. Desenho realizado pela participante do grupo focal da biblioteca e do “bosque”, locais preferidos da aluna Gabiroba dentro do Centro de Ensino Médio Setor Leste, Brasília- DF. Em alguns dos relatos dos alunos é perceptível a preferência por determinado espaço devido a uma dimensão de afetividade desenvolvida por meio de uma interação individual com o espaço, essencial para o estabelecimento de pertencimento aquele ambiente. Mesmo sem a presença do professor, esses momentos devem ser considerados como processo de ensino aprendizagem, onde o indivíduo não se sente alienado em relação ao espaço, sentindo-se parte dele e por ele ressignificado. Brandão (2005a), ao mencionar as comunidades aprendentes, menciona que: “quase tudo que nós vivemos em nossas relações com outras pessoas ou mesmo com o nosso mundo, como no próprio contato direto com a natureza, pode ser, também, um momento de aprendizado.” (BRANDÃO, 2005a, p. 87) Possibilitar que esses espaços sejam ocupados é abrir possibilidades para que neles ocorram diferentes processos de conhecimento, desde aulas a momentos como o que Quaresmeira relata: “pego um livro e sento lá para ler”. Essa relação institui a complexidade do indivíduo, essencial para que se desenvolva o processo de pertencimento, naquela escola (SÁ, 2005). 45 4.2- Experiências de ensino mais marcantes As experiências que mais marcaram os alunos participantes ocorreram durante o desenvolvimento de projetos interdisciplinares da instituição como a mostra cultural e a feira de ciências. Neste primeiro projeto, realizado anualmente com alunos da 2ª série desde 2013 sob coordenação da docente de língua portuguesa, a proposta é que cada turma construa uma performance teatral a partir da união de uma obra característica do movimento literário que está sendo tratado nas disciplinas de literatura e artes, e uma música de caráter regional. Gabiroba, ao falar como este projeto a marcou, disse: “fez eu me repensar, me recriar”. Para Gabiroba e Ipê, os projetos proporcionaram momentos de descoberta de talentos que eles não tinham, e de redescoberta de habilidades que durante a monotonia de aulas teóricas em sala de aula, ficam latentes. Segundo Ipê e Gabiroba, a turma toda se une em prol de uma causa comum: a construção de uma performance que outras turmas ainda não assistiram, sendo considerado ótimo para eles no sentido de ter contato com uma diversidade de construções artísticas, e ainda completam que estas oportunidades afetam seu lado crítico. Era perceptível o brilho nos olhos de Gabiroba ao falar sobre como esta experiência foi marcante em sua vida: “foi um grande aprendizado pra mim, não só pra dentro de mim mas também pra fora entendeu, que eu vou levar pra vida; o que eu vou fazer, a maneira que vou agir, que vou me portar em certas ocasiões e foi muito importante para mim” (GABIROBA, depoimento em de maio de 2018) A feira de ciências foi um outro projeto que marcou Ipê por ter sido uma oportunidade de utilizar o conhecimento teórico para a construção de algo prático: “a gente aprende uma coisa na aula e a gente pode levar aquilo para a prática e faz muito sentido”. Esses projetos nos permitem estabelecer relações com as iniciativas da escola do bosque que também utiliza de projetos interdisciplinares, o que segundo Silva (2007) gera uma análise qualificada para a construção de alternativas para problemáticas ambientais. 46 As atividades físicas que faziam parte da gincana da festa junina foram mencionadas por dois alunos por serem experiências que ocorreram em locais que eles usualmente não utilizam, como a piscina e as quadras de vôlei de praia. Quaresmeira achou divertido essa nova maneira de aprender pois saia da rotina da sala de aula. Mota (2006), em estudo sobre escolas educadoras sustentáveis, indica que a ressignificação de saberes, valores e atitudes, expressa tanto por Quaresmeira quanto por Ipê e Gabiroba, ligados a uma aprendizagem significativa define os locais como espaços educadores. Em relação a experiências em espaços escolhidos neste estudo, foi citada a aula de botânica ao ar livre por três dos alunos e pelo docente Daniel, que realizou a atividade, como a mais marcante. O docente adorou a experiência e a considerou interessante, e todos os três alunos consideraram um momento em que conseguiram aprender muita coisa, inclusive o aluno Ipê relatou que só começou a entender sobre botânica quando observou as estruturas ao ar livre. O aprimoramento do processo de ensino aprendizagem em aulas práticas de botânica foi também constatado por Pimenta e Rodrigues (2011), onde essa vivência promoveu aos alunos um aprendizado mais motivador. A partir dessa experiência, a aluna Caliandra relatou que começou a gostar de aulas ao livre, e que se sentiu com mais liberdade em usar diferentes espaços da escola para estudar. Os estudantes mencionaram também uma experiência na disciplina de língua portuguesa, em que a professora levou a turma de 2º ano para uma das praças existentes entre os blocos de salas de aula da instituição, e pediu que os alunos recitassem poemas. Os dois alunos que mencionaram esse momento consideraram-no ótimo. O aluno Pequi considerou uma aula diferente que foi muito prazerosa no sentido de: “na hora que você declamava os poemas, eles falavam sobre a natureza, sobre o céu e você se sente realmente no meio do poema porque você estava no meio da natureza, das plantas.” (PEQUI, depoimento em maio de 2018) 47 Para o aluno, além de ampliar o significado do conteúdo do poema, o fato da vivência ocorrer ao ar livre permitiu-lhe atribuir novos sentidos à experiência,o que também foi descrito por Kuneida (2010). A Professora Rosana relatou na entrevista que a experiência mais marcante foi na área verde próxima às quadras, um dos locais analisados neste estudo, quando uma aluna a abordou dizendo que precisava de uma orientação relacionada à religiosidade e tiveram uma longa conversa. Para ela, este momento a marcou muito por perceber naquela experiência, o valor que o professor tem na vida do aluno, o poder de sua sabedoria: “a resposta que eu vou dar pode reerguê-la ou matá-la”. A horta foi a escolhida pelo professor Salvador, que como idealizador do projeto crê que foi muito importante “ocupar o espaço de uma forma útil, ao transformar um depósito de lixo em um local bonito, agradável e esteticamente favorável”. Para ele, o espaço proporcionou um aprendizado gigante e interdisciplinar, e que poderia ter sido muito mais aproveitado por outras disciplinas, e foi perceptível em seu olhar o pesar com o fim do projeto. Na concepção das escolas educadoras sustentáveis (TRAJBER; SATO, 2010), projetos ambientais como este são a base para que o sujeito seja percebido no mundo em comunidade e se entrelace com o local a fim de promover o diálogo de diferentes conhecimentos. O espaço cultural foi o local da experiência mais marcante para a aluna Buriti, quando o professor de geografia pediu que os alunos desenvolvessem um mural sobre globalização, utilizando-o para explicitar o assunto na aula seguinte. A estudante se impressionou com o fato dele utilizar um produto, que ela e seus colegas desenvolveram, em sua aula. Ao mencionar esta experiência, a aluna Caliandra disse que esta atividade a ajudou muito a compreender o conteúdo, e ainda completou: “só de sair da sala de aula você já fica mais focado, você já fica mais curioso sobre o que vai rolar na aula, e eu particularmente consigo entender muito!”. 48 Houve relatos de experiências marcantes dentro da sala de aula tanto de uma forma positiva como negativa. Entre as que marcaram positivamente estão desde aulas de filosofia com interação com os alunos por meio de técnicas diferenciadas, como dinâmicas e atividades em forma de produção audiovisual. Dentre as experiências negativas marcantes, foram citadas: uma disciplina em que o docente falta muito, aulas em que o professor apenas lê o capítulo do livro e os alunos não entendem nada do conteúdo, além de uma experiência em que a aluna foi expulsa de sala de aula por estar conversando de um conteúdo relacionado à matéria. Diante dessas declarações, é possível perceber a diversidade de elementos que se revelam nos diversos espaços como conteúdos de aprendizagem (MOTA, 2016), mas que são raramente usados para o processo de ensino aprendizagem e socialização de saberes. 4.2.1- Limitações Nas experiências relatadas, uma das principais limitações em relação aos projetos interdisciplinares foi o tempo. Na mostra cultural, a aluna Gabiroba relata que à medida que as performances são mais longas têm mais coisas para se mostrar, por isso acha que com um tempo maior a temática poderia ter sido mais aprofundada. Para a aluna Buriti “dava para abordar muitas coisas então foi muito corrido para a gente”, sendo o elemento temporal um dos que definem um espaço educador, pois todo conhecimento possui um tempo que precisa ser respeitado para que ocorra o processo de ensino aprendizagem (OLIVEIRA, 2012). Além disso, a implantação do regime de semestralidade foi levantado pelo aluno Ipê como um fator limitador para a realização dos projetos na instituição. As feiras de ciência e a mostra cultural, por exemplo, não são abordadas apenas em um ou dois bimestres. Segundo ele: “cada bimestre pega um pouco e vamos fazendo um aprimoramento; é um caminho a ser seguido”. Ainda segundo o aluno, com o encurtamento do tempo das disciplinas imposto pela semestralidade, os professores vão perdendo o incentivo de realizar os projetos porque serão muito rápidos e não serão trabalhados da forma desejada. Portanto, vê-se a necessidade de um 49 regime temporal que consiga articular de fato os projetos interdisciplinares com o que é proposto pelo currículo (SILVA, 2007), para que possam ser desenvolvidos da melhor forma possível com os alunos. No espaço cultural, uma das limitações colocadas pela aluna Caliandra, e também por Salvador, o docente que realizou a aula neste espaço, foi o barulho excessivo que ocorre no local, pois as turmas sem professores são colocadas nesse espaço e acabam atrapalhando quem está tendo aula no local. Em relação a aula prática de botânica ao ar livre, foi exposto pelo docente de Biologia, Daniel, que apesar do enorme número de exemplares de plantas, há uma limitação devido à ausência de exemplares de alguns filos. Para o professor Salvador, a horta poderia ter sido um espaço mais aproveitado pelos docentes de outras disciplinas, que não perceberam a importância deste projeto no espaço escolar, sendo este o motivo que levou ao seu fim. Para Martins et. al (2012), a implantação de hortas escolares ainda encontra muita resistência dentro do ensino formal, que ainda opta pelo ensino tradicionalista. Nas práticas ao ar livre em geral, foi levantado pelas alunas Caliandra e Quaresmeira que muitos alunos fogem ao longo do caminho aos espaços, sendo que a última aluna ainda pontuou que atividades ao ambiente ao ar livre dispersam os alunos. 4.3- Espaços considerados oportunos para a realização de aulas Todos os espaços elencados pelos alunos como oportunos para a realização de atividades educativas se localizam fora da sala de aula e, para Gabiroba, a comunidade escolar deveria “descobrir o que tem além daquilo que a gente vê todo dia na sala de aula”. De acordo com o aluno Aroeira, “se a gente parar para pensar, tem um local bom para cada matéria, só 50 que o pessoal não usa”, sobre isto muitos estudantes indicaram exemplos de espaços que poderiam ser utilizados em aulas de disciplinas específicas. O auditório é outro espaço fora da sala de aula, não objeto deste estudo, que foi mencionado pelos alunos Urucum, Ipê e Buriti. Esta última aluna também mencionou o ateliê, que para ela os dois espaços poderiam ser mais utilizados para as aulas de artes cênicas e plásticas. A sala de espelhos foi elencada pelos alunos Aroeira e Ipê como um espaço que poderia ser utilizada nas aulas de filosofia para autorreflexão por exemplo, e segundo o aluno Aroeira, esse espaço proporciona aos alunos “andar com ar mais livre para repensar mais as atitudes”. O espaço cultural foi indicado como um dos espaços em que a aluna Mangaba gostaria de ter aulas (Figura 12) por possuir uma ventilação boa; para ela, os professores não utilizam este espaço para a realização de aulas pelo comodismo de não querer andar fora da sala de aula e por terem que controlar demais os alunos. Salvador, docente que realizou a aula com o mural sobre globalização mencionado no tópico anterior, também considerou este espaço oportuno para sua prática pedagógica. Figura 12. Fotografia tirada pela aluna Mangaba, retratando o espaço onde gostaria de ter aulas: o espaço cultural do Centro de Ensino Médio Setor Leste, Brasília- DF. 51 Os laboratórios foram mencionados pelos alunos Caliandra e Ipê, que nas palavras deste último “são espaços que possuem estrutura, mas a gente não usa”. A escola possui dois laboratórios, um de química/biologia e outro de matemática/física. Durante as discussões no grupo focal ficou perceptível a invisibilidade dos laboratórios, pois no momento em que Ipê os mencionou, o estudante Aroeira ficou surpreso pois não sabia da existência deles na escola. Sugere que mesmo estruturas que possuem os aparatos para serem utilizadas pedagogicamente são praticamente desconhecidas por alguns alunos. Concordamos com Brandão (2005b) quando afirma que não adianta as estruturas simplesmente
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