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Diagnóstico de hemoparasitoses em cães

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Diagnóstico de hemoparasitoses em cães
BABESIOSE
A babesiose canina é uma doença causada por protozoários intraeritrocitários denominados como Babesia canis e Babesia gibsoni. Geralmente o método diagnóstico utilizado é através da análise do esfregaço sanguíneo corado com colorações do tipo Romanowsky (Giemsa, Wright, Rosenfeld ou Diff- Quick), onde é possível visualizar o parasita no interior das hemácias, porém esse método nem sempre leva a um diagnóstico conclusivo visto que dependendo da fase de infecção não é possível encontrar o parasita na circulação periférica. Sendo assim, é necessário combinar outros métodos que conduzam ao diagnóstico final. (SPIEWAK, 1992; DIAS; FERREIRA, 2016)
Segundo Dias e Ferreira (2016), entre os achados laboratoriais mais comuns estão a anemia regenerativa, hiperbilirrubinemia, bilirrubinúria, hemoglobinúria, trombocitopenia, acidose metabólica, azotemia e cilindros renais, sendo as principais anormalidades hematológicas observadas a anemia e a trombocitopenia. A reticulocitose vai depender do grau da anemia, que é normocítica e normocrônica no início da infecção e progride para macrocítica, hipocrômica e regenerativa conforme o curso da doença. 
Considerando que o agente é transmitido por carrapatos trioxenos Rhipicephalus sanguineus, durante a anamnese também é importante tomar conhecimento sobre possíveis infestações de carrapatos, questionando o responsável pelo animal e por inspeção direta no pêlo do cão. Os testes sorológicos são empregados nos casos onde há suspeita clínica, mas não há identificação do parasita no esfregaço sanguíneo, assim como para portadores assintomáticos. A pesquisa de anticorpos através da reação de imunofluorescência direta (RIFI) é um dos testes mais utilizados para diagnóstico de babesiose canina. Além do RIFI, também é empregado o uso do teste ELISA, porém é necessário ressaltar que a presença dos anticorpos não significa que há infecção ativa, somente que houve contato com o agente. (SPIEWAK, 1992; DIAS; FERREIRA, 2016)
ERLIQUIOSE
A erliquiose monicítica canina é uma doença causada por bactérias intracelulares obrigatórias de células mononucleares, sendo que a espécie mais comum na infecção em cães no Brasil é a Ehrlichia canis, transmitida pelo carrapato Rhipicephalus sanguineus. O diagnóstico da doença é difícil e os sinais clínicos podem facilmente ser confundidos com outras doenças, além das alterações laboratoriais serem bastante inespecíficas. No exame laboratorial, geralmente é indetificada trombocitopenia, leucopenia ou leucocitose, eosinopenia, neutrofilia com desvio a esquerda, monocitopenia e linfopenia, e anemia predominantemente normocítica normocrômica. (MACEDO, 2007; FONSECA; HIRSCH; GUIMARÃES, 2013)
O diagnóstico conclusivo depende da visualização do parasita nas células sanguíneas, através de amostras de sangue periférico ou aspirado de linfonodos coradas com Giemsa, sendo que o mesmo deixa mórulas em monócitos e linfócitos, já que os utiliza para se reproduzir. Porém, essa visualização não acontece na maioria dos casos em fase aguda ou subclínica, gerando resultados falso positivos e aumentando a necessidade de combinação com outros métodos. (FONSECA; HIRSCH; GUIMARÃES, 2013)
Sendo assim, o diagnóstico é baseado na sorologia, através de testes como o RIFI, o ELISA e o Western imunoblotting. A identificação de alto número de anticorpos ou DNA de E. canis no PCR também conduz ao diagnóstico final, porém é importante lembrar que a presença de anticorpos para o agente não significa que há infecção ativa. (FONSECA; HIRSCH; GUIMARÃES, 2013)
HEPATOZOON
A hepatozoonose canina é uma doença causada por protozoários que parasitam neutrófilos e monócitos, denominados Hepatozoon canis e Hepatozoon americanum, também transmitidos por carrapatos Rhipicephalus sanguineus e por carrapatos Amblyomma spp. A visualização de gamontes em neutrófilos e monócitos no esfregaço sanguíneo pode ser uma forma de diagnóstico, mas assim como nas outras hemoparasitoses pode não ser possível visualizar o agente dependendo da fase da infecção, sendo que nessa doença é mais facilmente visualizado na fase aguda, levando a resultados falso negativos. (LASTA, 2009) 
Dentre os achados laboratoriais, estão a anemia normocítica normocrômica, leucocitose e neutrofilia. A doença não costuma causar alterações importantes no exame sanguíneo. No caso de suspeita de infecção por H. americanum, que se encontra nos músculos esqueléticos, através da radiografia pode-se identificar proliferação óssea periosteal, principalmente na porção proximal dos ossos dos membros. Sorologia como o RIFI, Western imunoblotting e ELISA pode ser empregada, mas nem sempre demonstra resultado satisfatório para hepatozoonose. Para essa hemoparasitose, o PCR costuma ser uma ferramenta de diagnóstico mais específica e sensível. (LASTA, 2008)
MICOPLASMOSE
A micoplasmose canina é uma doença causada por bactérias intraeritrocitárias 
Mycoplasma Haemocanis e Mycoplasma haematoparvum, transmitida por carrapatos Rhipicephalus sanguineus. Assim como em outras hemoparasitoses, através do esfregaço sanguíneo pode ser possível visualizar diretamente o parasita, porém também possui baixa sensibilidade e pode não detectar em fase aguda da doença. Dentre os achados laboratoriais, os mais comuns são a anemia regenerativa com policromasia e anisocitose. As melhores formas de diagnosticar é através de testes como o RIFI, o PCR e a laranja de acridina. O PCR costuma ter uma sensibilidade maior, detectando a bactéria mesmo em baixa quantidade. (MELO, 2017)
BORRELIA
A borreliose canina é uma doença causada por bactérias Borrelia Swellengrebel transmitida principalmente por carrapatos dos gêneros Ixodes e Amblyomma. Pode ser realizado o cultivo da bactéria em meios artificiais, como BSK, através de amostras de fluídos corporais, sendo possível visualizar as espiroquetas na microscopia. Entre os achados laboratoriais, estão a anemia normocítica e normocrômica e a elevação de enzimas hepáticas (ALT e FA). O teste RIFI permite a identificação do agente, porém tem alta chance de reações cruzadas. Para essa hemoparasitose, são utilizados preferencialmente ELISA e Western imunoblotting, por demonstrarem maior sensibilidade. (CORDEIRO, 2012)
Em todas as hemoparasitoses é importante ressaltar que a presença de anticorpos nem sempre significa que há infecção ativa pelo agente, sendo necessário não se basear somente pelos testes sorológicos. A análise clínica é importante para determinação do diagnóstico final, assim como o conhecimento do médico veterinário a respeito de possíveis áreas endêmicas, sendo mais fácil identificar quando há risco do animal estar infectado.
Referências
CORDEIRO, Matheus Dias. Diagnóstico sorológico de Rickettsia spp. e Borrelia spp. em cães no município de Seropédica, RJ. 2012. 60 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Veterinárias, Sanidade Animal). Instituto de Veterinária, Departamento de Parasitologia Animal, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, RJ, 2012.
DIAS, Viviane Araujo Cassinoni Moreira; FERREIRA, Fernanda Lúcia Alves. Babesiose canina: Revisão. PUBVET, São Bernardo do Campo, São Paulo, v. 10, ed. 12, p. 873-945, 2016.
FONSECA, Juliana Pierangeli; HIRSCH, Christian; GUIMARÃES, Antônio Marcos. Erliquiose monocítica canina: epidemiologia, imunopatogênese e diagnóstico. PUBVET, Londrina, v. 7, n. 8, ed. 231, art. 1529, 2013.
LASTA, Camila Serina. HEPATOZOONOSE CANINA. Orientador: Félix Hilário Díaz González. 2008. 47 p. Monografia (Residência Médica em Patologia Veterinária) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, 2008.
LASTA, Camila Serina et al. Infecção por Hepatozoon canis em canino doméstico na região Sul do Brasil confirmada por técnicas moleculares. Cienc. Rural,  Santa Maria ,  v. 39, n. 7, p. 2135-2140, 2009. 
MACEDO, Elenir Alves. Ultraestrutura de células parasitadas por Ehrlichia spp., métodos diagnósticos e histopatologia em órgãos de cães com erliquiose da micro-região de Uberlândia-MG.Orientador: Marcelo Emílio Beletti. 2007. 125 p. Dissertação (Mestrado em Ciências Veterinárias - Saúde Animal) - Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, Minas Gerais, 2007.
MELO, Isabela de et al. MICOPLASMOSE EM CANINO DOMÉSTICO – RELATO DE CASO. Revista Eletrônica Biociências, Biotecnologia e Saúde, Curitiba, Paraná, ed. 18, p. 89-97, 2017.
SPIEWAK, Gisele. Aspectos epidemiológicos, clínicos e de diagnóstico da infecção por Babesia canis, em cães atendidos em clínicas veterinárias, em Belo Horizonte. Orientador: Jose Divino Lima. 1992. 80 p. Dissertação (Mestrado em Medicina Veterinária Preventiva) - Universidade Federal de Minas Gerais, Minas Gerais, 1992.

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