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CAPÍTULO 4
MEMÓRIA E HISTÓRIA ORAL: A PESQUISA, 
ASPECTOS METODOLÓGICOS E ÉTICOS
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
 Discutir as principais fragilidades e potencialidade que são reconhecidas à 
memória e à história oral como fontes na produção do conhecimento histórico.
 Compreender as formas de estruturação, preparação, cuidados preliminares 
e éticos pertinentes, que acompanham o campo de pesquisa em memória e 
história oral.
 Apresentar os principais modelos e métodos que são utilizados na captação, 
no registro, no inventariado e na sistematização de fontes orais e pesquisa em 
memória.
 Enumerar as principais abordagens e elementos que podem ser considerados 
a partir do momento em que as fontes passam pelo tratamento analítico, crítico 
e refl exivo.
104
 Memória e História Oral
105
MEMÓRIA E HISTÓRIA ORAL: A PESQUISA, ASPECTOS 
METODOLÓGICOS E ÉTICOS Capítulo 4 
CONTEXTUALIZAÇÃO
Pesquisar memórias e se utilizar de fontes orais para narrar a história exige 
que nos posicionemos de forma diferente do que se estivéssemos utilizando fontes 
documentais e escritas, assim como de forma diferenciada em relação ao próprio 
passado. Antes de mais nada, faz-se necessário repensar e problematizar a 
matriz de pensamento positivista, que previa o fazer do historiador comprometido 
em explicar e mostrar o passado como “realmente” havia acontecido e, em 
contrapartida, incluir as problemáticas que agora emergem das novas fontes 
historiográfi cas.
Memória e história oral passaram a ser enfatizadas em meio ao movimento da 
Nova História e se fortaleceram mundialmente a partir dos anos de 1980. Ambas 
envolvem a dimensão de tempo vivido, a experiência e o testemunho ocular, 
compreendem o “vi/vimos com os nossos próprios olhos”. O sujeito/pesquisador e 
o objeto de estudo encontram-se na mesma temporalidade; existe a possibilidade 
de se estabelecer o confronto entre o conhecimento histórico/narrado, o noticiado, 
e o testemunho vivo, a vivência do fato ou acontecimento. 
Porém a memória e a história oral carregam consigo certa fragilidade 
documental, no que diz respeito ao campo da objetividade. Elas são questionadas 
no quesito de que apresentam pouco recuo temporal, que favorece parcialidade, a 
tomada de posição diante dos fatos e acontecimentos em questão. No que tange 
aos entrevistados, podem suscitar sentimentos como de heroísmo ou vitimização. 
O ato de remexer nas memórias pode tocar em traumas, na frustração de 
esperanças.
Pois bem, caro(a) pós-graduando(a), estas são algumas das questões que 
serão discutidas ao longo do último capítulo deste caderno de estudos. Agora falta 
pouco, reforce a atenção e a dedicação, que o aprendizado pode ser ainda mais 
proveitoso!
MEMÓRIA E HISTÓRIA ORAL COMO FONTE 
DE PESQUISA
A história oral e a memória podem ser entendidas como meio e métodos 
de pesquisa (histórica, antropológica, sociológica) que privilegiam a realização de 
entrevistas com pessoas que participaram ou testemunharam acontecimentos, 
possuem experiência em meio a determinadas conjunturas, que possuem 
determinadas visões de mundo. Segundo Alberti (1990), trata-se de estudar 
106
 Memória e História Oral
acontecimentos históricos, instituições, grupos sociais, categorias profi ssionais, 
movimentos, entre outros, lançando mão de recursos, fontes e evidências 
oriundas da história oral.
A história oral, como fonte e conhecimento histórico, na circulação no 
interior dos espaços acadêmicos e de produção do conhecimento científi co, 
possui uma trajetória caracterizada por momentos de forte valorização e outros 
de amplo descrédito e esquecimento. Prins (1992 apud BURKE, 1992) discute 
que os historiadores das principais sociedades modernas, industriais, urbanas e 
maciçamente alfabetizadas se apresentam como céticos em reconhecer as fontes 
orais na elaboração do conhecimento histórico. 
Na concepção positivista de conhecimento histórico, em especial da escola 
rankeana, do fi nal do século XIX, que privilegiava as fontes ofi ciais e escritas, as 
fontes orais representavam uma escolha infeliz, que Prins (1992 apud BURKE, 
1992, p. 166) analisa e problematiza nos seguintes termos:
A questão é que o relacionamento entre as fontes escritas e 
orais não é aquele da prima-dona e de sua substituta na ópera: 
quando a estrela não pode cantar, aparece a substituta: quando 
a escrita falha, a tradição sobe ao palco. Isso está errado. As 
fontes orais corrigem as outras perspectivas, assim como as 
outras perspectivas as corrigem. 
Nesse contexto, as sociedades africanas e indígenas são as mais 
prejudicadas, ao ponto de serem, por muito tempo, chamadas de povos 
a-históricos. Prins (1992 apud BURKE, 1992) apresenta que os historiadores 
vivem em sociedades alfabetizadas e, como muitos dos habitantes de tais 
sociedades, inconscientemente tendem a desprezar a palavra falada. Para eles, 
a palavra escrita é soberana, rebaixam a palavra falada como sendo meramente 
utilitarista e de fraco interesse, nem as nuanças e os tipos de dados orais são 
levados em conta.
Diehl (2002) alerta que a memória, como qualquer outra fonte 
histórica, sofre de uma fraqueza, que é o desgaste ao longo do tempo. 
À medida que estiver localizada mais distante do fato, da época, do 
contexto tomado como objeto de pesquisa, tanto mais desgastada 
ela estará. Ela sofre um processo natural de corrosão temporal, vai 
perdendo a força, a capacidade ilustrativa e explicativa de fornecer 
informações substantivas e concretas; ao ponto de restarem apenas 
rumores, ruídos, ruínas, murmúrios, vestígios e fragmentos.
Caro(a) acadêmico(a), uma vez ciente deste processo histórico a que a 
memória não escapa incólume, é que se justifi cam e fazem necessárias atividades 
Diehl (2002) alerta 
que a memória, como 
qualquer outra fonte 
histórica, sofre de 
uma fraqueza, que é 
o desgaste ao longo 
do tempo.
107
MEMÓRIA E HISTÓRIA ORAL: A PESQUISA, ASPECTOS 
METODOLÓGICOS E ÉTICOS Capítulo 4 
de rememoração, inventariamentos, registros escritos e digitais, sistematizações 
e socialização.
Tanto Thompson (1992) como Bosi (1994) reconhecem que recaí 
ao relato oral a percepção de que se trata de uma instância empírica 
fragmentada, desconexa, incoerente e ambígua. Nesse contexto, 
Tedesco (2001) defende que o pesquisador em memória e história oral 
precisa entender temporal e culturalmente tais fragmentos e dar-lhes 
coerência analítica e compreensiva. 
Bosi (1994) defende que o historiador necessita reconstruir os fragmentos 
como se estivesse com um vaso antigo despedaçado em suas mãos, fazendo 
esforço e tomando o cuidado hermenêutico, de zelo e fi delidade entre 
os fragmentos e o contexto a que ele pertenceu. 
Prins (1992 apud BURKE, 1992) explica que a história oral possui 
forte poder ilustrativo, permite uma evocação descritiva, comovente e 
que é historicamente libertadora; porém restringe-se à pequena escala, 
não é capaz de fornecer explicações explanatórias e abrangentes. 
Prins (1992 apud BURKE, 1992) nos chama a atenção para o fato 
de que atribuir uma visão muito confi ável às fontes escritas, sem suporte crítico, 
pode ser perigoso também. É necessário não perder de vista que as fontes 
documentais não são tão voluntárias e naturais como se costuma pensar, elas 
também sofrem de seleção à preservação. Muitas vezes, as seleções que os 
arquivos possuem podem ser oriundas de escolhas erradas e mal-intencionadas 
diante de determinadas ordens, que deliberam entre o que preservar e o que 
queimar.
Prins (1992 apud BURKE, 1992) levanta outro aspecto que advoga em 
suspeita às fontes documentais. Desta vez, reside no fato de que existe grande 
distância entre o texto original oral e o correspondente escrito tornado ofi cial; e 
que é comum a reelaboração conforme a conveniência do público interlocutor. Por 
outro lado, o autor defende que os problemasde má utilização de dados orais são 
mais fáceis de serem localizados e resolvidos.
Prins (1992 apud BURKE, 1992) discute, ainda, que se vive em um momento 
histórico em que ocorre o deslocamento para uma cultura pós-alfabetizada, que 
tende a ser globalizante, digital, eletrônica, visual e oral, em especial, com a 
popularização de aparelhos de comunicação móveis e aplicativos que favorecem 
a comunicação instantânea; o que, por sua vez, é responsável por colocar 
em apuros toda a tradição historiográfi ca que ainda se sustenta nas bases 
documentais. 
O pesquisador 
em memória e 
história oral precisa 
entender temporal 
e culturalmente 
tais fragmentos e 
dar-lhes coerência 
analítica e 
compreensiva.
A história oral 
possui forte poder 
ilustrativo, permite 
uma evocação 
descritiva, 
comovente e que 
é historicamente 
libertadora.
108
 Memória e História Oral
Caro(a) pós-graduando(a), quem sabe possa ser o momento estratégico 
para que a história oral galgue seu merecido prestígio!
Nora (1993) entende que a memória é e foi sempre suspeita à história, que 
a história possui como missão destruir e repelir a memória. Segundo o autor, a 
história é a deslegitimação do passado vivido. Postura que é responsável por 
inúmeros debates e polêmicas, tanto no campo da história como da memória. 
Pollak (1992) discute que se a memória é socialmente construída, 
é óbvio que toda documentação também o é. Para o autor, não existe 
diferença entre fonte escrita e fonte oral. A crítica da fonte, tal como 
todo historiador aprende a fazer, deve ser aplicada a fontes de todo 
tipo. Desse ponto de vista, a fonte oral é exatamente comparável à 
fonte escrita; dito em outros termos, ambas, a fonte escrita ou a fonte oral, podem 
ser tomadas tal e qual elas se apresentam.
Agora, é óbvio que a coleta de representações por meio 
da história oral, que é também história de vida, tornou-se 
claramente um instrumento privilegiado para abrir novos 
campos de pesquisa. Por outro lado, à multiplicação dos 
objetos que podem interessar à história, produzida pela 
história oral, implica indiretamente aquilo que eu chamaria de 
uma sensibilidade epistemológica específi ca, aguçada. Por 
isso mesmo acredito que a história oral nos obriga a levar 
ainda mais a sério a crítica das fontes. E na medida em que, 
através da história oral, a crítica das fontes torna-se imperiosa 
e aumenta a exigência técnica e metodológica, acredito que 
somos levados a perder, além da ingenuidade positivista, 
a ambição e as condições de possibilidade de uma história 
vista como ciência de síntese para todas as outras ciências 
humanas e sociais (POLLAK,1992, p. 205).
Pollak (1992) nos adverte que as partes mais construídas dizem respeito 
àquilo que é mais verdadeiro para uma pessoa, mas, ao mesmo tempo, apontam 
para aquilo que é mais falso, sobretudo quando a construção de determinada 
imagem não tem ligação ou está em franca ruptura com o passado real. O que 
mais nos deve interessar, numa entrevista, são as partes mais sólidas e as menos 
sólidas, pois no mais sólido e no menos sólido se encontra o que é mais fácil de 
identifi car como sendo verdadeiro, bem como aquilo que levanta problemas de 
interpretação.
Tedesco (2001) descreve que a transmissão da memória depende da maneira 
como uma cultura representa a linguagem; do modo como uma sociedade/
comunidade utiliza a linguagem como veículo de expressão e comunicação sem 
fi car totalmente dependente do contexto social imediato. 
A fonte escrita ou a 
fonte oral, podem ser 
tomadas tal e qual 
elas se apresentam.
109
MEMÓRIA E HISTÓRIA ORAL: A PESQUISA, ASPECTOS 
METODOLÓGICOS E ÉTICOS Capítulo 4 
Tedesco (2001, p. 32) analisa que a família é responsável por grande parte 
do processo de mediação da memória. Veja:
Nela cristaliza-me memórias afetivas e sociais; constrói-se 
personagens centrais, responsáveis por guardar a memória 
e transmiti-la no tempo. Há museus de família e há museus 
na família. Os avós reconstroem suas vidas, relembrando a 
trajetória familiar e estabelecendo, na lembrança, o espaço 
familiar, a representação da família e suas relações internas. Os 
avós, ao reconstruírem as suas histórias de vida, reconstroem 
também a história do modelo familiar, através de caminhos 
já marcados por lembranças suas e de seu grupo familiar. O 
sobrenome, por exemplo, não é apenas uma identifi cação 
pessoal que se esgota no indivíduo que o carrega; há imagens, 
há contatos com a história, com formas de comunicação 
temporal, integridades e persistências.
Alberti (1990) apresenta que história oral apenas pode ser empregada 
em pesquisas sobre temas contemporâneos, ocorridos em um passado não 
muito remoto, isto é, que a memória dos seres humanos alcance, para que 
se possa entrevistar pessoas que dele participaram, seja como atores, seja 
como testemunhas. É claro que, com o passar do tempo, as entrevistas assim 
produzidas poderão servir de fontes de consulta para pesquisas sobre temas não 
contemporâneos.
Prins (1992 apud BURKE, 1992, p. 198) descreve que:
Alguns historiadores acham que seu ofício é descrever e, 
talvez, explicar por que as coisas ocorreram no 
passado. Esta é uma justifi cativa necessária, mas 
não sufi ciente. Há dois componentes essenciais 
da tarefa do historiador. A continuidade deve ser 
explicada. A continuidade histórica, especialmente 
nas culturas orais, requer mais atenção do 
que mudança. A tradição é um processo - vive 
apenas enquanto é continuidade reproduzida. 
É efervescentemente vital em sua aparente 
quietude. Em segundo lugar, a tarefa do historiador 
é proporcionar ao leitor confi ança em sua 
competência metodológica. 
Tedesco (2001) discute que a esfera da memória e dos 
depoimentos orais, genealógicos e biográfi cos pode contribuir ao 
campo de análise em história, ligando temporalidades, entrecruzando-
as, revelando dimensões do real que permaneciam opacas e pouco 
visíveis, resgatando e dando voz ativa a atores sociais que haviam sido 
silenciados.
Tedesco (2001) 
discute que a esfera 
da memória e dos 
depoimentos orais, 
genealógicos e 
biográfi cos pode 
contribuir ao campo 
de análise em 
história, ligando 
temporalidades, 
entrecruzando-
as, revelando 
dimensões do real 
que permaneciam 
opacas e pouco 
visíveis, resgatando 
e dando voz ativa 
a atores sociais 
que haviam sido 
silenciados.
110
 Memória e História Oral
Os chamados “novos temas e fontes” são novos no olhar do pesquisador, 
que, agora, conta com outra percepção ao revolver o passado, mas que estes 
temas sempre estiveram no passado e o que não estava desperto e atento era 
este olhar e consciência para com os outros sujeitos, objetos, problemas e fontes. 
Trata-se de um campo de análise que possibilita amplamente o diálogo 
interdisciplinar em termos de áreas do conhecimento, tais como a história, 
antropologia, sociologia, paleontologia, psicologia, linguística, e os temas 
transversais, como a história política, geopolítica, cultura, tradição e modernidade 
novo/antigo, cidadania e direitos humanos.
História oral acaba por reunir e conciliar elementos da mitologia, da 
genealogia e da narrativa histórica. Com o pós-guerra mundial e com o movimento 
de renovação do conhecimento histórico nos anos de 1960, com a Nova História, 
História das Mentalidades, História Local, História da Vida Privada, História das 
Mulheres, entre outros, as fontes orais passam a ser valorizadas. 
No Brasil, a história oral passou a ser utilizada nos centros de pesquisas e 
documentação a partir dos anos de 1980, um tanto em defasagem se comparada 
a outros países que, desde os anos de 1960, vinham empregando-a na produção 
do conhecimento histórico da época contemporânea. Isso se deve ao 
fato de que o Brasil (1964-1985) e alguns países da América Latina 
viveram experiências de regimes políticos de ditadura militar, o que, 
por sua vez, impedia o amplo acesso às fontes e às discussões que 
envolvessema conjuntura política do momento.
As atividades de registro de memórias e testemunhos de forma 
oral consistem em operações intelectuais que exigem disponibilidade 
dos depoentes. Métodos, equipamentos de captação, atividade de 
transcrição, ordenação, sistematização, crítica e refl exão por parte do 
pesquisador. 
Nesse ponto, já ocorre o seguinte questionamento: conforme 
se avança no inventariamento, na captação e nos registros dos resquícios da 
memória e da história oral, que, conforme se adentra ao campo da história, não 
estaria sendo perdido o que é genuíno e específi co do campo da memória e da 
oralidade, o que é a imaterialidade, o intangível?!.
Caro(a) pós-graduando(a), mas quem sabe deixemos estas questões para 
um momento futuro, quando da continuidade de seus estudos, em nível de 
mestrado, pois o debate avança para o campo epistemológico do conhecimento 
e requer ampliação, aprofundamentos e cuidados teóricos nos estudos. Agora 
As atividades de 
registro de memórias 
e testemunhos de 
forma oral consistem 
em operações 
intelectuais 
que exigem 
disponibilidade dos 
depoentes. Métodos, 
equipamentos de 
captação, atividade 
de transcrição, 
ordenação, 
sistematização, crítica 
e refl exão por parte 
do pesquisador. 
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MEMÓRIA E HISTÓRIA ORAL: A PESQUISA, ASPECTOS 
METODOLÓGICOS E ÉTICOS Capítulo 4 
vamos avançar no que diz respeito ao campo da pesquisa em memória e história 
oral propriamente dito!
Mas antes disso, gostaria de fazer uma pequena intervenção sobre um fato/
fenômeno admirável na história da humanidade, prossiga na leitura abaixo: 
No sentido de purgar a experiência histórica e de contemplar a causa 
das vítimas do holocausto praticado em meio aos campos de concentração da 
Alemanha nazista da segunda guerra mundial, foi criado um dia em memória ao 
holocausto, que é o 04 de maio:
Figura 11 - Dia 04 de maio: Dia em memória ao holocausto
Fonte: Disponível em: <https://goo.gl/bpdNr3>. Acesso em: 09 maio 2016.
Os sobreviventes do holocausto, os descendentes ou a comunidade judaica 
não saíram às ruas a procura de vingança ou revanche diante da tragédia de que 
haviam sido vítimas. A postura daqueles indivíduos foi a do perdão e da disposição 
voluntária em servir como testemunho sobre o que lhes havia ocorrido.
 
No Brasil, ao longo do século XX, conta-se com diversos momentos em que 
a expressão da opinião pública e a postura de oposição ao regime político não 
era tolerada, em especial, ao longo do regime de ditadura militar (1964-1985). 
No sentido de investigar, apurar e julgar os crimes cometidos contra os direitos 
humanos é criada a Comissão Nacional da Verdade, observe a seguir:
112
 Memória e História Oral
COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE/CNV
A Comissão Nacional da Verdade/CNV foi criada pela Lei 
n. 12.528/2011 e instituída em 16 de maio de 2012. Sua principal 
fi nalidade é apurar graves violações de Direitos Humanos ocorridas 
entre 18 de setembro de 1946 e 5 de outubro de 1988. 
Maiores informações sobre as atividades da CNV encontram-se 
disponíveis em: <http://www.cnv.gov.br/>.
Atividade de Estudos:
1) Existe, em sua comunidade, cidade ou região datas, atos, festas 
e eventos que são organizados e comemorados em alusão 
ou em memória a alguma pessoa, algum fato e/ou fenômeno 
socialmente reconhecido? Quais?
 ____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
Caro(a) pós-graduando(a), neste momento, quem sabe deixemos um pouco 
em segundo plano os conteúdos teóricos e conceituais que tratam desde a 
conceituação até a problematização dos usos da memória em nossa época, e nos 
dediquemos a estudar e a compreender as orientações e as recomendações que 
são feitas ao campo da pesquisa propriamente dito. Sedo assim, prossiga nos 
estudos com atenção redobrada!
113
MEMÓRIA E HISTÓRIA ORAL: A PESQUISA, ASPECTOS 
METODOLÓGICOS E ÉTICOS Capítulo 4 
PREPARANDO O CAMPO DE PESQUISA
Caro(a) pós-graduando(a), a captação de entrevistas orais não 
pode ser compreendida como um ato simples de registro de dados, 
gratuito e natural, em que os dados e as informações encontram-se 
latentes à espera de serem gravados e registrados; o fazer histórico 
em memória e história oral reside em captar as nuances, as sutilezas, 
os ditos e não ditos, as oscilações, as entonações, os silêncios, os 
trejeitos faciais, os traquejos da fala, os signifi cados, as implicações, os 
interesses e julgamentos presentes nos discursos.
Thompson (1992) apresenta que o trabalho de campo, para ser 
bem-sucedido, exige habilidades humanas e sociais ao trabalhar 
com os informantes, tanto quanto conhecimento profi ssional. Toda a 
comunidade carrega dentro de si uma história multifacetada de trabalho, 
de vida familiar e relações sociais à espera de alguém que a traga para 
fora. 
Segundo Santos (2000), uma vez que nos dedicamos aos estudos e 
pesquisas em memória e história oral, temos a oportunidade de perceber como os 
discursos históricos e historiográfi cos são produzidos, em especial, perceber que 
a história está presente em todos os lugares, em todos os momentos. De que o 
lugar, o local seja quando, qual e onde for, encontra-se historicamente inserido em 
espaços e contextos mais amplos, que se encontra profundamente enredado em 
condições econômicas, políticas, sociais e culturais vividas no dia a dia por seus 
habitantes, seja no município, seja no país, seja no mundo.
[...] as entrevistas como formas capazes de fazer com que os 
estudos de história local escapem das falhas dos documentos, 
uma vez que a fonte oral é capaz de ampliar a compreensão 
do contexto, de revelar os silêncios e as omissões da 
documentação escrita, de produzir outras evidências, captar, 
registrar e preservar a memória viva (SAMUEL, 1989, p. 233).
Halbwachs (1990) explica que a necessidade de escrever a história de uma 
pessoa desperta somente quando os interessados estão muito distantes no 
passado, como se houvesse a oportunidade de encontrar testemunhas que dela 
conservem alguma lembrança. 
Félix e Grijó (1999) analisam que lidar com a história oral é uma atividade 
ao mesmo tempo agradável e tensa, pois remonta-se, reconta-se toda uma 
vida e este desnudar-se profi ssional, familiar e pessoal diante do outro, envolve 
sensibilidades pessoais e alheias. Lida-se com bons e desagradáveis momentos, 
com traições, desilusões, pressões, culpas, ressentimentos, marcas, feridas, 
O fazer histórico em 
memória e história 
oral reside em 
captar as nuances, 
as sutilezas, os 
ditos e não ditos, 
as oscilações, 
as entonações, 
os silêncios, os 
trejeitos faciais, os 
traquejos da fala, 
os signifi cados, 
as implicações, 
os interesses 
e julgamentos 
presentes nos 
discursos.
114
 Memória e História Oral
cicatrizes e perigos. Sendo assim, ao trabalharmos com memórias e fontes orais 
também nos tornamos cúmplices da emoção e da comoção que o entrevistado 
reviverá.
As atividades do lembrar são muito mais um exercício do e no presente do 
que um exercício de trazer/deslocar para o presente fatos já vividos. Rememorar 
não é o mesmo que viver novamente o passado, depende da leitura do sujeito 
que a produz, em uma sociedade, um contexto e um momento que se diferencia 
daquele a qual se refere à lembrança do fato ocorrido.
Certeau (1994) argumenta que a memória produz, num lugar que 
não lhe é próprio, e procura tornar mais inteligível a teoria, utilizando-se 
da metáfora e analogia. A memória é como os pássaros que põem ovos 
no ninho de outras espécies. 
Vansina (2010 apud KI-ZERBO, 2010) explica que a tradição oral é o 
testemunho oral transmitido verbalmente de uma geração para a seguinte, ou 
mais; e adverte que se torna cada vez menos pronunciada, à medida que a cultura 
se move paraa generalização da alfabetização.
Prins (1992 apud BURKE, 1992) descreve que outro tipo de fonte oral reside 
na reminiscência, que consiste na evidência oral específi ca das experiências de 
vida do informante, tais como os traumas e as sequelas que permanecem depois 
da ocorrência de uma determinada experiência e vivência. Em termos de memória 
e história oral, diz respeito à dimensão das reminiscências que são reconhecidas 
como responsáveis por proporcionar a evocação de memórias e recordações, 
ou seja, tornar possível trazer ao momento presente as experiências e vivências 
passadas, imbuídas de emoção e comoção. 
Imaginamos que você deve estar se perguntando: O que são reminiscências? 
Bem, em seguida, vamos tratar de discutir esta questão, mas fi que atento, trata-
se de um elemento que requer atenção e cuidado delicado, prossiga na leitura!
Em se tratando de reminiscências no campo da memória e história oral, 
pode-se considerar a situação, por exemplo, de quando o barulho de disparos 
de metralhadoras ou de sobrevoo de aviões são responsáveis por sensibilizar 
a memória e as lembranças de um ex-combatente de guerra; assim como um 
determinado cheiro pode sensibilizar as reminiscências dos tempos de infância de 
um indivíduo; determinada música, os momentos de tortura que foram vividos em 
meio à ditadura militar, causando forte comoção dos sentidos e precipitação das 
emoções.
As reminiscências pessoais podem proporcionar inúmeros elementos da 
riqueza de detalhes que não estão registrados nos materiais escritos; podem dar 
A memória é como os 
pássaros que põem 
ovos no ninho de 
outras espécies.
115
MEMÓRIA E HISTÓRIA ORAL: A PESQUISA, ASPECTOS 
METODOLÓGICOS E ÉTICOS Capítulo 4 
conta do que Geertz (1989) chamou de “descrição densa”, ou seja, informações 
que possuem profundidade, contornos e nuances substanciais, ímpares e 
excepcionais. 
Prins (1992 apud BURKE, 1992) descreve que a reminiscência pessoal 
permite ao historiador extrair elementos e evidências para estudar a variação de 
escalas e problemas na história contemporânea, no sentido de que os dados orais 
servem para conformar outras fontes, assim como as outras fontes servem para 
confi rmá-las, proporcionando detalhes insignifi cantes que, de outra forma, são 
inacessíveis e, por isso, estimular a reanalisar outros dados de maneiras novas.
ALGUNS CAMINHOS METODOLOGICOS
Caro(a) pós-graduando(a), em termos de estratégias metodológicas 
de enquadramento de memória e história oral, serão apresentadas duas 
possibilidades, ou seja, a entrevista individual e em grupo focal. Prossiga na 
leitura de seu caderno de estudos porque cada estratégia será aprofundada e 
explicada a seguir.
Independente da forma de enquadramento e captação, entrevista individual 
ou grupo focal, o objetivo ou o problema de pesquisa/entrevista deve previamente 
estar bem claro, objetivo e sistematizado. Sendo assim, neste momento, procura-
se apresentar dois principais caminhos no sentido de realizar entrevistas, seguidas 
de registros de áudio e vídeo. 
Entretanto, existem alguns procedimentos e cuidados que devem ser 
tomados, independente da forma de enquadramento em que será realizada a 
entrevista. Observe as considerações abaixo:
• Escolha dos entrevistados:
 Na escolha do entrevistado, devem ser levados em consideração 
aspectos, tais como o grau de envolvimento e participação que teve com o tema e 
problemática da pesquisa;
 Preze por entrevistar indivíduos que possuem informações que 
ultrapassam os trabalhos já existentes, bem como possuam algum ponto de vista 
ou perspectiva que seja inédita ou excepcional sobre o tema em questão;
 Considere, também, pessoas que são referência e que ocupam cargos 
de liderança em uma determinada região, cidade, bairro, comunidade na qual 
ocorreram acontecimentos e fenômenos, estas podem fornecer elementos que 
116
 Memória e História Oral
foram colhidos em meio aos mais diversos indivíduos, bem como estiveram 
acompanhando as repercussões que o ocorrido provocou;
 O entrevistado precisa expressar a vontade e a disposição em prestar o 
testemunho e que este fato não cause constrangimentos ou que o exponha de 
forma indiscriminada, apelativa e sensacionalista, tanto em termos de conteúdo 
como de imagem.
Thompson (1992) adverte para que se evite a imposição de entrevista a 
quem não esteja e não se sinta disposto para tal, por mais relevante e excepcional 
que seja o que esta pessoa possa testemunhar. É de fundamental importância 
que ocorra a elaboração prévia de uma pauta que oriente e conduza a entrevista, 
e que contemple perguntas historicamente relevantes. Por outro lado, deve-se 
evitar o ato de gravar apenas depoimentos seguros e bem articulados. 
Para tanto, observe as sugestões que são feitas para os roteiros 
semiestruturados:
• Roteiro semiestruturado:
 Organizar um roteiro mínimo de perguntas que subsidiem e articulem a 
aproximação e o fechamento do tema em questão;
 O roteiro deve ser disponibilizado ao entrevistado ou aos entrevistados 
com uma média de 15 dias de antecedência à data da entrevista;
 Podem ser feitas perguntas como da fi liação, do nascimento, da cidade 
natal, cidades em que viveu, sobre as experiências de trabalho, da escolaridade 
e da tradição religiosa, da fi liação partidária, do exercício de cargos de liderança/
destaque na comunidade, da relação direta e indireta com o fato/acontecimento 
em questão, da relação e da percepção do fato com o transcorrer do tempo;
 A mudança de pergunta ou de tópico deve ocorrer conforme cada item 
anterior for sufi cientemente respondido e esgotado.
Caro(a) pós-graduando(a), observe abaixo que se procura apresentar um 
modelo de roteiro semiestruturado que pode ser feito no momento da entrevista 
de trabalhador de sapataria, e, é claro, que alcance os problemas e as questões 
de pesquisa propriamente ditas.
117
MEMÓRIA E HISTÓRIA ORAL: A PESQUISA, ASPECTOS 
METODOLÓGICOS E ÉTICOS Capítulo 4 
Quadro 1 - Roteiro de entrevista oral
Fonte: A autora.
O roteiro abaixo é orientador para as principais perguntas que podem ser 
feitas na hipótese de um entrevistado que seja de alguma profi ssão que não é 
mais realizada e ou que se encontra em baixa atividade na atualidade, tais como: 
sapateiros, alfaiates, parteiras, costureiras, ferreiros, relojoeiros, engraxates, 
cobradores de ônibus, telefonistas, ourives, datilógrafos, vendedores ambulantes 
e artesãos em geral. Cada pergunta deve ser compreendida no campo amplo de 
interpretação que suscitam.
Atividades de Estudos:
1) Descreva aqui quais são as pessoas da sua comunidade, cidade 
e região que são fontes potenciais a estudos de memória e 
história oral.
1. Nome completo: 
2. Naturalidade:
3. Data de nascimento:
4. Nome dos pais:
5. Escolaridade:
6. Trajetória profi ssional:
7. Quando e como iniciou as atividades na profi ssão?
8. O que fez com que optasse pela profi ssão?
9. Mais alguém na família atuava, atuou ou atua neste ramo?
10. Quais eram as principais matérias-primas e ferramentas utilizadas?
11. Quem eram seus clientes? Como chegavam até você?
12. Alguém mais participava e lhe ajudava no trabalho?
13. Que modelos e estilos eram mais procurados?
14. Que mudanças e permanências foram ocorrendo com o passar do tempo?
15. Que importância e signifi cado econômico, político, social e cultural você reconhece para o 
exercício desta profi ssão?
16. Que benefícios e que difi culdades encontrou exercendo esta profi ssão?
17. Ocorreu-lhe algum trauma, acidente ou doença decorrente da atividade profi ssional?
18. Quais os fatos curiosos, vivenciados por você ao longo de sua experiência?
Agradecimentos e encerramento.
118
 Memória e História Oral
NOME PROFISSÃO, FUNÇÃO, FATO OU FENÔMENO ENDEREÇO DE CONTATO
2) Elabore um roteiro de entrevista oral que se destine a uma antiga 
parteira.
ROTEIRO DE ENTREVISTA ORAL PARA PARTEIRA
119
MEMÓRIA E HISTÓRIA ORAL: A PESQUISA, ASPECTOSMETODOLÓGICOS E ÉTICOS Capítulo 4 
Caro(a) pós-graduando(a), até aqui procuramos apresentar e discutir no que 
consiste e como se procede quando se opta pela metodologia de entrevista oral 
individual. A seguir, procura-se apresentar elementos sobre a tomada de entrevista 
de forma coletiva. 
Prossiga seus estudos e atente para as possibilidades que esta forma de 
pesquisa pode proporcionar. 
GRUPOS FOCAIS COMO FORMA DE 
PESQUISA
“O sentido é uma construção social, um empreendimento coletivo, mais precisamente 
interativo, por meio do qual as pessoas – na dinâmica das relações sociais 
historicamente datadas e culturalmente localizadas – constroem os termos a partir 
dos quais compreendem e lidam com as situações e fenômenos à sua volta”. 
Spink e Medrado
Como o próprio nome da estratégia já indica, tratam-se de temas, conteúdos 
centrais, em foco, em torno dos quais os participantes irão expor as experiências, 
vivências, sentimentos, interpretações e percepções que possuem. Podem ser 
utilizadas para compreender o processo de construção da percepção, valores 
morais e representações sociais. As entrevistas focais favorecem uma grande 
quantidade de interações sobre um determinado tema. 
Trata-se da tomada de depoimentos e testemunhos em um grupo, ou seja, 
na dimensão coletiva. Consiste numa estratégia em que o pesquisador lança um 
tópico ou tema em específi co a um grupo de indivíduos e coleta os dados por 
meio das interações e dos relatos que estes manifestam em meio ao grupo e em 
um determinado tempo de conversa.
Logo, a opinião e o pensamento unilateral, bem claro e objetivo, 
não é favorável, ganha-se quando se promove ampla participação e 
interação dos participantes, quando se evidenciam os mais variados 
pontos de vistas e nuances diante de uma mesma experiência. Nesse 
caso, o entrevistador ocupa uma posição intermediária, de mediação 
entre a observação participante e a pesquisa aprofundada, estruturada 
por tópicos e questões geradoras. 
A tomada de entrevistas por meio de grupos focais vem sendo 
utilizada desde o fi m da Segunda Guerra Mundial. Veiga e Gondim 
(2001) apresentam que foram utilizados grupos focais durante a 
Segunda Guerra Mundial para examinar os efeitos de alcance e nível de persuasão 
O entrevistador 
ocupa uma posição 
intermediária, de 
mediação entre 
a observação 
participante 
e a pesquisa 
aprofundada, 
estruturada por 
tópicos e questões 
geradoras.
120
 Memória e História Oral
da propaganda política e para avaliar a efi cácia do material de treinamento de 
tropas, bem como identifi car os fatores que afetavam a produtividade nos grupos 
de trabalho. 
A partir de 1980, os grupos focais passaram a ser empregados para entender 
e avaliar a interpretação da audiência em relação às mensagens da mídia. Mais 
recentemente, a técnica tem sido utilizada pelas áreas do marketing, publicidade 
e propaganda, psicologia e saúde pública, almejando verifi cação de satisfação do 
consumidor ou de intervenção e tomada de decisão diante de questões e projetos 
que atingem grupos ou comunidades de indivíduos. 
Nesta modalidade de entrevistas, o entrevistador assume o papel 
de facilitador de diálogos e dos processos de discussão diante de um 
grupo que compartilha uma mesma experiência, portanto, sugere-se 
que esta técnica seja conduzida por mais de um pesquisador, para que 
estes aspectos sejam melhor observados e acompanhados.
Segundo Gui (2003, p. 140), “o principal interesse é que seja 
recriado, um contexto, ou ambiente social, onde um indivíduo pode 
interagir com os demais, defendendo, revendo e ratifi cando suas próprias opiniões 
e infl uenciando as opiniões dos demais”.
No transcorrer da entrevista, o facilitador precisa estar sensivelmente atento 
para aspectos, tais como:
• Moderar a postura hegemônica e dominadora de determinados 
participantes; zelar pela participação proporcional, democrática e respeitosa;
• Mediar situações como a de abrir mão do controle e se afastar do 
tema central ou restringir-se à entrevista, tendo em vista evitar o bloqueio da 
espontaneidade e a fl uidez da discussão;
• Apresentar tato e percepção para quando o assunto tender a se esgotar e 
chegar em pontos ameaçadores e delicados.
Um ponto de difi culdade que se apresenta às tomadas de entrevista por meio 
de grupo focal reside na conciliação de datas e horários em que os participantes 
estejam disponíveis. É importante, também, que se priorize a participação de 
pessoas estranhas ou que não possuam vínculos ou relações de convívio muito 
próximas entre elas. É prudente que o número de participantes não exceda a 12 
pessoas.
O entrevistador 
assume o papel de 
facilitador de diálogos 
e dos processos de 
discussão diante 
de um grupo que 
compartilha uma 
mesma experiência.
121
MEMÓRIA E HISTÓRIA ORAL: A PESQUISA, ASPECTOS 
METODOLÓGICOS E ÉTICOS Capítulo 4 
Para estruturar a atividade de pesquisa focal, é importante que pelo menos 
existam quatro pessoas envolvidas, um moderador principal, um co-moderador, 
um responsável pelos equipamentos de gravação e outro responsável pelo 
controle do tempo.
No que tange aos temas de memória e história oral, o 
direcionamento que a pesquisa por meio da estratégia de grupo focal 
deve priorizar são as vivências diante de fatos, acontecimentos e/ou 
processos históricos. A análise deve alcançar tanto a participação do 
indivíduo no grupo como o teor das opiniões em concordância e em 
divergência diante do tema.
A análise deve seguir a preocupação das impressões manifestas 
no coletivo, atentando para as formas de comunicação e linguagem do grupo, 
as preferências compartilhadas, questões emergentes e latentes, os impactos e 
efeitos que o tema em questão exerceu e exerce sobre os indivíduos participantes. 
Caro(a) pós-graduando(a), abaixo procura-se apresentar um modelo de 
roteiro de entrevista focal, almejando assegurar que alguns tópicos sejam 
minimamente discutidos. O roteiro foi pensado a partir da hipótese de entrevista 
focal com indivíduos que são devotos de alguma personalidade religiosa 
reconhecida em sua região. Observe com atenção:
A análise deve 
alcançar tanto 
a participação 
do indivíduo no 
grupo como o teor 
das opiniões em 
concordância e em 
divergência diante 
do tema.
Quadro 2 - Roteiro de entrevista oral
1. Apresentação dos participantes (nome, naturalidade, atividades na comunidade e confi ssão 
religiosa):
2. Que relação possuem ou possuíam com o(a) religioso(a)?
3. O que sabem sobre a vida pessoal, familiar e pública do(a) religioso(a)?
4. Ocorreu algum fato e fenômeno atípico ou curioso na vida do(a) religioso(a)?
5. Quais são os principais feitos ou poderes que são atribuídos ao religioso(a)?
6. Quando os feitos e poderes se intensifi caram?
7. Como souberam dos feitos e/ou dos poderes espirituais do(a) religioso(a)?
8. Qual era o envolvimento/engajamento político, econômico, social e cultural do(a) religioso(a) 
na comunidade? 
9. Se se encontra falecido(a), como veio a falecer?
10. Quais são os motivos e causas que levam as pessoas a procurar pelo(a) religioso(a)?
11. O local onde ele/ela se encontra é apropriado para atender aos que o/a procuram?
12. O que é mais correto que seja feito no e com o local onde o religioso(a) se encontra?
Agradecimentos e encerramento.
Fonte: A autora.
122
 Memória e História Oral
Atividade de Estudos:
1) Elabore um roteiro de entrevista focal que se destina a indivíduos 
que presenciaram um evento de incêndio de um antigo cinema ou 
teatro.
ROTEIRO DE ENTREVISTA FOCAL
Um dos desafi os que recai ao facilitador da entrevista em 
grupo é o de favorecer uma atmosfera/clima natural de acolhimento, 
humanização, contribuição, partilha e solidariedade de memórias e 
lembranças, mostrando que todas as experiências são relevantes e 
importantes no todo e na teia de informações que compõem.
Gui (2003) ressalta que se deve estar atento às fragilidades e 
desvantagensque acompanham a tomada de entrevistas por meio de 
grupo focal, como, por exemplo, o fato de o entrevistador criar e dirigir 
o roteiro de fala, o que, por sua vez, implica a perda da espontaneidade 
das manifestações dos indivíduos entrevistados; assim como o fato de 
que um indivíduo, na presença de outras pessoas que compartilham 
da mesma experiência, pode melindrar-se, retrair-se, e que isso afeta 
o que e como ela se expressaria se perguntada de modo individual e 
particular.
Um dos desafi os que 
recai ao facilitador da 
entrevista em grupo 
é o de favorecer 
uma atmosfera/
clima natural de 
acolhimento, 
humanização, 
contribuição, partilha 
e solidariedade 
de memórias 
e lembranças, 
mostrando que todas 
as experiências 
são relevantes e 
importantes no 
todo e na teia de 
informações que 
compõem.
123
MEMÓRIA E HISTÓRIA ORAL: A PESQUISA, ASPECTOS 
METODOLÓGICOS E ÉTICOS Capítulo 4 
Caro(a) pós-graduando(a), estando ciente de tais aspectos fi ca mais fácil 
superá-los quando ocorrerem no campo de pesquisa. Agora iremos discutir 
cuidados e tratamentos éticos que são cabíveis à prática de pesquisa em memória 
e entrevista oral. Prossiga na leitura de forma atenta!
QUESTÕES ÉTICAS NA PESQUISA EM 
MEMÓRIA E HISTÓRIA ORAL
A metodologia da história oral privilegia a realização e gravação de 
entrevistas que podem ser tomadas de modo individual ou em grupos de 
mais pessoas. O entrevistador deve organizar-se no sentido de seguir 
um protocolo mínimo, que norteia a entrevista como um todo. É prudente 
que a entrevista seja semiestruturada para orientar antecipadamente o 
entrevistado, assim como sirva de guia aos entrevistadores. 
A estruturação das perguntas deve iniciar por aspectos biográfi cos 
(fi liação, nascimento, cidade natal, cidades em que viveu, experiências de 
trabalho, escolaridade, tradição religiosa, entre outros) para, depois, avançar para 
informações de vivências com fatos e fenômenos históricos. O roteiro deve ser 
entregue ao participante, no caso da entrevista individual, e aos participantes, 
no caso de grupo focal, com um tempo de pelo menos duas semanas de 
antecedência.
Procure contatar os entrevistados anteriormente para inteirá-los da 
pesquisa e estudo que está sendo proposto; justifi que a importância/relevância 
da participação para o estudo e procure convidá-los de modo espontâneo a 
participar. Neste momento, é importante apresentar, em duas vias, o Termo de 
Esclarecimento e Livre Consentimento/TELC, seguido de explicações que o 
entrevistado possa solicitar e, por fi m, reunir as devidas assinaturas.
O entrevistador 
deve organizar-
se no sentido de 
seguir um protocolo 
mínimo, que norteia 
a entrevista como 
um todo.
124
 Memória e História Oral
Quadro 3 - Termo de esclarecimento e livre consentimento
Você está sendo convidado a participar da pesquisa e estudos intitulados __________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
_____________________ cujos objetivos são identifi car aspectos da história, memória e cultura 
local e regional transcorridos na época de ____________________________________________
______________________________________________________________________________
_________________________________ A sua participação no referido estudo se dará por meio 
de entrevista oral gravada e fi lmada a partir de um roteiro de questões semiestruturadas. Essa 
pesquisa tem como objetivos _______________________________________________________
______________________________________________________________________________
_______________________________ e tende a gerar benefícios ao conhecimento histórico, tais 
como __________________________________________________________________________
________________________________________________________________ e à localidade, co-
munidade e região ________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
_____________________ A pesquisa será realizada somente a partir da leitura, da concordância e 
de sua autorização, obtida por meio da assinatura deste termo. Por outro lado, você não será sub-
metido a qualquer tipo de pressão e assédio, a entrevista será a partir da realização de convite de 
participação voluntária, considerando a possibilidade da aceitação ou não diante desta e você será 
tratado com todo respeito, dignidade e ética cabíveis. 
Depois de gravada e transcrita, a entrevista será entregue para você revisar e autorizar o conteú-
do descrito. Você também pode se recusar a participar do estudo, ou retirar seu consentimento 
a qualquer momento, bem como optar por sair da pesquisa sem precisar justifi car e não sofrerá 
qualquer prejuízo por isso. 
O pesquisador responsável pelo estudo é _____________________________________________
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
____________________ , que atua na instituição ______________________________________
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
__________________________________________ localizada no endereço _________________
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________ 
É-lhe assegurada a assistência durante a realização da pesquisa, bem como são garantidos o sigilo 
e o livre acesso a todas as informações e esclarecimentos sobre o estudo, enfi m, tudo o que você 
queira saber antes, durante e depois da sua participação na pesquisa. 
Você não receberá e nem pagará nenhum valor econômico para participar do estudo. No entanto, 
caso ocorra algum dano decorrente da sua participação no estudo, será devidamente indenizado, 
conforme prevê e determina a lei. 
O Termo de Esclarecimento e Livre Consentimento se encontrará impresso e assinado em duas vias. 
Uma fi cará em sua posse, outra de posse do responsável pela pesquisa ou por seu representante 
legal, que providenciará o devido arquivamento.
Eu ______________________________________________________________concordo voluntar-
iamente em participar da pesquisa/estudo _____________________________________________
______________________________________________________________________________, 
125
MEMÓRIA E HISTÓRIA ORAL: A PESQUISA, ASPECTOS 
METODOLÓGICOS E ÉTICOS Capítulo 4 
conforme informações contidas neste TELC, que está impresso em duas vias, fi cando uma com o 
participante do estudo e a outra com o pesquisador.
Cidade, ____ de __________ de 20__. 
________________________ _________________________
 Participante Responsável pela pesquisa
Fonte: A autora. 
No momento de agendar as entrevistas propriamente ditas, 
atente para datas e horários que favoreçam de forma mais confortável 
o entrevistado, respeitando os horários de rotina alimentar, saídas e 
deslocamentos, compromissos médicos, sociais e de trabalho que o 
entrevistado possa ter.
No caso de entrevistas orais individuais, é prudente que não se 
estendam muito além de uma hora, e, em caso de grupos focais, que 
não ultrapassem duas horas. 
Procure solicitar o acompanhamento e a presença de algum outro 
familiar do entrevistado no momento da atividade, especialmente, 
quando se tratar de pessoas com idade avançada ou que demandem 
cuidados.
É importante que seja dado início aos trabalhos com cumprimentos 
e agradecimentos a todos. Apresentando os objetivos da entrevista, o 
pesquisador deve ressaltar a importância da fi delidade e verdade às experiências, 
de que os participantespodem interromper o processo de entrevista a qualquer 
momento e que não serão lesados por isso, de que estes terão livre acesso ao 
registros feitos, assim como aos resultados da pesquisa, e, por fi m, da explicação 
de como vai se dar o funcionamento da entrevista.
A entrevista individual pode ser realizada tranquilamente na casa do 
entrevistado ou outro local que seja de preferência deste; já a entrevista de grupo 
focal é importante que ocorra em um espaço da comunidade, de fácil acesso e 
que proporcione acomodação confortável, que não seja de muita circulação 
de pessoas externas, bem como possua ambientação acústica que impeça a 
interferência de ruídos e barulhos que desviem a atenção dos participantes ou 
que comprometam a captação do áudio.
No momento 
de agendar 
as entrevistas 
propriamente ditas, 
atente para datas 
e horários que 
favoreçam de forma 
mais confortável 
o entrevistado, 
respeitando os 
horários de rotina 
alimentar, saídas 
e deslocamentos, 
compromissos 
médicos, sociais e 
de trabalho que o 
entrevistado possa 
ter.
126
 Memória e História Oral
Caro(a) pós-graduando(a), quando estiver em meio a uma entrevista 
e observar que o entrevistado começar a silenciar, calar-se, comover-se e 
emocionar-se, consulte-o se gostaria de interromper, dar uma pausa, ou até 
retomar em outro momento e outro dia. Isso é uma atitude de um profi ssional 
que se comporta de forma responsável e que revela resguardo à dignidade e à 
segurança emocional do entrevistado.
Os registros podem ser feitos por áudio e vídeo ou somente áudio, 
dependendo de como você, como coordenador e pesquisador responsável, dispor 
dos equipamentos e como pretende conduzir a atividade de estudo no momento 
posterior à entrevista.
A entrevista deve ser realizada somente a partir da leitura, concordância e 
autorização obtida por meio da assinatura do Termo de Esclarecimento e Livre 
Consentimento/TELC, conforme modelo anterior, seguido da entrega e assinatura 
da Autorização de Uso de Imagem, Som de Voz e Nome que segue. Veja:
127
MEMÓRIA E HISTÓRIA ORAL: A PESQUISA, ASPECTOS 
METODOLÓGICOS E ÉTICOS Capítulo 4 
Eu, abaixo assinado e identifi cado, autorizo o uso de minha imagem, som da minha voz e nome 
por mim apresentados na entrevista concedida, além de todo e qualquer material entre fotos e 
documentos por mim apresentados, para compor as fontes e material de pesquisa do projeto deno-
minado ________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
____________________________________________ E que estas sejam destinadas à divulgação 
ao público em geral e/ou à composição de base de dados e acervo histórico.
 A presente autorização abrange os usos acima indicados, tanto em mídia impressa (livros, catá-
logos, revista, jornal, entre outros) como em mídia eletrônica (programas de rádio, vídeos e fi lmes 
para televisão aberta e/ou fechada, documentários para cinema ou televisão, entre outros), inter-
net, banco de dados informatizado multimídia, “home vídeo”, DVD (digital video disc), suportes de 
computação gráfi ca em geral e/ou divulgação científi ca de pesquisas e relatórios para arquivamen-
to e formação de acervo sem qualquer ônus a __________________________________________
_______________________________________________________________________________
__________________________________ responsável pelo projeto acima referido, ou terceiros por 
esse expressamente autorizados, que poderão utilizá-los em todo e qualquer projeto e/ou obra de 
natureza sociocultural voltada à preservação da memória, em todo território nacional e no exterior.
Por esta ser a expressão da minha vontade, declaro que autorizo o uso acima descrito sem que 
nada haja a ser reclamado a título de direitos conexos a minha imagem, som de voz ou a qualquer 
outro e abaixo assino a presente autorização.
Cidade, ____ de __________ de 20__.
___________________________________________
Assinatura
Nome:
Endereço:
Cidade:
RG Nº:
CPF Nº:
Telefone para contato:
Nome do representante legal (se menor de idade):
Fonte: A autora.
Quadro 4 – Autorização de uso de imagem, som de voz e nome
Tanto na tomada de entrevista oral individual como no grupo focal, 
é importante que o entrevistador mantenha sempre uma postura diretiva 
e orientadora, que convirja para o tema. Porém, é imprescindível que 
evite o posicionamento, manifestar-se de forma favorável ou contrária 
em relação à questão em discussão. 
A credibilidade depositada pelos participantes das entrevistas à 
pesquisa e ao estudo em questão pode ser reforçada com a prática 
da devolutiva da transcrição da entrevista aos participantes. Neste momento, 
enfatize que estes leiam a transcrição e manifestem se estão de acordo com seu 
conteúdo, bem como se é necessário fazer ajustes.
Evite o 
posicionamento, 
manifestar-se de 
forma favorável ou 
contrária em relação 
à questão em 
discussão.
128
 Memória e História Oral
O pagamento pela participação na pesquisa é responsável por gerar polêmicas 
no campo científi co, pois envolve questões de proteção, responsabilidade e zelo 
da liberdade e dignidade dos seres humanos. No Brasil, é uma prática vedada, 
porém é permitida em países da Europa e nos Estados Unidos. 
Segundo Abadie (2015), os pesquisadores que advogam de forma contrária 
ao pagamento pela participação em entrevistas e pesquisas sociais alegam que 
este consiste numa espécie de coerção e que recai, em especial, a populações 
pobres e vulneráveis. As pessoas devem ser capazes de decidir, de forma 
livre e informada, sobre sua participação ou não nas entrevistas, e cabe aos 
pesquisadores acatarem e respeitarem, independente do potencial, contribuições 
e relevância do conteúdo que seriam oriundos do aceite à participação. 
Caro(a) pós-graduando(a), geralmente as pessoas não se indispõem, 
até esperam e gostam do fato de serem solicitadas a testemunhar, sentem-se 
reconhecidas, gostam de compartilhar suas memórias e fi cam satisfeitas por 
saberem que o que presenciaram é importante e pode fazer a diferença para 
outras pessoas.
ASPECTOS TÉCNICOS NO TRATAMENTO 
DAS FONTES
Um dos primeiros passos após a captação e o registro das entrevistas reside 
no ato de transcrever. Mas, o que é transcrever? De acordo com o dicionário 
Houaiss, Villar e Franco (2009, p. 1.866), consiste no processo de “escrever 
novamente (um determinado conteúdo) e em outro lugar; transladar, copiar, 
reproduzir ou passar para o papel ou equivalente (algo) que está sendo ouvido”.
A transcrição deve ser realizada pelo próprio entrevistador e, logo em seguida 
a realização da entrevista, pois, com o passar do tempo, a memória tende a se 
tornar menos densa e vivaz, e acaba por negligenciar determinados nuances e 
detalhes que foram expressos e percebidos no decorrer da entrevista.
No ato de transcrever, as passagens pouco audíveis devem ser colocadas 
entre colchetes; as dúvidas, os silêncios, assinalados por reticências; as pessoas 
mencionadas e citadas, designadas por iniciais (se necessário); as passagens 
ou as expressões que ganharam forte entonação devem ser sinalizadas com 
negrito; os risos, tensões, momentos de dúvidas, intervalos e suspensões da fala 
também devem ser registrados; os erros fl agrantes para datas, nomes próprios, 
endereços, devem ser corrigidos; podem ser criados subtítulos temáticos para 
facilitar a leitura da transcrição.
129
MEMÓRIA E HISTÓRIA ORAL: A PESQUISA, ASPECTOS 
METODOLÓGICOS E ÉTICOS Capítulo 4 
Os arquivos de áudio e/ou as fi tas de gravação devem ser guardadas, jamais 
destruídas, pois constituem documentos primários e originais que podem ser 
consultados em momentos futuros. Tomando estes cuidados com o processo de 
transcrição e destino dos registros, as entrevistas poderão servir de fonte para 
outros pesquisadores com temáticas correlatas, bem como outras questões 
podemser feitas/verifi cadas e, por fi m, resultar em novas abordagens.
No que diz respeito ao modo de uso da entrevista no interior de pesquisas e 
textos, Santos (2000) orienta que pode ser feita de forma direta ou indireta; que é 
imprescindível a fi delidade do que foi dito e que a referenciação seja correta, que 
permita a verifi cação, a comprovação e o aprofundamento por parte de qualquer 
leitor interessado.
Para tanto, a NBR 10520 recomenda que, na apresentação de trechos de 
entrevistas (textos não escritos), deve-se indicar as falas no texto sob a mesma 
regra que rege as citações diretas e textuais, ou seja, apresentar sobrenome, ano 
e página. 
Se houver necessidade de fazer omissões, cortes e suspensões, estes 
devem ser identifi cados utilizando as seguintes sinalizações [...]; quando da 
necessidade de acréscimos, interpolações e comentários, devem ser feitos 
utilizando os símbolos de [ ]; observe no exemplo hipotético abaixo:
Exemplo: Desse modo, “[...] a explicação sobre as estruturas culturais do 
Brasil foi apresentada nos anos de 1960 [e ainda fornece base de interpretação 
aos dias atuais] na qual fi cam nítidos os vínculos de dependência que ocorriam 
(FOCHI, 2016, p. 2).
 É importante, também, mencionar os dados existentes em nota de rodapé. 
Quando da formulação da referência bibliográfi ca, deve ser elaborada seguindo o 
seguinte exemplo:
Exemplo: FOCHI, Graciela Márcia. Graciela Márcia Fochi: depoimento [mai. 
2016]. Entrevistadores: T. P. Costa. Indaial: Uniasselvi, 2016. 2 cassetes sonoros. 
Entrevista concedida ao projeto Memória e História Oral da Uniasselvi-Indaial-SC.
Em casos onde se faz necessário manter o anonimato dos entrevistados, 
numere-os ou utilize pseudônimos, conforme o exemplo a seguir:
Exemplo: TAL, Fulana de. Entrevista I. [Maio. 2016]. Entrevistador: Graciela 
Márcia Fochi. Indaial/SC, 2016. 1 arquivo.mp3 (60 min.). 
130
 Memória e História Oral
Caro(a) pós-graduando(a), feitos os estudos que dizem respeito aos aspectos 
metodológicos e técnicos da pesquisa em história oral, é chegado o momento de 
atentarmos para elementos que dizem respeito ao tratamento e análise dos dados 
coletos e obtidos em meio aos trabalhos de pesquisa propriamente dito. Sendo 
assim, prossiga na leitura do texto que segue.
ASPECTOS QUALITATIVOS NO 
TRATAMENTO DAS FONTES
O campo de pesquisa em memória e história oral reserva inúmeras questões 
instigantes, tais como: confrontar testemunho versus testemunho, testemunhos 
com documentos escritos; leituras de contexto, o uso de fontes múltiplas, 
convergentes e divergentes; implicações de se omitir os elementos subjetivos 
(risos, ironias, tensões e severidades) presentes nos depoimentos. 
Ao dedicar-se à memória e à história oral, tem-se a oportunidade de 
perceber como os discursos históricos e historiográfi cos são produzidos, em 
especial, perceber que a história está presente em todos os lugares, em todos os 
momentos, e nas formas mais intangíveis e sensíveis possíveis. 
Santos (2000) explica que o lugar, o local seja quando, qual e onde for, 
encontra-se historicamente inserido em espaços e contextos mais amplos, e está 
profundamente enredado em condições econômicas, políticas, sociais e culturais 
vividas no dia a dia dos indivíduos de uma cidade, de um país, uma nação e no 
mundo.
Samuel (1989) analisa que, além do campo de pesquisa e produção do 
conhecimento histórico, o uso de memórias e história oral pode ser recurso muito 
proveitoso também no espaço da sala de aula. Observe as palavras do autor:
[...] as entrevistas como formas capazes de fazer com que os 
estudos de história local escapem das falhas dos documentos, 
uma vez que a fonte oral é capaz de ampliar a compreensão 
do contexto, de revelar os silêncios e as omissões da 
documentação escrita, de produzir outras evidências, captar, 
registrar e preservar a memória viva. A incorporação das 
fontes orais possibilita despertar a curiosidade do aluno e do 
professor, acrescentar perspectivas diferentes, trazer à tona o 
pulso da vida cotidiana, registrar os tremores mais raros dos 
eventos, acompanhar o ciclo das estações e mapear as rotinas 
semanais (SAMUEL, 1989, p. 233).
131
MEMÓRIA E HISTÓRIA ORAL: A PESQUISA, ASPECTOS 
METODOLÓGICOS E ÉTICOS Capítulo 4 
Quando se analisa, de forma crítica, as entrevistas, não se pode desconsiderar 
os interesses próprios e até do grupo ao qual pertencem os depoentes, que 
tenderão a embutir e camufl ar em meio aos seus discursos. Trata-se de uma 
posição a que se referem, de fazer valer determinada versão. Os entrevistados 
selecionam e decidem sobre o que irão falar, o que lembrar, o que enfatizar, o que 
recortar, o que ocultar, omitir e não contar.
Perguntas e problematizações sobre quem e por que depõe, 
para quem conta, de qual história é testemunho, como este se insere 
e se percebe no contexto mais amplo dos fatos não podem ser 
negligenciadas pelo pesquisador. Aspectos, tais como: “a que ponto e 
em que grau de proximidade possuem com os fatos”; o que querem 
defender e convencer; que distância existe entre a vivência e o momento 
da entrevista; o que se passou de relevante relacionado à experiência 
desde o momento vivido até o momento presente, não podem escapar 
ao ofício e fazer do pesquisador em memória e história oral. 
Faz-se necessário reconhecer as posições de caráter da diferença 
e/ou de alteridade que cada testemunho comporta, tais como a relação de um 
padre/pastor e um transexual; um comandante e um fuzileiro; um investigador a 
serviço do governo e um militante de oposição; um trabalhador do campo e um 
da cidade; um industrial e um operário; o comerciante e seu freguês; homem e 
mulher, entre outros. 
Pollak (1992) explica que quando se realizam entrevistas de história de vida, 
é comum, no decorrer de uma conversa muito longa, que a ordem cronológica 
deixe de ser obedecida. Os entrevistados voltam várias vezes aos mesmos 
acontecimentos, e há nessas voltas a determinados períodos da vida, ou a certos 
fatos, algo de invariante. Segundo o autor, é como se em uma história de vida, 
seja coletiva ou individual, houvesse elementos irredutíveis, em que o trabalho 
de solidifi cação da memória foi tão importante que impossibilitou a ocorrência de 
mudanças. 
Em certo sentido, determinados números de elementos tornam-se realidade, 
passam a fazer parte da própria essência da pessoa, muito embora outros tantos 
acontecimentos e fatos possam ser modifi cados em função do movimento da 
própria fala, assim como em função dos ouvintes e interlocutores que estão 
participando da pesquisa. 
No momento de narrar os resultados encontrados nas fontes, fazem-se 
necessárias as competências e habilidades de:
• Decodifi car, contextualizar, articular, estabelecer relações;
Perguntas e 
problematizações 
sobre quem e por 
que depõe, para 
quem conta, de 
qual história é 
testemunho, como 
este se insere e se 
percebe no contexto 
mais amplo dos 
fatos não podem ser 
negligenciadas pelo 
pesquisador.
132
 Memória e História Oral
• Comparar, interpretar, revelar circunstâncias, contingências, possibilidades 
de causa, efeito, consequências, sutilezas;
• Reconhecer semelhanças, diferenças, peculiaridades;
• Perceber intenções, pretensões, conteúdos implícitos;
• Refl etir, compreender, narrar tendo como fi nalidade última a verdade, além 
de reclamar por justiça diante de situações em que os direitos humanos 
foram violados.
É preciso associar os resultados às categorias teóricas de análise 
próprias aos temas de memória e história oral, assim como em relação 
ao tema em específi co a que os dados se referem.
É prudente que, no decorrer do texto que apresenta um 
determinado tema e assunto, sejam utilizadas somente frações, trechos 
da entrevista. Esteja atento para selecionar frases e passagens mais 
representativas da entrevista e que ilustrem, evidenciem, exemplifi quem 
e enfatizem elementos e questões centrais do texto. Sepreferir e solicitado for, 
inclua a entrevista na íntegra nos anexos no fi nal de seu estudo e trabalho.
É preciso associar 
os resultados às 
categorias teóricas de 
análise próprias aos 
temas de memória e 
história oral, assim 
como em relação ao 
tema em específi co 
a que os dados se 
referem.
Caro (a) pós-graduando (a), obtenha maiores informações para 
os temas e questões abordadas ao longo deste caderno de estudos 
acompanhando os debates e estudos que estão sendo feitos em 
nível nacional e internacional, consultado os seguintes sítios:
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE HISTÓRIA ORAL- ABHO - 
Criada em 1994 e hoje está ancorada na Universidade Federal do 
Rio Grande do Sul-UFGRS. Consulte o site, este reúne um amplo 
acervo de entrevistas, a Revista História Oral, anais de eventos 
de história oral que ocorrem no Brasil, informações e agenda de 
eventos, boletins e notícias entre outras informações. Disponível em: 
<http://www.historiaoral.org.br/>.
ASSOCIAÇÃO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA ORAL – IOHA 
- Fundada em 1996. No site você encontrará notícias, publicações, 
informações de eventos e congressos que ocorrem nas mais diversas 
cidades do mundo. Disponível em: <http://www.ioha.fgv.br/>.
133
MEMÓRIA E HISTÓRIA ORAL: A PESQUISA, ASPECTOS 
METODOLÓGICOS E ÉTICOS Capítulo 4 
REVISTA DE HISTÓRIA ORAL – Criada em 1998, procura 
fomentar publicações de estudos interdisciplinares sobre teoria 
e metodologia em história oral. Disponível em: <http://revista.
historiaoral.org.br/index.php?journal=rho>.
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Pesquisar, registrar, transmitir e preservar conteúdos de memória 
e patrimônio é documentar a sociedade da qual somos os herdeiros e 
sucessores mais diretos. Existe um mobiliário histórico e social, coletivo 
e individual (símbolos materiais, narrativas, iconografi as, escritas, 
oralidades) que precisa ser documentado e preservado. 
A posse de um registro como uma experiência, testemunho por 
meio de entrevista, pode valorizar o trabalho de um pesquisador no 
sentido de promovê-lo para além do campo das pesquisas comuns, que, 
muitas vezes, resumem-se em apresentar revisionismos bibliográfi cos 
e dados de fontes documentais clássicas, as quais vem sendo utilizadas há muito 
tempo.
Estimular e deixar as pessoas falarem não é meramente um 
exercício de retórica, de boa vizinhança, “jogar papo pro ar”, “conversa 
fora”, recolher e guardar objetos antigos, visitar monumentos, 
lugares históricos e de memória, isso tudo, hoje, mais do que ontem, 
signifi ca uma questão de cidadania, do reconhecimento do vivido, da 
experiência, da história local, da importância do micro, no qual se dá 
o compartilhamento e comunhão cotidiana e do imediato do um com o 
outro, e de um com os outros.
Pensa-se que a partir dos caminhos metodológicos e dos 
cuidados de análise das fontes orais é possível ir além, “alçar voos 
maiores”, “mergulhar em águas mais profundas”. É possível valorizar 
a experiência do homem, do homem com os seus semelhantes, do homem com 
o tempo, signifi car as subjetividades, contemplar as particularidades, iluminar 
contextos e espaços históricos e sociais que pairavam na escuridão; cruzar 
fatos e documentos com oralidades; entender confl itos, favorecer tréguas e 
reconciliações; acender lembranças, superar esquecimentos, brancos, vazios 
entre outros... Como descreve Garcia (1992), trata-se de buscar uma outra 
memória, que permita recuperar não só o ocorrido, como ressaltar as esperanças 
não realizadas do passado e que se inscrevem em um novo presente, como um 
apelo para um futuro diferente.
Existe um mobiliário 
histórico e social, 
coletivo e individual 
(símbolos materiais, 
narrativas, 
iconografi as, 
escritas, oralidades) 
que precisa ser 
documentado e 
preservado.
Estimular e deixar 
as pessoas falarem 
não é meramente 
um exercício de 
retórica, signifi ca 
uma questão de 
cidadania, do 
reconhecimento 
do vivido, da 
experiência, da 
história local, da 
importância do 
micro.
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 Memória e História Oral
Caro(a) pós-graduando(a), é chegado o fi nal deste caderno de estudos. Não 
se dê por satisfeito, prossiga nos estudos e aprofundamentos, prepare-se bem, 
retome as sugestões de materiais, fi lmes e literaturas, busque as bibliografi as 
aqui mencionadas na íntegra, e siga em frente, confi ante de que é possível fazer 
um excelente e brilhante trabalho no campo da pesquisa em memória e história 
oral. As possibilidades são muitas. Em nosso país existe uma vasta seara a ser 
cultivada e desenvolvida.
Votos de um gratifi cante e satisfatório trabalho pela frente!
REFERÊNCIAS
ABADIE, R. Além do pagamento: abordando de questões éticas na pesquisa 
qualitativa em saúde. Physis Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 25, 
n. 3, p. 701-703, set./out., 2015.
ALBERTI, V. História oral: a experiência do CPDOC. Rio de Janeiro: Fundação 
Getúlio Vargas, 1990.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10520: Informação 
e
documentação – citações em documentos – apresentação. Rio de Janeiro, 2002.
BOSI, E. Memória e sociedade: lembranças de velhos. São Paulo: Cia das 
Letras, 1994.
CERTEAU, M. de. A invenção do cotidiano. Artes de fazer. Petrópolis: Vozes, 
1994.
DIEHL, A. A. Cultura historiográfi ca: memória, identidade e representação. 
Bauru: EDUSC, 2002.
FÉLIX L. O.; GRIJÓ L. A. Histórias de vida: entrevistas e depoimentos de 
magistrados gaúchos. Porto Alegre: Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande 
do Sul, 1999.
GARCIA, M. A. Tradição, memória e história dos trabalhadores. In: SPIX & 
MARTIUS et al. O direito à memória. Patrimônio histórico e cidadania. São 
Paulo: Departamento de Patrimônio Histórico - SMC, Prefeitura do município de 
São Paulo, 1992.
135
MEMÓRIA E HISTÓRIA ORAL: A PESQUISA, ASPECTOS 
METODOLÓGICOS E ÉTICOS Capítulo 4 
GEERTZ, C. A Interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC,1989.
GUI, R. T. Grupo focal em pesquisa qualitativa aplicada: intersubjetividade e 
construção de sentido. PDT, Florianópolis, v. 3, n. 1, p. 135-160, jan/jun, 2003.
HALBAWACHS, M. A memória coletiva. São Paulo: Vértice, 1990.
HOUAISS, A.; VILLAR, M. de S.; FRANCO, F. M. M. Dicionário Houaiss da 
língua
portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.
NORA, P. Entre história e memória. A problemática dos lugares. Projeto História, 
São Paulo, v.10, n. 10, p. 7-28, dez/1993.
POLLAK, M. Memória e identidade social. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 
5, n. 10, p. 200-212, jan. 1992. 
PRINS, G. História oral. In: BURKE, P. (Org.). A escrita da história: novas
perspectivas. São Paulo: UNESP, 1992.
SAMUEL, R. História local e história oral. Revista Brasileira de História. São 
Paulo, ANPUH, v. 9, n. 19, p. 219-242, 1989.
SANTOS, A. R. Metodologia científi ca: a construção do conhecimento. Rio de 
Janeiro:
DP&A, 2000.
TEDESCO, J. C. Memória e cultura: o coletivo, o individual, a oralidade e 
fragmentos de memórias de nonos. Porto Alegre: Est, 2001.
THOMPSON, P. A voz do passado: história oral. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 
1992.
VANSINA, J. A tradição oral e sua metodologia. In: KI-ZERBO, J. (Org.). História
geral da África I. Metodologia e pré-história da África. 2. ed. rev. Brasília: 
UNESCO, 2010.
VEIGA, L; GONDIM, S. M. G. A utilização de métodos qualitativos na ciência 
política e no marketing político. Opinião Pública, Campinas, v. 2, n. 1, p. 1-15, 
jan. 2001.

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