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LIVRO APENSAMENTO FILOSÓFICO E SOCIAL NO BRASIL KLS UNOPAR

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SÓ
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 B
RA
SIL
Pensamento 
Filosófi co e
Social no Brasil
José Adir Lins Machado
Claudiane Ribeiro Balan
Mariana de Oliveira Lopes Vieira
Pensamento Filosófico 
e Social no Brasil
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 
 Machado, José Adir Lins
 
 ISBN 978-85-8482-199-0
 1. Filosofia - Brasil. 2. Sociologia - Brasil. I. Balan, 
Claudiane Ribeiro. II. Lopes, Mariana de Oliveira. III. Título.
 CDD 101
Machado, Claudiane Ribeiro Balan, Mariana de Oliveira 
Lopes. – Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S. 
A., 2015.
 180 p. : il.
M149p Pensamento filosófico e social no Brasil / José Adir Lins 
© 2015 por Editora e Distribuidora Educacional S.A 
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida 
ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, 
incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e 
transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e 
Distribuidora Educacional S.A.
Presidente: Rodrigo Galindo
Vice-Presidente Acadêmico de Graduação: Rui Fava
Diretor de Produção e Disponibilização de Material Didático: Mario Jungbeck
Gerente de Produção: Emanuel Santana
Gerente de Revisão: Cristiane Lisandra Danna
Gerente de Disponibilização: Nilton R. dos Santos Machado
Editoração e Diagramação: eGTB Editora
2015
Editora e Distribuidora Educacional S. A. 
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041 -100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br 
Homepage: http://www.kroton.com.br/
Unidade 1 | As principais características da filosofia no Brasil
Seção 1 - A herança portuguesa
1.1 | A formação do pensamento português
1.2 | O panorama reflexivo no Brasil
1.3 | O itinerário da história das ideias
Seção 2 - A existência ou não de uma filosofia brasileira
2.1 | O panorama da reflexão filosófica no Brasil
Seção 3 - Características da filosofia no Brasil
3.1 | Traços distintivos do povo brasileiro
3.2 | A contribuição de Gonçalves de Magalhães
3.3 | A contribuição de Raimundo Farias Brito
Unidade 3 | Sociologia no Brasil: história e desafios
Seção 1 - Sociologia histórica
1.1 | O padrão sociedade
1.2 | O início
1.3 | Os grandes pensadores: Karl Marx
1.4 | Os grandes pensadores: Émile Durkheim
1.5 | Os grandes pensadores: Max Weber
1.6 | Expandindo as fronteiras
Unidade 2 | Os pensadores da filosofia brasileira
Seção 1 - A influência positivista e a Escola do Recife
1.1 | O positivismo de Auguste Comte
1.2 | A escola do Recife
1.3 | A escola do Recife, o positivismo e demais correntes
Seção 2 - A contribuição de Tobias Barreto
2.1 | Tobias Barreto
Seção 3 - A contribuição de Farias Brito
3.1 | A formação de Farias Brito
3.2 | A carreira de Farias Brito
3.3 | As realizações de Farias Brito
3.4 | Farias Brito e a política
3.5 | Desfechos familiares e morte
Sumário
7
11
11
14
19
25
25
37
37
41
44
57
61
61
64
65
71
71
83
83
85
88
89
91
101
105
105
106
108
112
114
116
1.7 | Conceitos e princípios
Seção 2 - Sociologia no Brasil
2.1 | No Brasil
2.2 | Alguns pensadores brasileiros: Octávio Ianni
2.3 | Alguns pensadores brasileiros: Florestan Fernandes
2.4 | O ressurgimento
Seção 3 - Sociologia e seus desafios modernos
3.1 | Sociologia e seus apêndices
118
123
123
124
127
127
131
132
Unidade 4 | Valores morais e éticos
Seção 1 - Contribuições filosóficas acerca da ética e da moral
1.1 | A ética e moral na história
 1.1.1 | Ética grega
 1.1.2 | Ética socrática
 1.1.3 | Ética platônica
 1.1.4 | Ética aristotélica
 1.1.5 | Ética helenística: epicurismo e estoicismo
 1.1.6 | Ética cristã
 1.1.7 | Ética moderna
Seção 2 - A ética e a moral na sociologia
2.1 | A contribuição dos Clássicos da Sociologia no debate sobre
moral e ética
2.2 | Ética na docência
Seção 3 - A sociologia no ensino médio
3.1 | Histórico da disciplina de Sociologia no Ensino Médio: lutas e
resistências
145
149
150
150
150
151
151
152
153
154
157
157
166
169
169
Apresentação
Olá, pessoal! No livro “Pensamento Filosófico e Social no Brasil” estudaremos 
na Unidade 1 “As Principais Características da Filosofia no Brasil”, em que estaremos 
apresentando sua trajetória e as influências na cultura brasileira. Portanto, 
perpassaremos pela herança portuguesa, e a indagação da existência ou não 
de uma filosofia brasileira. Na Unidade 2 possibilitaremos a observação sobre a 
classificação das diferentes concepções de filosofia no país.
O objetivo é apresentar as contribuições reflexivas das principais personalidades 
brasileiras vinculadas à questão da produção filosófica. Neste sentido, 
apresentaremos a Influência Positivista e a Escola do Recife; a Contribuição de 
Tobias Barreto e a Contribuição de Farias Brito.
Dentro desta perspectiva, estudaremos na Unidade 3 a Sociologia no Brasil: 
História e Desafios, analisando assim os traços principais das etapas, períodos e 
evolução de sua institucionalização.
Na Unidade 4, correspondente aos Valores Morais e Éticos, perpassaremos pela 
análise das questões éticas e morais nos campos da Filosofia e da Sociologia.
Dessa forma, o conteúdo do livro indica um modo de viver a vida, de observar de 
forma crítica a relação homem e sociedade com muito mais clareza e satisfação. 
Os textos apontam caminhos simples e objetivos, dos quais o que se pretende 
é ampliar os conhecimentos e a forma de observar o mundo e a natureza, 
enriquecendo desta forma a trajetória acadêmica do aluno e, ao mesmo tempo, 
ampliando a sua especialização na área profissional.
Neste contexto, desejamos um excelente estudo aos nossos estudantes e 
leitores desta obra, cujos autores alvitram a ampliação dos conhecimentos com 
base no pensamento filosófico e social no Brasil. 
Prof. Sergio de Goes Barboza
Unidade 1
AS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS 
DA FILOSOFIA NO BRASIL
A formação da cultura lusitana traz no seu bojo a participação de muitas 
visões de mundo, por vezes, a princípio, antagônicas, porém dentro de uma 
convivência pacífica e tolerante, fato que colocaria Portugal em um patamar 
diferenciado com relação aos demais países europeus. Contudo, próximo da 
época do descobrimento do território brasileiro, ocorre uma guinada no campo 
epistemológico, educacional, político e religioso, com a participação mais efetiva 
da Ordem Jesuítica, e isso terá repercussões até mesmo em solo brasileiro. 
Pretendemos, nessa seção, possibilitar ao estudante obter clareza na 
classificação das diferentes concepções de filosofia existentes em nosso país, 
e, sobretudo, que possa perceber que é bastante comum haver uma confusão 
acerca da existência da Filosofia em si, com filosofias de vida ou pensamentos 
com viés ideológico, buscando perpetrar-se em nossa sociedade e dificultando 
a objetividade na distinção epistemológica do campo filosófico.
Seção 1 | A herança portuguesa 
Seção 2 | A existência ou não de uma filosofia brasileira 
Objetivos de aprendizagem: 
Nessa unidade pretendemos apresentar a trajetória do pensamento filosófico 
no Brasil. Compreendendo primeiramente a formação do pensamento 
português e a sua posterior influência na formação da cultura brasileira. Faremos 
uma reflexão sobre a existência ou não de uma filosofia genuinamente nacional, 
bem como uma abordagem sobre as diversas concepções de filosofia presentes 
em nosso país, de acordo com a interpretação dos principais estudiosos do 
assunto no Brasil.
José Adir Lins Machado
As principais características da filosofia no Brasil
U1
8
Apresentaremos uma análise do desdobrar da filosofia em solobrasileiro, 
passando pelas principais correntes que nos foram legadas pelos portugueses 
e sofrendo a influência das demais correntes de pensamento que afloraram 
na Europa durante a Idade Moderna, indo desde a visão cartesiana até ao 
espiritualismo francês, mas sempre com uma conotação eclesiológica, 
senão com resquícios da influência teológica remanescente da Escolástica.
Seção 3 | Características da filosofia no Brasil
As principais características da filosofia no Brasil
U1
9
Introdução à unidade
Buscaremos apresentar, nesta 
unidade, as características mais 
marcantes da história da filosofia 
no Brasil. Para tanto, já é bom 
que se diga que há uma grande 
diferença entre a Filosofia no Brasil 
e a Filosofia do Brasil, ou filosofia 
brasileira. Alguns, inclusive, para 
referir-se à filosofia brasileira, usam 
o termo “filosofia tupiniquim”. 
Fato que, por si, já evidencia 
uma espécie de menosprezo por 
nossas correntes de pensamento. 
Se é que elas existem. Diante 
disso, o primeiro passo talvez 
seja, justamente, decidir: existe ou 
não uma filosofia brasileira? Por 
gentileza, caro(a) estudante, pedimos que não tente 
responder pelo ímpeto, pois essa questão merece 
muita reflexão.
 A coruja é o símbolo da filosofia por 
ter visão abrangente – girar a cabeça para todos 
os lados – e por só alçar voo sob o crepúsculo. O 
que significa dizer que devemos observar tudo, sob 
todos os ângulos possíveis, ponderar bastante e não 
tirar conclusões precipitadas. Quem fala antes de 
pensar, quem fala sem pensar, quem fala e depois 
se arrepende, demonstra estar bem distante dos 
ditames filosóficos, pois a filosofia é reflexão crítica e 
profunda. 
Rubem Alves dizia ter um profundo desejo de 
oferecer cursos de “escutatória” ao invés de cursos 
de oratória, pois escutar é tão ou mais importante 
do que falar. Quando se chega a essa conclusão, 
Fonte: Disponível em: <http://commons.
wikimedia.org/wiki/File:India_tupi.
jpg?uselang=pt-br>. Acesso em: 19 mai. 
2015.
Figura 1.2 | Existe “filosofia 
tupiniquim”? 
Fonte: Disponível em: <http://commons.wikimedia.org/wiki/
File:Coruja.JPG?uselang=pt-br>. Acesso em: 19 mai. 2015.
Figura 1.1 | A coruja alça voo no crepúsculo. 
As principais características da filosofia no Brasil
U1
10
começa-se a ser filósofo.
 Quando os alunos começam a estudar filosofia ou quando conversamos 
com alguém que não é da área, é bastante comum nos indagar: “existe algum(a) 
filósofo(a) brasileiro(a)?” A resposta para essa pergunta vai depender de uma 
contextualização um pouco extensa, não dá para apresentar uma boa resposta de 
modo superficial. Não existe um sim ou um não e ao mesmo tempo existe um sim 
e um não. Onde reside a dificuldade em se ter filósofo(a) brasileiro(a)?
 Grosso modo, filosofia é reflexão sobre a realidade, mas não pode ser sobre 
a realidade muito recortada, muito pontual ou subjetiva, senão não interessa para 
ninguém; e também não pode ser sobre uma realidade universal que prescinda 
do contexto onde nos encontramos, senão pouco acrescenta sobre o que já foi 
elaborado. 
Assim como acontece com a história, onde 
as crianças aprendem a história do mundo antigo 
antes de conhecer a história da sua cidade, também 
na filosofia aprendemos a refletir sobre a realidade 
antiga, sobretudo, mas não aprendemos a refletir 
sobre o que está acontecendo hoje em dia em nossa 
cidade e em nosso país.
Existem pessoas que são mais propensas a 
filosofar de modo inato, têm essa verve filosófica: 
questionam, se posicionam e aprofundam as 
questões. E existem outras que podem até estudar e 
se formar em Filosofia, mas nunca aprenderão a fazer 
filosofia. É como estudar arte e nunca se tornar um 
artista, ou estudar música e nunca ser um músico.
 Nesta unidade apresentaremos a questão 
da herança portuguesa legada à filosofia brasileira e 
qual o seu impacto em nossa formação e reflexão 
filosóficas. Posteriormente faremos uma reflexão 
sobre a Filosofia e as filosofias, numa tentativa de 
perceber o alcance da nossa maneira de fazer 
filosofia. E, por último, veremos as características 
mais presentes no desenvolvimento da filosofia em 
nosso país.
Fonte: Disponível em <http://commons.
wikimedia.org/wiki/File:Sisebuto,_rey_
de_los_Visigodos_(Museo_del_Prado).
jpg?uselang=pt-br>. Acesso em: 19 mai. 
2015.
Figura 1.3 | Suevos e 
visigodos coabitavam em 
território português. 
As principais características da filosofia no Brasil
U1
11
Seção 1
A herança portuguesa
A título de introdução a esta seção, queremos lembrar-lhe que a Filosofia anda 
muito próxima de diversas outras áreas do conhecimento, e a história é uma delas. 
Por isso, para se entender a filosofia no Brasil é preciso fazer um resgate da história 
da filosofia em Portugal. Os portugueses foram os responsáveis por nos inserir na 
cultura europeia através da língua, da religião, de aspectos culturais e folclóricos, entre 
outros. Contudo, a formação do pensamento português não se fez sem contradições. 
Cabe lembrar que contradições bem conduzidas são salutares e podem ajudar no 
crescimento cognitivo.
1.1 A formação do pensamento português
Coabitavam na Península Ibérica povos de diversas tendências, tais como cristãos, 
judeus e árabes. Além disso, havia também uma forte presença africana decorrente 
da proximidade desse continente. Fato que, possivelmente, contribuiu para a criação 
de um espírito de tolerância com o diferente, pois cristãos e muçulmanos, em 
tempos de paz, negociavam continuamente, se visitavam e até casavam seus filhos 
misturando as culturas. Chegavam, inclusive, a realizar cultos cristãos e muçulmanos 
nos mesmos templos, conforme nos relata João Cruz Costa (1904-1978) (1967, p. 
17), o qual afirma ainda: 
Quer nos parece que o humanismo, o realismo que caracteriza a cultura 
portuguesa explica-se, em parte, pela influência que ela recebeu da 
cultura árabe e das necessidades originadas desse convívio com povos 
de religião e tendências diversas. Como é sabido, dos árabes receberam 
os ibéricos o conhecimento da filosofia grega e, principalmente, 
a interpretação “física”, que lhe deram os primeiros. Foi sob a sua 
influência e também sob a influência do senso prático dos judeus que, 
no alvorecer do Renascimento, os portugueses iniciaram a sua obra 
náutica. O isolamento em que se mantém a ciência portuguesa leiga 
– de tendência profundamente empírica – em face do movimento 
filosófico de inspiração propriamente continental é mais um sintoma 
assaz sugestivo da influência da cultura árabe em Portugal.
As principais características da filosofia no Brasil
U1
12
Nessa época a ciência escolástica (dominada pela Igreja com base principalmente 
nos pensamentos de São Tomás de Aquino) e a ciência leiga (emancipada desde 
Galileu Galilei e fortalecida com as contribuições de Isaac Newton, sobretudo) 
estavam se distanciando. Na escolástica predominava um modelo de ensino erudito, 
mas na Península Ibérica se fazia ciência aplicada enriquecida com a sutileza da 
argumentação teológico-filosófica. Prefigurando o empirismo e o pragmatismo, 
reinava em Portugal um espírito positivo em dissonância com os demais países 
europeus. As escolas náuticas são bons exemplos dessa tendência; auxiliadas por 
uma visão franciscana que visava aproximar o homem e a natureza, diferentemente 
da Península Itálica, por exemplo, que primava pela atividade industrial. 
A descoberta do novo mundo 
contribuiu muito para ajustes profundos 
na física, na cosmologia e na geografia 
da época, e autoridades consagradas 
das ciências, sobretudo Aristóteles, 
passaram a ser questionadas e desse 
modo os navegadores venceram 
a superstição causada pelos textos 
clássicos. Afirmarão os lusitanos que 
“sabe-se mais em um dia agora pelos 
portugueses, do que se sabia em 
cem anospelos romanos”. Porém, 
a partir do século XVI, impulsionada 
por um modelo político monopolista 
e teocrático, Portugal entrará em 
decadência e a riqueza extraída das 
novas terras irá parar nas mãos dos 
banqueiros do norte europeu ou dos 
piratas ingleses.
Nesse momento entram em cena 
os Jesuítas, os quais terão profunda contribuição na formação dos pensamentos 
Para melhor aproveitamento e enriquecimento dos estudos, sugerimos 
que você faça uma pesquisa sobre a história de Portugal, a sua formação, 
suas características, o seu território e, sobretudo, os avanços e retrocessos 
no tocante ao campo do conhecimento. Pode usar o site http://www.
historiaportugal.com/, para essa pesquisa.
Figura 1.4 | Símbolo da Ordem Jesuíta. 
Fonte: Disponível em: <http://commons.wikimedia.org/wiki/
File:Marca_Oficial_Jesu%C3%ADtas_Brasil.png?uselang=pt-br>. 
Acesso em: 19 mai. 2015.
As principais características da filosofia no Brasil
U1
13
portugueses e latino-americanos. Enquanto a colonização do território brasileiro se 
iniciava, os Jesuítas, então à frente da Contrarreforma católica, foram chamados para 
a Universidade de Coimbra. Portugal começa a se afastar do movimento científico 
que começou a florescer já no século XVII e o espírito moderno vai definhando.
O ex-presidente de Portugal, Teófilo Braga (1843-1924), ao escrever sobre a 
história da Universidade de Coimbra, dirá que o ensino, nas mãos dos Jesuítas, 
perdeu a sua base natural e nacional, e o saber converteu-se em erudição livresca. 
As doutrinas aristotélicas voltaram a se propagar e o espírito renascentista cedeu 
lugar às humanidades clássicas, envolvidas em uma atmosfera teológica. Os Jesuítas 
afastavam Portugal da renovação científica moderna, de tal modo que Portugal 
nunca mais voltou a encontrar os meios para prosseguir nessa empreitada, por 
conta de um humanismo superficial. 
Enquanto toda a Europa se debruçava sobre o pensamento de Bacon e 
Descartes, os portugueses refletiam acerca da contribuição escolástica. Dir-se-á que 
o pensamento filosófico português esteve apartado das correntes modernas que, 
na França e na Inglaterra, já haviam superado o tomismo. O universalismo cultural 
que havia originado os descobrimentos ia lentamente se distanciando no horizonte. 
Esse universalismo permitiu a libertação ocidental da ameaça islâmica, a 
navegação em latitude ao invés de longitude e a unificação do globo terrestre, 
contribuindo para a criação de uma economia mundial. Ao universalizar as ciências 
naturais, a geografia, a meteorologia 
e a medicina, os portugueses haviam 
sido vanguardistas da Idade Moderna 
e contribuíram significativamente 
para o colapso das visões de mundo 
antiga e medieval. Se o Renascimento 
culminou no humanismo, o 
universalismo português alcançou 
avanço ainda maior no campo moral 
e das ideias. 
Nessa época, o interesse pela 
navegação atraía para Lisboa gentes 
das mais variadas culturas. Os 
descobrimentos e a fortuna fácil 
proporcionavam, de um lado, o 
luxo e, de outro, o relaxamento dos 
costumes. Ao luxo se ligava à falta de 
escrúpulos em matéria de moralidade 
e os portugueses passaram a cuidar 
apenas de exterioridades; ou seja, 
Fonte: Disponível em: <http://commons.wikimedia.org/
wiki/File:Monumento_a_los_Descubrimientos,_Lisboa,_
Portugal,_2012-05-12,_DD_09.JPG?uselang=pt-br>. Acesso 
em: 19 mai. 2015.
Figura 1.5 | Monumento aos navegantes. 
As principais características da filosofia no Brasil
U1
14
como dizemos hoje, “viver de aparências”. O relaxamento dos costumes chegou 
a refletir até mesmo na vida eclesiástica, conforme atestam documentos da época.
Diante dessa derrocada e das mudanças científicas e religiosas da época, a filosofia 
em Portugal, por influência jesuítica, irá se limitar a uma tentativa de renovação dos 
pensamentos tomísticos e escolásticos, uma vez que a especulação pura nunca foi 
o ponto forte da filosofia portuguesa, como o foi o experimentalismo. Enquanto em 
outros países europeus a filosofia se reaviva com muita intensidade, em Portugal isso 
só viria a acontecer 200 anos depois e de modo ainda muito tênue. 
Era esse o panorama reinante em Portugal quando eles aqui chegaram. Deles 
herdamos a língua, os costumes, a religião, os defeitos e as virtudes; além, certamente, 
de uma visão de mundo e de ser humano. Assim como a especulação, a contemplação 
não era forte em Portugal e também não será no Brasil. A convivência pacífica dos 
mais diversos povos foi e é característica bem marcante em ambos os países.
Sobre a herança portuguesa, as duas obras de João Cruz Costa apresentadas 
nas referências constituem-se em um material de excelente qualidade, 
apresentando um resgate histórico dentro de uma perspectiva filosófica.
1.2 O panorama reflexivo no brasil 
Como vimos, o descobrimento do Brasil coincidiu com a decadência de Portugal, 
que ajudou a proporcionar novos rumos ao mundo da época, mas logo se afastou 
da condução da sociedade do seu tempo e passou para um mundo escuro, inerte, 
pobre e ininteligente. Apesar dos descobrimentos se encontrarem na raiz fecunda 
do capitalismo moderno, os portugueses tiraram pouco proveito dessa empreitada, 
pois na época o comércio era monopólio entregue pelo rei a quem melhor lhe 
retribuísse a concessão. Alemães e povos nórdicos foram os maiores beneficiados, 
ficando aos portugueses e espanhóis apenas o transporte das mercadorias das 
colônias para as metrópoles.
O ouro escoava-se para os países do norte. Portugueses e espanhóis 
apenas representavam no comércio com as colônias o papel de 
“transportadores” (rouliers), pois eram os outros países da Europa 
que enviavam para as colônias ibéricas os objetos manufaturados de 
que eles tinham necessidade. [...] Consideráveis prejuízos também 
causariam a Portugal e à Espanha o fanatismo religioso. À Holanda 
As principais características da filosofia no Brasil
U1
15
Segundo Bento Prado Júnior (1937-2007), Cruz Costa (1904-1978) “insiste no 
caráter mimético do pensamento brasileiro, de como o pensamento brasileiro imita 
sistematicamente o pensamento metropolitano, de como as ideias vinham através 
de navios e de como a cultura no Brasil era puramente simbólica, como um adorno 
da classe dominante” (PRADO JR, 1986, p. 110). Machado de Assis dirá que a nossa 
cultura é uma “cultura de casca”, sinalizando que ela não tem profundidade, é apenas 
de superfície. E, certamente, esse é um elemento constitutivo da nossa maneira de 
lidar com a filosofia. Porém, uma das características mais marcantes do pensamento 
filosófico é justamente ter profundidade e ser crítico-reflexivo. A filosofia, desde 
o seu início, busca compreender e analisar o mundo de modo sistemático, não 
condescendendo com reflexões superficiais e preconceituosas. 
Éramos profundamente (talvez sejamos até hoje) influenciados pela realidade 
europeia, vivíamos uma realidade aqui no Brasil, mas refletíamos sobre outra, 
principalmente sobre a realidade europeia. É como se cultura e realidade estivessem 
alienadas, separadas, pois ao mesmo tempo em que escrevíamos livros baseados no 
liberalismo europeu, por exemplo, a nossa sociedade era escravagista. Produzíamos 
ideias fora do nosso contexto, ou melhor, não produzíamos, apenas reproduzíamos. 
levariam os judeus expulsos da Península a sua atividade de traficantes, 
sua habilidade comercial e as suas riquezas. A Holanda e, logo depois 
a Inglaterra, seriam as verdadeiras sucessoras do patrimônio colonial 
ibérico (CRUZ COSTA, 1967, p. 30).
Fonte: Disponível em: <http://commons.wikimedia.org/wiki/Egg#mediaviewer/File:Huevo_Quebrado.jpg>. Acesso em: 19 
mai. 2015.
Figura 1.6 | Cultura de casca, frágil e superficial. 
As principais características da filosofia no Brasil
U1
16
Uma nação tem o direito de exercer influência sobre 
outras? E hojeem dia, quantas nações não mantêm outras 
sob sua influência, por vezes, sem que isso seja claramente 
percebido? A moda, a música, os filmes, são bons exemplos 
de como nos deixamos levar por influências de outros povos. 
Faça uma análise sobre a(s) cultura(s) que mais influência 
exerce(m) sobre o nosso país atualmente.
Contudo, pode haver um aspecto positivo nisso, pois os europeus acabavam 
se expondo mais a equívocos e nós, teoricamente, tínhamos mais tempo para 
perceber isso e evitar tais erros. Por outro lado, parecia que não fazíamos filosofia 
propriamente, mas apenas brincávamos de fazê-la. Será que essa característica tem 
a ver com o legado português?
Herdamos uma cultura separada da modernização europeia e muito ínsita 
numa tradição eclesiológica de um catolicismo pragmático e - por que não dizer? 
- comercial. Está aí, talvez, uma explicação superficial para as nossas romarias e 
nossas práticas de promessas, quase com um pé numa certa modalidade de 
paganismo. Desse modo, não é exagero afirmar que “a história das ideias no Brasil é 
a história das interpretações do mundo e do Brasil” (Ibidem, p. 117). Outra razão dessa 
reprodução de ideias seria o fato de não se escrever para um público brasileiro, 
pois, praticamente, não havia esse público; escrevia-se para um público europeu, 
sobretudo. Nesse caso a produção foi provocada pelo consumo.
Cruz Costa (1959, p. 13) lembra que “temos simplesmente glosado o pensamento 
europeu e não contribuímos até hoje para o patrimônio da Filosofia com nenhuma 
criação”. Na sequência ele cita Raimundo Farias Brito (1862-1917), o qual havia 
O legado colonial é o legado de uma cultura, da cultura portuguesa, 
que no momento mesmo em que faz, em que inicia a experiência 
da colonização, se fecha para a Europa e se fecha para a ciência. 
Você tem aí a presença dos jesuítas como uma presença que dá o 
nome próprio desse tipo de experiência cultural, ou desse tipo de 
tradição cultural. Então, grosso modo, você tem o seguinte: cultura 
livresca por oposição à cultura moderna científica, o respeito pela 
autoridade e não o respeito pela razão, a conservação da estrutura 
social ao invés da mobilidade e da transformação social (PRADO 
JR., 1986, 115).
As principais características da filosofia no Brasil
U1
17
sustentado que ainda não produzimos nenhum filósofo e apresentava como razão 
para isso a nossa curta história, pois ainda somos um país muito recente. Segundo 
Farias Brito:
Se não produzimos nenhum filósofo, 
poderíamos nos perguntar: “então não 
existe uma filosofia brasileira?”. Para 
Cruz Costa não existe e nem deveria 
existir, pois a filosofia tem de ser uma 
experiência da coletividade humana 
e não de nações isoladas. A filosofia 
deveria buscar ser universalmente válida 
e não ser válida apenas nacionalmente. 
Contudo, temos algo de próprio em 
nossa experiência e em nossa vivência, 
embora os livros não relatem.
Os homens que migraram para o 
Brasil eram motivados pela aventura e 
pelo lucro. Os aventureiros visavam o 
útil e imediato e, normalmente, agiam 
baseados na crença de que aqui tudo era 
permitido, nada era pecado. Também 
vinham para cá religiosos buscando 
conquistar almas para a cristandade. 
Próximo de 1530 os jesuítas já estavam 
instalando aqui o Colégio da Companhia 
de Jesus. Nesses colégios estudavam 
os filhos dos abastados senhores de 
engenho, de usineiros ou plantadores 
de cana-de-açúcar; ou, então, os filhos dos funcionários dos administradores do 
Reino Português. E a educação recebida era de base humanista, prioritariamente. 
De modo imitativo se buscava aprender a escrever e pensar utilizando-se uma 
cultura livresca de origem europeia. Tudo não passava de simples reprodução de 
Atendendo bem às nossas circunstâncias especiais, não é isto para 
estranhar quando é certo que, estendendo um pouco esta afirmação 
e olhando mais ao largo, poder-se-ia dizer a mesma coisa de toda a 
América [...]. Somos uma nação de ontem e para a elaboração de 
grandes construções filosóficas, originais e fecundas, é indispensável o 
concurso do tempo (FARIAS BRITO, apud CRUZ COSTA, 1959, p. 13). 
Fonte: Disponível em: <http://commons.wikimedia.org/
wiki/Category:Adventurers#mediaviewer/File:Nikolai_
Leontyev.jpg>. Acesso em: 19 mai. 2015.
Figura 1.7 | Aventureiros migraram para cá. 
As principais características da filosofia no Brasil
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18
ideias, característica muitas vezes presente até hoje no nosso sistema educacional. 
Começava ali a admiração por tudo quanto fosse estrangeiro, como se isso fosse 
sinônimo de intelectualidade. Aliado a isso, herdamos de Portugal um pensamento 
acentuadamente voltado para a prática. A soma desses dois aspectos logo reduziu 
a nossa cultura ao comentário. O progresso científico havia se estagnado em 
Portugal e aqui não foi diferente. O resultado disso será que os colégios brasileiros 
focarão no ensino da escolástica, corrente que os países europeus mais avançados 
já consideravam ultrapassada.
Ainda no período colonial os estudiosos brasileiros, principalmente os mineiros, 
acabaram sendo influenciados pelos Enciclopedistas, levando o governo português, em 
1790, a tomar medidas contra os leitores das obras dos filósofos franceses, chegando, 
inclusive, a colocar na prisão alguns acusados pelo crime de enciclopedismo.
Assim fomos, aos poucos, nos distanciando da influência portuguesa e nos 
aproximando mais do pensamento francês. Parecia estarmos direcionados para a nossa 
emancipação educacional e a primeira manifestação em prol da nossa independência 
eclodiu em Minas Gerais. Os intelectuais brasileiros, em grande parte maçons, se 
inspiravam nos livros dos franceses Diderot, D’Alembert, Voltaire e Montesquieu, 
entre outros, juntamente com o genebrino Rousseau. Estava lançada a semente que 
originaria o fim da colônia e o surgimento de uma nova nação independente. 
De qualquer modo, deixamos de ser influenciados por um país europeu e 
passamos a ser influenciados por outro, ou seja, a cultura brasileira é filha da 
contribuição de estrangeiros. Tanto é verdade que não nos é possível estudar a nossa 
história prescindindo da história das imigrações ao nosso país. Há quem se oponha 
a essa influência, mas dificilmente poderíamos nos livrar dela, pois a América é filha 
da Europa, somando-se a ela contribuições também de índios, africanos e asiáticos, 
entre outros. Assim, a filosofia no Brasil, mesmo rudimentar, foi um luxo para os mais 
afortunados e, infelizmente, de certo modo, ela ficou elitizada. Inclusive, as pessoas 
que recebiam a educação humanística eram consideradas pessoas de classe.
Quando Portugal, no tempo de D. Maria I, dormitava no 
emperramento e na imobilidade, tentando levantar nas fronteiras 
uma barreira que obstasse a entrada das ideias revolucionárias, 
os estudantes brasileiros agitavam-se em Paris e sua palavra 
passando os mares, ia ecoar em nossos sertões... A França, com 
as suas turbulências então para a liberdade, era a nossa iniciadora; 
vira-se o mesmo nos Estados Unidos. A América estava cansada 
do jugo. E, assim, desde os fins do século XVIII o pensamento 
português deixava de ser o nosso mestre; fomos nos habituando a 
interessar-nos pelo que ia pelo mundo (CRUZ COSTA, 1959, p. 27).
As principais características da filosofia no Brasil
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Fonte: Disponível em: <http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Salon_de_Madame_Geoffrin.jpg?uselang=pt-br>. Acesso 
em: 19 mai. 2015.
Figura 1.8 | Temos influência dos enciclopedistas. 
1.3 O itinerário da história das ideias
A história da filosofia em território brasileiro deve ser estudada como história das 
ideias que aqui chegaram e se mantiveram formando o nosso modo de ver o mundo. 
Não temos uma filosofia natural, espontânea, mas um ecletismo de muitas culturas, 
povos e ideias. A filosofia não pode ser estudadadesvinculada do nosso contexto 
histórico, social e político, pois ela não deve ser pura e simplesmente especulação, 
mas uma reflexão sobre a nossa experiência vivida. Segundo Léon Brunschvicg, “a 
história é o laboratório do filósofo”, portanto, poderíamos dizer, contrariando o senso 
comum, que a filosofia não é alheia ao mundo, como pode parecer para muitos.
É preciso, porém, não esquecer que a história exclui certas restaurações. 
Ela não é feita para restaurar, mas para libertar do passado. A filosofia 
encontra a verdade na sua adequação com a realidade. Esta realidade 
não é permanente, mas histórica. Não é, pois, possível saltar a barreira 
da história. Quando muda a história, necessariamente, tem que mudar 
também a filosofia (CRUZ COSTA, 1967, p. 12).
As principais características da filosofia no Brasil
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20
Dirá Cruz Costa que no perfil do brasileiro se lê claramente a herança indígena 
em nosso sentimento tanto de rebeldia quanto de resignação; do caboclo se 
percebe como traço bem característico a desconfiança ao estrangeiro; e dos negros 
herdamos tanto a sensualidade quanto a abnegação. Mas a maior influência será 
do branco, sobretudo do branco português, pois por seu intermédio é que nos 
ligamos à civilização ocidental. Podemos, então, perceber que a nossa cultura, e por 
extensão o nosso pensamento filosófico, se faz como produto da junção de diversas 
culturas, com prioridade para duas: a influência vinda pelo Atlântico e a surgida no 
sertão. Sertão fruto da miscigenação de várias culturas. 
Além da contribuição genuína, ainda que pequena, dos povos da América, se 
percebe que um dos nossos problemas é a importação de ideias, bem como a 
delimitação de até onde assimilamos essas ideias que importamos, pois parece haver 
um hiato entre pensamento e ação. Fato que nos remete ainda a outra questão, já 
levantada nesse texto: deveria a filosofia ter aspirações nacionalistas ou universalistas? 
Para Bento Prado Júnior, a ideia de uma filosofia nacional não coaduna com o ideal 
de universalidade inerente à disciplina.
Segundo Bento Prado Júnior, o apego à história de uma filosofia nacional 
pode ser fruto de dois tipos de preconceitos: um psicologista e outro historicista. 
“A filosofia é aí pensada como a expressão de uma alma ou de um espírito cuja 
natureza permanece inalterada ao longo da História. É a identidade do espírito que 
garante a continuidade da História e que faz com que as várias filosofias pareçam 
suceder-se dentro de um mesmo tempo, como as frases sucessivas de um único 
discurso” (PRADO JR., 1985, p. 174).
Fonte: Disponível em: <http://commons.wikimedia.org/wiki/File:%C3%8Dndios_Isolados_4.jpg?uselang=pt-br>. Acesso em: 
19 mai. 2015.
Figura 1.9 | Conversamos pouco da cultura indígena.
As principais características da filosofia no Brasil
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21
Não há no Brasil um sistema filosófico próprio, e se percebe isso nos próprios 
pensadores à medida que assumem essa carência de cultura nacional. É como 
se aqui a coruja de Minerva alçasse voo ao amanhecer. É como garimpar em um 
passado não filosófico em busca de traços de uma filosofia que ainda está por vir, 
por se formar. Temos uma nação buscando formar o seu zeitgeist (termo alemão 
que significa “espírito da época”, “espírito do tempo”).
Para Cruz Costa, é o historicismo que caracteriza a nossa filosofia, pois é preciso 
recuperar a origem do pensamento filosófico retornando à cultura portuguesa e se 
apercebendo do aspecto negativo que foi a contribuição jesuítica e a Contrarreforma, 
os quais foram obstáculos à filosofia, à medida que “fecham o pensamento português 
ao sopro de renovação que atravessa a Europa. [...] É o humanismo formalista e livresco 
dessa nova escolástica que domina e cristaliza a cultura da metrópole e que estende a 
sua hegemonia à nova colônia” (PRADO JR., 1985, p. 178). Disso resultam o formalismo, 
a retórica, o gramaticismo e a erudição livresca, da primeira metade do século XIX.
Se nos voltarmos, com o mesmo espírito, da literatura para a filosofia 
brasileira, a nossa conclusão será diferente: o seu registro de nascimento 
ainda não foi lavrado. Há obras, é certo, e nenhuma “escola” filosófica, 
provavelmente, deixa de estar representada nas “manifestações 
filosóficas” de nosso país. Sem diminuir o interesse dessas obras – pois há 
notáveis –, cabe assinalar que resenhá-las não implicaria em nenhuma 
informação para o leitor europeu; [...] Aqui também se faz marxismo, 
fenomenologia, existencialismo, positivismo, etc.; mas, quase sempre o 
que se faz é divulgação (Ibidem, p. 176).
Fonte: Disponível em: <http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Templo_Positivista.JPG?uselang=pt-br>. Acesso em: 19 mai. 
2015.
Figura 1.10 | Templo Positivista à Religião da Humanidade, em Porto Alegre. 
As principais características da filosofia no Brasil
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22
Ainda hoje é bastante comum encontrarmos tanto professores quanto alunos 
muito fascinados pela retórica filosófica, por vezes até se esquecendo do seu 
contexto originário e construindo um mundo imaginário pela retórica e pela erística, 
fazendo uma filosofia desarraigada da realidade, como se a filosofia se reduzisse ao 
seu discurso, deixando de ser instrumento de crítica e de decifração da experiência. 
Somente após a Primeira Guerra Mundial a criticidade começa a emergir. Porém, 
jamais devemos nos esquecer de que cabe à filosofia ter olhos para a realidade e 
com ela se preocupar, muito mais do que discursos convincentes. Vale lembrar ainda 
que o pensamento português antes de ser livresco foi realista, sobretudo focado no 
útil e no imediato. 
Na segunda metade do século XIX o Brasil é invadido por um surto de 
positivismo e de modo antagônico o país ficou sendo governado por burgueses 
proprietários de terra e respirando uma atmosfera de mudança e de ideias novas 
(a política era conservadora, mas o pensamento era reformador), até que por volta 
de 1870 a burguesia, formada por militares, médicos e engenheiros, se apossa da 
intelectualidade da nação, mantendo uma forte tendência ao positivismo, surgindo 
em seguida o movimento positivista no Brasil.
Com base nesse panorama, Cruz Costa concluirá que o pensamento filosófico 
brasileiro se fez em torno da dialética entre formalismo e realismo, entre especulação 
e pragmatismo, entre transoceanismo e erradicação da cultura nacional, e entre 
metafísica e crítica social.
Cruz Costa afirmava que a filosofia autêntica deve estar ligada à ação, porém 
aqui houve uma inversão, passando a considerar a carência e o vazio cultural 
como sinal de liberdade diante do peso da tradição. Desse modo, a metafísica 
ficou impossibilitada de florescer no novo continente e uma das razões disso ter 
acontecido pode ter sido o pragmatismo que herdamos da cultura portuguesa ter-se 
transformado numa tendência de filosofia engajada radicada na práxis. Poderia estar 
aí explicada a preocupação de Cruz Costa em fazer uma análise historicista e não 
metafísica do percurso das ideias filosóficas no Brasil. 
Este sistema de oposições define, é claro, não apenas o fio 
condutor da interpretação do passado, mas projeta também uma 
concepção da própria filosofia, seu ideal e seu programa. Nesse 
programa, o trabalho filosófico deve passar necessariamente pela 
análise crítica da realidade nacional e a reflexão não pode jamais 
abandonar o seu referente histórico, sob pena de transformar-se 
em mero galimatias. Necessidade que se revela de maneira mais 
que evidente nas Américas (PRADO JR., 1985, p. 181).
As principais características da filosofia no Brasil
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23
Voltando à questão do historicismo e do psicologismo, afirma Bento Prado Jr. 
que pode ser que a filosofia brasileira esteja, de fato, mais associada à inconsistente 
perspectiva política emergida no golpe militar de 1964. Nessa perspectiva, o Estado 
diz o que os alunos devemler. Preferencialmente textos técnicos, com pouca 
tendência ao desenvolvimento do senso crítico.
1. Das nações europeias que tiveram o seu alvorecer, algumas 
também tiveram o seu declínio. No caso de Portugal isso é bem 
perceptível, embora o seu apogeu tenha sido em um curto espaço 
de tempo. Portugal foi vanguardista de um pensamento avançado 
e de uma tecnologia de ponta, mas por equívocos, principalmente 
na área da educação, viu o seu declínio surgir rapidamente.
Considere:
I – A formação da cultura portuguesa sofreu influência de 
muitas outras raças, dentre elas árabes e judeus, fator que lhe 
proporcionaria tendência à tolerância.
II – O apogeu da cultura portuguesa coincidiu com a descoberta 
do território brasileiro, porém, logo na sequência Portugal entra 
em derrocada e assiste a outras nações europeias se destacando 
no campo do conhecimento.
III – O povo português nunca teve tendência a valorizar o útil e 
o pragmático e por esse motivo a sua cultura sempre serviu de 
reflexo tardio às demais culturas europeias.
IV – A nação portuguesa foi pioneira na valorização do empirismo 
e o resultado disso pode ser percebido em suas escolas de 
navegação, porém, logo retornou à Escolástica e isso representou 
atraso científico.
Estão corretas apenas as alternativas:
a) I, II e III.
b) II, III e IV.
c) I, II e IV.
d) I, III e IV.
As principais características da filosofia no Brasil
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24
2. Sendo o Brasil um país relativamente novo, fica difícil apontar 
a tendência filosófica mais presente na nação, inclusive, porque 
ainda há um ecletismo muito presente em nossa concepção 
de mundo. Além disso, somos herdeiros de diversas correntes 
filosóficas.
Sobre a filosofia no Brasil e o seu ensino, assinale a alternativa 
correta:
a) Houve pouca influência jesuítica no ensino de Filosofia no Brasil, 
pois a pedido do rei de Portugal, os Jesuítas se ocuparam da 
educação em território brasileiro apenas quando Portugal estava 
em um processo de declínio.
b) Por não ter uma estrutura de ensino com condições de pleitear 
sua autonomia, a Filosofia no Brasil se limitou a reproduzir um 
aristotelismo mitigado interpretado segundo a visão de Galileu 
Galilei.
c) A verdadeira filosofia brasileira é aquela que resgata o modo de 
compreender o mundo de acordo com a visão indígena, pois a 
visão crítica de mundo que eles nos legaram é similar à herança 
filosófica dos gregos.
d) O ensino de Filosofia no Brasil teve diversas tendências, indo 
desde a influência dos Jesuítas, passando por um espiritualismo e 
chegando a ser marcado pelas ideias positivistas.
As principais características da filosofia no Brasil
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25
Seção 2
A existência ou não de uma filosofia brasileira
Introduzimos a seção lembrando que não existe um consenso quanto a essa 
questão da existência ou não existência de uma filosofia brasileira. Há até quem 
afirme que nenhuma filosofia é nacional, ou seja, não existe filosofia específica de 
nenhum país do mundo, pois a reflexão filosófica é pertinente ao gênero humano 
como um todo. Discussões à parte, vamos tentar apresentar aqui elementos que te 
permitam formar uma visão sobre essa questão, de modo a poder posicionar-se mais 
criticamente sobre o assunto.
2.1 O panorama da reflexão filosófica no Brasil
Até por questões políticas e pedagógicas em nosso país, a filosofia deixou de 
ser ensinada nas escolas brasileiras, e aos poucos está retornando. E nesse retorno, 
por vezes, percebemos algumas confusões. Há quem acredite que filosofar é ter 
um pensamento qualquer sobre qualquer coisa. Isso não é filosofar, isso é senso 
comum; é opinião (doxa para os gregos). Creio ser emblemática para essa questão 
a frase de Bernard de Chartres, filósofo medieval, falecido próximo ao ano 1130, o 
qual dizia que “vemos mais longe porque estamos sobre os ombros de gigantes”, 
ou seja, para filosofar precisamos nos valer daquilo que já foi elaborado por grandes 
pensadores.
Mas não é só isso, pois não podemos apenas reproduzir o que os outros já 
pensaram, precisamos também refletir acerca da nossa realidade, como já foi dito, 
valendo-se da contribuição, do legado dos pensamentos que já se encontram 
cristalizados. Pode ser fatal para um pensamento filosófico genuíno a reprodução 
acrítica de outras realidades distantes da sua. É como reproduzir um Natal com 
pinheirinho e neve artificial. O Natal brasileiro é quente, com praia, piscina, cerveja, 
churrasco, música, alegria e muita festa. O Natal acima do equador é de frio e 
recolhimento. Mas ao invés de exportarmos o nosso Natal, nós tendemos a importar 
o Natal deles. 
Guardadas as proporções, fazemos a mesma coisa com a filosofia. Somos um 
povo tolerante, acolhedor e alegre. Por trás de tudo isso existe uma filosofia. Poderia 
ser Filosofia, mas se limita a ser apenas filosofia. A Filosofia, com efe maiúsculo, 
As principais características da filosofia no Brasil
U1
26
equipara-se à Ciência e à Religião. A filosofia, com efe minúsculo, são filosofias de 
vida; são subjetivas, circunscritas e limitadas. Segundo Tobias Barreto (1839-1889), 
“não há domínio algum da atividade intelectual em que o espírito brasileiro se mostre 
tão acanhado, tão frívolo e infecundo como no domínio filosófico”.
Voltamos à questão já colocada: existe filosofia 
no Brasil? Cruz Costa, formado na primeira turma 
de Filosofia da USP, defende que não existe uma 
filosofia “original”. É preciso determinar a que tipo de 
filosofia nos referimos, se no plural ou no singular. 
O primeiro problema a resolver é se existe filosofia 
nacional; segundo: a questão da originalidade 
da filosofia, e terceiro, o que se entende por esta 
filosofia. 
Antes de ser criada a USP, foi criada a Missão 
Francesa e a ela foi outorgada a tarefa dessa criação. 
Por intermédio dela vieram para cá diversos professores. No final do ano de 1934 
veio Jean Maugué (1904-1990), e por aqui ficou até 1945. Em um dos seus textos, 
intitulado O ensino da filosofia: suas diretrizes, Jean Maugué aborda o problema da 
filosofia no Brasil e afirma que no tocante à sua originalidade esse problema pode 
ser colocado de duas formas: 1 – Existe filosofia no Brasil? Se existe 2 – Qual o seu 
sentido? 
O referido texto estava assim estruturado:
I – Considerações gerais sobre o ensino de filosofia, o qual, em suma, trata das 
condições do ensino de filosofia no Brasil de acordo com a afirmação kantiana 
de que “a filosofia não se ensina, ensina-se a filosofar”. Nele fica ressaltado que a 
filosofia não tem um corpo doutrinal unitário e axiomático desvinculado de sua 
história, assim como as exatas. O ensino da filosofia depende de quem a ensina, 
O nosso país sempre teve como marca importar, ou copiar, 
aquilo que se produz nos países do primeiro mundo, com 
alguns pequenos atrasos no tempo, ou seja, aqui não temos 
o costume de produzir, mas apenas de reproduzir. Isso tem 
algum lado positivo? É característica inerente ao nosso modo 
de ser, ou um dia não mais agiremos desse modo? Isso é sinal 
de “esperteza” ou de atraso?
Fonte: Disponível em: <http://commons.
wikimedia.org/wiki/Category:Formulas_in_
physics>. Acesso em: 19 mai. 2015.
Figura 1.11 | Não se ensina 
filosofia do mesmo modo que 
as exatas. 
As principais características da filosofia no Brasil
U1
27
a filosofia é o filósofo. As ciências particulares 
têm um movimento de síntese, já a filosofia 
procura captar a unidade, ou a inteligência do 
conhecimento produzido fragmentariamente 
pelos vários domínios da ciência. A filosofia é 
bastante humilde ao vir depois, pressupondo 
outros conhecimentos. Ela depende da produção 
do conhecimento de outras áreas. E ela é bastante 
orgulhosa por pretender ser o conhecimento que 
mais se aproxima da verdade total. Por isso o 
ensino depende muito do professor de filosofia.O filósofo é, ele mesmo, uma cátedra de filosofia. 
Não se pode ensinar filosofia como as exatas. 
Devido a isso, seu corpo axiomático compreende 
outras esferas do saber e não existe um conteúdo 
específico para ser ensinado em filosofia. 
II – Condições para o ensino de filosofia: 1ª) “O 
ensino da filosofia não pode ser anterior à aquisição 
da cultura” (ciências, artes, letras, etc.), mas deve vir depois ou concomitante. 2ª) A 
filosofia deve viver no presente e ter um caráter concreto. Não é corajosamente 
filósofo aquele que cedo ou tarde não manifeste sua opinião sobre as questões 
atuais. Recordemo-nos de Platão ou Descartes, os quais trataram de questões 
concretas de suas épocas. Partiram do concreto. 3ª) O ensino de filosofia deverá 
ser, pois, principalmente, histórico, pessoal e íntimo. Os prolegômenos da filosofia 
contemporânea são os acontecimentos históricos. Retomam-se os clássicos para 
ilustrar o presente. Trai-se a filosofia quando não se remete aos filósofos. Maugué 
ressaltava a necessidade de se aprender filosofia lendo os clássicos e não somente 
os manuais.
III – Traços ideológicos que afetam o ensino da filosofia no Brasil. 1º) Julgar a 
filosofia pela novidade. Claude Lévi-Strauss (1908-2009) diz, a partir do contato com 
os estudantes, que eles queriam tudo saber, mas queriam reter só as teorias mais 
recentes. Não liam as obras originais, tinham entusiasmo só pelo novo. As ideias 
novas são acolhidas no Brasil com mais entusiasmo que nos países velhos. Tal 
como os astros são referências para a navegação, os autores clássicos são para se 
conhecer o grau de conhecimento filosófico. São pontos fixos. Ao orientar-se pelas 
grandes obras filosóficas e não só pela novidade, se desperta um senso histórico e, 
ao trazê-los para a atualidade, se estabelece um vínculo com a realidade presente. 
2º) Julgar a filosofia por seu aspecto prático/utilitário. O espírito tem pouco a ganhar 
quando se volta para a utilidade ou o sentido prático das coisas. É no repouso da 
reflexão, e aí somente, que o espírito se encontra. Para Jean Maugué é só através da 
reflexão que o estudante de Filosofia adquirirá segurança.
Fonte: Disponível em: <http://commons.
wikimedia.org/wiki/File:USP-Bras%C3%A3o.
jpg?uselang=pt-br>. Acesso em: 19 mai. 2015.
Figura 1.2 | No Brasil, a filosofia 
se fortaleceu pela USP. 
As principais características da filosofia no Brasil
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28
Fonte: Disponível em: <http://commons.wikimedia.org/wiki/File:NGC2207%2BIC2163.jpg?uselang=pt-br>. Acesso em: 19 mai. 
2015.
Figura 1.13 | O mundo segue uma ordem. 
Para Paulo Eduardo Arantes (1942-), esse texto de Jean Maugué pode ser 
considerado certidão de nascimento da filosofia no Brasil, ou a fundação do edifício 
filosófico brasileiro, o qual se consolidou na década de 50 com os estruturalistas 
Granjet e Guéroult. Segundo Arantes, existe sim filosofia no Brasil, mas não se trata 
de uma filosofia totalmente original, antes, trata-se de uma filosofia europeia de 
origem francesa. O segundo capítulo do seu livro Um Departamento francês de 
ultramar (1994) intitula-se Certidão de nascimento, e nesse capítulo Paulo E. Arantes 
busca fazer um resgate do nascimento da filosofia em solo brasileiro. 
O nó para o desenvolvimento das ideias de Maugué teria sido a nossa cultura fraca 
e débil, segundo Paulo Eduardo Arantes. Para György Lukács (1885-1971) e Theodor 
Adorno (1903-1969), a filosofia parte de uma cultura estabelecida. O trabalho da 
filosofia é ordenar aquilo que já está estabelecido. Por isto o trabalho de Maugué 
é ensaísta, ou seja, depende, pressupõe outros conhecimentos independentes da 
filosofia. A forma ensaísta não prospera no nosso contexto por carências de dados 
de outras áreas culturais e científicas, mas aqui, infelizmente, vivemos para atender 
às necessidades imediatas, da mão para a boca. 
Contudo, temos duas maneiras de interpretar Maugué: essa de Paulo Eduardo 
Arantes e outra de Marcos Nobre. Para o primeiro, não houve relação entre filosofia 
e as demais áreas (críticas), e para o segundo houve, sim, filosofia neste diálogo 
interdisciplinar. Para Marcos Nobre, a filosofia no Brasil aconteceu por um movimento 
mútuo e simultâneo: uma linha histórico-filosófica e outra discutindo os problemas 
da filosofia interdisciplinarmente, à luz das artes, ciências e cultura.
A filosofia brasileira, nesse sentido, transparece no conjunto de publicações 
As principais características da filosofia no Brasil
U1
29
filosóficas sobre determinados temas. Assim, a filosofia brasileira não é brasileira, mas 
importada, como a filosofia americana é importada da Alemanha. A nossa filosofia é 
técnica, acadêmica e se reduz à USP. Não estabelece relação com a cultura. Faz-se 
separada do contexto em que se encontra.
Outra mente importante nesse debate é Victor Goldschimidt, o qual tem a 
pretensão de dar estatuto de ciência à história da filosofia. Isto já vem do final do 
século XIX com a tendência, por parte da história, de ser considerada disciplina 
científica. Com isso ela acaba ficando reclusa à academia, separando-se das esferas 
políticas, sociais, etc. Goldschimidt propõe maneiras de interpretar a filosofia e elevar 
a história da filosofia ao status de ciência (com objetividade). A história da filosofia 
é essencialmente filosofia e vem sendo interpretada de duas maneiras: ou pelo 
método dogmático, ou pelo método genético.
Segundo Goldschimidt, tanto o método dogmático quanto o genético partem 
dos dogmatas, de um conjunto de verdades. O primeiro procura explicar este 
conjunto segundo a intenção do autor, aplicando-lhe críticas e entendendo que 
através dessas críticas se chegaria à verdade, a qual poderia ser oposta àquela original 
depois de passar por uma purificação num tempo lógico, resgatando a intenção do 
autor, e suprimindo o tempo.
O segundo método, o genético, também parte de um conjunto de verdades 
(dogmatas), porém procura explicar o sistema a partir de suas causas, seus sintomas, 
fazer sua etiologia. Aqui se considera o tempo na interpretação, ao contrário do 
primeiro. Assim não se segue a intenção do autor, mas se vai além dela.
Para Goldschimidt, nenhum dos métodos é adequado para interpretar a filosofia, 
e então ele propõe o método da progressão (método estrutural) do tempo lógico. 
Ao se considerar a progressão (não se abrevia os movimentos da obra), elimina-se 
o enquadramento de contradição dentro de um sistema filosófico. Há uma unidade 
entre forma e conteúdo, ao que ele chama de explicitação do discurso. 
Descreve-se, encontra-se o esquema, a estrutura da obra e percebem-se nela os 
passos dados pelo autor e se refaz estes movimentos internos. As verdades não são 
dadas em bloco, mas são dadas sucessivamente, obedecendo a um tempo lógico. 
Estão concatenadas. O intérprete deve se colocar como um discípulo fiel do autor. 
Não se busca julgar o autor, mas compreendê-lo.
A contribuição de Cruz Costa sustenta que a erudição é conhecimento 
teórico, porém desvinculado da vida, erudição pseudofilosófica. O modelo erudito 
predominava em Portugal e veio para o Brasil, enquanto o resto da Europa já buscava 
o modelo científico. As ciências naturais não se desenvolveram em Portugal. A 
cultura era livresca, era cultura de fachada, conforme já assinalamos. 
Cruz Costa mostra uma antinomia: herdamos dos portugueses (1) o modelo 
As principais características da filosofia no Brasil
U1
30
erudito (e a filosofia dos Jesuítas teve este modelo como base), sendo o outro polo 
da antinomia também uma herança de outro traço português, (2) uma concepção 
de vida. Não há vínculo entre teoria e vida, é o chamado espírito prático, imediatismo, 
simbolizado no aventureiro que se lança às descobertas.
A colonização não visava ocupar a 
terra, mas explorá-la. Cruz Costa se baseia 
no historiador português Joaquim de 
Carvalhopara afirmar suas ideias. Até a 
religião católica no Brasil acabou adquirindo 
conotação pragmática, com os pagadores 
de promessas, por exemplo. No século XVII 
passamos da influência portuguesa para a 
influência francesa. Isto, porém, não mudou 
a dimensão prática, a filosofia francesa 
tinha a política como dimensão prática: 
emancipação política. A dependência 
francesa cedeu lugar à dependência inglesa 
e logo após à americana. Cruz Costa tem 
uma tese que superaria esta antinomia. 
Cruz Costa afirma que no Brasil não 
existem filósofos, mas filosofantes. Para 
ele, quando se constitui um país, o espírito 
teórico não tem tanto valor quanto o tem o 
espírito prático, propiciando infraestrutura: 
estradas, indústrias, portos, etc. Ele cita Clóvis Beviláqua, que afirma que se um dia a 
filosofia nascer no Brasil, não nascerá da metafísica, mas da “terra-terra” (do aspecto 
prático). Para Cruz Costa seria possível uma filosofia no Brasil desde que se unisse 
teoria e prática. 
Segundo Bento Prado Jr., a concepção de Cruz Costa sobre história das ideias 
é muito positiva e mostra que se estabeleceu relação entre a elite intelectual e as 
ideias, o saber erudito. Para Bento Prado, Cruz Costa era historicista. Em 1968 ele 
escreveu um artigo onde se autodenominava Estruturaloide, ele afirma que falar em 
filosofia no Brasil fere o princípio de universalidade. A universalidade é implícita às 
ideias, pois estas não deveriam refletir a particularidade, a especificidade de uma 
nação. 
Em outro texto, de 1982, ele diz que o texto de 1968 (crítica a Cruz Costa) 
mostra que ele era um idealista, haja vista que defender a existência de filosofias 
nacionais postula um princípio de psicologismo (alma nacional, caráter da nação) 
e historicismo (buscar no passado elementos que fundamentem o modelo atual 
e projetem o futuro). Outras disciplinas não mostram isto, não há matemáticas 
Fonte: Disponível em: <http://commons.wikimedia.
org/wiki/File:AnEruditeResearcher.jpg?uselang=pt-
br>. Acesso em: 19 mai. 2015.
Figura 1.14 | A nossa marca seria a 
erudição ou a pseudoerudição? 
As principais características da filosofia no Brasil
U1
31
brasileiras, francesas, etc. Contudo, Bento ainda mantém a acusação de que Cruz 
Costa recai num historicismo quando busca explicar o presente com base no 
passado e quando afirma o caráter prático do brasileiro. 
Outra crítica: o modelo historicista requer linearidade (reproduzimos um 
modelo passado e continuaremos produzindo), não podemos ver a história como 
predeterminada a seguir um caminho traçado, ela é passível de imprevistos, 
contingências e transitoriedades. Cruz Costa acredita que não havia um consumo 
nacional daquilo que se produzia aqui e para ele essa defasagem continuaria, pois 
não haveria público leitor da produção nacional. Mas Bento Prado diz que houve 
uma mudança e passou-se a se consumir (ler) o que se produz. 
O modelo de história social demonstrou que surgiu um mercado consumidor 
para a produção teórica e colocou em xeque o desprezo pelas teorias e o apego ao 
espírito prático. Paulo Eduardo Arantes diz que a filosofia do Brasil era importada da 
França, Cruz Costa diz que não há filosofia brasileira, mas há possibilidade. 
O terceiro a se envolver nesse debate será Antônio Paim (1927-), o qual afirma 
categoricamente que há uma filosofia com características brasileiras. Ele era marxista, 
foi estudar na extinta União das Repúblicas Socialistas Soviéticas e se tornou liberal 
e antimarxista. Uma das referências de Antônio Paim são as filosofias nacionais, e 
nesse sentido ele se esforçará para mostrar a fundamentação destas filosofias. 
A princípio parece que as filosofias nacionais são uma verdade inquestionável, 
mas mais adiante ele diz que é uma hipótese e que esta está sujeita à refutação e 
às críticas. Para ele, as filosofias nacionais poderiam ser justificadas, primeiramente 
dando-se a ênfase na linguagem, pois elas se caracterizam por serem expressas na 
língua, inclusive isso surge em decorrência da formação dos estados nacionais (a 
ciência torna-se popular, sai da elite e chega ao povo). 
Ele lembra que Hegel atribui a Lutero a unificação da língua alemã e futuramente 
a unificação nacional, pois contribuiu para a identificação da nação. Segundo Hegel, 
uma ciência só pertence ao povo quando é expressa em sua própria língua, sobretudo 
a filosofia. Heidegger afirmou que só se pode filosofar em grego ou alemão. A língua 
nacional será o meio mais próprio para a expressão de uma filosofia. Segundo Paim, 
o português é sim uma língua adequada à filosofia. Cada língua permite um tipo 
de representação do mundo. Houve quebra da unidade do latim, enquanto língua 
destinada à filosofia. Rompendo-se com o latim, a língua oficial da teologia, rompe-
se com a autoridade da Igreja.
Um segundo aspecto que aponta para a possibilidade de uma filosofia nacional, 
segundo Antônio Paim, seria a peculiaridade da tradição cultural. Assim como em 
relação à língua ele se apoia em Hegel, agora também ele cita Hegel por enaltecer a 
questão das culturas nacionais. Dá o exemplo da Inglaterra, que se preocupou com 
a filosofia do direito e a desenvolveu. 
As principais características da filosofia no Brasil
U1
32
Portanto, Paim defende que há filosofias nacionais e há filosofia brasileira, isto é 
demonstrado pela tradição cultural (peculiaridade cultural). A nossa filosofia estaria 
voltada para o problema do homem: liberdade, consciência e totalidade (tendendo 
para o aspecto transcendental). 
Quanto à questão de uma filosofia nacional ferir a universalidade da filosofia, 
Paim utiliza Miguel Reale (1910-2006) para dizer que nossa filosofia se faz num 
modelo dialético de complementaridade. Miguel Reale afirma que as civilizações 
se distinguem por uma questão de valores e, nesse sentido, o valor subsumido pela 
tradição cultural brasileira seria o positivismo. 
Teria Pombal (1699-1782) implantado um modelo cientificista no Brasil rompendo 
com o modelo jesuítico, e esse modelo cientificista pombalino teria a sua continuidade 
no positivismo, o qual foi introduzido em nosso território pelo brasileiro Benjamin 
Constant (1836-1891). O positivismo brasileiro tem algumas especificidades: não 
chegou ao exército e preservou o Estado da questão da educação. Joaquim da Fiori 
(1135-1202), português do século XII, fala que a humanidade se divide em idade do 
Pai, do Filho e do Espírito Santo, o que depois em Augusto Comte (1798-1857) se 
torna a lei dos três estados, e esse caráter tecnicista do ensino oriundo de Comte 
permaneceu no Brasil (subsistiram resquícios) tanto em Getúlio Vargas (1882-1954) 
quanto nos militares.
Cruz Costa fará uma crítica a essa visão, defendendo que o positivismo só existiu 
no Brasil na passagem para o império e ali mesmo acabou. É bom lembrar que 
Bento Prado criticou Cruz Costa por afirmar o caráter prático da filosofia brasileira 
e a linearidade da história, traços típicos do positivismo. Se bem que a peculiaridade 
pode ferir a universalidade da filosofia.
Para Marcos Nobre, além de a filosofia ter se desenvolvido num aspecto 
historicista, também teve um caráter interdisciplinar, em parceria com as ciências 
sociais e a literatura, por exemplo, servindo de instrumento para interpretação de 
ideias. Porém, esse modelo interdisciplinar (consórcio com outras ideias) não teve 
continuidade.
Oswaldo Porchat Pereira (1933-) foi orientando do estruturalista Victor 
Goldschimidt (1914-1981) e o defendeu por 30 anos, ele pergunta se a pesquisa deve 
ser feita em história da filosofia ou em filosofia. É preciso deixar preconceitos de 
lado para se entender o pensador. O modelo estruturalista é ótimo quando se quer 
formar quem conheça história da filosofia, mas para formar quem busca a filosofia 
em si mesma, talvez não seja um modelo tão eficiente. É bom não esquecerque os 
antigos fizeram filosofia a partir das discussões, eles não iniciaram diretamente no 
estudo da história da filosofia. 
Prezada(o) estudante, pode parecer que o debate sobre a existência ou não de 
uma filosofia genuinamente brasileira tenha ficado vago, ou inconcluso. Não se 
As principais características da filosofia no Brasil
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assuste, é assim mesmo. Inclusive, foi por isso que alertei que esse era um assunto 
difícil de ser abordado e uma pergunta difícil de ser respondida. Nem sempre temos 
aquiescência acerca das conclusões desse tema, o que, em si, também já passa a 
ser um fator positivo. O mais importante é que você tenha se inteirado do debate 
e consiga perceber as suas nuances e as principais colaborações daqueles que se 
propuseram a abordar essa questão.
O Nascimento da Filosofia
A filosofia só ganha nacionalidade brasileira a partir do século XIX, mediante 
um processo simultâneo de assimilação da filosofia moderna e emancipação 
do próprio uso teórico da razão. As primeiras evidências desse processo 
histórico começam no final do século XVIII, quando o poeta Sousa Caldas 
publica uma Ode ao Homem Selvagem (1784), sob a influência da ideia de 
homem natural em Rousseau. Em 1800, o bispo Azeredo Coutinho funda o 
Seminário de Olinda, onde foram introduzidos estudos de física experimental, 
história natural e química. Em 1808, a corte portuguesa se transfere de Lisboa 
para o Rio de Janeiro em fuga da invasão napoleônica; nesse mesmo ano, 
Hipólito da Costa começa a publicar, em Londres, o periódico Correio 
Brasiliense (1808-1822), que passou a divulgar as ideias liberais. Nos anos de 
1813 e 1814 são publicados, no Rio de Janeiro, 18 números de O Patriota, 
periódico dedicado exclusivamente à difusão do conhecimento científico no 
Brasil. De 1813 a 1816, Silvestre Pinheiro Ferreira organiza e oferece no Rio 
de Janeiro, onde se encontra como membro da corte portuguesa, um curso 
ao estilo do empirismo de Verney, as Preleções filosóficas, nas quais ele se 
serve do sensualismo de Condillac para explicar a natureza do discurso, 
da linguagem e das ideias. Em 1816, a mudança de um grupo contratado 
de artistas acadêmicos franceses para a corte do Rio de Janeiro causará, 
Sobre a filosofia brasileira leia:
PAIM, Antônio. Os intérpretes da filosofia brasileira. Londrina: Eduel, 
1999. (Disponível em: http://www.institutodehumanidades.com.br/
arquivos/Os%20Interpretes%20da%20Filosofia%20Brasileira.pdf)
Leia também o artigo disponível em: http://criticanarede.com/lds_
paim.html
As principais características da filosofia no Brasil
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34
nas décadas seguintes, profundo impacto na vida cultural brasileira. Dez 
anos após a declaração da Independência (1822), e uma vez consolidada 
a autonomia do país, Frei Francisco do Monte Alverne, famoso orador e 
estudioso da literatura francesa, encontra-se a lecionar filosofia em seminário 
no Rio de Janeiro, onde estimulou o jovem Gonçalves de Magalhães, recém-
formado em medicina, a estudar o romantismo de Chateaubriand e o 
espiritualismo de Victor Cousin, como também a combater o sensualismo 
introduzido pelo magistério de Silvestre Pinheiro Ferreira. [...] Nessa fase 
inicial, destacamos o nome de Gonçalves de Magalhães por ter sido ele 
quem concebeu e implementou um projeto de mudança de método na 
maneira de pensar. Estabelecido em Paris (1833-1837), ele aprofundou seus 
conhecimentos de ciências da natureza e humanas na Sorbonne, estudou o 
espiritualismo francês, frequentou as aulas de Théodore Jouffroy, vivenciou 
o romantismo, e editou com os amigos Porto-Alegre e Torres Homem a 
Niterói, Revista Brasiliense (1836), onde publicou o Ensaio sobre a história 
da literatura do Brasil, no qual ele discorre sobre as condições da cultura 
brasileira e a necessidade de reforma da literatura, denunciando a doutrina 
aristotélica dos estilos, então decadente, pela qual se instituíra a imitação 
como fundamento de uma arte retórica de caráter supraindividual, anônimo 
e coletivo. Gonçalves de Magalhães inaugurou o romantismo brasileiro 
(Suspiros poéticos e saudades, poemas, 1836) e promoveu a reabilitação do 
indígena brasileiro como parte da população nacional. Seus principais textos 
filosóficos são: Filosofia da religião (1836), Fatos do espírito humano (1858) e 
A alma e o cérebro (1876). (CERQUEIRA, 2011, p. 176)
(Nota: Luiz Alberto Cerqueira, autor deste texto, é coordenador do 
Centro de Filosofia Brasileira do Programa de Pós-graduação em Filosofia da 
Universidade Federal do Rio de Janeiro).
Fonte: Disponível em: <http://textosdefilosofiabrasileira.blogspot.com.
br/> Acesso em: 16 fev. 2015
1. O debate acerca da possibilidade ou não da existência 
de uma filosofia genuinamente brasileira parece não ter 
conseguido chegar a uma resposta conclusiva e nem mesmo 
As principais características da filosofia no Brasil
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2. Para Cruz Costa, o modelo erudito que predominava em 
Portugal veio parar no Brasil. Enquanto o resto da Europa 
já buscava o modelo científico, as ciências naturais tinham 
dificuldades de se desenvolver em Portugal. Lá, a cultura era 
livresca, era cultura de fachada, uma cultura de casca. 
Considere:
I – Herdamos dos portugueses um modelo erudito (ou 
pseudoerudito), o qual era fortemente praticado e defendido 
pelos Jesuítas.
II – Legaram-nos, os portugueses, uma concepção de 
vida onde teoria e vida não têm vínculo, simbolizada no 
espírito prático e imediatista do aventureiro que se lança às 
descobertas.
III – Explorar a nossa terra era o verdadeiro propósito dos 
responder se tal questão, de fato, se faz tão relevante para o 
campo reflexivo, haja vista que nas ciências exatas perdura 
o universalismo e entende-se que não poderia ser diferente.
Sobre o tema exposto, assinale a alternativa correta:
a) Raimundo Farias Brito defende que esse tema é insignificante 
e desde que os temas filosóficos sejam abordados em nossa 
língua vernácula, temos sim a existência de uma filosofia 
brasileira.
b) Segundo Antônio Paim, não se pode fazer filosofia a 
não ser na língua grega ou alemã, pois os principais temas 
relacionados à reflexão filosófica foram amplamente 
abordados unicamente por filósofos destes dois países.
c) Para Tobias Barreto, em nenhum campo da atividade 
intelectual o espírito brasileiro se mostra tão acanhado, tão 
frívolo e infecundo como no campo filosófico, pois as nossas 
construções filosóficas estão muito aquém do que deveriam, 
ou poderiam, estar.
d) Victor Goldschimidt se autodenominou Estruturaloide, e 
defendeu que falar em filosofia no Brasil fere o princípio de 
universalidade, a qual é implícita às ideias, pois estas não deveriam 
refletir a particularidade e a especificidade de uma nação.
As principais características da filosofia no Brasil
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aventureiros que aqui chegaram, e não simplesmente 
ocupá-la como normalmente se afirma.
IV – Construir uma nação livre, soberana e altaneira, na 
vanguarda da ciência, sempre foi o propósito que Portugal 
acalentou com relação às terras brasileiras.
Estão corretas apenas as afirmativas:
a) I, II e III.
b) II, III e IV.
c) I, II e IV.
d) I, III e IV.
As principais características da filosofia no Brasil
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37
Seção 3
Características da filosofia no Brasil
Como introdução ao assunto, informamos que pretendemos, nessa seção, 
refletir sobre o modo como alguns valores passaram a integrar um rol de atividades 
tipicamente brasileiras, aclarando, tanto quanto possível, a sua gênese e posterior 
desdobramento e solidificação como constitutivo do caráter genuinamente nacional.
3.1 Traços distintivos do povo brasileiro
É notório que o povo brasileiro tem traços muito típicos que o distinguem da 
grande parte de outros povos, podendo-se elencar entre eles, de modo positivo, 
o fato de sermos um povo acolhedor,tolerante, trabalhador, alegre, solidário, 
complacente, amigável, empático e despojado. 
É claro que qualquer uma dessas características levada ao seu extremo pode 
passar a ser uma característica negativa. Além disso, também temos traços que 
devem ser corrigidos, ou seja, podem ser classificados como negativos. Entre estes 
podemos destacar pouca preocupação com o futuro (imediatismo), tendência de 
buscar o próprio bem levando vantagens, por vezes, de modo desonesto, excessiva 
desigualdade social, uma classe política descompromissada com o bem comum e 
muito próxima de quadrilhas especializadas e do crime organizado, superficialidade 
reflexiva e reprodução de ideias externas sem muito critério (deixar-se influenciar), 
entre outros.
Certamente todos os povos têm pontos positivos e negativos, sendo bastante 
importante a consciência disso, de modo a possibilitar correções ou reforços, 
dependendo da situação. Nesse intento, se fazem necessários o conhecimento 
e o estudo da nossa cultura e dos valores subjacentes às nossas visões éticas, 
principalmente. Mas, por outro lado, há que se ter em mente que somos uma nação 
relativamente recente e, talvez, ainda em busca de uma identidade cultural. 
Quando comparados com países com tendências nacionalistas, parece que o 
povo brasileiro ainda precisa elevar sua autoestima, pois é comum, nós brasileiros, 
acharmos que o Brasil só tem pontos negativos e é o país com menos valor desse 
planeta. Habituamo-nos a falar mal do nosso país, o que, infelizmente, é lastimável. 
Temos de ser críticos, sim, mas também patriotas.
As principais características da filosofia no Brasil
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Como dissemos, todas as nações têm seus pontos positivos e negativos, mas 
muitas aumentam os pontos positivos, enquanto o Brasil, ao invés disso, aumenta 
os negativos. Alguns exemplos frívolos: existem países que não têm o hábito de 
enrolar o sanduíche em guardanapo, ou de lavar as mãos antes de comer. Padeiros, 
feirantes e açougueiros recebem o dinheiro com a mesma mão com que entregam 
o pão ou a carne. Vendem batatas fritas enroladas em folhas de jornal e, ainda assim, 
têm ótima freguesia. 
Em alguns restaurantes de países europeus, se você pedir uma mesa para não 
fumante, o garçom vai rir de você, pois não existe; lá eles fumam até no elevador. 
Em algumas cidades e até mesmo em capitais, onde se espera excelência no 
atendimento, existem garçons conhecidos por seu mau humor e grosseria, enquanto 
no Brasil qualquer garçom de botequim atende com tanta educação e fineza que 
poderia ir para lá dar aulas de como conquistar o cliente.
Fonte: Disponível em: <http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Carnaval_2014_-_Rio_de_Janeiro_(12974238474).
jpg?uselang=pt-br>. Acesso em: 19 mai. 2015.
Figura 1.15 | A alegria é uma das nossas características. 
E essa preocupação em atender bem vem se estendendo às empresas. 
Aproximadamente sete mil empresas brasileiras têm certificado de qualidade ISO 
9000, maior número entre os países em desenvolvimento. Também podemos nos 
orgulhar em dizer que o mercado editorial de livros é maior do que o da Itália, por 
exemplo, com mais de 50 mil títulos novos a cada ano. 
As principais características da filosofia no Brasil
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Se não tiver a ver com a Filosofia em si, ao menos deve ter a ver com filosofias de vida, 
o que já poderia ser o início de uma reflexão sobre a nossa realidade. Para tanto, teríamos 
de nos aprofundar mais de modo crítico-reflexivo e consciente, o que não é o nosso forte, 
infelizmente. Teríamos de conhecer e entender como aconteceu o desdobrar da Filosofia 
aqui no Brasil, bem como as principais correntes que aqui se estabeleceram.
O Brasil tem o mais moderno sistema bancário do planeta. As nossas agências 
de publicidade ganham os melhores e maiores prêmios mundiais. Mais de 70% dos 
brasileiros, pobres e ricos, dedicam um pouco do seu tempo em trabalhos voluntários. 
Somos a terceira maior democracia do mundo. 
O povo brasileiro é um povo hospitaleiro, que se esforça para falar a língua dos 
turistas, gesticula e não mede esforços para atendê-los bem, enquanto europeus deixam 
turistas falando sozinho nas calçadas quando estes tentam pedir informações. A alegria 
é a nossa marca registrada, somos batalhadores e enfrentamos a própria desgraça rindo 
e sambando. Por fim, vamos lembrar que os brasileiros tomam banho todos os dias, às 
vezes mais de uma vez por dia, enquanto os europeus tomam banho, em média, uma 
vez por semana. Apesar disso tudo, parece que o nosso nacionalismo só aflora por 
ocasião da copa do mundo de futebol. Mas isso tudo tem a ver com Filosofia?
Fonte: Disponível em: <http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Padre_vaz.JPG?uselang=pt-br>. Acesso em: 19 mai. 2015.
Figura 1.16 | O ensino de filosofia no Brasil esteve muito atrelado aos clérigos. 
As principais características da filosofia no Brasil
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A filosofia no Brasil sempre esteve muito vinculada aos clérigos, desde os Jesuítas até 
o seu ressurgir na década de 1990, depois de ter desaparecido por conta da influência 
da educação tecnicista e da tendência da ditadura militar de suprimir estudos que 
despertassem a criticidade. Mas para compreender isso de modo mais aprofundado é 
necessário retroagir um pouco mais e, para isso, tomaremos por base a obra de Luiz 
Alberto Cerqueira, constante nas referências desse trabalho.
Sob o espírito de um povo subjaz uma compreensão de 
mundo que pode ser considerada uma filosofia, embora possa, 
muitas vezes, carecer de criticidade e profundidade. Nesse 
sentido, poderíamos entender que o povo brasileiro ainda não 
possui a reflexão elaborada e estruturada sistematicamente 
conforme reclamam as filosofias mais bem constituídas em 
algumas nações onde ela já se encontra presente há muito 
tempo. Porém, em alguns países, sobretudo do velho mundo, 
não apenas a religiosidade se encontra em baixo, como 
também a filosofia. Diante disso, poderíamos nos questionar: 
teremos uma filosofia brasileira? Precisamos tê-la? O que ela 
agregaria à nossa maneira de ser e de viver? 
Fonte: Disponível em: <http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Abeja_recolectando_nectar.jpg?uselang=pt-br>. Acesso em: 
19 mai. 2015.
Figura 1.17 | Fomos marcados pelo espírito contemplativo.
As principais características da filosofia no Brasil
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Com o advento da modernidade, a razão emancipou-se e se tornou o paradigma 
da racionalidade, enfatizando a questão da liberdade frente às determinações 
religiosas. Já René Descartes (1596-1650) ensinava que a dúvida metódica se 
fundamenta na liberdade que, de modo claro e evidente, se apresenta à consciência 
do sujeito pensante, possibilitando-lhe crer somente naquilo que se pode conhecer 
claramente. Essa tendência filosófica se contrapõe à filosofia praticada pelos Jesuítas, 
estes priorizavam o caráter contemplativo do conhecimento, enquanto os modernos, 
desde Francis Bacon (1561-1626), priorizaram a ciência operativa. 
Deste modo, os modernos entenderão que agir livremente é agir de modo 
indiferente às paixões e vontades. E ainda que Descartes reconheça a liberdade como 
indiferença, ele sustenta que esta indiferença não justifica falta de determinação no 
agir, pois para ele a indiferença deve ser apenas com relação à forma de se conhecer 
o mundo, o qual deve ser efetivado independente dos nossos sentidos. 
O padre iluminista português Luís Antônio Verney (1713-1792) foi quem, sob a 
influência do Iluminismo francês, teve a tarefa de mostrar em seu país a necessidade 
premente de se assimilar essa doutrina cartesiana da liberdade com base nas leis da 
razão, mas sem ter que, necessariamente, abrir mão da lei de Deus. Mas como isso 
veio parar no Brasil?
Depois que o Marquês de Pombal expulsou os Jesuítas do Brasil, em 1759, e, 
consequentemente, ocorreu a supressão da Ratio Studiorum,

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