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FACULDADE PITÁGORAS – CAMPUS GUARAPARI/ES
CURSO DE PSICOLOGIA
KÁTIA REGINA ACCHAR DA CUNHA
BEHAVIORISMO RADICAL
A definição de emoções para o behaviorismo radical
A definição de sentimentos para o behaviorismo radical
A análise behaviorista radical do amor, ansiedade e medo
GUARAPARI/ES
2020
BEHAVIORISMO RADICAL: pontos temáticos em análise
INTRODUÇÃO
Tendo como ponto de partida sua origem no termo inglês behavior – que significa comportamento, o behaviorismo desponta no mundo científico, no final do século XIX e avança no século XX, como teoria e método da Psicologia experimental, e tem por base o estudo investigativo dos comportamentos humanos e dos animais, como respostas a estímulos externos (do meio), cujo objetivo é a previsão e o controle destes, sem fazer recurso à introspecção, ou seja, sem nenhuma referência à consciência.
É radical na medida em que nega ao psiquismo a função de explicar o comportamento, embora não negue a possibilidade de, por meio de uma estrutura de linguagem, estudar eventos encobertos tais como pensamento e as emoções, só acessíveis ao próprio sujeito (JAPIASSÚ, 2008). Assim, opõe-se a qualquer tipo de mentalismo ou de dualismo corpo-alma.
· Aspectos metodológicos que lhe conferem validade científica:
a) tem objeto de estudo próprio: o comportamento dos animais, especialmente do ser homem;
b) método de investigação que consiste essencialmente em observar estímulos e comportamentos;
c) técnicas de controle e previsão do comportamento que influenciam a psicofisiologia e extrair daí as leis que os reúnem, gerando as teorias. 
No campo da educação, teve influência nas técnicas de ensino programado – “A tecnologia de ensino” (SKINNER, 1968). P.ex., a “caixa de Skinner” é um instrumento para se isolar um animal em laboratório para se estudar seu comportamento e realizar experimentos em condições consideradas ideias.
Considerando a complexidade que o behaviorismo radical dispensa ao tratamento da sua terminologia, principalmente no que diz respeito à sinonímia, cujos termos também são comuns e usuais a outras áreas da ciência, porém com interpretações diferenciadas, este estudo destaca alguns deles como ponto focal de análise a partir das seguintes perguntas norteadoras: 
· Como o behaviorismo radical difere sentimentos e emoções?
· Quais são as definições atribuídas ao amor, ansiedade e medo pelo behaviorismo radical?
Mediante o exposto, o objetivo geral desta pesquisa é interpretar as definições atribuídas pelo behaviorismo radical aos seguintes termos - emoções, sentimentos, amor, ansiedade e medo, e tem por objetivo específico ampliar o entendimento de outras áreas do conhecimento científico em relação à referida temática. 
Para a elaboração desta pesquisa descritiva, com enfoque qualitativo, adota-se o procedimento da bibliográfica e da pesquisa documental para embasar a argumentação teórica. 
1. CONTEXTUALIZAÇÃO 
O conhecimento das terminologias abordadas neste estudo parte do entendimento do comportamento e da atitude como temas centrais do behaviorismo radical, principalmente da dissonância de sinonímia a eles atribuída.
É muito comum tratar comportamento e atitude como palavras sinônimas. Entretanto, elas são bem diferentes: a atitude é a ação (o agir, o fazer acontecer); o comportamento é a reação (o reagir, deixar transparecer, revelar sentimentos e emoções). A Química é uma área da ciência que constantemente lida com elementos que agem (agentes) e elementos que reagem (reagentes).
A atitude é a forma de agir de uma pessoa frente a um estímulo, seja este uma pessoa, um objeto, uma ideia ou uma situação. As atitudes de um indivíduo estão diretamente ligadas à sua percepção, sua personalidade, e suas motivações, e influenciam seu comportamento e seus relacionamentos no meio ambiente.
O comportamento define como o indivíduo reage aos estímulos que encontra no ambiente de acordo com seus valores, crenças e experiencias, suas percepções, suas sensações e sentimentos, seu estado emocional, sua personalidade e a visão que tem de si mesma – suas atitudes.
Para Japiassú (2008), Skinner considera que “o comportamento resulta de condicionamentos biológicos (conjunto das reações sensoriais, nervosas, musculares e glandulares) e ambientais analisadas em termos de estímulos ao meio em que se vive.” 
Assim, no ser humano está condensado um universo de elementos intrínsecos e extrínsecos, agentes e reagentes que devem ser distintamente categorizados.
Exemplo elucidativo através do termo necessidade.
Abraham Maslow (apud ROBBINS, 2012, p.38) diz que a necessidade é intrínseca ao indivíduo, é inerente à condição humana, porque existe na delicada textura biológica. Ela não tem origem no meio ambiente e nem é criada por fatores externos. Ele considera que “a necessidade consiste no desbalanceamento físico, biológico, mental, psíquico ou emocional do ser humano”. 
Em contrapartida, é comum as seguintes falas: “as crianças têm necessidade de...”; “o hospital necessita de...”; os colaboradores necessitam de...”. Dá para entender?
É nesta linha que o estudo vai ser interpretado. 
2. ESCLARECIMENTOS CONCEITUAIS QUE DIFERENCIAM SENTIMENTO DE EMOÇÕES NO BEHAVIORISMO RADICAL
Nota-se na língua vernácula que os termos sentimento e emoção se confundem e são dadas como sinônimos uma da outra, o que gera distorção conceitual.
Em Japisssú (2008, p.250), o conceito de sentimento (do lat. sentire: perceber pelos sentidos). [...] 2. Conhecimento imediato (sensação) que não pode ser justificado racionalmente. [...] expressa o behaviorismo radical.
Jan Luiz Leonardi (2007) cometa que tanto o behaviorismo radical quanto a análise do comportamento foram vistos ao longo da história, por desinformação, como um sistema psicológico com filosofia, conceitos, métodos e práticas absolutamente diferentes da proposta original de Skinner.
O autor comenta em sua obra “Sobre o Behaviorismo”, vinte afirmações errôneas acerca da psicologia comportamental, notavelmente a primeira dela é: “o Behaviorismo ignora a consciência, os sentimentos e os estados mentais (SKINNER, 1974/95, p.7), e diz tratar-se de uma confusão conceitual entre o Behaviorismo Metodológico (fundado por John B. Watson, e o Behaviorismo Radical (De B.F. Skinner).
Enquanto Watson propôs estudar somente o comportamento publicamente observável, ignorando a consciência e os sentimentos, por outro lado, Skinner rejeita esta concepção e propõe que todo comportamento, aberto ou encoberto, torna-se objeto de estudo. Assim, até as manifestações corporais correspondentes a um sentimento (diretamente acessíveis apenas pelo organismo que as experiencia) são objeto de investigação.
Matos (2001) diz que 
É importante observar que, embora os sentimentos sejam inacessíveis a observadores externos porque estes não estão em contato com aquele ambiente, isto não significa que os comportamentos encobertos possuam qualquer natureza especial, isto é, eles não são entidades mentais abstratas (MATOS, 2001, apud LEONARDI, 2007).
Os sentimentos são, em certo sentido, a marca distintiva do objeto de estudo do psicólogo e, em especial, do psicólogo clínico, por entender o papel fundamental que os sentimentos exercem no trabalho terapêutico. O acesso aos sentimentos na terapia analítico-comportamental, ocorre através do relato verbal do cliente/paciente para seu terapeuta e de comportamentos públicos não-verbais correlatos aos sentimentos, como, por exemplo, o enrubescimento provocado por um assunto delicado.
Em poucas palavras, discriminar e relatar aquilo que se sente são comportamentos aprendidos na vida em sociedade (SKINNER, 1953/2003; SKINNER, 1974/1995, apud LEONARDI, 2007).
Para Skinner, as reais causas do comportamento provêm das contingências de reforçamento e não dos eventos internos, como os sentimentos. P.ex.: é comum o cliente/paciente dizer para o terapeuta: “bati porque estava com raiva”; chorei poque estava triste”. Na análise comportamental esta noção de causalidade é equivocada, tal como o sentimento costumaser compreendido como causa do comportamento, porque temporalmente ambos estão muito próximos. Para Skinner, a pessoa fica triste e chora ao mesmo tempo, devido a certas contingências de reforçamento (algo aconteceu (SKINNER, 1989/2005, apud LEONARDI, 2007).
Assim, o Behaviorismo Radical e a Análise do Comportamento asseveram que os sentimentos são respostas encobertas que, apesar de não serem publicamente observáveis, são fundamentais para a compreensão do homem. Nas palavras de Skinner, “como as pessoas se sentem é frequentemente tão importante quanto o que elas fazem” (SKINNER, 1989/2005, p.13, apud LEONARDI, 2007).
3. A DEFINIÇÃO DE EMOÇÕES NO BEHAVIORISMO RADICAL
Robbins (2012) define emoções como “sentimentos intensos direcionados a alguém ou a alguma coisa.” São reações a um objeto, não um traço. P.ex.: “feliz com alguma coisa”, “bravo com alguém”, “com medo de algo”.
Para Japiassú (2008), a emoção é 
um estado afetivo brusco e passageiro, de caráter agradável ou desagradável, alegre ou triste e acompanhado de uma reação orgânica confusa de desequilíbrio e de um esforço desordenado para estabelecer o equilíbrio rompido (JAPIASSÚ, 2008, p.83).
Para Kant, a emoção é um sentimento de prazer ou desprazer atual, impedindo o sujeito de chegar à reflexão (KANT, apud JAPIASSÚ, 2008, p.83). 
Para Skinner (1953/1965), as emoções 
são predisposições que alteram a probabilidade de o indivíduo se comportar de determinada maneira em uma dada situação devido às consequências específicas em comum. Ao mesmo tempo em que elas modificam o organismo como um todo, acabam envolvendo também uma grande mudança em todo o seu repertório comportamental (SKINNER, 1953/1965, apud LEONARDI, 2007). 
Nas palavras de Skinner (1953/1965):
Definimos uma emoção (…) como um estado particular de força ou fraqueza de uma ou mais respostas induzidas por qualquer uma dentre uma classe de operações (p.166). (…) O homem ‘raivoso’ mostra uma probabilidade aumentada de lutar, insultar ou de algum modo infligir danos e uma probabilidade diminuída de auxiliar, favorecer, confortar ou amar (p.162) (apud LEONARDI, 2007).
Enquanto muitos autores de outras áreas do conhecimento afirmam que os sentimentos contêm as emoções, na visão behaviorista os sentimentos estão contidos nas emoções, mas não se reduzem a elas. 
Por conseguinte, a identificação das alterações corporais pode ser importante para a caracterização das emoções (Skinner, 1953/1965; Darwich, 2005). E mais, Skinner (1953/1965) explica que:
As respostas reflexas que acompanham muitos desses estados de força não devem ser completamente desprezadas. Elas podem não nos ajudar a refinar nossas distinções, mas adicionam detalhes característicos ao quadro final do efeito de uma dada circunstância emocional (p. 166).
Leonardi (2007) comenta que “o entendimento das emoções e dos sentimentos é essencial para a Psicologia, uma vez que estão envolvidos no comportamento humano complexo e são centrais para a compreensão de uma série de questões clínicas.”
4. ANÁLISE BEHAVIORISTA RADICAL DO AMOR, ANSIEDADE E MEDO
4.1 O amor
Eduardo Alencar (2207) inicia seu texto com a seguinte frase de Skinner (1948): “O que é o Amor se não outro nome para reforçamento positivo?”
Skinner considera que os eventos reforçados podem ser categorizados em dois tipos: I. apresentação de estímulos ou acréscimos de alguma coisa – reforço positivo; II. remoção de alguma coisa contingente à resposta – reforço negativo. Em ambos os casos o efeito do reforço é o mesmo: a probabilidade da resposta será aumentada” (SKINNER, 2003, p. 81).
Historicamente, a filosofia narra as múltiplas facetas do amor desde Platão – amor romântico, idealizado, o amor erótico, sexual, o amor entre amigos, amor a Deus e ao mundo, mas também o indivíduo a si mesmo. Mas, na psicologia comportamental, pode-se dizer que o amor acontece e permanece como resultado do uso do reforçamento positivo. No momento em que deixa de haver reforço positivo (um estímulo adverso) ou ocorre uma punição negativa, começa uma briga.
Souza (2014) diz que a neurociência vem descrevendo sobre as circunstâncias do amor. “Quando uma pessoa se apaixona, há a liberação de “substâncias do amor”, que, é claro, vão influenciar também o comportamento.”
O autor ainda comenta que 
com a gradual diminuição destas substâncias, a paixão diminui. Mas o reforçamento positivo, seja em que razão for, não precisa diminuir. Se não diminui, encontramos os relacionamentos duradouros que, apesar do tempo, continuam tão estimulantes quanto no início (SOUZA, 2014).
4.2 A ansiedade
Segundo Sadock e Sadock (2007, apud SOUZA, 2011) “os transtornos de ansiedade compõem um dos grupos mais comuns de doenças psiquiátricas e produzem morbidade desordenada, uso frequente de serviços de saúde e comprometimento do desempenho em atividades cotidianas.”
A análise do comportamento, baseada nos pressupostos teóricos do behaviorismo radical, descreve o paradigma da ansiedade da seguinte maneira: 
um estímulo sinaliza a apresentação de um estímulo aversivo, e não há comportamento de fuga-esquiva passível, produzindo, na presença do estímulo pré-aversivo, estados corporais e supressão de comportamentos operantes vigentes. O estado corporal sentido sob estas condições, pode ser chamado de ansiedade (GUILHARDI & QUEIROZ, 2001, APUD SOUZA, 2011).
De acordo com os citados autores, “cabe ao terapeuta levar o cliente a compor o paradigma completo da ansiedade em sua vida; identificar como os eventos adquiriram as funções aversivas e porque ele não apresenta um repertório eficaz de fuga-esquiva”.
Ignácio (2004, apud SOUZA, 2011) diz que em 1935 Skinner introduziu o conceito da análise funcional, “que procura entender o comportamento a partir das variáveis que o determinam e das consequências que ele provoca.” A partir do momento em que o indivíduo/cliente for capaz de descrever as contingências em operação, ele terá a possibilidade de alterá-las, substituindo-as por outras mais adequadas.
4.3 O medo
Banaco & Zamignani (2005, apud SOUZA, 2011) dizem a ansiedade apresentada como queixa, é definida como um estado emocional desagradável, acompanhado de desconforto somático, que guarda relação com outra emoção – o medo.
O medo é um estado emocional geralmente relacionado a um evento futuro e, às vezes, é considerado desproporcional a uma ameaça real. 
REFERÊNCIAS
LEONARDI, J. L. (2007). Qual é a importância dos sentimentos na Análise do Comportamento? RedePsi. Disponível em: <http://www.redepsi.com.br/portal>. Acesso em: 26 mar 2020.
MATOS, Maria Amélia. O Behaviorismo Metodológico e suas relações com o mentalismo e o Behaviorismo Radical. In: BANACO, R.A. (org.). Sobre comportamento e cognição, v.1. Santo André: ESETec. Disponível em: <http://www.itcrcampinas.com.br>. Acesso em: 25 mar 2020.
SOUZA, Felipe de. O amor para a psicologia comportamental – reforço positivo. Postado em 3 set. 2014. Disponível em: <https://www.psicologiamsn.com>. Acesso em: 27 mar 2020.
SOUZA, Juliana Rominger de. A interpretação behaviorista radical dos transtornos de ansiedade. Postado em 2011. Disponível em: <https://www.psicologia.pt/artigos>. Acesso em: 26 mar 2020.

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