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Fisiologia Sistema Reprodutor Masculino INTRODUÇÃO As funções reprodutoras masculinas podem ser divididas em três subdivisões: (1) espermatogênese (formação de espermatogênese), (2) desempenho do ato sexual masculino e (3) regulação das funções reprodutoras masculinas por vários hormônios. Associados a essas funções reprodutoras estão os efeitos dos hormônios sexuais masculinos sobre os órgãos sexuais acessórios, metabolismo celular, crescimento e outras funções do organismo. Espermatogênese Ao longo do desenvolvimento embrionário, as células germinativas primordiais migram para o testículo, onde elas se tornam espermatogônia. Na puberdade (geralmente entre 12 e 14 anos, as espermatogônias proliferam rapidamente por divisões mitóticas. Algumas iniciam a meiose para tornarem-se espermatócitos primários e continuam através da divisão mitótica I, tornando-se espermatócito secundários. Após o término da divisão mitótica II, os espermatócitos secundários produzem as espermátides, que se diferenciam formando os espermatozoides – espermiogênese. Diversos hormônios estimulam a espermatogênese. Entre eles: (1) testosterona, que é essencial para o crescimento e divisão das células germinativas testiculares – primeiro estágio da formação do esperma; (2) LH, estimula células de Leydig a secretarem testosterona; (3) FSH, estimula as células de Sertoli, cuja falta de estimulação impede a espermiogênese; (4) estrogênios, formados a partir da testosterona pelas células de Sertoli, são necessarios para a espermiogênese; e, (5) hormônio de crescimento, é necessário para controlar as funções metabólicas basais dos testículos – promove especificamente a divisão precoce das espermatogônias. Androgênios Os hormônios sexuais masculinos secretados pelos testículos são coletivamente chamados de testosterona, inclui-se testosterona, di-hidrotestosterona e androstenediona. Os diferentes estágios da função sexual masculina são refletidos pelas concentrações medias de testosterona plasmática e pela produção de espermatozoides em diferentes idades. As células de Leydig são praticamente inexistentes durante a infância, época em que os testículos quase não secretam testosterona, mas elas são numerosas no recém-nascido do sexo masculino nos primeiros meses de vida e no homem adulto após a puberdade; em ambas as épocas, os testículos secretam grande quantidade de testosterona. No entanto, observa-se uma diminuição do nível plasmático de testosterona com a senescencia. Síntese dos androgênios Nos testículos e nas adrenais, os androgênios podem ser sintetizados do colesterol ou diretamente da acetilcoenzima A. A testosterona e’ sintetizada a partir do colesterol nas células de Leydig dos testículos, e a partir da androstenediona no córtex adrenal. A di-hidrotestosterona (DHT), androgenio mais potente do que a testosterona, é derivada tanto da secreção direta pelos testículos quanto da conversão dos tecidos periféricos da testosterona e de outros precursores androgênicos (e estrogênicos) secretados pelos testículos e pela suprarrenal. Transporte dos androgênios No sangue, a testosterona existe em ambos os estados: ligada à proteína e livre (desligada). A testosterona livre é captada pelas células alvo e, à medida que isso ocorre, novas moléculas do hormônio se desprendem das proteínas ligadoras e repõem o estoque de testosterona livre. No entanto, em sua maioria, está ligada à SHBG (globulina ligada ao hormônio sexual) e outra parte é ligada à albumina. Ambas sintetizadas no fígado. As concentrações séricas de SHBG são aumentadas pelo hipertireoidismo, cirrose e administração de vários agentes (como estrogênios, tamoxifeno, fenitoina e hormônios tireoidianos). Por levar a diminuição da porção livre de testosterona, tem como maior efeito o aumento androgênico. Ao contrário, as concentrações de SHBG são diminuídas pelo hipotireoidismo, obesidade, acromegalia e administração de andrógenos exógenos, glicocorticoides (cortisol) e hormônio do crescimento, tendo como efeito androgênico reduzido. Metabolismo dos androgênios Metabólitos ativos da testosterona Pequena quantidade de testosterona é convertida em estradiol por ação da aromatase, seja nas células de Leydig, seja nas células de Sertoli, que secretam estrogênio no fluido tubular ou no sangue periférico. O mesmo ocorre nas regiões do SNC, tecido adiposo, tecido ósseo e próstata. O principal derivado da testosterona é dehidrotestosterona (DHT), resultante da sua conversão pela 5α-redutase em tecidos alvos específicos. No fígado, rim, pele e cérebro, encontra-se 5α-redutase do tipo 1; enquanto na próstata, 5α- redutase do tipo 2. Inativação A testosterona que não se fixa nos tecidos é convertida maior parte pelo fígado, em androsterona e desidrosepiandrosterona e, simultaneamente, conjugada com glicuronídeos ou sulfatos. Assim, ela é metabolizada na forma de glucuronídeo de testosterona e 17-cetoesteroides, dotados de pouca ou nenhuma ação androgênica, que são excretados na urina pelos rins ou na bile pelo intestino. Vale lembrar que 50% da excreção urinaria ocorrem em forma de 17-cetoesteroides e o restante em metabólitos polares. Regulação da secreção de androgênio e controle da função testicular A hipófise controla tanto a produção de testosterona quanto a espermatogênse através da produção de dois hormônios gonadotróficos: hormônio luteinizante (LH) e hormônio estimulador do folículo (FSH). O LH estimula a produção de testosterona pelas células de Leydig (intersticiais testiculares). O FSH atua sobre as células de Sertoli do testículo para facilitar a espermatogênese. Eixo Hipotalâmico-Hipófise-Testicular (Célula de Leydig) O hipotálamo controla a produção de gonadotrofinas pela hipófise através da secreção de GnRH (hormônio de liberação da gonadotrofina), de maneira pulsátil. Quando GnRH se liga aos gonadotrofos da hipófise anterior, estimula- se a liberação de LH e FSH. A secreção de testosterona é regulada pelo LH que atua nas células de Leydig tendo como segundo mensageiro o AMPc. Este estimula a mobilização de colesterol a partir dos ésteres colesteril e sua conversão à pregnenolona. Os hormônios secretados pelos testículos exercem um feedback negativa sobre hipotálamo e hipófise. Ambos possuem receptores androgênicos e estrogênicos. A testosterona inibe a secreção de LH, atuando diretamente sobre adenohipófise e, indiretamente sobre a liberação de GnRH pelo hipotálamo. No entanto, o efeito inibitório da testosterona sobre a secreção de FSH só é obtido com altas concentrações. O estradiol, derivado da aromatização (enzima aromatase) da testosterona também exerce um efeito inibidor sobre o hipotálamo. Observação: A exposição prolongada ao GnRH (como o uso farmacológico) provoca a diminuição da regulação dos seus receptores na hipófise. Desta forma o uso prolongado de análogo de GnRH em pessoas com puberdade precoce dessensibiliza a hipófise e bloqueia as gonadotrofinas, impedindo o desenvolvimento sexual prematuro em crianças. Eixo Hipotalâmico-Hipófise-Testicular (Túbulo Seminífero) O estímulo dos gonadotróficos da hipófise pelo GnRH também leva a secretar FSH. Este, nos testículos, leva as células de Sertoli a produzirem o fluido testicular, que ajuda no transporte de espermatozoides e na secreção de duas proteínas: proteína ligada ao androgênio (ABP) e inibina. A ABP liga à testosterona e transporta para o lúmen dos túbulos seminíferos, assegurando sua alta concentração local, necessária à espermatogênese. Enquanto a inibina atua diretamente sobre a hipófise na inibição da secreção de FSH (sem afetar LH). O FSH também estimula aatividade de aromatase nas células de Sertoli, o que favorece a produção local de estradiol. Indiretamente, a maturação das células de Leydig e sua produção de androgênios também podem ser influenciadas pelo FSH, que modula os efeitos do LH por intermédio de fatores autócrinos e parácrinos. A secreção de testosterona é regulada pelo LH, que atua nas células de Leydig tendo como segundo mensageiro o AMPc. Este estimula a mobilização de colesterol a partir dos ésteres colesteril e sua conversão à pregnenolona. A testosterona, por sua vez, inibe a secreção de GnRH pelo hipotálamo e atua diretamente nos gonadotrofos hipofisários, inibindo a secreção de LH. No entanto, um efeito inibitório da testosterona sobre a secreção de FSH só é obtido com altas concentrações. Em homens com supressão da produção de gonadotrofinas, a espermatogênese cessa na sua fase inicial e nem mesmo espermatócitos são formados. Para que a espermatogênese seja restaurada, é necessário administrar medicamentos com atividade de ambas as gonadotrofinas. A produção e a maturação de espermatozóides requerem a presença e a ação combinada das duas gonadotrofinas. Mecanismo de ação dos androgênios A testosterona atua de forma semelhante a outros hormônios esteroides, que exercem seus efeitos por meio de receptores nucleares, que são fatores de transcrição e regulam a produção de mRNA de genes alvo, por mecanismo dependente da ligação com o hormônio. Hormônio esteroides quando deixa a circulação atravessa a membrana celular e nocitoplasma testosterona pode ser convertida no composto mais potente DHT pela 5α-redutase (especialmente em certos órgãos-alvos, tais como a próstata no adulto e genitália externa do feto masculino). Tanto a testosterona quanto a DHT se ligam a uma proteína receptora citoplasmática (distinta da ABP e SHBG), ocorrendo uma modificação conformacional que resulta na dissociação do receptor de proteínas de choque térmico (hsp). O complexo hormônio-receptor forma, então, um homodímero com outra molécula hormônio-receptora de androgênio, permite a sua translocação para o núcleo e interage com uma série de co-ativadores ou co-repressores para formar um complexo transcricional ativado. A ação dos androgênios é mediada pelo receptor androgênico (RA). A substituição por receptor nuclear promove a ligação ao DNA da cromatina e interação com elementos respondedores do androgênio. Esse complexo hormônio-receptor irá acoplar-se a uma região aceptora no DNA da célula alvo, denominada de elemento responsivo aos androgênios e constituída por uma sequência específica de nucleotídeos. O processo resulta no recrutamento de uma RNA polimerase e na transcrição (rnRNA), transportado para citoplasma, e posterior tradução (proteína) de genes específicos, que serão o alvo preciso da ação androgênica. Observação: O complexo DHT-receptor é mais estável do que complexo testosterona-receptor; por isso, a formação do DHT serve para amplificar a ação da testosterona nas células-alvo. Efeitos dos androgênios: Os hormônios androgênios são fundamentais para a diferenciação sexual, o amadurecimento sexual e a fertilidade masculina. Promovem crescimento e desenvolvimento, espermatogênese, diferenciação embrionária das genitálias masculinas interna e externa, desenvolvem e mantêm as características sexuais masculinas, bem como inibir a secreção de LH pela hipófise. Os efeitos anabólicos ao mediados por aumento na taxa de síntese e diminuição na taxa de degradação das proteínas. Estimulam o crescimento esquelético e ósseo, assim como a eritropoiese. Alguns efeitos fisiológicos são exercidos diretamente pela ligação da testosterona ao receptor androgênico, enquanto outros envolvem a conversão da testosterona em DHT ou estradiol, que atuam, respectivamente sobre os receptores androgênico e estrogênico. Os efeitos fisiológicos dos androgênios se agrupam principalmente em: (1) ações morfológicas (relacionadas aos órgãos acessórios e caracteres sexuais secundários), (2) ações metabólicas e (3) ações comportamentais. Efeitos Fisiológicos dos Androgênios Efeitos da testosterona Independentes de DHT - Desenvolvimento embrionário: ductos de Wolff (epidídimo, ducto deferente, vesícula seminal) - Espermatogênese - Anabolismo muscular - Gordura troncular - Estimula lipólise, inibe a adipogênese - Hipertrofia da laringe e alteração das cordas vocais - Eritropoiese (medula óssea) e EPO (rim) - Aumento da LDL e redução da HDL - Inibição do crescimento da mama - Libido e comportamento agressivo Efeitos da testosterona Dependentes de DHT - Masculinização da genitália externa - Desenvolvimento e crescimento peniano - Hipertrofia da próstata - Distribuição de pêlos corporais Ambissexuais: pubianos e axilares Sexuais: barba, bigode, tórax, abdome, dorso, nádegas - Calvície - Atividade das glândulas sebáceas Efeitos dependentes dos Estrógenos (aromatase) - Fechamento das epífises - Inibe a reabsorção óssea (ER no condroblasto, osteoblasto e osteoclasto) - Espermatogênese - Feedback de gonadotrofinas - Retenção de fluídos - Prevenção da osteoporose - Prevenção da doença de Alzheimer Puberdade: É o conjunto de transformações que marcam o amadurecimento sexual e o início da fertilidade. Um evento que precede a puberdade é o aumento da secreção de androstenediona e desidroepiandrosterona (DHEA) pela adrenal, na chamada adrenarca que ocorre, nos meninos, por volta dos 6-8 anos. Esse aumento na produção de androgênios é responsável pelo aparecimento dos primeiros pêlos axilares e pubianos. Durante o período da adrenarca, a concentração plasmática de testosterona ainda é baixa e seu ligeiro aumento, se deve a conversão de androstenediona e DHEA de origem adrenal. No entanto, neste período, a testosterona circulante já é suficiente para exercer retroalimentação negativa sobre o LH. O início da puberdade é marcado pelo surgimento da secreção pulsátil de LH durante o sono, sinalizando uma reativação da pulsatilidade de GnRH. Os mecanismos responsáveis por este processo de despertar hipotalâmico da puberdade não estão ainda bem estabelecidos, embora exista influência de alguns neurotransmissores, neuromoduladores e hormônios (como leptina, melatonina, endorfina). Com o passar do tempo, percebe-se um aumento do LH também no período diurno, seguido pelo aumento da testosterona. Esse aumento da secreção de LH deve-se tanto à liberação mais intensa de GnRH pelo hipotálamo quanto à maior sensibilidade da hipófise ao estímulo hipotalâmico. A etapa seguinte é o crescimento e amadurecimento testicular, com incremento significativo na produção de testosterona, início da espermatogênese e surgimento dos caracteres sexuais secundários. Maturidade e senescência A maturidade sexual é obtida por volta dos 16-18 anos, com níveis circulantes de testosterona entre 3 e 10 ng/ml. Neste período a produção de espermatozóides é ótima e a maior parte dos caracteres sexuais secundários já se completou. A partir dos 40 anos, os níveis circulantes de testosterona diminuem gradualmente. Aos 50 anos observa-se também uma diminuição na produção espermatogênica. O declínio nos níveis de testosterona é da ordem de 1 ng/ml por década, sendo referido como andropausa. Porém, suas repercussões clínicas são poucas. HIPOGONADISMO O hipogonadismo masculino é uma síndrome causada por deficiência androgênica. Na prática, é o comprometimento da produção de andrógenos e/ou espermatozoides, com quadro clínico que varia de acordo com a época na qual o processo se instala. Se ocorrer no início pré-puberal, pode ou não ser acompanhado de alterações da genitália interna e externa,além da ausência ou hipodesenvolvimento da própria gônada; se ocorrer na fase adulta, as alterações mais evidentes relacionam-se com a potência sexual e a função reprodutiva. Os androgênios desenvolvem um papel crucial no desenvolvimento e na manutenção das funções reprodutivas e sexuais do homem. Baixos níveis de androgênios circulantes podem causar distúrbios no desenvolvimento sexual masculino, resultando em anormalidades congênitas do trato reprodutivo. Com o avançar da idade, pode causar redução da fertilidade, disfunção sexual, declínio da força muscular, menor mineralização óssea, distúrbio do metabolismo lipídico e disfunção cognitiva. O diagnóstico é baseado nos sintomas e sinais clínicos de deficiência androgênica, associados a baixos níveis séricos de testosterona. Baixos níveis de testosterona também se associam a doenças crônicas severas e pacientes sintomáticos podem se beneficiar com a terapia de reposição de testosterona. Pode ser classificado nas formas: Hipogonadismo Hipergonadotrófico ou primário: Resulta-se de anormalidades gonádicas (no próprio testículo). Nota-se, além da diminuição dos níveis séricos de testosterona, um aumento de hormônios gonadotróficos (FSH e LH), diante da falta de supressão do feedback negativo. Ocorre nos casos de: Síndrome de Klinefelter, criptorquidismo, distúrbios na biossíntese de androgênio e falência dos túbulos seminíferos no adulto. Hipogonadismo Hipogonadotrófico ou secundário: Resulta-se de distúrbios hipotalâmico-hipofisários, ou seja, na deficiência de secreção de FSH e LH ou GnRH, respectivamente. Nota-se, além da diminuição dos níveis séricos de testosterona, uma redução de hormônios gonadotróficos (FSH e LH). Ocorre nos casos de: pan-hipopituitarismo, deficiência de gonadotrofinas, deficiência isolada de LH e LH biologicamente inativo. Hipogonadismo devido à insensibilidade dos receptores androgênicos: casos de distúrbios na ação dos androgênios. A insensibilidade completa decorre da deficiência dos receptores androgênicos (AR), resultando na feminilização testicular; enquanto que a insensibilidade incompleta é causada pela deficiência da enzima 5α-redutase (relacionada à conversão de testosterona em DHT).
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