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PROJETO DE ENSINO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL Prof.ª Me. Lucimara Acosta GUIA DA DISCIPLINA 2020 1 Projeto de Ensino na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 1. HISTÓRICO DO PLANEJAMENTO EDUCACIONAL BRASILEIRO Objetivo Conhecer a evolução da instituição educacional brasileira para compreender como as questões políticas estão inseridas diretamente em suas entranhas, ao ponto que influenciam de forma significativa toda e qualquer medida que vise a discussão para possíveis melhorias ao sistema educacional. Introdução A “estrutura” sempre esteve “estruturada” em diversos paradigmas que norteiam o seu trabalho, a sua dinâmica e a sua forma de lidar perante as necessidades cotidianas – o que, justamente por esse motivo, a escola não pode estar engessada e parar num determinado tempo-espaço. Falar de planejamento educacional brasileiro e falar direta e obrigatoriamente sobre planejar. Ou seja, o ato de pensar, analisar, discutir e possibilitar inúmeras formas de ensino-aprendizagem para que o ensino possa ser desenvolvido pela instituição escolar. Justamente por esses motivos que proporei, nos próximos ensaios, pensarmos sobre o planejamento no ensino escolar enquanto um projeto educacional, assim como as suas possibilidades para que a instituição escolar esteja adequada com aquilo o que se demanda dela. Partindo da perspectiva histórica, o planejamento educacional brasileiro sempre interessou e foi endereçado às elites sociais e econômicas de suas respectivas épocas, haja vista que a escola só se tornou democrática e seu acesso facilitado a desde as últimas décadas. Anteriormente a isso, era um local onde apenas a elite local tinha acesso e, ainda assim, com diversos dispositivos que dificultavam as suas permanências. 1.1. Da União Soviética ao mundo capitalista Antes da estruturação educacional proposta pela extinta comunista União Soviética (URSS), o ensino era descentralizado e sem uma organização que delimitasse e normatizasse os assuntos a serem debatidos de acordo com a idade discente e o que se 2 Projeto de Ensino na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância pretendia para que aquela faixa de idade pudesse (ou necessitasse) aprender. De acordo com a UNESCO (1975), “é incontestável que foi graças ao planejamento que este país, com 2/3 de sua população ainda de analfabetos em 1913, hoje se coloca entre as nações de maior desenvolvimento educacional” (p. 4) e, por remontarmos à 1923, podemos compreender que as mais diversas educacionais mundiais tiveram influências do modelo soviético, tais como: França (1929), Estados Unidos (1933), Suíça (1941), dentre outros. Obviamente que a educação em si remonta séculos e séculos anteriores à União Soviética – o que estamos falando aqui, neste ponto, é a estruturação educacional enquanto um planejamento em si – mas, se buscarmos na História, teremos que falar da greco-romana, africana, americana, chinesa, dentre outros povos que tiveram seus sistemas educacionais e suas formas bem distintas e específicas de passar suas culturas e aprendizados entre as gerações. Outro ponto determinante para que a educação fosse mais bem sistematizada, foi a Segunda Guerra Mundial onde, a partir das mudanças nos dinamismos sociais, escassez de mão de obra e alta taxa de mortalidade – sobretudo de homens combatentes –, os países tiveram a necessidade de criar modelos educacionais que atendessem as suas necessidades. Um país com a sua economia colapsada em virtude dos altos gastos com armamentos e com a sia infraestrutura deteriorada pelos constantes ataques aéreos, terrestres e marítimos, necessitou-se olhar para a educação enquanto um pilar estruturante de melhorias sociais. Será, portanto, neste momento, que a educação passa a ser central nos discursos políticos mundiais e temas centrais nas conferências mundiais promovidas pela UNESCO. 1.2. Das conferências da UNESCO ao Brasil de JK e da Ditadura Cívico-Militar As primeiras tentativas para se melhor organizar e estruturar a educação brasileira se deu desde a década de 1940 onde se tinha como objetivo não apenas estrutura-la como racionalizar os investimentos que, até então, eram compreendidos como gastos. 3 Projeto de Ensino na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância O primeiro sistema de organização educacional no Brasil foi proposto por Juscelino Kubitschek, entre 1956 e 1961, que tinha como objetivo um Plano de Metas (Brasil, 1958), onde se afirmava sobre a necessidade de investimentos específicos no setor educacional para que pudesse haver um avanço industrial no País. Ou seja, a educação compreendida mais enquanto alavanca do desenvolvimento econômico do que do desenvolvimento sociocultural: Intensificação da formação de pessoal técnico e orientação da Educação para o Desenvolvimento, com a instalação de institutos de formação especializada. (op. cit., p. 20). O plano de metas visa dotar o país de uma infra e superestrutura industríal e modificar sua conjuntura econômica; se não ocorrer interligação dêsse plano com os demais fenômenos econômicos, sociais e políticos, o plano tornar-se-á falho. A conclusão é simples: a infraestrutura econômica deve ser acompanhada de uma infraestrutura educacional e, portanto, social. A meta constitui propriamente um Programa de Educação para o Desenvolvimento. (op. cit. p. 95) A influência mercadológica na educação se aprofundou de forma ainda mais intensa durante o golpe cívico-militar, que perdurou entre 1964 a 1984, por meio de um governo ditatorial que de forma mais forte e fria entravam em conflito com aqueles que se colocavam contrários à ele. A Ditadura Cívico-Militar se apoia na LDB, promulgada pelo presidente João Goulart, onde favorecia os interesses privatistas transferindo para os Conselhos de educação competências, antes concentradas nos detentores dos cargos executivos: secretário de Educação e ministro da Educação1. Todo e qualquer processo institucional, público ou privado, é significativamente influenciado pelas questões políticas pelo fato de que está inserido num determinado contexto social. Não diferentemente ocorre com as questões educacionais que têm seus projetos debatidos por representatividades sociais e/ou políticas, sendo assim influenciados por elas. No âmbito educacional, ainda que estejamos acostumados a ouvir o senso comum de que na época da Ditadura Militar o ensino público era o melhor que tinha, uma série de 1 De p oi me nt o de L u is A nt ô ni o C u n ha d ur a nt e a 12 6 a a ud i ênc ia p ú bl ic a da Co miss ã o d a V er d ad e d o Es ta d o d e S ão Pa u lo “ Ru b ens P a iva” e m p arc er ia c om a C o miss ã o Nac io n al d a Ve rd a d e n o d ia 3 0 d e ma io de 20 1 4. 4 Projeto de Ensino na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância medidas foi adotada com o objetivo de enfraquecê-la e, assim, fortalecer o privado. Não obstante, foi neste período que uma grande quantidade de escolas privadas foi criada. No primeiro momento, os militares primaram pela valorização e pela necessidade de incentivos ao desenvolvimento educacional do país, por outro lado, no segundo instante, através das atitudes tornaram-se evidentes as “contradições”, pois o Estado destinou poucas verbas para área da educação pública, e, de certa forma, estimulou setores privados vinculados à acumulação de capital facilitando e direcionando para uma política de privatização do ensino. (p. 1945) [...] A repressão foi fortemente exercida, vigiando professores e suas condutas, observando alunos e expulsando os subversivos, todos esses atos eram respaldados na ideologia de Segurança Nacional, na qual de certa maneira funcionava como um movimentoanti- intelectual em nome de um anticomunismo propositadamente exacerbado. (Paulino; Pereira, 2016: p. 1946) A privatização da educação e sua consequente mercantilização são percebidos contemporaneamente onde a quantidade de instituições de ensino privadas se sobrepõe às públicas. 1.3. Do pós-ditadura à redemocratização O período educacional do pós-ditadura cívico-militar continuou sob forte influência do estrangeiro, sobretudo do modelo educacional dos Estados Unidos, que em nada dialogava (e ainda não dialoga) com as questões relacionadas ao Brasil. Durante o final do primeiro mandado de Fernando Henrique Cardoso foi criado o Plano Nacional da Educação (PNE), em 2001, de forte influência neoliberal, criando metas a serem cumpridas para os próximos 10 anos e tendo a sua atualização durante o primeiro ano do segundo mandado de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2011 – ainda que as influências neoliberais fossem mantidas, o novo PNE teve um caráter mais social, buscando a universalização do acesso à educação pública para todos, luta essa presente nos mais diversos movimentos sociais ligados às questões da educação pública de qualidade. Nesse mesmo espaço o governo de Cardoso cria os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN’s no intuito de organizar os níveis escolares da educação brasileira feito por educadores internacionais, foi um dos marcos das reformas educacionais brasileira. Demonstraria nesses Parâmetros o modelo neoliberal adotado por FHC, com o sustentáculo do Ministro Paulo Renato de Souza. (Guimarães, 2015: p. 11) A implementação dos Planos Nacionais da Educação dialoga mais com as exigências dos órgãos internacionais – sobretudo para que haja a manutenção do aporte financeiro e investimentos de entidades diversas – do que com as demandas sociais. 5 Projeto de Ensino na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância O recém-aprovado PNE contraria o amplo debate construído durante a última década e modificado após o processo de impeachment da Presidente Dilma Rousself, ignorando toda a discussão de base realizada pelos setores da sociedade civil organizada, setores educacionais brasileiros e as demais representatividades sociais. Conclusão Conforme pudemos analisar neste texto introdutório, a educação brasileira sempre esteve atrelada ao modelo neoliberal e apenas na última década tentou-se, de fato, criar um Plano Nacional da Educação que contemplasse em exatidão as demandas e necessidades da sociedade brasileira, o que foi interrompido e cerceado após o processo de impedimento da Presidente Dilma Rousself. Com a interrupção unilateral do debate de base do novo PNE, por parte dos congressistas, os mais diversos movimentos representativos da educação como a ANPEd, os Programas de Pós-Graduações e Universidades num modo geral fizeram inúmeras moções de repúdio a estas interrupções – todas ignoradas pelo governo do Presidente Michel Temer. 6 Projeto de Ensino na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 2. DEFINIÇÃO E APLICAÇÃO DE PLANEJAMENTO EDUCACIONAL Objetivo Analisar a importância do Planejamento escolar e como ele pode nortear e balizar o trabalho docente durante o transcorrer do ano, assim como analisar as possibilidades de reavaliá-lo sistemática e periodicamente com o intuito de compreender seus pontos positivos e negativos para que estejam adequados com aquilo o que foi inicialmente proposto e/ou esteja de acordo com as demandas discentes frente aos PCNs. Introdução Todo início de ano letivo as escolas passam pelo mesmo ritual: reunião docente no mês de janeiro, delimitação das ações para o ano durante estas reuniões, preparação para a reunião com as responsáveis das crianças em fevereiro e... nada do que foi debatido nas reuniões iniciais é aplicado nas escolas e nada muda nestas escolas. Afinal de contas, para que serve, então, as reuniões docentes, as delimitações das ações para o ano corrente e as reuniões com as responsáveis das crianças se, no final de todo esse processo, nenhuma ação é realmente implementada? Reconhecem-se as importâncias diversas existentes nestes momentos de início de ano e como eles podem delimitar e estruturar melhor as atividades a serem desenvolvidas durante o ano, mas também se reconhece que nem sempre as reuniões são levadas a sério e as ações aplicadas. Outro ponto que vale a pena ser posto em debate e trazido à reflexão se dá ao fato de que raras são as escolas que convidam discentes e seus responsáveis a participarem das reuniões com o objetivo de colaborarem conjuntamente para a construção daquilo que será desenvolvido durante o ano. Portanto, este texto parte exatamente deste ponto: como podemos querer uma escola diferente se sempre fazemos as ações iguais? 2.1. Planejar para aplicar Conforme pudemos ver logo na introdução deste texto, parte-se do entendimento de que o planejamento é algo que não serve apenas para ficar no papel ou para ser feito por meio de reuniões pedagógicas que não são aplicadas durante o decorrer do ano ou até mesmo é algo que sequer é discutido nestas reuniões, sendo apenas momentos de 7 Projeto de Ensino na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância descontração, correção de provas e trabalhos discentes ou qualquer outra atividade que em nada dialoga com o que de fato se objetiva em uma reunião pedagógica: planejar! O planejamento de uma reunião é de extrema importância para que possa ser debatido o cotidiano escolar, os pontos positivos e negativos existentes, assim como as próprias demandas discentes que tencionam a escola a pensar em questões que ora são invisibilizadas ou ora são simplesmente silenciadas. Para Ribeiro (2010), O planejamento é um instrumento que possibilita a superação de rotinas. Visa organizar e disciplinar a ação. É de fundamental importância em toda a Educação Básica [...] O planejamento é um processo de busca de equilíbrio para a melhoria do funcionamento do sistema educacional. Como processo o planejamento não deve ocorrer em um momento único e sim a cada dia. A realidade educacional é dinâmica, os problemas, a reivindicação não tem hora nem lugar para se manifestar. Assim decidimos a cada dia, a cada hora. (p. 2) Sabendo que o planejamento é um processo, e não um fim entende-se que a escola deve retomá-lo constantemente desde a sua elaboração nas reuniões de início de ano para que ele seja reavaliado e readequado de acordo com as demandas e necessidades que porventura ocorra (pode ter certeza que ocorrerá!). Algumas escolas têm agendas quinzenais fechadas para a reunião de colegiado, outras mensais e outras bimestrais (aquelas com as presenças das responsáveis discentes). Gestores e docentes educacionais devem priorizar para que os encontros sejam no mínimo quinzenais com o objetivo de realmente, e de fato, debaterem as questões inseridas no planejamento de ensino, não apenas ser um encontro onde se fala mal de um aluno ou de outro. Sim um ambiente de construção de novas possibilidades educacionais e de desconstrução daquelas que não deram certo. O exercício de reflexão é de suma importância para que toda a equipe escolar possa analisar os motivos que tais pontos do planejamento fracassaram para que assim possam evitar esta ocorrência futuramente. 8 Projeto de Ensino na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 2.2. Aplicar para replanejar O processo de reflexão existente no ato do planejamento escolar é um dos momentos mais gratificantes da prática docente por ser a partir dele que pensaremos e estruturaremos tudo o que objetivamos ao decorrer do ano e, principalmente, reconhecendo que ele poderá ser reavaliado em seu próprio transcorrer. Ressalto, ainda, que debateremos mais detalhadamenteno item 4, deste Guia da Disciplina, sobre o Planejamento Participativo. Muitas escolas delimitam o que será trabalhado durante o ano durante as reuniões em janeiro e posteriormente a isso nunca mais pegam ou debatem o planejamento anual pelo entendimento de que se ele foi debatido durante as reuniões iniciais e teve um documento final impresso, significa que ele está de acordo com a comunidade acadêmica e assim facilmente aplicado. Entretanto, não é bem isso que se espera de um planejamento de ensino. Assim sendo, o bom planejamento de ensino é aquele que melhor adapta-se a realidade sócio-cultural em que o aluno está inserido, é aquele que visa objetivos concretos com a utilização de linhas ininterruptas de pensamento, mas flexíveis o bastante para tomar caminhos diferenciados sem perder a direção. (Gama; Figueiredo, 2009, p. 30) Um planejamento fixo, estático e engessado é um planejamento fadado ao fracasso! Afirmo isso pelo simples fato de que não conhecemos a nossa comunidade escolar e por mais que possamos falar que conhecemos nossos alunos há anos e anos, a cada ano que passa as suas demandas modificam e consequentemente necessitamos de um diálogo para com eles com o intuito de compreendermos seus anseios e suas necessidades, assim como o que eles esperam da escola, dos professores e dos conteúdos a serem ministrados em sala de aula. Obviamente que necessitamos seguir os Parâmetros Curriculares Nacionais e justamente por essa necessidade que o Planejamento Escolar se faz necessário: será a parir desta necessidade que podemos pensar, conjuntamente com discentes, como abordarmos tais assuntos, quais eventos devemos promover na escola, quais saídas à campo necessitamos fazer, dentre outros. Lembro, ainda, que quando falo sobre saída à campo, não estou falando de grandes excursões e viagens, pelo fato de que podemos usar o entorno da escola para analisar erros gramaticais em placas do comércio, conhecer os pássaros da localidade, o tipo de vegetação e relevo, a angulação e acessibilidade (ou falta 9 Projeto de Ensino na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância dela) das calçadas, dentre outros, promovendo, assim, uma interdisciplinaridade e aplicabilidade dos conceitos no cotidiano discente. Conclusão Pensar o planejamento escolar é uma das principais estratégias que possibilitará que o ensino dialogue mais, e melhor, com a comunidade escolar e assim a escola atinja os seus objetivos que sempre ansiou. Para tanto, conforme pudemos ver, necessitamos pensa-lo de forma rizomática e dinâmica. Um planejamento que dialoga com as necessidades e demandas daquela comunidade faz com que a escola esteja mais bem preparada para lidar com as questões contemporâneas que permeiam o cotidiano escolar. Reconhecer que nossos alunos têm as suas demandas, independentemente de suas idades, é compreender que a escola necessita estar atenta para atendê-los e possibilitar que o ensino tenha inteligibilidade para eles. Pensar em outras possibilidades educacionais é pensar em um ensino crítico, fundamentado, embasado e, acima de tudo, que esteja em constante avaliação, planejamento e replanejamento. A educação não é e nem pode ser estática. 10 Projeto de Ensino na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 3. FUNÇÃO DO PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO NO PLANEJAMENTO Objetivo Propor uma reflexão da importância do Projeto Político Pedagógico escolar a partir do seu próprio nome: um projeto que de fato é político e que tem objetivos pedagógicos para promover a emancipação de seus alunos por meio do fortalecimento democrático, sendo inserido no planejamento escolar enquanto um pilar que sustenta suas ideias, objetivos e unidade. Introdução Já de antemão afirmo: não esperem que este texto lhes dê a fórmula mágica para um bom Projeto Político Pedagógico (PPP) perante o Planejamento Escolar porque isso simplesmente não existe! Cada escola tem as suas singularidades, o que impossibilita que exista um PPP universal e que se aplique a todas de forma igualitária. Será, então, a partir deste reconhecimento que teremos como ponto de partido o pensar tanto o PPP como a formulação de um bom Planejamento Escolar. Imaginem duas escolas, numa mesma cidade, onde uma está situada em bairro periférico, com limitada infraestrutura, e a outra escola está situada em bairro central, com total infraestrutura. Agora imagina uma escola de uma cidade comparando com outra cidade, com outro Estado e assim por diante. Pois bem, esse exemplo simples serve apenas para que possamos compreender que não há mágica na educação e muito menos na formulação do PPP. Para tanto, há a necessidade de que as reuniões pedagógicas sirvam para a boa formulação de um bom PPP que atenda as demandas daquela comunidade em específica, que dialogue com o proposto pelos PCNs e que possa pensar em outras possibilidades escolares, haja vista que a atual não contempla as necessidades sociais e está em total defasagem. 3.1. Projeto Político Pedagógico é, de fato, um Projeto Político Pedagógico Ainda que cada vez mais tenhamos um discurso conservador presente na mídia, nos políticos e na sociedade em geral, perante as práticas pedagógicas e a instituição escolar como um todo, por meio de Projetos de Lei que buscam cercear a liberdade de cátedra e 11 Projeto de Ensino na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância censurar os conteúdos a serem debatidos em sala de aula, deve-se reconhecer que o Projeto Político Pedagógico (PPP) não pode ser uma pilha de papéis que fica guarda num armário da escola e que não é utilizado em momento algum – seja em reuniões docentes, discentes e/ou com responsáveis. Este documento necessita estar em constante debate para que todos os envolvidos com o processo educacional compreendam que aquela referida escola está referenciada pelos documentos oficiais e estruturadas em pilares que sustentam uma determinada e específica abordagem teórico-metodológica. Pensar no PPP enquanto um documento que referencia os valores daquela escola é reconhecer que ela é um locus de debate de ideias, pluralidades de concepções, construções de conhecimentos e possíveis desconstruções de valores até então compreendidos como corretos a serem seguidos. Ele existe para que a escola esteja mais adequada possível a atender aquilo que se espera de uma escola: local de construções e desconstruções de conhecimento. O projeto político-pedagógico é a expressão mais viva desse novo momento da educação nacional. Juntar a comunidade acadêmica escolar ao redor de um projeto pedagógico que persiga a educação como um modo de ser democrático com suas implicações de liberdade e de deveres sociais, é um desafio para esta e para as próximas décadas. Talvez o desaguar dessas marés educacionais seja mesmo o planejamento estratégico escolar. (Jesus, 2015: p. 15) A escola, enquanto local de debates plurais e respeito às diferenças, tem reais condições de possibilitar mudanças estruturais na sociedade por ser um ambiente em que as mais diferentes formas de viver, e lidar com a vida, se encontram num mesmo lugar. Justamente por esse motivo que ela necessita ser plural e democrática, onde as diferenças (de cor e etnia, religiosidade, sexualidade, gênero, identidade de gênero, etc.) sejam respeitadas e estes valores de respeito sejam fundantes e centrais na construção de todo o PPP. Visto que, será a partir deste documento, que o Planejamento Escolar será desenvolvido e todas as possibilidades teórico-metodológicas estarão norteadas e referenciadas por um documento único e central. 3.2. Escola Democrática e Plural Em pesquisa realizada por Elliott Green, da London School of Economics, Paulo Freire é referência não apenas brasileiracomo também mundial, configurando em 3º lugar 12 Projeto de Ensino na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância no ranking dos autores mais citados em trabalhos acadêmicos a nível mundial, ficando a frente de teóricos renomados como Vygotsky, Michel Foucault, Bourdieu e Karl Marx. A sua importância se deve por compreender que “a educação enquanto ato de conhecimento é também, por isso mesmo, um ato político” (Freire, 1982, p. 97). Durante o Governo de Luíza Erundina, do Partido dos Trabalhadores (PT), no início dos anos de 1990, Paulo Freire foi o responsável pela Secretaria de Educação do Município de São Paulo, onde propôs uma escola pública popular e democrática por meio do amplo debate entre os partícipes da educação (gestores, docentes, discentes e comunidade geral). A educação libertadora, problematizadora, já não pode ser o ato de depositar, ou de narrar, ou de transferir, ou de transmitir “conhecimentos” e valores aos educandos, meros pacientes, à maneira da educação “bancária”, mas um ato cognoscente. O antagonismo entre as duas concepções, uma, a “bancária” [grifos do autor], que serve à dominação; outra, a problematizadora, que serve à libertação, toma corpo exatamente aí. Enquanto a primeira, necessariamente, mantém a contradição educador-educando, a segunda realiza a superação (Freire, 2005: p. 78). Ana Maria Saul (2012), afirma que Paulo Freire trouxe à Secretaria de Educação do Município de São Paulo os pressupostos da educação popular, norteada em valores críticos, comprometidos com as questões das solidariedades e justiças sociais. Outra mudança significativa foi a abertura da escola para a comunidade, sendo um ambiente não apenas de aprendizagem em sala de aula como também de constante ocupação, ressignificando a sua própria estrutura e utilidade enquanto espaço público. Buscou implementar uma escola participativa, autônoma e coletiva, que propiciasse a autonomia para aqueles que nela estivessem inseridos. Possibilitar a autonomia discente é pensar em um ensino crítico, plural e que respeite as diferenças; um ensino em que a realidade socioeconômica e cultural daqueles que habitam e circundam a escola seja levada em conta e inserida centralmente no debate sobre a escola e pela escola. 13 Projeto de Ensino na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Uma escola que estrutura o seu Projeto Político Pedagógico de acordo com as necessidades da sociedade local será uma escola em que as demandas serão atendidas, os alunos terão acesso a um ensino crítico e outras possibilidades de sociedade poderão ser pensadas e promovidas por meio do amplo debate. Já uma escola em que não referência os seus valores a partir das demandas locais, será uma escola em que nada dialoga com as suas necessidades e muito provavelmente perderá o controle sobre o processo de ensino-aprendizagem, levantando ao desinteresse educacional ou até mesmo a episódios de insurreições diversas. Conclusão O Projeto Político Pedagógico tem como objetivo nortear os valores que referenciarão a escola e, justamente por isso, assim como o Planejamento Escolar, necessita ser constantemente debatido para analisar se a prática docente está atingindo as expectativas. A escola é mais do que um local de disseminar o saber, também é um local de sua construção e debate perante a sua validade e importância para que as demandas sociais sejam atingidas e, sobretudo, as discriminações e moralismos diversos combatidos, com o objetivo de que se valorizem as diferenças. Uma escola plural é uma escola que está preparada para lidar com as diferenças e valorizar todas as formas e possibilidades de vidas, pois, assim, as mais diversas demandas serão atendidas. 14 Projeto de Ensino na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 4. PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO Objetivo Olhar a escola pelas múltiplas perspectivas que estão inseridas em seu cotidiano é de suma importância para que possamos pensar em outras possibilidades educacionais e que a escola atenda as demandas das crianças, dos jovens e dos próprios professores. Construir uma escola de forma colaborativa é possibilitar que todos os que estão inseridos em seu cotidiano estejam, de fato, inseridos em seu cotidiano. Introdução Há tempos a escola deixou de ser um local onde apenas se ensina as disciplinas obrigatórias – isto é, às vezes me pergunto quando que foi criado esse discurso de que cabe à escola escolarizar e à família educar. Afinal de contas, a escola sempre foi um espaço de escolarização, educação e socialização. Portanto, a escola é um importante local de construção de uma sociedade mais plural que respeite as diferenças e que desconstrua as discriminações e preconceitos existentes. Pensar na escola para além das disciplinas obrigatórias é pensar numa escola que esteja preparada para as demandas sociais e que tenha interesse em fazer do seu ambiente um local para os debates, e não apenas um local enquanto assimilação de um dado conhecimento norteado como obrigatório. E falo sobre interesse em fazer do seu ambiente um local para os debates pelo fato de que muitas escolas não têm esse interesse e acreditam que possibilitar essa ação intramuros trará problemas para a sua ordem. Conforme visto no último texto da semana passada, os alunos resistem à norma e subvertem-na nas mais diversas formas e possibilidades. Tudo isso pelo simples fato de que eles querem uma escola que tenha representatividade para eles, que dialogue com as suas necessidades e atenda os seus anseios. Não essa escola como está configurada em dias atuais e que herdamos desde o séc. XVIII. Sim uma escola contemporânea. 4.1. Navegar é preciso, viver não é preciso (Eita, não?) De um dado não temos dúvidas: a escola como está dada, está ultrapassada, cansada e monótona. Não atinge as necessidades dos alunos e nem os anseios dos professores. Mas, então, por que continuamos fazendo as mesmas atividades nela? Por que mantemos a nossa metodologia a mesma maneira que aprendemos anos/décadas 15 Projeto de Ensino na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância atrás quando éramos estudantes? Por que reclamamos da escola, mas não a mudamos? São essas perguntas que buscarei responder ao longo dessa semana. Começo inicialmente propondo o Planejamento Participativo enquanto metodologia de ação que possibilite mudanças na escola, para que não apenas as reuniões sejam permeadas por professores, como também tenham representações discentes e familiares. Obviamente que a estes dois últimos não caberá cercear e nem censurar quais assuntos serão tratados em sala de aula – haja vista que temos os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) que normatizam a prática docente, assim como a LDB e a Constituição Federal. As suas participações se darão para que possam promover novas ideias, olhares e perspectivas sobre a escola. Ganzeli (2000, p. 3) afirma que “quando não existe participação pode ocorrer um processo de fragmentação dos diferentes "olhares" sobre a escola, ou seja, a escola vista e vivenciada pelo pai, não necessariamente corresponde àquela analisada e vivenciada pelo professor”, e muito menos aquela almejada pelo aluno. Pois, os múltiplos olhares se dão a partir de diferentes perspectivas e entendimentos sobre a função da escola na sociedade e a quem ela de fato interessa. Convidar para as reuniões todos os envolvidos na educação é realizar um convite para uma nova possibilidade escolar. Lembro, ainda, que quando falo sobre convidar para reunião não estou falando para as reuniões de pais e mestres ou algo do tipo, sim para as reuniões decisórias sobre a escola, os objetivos para aquele ano e tudo que a envolve. Preferencialmenteem horário em que todos possam participar, haja visto que se as demandas contemporâneas de trabalho muitas vezes impossibilitam que pais e alunos estejam presentes nas reuniões de pais e mestres, o que dirá, então, numa reunião colaborativa. 4.2. Quem sabe faz a hora, não espera acontecer Reconhecendo a necessidade de promover a participação entre docentes, discentes e responsáveis, partiremos, agora, para a ação de planejar. Ou seja, como fazer um planejamento que realmente esteja de acordo com as demandas contemporâneas e como implementá-las na escola, para que o sucesso seja obtido e o fracasso diminuído – o que, 16 Projeto de Ensino na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância muito possivelmente, continuará ocorrendo, pois, a escola é um locus de constante mudança. Ainda assim, ressalto que só de partirmos do reconhecimento da importância do trabalho conjunto, muitas melhorias poderão ser implementadas na escola. Pensar a escola e as suas múltiplas facetas possibilitam que olhemos para ela com o propósito de tirar o que há de melhor, tanto de sua estrutura física predial como de seu capital cultural da soma de todos que ali estão. Para isso, um bom planejamento, dialogando com as realidades locais e demandas específicas são de fundamental importância para que os objetivos traçados no início do ano sejam mais facilmente alcançados. A ação de planejar, portanto, não se reduz ao simples preenchimento de formulários para controle administrativo, é, antes, a atividade consciente da previsão das ações político – pedagógicas, e tendo como referência permanente às situações didáticas concretas (isto é, a problemática social, econômica, política e cultural) que envolve a escola, os professores, os alunos, os pais, a comunidade, que integram o processo de ensino. (Libâneo, 1994, p. 222) - LIBÂNEO, José Carlos, Didática. São Paulo. Editora Cortez. 1994. Uma escola localizada num bairro periférico terá demandas diferentes daquelas localizadas num bairro central e, justamente por esse motivo, a aula que ministramos numa escola nunca dará certa se ministrarmos igualmente em outra escola. O mesmo ocorre com o planejamento. Se não olharmos para a comunidade local, para as suas necessidades pontuais e pensarmos em possibilidades de melhorias conjuntamente escola-comunidade, a prática educativa estará impossibilitada. Planejar é pensar, dialogar, problematizar, construir, descontruir, ordenar, modificar e tantos outros sinônimos que possamos imaginar para uma ação ininterrupta pelo simples fato de que a escola não é um lugar de atividades fim, sim de atividades constantes e mutáveis. A ação de planejar é a ação da empatia, do olhar e buscar compreender, do reconhecer os limites docentes e institucionais, do pensar possibilidade para atentar as necessidades e, acima de tudo, de realizar um convite para a comunidade participar não apenas do processo de planejamento como um convite à comunidade para a escola. 17 Projeto de Ensino na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 4.3. Bebida é água! Comida é pasto! Você tem sede de que? Estamos no séc. XXI e muitas crianças já vêm pré-alfabetizada de suas casas por conta da utilização de joguinhos em celulares e tablets de seus pais. Estas mesmas crianças estão inseridas numa outra dinâmica social muito diferente daquela em que nós, professores, estivemos inseridos em nossa infância. Seus raciocínios lógicos nos surpreendem em virtude destes mesmos joguinhos em que são pré- alfabetizadas enquanto brincam por meio da ludicidade e brincadeira. Sabem colocar o desenho da cobra onde está escrito cobra, sabem colocar a casa onde está escrito casa e sabem reivindicar, a sua maneira, as suas necessidades. O mesmo processo, mas obviamente que com demandas diferentes, passa a nossa juventude com seus próprios celulares e tablets em mãos. A juventude mudou, a escola precisa mudar. Qual a sede das crianças? Qual a sede dos jovens? Qual a sede dos adultos? Será que a escola está preparada saciar a sede das crianças, dos jovens e de nós, professores? Por que, então, mantemos essa mesma escola e não pensamos em outras possibilidades escolares? Outros tipos de estruturas e hierarquias? Outras formas metodológicas? A escola é um local de construção de cidadania e sujeitos críticos, não pode ser um local de alienação e educação em sistema bancário. Nela podemos possibilitar um ambiente de amplo debate e desenvolvimento da cidadania por meio da construção de outras relações entre estudantes-escola-sociedade. Essa tríade será capaz de mudar não apenas a relação perante a educação como a relação perante a próprio sociedade em si. Afinal de contas, se acreditamos que a escola é capaz de mudar a sociedade, precisamos começar mudando a própria escola. Conclusão A escola pode ser um local muito diferente do que temos hoje – que é o mesmo que tivemos em nossas épocas e nas épocas de nossos avós. Para que isso ocorra, necessitamos encarar as mudanças, fazer do ensino um ato político (como já dizia Paulo Freire) e trazer para nós a responsabilidade destas mudanças. Mas não unilateral e individualmente, sim de forma compartilhada com estudantes e com a comunidade. 18 Projeto de Ensino na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância É possível construirmos novas relações com a comunidade em que a escola está inserida e fazer com que a escola seja um ambiente favorável ao ensino, a aprendizagem e que atenda as necessidades estudantis. Para que isso ocorra, necessitamos apenas de escuta, de empatia e de compreensão. A escola é um local de extrema importância na sociedade e justamente por isso necessitamos fazer dela um local de construção e desconstrução, de intenso debate de convite para que todos de seu entorno saibam que ali dentro há possibilidades de mudanças na sociedade que ainda estão em criação e discussão, de forma participativa, colaborativa e, acima de tudo, horizontalizada. 19 Projeto de Ensino na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 5. PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO Objetivo Debater tomadas de decisões horizontalizadas a partir de termo e conceito oriundos do meio mercadológico-empresarial visando resolução de conflitos históricos no ambiente escolar que muitas vezes prejudicam o bom andamento da instituição escolar como um todo. Introdução Algumas pessoas podem se assustar ao se deparar com o termo “Planejamento estratégico” num texto sobre educação pelo fato de que essa terminologia ela costuma ser mais bem empregada no ambiente mercadológico-empresarial, não no educacional. Mas, se pararmos para ver o que tem de positivo nos planejamentos estratégicos empresariais e trouxermos para a educação, adaptando em sua singularidade e possibilitando novas melhorias. Por que não, então? O intenso dinamismo social em que estamos inseridos com o fluxo de informação cada vez mais acelerado fazem com que a escola fique, muitas vezes, aquém das expectativas discentes e até mesmo de nós professores, coordenadores e gestores. Partindo desse entendimento, ancorarei esse texto naquilo que a academia da administração, economia e até mesmo da logística vem falando sobre planejamentos estratégicos e pensaremos a partir destes pontos em sua aplicação no sistema educacional. Reconheço e entendo a possível estranheza sobre a utilização destes termos num ambiente escolar e justamente por isso faço desse texto um convite para pensarmos em mais uma nova possibilidade para a gestão escolar, para a coordenação/direção e para a docência em si. Pensar em como otimizar nosso tempo, maximizar nossos ganhos, diminuir nossas perdas, prever acontecimentos que possam dificultar o processo educacional e, assim,pensar em possibilidades para que a escola tenha o melhor aproveitamento, como um todo, para que os resultados sejam aqueles almejados. 20 Projeto de Ensino na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 5.1. Pensar, planejar e executar De todas as reuniões em que eu já participei uma frase eu sempre ouvia: estamos apagando incêndio para uma geração que não quer saber de nada, não quer aprender e muito menos respeitam os professores. No meu tempo não era assim! Bom, já pudemos perceber que esse discurso de no meu tempo não era assim, além de fantasioso e de senso comum, não há nenhum estudo que comprove a sua veracidade. Afinal de contas, a educação sempre foi calamitosa e o Estado nunca se preparou adequadamente para as suas necessidades. Pois bem, justamente por isso que necessitamos pensar sobre o que buscamos com a escola, o que os nossos alunos necessitam e como podemos disponibilizar a melhor forma possível para que as suas necessidades, e as nossas, sejam atendidas intramuros. Olhar a escola pelas múltiplas formas e pessoas já é uma possibilidade de trazer melhorias para dentro da escola. Planejar as ações a serem tomadas é tão importante quanto pensarmos nelas pelo fato de que o seu planejamento é a forma que tiraremos as ideias de nossas cabeças para coloca-las no papel e a melhor forma de executarmos isso é por meio do brainstorming. Termo comumente utilizado nas reuniões empresarias que significa “chuva de ideias”, é aquele momento na reunião onde todo mundo vai dando as mais diferentes ideias, positivas ou negativas, utilizáveis ou “impossíveis” perante um mesmo tema/problema. As possíveis soluções poderão aparecer a partir destas ideias. Para tanto, todos os envolvidos no processo fazem parte da reunião – o que, no caso da educação, seriam os professores, coordenadores, diretores, alunos e comunidade em geral. Para Nóbrega, Lopes Neto e Santos (1997), A sessão brainstorming, por ser uma técnica de grupo, tem por objetivo coletar ideias de todos os participantes, sem críticas ou julgamentos. Logo, destina-se ao recolhimento de ideias e sugestões viabilizadoras de soluções para determinados problemas ou situações de trabalho improdutivo. Metodologicamente, o processo de brainstorming segue as seguintes fases: 1' Fase: Criativa - os participantes da sessão apresentam o maior número deidéias e sugestões sem se preocuparem em analisá-Ias ou criticá-Ias; 2' Fase: Crítica - os participantes da sessão, individualmente, justificam e defendem suas idéias com o propósito de convencerem o grupo; é a fase de filtração de idéias 21 Projeto de Ensino na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância para a permanência das que foram melhor fundamentadas e de aceitação do grupo. (p. 249) Será a partir da fase crítica que a sua execução será possível e viável, haja vista que uma série de decisões forem pensadas, discutidas e planejadas para só então serem postas em prática. A execução é tão importante quanto o ato de pensar e planejar. Por ser uma metodologia de resolução de conflitos e tomadas de decisões horizontalizadas, todas as suas partes são de suma e igual importância para a obtenção do resultado satisfatório. 5.2. Do impossível ao possível para não mais morrer afogado no raso Horizontalizar as decisões com participação de todos os envolvidos na escola é a chave central para que os problemas possam ser mais facilmente sanados. Quando se fala sobre todos os envolvidos, compreende- se que todas as pessoas que trabalham na escola – independentemente de suas funções e escolaridades – e todas as pessoas que a frequentam – independentemente de seus comportamentos – necessitam participar das reuniões e enriquecer o brainstorming. Criar uma boa gestão de pessoas, possibilitar uma ampla participação nas resoluções dos conflitos e permitir intervenção nas tomadas de decisões são perspectivas mercadológicas que podem favorecer o desenvolvimento da educação frente as demandas específicas vivenciadas pela escola. Mas lembre-se que cada escola tem a sua demanda em especifica e não tem como importarmos integralmente um modelo que deu certo em outro local apenas por ter dado certo. Vale a pena salientar que conflitos entre crianças, adultos, educadores fazem parte do processo de crescimento e construção do conhecimento. Liderança exige paciência, compreensão e determinação. Muito dificilmente atingiremos um propósito e um objetivo se não delegarmos as funções, ouvirmos o próximo e estarmos preparados para a crítica. O poder de escuta é algo que poucos sabem utilizar com sabedoria, mas aqueles que o fazem, garantem sucesso. 22 Projeto de Ensino na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Por fim, termino este texto com a seguinte pergunta para a próxima imagem: como podemos querer que o nosso planejamento estratégico funcione se, mesmo sabendo que ele deve ser específico para aquela instituição em específica, as pessoas procuram-no Google e explicita que existem um milhão e quinhentos mil links para planejamentos estratégicos escolares pronto? Conclusão Conforme pudemos ver, muito podemos trazer do ambiente empresarial para uma melhor gestão da nossa escola. Podemos ouvir, debater, discutir, sempre no que se refere o assunto, sem levar para o lado pessoal, pois, assim, todos ganharão com a resolução daquele determinado problema. Se falamos da escola enquanto um ambiente democrático e de construção de cidadania, por que excluímos a maioria da participação das reuniões e tomadas de decisão, deixando a cargo apenas de determinados professores, coordenadores e diretores que nem escolhidos pela comunidade foram? Se falamos de uma escola democrática, temos que chamar a comunidade para a sua participação na tomada de decisão. É possível pensarmos em outras possibilidades escolares, utilizarmos de exemplos que deram certo – seja em outras escolas ou outros ambientes corporativos – para que as resoluções de conflitos sejam benéficas para todos sem que ninguém seja prejudicado, invisibilizado e/ou excluído deste processo. Outra escola é possível, basta tentar. 23 Projeto de Ensino na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 6. CONSTRUÇÃO DO PROCESSO DE PLANEJAMENTO E APLICAÇÃO NO ENSINO Objetivo: Pensar em outras possibilidades educacionais é urgente em nosso sistema escolar como um todo, e será justamente sobre isso que versaremos neste texto: como construir, planejar e aplicar um projeto de ensino que não seja tradicional. Introdução: Sair do plano das ideias para o plano da aplicabilidade é algo complicado e um momento em que muitos profissionais da educação acabam se perdendo. Afinal de contas, como sair da teoria e ir para o prático? Várias são as possibilidades de abordagens de métodos e metodologias diferenciadas para que possamos atingir as expectativas tratadas no projeto. Após uma boa discussão e planejamento, a sua aplicação é o último estágio para que possamos avaliar se tudo aquilo que outrora pensamos terá condições de ser inserido em sala de aula. Afinal de contas, vale lembrar que um planejamento não deve ser fixo e imutável. Muito menos pensarmos que não é porque ele foi discutido e desenvolvido no início do ano, que deveremos segui-lo até o final do ano, independentemente de sua aceitação ou não. Planejamento nunca é fim, sempre é meio! Conforme já visto anteriormente, conhecer as necessidades e demandas discentes são fundamentais para o sucesso de um planejamento e aplicação no ensino e, justamente por isso, podemos pensar em diversas metodologias para além da sala de aula tradicional, como estamos acostumados a lidar, para atividades extramuros escolares e também em ambientesvirtuais de aprendizagens, como o que utilizamos aqui, neste exato momento. 6.1. Para além dos muros escolares As atividades extraclasses (ou extramuros) escolares são de grande serventia para que o aluno crie outras relações com aquela disciplina em específica, principalmente pelo fato de que ele verá a sua aplicabilidade no dado contexto em que havia visto apenas nos livros e apostilas didáticas. 24 Projeto de Ensino na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Aprender sobre a natureza e o meio ambiente, a importância de cultivar alimentos saudáveis e se alimentar deles, como funciona a relação desses alimentos com o meio ambiente e, sobretudo trazer novas concepções entre o alimento existente no supermercado e/ou no prato da refeição para o alimento plantado, com todas as relações existentes de trabalho, mão de obra, etc, são formas de mostrar a nossos alunos que a ciência aprendida na escola está em seus cotidianos – assim como outras disciplinas. Muitas escolas acabam por deslegitimar a importância da atividade de campo ao falar que será feito um passeio. Esse discurso desqualifica todo o planejamento existente por trás desta atividade, pois faz com que os alunos não compreendam as importâncias e potencialidades existentes nesta atividade. Quando um aluno é levado à campo para ver a aplicabilidade dos conceitos escolares in loco, acaba por desenvolver uma série de saberes dos mais diversos possíveis como, por exemplo, o poder de percepção, escuta, entendimento, liderança, relacionamento com o outro, com o diferente, com o novo, dentre outros. Por isso, é importante salientar que um trabalho de campo compreende não só a saída propriamente dita, mas as fases de planejamento (incluindo a viabilidade da saída, os custos envolvidos, o tempo necessário, a elaboração e a discussão do roteiro, a autorização junto aos responsáveis pelos alunos, entre outros aspectos), execução (a saída a campo), exploração dos resultados (importante para retomar os conteúdos, discutir as observações, organizar e analisar os dados coletados) e avaliação (verificando, por exemplo, se os objetivos foram atingidos ou mesmo superados, quais aspectos foram falhos, a percepção dos alunos sobre a atividade). (Viveiro, Diniz, 2009: 4) Olhar para além da atividade em si é importantíssimo para que o trabalho planejado seja bem executado. Dialogar com as outras áreas do saber também é de fundamental importância para que a sua densidade seja mais bem explorada e a atividade seja a mais rica possível. 6.2. Ambientes Virtuais de Aprendizagem: sala de aula 2.0 Já pudemos compreender massivamente que a dinâmica da sala de aula nos dias atuais mudou completamente. A exemplo disso, olhemos para nós mesmos que estamos aprendendo por meio de um ambiente virtual de aprendizagem (AVA), com videoaulas, apostilas, fóruns interativos, planejamento semanal enquanto um guia de estudos para 25 Projeto de Ensino na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância melhor aprender os conteúdos, etc. Nós mesmos já estamos inseridos em uma outra dinâmica e contexto social que muitas vezes nem percebemos. A distância deixou de ser meramente geográfica para praticamente inexistente, visto que podemos matar a saudade de um parente que não vemos há tempos como também podemos ir ao Egito num clicar de mouse: google maps, google Earth, whatsapp, facebook, instagram, twitter, google classroom, apple classrom, moodle, etc. Aquilo que entendíamos como sala de aula deixou de ser há muitos e muitos anos, a discussão que tínhamos anos atrás sobre “o professor não é mais o centralizador, apenas o mediador do conhecimento” também não se faz mais atual e contemporânea. O professor passou a ser um participante da construção do conhecimento no mesmo instante que ensino e passa aos alunos aquilo que sabe pois, caso haja uma dúvida, um esquecimento ou até mesmo um desconhecimento acerca de um determinado assunto ou ponto da matéria, ele poderá, na frente de seus alunos, pegar o seu celular e pesquisar na internet, compartilhando do momento de aprendizagem coletivamente. O Ensino a Distância revolucionou a forma como o conhecimento chega nas pessoas e revolucionará ainda mais quando a sua metodologia for mais acessível às escolas. Digo isso porque ele revolucionou o Ensino Superior e poderá fazer o mesmo pelo Ensino de Base. Obviamente que não podemos esquecer e/ou ignorar as diferenças e desigualdades sociais onde nem todo mundo tem celular e smartphone, assim como temos regiões onde este tipo de tecnologia ainda é um artigo de luxo. Entretanto, para aquelas regiões em que o seu uso faz parte do dia a dia das pessoas, a escola poderá tirar o melhor proveito possível de seu uso. Conclusão Finalizamos essa semana mostrando a importância de que um planejamento esteja condizente com o cotidiano daquela escola e com a sua realidade, assim como os métodos de ensino diferenciados podem propiciar que o planejamento seja executado conforme esperado. 26 Projeto de Ensino na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Olhar a escola para além dos livros didáticos e de seus muros aprisionantes é olhar para uma escola que possibilita a emancipação discente por meio da construção de seus próprios saberes. Saberes esses construídos na rua, nas praças, nas amizades, na internet, etc. Mais uma vez lhe convido para pensar numa outra possibilidade de escola, pensar em métodos e metodologias diferentes, pensar em mudanças significativas que dialoguem com o nosso próprio cotidiano. Tentar é uma forma de mudar. Mudar é trazer melhorias. 27 Projeto de Ensino na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 7. PLANO DE ENSINO E SEUS OBJETIVOS Objetivo Pensar na importância do plano de ensino – não como algo teórico dito feito – mas sim enquanto instrumento pedagógico que nos possibilite analisar e diagnosticar a escola em seus pontos positivos e negativos. Será a partir de provocações ao nosso cotidiano que partiremos os 3 pontos elencados neste texto: nem preciso estudar mais essa matéria, já sei tudo de cor e, por fim, pegar o giz e escrever na lousa. Introdução Conforme visto na semana passada, um planejamento nunca pode ser “comprado” ou reaproveitado, visto que o processo educacional é dinâmico e cada unidade escolar tem a sua característica, o mesmo ocorre com o plano de ensino (popular e erroneamente conhecido como plano de aula). Delimitar o assunto a ser abordado a partir dos PCNs não é o ponto mais importante da prática pedagógica, sim a metodologia que será empregada nesta temática. Podemos ter uma matéria de um professor considerada como “legal e sensacional” pelos seus alunos e também podemos ter essa mesma matéria, mas com outro professor, e considerada como “chata e maçante”. Tudo isso pela metodologia de ensino escolhida pelos professores e como se estruturou o seu plano de ensino. A propósito, quando foi a última vez que você sentou para organizar um? Sempre que escutarmos que “nem preciso mais estudar essa matéria porque já sei tudo de cor, basta entrar na sala de aula, pegar o giz e começar a escrever na lousa que vem tudo à mente”, necessitaremos parar para pensar em toda essa frase porque seus elementos serão centrais para este capítulo: 1) nem preciso mais estudar essa matéria; 2) já sei tudo de cor; 3) pegar o giz e escrever na lousa. Será a partir destes três pontos que dividirei os três subcapítulos a seguir para que possamos pensar se realmente não precisamos estudar mais uma determinada matéria, se já sabemos de cor tudo sobre ela e se pegar o giz e começar a escrever na lousa realmente é a melhor metodologia a se determinar no plano de ensino. 28Projeto de Ensino na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 7.1. Nem preciso mais estudar essa matéria Planejar um plano de ensino requer tempo, dedicação, atenção e acima de tudo, empatia. Digo empatia acima de tudo pelo fato de que se não nos colocarmos no lugar dos alunos, jamais saberemos qual tipo de metodologia eles preferem que seja abordada em sala de aula e qual tipo de metodologia melhor funciona com aquela determinada classe. Cada unidade de ensino requer uma atenção diferente, cada sala de aula requer um olhar diferenciado e cada aluno requer uma necessidade específica. Reconhecer todos esses pontos é saber que há a necessidade de constantemente olharmos nosso plano de ensino para melhor adequar a aula e assim fazer com que ela não seja cansativa. Se descobrirmos qual metodologia funciona com determinada sala de aula, não perderemos mais tempo dando bronca do que aula e consequentemente teremos um desgaste muito menor do que temos quando adotamos um mesmo plano de ensino para todas as classes – isto é, se é que adotamos um. É importante destacar que o plano é um tipo de planejamento que busca a previsão mais global para as atividades de uma determinada disciplina durante o período do curso (período letivo ou semestral) e que pode sofrer mudanças ao longo do período letivo por diversos fatores internos e externos. (Spudeit, 2014: 2) O plano de ensino deve se moldar de acordo com aquela instituição escolar com o objetivo seja de fazer a manutenção da ordem vigente ou possibilitar as potências juvenis e escolares daquela instituição, reivindicando outras possibilidades de ensino. A partir do momento em que mapearmos estas questões, teremos condições de possibilitar melhorias educacionais. • Quais são os fatores que levam a juventude ao fracasso escolar e o que influencia para que o desinteresse pelo processo de aprendizagem seja maçante o suficiente ao ponto de os alunos preferirem não aprender. • Quais possibilidades metodológicas existem para que uma aula seja mais interessante e aumente a participação dos alunos, fidelizando-o a este processo? O processo de ensino é dialético e, portanto, haverá constantes tensionamentos perante aqueles que não se sintam atendidos pelo processo de ensino-aprendizagem – infelizmente conhecidos como turma do fundão ou bagunceiros. Mas, raro são os 29 Projeto de Ensino na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância momentos em que os professores olham para si e se perguntam os motivos de determinados desinteresses e quais fatores que desencadearam este desinteresse. Ou seja, qual foi o gatilho? 7.2. Já sei tudo de cor Ambas as perguntas elencadas em laranja no item anterior eu recomendo a leitura do livro A produção do fracasso escolar, de Maria Helena Souza Patto, em que faz uma leitura excelente de como o fracasso escolar, o aluno bagunceiro, o aluno desinteressado na verdade é produzidos pela própria escola e pelo sistema escolar como um todo. Ainda que aparente se provocar e ouvir um argumento como esse, quantos de nós não demos aulas para a meia dúzia interessada e ignoramos o restante? Ou, então, quantos de nós já não falamos para aquele aluno desinteressado abaixar a cabeça e dormir? Será que nós também somos responsáveis pela produção do fracasso escolar ao não buscarmos outras possibilidades metodológicas para o ensino? Faço estas provocações justamente para que possamos refletir ao fato de sempre criticarmos o sistema escolar, mas por estarmos inseridos nele há tempos, podemos também estar assimilando a sua identidade. Ou seja, sendo subjetivado por essa lógica da produção do fracasso escolar. Do ponto de vista das práticas escolares, mais do que descrever um estado prévio ou constitutivo do sujeito, o ‘diagnóstico’ – seja em sua ver- são ‘científica’, seja na modalidade de um ajuizamento escolar – opera, assim, como poderoso meio de realização de suas próprias profecias. Por outro lado, sua enunciação sumária e burocrática parece desonerar professores e pesquisadores da educação da busca por fatores internos às práticas escolares que sejam potencialmente condicionantes da não aprendizagem. (Carvalho, 2011: 573) 30 Projeto de Ensino na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Toda hipótese necessita de um diagnóstico e não será diferente com a educação. Precisamos diagnosticar, buscar entender e compreender quais são os motivos que levaram para que o fracasso ocorra dentro da nossa sala de aula. Só assim poderemos pensar em mudanças e melhorias. 7.3. Pegar o giz e escrever na lousa Quantas vezes já perguntamos aos alunos o que eles realmente gostariam de aprender e buscamos possibilidades de inserir seus interesses no plano de ensino? Início com essa pergunta por que ela será o gatilho para esse último subtítulo pelo simples fato de que muitos e muitos professores nunca fizeram essa pergunta aos alunos e afirmam ser desnecessárias e inviáveis quando se comenta sobre a sua importância. Ora, buscarmos outras possibilidades educacionais é pensarmos em outros tipos de escola, outros tipos de fazer docência e outros tipos de sermos professor. Justamente por esse outro olhar que busco construir coletivamente com vocês que eu lhes faço um convite: vamos pensar em outras possibilidades educacionais e outros tipos de escola? Não existe fórmula, não existe equação e não existe mágica na educação. Existe tentativa e erro, existe hipóteses e análises, existe busca pela melhoria para todos e também a intensa e interminável capacitação docente – não aquela apenas do certificado que tanto buscamos, mas a de frequentar galerias de artes, peças de teatro, concertos de música, rodas juvenis, etc. Buscar outros olhares, outras perspectivas e outras influências. O fazer docente não ocorre apenas dentro da sala de aula e a partir dos Conteúdos Curriculares Nacionais, este fazer está em nosso cotidiano, nas mínimas conversas que temos com a família, amigos e desconhecidos na fila do mercado. Está ao assistir televisão e reconhecer os enunciados nos jornais, compreender como os momentos políticos influenciam significativamente a sala de aula e a prática docente, como um todo. Recentemente vivemos episódios de censurar à galerias de arte, peças de teatro e abordagem das temáticas de gêneros e sexualidades em sala de aula como vivenciamos apenas em 31 Projeto de Ensino na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância momentos de Ditaduras Militares. Todo esse cerceamento e censura extramuros não podem ocorrer intramuros escolares. Mais uma vez faço um convite: vamos pensar em outras possibilidades de escola? Conclusão: A sala de aula é o local do pensar, do debater e do (des)construir porque ela tem como esse objetivo de acordo com os PCNs, com a LDB e com a Constituição Federal e é justamente por esse motivo que fiz diversos questionamentos e convites neste primeiro texto da última semana. Já nos conhecemos bem e sabemos a metodologia de cada um, tanto minha enquanto docente como a de vocês enquanto discentes. Provocações são necessárias para que saiamos da zona de conforto e reconheçamos nossos limites e necessidades, sejam elas urgentes ou não. Ainda que falar de educação seja falar de atraso, de dificuldades e baixo investimento, temos que reconhecer que essas questões fazem parte da educação e o governo, como um todo, tem as suas intencionalidades em manter o trabalho docente precário. Sendo assim, cabe a nós trazermos a responsabilidade para nós mesmos e reivindicarmos estas outras possibilidades escolares, educacionais e relacionais entre docente e discente, saberes e conhecimentos. 32 Projeto de Ensino na Educação Especial Universidade SantaCecília - Educação a Distância 8. PROJETO INTERDISCIPLINAR Objetivo Reconhecer a importância de um projeto interdisciplinar que de fato perpasse em todas as áreas do saber ou, em sua grande parte, para que os alunos possam ver em seus cotidianos a aplicabilidade dos conceitos e conteúdo aprendidos em sala de aula. Introdução Uma das grandes possibilidades de mudança no ensino escolar que, se bem aproveitado, pode revolucionar todo o processo educacional contemporâneo e necessita de uma enorme e adequada atenção nas reuniões pedagógicas é a criação de um projeto interdisciplinar que de fato seja interdisciplinar – não aquele projeto que tem tal nome, mas que as disciplinas não se convergem. Trabalhar os saberes interligados, dando inteligibilidade à construção do conhecimento e possibilitando que os alunos vejam a sua aplicação no próprio cotidiano é de extrema importância para que o conhecimento escolar passe a ter significado para os alunos e também para nós, professores. As reuniões pedagógicas têm um papel importante para realizar o diagnóstico e debate sobre o projeto que necessita contar com a participação dos alunos (ou de seus representantes) para que o projeto dialogue com a necessidade de seus pares e, assim, ele tenha o sucesso batalhado. Quando falamos deste tipo de projeto não precisamos ir longe, buscar locais inatingíveis e com sucesso duvidoso, devemos pensar dentro de nossa própria escola e em seu entorno. Em quais informações contém na escola e nos alunos, o que o bairro propicia, o que a cidade tem de atrativo para ter enquanto centralidade no projeto, etc. Este olhar mais apurado permitirá que olhemos a cidade em outra perspectiva e compreenda que ela é um locus de intensa e extensa produção do saber que, se bem aplicado ao conteúdo escolar, poderemos ter outras possibilidades educacionais para além da sala de aula. 8.1. Uma rua, uma esquina, uma árvore, uma praça Acordamos e nos espreguiçamos. Levantamos, tomamos banho e depois um café da manhã. Trocamo-nos e nos locomovemos à escola, seja de carro, moto, ônibus, metrô, bicicleta ou a pé. Chegamos a ela, entramos, damos oi a todos os presentes, sentamo-nos na sala dos professores, damos risadas, conversamos, pegamos nosso material e vamos 33 Projeto de Ensino na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância para a sala de aula. Nela, relacionamo-nos com os alunos que fizeram, muito provavelmente, o mesmo calvário da gente: sair da cama, tomar banho, comer, ir para a escola. Pois bem, a partir de uma perspectiva mais crítica, já podemos trabalhar a interdisciplinaridade no momento do sair da cama ao retornar a ela. Tudo tem conhecimento, tudo tem saber, tudo tem ciência! Quantas reações químicas o corpo tem ao despertar e sair da cama para trabalharmos na aula de ciências? O andar, tomar banho e comer requer uma grande quantidade de deslocamento para trabalharmos na aula de matemática, assim como a importância da geografia para nos localizarmos e andarmos. Não poderemos nos esquecer, em hipótese alguma, de como a evolução histórica permitiu que comamos alimento quente e também tomemos um banho quente pela manhã pois, por meio de todo o processo histórico, onde os mais diversos saberes foram desenvolvidos para que pudéssemos fazer hoje em dia todas essas ações. A interdisciplinaridade permite que olhemos para as ações cotidianas compreendendo todas as articulações e convergências dos saberes em nossas práticas. Mas, por que não a utilizamos em nossa sala de aula já que usamos em nosso cotidiano? Por falta de planejamento! As características de um projeto interdisciplinar evidenciam-se por partirem da possibilidade de rever o velho e torná-lo novo, pois em todo novo existe algo de velho. Durante todo seu movimento de realização, há efetivação de diálogo, em que se revelam novos indicadores; é dada importância ao caráter teórico-prático; registra-se e efetiva-se as experiências vividas no cotidiano da sala-de-aula; faz revisão e releitura crítica de aspectos retidos na memória; trabalha em parceria como necessidade de troca e de consolidação do conhecimento; o ambiente de trabalho transgride todas as regras de controle costumeiro; respeita o modo de ser de cada um e o caminho que cada um busca para sua autonomia; surge de alguém que já desenvolvia a atitude interdisciplinar, contamina os outros. (Francischett, 2005: 8) Portanto, olhar o velho (ou seja, o nosso cotidiano) e buscar analisar os saberes envolvidos possibilita que criemos um projeto interdisciplinar sem nenhum gasto e nem 34 Projeto de Ensino na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância custo para a escola, sendo necessário os professores balizarem quais conhecimentos serão trabalhados neste projeto e como se desenvolverá no cotidiano escolar. 8.2. Uni, duo, múltiplos Num mercado onde a alta competitividade aposenta forçadamente aqueles profissionais que não se adequaram e que os novos estão chegando com uma grande quantidade de conhecimentos a serem aplicados na escola, necessitamos olhar para essa nova dinâmica e dialogar com ela. Hoje um professor de uma determinada matéria acaba sabendo um pouco de tudo, além de ter que saber o tudo de seu pouco (de sua disciplina) e justamente por isso a escola tem total condição de desenvolver um projeto interdisciplinar extremamente coerente com o Projeto Político Pedagógico daquela instituição. Dialogar com as diferentes ciências significa mostrar ao aluno como elas se aplicam, como os conceitos estão aplicados e como os conhecimentos fazem sentido quando o vemos em nossa frente. De casa até a escola permeamos por ambientes informacionais da língua portuguesa, das ciências, história e geografia, matemática e física, dentre outros. Mostrar como os conhecimentos são relacionais e se convergem num determinado momento é mostrar ao aluno que aquilo que ele aprendeu na sala de aula e, popularmente falando não se aplicaria no seu cotidiano, está ali em sua frente, mas que, por falta de criticidade no processo de ensino-aprendizagem e do desenvolvimento de um bom projeto interdisciplinar, esse mesmo aluno não teve (ou não teria) condições de vê-lo. Propor essa abordagem metodológica é propor outro olhar perante não apenas aos saberes científicos da escola como também possibilitar que os professores se relacionem entre si, conheçam o trabalho do outro, os conhecimentos do outro, que os alunos também se relacionem e criemos, assim, novas perspectivas educacionais. A escola, ao trabalhar a interdisciplinaridade, enriquece seu cotidiano e possibilita que os alunos participem do processo de construção do conhecimento enquanto formadores e criadores dos respectivos saberes. 35 Projeto de Ensino na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Conclusão Um projeto bem elaborado é capaz de unir as mais diferentes disciplinas com o propósito de que todos tenham acesso ao saber – não enquanto algo dado, posto, fixo e rígido – enquanto um eterno processo de construção e desconstrução. Quando bem estruturado e elaborado, os conteúdos escolares passam a ter um propósito e serem coerentes. Um dos grandes problemas dos conteúdos escolares é que eles ficam soltos, sem nada que os amarre. Por mais que possamos “fechar” o conteúdo ao término da aula, muito dificilmente ele dialogará com a outra disciplina pela inexistência de um eixo comum, de um projeto comum, de um norte em comum para todos os conteúdos escolares. Desenvolver um projeto interdisciplinar é muito além de desenvolver um simples e projeto qualquer, é nos colocar a prova, testar nossos limites, nos conhecermos e conhecermos o outro em sua peculiaridade e em seu saber. A construção de um projeto interdisciplinar requer rigor, dedicaçãoe empatia. 36 Projeto de Ensino na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 9. PAPEL DO PROFESSOR MEDIADOR E O PLANEJAMENTO EDUCACIONAL Objetivo Finalizar a nossa disciplina mostrando a importância de pensar na educação a distância como um método real de ensino para a escola, em como as nossas mudanças sociais empreendendo em outras possibilidades melhoram a aprendizagem e, por fim, um último e grande convite: vamos continuar estudando sempre? Introdução Neste último texto, proporei um retorno ao item 6.2, deste Guia da Disciplina, onde trabalhamos a questão do ensino a distância e suas possibilidades educacionais. Farei esse retorno para que possamos, por fim, pensar, mais uma vez, em outras possibilidades escolares com o objetivo de fecharmos essa disciplina. Já falamos de inúmeros assuntos emergenciais para o ensino nacional, seja ele público ou privado, e as possibilidades de mudanças que temos para a escola e para o professor. Justamente por isso, farei um diálogo final entre a possibilidade de usarmos mais o ensino a distância como uma forma de melhorar o nosso método de ensino e pensar no empreendedorismo na educação. As múltiplas ferramentas existentes na internet podem fazer com que o ensino seja mais dinâmico e passe a ter os alunos como, por exemplo, vocês mesmos, produtores do conhecimento a partir das provocações que faço no meu Guia da Disciplina, nas minhas videoaulas, nos meus fóruns, testes e questão discursiva. Quando digo sobre nossos alunos serem produtores do conhecimento, afirmo com a plena ciência de que o google, os grupos de whatsapp, o youtube e outras ferramentas virtuais lhe ajudaram nesta disciplina. E por que afirmo isso? Porque essa é a maravilha existente na internet! Quando reconhecemos nossos limites e dificuldades, resolvemos tudo num clica, numa digitação e num áudio. Os tempos mudaram! 9.1. Mediar para alternar e alterar Pensar na importância da mediação do conhecimento é reconhecer que nossos alunos vêm com as suas bagagens culturais e podemos trazê-las para o conteúdo escolar por meio do diálogo e da alternância. Sim, alternância! Do saber, do conhecimento e da 37 Projeto de Ensino na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância informação. Todos nós a temos, seja enquanto professor ou enquanto aluno. Com toda a certeza do mundo vocês sabem de algo que eu não sei principalmente no que se refere aos seus cotidianos e com relação a sua sala de aula; justamente por isso que para que aprender, necessitei da alternância do conhecimento que construímos em nossas 3 semanas – a esse fato falarei do planejamento no próximo item deste texto. Cada conhecimento construído nestas 3 semanas de aula, de debate, de dúvidas, de discordâncias e concordâncias serviram para que pudéssemos aprender um pouco mais sobre o que é ser professor, sobre quais questões existem no cotidiano de cada um e como não há fórmula e nem mágica para aplicarmos um conteúdo na sala de aula. Pensar a sala de aula para além da estrutura física em si é de extrema importância e urgência, haja vista que nossos alunos estão hiperconectados e nasceram com smartphones e tablets em mãos. Isso significa que a escola como conhecemos hoje, que já estava defasada há décadas, agora ficou totalmente para trás. Possibilitar a construção do conhecimento por meio de grupos no facebook, no whatsapp, criando salas virtuais gratuitamente no google ou no moodle são metodologias que facilitarão para que o processo de ensino-aprendizagem esteja moderno e condizente com o que se espera de uma escola no séc. XXI. Para a atuação em uma disciplina ou curso on-line, o professor orientador deve acompanhar o aluno propondo questões problematizadoras e atividades que se tornem desafios. Além disso, deve atuar responsável, crítica e comprometidamente nessa nova modalidade de ensino, atentando para a complexidade e especificidade que requer o ensino e a aprendizagem. (Inocêncio, 2007: 7) As vezes pode parecer loucura ler tudo isso, eu sei! Muitas vezes eu também me pergunto sobre “e a vida privada? E meu momento de lazer? Mas eu só ganho para ficar aqueles 50 minutos dentro da sala de aula, não para trabalhar em casa! etc”. Reconheço todas essas perguntas e problematizações que fazem parte do nosso cotidiano, mas, se pararmos para olhar com mais atenção, quando alguém fala que não tem whatspp, logo perguntam: mas como assim você não tem whatsapp??? Assim como, aqueles que já têm, muito provavelmente estão em algum grupo de trabalho (ou, até mesmo, alguns grupos de trabalho). 38 Projeto de Ensino na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Sim, já estamos inseridos nesta nova dinâmica e apenas não nos atentamos à ela. Para tanto, precisamos inserir nossos alunos nessas novas dinâmicas para que nossas aulas sejam mais atrativas e interessantes. 9.2. Planejar para compartilhar Ao final do primeiro capítulo do item anterior eu falei sobre como construímos a alternância de conhecimento ao longo destas 3 semanas e encerro este texto falando justamente sobre isso, sobre tudo o que venho falando desde o início: a importância de um bom planejamento. Planejar é xadrez! Durante a construção de todo esse material, eu pensei na formação de vocês, como possivelmente interagiam com outras disciplinas, quais os questionamentos que mais levantavam e participavam das atividades, etc. Tudo isso para que eu pudesse planejar com o máximo de atenção todo o conteúdo a ser trabalhado durante as 3 semanas. Ah! Antes que pense que fiz tudo isso apenas para conhecer melhor o que falar e como colocar no papel, eu fiz tudo isso pensando em vocês e como deveria mostrar vários temas tornando as aulas cada vez mais dinâmicas e interativas. Busquei conhecê-los sem nem antes vê-los, saber das demandas e necessidades para então pensar nas possibilidades educacionais que eu poderia propor. Afinal de contas, de que adiantaria eu vir aqui durante as 3 semanas falando sobre pensarmos em outras possibilidades de atividade e desempenho escolar e fazer o mesmo? Não me atentar as questões de cada um para pensar os conteúdos a serem trabalhados? Se eu estou convidando você a pensar em outras possibilidades é porque eu também tenho que pensar nelas, eu também tive que sair da minha zona de conforto e arquitetar e empreender outras formas de ensino-aprendizagem. Pensar no conteúdo como um todo foi a chave para essa disciplina e é o que eu gostaria que fosse para todos vocês. Olhar a escola como um todo e dentro desse todo as suas individualidades, as suas questões, as suas particularidades pois, a partir de cada partícula, temos um todo, um coletivo, um corpo. Bom, melhor eu ir parando por aqui porque já entrarei em química e biologia e nos alongaremos mais! 39 Projeto de Ensino na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Conclusão Enfim, terminamos a nossa disciplina e espero que tenham gostado dos debates e das provocações. Foi a partir desses pontos que busquei por em prática tudo o que eu prego para uma outra possibilidade educacional e tudo o que eu inseri nestes textos e nas videoaulas. Fui além, coloquei-me a prova de mim mesma e de vocês. Busquei outros olhares e passei das fronteiras. Tudo isso para mostrar que podemos sim pensar em outras possibilidades. Tenho a certeza que olhar o todo em seu conjunto e o uni em suas particularidades possibilitam melhorias, compreensões e empatia frente as diversas questões que aparecem em nosso cotidiano escolar. Não há fórmula, não há mágica e não há moldes. Há estudo, estudo e mais estudo. Não parei de estudar e não pararei de estudar. Esse é o último convite que faço a vocês: vamos continuar a estudar sempre? Sem nunca
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