Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ALBERTI E FILARETE D A P E R P E T I V A À C I D A D E I D E A L K A M I L A M A S C A R E N H A S ( R A : N 2 6 2 5 6 - 7 ) U N I V E R S I D A D E P A U L I S T A - U N I P T H A U I I I - P R O F ª A N A C A R O L I N A TRATADOS RENASCENTISTAS A arquitetura do Renascimento é dividida em dois períodos. O primeiro ocorreu em florença, no século XV,e apresenta um estilo mais leve, simples. O segundo período toma conta de Roma, já no século XVI, apresentando- se mais rico e grandioso, é a Alta Renascença. Com o desaparecimento do Gótico, surge um estilo que expõe a nova maneira do homem daquele século ver o mundo, baseado no Humanismo e nos métodos da razão. Através do estudo da antiguidade, os arquitetos Renascentistas estabelecem critérios para suas construções, voltando-se para o mundo clássico, valorizando sua natureza e seu uso. O edifício renascentista apresenta elementos decorativos que derivam do vocabulário arquitetônico do mundo antigo, e a partir desses preceitos os arquitetos do renascimento baseiam seus tratados arquitetônicos. Utilizam-se desses elementos não de forma estrutural mas, como forma de decoração, introduzindo em suas obras elementos característicos do classicismo como colunas, frontões, sempre de forma harmoniosa e padronizada. Os Tratados italianos do século XVI são os de maior importância, pois traduziram a forma de viver a Renascença. Como principais teóricos da arquitetura, das artes e literatura, e um dos maiores arquitetos do Renascimento, podemos destacar Leon Battista Alberti, Filarete, Andrea Palladio, Donato Bramante, Filipo Brunelleschi e Michelangelo, dentre outros. Na arquitetura, o resgate de formas gregas e romanas foi usado para criar um novo estilo, correspondendo às demandas da razão humana e substituindo as necessidades místicas predominantes até o período medieval. Leon Battista Alberti (1404-1472), de aristocrática família florentina, era um típico cortesão italiano do século XV: “cavaleiro e um atleta brilhante, (...) escrevia peças e compunha música, pintava e estudava física e matemática, era um perito em leis, e seus livros abordam tanto questões de economia doméstica como de pintura e arquitetura”. A arquitetura deve a ele alguns de seus conceitos fundamentais. Alberti afirmava que a beleza arquitetônica de um edifício estava no acordo lógico das partes com o todo. Através de seus estudos resolveu um problema que se tornou fundamental na arquitetura do Renascimento, consistindo em como aplicar um sistema clássico de articulação ao exterior, à fachada de uma edificação não clássica. Assim, Alberti introduziu a parede, utilizando- se de linhas clássicas como forma decorativa e não estrutural. LEON BATTISTA ALBERTI Uma das principais intenções de Alberti era a de elevar o profissional de arquitetura da época à um praticante das chamadas “artes liberais”, que segundo seu pensamento, eram aqueles “que praticam uma coisa mental”, e não das artes mecânicas, “que elaboram uma coisa material”. Assim, em 1436, elaborou o Tratado “Della Pittura”. Neste tratado Alberti procurou elevar as três belas artes à categoria de artes Liberais. “O objetivo principal de Alberti… é precisamente o de estabelecer as bases científico-naturalísticas da pintura… para os quais o conteúdo objetivamente científico da perspectiva é determinante e o que, por si só, justificava a sua maior qualificação”. Também para Brunelleschi, a representação deveria ter um caráter racional e geométrico-matemático. As artes Liberais eram constituídas na Alta Idade Média pela pintura, escultura e arquitetura. A gramática, a retórica e a lógica (ou dialética) constituíam as artes Sermocinales ou Trivium e a geometria, a aritmética, a astronomia e a música, constituíam as artes Reais ou Quadrivium. Na Renascença assiste- se a uma aproximação entre estas artes, um esforço de síntese entre a ciência e a arte, entre a prática e a teoria. “AS ARTES, SÃO APRENDIDAS PELA RAZÃO E PELO MÉTODO; SÃO DOMINADAS PELA PRÁTICA”. (LEON BATTISTA ALBERTI) O “De Re Aedificatoria” – Considerado o primeiro Tratado de arquitetura dos tempos modernos, o De Re Aedificatoria, foi publicado em 1486, por Niccolo di Lorenzo Alamani em Florença O tratado de Leon Battista Alberti é composto por dez “capítulos” que discorrem sobre os seguintes assuntos: Capítulo I – O Delineamento Capítulo II – A Matéria Capítulo III – A Construção Capítulo IV – Edifícios para fins universais Capítulo V – Edifícios para fins particulares Capítulo VI – O Ornamento Capítulo VII – O Ornamento de edifícios sagrados Capítulo VIII – O Ornamento de edifícios públicos profanos Capítulo IX – O Ornamento de edifícios privados Capítulo X – O Restauro das obras No primeiro capítulo deste Tratado, Alberti discorre sobre a teoria do desenho da arquitetura. “Entre o desenho do pintor e o do arquiteto há esta diferença (…). O desenho da arquitetura é o desenho da planta – a projeção ortogonal horizontal. A planta e a maquete são as modalidades da representação da arquitetura”. Para Alberti a produção gráfica é o reflexo das idéias geradas na mente. O desenho significa o conjunto de linhas traçadas sobre um suporte, mas também o conjunto de operações mentais que antecede o traçado da planta: uma forma mental. "O arquiteto é aquele que, com o auxílio da razão e de uma regra maravilhosa e precisa, sabe dividir as coisas com o seu espírito e com a sua inteligência e sabe compor com perfeição, no decurso do trabalho de construção, todos aqueles materiais que pelo movimento das massas e a reunião e encaixe dos corpos, podem servir eficaz e dignamente as necessidades do homem”. (Leon Battista Alberti – tradução livre da versão italiana). Capa da edição de Cosimo Bartolo – 1550 O desenho da planta e a maquete atuam como intermediação entre a idéia e a construção, entre a forma mental e a forma concreta. Alberti sempre acreditou na conexão entre a arquitetura, a música e a matemática, reconhecendo a importância da teoria das proporções e de suas relações com os intervalos musicais. Baseou-se nela também para imprimir ritmo, harmonia, métrica e composição aos seus projetos. Referindo-se à arquitetura, Alberti defende em seu primeiro livro, a importância do desenho que para ele é o elo entre a arquitetura e a matemática. No segundo livro, lida com o conhecimento dos materiais necessários para se construir, e no terceiro com os métodos de construção. Os três livros abrangem em seu todo, os aspectos do estudo científico da arquitetura, teórico e técnico. Em seu De Re Aedificatoria, Alberti delimita o campo da arquitetura à arte da edificação. Entende-se por “delineamento”, “ato de delinear; representação por traços gerais; traçado, esboço. 2. O primeiro esboço ou projeto de qualquer obra; plano geral…” (Novo Dicionário Aurélio). Alberti entende “delineamento” como “as linhas que se traçam, como as linhas que delimitam os corpos – arestas – e as linhas que delimitam a visão dos corpos – contornos. O delineamento define o que vejo…” No Livro I de seu Tratado, Alberti descreve os princípios que compõem as partes da arquitetura. Inspirando-se em Vitruvio, estabelece: “que cada uma dessas partes seja adequada ao uso definido a que se destina e, acima de tudo, seja total a sua sanidade; que para sua firmeza e duração, não tenha defeito, seja sólida e quase eterna; que, para ser bela e agradável, tenha elegância, harmonia e embelezamento em todos os pormenores.” O termo delineamento na visão de Alberti significa a representação por meio de linhas ou traços do objeto que se constrói assim como, aos mecanismos de sua construção. No Prólogo de seu tratado está presente a palavra Arkhitékton que é um termo grego composto pelo substantivo tékton, que significa carpinteiro ou construtor e peloprefixo arkh, que significa mestre ou ordenador. Platão sugere que “o Arkhitékton não é um operário e sim um diretor de uma obra, que contribui com conhecimento teórico, e não com uma participação manual para a realização da obra”. Alberti descarta estas definições e defende a arquitetura como sendo uma atividade prática, que se baseia na junção de habilidades que necessitam de conhecimentos variados, e de uma atividade mental disciplinada e ao mesmo tempo, individual do arquiteto. Ele afirma que “Quanto a mim, proclamarei que é arquiteto aquele que, com um método seguro e perfeito, saiba não apenas projetar em teoria, mas também realizar na prática todas as obras que, mediante a deslocação dos pesos e a reunião e conjunção dos corpos, se adaptam da forma mais bela às mais importantes necessidades do homem” (Prólogo do De Re Aedificatoria). O De Re Aedificatoria é o primeiro tratado de arquitetura do Renascimento que não é ilustrado em seu texto original. Segundo alguns estudiosos, isso possivelmente deve-se ao fato de que a idéia de Alberti de mostrar a arquitetura como sendo “uma coisa mental”, seria contraditória à representação gráfica no texto, ou que poderia também sofrer modificações através das reproduções como eram feitas na época, de forma manuscrita. A falta de imagens, de desenhos no texto, impossibilitou a reprodução generalizada da obra de Alberti. Em alguns casos ele sugere que sejam colocadas regras de representação de desenhos através de letras maiúsculas “C”, “L”, combinadas de diferentes formas, como se neste caso, fosse possível representar as formas desenhadas de platibandas, coroamentos, meias canas, etc. Somente em 1486, com o advento da imprensa, o Tratado de Alberti foi publicado. Em 1550, em Florença, foi feita a primeira impressão com imagens que ilustram os princípios de Alberti. Trata-se da L’architettura (De Re Aedificatoria) de Leon Battista Alberti, traduzida em língua fiorentina da Cosimo Bartoli, e publicada por Lorenzo Torrentino. Desde essa publicação, os textos ilustrados do De Re Aedificatoria aparecem, em grande parte, com os desenhos da edição de Bartoli. Existem várias publicações do Tratado de Alberti. Desde sua primeira publicação, foram feitas edições em Latim, Italiano, Espanhol, Alemão, Francês, entre outras línguas, porém, não se conhece até o momento, nenhuma editada na língua Portuguesa. Enfim, Alberti foi um classicista bastante consciente, estudioso da Antiguidade, mais científico na aplicação do conhecimento arqueológico que possuía. Eliminou os últimos traços góticos da arquitetura, sendo mais prudente na utilização das ordens. Tratou a arquitetura “como sendo o que traz a glória à cidade, como ela ornamenta a cidade”. Alberti “produz” uma arquitetura civil, não somente para clientes privados ou para a Igreja. Elabora planos para a cidade inteira, e cada detalhe se subordina ao projeto principal da cidade como um todo. Em sua visão de plano para cidades, define regras que valorizam a construção, como o local para a implantação, que deve ser saudável, ter clima temperado, estar bem situado no que diz respeito a suprimento de água, ser de fácil defesa. Após, deve ser claramente traçado, com boas ruas principais conectadas com pontes e com as portas da cidade. As ruas devem ser largas o bastante para não haver congestionamento. De preferência que sejam projetadas de forma simétrica com casas de ambos os lados, e padronizadas, repetindo-se dos dois lados. Alberti considerava também os diferentes tipos de edifícios a serem construídos na cidade e discorreu sobre eles. Os mesmos são divididos por ele, em três grupos: públicos, casas de cidadãos importantes e casas do povo. Sobre os edifícios públicos, ele escreveu detalhadamente que, deveriam constar torres, pontes, praças, palácios de justiça, igrejas e teatros, todos com o máximo de esplendor possível. As casas dos cidadãos mais importantes, também deveriam ser dignificadas, porém, sem ostentação, baseando-se na beleza do projeto e conveniência do arranjo. Nas casas dos cidadãos pobres deveriam ser observados os mesmos critérios das anteriores porém, numa escala menor, mais modesta. “Os edifícios foram construídos por causa dos homens”. Leon Battista Alberti ALGUMAS OBRAS DE LEON BATTISTA ALBERTI: Palácio Rucellai em Florença Alberti introduziu pilastras e colunas nas paredes da fachada, as quais marcam o contorno das janelas que são circundadas por arcos de volta perfeita. Sobre elas, círculos e semicírculos surgem e, com ritmo e simetria a fachada é composta. Igreja de S. Francesco O arquiteto revestiu a antiga fachada de pedra com tendências renascentistas. Nas fachadas laterais criou nichos semelhantes, formados por arcos de volta perfeita e, mais uma vez, manteve a simetria. Palazzo Rucellai, Florença Igreja de Santa Maria Novella, Florença Apresentou o uso das formas consideradas perfeitas pelo Clássico, na fachada principal. O círculo, o quadrado e o triângulo fecham a composição Igreja de Sant’Andrea, Mântua Conseguiu sobrepor uma frontaria de templo em estilo clássico à tradicional fachada de igreja basilical. Para harmonizar a transformação, utilizou-se de pilastras no lugar de colunas, dando assim efeito de continuidade na superfície da parede. As pilastras são de dois tamanhos – as menores sustentam o nicho central e as maiores formam a “ordem colossal” abrangendo três andares do edifício. Neste projeto, Alberti foge a forma ideal definida em seus tratados. Explica que a planta deveria ser circular ou de uma forma derivada do círculo como o hexágono ou o quadrado, pois esta é a única forma perfeita.O arquiteto acreditava que uma igreja tinha que ser uma corporificação divina da “proporção divina”, e segundo ele, somente a forma de planta central possibilitaria isso. No final do século, após seu Tratado ficar famoso, esse tipo de planta passou a ter aceitação. Leon Battista Alberti – Mantua Itália – S. Andrea – 1470-1476 Era além de escultor e escritor, arquiteto. De 1461 a 1464 escreveu seu “Trattato di Architettura”, no qual incluiu uma visão do que seria a primeira cidade planejada de épocas modernas. Sua idéia apresentava uma cidade com esquema simétrico, porém utópica. Em seu Trattato di Architettura, Filarete descreveu a construção de uma cidade imaginária, “Sforzinda”, discorrendo sobre o ritual e a pompa de sua fundação, cujo momento seria escolhido de acordo com a observação astrológica. Porém, Filarete apresenta mais racionalidade em suas idéias do que alguns de seus antecessores. ANTONIO DI PIETRO AVERLINO, O FILARETE Manuscrito do Trattato di Architettura, Filarete – Mercado – corte perspectivo Filarete pode ser visto como um filósofo. Com suas idéias utópicas convenceu Francesco Sforza, Duque de Milão, a construir sua cidade. A localização da mesma deveria ser privilegiada pela proximidade com o mar, além de possuir uma catedral construída sobre um alto monte. Suas idéias sobre planejamento urbano, as quais tiveram influência de Alberti, são bastante antimedievais, dando grande ênfase a regularidade da disposição e a importância de se ter grandes praças nos espaços urbanos. O Tratado de Filarete se encerra com três livros sobre desenho, onde o arquiteto, apenas repete os ensinamentos e idéias matemáticas e técnicas de autores anteriores.
Compartilhar