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Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.526.287 - SP (2013/0175505-2)
 
RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI
RECORRENTE : MILTON COLLAVINI 
RECORRENTE : SHOPPING CENTER SÃO BERNARDO DO CAMPO S/C 
LTDA 
ADVOGADOS : DANIEL PEZZUTTI RIBEIRO TEIXEIRA E OUTRO(S) - 
SP162004 
LUIZ CARLOS STURZENEGGER E OUTRO(S) - DF001942A
RECORRIDO : JOSÉ ROBERTO DE ARAÚJO PELOSINI 
ADVOGADOS : CLARISSE FRECHIANI LARA LEITE E OUTRO(S) - 
SP206916 
GIOVANNA FILIPPI DEL NERO E OUTRO(S) - SP330731 
MAHE MOREIRA MAIA E OUTRO(S) - SP358777 
EMENTA
PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO DE LUCROS 
CESSANTES. POSSE INDEVIDA DE IMÓVEL. CUMPRIMENTO DE 
SENTENÇA. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA. 
ART. 50 DO CC/02. TEORIA MAIOR. ATUAÇÃO DOLOSA E 
INTENCIONAL DOS SÓCIOS. UTILIZAÇÃO DA SOCIEDADE COMO 
INSTRUMENTO PARA O ABUSO DE DIREITO OU EM FRAUDE DE 
CREDORES. COMPROVAÇÃO CONCRETA. AUSÊNCIA.
1. O propósito recursal é definir se, na hipótese em exame, estão presentes os 
pressupostos para a desconsideração da personalidade jurídica, segundo a teoria 
maior, prevista no art. 50 do CC/02.
2. Nas relações jurídicas de natureza civil-empresarial, adota-se a teoria maior da 
desconsideração da personalidade jurídica, segundo a qual a desconsideração da 
personalidade é medida excepcional destinada a punir os sócios, superando-se 
temporariamente a autonomia patrimonial da sociedade para permitir que sejam 
atingidos os bens das pessoas naturais, de modo a responsabilizá-las pelos 
prejuízos que, em fraude ou abuso, causaram a terceiros.
3. Para a aplicação da teoria maior da desconsideração da personalidade jurídica 
exige-se a comprovação de que a sociedade era utilizada de forma dolosa pelos 
sócios como mero instrumento para dissimular a prática de lesões aos direitos de 
credores ou terceiros – seja pelo desrespeito intencional à lei ou ao contrato 
social, seja pela inexistência fática de separação patrimonial –, o que deve ser 
demonstrado mediante prova concreta e verificado por meio de decisão 
fundamentada.
4. A mera insolvência da sociedade ou sua dissolução irregular sem a devida 
baixa na junta comercial e sem a regular liquidação dos ativos, por si sós, não 
ensejam a desconsideração da personalidade jurídica, pois não se pode presumir o 
abuso da personalidade jurídica da verificação dessas circunstâncias.
5. In casu , a Corte estadual entendeu que a dissolução irregular da sociedade 
empresária devedora, sem regular processo de liquidação, configuraria abuso da 
personalidade jurídica e que o patrimônio dos sócios seria o único destino 
possível dos bens desaparecidos do ativo da sociedade, a configurar confusão 
Documento: 1602818 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 26/05/2017 Página 1 de 13
 
 
Superior Tribunal de Justiça
patrimonial. Assim, a desconsideração operada no acórdão recorrido não se 
coaduna com a jurisprudência desta Corte, merecendo reforma.
6. Recurso especial parcialmente conhecido e, nesta parte, provido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira 
Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas 
taquigráficas constantes dos autos, por unanimidade, conhecer em parte do recurso 
especial e, nesta parte, dar-lhe provimento, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora. 
Os Srs. Ministros Paulo de Tarso Sanseverino, Marco Aurélio Bellizze e Moura Ribeiro 
votaram com a Sra. Ministra Relatora. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Ricardo 
Villas Bôas Cueva. 
 
Brasília (DF), 16 de maio de 2017(Data do Julgamento)
MINISTRA NANCY ANDRIGHI 
Relatora
Documento: 1602818 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 26/05/2017 Página 2 de 13
 
 
Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.526.287 - SP (2013/0175505-2)
RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI
RECORRENTE : MILTON COLLAVINI 
RECORRENTE : SHOPPING CENTER SÃO BERNARDO DO CAMPO S/C 
LTDA 
ADVOGADOS : DANIEL PEZZUTTI RIBEIRO TEIXEIRA E OUTRO(S) - 
SP162004 
 LUIZ CARLOS STURZENEGGER E OUTRO(S) - DF001942A
RECORRIDO : JOSÉ ROBERTO DE ARAÚJO PELOSINI 
ADVOGADOS : CLARISSE FRECHIANI LARA LEITE E OUTRO(S) - 
SP206916 
 GIOVANNA FILIPPI DEL NERO E OUTRO(S) - SP330731 
 MAHE MOREIRA MAIA E OUTRO(S) - SP358777 
RELATÓRIO
A EXMA. SRA. MINISTRA NANCY ANDRIGHI: 
Cuida-se de recurso especial interposto por SHOPPING CENTER 
SÃO BERNARDO DO CAMPO S/C LTDA e por MILTON COLLAVINI, com 
fundamento nas alíneas "a" e "c" do permissivo constitucional.
Recurso especial interposto em: 07/08/2012.
Conclusão ao Gabinete em: 25/08/2016.
Ação: de indenização por lucros cessantes, ajuizada por JOSÉ 
ROBERTO DE ARAÚJO PELOSINI, em face da primeira recorrente, relativos ao 
período de posse indevida de imóveis posteriormente restituídos ao recorrido em 
decorrência da procedência do pedido de ação possessória, que se encontra na 
fase de cumprimento de sentença.
Decisão interlocutória: deferiu o pedido de desconsideração da 
personalidade jurídica da recorrente, formulado pelo recorrido, para incluir seus 
sócios no polo passivo do cumprimento de sentença. 
Acórdão: negou provimento ao agravo de instrumento interposto 
pelos recorrentes, mantendo a decisão de desconsideração da personalidade 
jurídica sob o fundamento de que o encerramento irregular das atividades autoriza 
Documento: 1602818 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 26/05/2017 Página 3 de 13
 
 
Superior Tribunal de Justiça
a medida.
Embargos de declaração: interpostos pelos recorrentes, foram 
rejeitados. 
Recurso especial: alegam violação dos arts. 499, 515, § 3º, e 535, II, 
do CPC/73; 44, II, 50 e 1.052 do CC/02; 20 do CC/16; 10 do Decreto 3.708/1919, 
bem como dissídio jurisprudencial. Além de negativa de prestação jurisdicional, 
asseveram que a sociedade é parte legítima para se insurgir contra a 
desconsideração de sua personalidade jurídica. Aduzem que o encerramento 
irregular das atividades, por si só, não pode ensejar a desconsideração de sua 
personalidade. Sustentam que, uma vez integralizado o capital social, os sócios de 
sociedade de responsabilidade limitada não respondem por seus prejuízos sociais. 
Alegam que o acórdão recorrido deveria ter examinado as teses suscitadas em 
primeiro grau de jurisdição e que embasariam a impossibilidade de 
desconsideração da personalidade jurídica.
É o relatório.
 
Documento: 1602818 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 26/05/2017 Página 4 de 13
 
 
Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.526.287 - SP (2013/0175505-2)
RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI
RECORRENTE : MILTON COLLAVINI 
RECORRENTE : SHOPPING CENTER SÃO BERNARDO DO CAMPO S/C 
LTDA 
ADVOGADOS : DANIEL PEZZUTTI RIBEIRO TEIXEIRA E OUTRO(S) - 
SP162004 
 LUIZ CARLOS STURZENEGGER E OUTRO(S) - DF001942A
RECORRIDO : JOSÉ ROBERTO DE ARAÚJO PELOSINI 
ADVOGADOS : CLARISSE FRECHIANI LARA LEITE E OUTRO(S) - 
SP206916 
 GIOVANNA FILIPPI DEL NERO E OUTRO(S) - SP330731 
 MAHE MOREIRA MAIA E OUTRO(S) - SP358777 
VOTO
A EXMA. SRA. MINISTRA NANCY ANDRIGHI (Relator): 
O propósito recursal é determinar se, na hipótese em exame, estão 
presentes os pressupostos para a desconsideração da personalidade jurídica, 
segundo a teoria maior, prevista no art. 50 do CC/02.
- Julgamento: CPC/73.
I- Da violação do art. 535, II, do CPC/73
No acórdão recorrido não há omissão, contradição ou obscuridade. 
Dessa maneira, o art. 535, II, do CPC/73 não foi violado.
De fato, o acórdão recorrido enfrentou todos os temas suscitados 
pelos recorrentes, ainda que em sentido diverso do por eles pretendido, 
notadamente acerca dos requisitos para a desconsideração da personalidade 
jurídica da sociedade recorrente. Não houve, assim, negativa de prestação 
jurisdicional capaz de ensejar a declaração de nulidade do acórdão recorrido.
II - Da ausência de prequestionamento (arts. 499 e 515, § 3º, do 
CPC/73)
Documento: 1602818 - Inteiro Teor do Acórdão - Sitecertificado - DJe: 26/05/2017 Página 5 de 13
 
 
Superior Tribunal de Justiça
O acórdão recorrido não decidiu acerca dos arts. 499 e 515, § 3º, do 
CPC/73, indicados como violados, apesar da interposição de embargos de 
declaração. Por isso, o julgamento do recurso especial é inadmissível. Aplica-se, 
neste caso, a Súmula 211/STJ.
Ademais, a ausência de prequestionamento do tema que se supõe 
divergente, qual seja, a aplicação do art. 499 do CPC/73, referente à legitimidade 
recursal, impede o conhecimento da insurgência veiculada pela alínea "c" do art. 
105, III, da CF/88. Nesse sentido: AgRg no AREsp 559.004/SP, Quarta Turma, 
DJe 30/05/2016 e AgRg no AREsp 732.472/SP, Terceira Turma, DJe 03/11/2015.
III - Da Pessoa Jurídica e da autonomia de seu patrimônio
A personalidade jurídica é, segundo Francesco Ferrara, “uma 
armadura jurídica para realizar de modo mais adequado os interesses do 
homem ” (in TOMAZETE, Marlon. Curso de Direito Empresarial: Teoria Geral 
e Direito Societário. v. 1, 5ª ed. São Paulo: Atlas, 2013. p. 235).
Trata-se de instituto jurídico cujo objetivo é incentivar o 
empreendedorismo por meio da limitação de seus riscos, fomentando, assim, o 
desenvolvimento econômico da sociedade por meio da produção de riquezas, do 
aumento da arrecadação de tributos, da criação empregos e da geração de renda.
Essa limitação dos riscos ocorre por meio da previsão de autonomia 
do patrimônio da pessoa jurídica em relação ao dos seus sócios; uma forma de 
“blindagem patrimonial”. Essa “blindagem” impede que, na hipótese de insucesso 
nos investimentos, a responsabilidade seja atribuída de forma imediata e pessoal 
aos sócios, favorecendo a exploração da atividade empresarial.
É por isso que, em regra, os bens particulares dos sócios somente 
podem ser executados por dívidas da sociedade depois de executados os bens da 
pessoa jurídica, nos termos do art. 1.024 do CC/02.
A depender do tipo societário, a autonomia do patrimônio da pessoa 
Documento: 1602818 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 26/05/2017 Página 6 de 13
 
 
Superior Tribunal de Justiça
jurídica em relação ao dos sócios é, todavia, ainda mais ressaltada, como é a 
hipótese das sociedades por cotas de responsabilidade limitada. De acordo com o 
disposto no art. 10 do Decreto 3.708/1919 e, atualmente, no art. 1.052 do CC/02, 
a responsabilidade dos sócios é restrita ao valor de suas quotas, somente sendo 
possível sua responsabilização ilimitada, alcançando seu patrimônio individual, 
na hipótese de excesso de mandato ou de violação ao contrato ou da lei.
De fato, “a regra é de que a responsabilidade dos sócios em relação 
às dívidas sociais seja sempre subsidiária, ou seja, primeiro exaure-se o 
patrimônio da pessoa jurídica para depois, e desde que o tipo societário adotado 
permita, os bens particulares dos sócios ou componentes da pessoa jurídica 
serem executados ” (TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único. 
4. ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro, São Paulo: Forense, Método, 2014. p. 
137).
IV - Da Desconsideração da Personalidade Jurídica (art. 50 do 
CC/02)
A personalidade jurídica e a blindagem patrimonial dela decorrente 
são véus que devem proteger o patrimônio dos sócios na justa medida da 
finalidade para a qual a sociedade se propõe a existir. 
Nas relações civis-empresariais, segue-se, quanto ao tema, o disposto 
no art. 50 do CC/02, o qual, segundo a jurisprudência desta Corte, adota a teoria 
maior da desconsideração da personalidade jurídica (AgInt nos EDcl no AREsp 
960.926/SP, Rel. Terceira Turma, DJe 02/02/2017; REsp 1.325.663/SP, 3ª Turma, 
DJe 24/06/2013; AgInt no AREsp 472.641/SP, Quarta Turma, DJe 05/04/2017; 
AgRg no AREsp 159.889/SP, 4ª Turma, DJe 18/10/2013).
Segundo essa teoria, se a autonomia patrimonial servir de ensejo para 
que os sócios utilizem as sociedades como instrumento para a realização de fraude 
contra os credores ou mesmo abuso de direito, praticados mediante violação da lei 
Documento: 1602818 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 26/05/2017 Página 7 de 13
 
 
Superior Tribunal de Justiça
ou do contrato social e, ainda, da confusão patrimonial, a personalidade jurídica 
deve ser desconsiderada.
A teoria maior da desconsideração da personalidade jurídica tem 
como parâmetro de incidência, portanto, a atuação ilegítima da sociedade. Desse 
modo, segundo a teoria maior, a autonomia patrimonial é relativizada para punir 
os sócios, superando-se temporariamente a personalidade jurídica da sociedade 
para permitir que sejam atingidos os bens das pessoas naturais, de modo a 
responsabilizá-las pelos prejuízos que, em fraude ou abuso, causaram a terceiros.
A teoria maior da desconsideração fortalece e aperfeiçoa a pessoa 
jurídica, porquanto tende a fortalecer a separação patrimonial, evitando os 
indevidos desvios de finalidade ou a mistura de patrimônio da sociedade com o 
dos sócios.
A rigor, portanto, a desconsideração da personalidade da pessoa 
jurídica resguarda interesses de credores e também da própria sociedade 
indevidamente manipulada. 
V – Da interpretação dos requisitos da Teoria Maior da 
Desconsideração pela jurisprudência da Segunda Seção
Em nosso ordenamento jurídico civil-empresarial, a desconsideração 
da personalidade prevista no art. 50 do CC/02 consiste em medida que ocorre 
sempre excepcionalmente, e nunca de forma geral. 
É medida excepcional, pois, caso contrário, esvaziar-se-ia por 
completo a proteção conferida pelo ordenamento jurídico às sociedades de 
responsabilidade limitada e aos respectivos sócios, cujo patrimônio passaria a 
estar sujeito a percalços econômico-financeiros, inevitáveis e inerentes ao normal 
desenvolvimento da atividade empresarial. 
A desconsideração da personalidade jurídica exige, portanto, a 
verificação objetiva do preenchimento do pressuposto legal que autoriza a sua 
Documento: 1602818 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 26/05/2017 Página 8 de 13
 
 
Superior Tribunal de Justiça
aplicação, qual seja, o abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio 
de sua finalidade ou pela confusão patrimonial.
Nessa linha, já decidiu a Segunda Seção que “para a aplicação da 
teoria maior da desconsideração da personalidade social, exige-se o dolo das 
pessoas naturais que estão por trás da sociedade, desvirtuando-lhe os fins 
institucionais e servindo-se os sócios ou administradores desta para lesar 
credores ou terceiros ” (EREsp 1306553/SC, Segunda Seção, DJe 12/12/2014).
De acordo com o entendimento desta Corte, por meio da atuação 
ilícita e fraudulenta dos sócios, a pessoa jurídica é utilizada como mero 
instrumento para dissimular a prática de lesões aos direitos de credores ou 
terceiros. Por esse motivo, “para se deferir a desconsideração da personalidade 
jurídica, é necessária prova concreta do abuso da personalidade” (AgInt no 
AREsp 937.023/PR, Quarta Turma, DJe 13/10/2016; AgRg no AREsp 
757.873/PR, Terceira Turma, DJe 03/02/2016).
É imprescindível, pois, que exista comprovação do “abuso da 
personalidade jurídica, como excesso de mandato, demonstração do desvio de 
finalidade (ato intencional dos sócios em fraudar terceiros com o uso abusivo da 
personalidade jurídica) ou a demonstração de confusão patrimonial 
(caracterizada pela inexistência, no campo dos fatos, de separação patrimonial 
entre o patrimônio da pessoa jurídica e dos sócios ou, ainda, dos haveres de 
diversas pessoas jurídicas) ” (AgInt nos EDcl no AREsp 960.926/SP, Rel. 
Terceira Turma, DJe 02/02/2017; AgInt no AREsp 472.641/SP, Quarta Turma, 
DJe 05/04/2017).
Diante disso, a mera demonstração de estar a pessoa jurídica 
insolvente para o cumprimento de suas obrigações ou mesmo a alteração de 
endereço, não constitui motivo suficiente para a desconsideração da personalidade 
jurídica, não se podendo presumir, dessas circunstâncias, a efetiva prática do 
abuso dapersonalidade jurídica. Por essa razão, “as instâncias ordinárias devem, 
Documento: 1602818 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 26/05/2017 Página 9 de 13
 
 
Superior Tribunal de Justiça
fundamentadamente, concluir pela ocorrência do desvio de sua finalidade ou 
confusão patrimonial desta com a de seus sócios, requisitos objetivos sem os 
quais a medida torna-se incabível” (AgRg no REsp 1496638/SP, Terceira Turma, 
DJe 28/10/2016).
VI – Da hipótese concreta
O Tribunal de origem fez, de fato, remissão aos fundamentos da 
decisão de primeiro grau de jurisdição que havia deferido a desconsideração da 
personalidade jurídica da sociedade recorrente. 
A decisão de primeiro grau, por sua vez, enumerou os seguintes 
fundamentos para admitir a desconsideração da personalidade jurídica:
a) o descompasso entre a prosperidade econômica e a posterior 
insolvência da pessoa jurídica; 
b) o esvaziamento patrimonial contemporâneo ao encerramento da 
atividade empresarial; e
c) a não realização de encerramento irregular, com processo de 
liquidação, caracterizadora, a um só tempo, do desvio de finalidade – 
haja vista que a dissolução irregular teve o objetivo de livrar a pessoa 
jurídica da responsabilidade, e não o de realizar o objeto social – e da 
confusão patrimonial – pois o patrimônio dos sócios seria o único 
destino possível dos bens sociais –, sendo essa a moldura fática 
delimitada pelo acórdão recorrido (e-STJ, fl. 554).
Se essas circunstâncias estão na moldura fática do acórdão recorrido, 
não é necessário reexaminar fatos e provas para a análise da alegada violação ao 
art. 50 do CC/02.
Com efeito, a decisão de primeiro grau destaca que o encerramento 
irregular caracteriza desvio de finalidade e que essa prática abusiva configura 
confusão patrimonial, pois o patrimônio dos sócios seria “o único destino possível 
Documento: 1602818 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 26/05/2017 Página 1 0 de 13
 
 
Superior Tribunal de Justiça
de bens desaparecidos do ativo da sociedade ” (e-STJ, fl. 382).
Infere-se, portanto, que a Corte estadual, ao aderir aos fundamentos 
constantes na decisão interlocutória que deferiu a aplicação da disregard doctrine 
(e-STJ, fls. 381-383), entendeu que a dissolução irregular da sociedade 
empresária devedora e sua insolvência fariam presumir a ocorrência do abuso da 
personalidade jurídica. 
Assim, o entendimento veiculado no acórdão recorrido contraria a 
orientação jurisprudencial do STJ de que a mera demonstração de insolvência da 
pessoa jurídica ou de dissolução irregular da empresa sem a devida baixa na Junta 
Comercial, por si sós, não servem de ensejo à Desconsideração da Personalidade 
Jurídica prevista no art. 50 do CC/02. 
Com efeito, como se trata de aplicação da teoria maior da 
desconsideração, é necessária a prova concreta do desvio de finalidade ou da 
confusão patrimonial. Seria necessária, portanto, a demonstração de que a 
sociedade era utilizada de forma dolosa pelos sócios como mero instrumento e 
para dissimular a prática de lesões aos direitos de credores ou terceiros – seja pelo 
desrespeito intencional à lei ou ao contrato social, seja pela inexistência fática de 
separação patrimonial – o que não é evidenciado na hipótese dos autos.
O acórdão recorrido merece, portanto, reforma, ante a ausência de 
comprovação da ocorrência do abuso da personalidade jurídica praticado 
dolosamente pelos sócios da pessoa jurídica executada ou de inexistência de 
separação fática entre seus patrimônios, requisitos autorizadores da medida de 
desconsideração da personalidade jurídica prevista no art. 50 do CC/02.
VII – Dispositivo
Forte nessas razões, CONHEÇO PARCIALMENTE do recurso 
especial e, nessa parte, DOU-LHE PROVIMENTO para afastar a desconsideração 
da personalidade jurídica da primeira recorrente em relação ao segundo 
Documento: 1602818 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 26/05/2017 Página 1 1 de 13
 
 
Superior Tribunal de Justiça
recorrente, impedindo que seu patrimônio seja responsabilizado pelas dívidas da 
sociedade.
Documento: 1602818 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 26/05/2017 Página 1 2 de 13
 
 
Superior Tribunal de Justiça
CERTIDÃO DE JULGAMENTO
TERCEIRA TURMA
 
 
Número Registro: 2013/0175505-2 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 1.526.287 / SP
Números Origem: 00639292720118260000 5640119960117543 639292720118260000 70842038
PAUTA: 16/05/2017 JULGADO: 16/05/2017
Relatora
Exma. Sra. Ministra NANCY ANDRIGHI
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. MÁRIO PIMENTEL ALBUQUERQUE
Secretária
Bela. MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : MILTON COLLAVINI 
RECORRENTE : SHOPPING CENTER SÃO BERNARDO DO CAMPO S/C LTDA 
ADVOGADOS : DANIEL PEZZUTTI RIBEIRO TEIXEIRA E OUTRO(S) - SP162004 
 LUIZ CARLOS STURZENEGGER E OUTRO(S) - DF001942A
RECORRIDO : JOSÉ ROBERTO DE ARAÚJO PELOSINI 
ADVOGADOS : CLARISSE FRECHIANI LARA LEITE E OUTRO(S) - SP206916 
 GIOVANNA FILIPPI DEL NERO E OUTRO(S) - SP330731 
 MAHE MOREIRA MAIA E OUTRO(S) - SP358777 
ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Coisas - Posse - Esbulho / Turbação / Ameaça
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão 
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Terceira Turma, por unanimidade, conheceu em parte do recurso especial e, nesta parte, 
deu-lhe provimento, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora.
Os Srs. Ministros Paulo de Tarso Sanseverino, Marco Aurélio Bellizze (Presidente) e 
Moura Ribeiro votaram com a Sra. Ministra Relatora. 
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva.
Documento: 1602818 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 26/05/2017 Página 1 3 de 13

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