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Principais causas de deficiência Patrícia Silvestre Freias Luciana Scheid Neste texto, optamos por apresentar as principais causas a partir dos três tipos de deficiências elegíveis para o esporte paralímpico: visual, intelectual e física. Vamos conhecê-los? 1. Deficiência visual Trata-se de uma condição irreversível de diminuição da resposta visual (baixa visão ou cegueira) em face de causas congênitas, hereditárias, ou adquiridas através de traumas oculares ou de doenças oculares (degeneração senil da córnea ou alterações devidas a hipertensão arterial ou diabetes), com ou sem tratamento clínico e/ou cirúrgico ou uso de óculos convencionais. Entre as causas, podemos citar a retinose pigmentar, retinopatia da prematuridade e a retinopatia diabética. A deficiência visual pode ser identificada pelo não reconhecimento visual de objetos e pessoas, baixo aproveitamento escolar ou atraso no desenvolvimento. Principais causas para deficiência visual: Congênitas – albinismo, atrofia óptica, catarata, estrabismo, glaucoma, hipermetropia, miopia, rubéola materna, sífilis, toxoplasmose. Adquiridas – ambliotropia, astigmatismo, catarata, conjuntivite, deslocamento da retina, diabetes, glaucoma, presbiopia, retinopatia da prematuridade, sarampo, toxoplasmose, traumatismos diversos. 2. Deficiência intelectual Conceitualmente, essa deficiência pode ser caracterizada por limitações significativas tanto no funcionamento intelectual como nos comportamentos adaptativos, avaliados em função de habilidades conceituais, sociais e práticas e considerando que tenha se originado antes dos 18 anos de idade (AAIDD, 2010). Devem ser levados em conta cinco pressupostos: (a) as limitações do funcionamento intelectual devem ser considerados em função do contexto, do ambiente comunitário e da cultura típica da faixa etária de seus pares; (b) a avaliação deve considerar diversidade linguística ou cultural, diferenças na comunicação e fatores sensoriais, motores ou comportamentais; (c) deve-se presumir que as limitações frequentemente coexistem com forças na mesma pessoa; (d) a partir da descrição das limitações, devem-se prover apoio e serviços necessários; e (e) deve-se entender que, provida de apoio personalizado apropriado por um bom período de tempo, a pessoa com deficiência intelectual melhora sua qualidade de vida. Características da deficiência intelectual: • dificuldade de compreender e transmitir informações • aprendizagem lenta • memória limitada • falta de atenção • vocabulário limitado • dificuldade de relacionar ideias ligadas a números, formas, tamanhos e cores Causas pré-natais: • alterações na distribuição cromossômica do feto • infecções derivadas da entrada e multiplicação de micro-organismos no corpo causando resposta imunológica que interfere na fisiologia normal da pessoa • ingestão de álcool e drogas pela gestante ou exposição a intoxicação ou radiação • hidrocefalia ou macrocefalia resultante do bloqueio das vias fluídicas cérebro-espinhais, aumentando a pressão do cérebro contra a calota craniana. Causam crescimento exacerbado da calota craniana, atrofia cerebral e convulsões frequentes • microcefalia, ou seja, cérebro com dimensões reduzidas e hemisférios cerebrais simplificados Causas perinatais: • falta ou carência de oxigênio durante o parto • trauma que resulte em lesão cerebral Causas pós-natais: • uso de medicamentos e exposição à radiação, principalmente até os dois anos de vida • privação nutricional (desnutrição grave) • acometimento de doenças como sarampo, caxumba, meningite ou encefalite 3. Deficiência física Podemos definir a deficiência física como diferentes condições motoras que acometem as pessoas comprometendo mobilidade, coordenação motora geral e/ou fala, em consequência de lesão neurológica, neuromuscular, ortopédica ou má-formação congênita ou adquirida. Existem várias causas relacionadas à deficiência. 3.1 Nanismo O nanismo se caracteriza por uma deficiência no crescimento que resulta numa pessoa com estatura menor do que a da média da população de mesma idade e sexo. Pode afetar indistintamente mulheres e homens e, salvo raríssimas exceções, preserva a capacidade intelectual. A estatura de uma pessoa é determinada pela combinação de fatores hereditários ou genéticos e ambientais, a exemplo de desnutrição na infância. O nanismo pode ser classificado como proporcional (hipofisário ou pituitário) ou desproporcional. O primeiro é causado por distúrbios metabólicos ou hormonais (especialmente por deficiência na produção do hormônio do crescimento humano ou por resistência do organismo à ação desse hormônio) e se caracteriza pela proporcionalidade do tamanho entre os órgãos e a altura do indivíduo. Já o nanismo desproporcional decorre de uma síndrome genética que impede o crescimento dos ossos longos (fêmur e úmero), fruto do processo de ossificação das cartilagens formadoras de ossos. Assim, a pessoa tem pernas e braços curtos, cabeça grande e mãos pequenas. 3.2 Paralisia cerebral Embora seja amplamente conhecida, essa expressão não descreve o distúrbio, posto que o cérebro não se paralisa, mas fica impossibilitado de comandar adequadamente as funções motoras. Esse distúrbio acomete o sistema nervoso central comprometendo os movimentos e a postura e é tratado na literatura como encefalopatia crônica da infância. A paralisia cerebral também pode ter inúmeras causas: Causas pré-natais: ✓ anemia da gestante ✓ hemorragia durante a gravidez ✓ hipotensão ✓ desprendimento prematuro da placenta ✓ má posição do cordão umbilical ✓ cardiopatias congênitas graves ✓ rubéola ✓ toxoplasmose ✓ alterações cardiovasculares ✓ baixo peso ✓ transtornos tóxicos Causas perinatais: ✓ hemorragias intracranianas ✓ hipóxia ✓ idade materna ✓ parto prolongado ✓ traumatismo durante o parto Causas pós-natais: • traumatismos crânio-cefálicos • acidente vascular encefálico (AVE) • infecções no sistema nervoso central (meningites e encefalites) • convulsões prolongadas Há sete tipos de paralisia cerebral, que são caracterizados em função da localização da(s) lesão(ões) e da(s) área(s) do cérebro afetada(s). Trataremos aqui dos três tipos de maior incidência: 3.2.1 Paralisia cerebral espástica Ocorre em aproximadamente 70% dos casos e afeta os neurônios das vias motoras dos músculos esqueléticos. O termo espástico se refere à intensidade do tônus muscular (hipertonia). As pessoas com esse tipo de paralisia cerebral têm movimentos desajeitados e rígidos em função dos músculos tensos e têm dificuldade para mudar de posição e pegar e segurar algum objeto com as mãos. A espasticidade é classificada de acordo com as extremidades do corpo que ela afeta: monoplegia (apenas um membro), paraplegia (membros inferiores), hemiplegia (ambos os membros de um só lado), diplegia (duas pernas ou dois braços), triplegia (três membros, com frequência, duas pernas e um braço) e quadriplegia (quatro membros). 3.2.2 Paralisia cerebral atetóide Observa-se em 25% dos casos e é relativa a uma anomalia nos gânglios da base, responsáveis por organizar os movimentos finos e delicados. O termo atetoide descreve o tipo de paralisia cerebral na qual o tônus muscular oscila, sendo às vezes muito alto e às vezes muito baixo. Essa paralisia é caracterizada por movimentos automáticos, descoordenados e sem propósito. As pessoas acometidas por paralisia cerebral atetoide têm dificuldade para se manter nas posições de pé e sentada, e não raro se verificam movimentos involuntários da face e dos membros superiores que interferem na fala e na alimentação. 3.2.3 Paralisia cerebral atáxica A paralisia cerebral atáxica decorre de uma anomalia no cerebelo, responsável por controlar e coordenar os movimentos,a postura e o equilíbrio. Por conta da flutuação do tônus muscular, da descoordenação dos movimentos e do equilíbrio deficiente, as pessoas com atáxica parecem muito instáveis e trêmulas, com instabilidade postural e fala comprometida. 3.3 Acidente vascular encefálico (AVE) O AVE caracteriza-se por qualquer desordem causada por obstrução ou rompimento de vasos que interrompam o suprimento contínuo de oxigênio e glicose para a estrutura cerebral, causando uma lesão permanente. As principais sequelas são a hemiparesia ou hemiplegia, alterações nos padrões de movimento voluntário, dificuldades de linguagem, distorções viso- espaciais e problemas de memória. 3.4 Amputação A amputação pode ser definida como a remoção total ou parcial de um membro do corpo através de cirurgia ou acidente a qual é indicada em função de um trauma, do aparecimento de um tumor, de infecção, de anomalias congênitas, de doença vascular periférica, de queimaduras ou de congelamentos. A cirurgia de amputação visa retirar o membro lesado para ganhar perspectivas de retorno da funcionalidade da região amputada. 3.5 Poliomielite O poliovírus, responsável pela poliomielite, ataca a substância cinzenta da medula destruindo as células motoras. Crianças com até 5 anos são as mais atingidas. Geralmente, o poliovírus se aloja no corno anterior da medula espinhal, causando paralisia nas áreas motoras correspondentes, ainda que preservando sua sensibilidade. 3.6 Distrofia muscular De origem genética, a distrofia muscular é uma doença neuromuscular cuja característica principal é o enfraquecimento progressivo da musculatura esquelética, comprometendo os movimentos e levando, na maioria das vezes, as pessoas ao uso de cadeira de rodas. Há vários sintomas e/ou sinais do aparecimento ou evolução da doença: • na região do tórax, comprometimento do músculo cardíaco e dos músculos respiratórios • no bíceps, principalmente fraqueza muscular • na panturrilha, os primeiros sintomas se desenvolvem por volta dos 3 aos 5 anos, com manifestação de problemas nos membros inferiores como quedas frequentes, dificuldade para subir escadas, correr ou levantar do chão • nas pernas, a fraqueza progressiva evolui para incapacidade de andar, em geral, durante a adolescência • nas duas coxas – existem variações no grau de fraqueza entre os dois lados do corpo, mas a distrofia muscular jamais se limita a um lado só • nos braços inteiros – com a progressão da doença, os músculos dos membros superiores ficam comprometidos Eis os quatro tipos mais comuns: (a) distrofia muscular de Duchenne, (b) distrofia muscular de Becker, (c) distrofia fascio-escápulo-umeral, e (d) distrofia muscular do tipo cinturas. 3.7 Espinha bífida A espinha bífida é um distúrbio do tubo neural que gera má-formação da medula espinhal ou da coluna vertebral. Geralmente essa má-formação acontece no nível torácico ou lombar. Há três tipos de espinha bífida: oculta, meningocele e mielomeningocele. A primeira, mais amena e só detectável por radiografia na coluna, é assintomática e se caracteriza por um pequeno defeito em uma ou mais vértebras. Menos comum, o tipo meningocele caracteriza-se pela formação de um cisto ao redor da medula espinhal. O terceiro tipo, o mielomeningocele, é o mais grave e se caracteriza pelo fato de o cisto conter tanto as membranas que envolvem o canal espinhal como as raízes nervosas da medula. Com a falta de proteção da medula espinhal causada pela espinha bífida, podem aparecer nos membros inferiores deficiências neurológicas, com distúrbios sensitivos (falta de sensibilidade ou de movimentos) ou ortopédicos (má-formação óssea). Além disso, a espinha bífida pode implicar falta de controle das funções intestinal e urinária e úlceras por pressão (escaras). Os principais fatores de riscos são relativos a aspectos clínicos ou culturais da gestante: deficiência de zinco e folato (forma natural do ácido fólico), problemas crônicos (diabetes ou convulsões), ingestão de álcool durante os três primeiros meses de gestação, idade avançada ou carência alimentar. 3.8 Hidrocefalia A hidrocefalia se caracteriza pelo acúmulo excessivo de líquido cefalorraquidiano intracraniano, o que faz aumentar a pressão intracraniana. Hidrocefalia não-comunicante (obstrutiva), hidrocefalia comunicante (não- obstrutiva) e hidrocefalia de pressão normal são três tipos descritos na literatura. O primeiro decorre de um bloqueio no sistema ventricular do cérebro que impede o fluxo de fluido cerebroespinhal O segundo ocorre quando o fluxo do líquido cerebroespinhal é bloqueado depois de sair dos ventrículos. E o terceiro tipo, hidrocefalia de pressão normal, não tem suas causas bem conhecidas, mas sabemos que afeta principalmente pessoas idosas e é resultante de trauma ou doença. 3.9 Traumatismo cranioencefálico (TCE) Como o próprio nome sugere, o TCE abrange qualquer agressão (lesões corto- contusas, perfurações, fratura de crânio, movimentos bruscos de aceleração e desaceleração, estiramento da massa encefálica, dos vasos intracranianos ou das meninges) que acarrete lesão anatômica ou comprometimento funcional do couro cabeludo, do crânio, das meninges ou do encéfalo. Suas principais causas provêm de acidentes com veículos motorizados, quedas, agressões, violência ou esportes e recreação. 3.10 Traumatismo raquimedular (TRM) O traumatismo raquimedular é uma lesão na coluna vertebral (segmento cervical, dorsal ou lombo sacral) ou nas raízes nervosas causada por fatores externos. Considerando que a medula não se regenera, uma vez lesada, causa distúrbio sensorial ou motor nas regiões abaixo da lesão, levando à perda parcial (paresia) ou total (plegia) de seus movimentos e funções. Há muitas causas de TRM, entre as quais, podemos citar: acidente com arma de fogo ou branca, acidente de trânsito ou de trabalho, mergulho em águas rasas (piscina ou rio), queda ou golpe na cabeça, trauma com aceleração e desaceleração do pescoço. Sintomas: • sensibilidade e inchaço da pele na área da lesão • dor associada ao movimento • dormência ou formigamento em braços e/ou pernas • incontinência urinária e fecal • deformidade evidente da coluna vertebral Referências AMERICAN ASSOCIATION OF INTELLECTUAL AND DEVELOPMENTAL DISABILITIES (AAIDD). Intellectual disability: Definition, classification, and systems of supports. 11th ed. Washington, DC: American Association on Intellectual and Developmental Disabilities, 2010. BRASIL. Ministério da Educação. 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