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3 MATERIAL DIDÁTICO URGÊNCIA E EMERGÊNCIA NO CONTEXTO DO SUS CREDENCIADA JUNTO AO MEC PELA PORTARIA Nº 1.004 DO DIA 17/08/2017 0800 283 8380 www.faculdadeunica .com.br 2 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. SUMÁRIO UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO ............................ ......................................................... 4 UNIDADE 2 – A SAÚDE NO BRASIL ..................... ................................................... 8 2.1 A ATENÇÃO BÁSICA DE SAÚDE ................................................................................... 8 2.2 MARCOS HISTÓRICOS E LEGAIS – UMA BREVE RETROSPECTIVA ATÉ O SUS ................. 11 2.3 O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE .................................................................................. 15 2.4 POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO ÀS URGÊNCIAS ..................................................... 20 UNIDADE 3 – CONCEITOS BÁSICOS ..................... ............................................... 23 3.1 URGÊNCIA ............................................................................................................. 25 3.2 EMERGÊNCIA ......................................................................................................... 26 3.3 PRONTO-SOCORRO ................................................................................................ 26 3.4 SALA DE URGÊNCIA ................................................................................................ 27 3.5 RECURSOS ............................................................................................................ 27 UNIDADE 4 – ORGANIZAÇÃO E ESTRUTURA PARA ATENDIMENT O DE URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS ........................... ................................................... 29 4.1 ORGANIZAÇÃO ....................................................................................................... 29 4.2 ESTRUTURA ........................................................................................................... 31 UNIDADE 5 – DIRETRIZES DA REDE DE ATENÇÃO ÀS URGÊNC IAS E EMERGÊNCIAS (RUE) ............................................................................................. 36 5.1 O PLANO DE AÇÃO REGIONAL .................................................................................. 37 5.2 PROMOÇÃO, PREVENÇÃO E VIGILÂNCIA EM SAÚDE ..................................................... 38 5.3 ATENÇÃO BÁSICA ................................................................................................... 41 UNIDADE 6 –COMPONENTES DA RUE ..................... ............................................ 44 6.1 SERVIÇO DE ATENDIMENTO MÓVEL ÀS URGÊNCIAS (SAMU) ..................................... 44 6.2 UNIDADES DE PRONTO ATENDIMENTO (UPAS) ......................................................... 46 6.3 URGÊNCIA E EMERGÊNCIA EM UNIDADE HOSPITALAR ................................................. 47 6.3.1 Hospital geral ................................................................................................... 48 6.3.2 Hospital Especializado Tipo I ........................................................................... 49 6.3.3 Hospital Especializado Tipo II .......................................................................... 49 3 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 6.4 LEITOS DE RETAGUARDA ......................................................................................... 49 6.5 UNIDADES E HOSPITAIS ESPECIALIZADOS DE CUIDADOS PROLONGADOS (UCP E HCP) .................................................................................................................................. 50 6.6 SOS EMERGÊNCIAS ............................................................................................... 55 6.7 ATENÇÃO AO PACIENTE CRÍTICO .............................................................................. 56 6.8 ATENÇÃO DOMICILIAR ............................................................................................. 57 6.9 FORÇA NACIONAL-SUS .......................................................................................... 59 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 62 ANEXOS ................................................................................................................... 64 4 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO A abordagem do tema urgência e emergência é muito complexa. Se pensarmos no contexto do Sistema Único de Saúde (SUS), aumenta essa complexidade, principalmente porque envolve a necessidade de mobilização coletiva e onde os riscos de sequelas permanentes ao usuário e/ou risco de morte estão em jogo. Sem querer julgar ou apontar erros, acertos, problemas, desajustes, competências, o noticiário e as reportagens mostram cotidianamente os problemas enfrentados por aqueles que necessitam dos serviços de saúde no país, tanto que temos ai no seu auge, o programa “Mais Médicos”. Mas a verdade é que o SUS é a porta de entrada dos milhões de brasileiros que se encontram em situações de risco de morte. A área de urgência e emergência compreende a assistência pré-hospitalar realizada nos locais onde a vítima se encontra, exigindo do profissional de enfermagem qualificação para oferecer os cuidados imediatos e seguros ao paciente, qualquer que seja seu estado, bem como compreende também os prontos- socorros, de todo modo saber diferenciar urgência de emergência é o primeiro passo para planejar o atendimento à vítima (SANTOS, 2012). A enfermagem em cuidados intensivos e a enfermagem em emergência, em parceria com a equipe multiprofissional, têm um objetivo comum de restabelecer a estabilidade hemodinâmica do cliente criticamente doente e as decisões da triagem requerem o julgamento rápido e eficaz de dados objetivos e subjetivos do cliente. Igualmente existem dilemas éticos que atingem a prestação de cuidados ao cliente criticamente doente e aos clientes em situações de emergência (HUDDLESTON; FERGUSON, 2006). Mas ainda não é chegado o momento de discutirmos essas dimensões do cuidado em urgência e emergência. O foco do momento é a Rede de Atenção à Saúde (RAS) e a Rede de Atenção às Urgências e Emergências (RUE). A Rede de Atenção à Saúde (RAS) é definida como arranjos organizativos de ações e serviços de saúde, de diferentes densidades tecnológicas, que, integrados por meio de sistemas de apoio técnico, logístico e de gestão, buscam 5 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.garantir a integralidade do cuidado (Portaria MS/GM nº 4.279, de 30 de dezembro de 2010). Caracterizam-se pela formação de relações horizontais entre os pontos de atenção, sendo a Atenção Primária à Saúde o centro de comunicação. Entre as redes de atenção prioritárias do Ministério da Saúde, a Rede de Atenção às Urgências foi constituída considerando que o atendimento aos usuários com quadros agudos deve ser prestado por todas as portas de entrada dos serviços de saúde do SUS, possibilitando a resolução integral da demanda ou transferindo-a, responsavelmente, para um serviço de maior complexidade, dentro de um sistema hierarquizado e regulado, organizado em redes regionais de atenção às urgências enquanto elos de uma rede de manutenção da vida em níveis crescentes de complexidade e responsabilidade (Portaria MS/GM n. 1.600, de 7 de julho de 2011). A organização da Rede de Atenção às Urgências tem a finalidade de articular e integrar no âmbito do SUS todos os equipamentos de saúde, objetivando ampliar e qualificar o acesso humanizado e integral aos usuários em situação de urgência nos serviços de saúde de forma ágil e oportuna, e deve ser implementada gradativamente, em todo o território nacional, respeitando-se os critérios epidemiológicos e de densidade populacional. Constituem a base do processo e dos fluxos assistenciais de toda a Rede de Atenção às Urgências o acolhimento com classificação do risco, a qualidade e a resolutividade na atenção, que devem ser requisitos de todos os pontos de atenção (BRASIL, 2013). É composta pelos seguintes componentes: � Promoção, Prevenção e Vigilância à Saúde – objetiva estimular e fomentar o desenvolvimento de ações de saúde e educação permanente voltadas para a vigilância e prevenção das violências e acidentes, das lesões e mortes no trânsito e das doenças crônicas não transmissíveis, além de ações intersetoriais, de participação e mobilização da sociedade, visando à promoção da saúde, prevenção de agravos e vigilância à saúde; � Atenção Básica em Saúde – objetiva a ampliação do acesso, fortalecimento do vínculo e responsabilização e o primeiro cuidado às urgências e emergências, em ambiente adequado, até a transferência/encaminhamento a 6 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. outros pontos de atenção, quando necessário, com a implantação de acolhimento com avaliação de riscos e vulnerabilidades; � Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU 192) e suas Centrais de Regulação Médica das Urgências – objetiva chegar precocemente à vítima após ter ocorrido um agravo à sua saúde (de natureza clínica, cirúrgica, traumática, obstétrica, pediátrica, psiquiátrica, entre outras) que possa levar a sofrimento, sequelas ou mesmo à morte, sendo necessário garantir atendimento e/ou transporte adequado para um serviço de saúde devidamente hierarquizado e integrado ao SUS; � Sala de Estabilização – objetiva funcionar como local de assistência temporária para estabilização de pacientes críticos/graves, vinculado a um equipamento de saúde, articulado e conectado aos outros níveis de atenção, para posterior encaminhamento à Rede de Atenção à Saúde pela Central de Regulação das Urgências; � Força Nacional de Saúde do SUS – objetiva aglutinar esforços para garantir a integralidade na assistência em situações de risco ou emergenciais para populações com vulnerabilidades específicas e/ou em regiões de difícil acesso, pautando-se pela equidade na atenção, considerando-se seus riscos; � Unidades de Pronto-Atendimento (UPA 24h) e o Conjunto de Serviços de Urgência 24 horas – objetiva prestar atendimento resolutivo e qualificado aos pacientes acometidos por quadros agudos ou agudizados de natureza clínica e prestar primeiro atendimento aos casos de natureza cirúrgica ou de trauma, estabilizando os pacientes e realizando a investigação diagnóstica inicial, definindo, em todos os casos, a necessidade ou não de encaminhamento a serviços hospitalares de maior complexidade; � Atenção Hospitalar – objetiva organizar a atenção às urgências nos hospitais, atendendo à demanda espontânea e/ou referenciada, e funcionar como retaguarda para os outros pontos de atenção às urgências de menor complexidade. É constituído pelas Portas Hospitalares de Urgência, pelas enfermarias de retaguarda clínicas e de longa permanência, pelos leitos de cuidados intensivos e pela reorganização das linhas de cuidados prioritárias: 7 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. Cardiologia – Infarto Agudo do Miocárdio (IAM), Neurologia e Neurocirurgia – Acidente Vascular Cerebral (AVC) e Traumatologia; � Atenção Domiciliar – objetiva a reorganização do processo de trabalho das equipes que prestam cuidado domiciliar na atenção básica, ambulatorial e hospitalar, com vistas à redução da demanda por atendimento hospitalar e/ou redução do período de permanência de pacientes internados, a humanização da atenção, a desinstitucionalização e a ampliação da autonomia dos usuários (BRASIL, 2013). Veremos cada um desses componentes em seus pormenores. Ressaltamos em primeiro lugar que embora a escrita acadêmica tenha como premissa ser científica, baseada em normas e padrões da academia, fugiremos um pouco às regras para nos aproximarmos de vocês e para que os temas abordados cheguem de maneira clara e objetiva, mas não menos científicos. Em segundo lugar, deixamos claro que este módulo é uma compilação das ideias de vários autores, incluindo aqueles que consideramos clássicos, não se tratando, portanto, de uma redação original e tendo em vista o caráter didático da obra, não serão expressas opiniões pessoais. Ao final do módulo, além da lista de referências básicas, encontram-se outras que foram ora utilizadas, ora somente consultadas, mas que, de todo modo, podem servir para sanar lacunas que por ventura venham a surgir ao longo dos estudos. 8 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. UNIDADE 2 – A SAÚDE NO BRASIL 2.1 A atenção básica de saúde O Brasil é um país de dimensões continentais, que quando se descortina à nossa frente nos mostra municípios e regiões brasileiras vivendo os mais diversificados contextos e nos levam a perceber que a gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) – nosso sistema de saúde atual – tem uma missão muito complexa e desafiadora, principalmente em se tratando de participar da construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Para o SUS atingir os seus objetivos, é preciso qualificar permanentemente a gestão pública de saúde em todas as esferas governamentais, pois ao gestor público, em qualquer nível que se encontre, federal, estadual ou municipal, cabe uma grande responsabilidade. Eles não são meros agentes administrativos. Eles formulam e produzem políticas e estratégias institucionais, dirigem, comandam, conduzem e difundem as decisões. Muito além de qualificar os gestores, precisamos de uma equipe multiprofissional,qualificada, e, evidentemente, estrutura física equipamentos que deem o suporte básico para as múltiplas dimensões de necessidades da população. Segundo a ANVISA (2007), Serviços de Saúde são estabelecimentos destinados a promover a saúde do indivíduo, protegê-lo de doenças e agravos, prevenir e limitar os danos a ele causados e reabilitá-lo quando sua capacidade física, psíquica ou social for afetada. Para Novaes (2004), os serviços de saúde são hoje estruturas organizacionais e técnicas extremamente diversificadas, incluindo desde consultórios individuais e unidades básicas até hospitais terciários e especializados, bem como serviços de apoio diagnóstico e terapêutico. A condição essencial para sua identificação é ser o espaço onde se localizam os profissionais e as tecnologias materiais responsáveis pela realização da atenção à saúde da população. Ainda de acordo com as análises de Novaes, os serviços se transformam continuamente no que diz respeito ao perfil tanto dos profissionais, com uma ampliação nas categorias inseridas nos processos assistenciais, com especialização 9 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. horizontal (tipos de profissionais) e vertical (tipos de especialistas nas categorias profissionais), quanto das tecnologias materiais incorporadas e dos procedimentos diagnósticos e terapêuticos realizados. Isso faz com que os serviços de saúde, atualmente sempre integrados a “sistemas de atenção à saúde”, constituam-se em objetos que desafiam categorizações e dificultam as análises que buscam identificar e mensurar a sua participação e o seu impacto sobre os problemas de saúde de populações especificadas. Enfim, poderíamos dizer que os serviços de saúde possuem duas funções básicas: cuidar da doença e prevenir a doença, através da fiscalização de ambientes propícios ao surgimento de doenças e das mais diversas campanhas de conscientização da população. Qualquer tentativa de definir condensadamente a atenção básica à saúde, não conseguiria o intento, portanto, eis na íntegra a sua concepção segundo o Ministério da Saúde, que nos mostra ser a atenção básica, a sua condição mais próxima de serviço de saúde para a população: A Atenção Básica caracteriza-se por um conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrangem a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação e a manutenção da saúde. É desenvolvida por meio do exercício de práticas gerenciais e sanitárias, democráticas e participativas, sob forma de trabalho em equipe, dirigidas a populações de territórios bem delimitados, pelas quais assume a responsabilidade sanitária, considerando a dinamicidade existente no território em que vivem essas populações. Utiliza tecnologias de elevada complexidade e baixa densidade, que devem resolver os problemas de saúde de maior frequência e relevância em seu território. É o contato preferencial dos usuários com os sistemas de saúde. Orienta- se pelos princípios da universalidade, da acessibilidade e da coordenação do cuidado, do vínculo e continuidade, da integralidade, da responsabilização, da humanização, da equidade e da participação social (BRASIL, 2007). A Atenção Básica considera o sujeito em sua singularidade, na complexidade, na integralidade e na inserção sociocultural e busca a promoção de sua saúde, a prevenção e tratamento de doenças e a redução de danos ou de 10 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. sofrimentos que possam comprometer suas possibilidades de viver de modo saudável (BRASIL, 2007). Como gestores dos sistemas locais de saúde, os municípios e o Distrito Federal são os responsáveis pelo cumprimento dos princípios da Atenção Básica, pela organização e execução das ações em seus territórios. Sucintamente, temos abaixo as responsabilidades de cada esfera gestora em relação a atenção básica: a) Nível Federal: � elaborar as diretrizes da política nacional de atenção básica; � cofinanciar o sistema de atenção básica; � ordenar a formação de recursos humanos; � propor mecanismos para a programação, controle, regulação e avaliação da atenção básica; � manter as bases de dados nacionais. b) Estadual: � acompanhar a implantação e execução das ações de atenção básica em seu território; � regular as relações intermunicipais; � coordenar a execução das políticas de qualificação de recursos humanos em seu território; � cofinanciar as ações de atenção básica; � auxiliar na execução das estratégias de avaliação da atenção básica em seu território. c) Municipal: � definir e implantar o modelo de atenção básica em seu território; � contratualizar o trabalho em atenção básica; 11 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. � manter a rede de unidades básicas de saúde em funcionamento (gestão e gerência); � cofinanciar as ações de atenção básica; � alimentar os sistemas de informação; � avaliar o desempenho das equipes de atenção básica sob sua supervisão (BRASIL/DAB, 2007). 2.2 Marcos históricos e legais – uma breve retrospe ctiva até o SUS Para falarmos do atual sistema de saúde pública que está em vigência no Brasil, precisamos voltar no tempo e relembrar alguns fatos importantes que marcaram a saúde no Brasil no século XX, ressaltando de antemão as garantias decorrentes da atenção à saúde no Brasil: � universalidade – direito a todas as pessoas ao atendimento público de saúde, independentemente de sexo, raça, renda, ocupação ou outras características sociais ou pessoais; � equidade – significa atenção à saúde com recursos e serviços de forma justa, alocando mais a quem tem menos, a fim de reduzir as desigualdades; � integralidade – atender a pessoa como um todo com a realização de ações de atenção à saúde na sua totalidade, quer seja curativa, preventiva, individual ou coletiva; e, � participação popular – participação dos usuários dos serviços de saúde e da sociedade civil organizada, através dos Conselhos de Saúde (permanentes, deliberativos e paritários) e das Conferências de Saúde (periódicas, consultivas e paritárias); que completou, em 2008, 20 anos de existência. Foi a partir da promulgação da Constituição Federal, em 1988, que a saúde passou a ser direito de todos e dever do Estado, prevendo a redução do risco de doenças e outros agravos e acesso universal e igualitário às ações e serviços para promoção, proteção e recuperação da saúde, que devem ser garantidos por meio da adoção de políticas públicas, sociais e econômicas. 12 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. A organização da redede serviços de saúde, de forma regionalizada (local, municipal, regional, estadual e federal) e hierarquizada (atenção básica, atenção de média e alta complexidade ambulatorial e hospitalar), se deu com a implantação do Sistema Único de Saúde (SUS), que foi regulamentado em 19 de setembro de 1990 através da lei nº 8.080. Esta lei define o funcionamento do SUS, instituindo-o legalmente como um sistema dinâmico de organização contínua e crescente das ações de atenção à saúde do povo brasileiro. Fazem parte do SUS as equipes de Saúde da Família; as Unidades Básicas de Saúde (UBS); hospitais públicos municipais, estaduais e federais – incluindo os universitários; fundações e institutos de pesquisa (como Butantã, Adolfo Lutz e Vital Brasil); laboratórios; hemocentros (bancos de sangue); serviços de Vigilância Sanitária, Vigilância Epidemiológica e Vigilância Ambiental; além de hospitais e serviços privados de saúde contratados ou conveniados pelo Poder Público. O nascimento da saúde pública no Brasil deu-se na transição do século XIX para o século XX, no período compreendido entre o fim da monarquia e o início da “República Velha”. Configurou-se em um processo de elaboração de normas e organizações sanitárias e de mudança nas práticas dominantes até então. Ficou conhecido como “sanitarismo campanhista”, tendo sido marcante nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo, visando principalmente sanear os espaços de circulação das mercadorias exportáveis predominando até meados dos anos 1960. Na década de 1920 surgem, no bojo da industrialização incipiente, as Caixas de Aposentadoria e Pensões (CAPs), organizadas pelas empresas e administradas com a participação dos trabalhadores, regulamentadas por lei. Elas foram a primeira participação do Estado brasileiro na assistência individual à saúde, mas a acessibilidade e o alcance dessas CAPs era limitado a algumas empresas ligadas ao comércio exportador, ferroviário, marítimo e bancário (CARPINTERO; GARCIA, 2000 apud LORA, 2004). No início de 1930, existiam mais de 180 Caixas (daí vem a expressão, usada até hoje, de que as pessoas que estão em licença médica estão na Caixa), e Getúlio Vargas reestruturou a Previdência Social, incorporando praticamente todas as 13 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. categorias de trabalhadores urbanos. Assim, foram criados seis grandes institutos nacionais de previdência por categoria profissional, os chamados Institutos de Aposentadoria e Pensão (IAPs), cujo financiamento dos benefícios era repartido entre trabalhadores, empregadores e governo federal. Esta forma de organização e financiamento da saúde durou mais de três décadas. Na década de 1960, foram unificados para criar o Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social. Em 21 de novembro de 1966, durante o governo militar no Brasil, foi promulgado o Decreto-Lei nº 72, que unificou os Institutos de Aposentadoria e Pensões e criou o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS). Após 11 anos, a lei nº 6.439, de 1º de setembro de 1977, estabelece o Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social (Sinpas) e cria como autarquia federal o Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (Inamps). Assim, o Inamps passou a prestar o atendimento médico–hospitalar, que continuou sendo apenas aos que contribuíam com a previdência social, ou seja, aos empregados com carteira profissional assinada. O atendimento à saúde era condicionado ao pagamento da previdência. O Inamps contava com uma rede própria de serviços, que foi incorporada por decreto ao Ministério da Saúde, em 1990 e, com a regulamentação do SUS, transferida parcialmente às Secretarias Estaduais da Saúde. Somente em 27 de julho de 1993, com a lei nº 8.689, ocorre a extinção do Inamps e a totalidade de suas atividades finalmente são incorporadas ao Ministério da Saúde, porém, sem a transferência correspondente dos recursos financeiros, gerando a crise financeira da saúde que se estende até os dias atuais. Esta situação compõe os marcos administrativos nas políticas de saúde pública no Brasil de 1923 a 1975, período em que é possível evidenciar a duplicidade assistência/previdência, caracterizada pelo privilégio exercido pela prática médica curativa, individual, assistencialista e especializada, em detrimento da saúde pública, bem como o desenvolvimento de um sistema que priorizava a capitalização da medicina e a sua produção privada. 14 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. O Ministério da Saúde esteve, desde sua origem, ligado às ações preventivas por meio de campanhas sanitárias, assumindo, na área de assistência médica, apenas as funções de criação e manutenção de grandes hospitais para enfermidades crônicas (OIKAWA, 2001 apud LORA, 2004). Com o golpe militar de 1964, os institutos de previdência foram unificados no Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), sob controle estatal. A criação do Fundo de Assistência e Previdência do Trabalhador Rural (Funrural), incluiu os trabalhadores rurais no sistema previdenciário. Posteriormente, mediante contribuição individual, os benefícios foram estendidos aos empregados domésticos e trabalhadores autônomos. Desta forma, ampliou-se o acesso à assistência médica da população brasileira, porém apenas uma fração da sociedade tinha o direito ao acesso aos serviços: aqueles que contribuíam previamente à previdência, ou seja, o restante da população, que não tinha carteira de trabalho assinada (lembrando que as mulheres nesta época não faziam parte do mercado formal de trabalho, ou seja, na maioria eram donas de casa ou trabalhavam dentro do lar), recorriam às práticas populares de cuidados com a saúde (chás, ervas, curandeiros, curiosas/parteiras, fórmulas manipuladas por boticários e tantas outras modalidades conhecidas até hoje pela população que vive em áreas rurais) ou recorriam às Santas Casas, geralmente quando a enfermidade era grave, que as cuidava e abrigava até a morte. Na década de 1970, desde o seu início, vários estudos e pesquisas foram sendo publicados, demonstrando que o modelo de desenvolvimento que o Brasil tinha adotado concentrava renda, não distribuía benefícios sociais e, portanto, tratava mal a saúde de sua população. Em 1975, a Lei nº 6229, organizou o Sistema Nacional de Saúde e estabeleceu as principais competências das distintas esferas de governo. Essa organização tinha forte característica centralizadora no nível federal e nítida dicotomia entre as ações coletivas (competência do Ministério da Saúde) e individuais (competência do Ministério da Previdência e Assistência Social), o que fazia com que não se estabelecesse um comando único em cada esfera de governo. No nível federal, além das competências do Ministério da Previdência e Assistência 15 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. Social e do Ministério da Saúde, também se definiamcompetências para os Ministérios da Educação, do Trabalho e do Interior. Esse sistema recebeu fortes críticas de setores acadêmicos (Universidades, Departamentos de Medicina Preventiva e Social e Escolas de Saúde Pública) e de setores da sociedade civil. Já na década de 1980, principalmente a partir de 1985, no interior do processo de redemocratização do país, deu-se o nascimento de um considerável movimento de múltiplos atores políticos, chamado Movimento da Reforma Sanitária. O grande marco histórico nesse processo foi, sem dúvida alguma, a VIII Conferência Nacional de Saúde, ocorrida em março de 1986, que contou com a participação de diversos setores organizados da sociedade. Segundo Lora (2004), houve um consenso de que para o setor da saúde no Brasil não era suficiente uma mera reforma administrativa e financeira, mas sim uma mudança em todo o arcabouço jurídico-institucional vigente, que contemplasse a ampliação do conceito de saúde segundo os preceitos da reforma sanitária. Este encontro foi importante para legitimar as propostas de unificação do sistema no Ministério da Saúde de garantia, pelo Estado, de condições dignas de vida e de acesso universal e igualitário às ações e serviços de promoção, proteção e recuperação da saúde, em todos os seus níveis a todos os habitantes do território nacional (BRASIL, 1987). 2.3 O Sistema Único de Saúde O Sistema Único de Saúde (SUS) nasceu com a Constituição de 1988, mas só foi regulamentado em 1990 com a Lei Orgânica da Saúde de nº 8.080 e nº 8.142. Reafirmando: o SUS é definido como o conjunto de ações e serviços de saúde prestados por órgãos e instituições públicas e por entidades privadas conveniadas ou contratadas, tendo como princípios a universalidade, equidade, integralidade. Destes princípios derivam outros que são organizativos, a saber: 16 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. � hierarquização – entendida como um conjunto articulado e contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema; referência e contrarrefrência; � participação popular – ou seja, a democratização dos processos decisórios consolidado na participação dos usuários dos serviços de saúde nos chamados Conselhos Municipais de Saúde; � descentralização da política administrativa – consolidada com a municipalização das ações de saúde, tornando o município gestor administrativo e financeiro do SUS (Lei nº 8080/90). Os objetivos e as atribuições do SUS foram assim definidos: � identificação e divulgação dos fatores condicionantes e determinantes da saúde; � formular as políticas de saúde; � fornecer assistência às pessoas por intermédio de ações de promoção, proteção e recuperação da saúde, com a realização integrada das ações assistenciais e das atividades preventivas; � executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica; � executar ações visando a saúde do trabalhador; � participar na formulação da política e na execução de ações de saneamento básico; � participar na formulação da política de recursos humanos para a saúde; � realizar atividades de vigilância nutricional e de orientação alimentar; � participar das ações direcionadas ao meio ambiente; � formular políticas referentes a medicamentos, equipamentos, imunobiológicos, e outros insumos de interesse para a saúde e a participação na sua produção; 17 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. � controlar e fiscalizar os serviços, produtos e substâncias de interesse para a saúde; � fiscalizar e a inspecionar alimentos, água e bebidas para consumo humano; � participar no controle e fiscalização de produtos psicoativos, tóxicos e radioativos; � incrementar o desenvolvimento científico e tecnológico na área da saúde; � formular e executar a política de sangue e de seus derivados. Assim, o Estado adotou uma política de ampliação do acesso à atenção, promovendo a um maior número de pessoas um leque mais diversificado de ações e serviços de saúde. Esta universalização do acesso à atenção vem sendo implementada ao longo das duas últimas décadas por uma série de mecanismos legais, institucionais e organizacionais, objetivando unificar e descentralizar a atenção à saúde (OIKAWA, 2001 apud LORA, 2004). Dentro do universo das experiências que foram surgindo, seja em nível local ou regional, lembremos que a Saúde da Família distinguiu-se como uma estratégia de real implantação do Sistema Único de Saúde e de seus princípios doutrinários e organizacionais. Ressaltemos que existem muitas formas de organização dos sistemas de serviços de saúde, mas os mais conhecidos, de acordo com Mendes (2002), são dois: a) Os que se organizam através de um conjunto de serviços de atenção à saúde, isolados, e sem comunicação entre si, no qual atua uma atenção básica de forma precária e descontínua. b) Os sistemas constituídos de uma rede integrada de pontos de atenção à saúde, organizados pela atenção básica, que presta uma assistência continuada a uma população previamente determinada e se responsabiliza pelos resultados econômicos e sanitários relacionados a essa comunidade. Nos sistemas fragmentados, predomina uma estrutura piramidal, como mostra a figura 1, no qual os serviços são acessados de forma hierárquica, segundo 18 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. uma complexidade crescente. Entretanto, essa forma de conceber a organização do sistema entende a Atenção Básica enquanto menos complexa do que as demais. Para Mendes (2002), a Atenção Básica compreende uma série de conhecimentos interdisciplinares, além de atitudes e habilidades altamente especializadas. No sistema integrado de organização dos serviços, o sistema piramidal é substituído por uma rede horizontal integrada, na qual não há hierarquização dos serviços. Na rede horizontal, os diferentes pontos de atenção à saúde constituem “nós” dessa rede, que é coordenada pela atenção básica para que haja uma interação qualificada entre eles. Portanto, como centro da comunicação desse sistema, a Atenção Básica tem um papel altamente resolutivo, fundamentalmente organizador e, sobretudo, de responsabilização pelo usuário em qualquer ponto da rede (Figura 2). Figura 1 – Estrutura piramidal Alta complexidade>>>>>>>>>>>>>>> Média complexidade>>>>>>> Atenção primária>>>>> Fonte: Mendes (2002). 19 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. Figura 2: Rede horizontal – sistema integrado de or ganização dos serviços HOSPITAL CENTRO DEHOSPITAL/DIA ENFERMAGEM UNIDADE BÁSICA DE SAUDE ATENÇÃO AMBULATÓRIO DOMICILIAR ESPECIALIZADO Fonte: Mendes (2002). Outro aspecto importante da nova proposta de regionalização do SUS diz respeito ao modelo assistencial. A organização piramidal do sistema de saúde por níveis hierarquizados de “complexidade”, ao reproduzir a ideia de centro-periferia, discrimina negativamente os municípios menores, reproduzindo desigualdades e induzindo relações competitivas, incompatíveis com a proposta de regionalização solidária, que demanda formas de articulação mais igualitárias, horizontais e flexíveis. O modelo vertical de organização do sistema de saúde também tende a desconsiderar a densidade cognitiva da atenção básica e sua importância para a organização regionalizada do sistema de saúde com eficiência e qualidade. A instalação e fortalecimento das comissões intergestoras regionais e de fóruns de participação e controle social, com representação dos conselhos municipais, constitui uma das estratégias para viabilizar a cogestão regional. Segundo Mendes (2002), através de tecnologias de informação pretende-se promover uma maior transparência e compartilhamento dos processos de gestão, possibilitando acompanhamento e controle dos fluxos intermunicipais de pacientes; 20 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. fortalecimento do controle social e disseminação de informações e criação de canais virtuais de debate, entre outros. 2.4 Política Nacional de Atenção às Urgências Historicamente, o pronto atendimento era realizado pelos municípios. Em 2003, quando foi instituída a política de atenção às urgências em nível nacional, diversos municípios já tinham serviço de urgência e emergência estruturado. Por exemplo, no Estado de São Paulo, no período de 1983 a 1988, foi implantada a Comissão de Recursos Assistenciais de Pronto-Socorros (Craps), visando constituir um sistema inter-hospitalar para integrar o atendimento médico na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP). Em 1992, com apoio do Ministério da Saúde e participação da Secretaria de Estado da Saúde e de todos os municípios da RMSP, foi criado um grupo de trabalho com a finalidade de elaborar uma proposta de regionalização e hierarquização do atendimento médico de urgência. Em julho de 1992, foi criado o Programa Integrado de Atendimento Médico de Urgência (PAMU), fundamentado no Acordo Básico Interinstitucional celebrado entre as três esferas de Governo – Federal, Estadual e Municípios da Região Metropolitana (Manual do Programa Integrado de Atendimento Médico de Urgência, 1993).(FORTES et al., 2010). A Política Nacional de Atenção às Urgências foi instituída por meio da Portaria nº 1.863/GM, em 29 de setembro de 2003, que rege a implantação dos serviços de atendimento móvel de urgências nos municípios brasileiros e da Portaria nº 2.972/GM, de 9 de dezembro de 2008, que orienta a continuidade do Programa de Qualificação da Atenção Hospitalar de Urgência no Sistema Único de Saúde. Pode-se afirmar que os atendimentos das urgências e emergências têm como base quatro estratégias que devem estar interligadas, como engrenagens de um motor, que são: � organização de redes assistenciais; � humanização no atendimento dos pacientes; � qualificação e educação permanente dos profissionais de saúde que trabalham na área; e, 21 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. � implantação e operação de central de regulação médica de urgências. Segundo o Conselho Federal de Medicina, em sua Resolução CFM nº 1.451, de 10 de março de 1995, urgência significa a ocorrência imprevista de agravo à saúde, com ou sem risco potencial de vida, cujo portador necessita de assistência médica imediata. Define ainda, a emergência como sendo constatação médica de condições de agravo à saúde que impliquem em risco iminente de vida ou sofrimento intenso, exigindo, portanto, tratamento médico imediato. Note-se que esses conceitos estão relacionados ao fator tempo como determinante do prognóstico vital. Entretanto, esses termos podem ter outra interpretação, como imprevisto ou interrupção de ordem do curso da vida para pacientes e familiares, perturbação de sua organização para as instituições, e outras ainda, como (...) relativo a emergir, ou seja, alguma coisa que não existia, ou que não era vista, e que passa a existir ou ser manifesta, representando, dessa forma, qualquer queixa ou novo sintoma que um paciente passe a apresentar. Assim, tanto um acidente quanto uma virose respiratória, uma dor de dente ou uma hemorragia digestiva, podem ser consideradas emergências (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006). Como podemos ver, o uso desses termos pode causar dúvidas. Pensando nisso, a Coordenação Geral de Urgência e Emergência, do Ministério da Saúde, propôs a utilização do termo urgência para todos os casos que necessitem de cuidados agudos, deixando de lado a diferenciação da terminologia urgência e emergência. A Política Nacional de Atenção às Urgências faz parte do SUS e sua organização é orientada pelas portarias do Ministério da Saúde e legislação do SUS. No serviço de atenção às urgências, como em qualquer outra área de saúde, atuam profissionais com diversas formações, experiências e tempo de exercício na área. Especificamente em relação a recursos humanos, alguns fatores repercutem negativamente no trabalho, como a informalidade na contratação e a organização vertical do trabalho, habilitação inadequada para atuação em urgências, despreparo 22 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. profissional, baixo investimento na qualificação e educação permanente, a não implementação do plano de cargos, carreiras e salários do SUS. Em relação à formação e qualificação de profissionais, a Portaria nº 1.864/GM/2003 aponta a necessidade de promover profundo processo de capacitação e de educação permanente dos trabalhadores da saúde para o adequado atendimento às urgências e emergências, em todos os níveis de atenção do sistema, bem como estimular a adequação curricular nas instituições formadoras. Em 07 de julho de 2011, por meio da Portaria nº 1.600, houve a reformulação da Política Nacional de Atenção às Urgências e instituição da Rede de Atenção às Urgências no SUS. As diretrizes instituídas serão vistas adiante. 23 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. UNIDADE 3 – CONCEITOS BÁSICOS Retrospectivamente, a história do atendimento em emergências começa com Florence Nightingale que foi a primeira enfermeira em emergência, aoprestar cuidados aos feridos da Guerra da Criméia, em 1854. Em 1970, foi organizada nos EUA a Associação de Enfermeiras em Emergência (Emergency Department Nurses Association - EDNA). Também foi nos EUA que, em 1980, surgiu um exame baseado na competência, fornecendo a certificação em enfermagem em emergência por 4 anos. A EDNA desenvolveu os padrões de prática de enfermagem em emergência, publicado em 1983, a serem usados como diretriz para critérios de excelência e resolutividade, com os quais o desempenho é medido e avaliado (HUDDLESTON; FERGUSON, 2006). Basicamente, as unidades de cuidados de emergência prestam cuidados pré-hospitalares realizados pelos serviços médicos de emergência (EMS), por profissionais clínicos em emergência e paramédicos fornecem estabilização hemodinâmica e transporte dos clientes. Quando o transporte do resgate acontece por via aérea, os profissionais de enfermagem fornecem cuidados durante o transporte pré e intra-hospitalar e se comunicam com o pronto-socorro durante o transporte do cliente. Hoje as tecnologias avançaram bastante e temos ainda técnicas especializadas que são usadas para monitorar o estado do cliente continuamente; mas ressaltemos que podem apresentar riscos à segurança dos clientes, tais como possível exposição à choque elétrico. A triagem classifica os clientes para avaliação e prioridades de tratamento. Essas decisões de triagem requerem o julgamento rápido e efetivo de dados objetivos e subjetivos para se determinar o tipo de prioridade, mesmo porque as situações de emergência são um risco potencial à vida; incluem condições como angústia ou parada respiratória, parada cardíaca, dor torácica intensa, convulsões, hemorragia, traumatismo grave que resulta em tórax aberto ou feridas abdominais, 24 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. choque, envenenamentos, superdosagem de fármacos e de drogas, temperatura acima de 40°C, parto de emergência e complicações no parto. As situações de urgência são sérias, mas não põem em risco a vida. O tratamento deve ser implementado tão logo seja possível. Incluem condições tais como dor torácica sem angústia respiratória, fraturas de grande porte, queimaduras, nível diminuído de consciência, traumatismos, náuseas ou vômitos, dor abdominal intensa, temperatura entre 39 e 40°C, sangramento, pânico e ansiedade. A gravidade da elevação da temperatura está relacionada com a idade; os jovens frequentemente apresentam elevações de temperatura na faixa moderada sem outros sintomas, enquanto os idosos podem apresentar uma elevação de temperatura de não mais que 38°C e estar extremamente doentes. As situações em que não se caracteriza emergência não são agudas e são consideradas de gravidade pequena a moderada; incluem dor nas costas crônica ou outros sintomas, cefaleia moderada, queimaduras de pequeno porte, fraturas, torções e infecções das vias respiratórias superiores ou das vias urinárias. E quais são as funções do profissional de enfermagem em atendimento de emergência? 1º. Provedora de cuidados: fornece cuidados diretos abrangentes ao cliente e à família. Prescreve os direitos dos clientes. 2º. Educadora: fornece orientações ao cliente e à família com base em suas necessidades de aprendizagem e habilidades e na gravidade da situação, e possibilita ao cliente assumir mais responsabilidade para atender às necessidades de cuidados de saúde. 3º. Administradora: coordena as atividades de outros membros na equipe multidisciplinar para atingir o objetivo específico de fornecer cuidados de emergência. 4º. Implementar o serviço de triagem para determinar prioridades com base na avaliação e na previsão das necessidades do cliente. 5º. Fornecer medidas diretas para reanimar o cliente, se necessário. 25 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 6º. Fornecer cuidados preliminares antes de o cliente ser transferido para a área de cuidados primários. 7º. Fornecer orientações sobre saúde ao cliente e à família. 8º. Supervisionar o cuidado do cliente e o pessoal auxiliar. 9º. Fornecer suporte e proteção ao cliente e à família. De antemão, embora tenhamos um momento do curso específico para falarmos das implicações legais e éticas no atendimento de clientes em emergência, vale de imediato elencar algumas dessas implicações: Implicações legais Implicações éticas � Negligência. � Imperícia. � Consentimento informado (termo de consentimento). � Consentimento implícito. � Diretrizes antecipadas, incluindo procuração permanente e testamentos em vida. � Aspectos culturais e religiosos que limitam as opções de tratamento. � Alocação de recursos para cuidados de emergência que podem limitar as admissões ou promover altas precoces da unidade. � Não-reanimação cardiopulmonar ou implementação das medidas de suporte à vida nos casos de doenças em fase terminal. 3.1 Urgência Urgência pode ser definida como ocorrência imprevista de danos à saúde, em que não ocorre risco de morte, ou seja, o indivíduo necessita de atendimento médico mediato (SOUZA; BARBOSA, 1999; SOARES, 1996). Santos (2012) cita como exemplos de prioridade moderada de atendimento: � dor torácica sem complicações respiratórias; � alguns tipos de queimadura; � fraturas sem sinais de choques ou outras lesões mais sérias; � vômito e diarreia, acompanhados ou não por estado febril abaixo de 39°C; 26 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. � sangramentos e ferimentos leves e moderados. 3.2 Emergência Segundo os mesmos autores que definiram urgência, emergência é a constatação médica de condições de danos à saúde, que implicam em risco de morte, exigindo tratamento médico imediato. Aqui temos como exemplos de alta prioridade de atendimento. � parada cardiorrespiratória (PCR); � dor torácica acompanhada de desconforto respiratório; � politraumatismo em geral; � hemorragias de alta intensidade; � queimaduras extensas; � perda do nível de consciência; � intoxicações em geral; � ferimento por arma de fogo (FAF); � ferimento por arma branca (FAB); � estados de choque; � estado febril acima de 40°C; � gestações em curso com complicações. Tanto a urgência como a emergência requer do profissional de enfermagem atenção imediata em suas ações, ressaltando que o conhecimento técnico faz a diferença no final do atendimento (SANTOS, 2012). Existem outros conceitos que permeiam o atendimento para as urgências e emergências, como veremos abaixo: 3.3 Pronto-socorro Local “físico” destinado ao atendimento de urgências e emergências constatadas (SOARES, 1996). Geralmente está localizado em um hospital ou 27 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou,por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. próximo a ele. É para o pronto-socorro que as vítimas são encaminhadas após o primeiro atendimento, independente de seu estado. 3.4 Sala de Urgência Local destinado e equipado dentro do pronto-socorro para atendimento de urgências e emergências, independente de sua procedência. As salas de urgência e emergência devem estar localizadas em pontos estratégicos do pronto-socorro, ser de fácil acesso para entrada de ambulâncias e carros de resgate, além de ter pessoal qualificado e disponível para qualquer circunstância (SANTOS, 2012). 3.5 Recursos Os recursos necessários são os recursos humanos, materiais e os serviços. � Recursos humanos são as equipes de enfermagem e médica que atuam durante as urgências e emergências. � Recursos materiais são equipamentos e materiais que as salas de urgência devem ter, necessários para estabilizar o quadro clínico do paciente. � Dos serviços fazem parte todo o pessoal de apoio, como laboratório, banco de sangue, centro de imagens. Existe um outro tipo de atendimento, com grau de prioridade mínimo, ou seja, sem risco nenhum de vida ao paciente, o qual é encaminhado aos locais de atendimento de emergência e urgência, ou seja, nos próprios prontos-socorros, mas não se classificam por atendimento de urgência ou emergência, e sim como atendimentos “especiais”, que requerem conduta médica e assistência de enfermagem, citando como exemplos: � estado de dor crônico; � cefaleias e enxaquecas; � distensões e luxações; � fraturas de pequeno porte; � queimaduras de 1º grau. 28 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. � infecções em geral. É de extrema importância que o pessoal que trabalha em atendimento de urgência/emergência esteja bem treinado e saiba priorizar o estado do paciente. Além dos profissionais bem preparados, também é importante que o Pronto- Socorro esteja localizado em uma estrutura hospitalar, o que facilita a resolução do quadro do paciente (SANTOS, 2012). 29 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. UNIDADE 4 – ORGANIZAÇÃO E ESTRUTURA PARA ATENDIMENTO DE URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS 4.1 Organização As redes de atenção à saúde tiveram sua origem na década de 20, no Reino Unido. No início dos anos 90, a atenção à saúde em urgência toma forma com os sistemas integrados nos Estados Unidos e, a partir daí, com as adaptações necessárias, em sistemas de saúde públicos e privados de outros países. Em 2000, a Organização Mundial de Saúde (OMS) propõe critérios para o desenho das redes de atenção à saúde, sob a denominação de “integração do sistema”. Em sentido ampliado, a integração em saúde é um processo que consiste em criar e manter uma governança comum de atores e organizações autônomas, com a finalidade de coordenar sua interdependência e permitir cooperação para a realização de um projeto coletivo. Nessa perspectiva, integram-se diferentes subsistemas, relacionando a clínica e a governança a valores coletivos. Essas dimensões da integração correspondem, na tipologia proposta por Mendes (2001), à gestão da clínica e a dos pontos de atenção. As redes são conjunto de pontos de atenção à saúde que se articulam, pela via das tecnologias de gestão da clínica, numa rede capaz de prestar atenção contínua à população adscrita. Mendes (2002) afirma que a atenção primária à saúde deve cumprir, nas redes de atenção à saúde, três funções: resolução, coordenação e responsabilização. � A função de resolução consiste em solucionar a maioria dos problemas de saúde. � A função de coordenação consiste em organizar os fluxos e contrafluxos das pessoas e coisas pelos diversos pontos de atenção à saúde na rede. � A função de responsabilização consiste em se corresponsabilizar pela saúde dos usuários em quaisquer pontos de atenção em que estejam sendo atendidos. 30 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. Segundo Melo e Silva (2011), na organização de redes de resposta às condições agudas, a atenção primária tem funções de resolução nos casos que lhe cabem (baixo risco) e de responsabilização, mas a função de coordenação passa a ser de outra estrutura (no caso: o complexo regulador). Para a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS, 2000), a atenção primária à saúde deve ser parte integral dos sistemas de saúde e o melhor enfoque para produzir melhoria sustentável e equitativa na saúde dos povos das Américas. As autoras citam que a Secretaria de Estado de Saúde do Ceará (CEARÁ, 2000) realizou experiência de vanguarda com processo de microrregionalização dos serviços de saúde, tendo como base a concepção de redes de atenção à saúde, que incorporou o nível das urgências e emergências na mesma. O Ministério da Saúde, pela Portaria nº 1.169/GM (BRASIL, 2004), instituiu a Política Nacional de Atenção Cardiovascular de Alta Complexidade. Trata-se, na realidade, da proposição de uma rede de ações de promoção, prevenção, diagnóstico, tratamento, reabilitação e cuidados paliativos a ser implantada em todas as unidades federadas, respeitadas as competências das três esferas de governo. Igualmente, a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (MINAS GERAIS, 2006) priorizou a implantação de redes de atenção à saúde e considerou que a situação da saúde do estado se caracteriza pelo rápido envelhecimento da população e por uma situação epidemiológica de dupla carga de doença. Essas redes são constituídas a partir de um processo de gestão da clínica, decorrendo de diretrizes clínicas desenvolvidas sob forma de linhas-guia. O estado foi dividido em 75 microrregiões assistenciais que devem ser autossuficientes em atenção secundária e 13 macrorregiões, com autossuficiência em atenção terciária. É de fundamental importância que os profissionais conheçam a rede de atenção à saúde do seu município e os pontos que a compõem para facilitar o fluxo e o contrafluxo dos usuários, destacando-se o fluxo para a urgência e emergência, principalmente porque o ponto inicial de comunicação da rede de atenção à saúde é na Unidade Básica de Saúde (UBS) onde deve ser realizado o primeiro atendimento ao cidadão (MELO; SILVA, 2011). 31 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. Para atingir o objetivo de organização da rede de atenção à saúde em urgência, é necessário: � elaborar perfil demográfico e epidemiológico atual e projetado, do município; � descrever a rede de atenção à saúde existente no município; � conhecer o modelo de atenção à saúde do município; � avaliar os recursos humanos disponíveise sua qualificação; � avaliar a funcionalidade e a produção das Unidades Básicas de Saúde; � realizar o diagnóstico integral da rede, a análise da oferta, a estimativa de demanda atual e projetada e a identificação dos vazios de atenção e a proposição de alternativas de solução (MELO; SILVA, 2011). 4.2 Estrutura Quando uma pessoa sofre agravo agudo à saúde, deve ser acolhido em serviço do SUS mais próximo de sua ocorrência, seja numa Unidade de Saúde da Família, pronto atendimento ou pronto-socorro (FORTES et al., 2010). Caso haja necessidade de tratamento de maior complexidade, as centrais de regulação têm a responsabilidade de identificar, dentre os recursos disponíveis no território de abrangência, aquele que possa dar melhor resposta à demanda e redirecionar o atendimento. Compete, portanto, ao Poder Público, ordenar o atendimento às urgências e emergências, possibilitando acolhimento, atenção qualificada e resolutiva para pacientes com qualquer nível de gravidade. Os componentes pré-hospitalar fixo e móvel, hospitalar e pós-hospitalar fazem parte da estrutura de atenção às urgências. a) Componente pré-hospitalar fixo: A Portaria GM/MS nº 2.048 estabelece o acolhimento de clientes com quadros agudos em unidades de saúde de baixa complexidade, como os estabelecimentos da atenção primária, denominados pré-hospitalar fixo. Na estrutura física do componente pré-hospitalar fixo, como a unidade básica de saúde, Unidade Saúde da Família, ambulatório de especialidades e 32 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. serviço de apoio diagnóstico, os casos de urgência devem ser acolhidos em ambiente previamente estabelecido e organizado. É necessário que todos os membros da equipe técnica e administrativa, especialmente a equipe de enfermagem, conheçam a sala para o atendimento de urgência. É atribuição da equipe de enfermagem organizar os materiais médico- hospitalares como laringoscópio com lâminas adulto e infantil, cânula endotraqueal, material para realização de punção venosa, sondas de aspiração e outros. Manter disponíveis medicamentos utilizados em caso de parada cardiorrespiratória (PCR) e insuficiência respiratória, materiais e equipamentos para oxigenoterapia, aspiração traqueal ventilação, desfibrilador externo automático (DEA) e outros deverão estar disponibilizados. Os recursos organizados permitem o atendimento e estabilização do cliente até que seja transferido de forma adequada para uma unidade de maior complexidade. Os profissionais médicos, enfermeiros técnicos e auxiliares de enfermagem que atuam no pré-hospitalar fixo são capacitados para estabilizar e encaminhar adequadamente o cliente. A criação de protocolos e rotinas e a sua aplicação auxiliam no tratamento, melhorando os resultados e contribuindo para melhor organização do trabalho e salvando vidas. Serviços de média complexidade ou intermediária podem funcionar até 24 horas, são estruturados para acolher pacientes com quadros agudos ou crônicos agudizados, e funcionam à noite e finais de semana, diminuindo a sobrecarga dos hospitais de maior complexidade. Em alguns Estados do Brasil encontramos as Unidades de Pronto Atendimento (UPA); no Estado de São Paulo temos o pronto atendimento (PA) e, na cidade de São Paulo, a Assistência Médica Ambulatorial (AMA). Estes recursos foram implantados com base nos dados epidemiológicos de cada região. A equipe médica é composta de clínico geral e pediatra, podendo ser ampliado com ortopedistas e cirurgiões, equipe de enfermagem, equipe de apoio diagnóstico (laboratório e radiologia) e profissionais da área administrativa. 33 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. São disponibilizados medicamentos, leitos de observação de 6 a 24 horas em algumas unidades e ambulância para o transporte. A estrutura física e organização de fluxos devem funcionar de forma integrada, agilizando o desenvolvimento do trabalho. São necessários, para estes estabelecimentos, recursos como monitor cardíaco com desfibrilador e marca-passo externo, bomba de infusão, respirador, entre outros. Medicamentos como antibióticos injetáveis, drogas vasoativas e psicotrópicos fazem parte dos recursos pela condição clínica dos clientes acolhidos. A retaguarda hospitalar deve ser assegurada por meio de pactuações prévias entre gestores para garantir o acesso a hospitais de alta complexidade. b) Componente pré-hospitalar móvel: O componente pré-hospitalar móvel foi estruturado e organizado para prestação de serviços de saúde à pessoa que necessita de socorro em locais como domicílios, vias públicas, estabelecimentos comerciais, entre outros. Ao pedir ajuda por meio da central de regulação 192 (SAMU) ou 193 (Corpo de Bombeiro), o socorrista, parentes da vítima ou a própria vítima, recebe orientações do médico regulador que decide pelo envio de ambulância de suporte básico ou avançado com equipe habilitada em atendimento a situações de urgência, caso avalie que seja necessário disponibilizar esse recurso. O médico regulador autoriza o transporte do cliente diante do problema de saúde relatado pela equipe local de atendimento pré-hospitalar (APH), por meio de comunicação por telefone ou rádio. Em se tratando de situações não caracterizadas como risco iminente de vida, cabe ao médico regulador dar orientações sobre outras medidas a serem efetuadas pelo solicitante. As equipes de saúde do APH são compostas por médico, enfermeiro, técnico e/ou auxiliar de enfermagem, que recebem habilitação específica para esta atividade. É necessário que conheçam suas atribuições, normas e rotinas operacionais, bem como desenvolvam seu trabalho baseado em protocolos de atendimento. A educação permanente desses profissionais é primordial para assegurar a qualidade na prestação da assistência. Outros profissionais como 34 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. telefonista, rádio-operador, condutor de ambulância ou de veículos aquáticos e aéreos fazem parte da equipe de APH. As equipes são capacitadas para tripular veículos terrestre, aquático ou aéreo que se destine ao transporte de enfermos, atendendo a classificação da Portaria nº 2.048/GM. No APH, os encaminhamentos para os serviços hospitalares são designados pelo sistema regulador. Esses profissionais são habilitados por meio de cursos de resgate e emergências médicas (REM), participando de capacitações periódicas para o bom desempenho de sua função. c) Atendimento hospitalar: As unidades de emergência hospitalares ou prontos-socorros oferecem atendimento imediato e ininterrupto aos pacientes adultos ou crianças em estado crítico ou potencialmente crítico. O atendimento hospitalar é definido por grau de complexidade – tipo I, II e III. Toda infraestrutura referente a recursos materiais, equipamentos e medicamentos deve estar de acordo com as normas e compatível com serviço de emergência. As áreas físicas sãoestruturadas conforme a complexidade do hospital, considerando-se os tipos I, II e III. Assim, hospitais que recebem clientes de maior complexidade oferecem recursos humanos, materiais e tecnológicos compatíveis com a necessidade de cada caso. A estrutura física adequada é normatizada pela Resolução de Diretoria Colegiada (RDC), da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). A Portaria RDC nº 307, de 14 de novembro de 2002, estabelece normas técnicas para elaboração de projetos da estrutura física, arquitetônica, símbolos gráficos, desenho técnico e toda organização física para estabelecimentos assistenciais de saúde. De acordo com a ANVISA, há a necessidade de área física ampla, com número mínimo e suficiente de salas e quartos ou boxes com divisórias para acomodar os clientes com conforto e privacidade. As dependências são projetadas conforme as normas estabelecidas pela legislação, considerando-se o fluxo de pessoas que circulam no local. Essa área deve ter revestimento lavável, em cor clara e com cantos arredondados, como também dispor de boa iluminação e ventilação; 35 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. as considerações de segurança e conforto incluem um ambiente tranquilo, com a minimização de ruídos e agentes estressantes. A unidade de emergência é caracterizada pelo fluxo intenso de pessoas que circulam nessa área, em razão da rotatividade dos pacientes que procuram o serviço devido à gravidade das condições em que se encontram, motivadas por trauma, afecções não traumáticas, alterações de comportamento, entre outras (FORTES et al., 2010). A variedade dos agravos apresentados por esses pacientes justifica a diversidade de profissionais que atuam nessa unidade, com equipe multidisciplinar composta por profissionais de enfermagem, assistente social, fisioterapeuta, médicos de diferentes especialidades, entre outros, bem como a avançada tecnologia presente com equipamentos de alta precisão. Essa complexidade exige a capacitação permanente dos profissionais que nela atuam (FORTES et al., 2010). O processo de trabalho na unidade de emergência requer sólida fundamentação científica e prontidão no cumprimento imediato das atribuições por parte de cada profissional da equipe de atendimento. Ressaltamos, porém, que as situações imprevistas com as quais se deparam os profissionais nesses serviços requerem atenção não apenas no aspecto técnico-científico. A equipe multidisciplinar precisa estar preparada emocionalmente para a vivência de situações limítrofes que impactam os serviços de urgência em relação ao binômio vida e morte. O equilíbrio em lidar com essas situações tem repercussão na vida do paciente e de seus familiares, que se sentirão apoiados e mais seguros em relação ao atendimento que recebem da equipe (FORTES et al., 2010). 36 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. UNIDADE 5 – DIRETRIZES DA REDE DE ATENÇÃO ÀS URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS (RUE) Vimos na introdução deste módulo que a Rede de Atenção às Urgências e Emergências (RUE) se sobressai nas estratégias do SUS para ampliação do acesso e melhoria da qualidade de atenção à saúde, tendo em vista a relevância e premência das situações clínicas envolvidas, além do atual contexto de superlotação dos prontos-socorros. As seguintes estratégias são destacadas como prioritárias na RUE: � qualificação das portas hospitalares de urgência e emergência e da emergência, estratégicas para a RUE; � qualificação da atenção ao paciente crítico ou grave por meio da qualificação das unidades de terapia intensiva; � organização e ampliação dos leitos de retaguarda clínicos; � criação das unidades de internação em cuidados prolongados (UCP) e de hospitais especializados em cuidados prolongados (HCP); � qualificação da atenção por meio da organização das linhas de cuidados cardiovascular, cerebrovascular e traumatológica; � definição da atenção domiciliar organizada por intermédio das equipes multidisciplinares de atenção domiciliar (Emad) e das equipes multidisciplinares de apoio (Emap); e, � articulação entre os seus componentes. É fundamental a participação de atores de outros segmentos sociais para a proposição de políticas públicas intersetoriais efetivas e eficientes, envolvendo conselhos de saúde, gestores, trabalhadores, prestadores, usuários, conselhos de classe, instituições de ensino, setores da Educação, Segurança Social, Transportes e outros (BRASIL, 2013). 37 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 5.1 O plano de ação regional Plano de Ação Regional da Rede de Atenção às Urgências e Emergências (PAR) da RUE é o documento formal representativo dos pactos assistenciais e dos gestores elaborado pelo Grupo Condutor Estadual da RUE, que aborda as definições físico-financeiras, logísticas e operacionais necessárias à implementação desta rede temática. O PAR deve apresentar um diagnóstico do conjunto de serviços de saúde que atuam na atenção às urgências e emergências em uma determinada região de saúde, bem como as lacunas e necessidades, além das estratégias necessárias para superar os problemas detectados. As ações e os serviços de saúde devem ser organizados para que funcionem de forma harmônica e integrada, superando a lógica hegemônica de fragmentação da organização de serviços de saúde dentro de programas isolados, avulsos e sem conexão com as necessidades epidemiológicas da população e as condições sociodemográficas da região. A elaboração do PAR pelo Grupo Condutor da RUE deverá estar pautada na análise da capacidade instalada e na situação dos serviços de atendimento às urgências e emergências, no diagnóstico demográfico e epidemiológico da região de saúde por meio da análise de dados primários, além do dimensionamento da demanda e da oferta dos serviços de urgência e emergência existentes. A análise da situação da vigilância epidemiológica, da regulação, da avaliação, do controle, do apoio diagnóstico e do transporte para as urgências também deve subsidiar o PAR. O Plano de Ação Regional deverá conter o desenho da Rede de Atenção às Urgências e Emergências, contemplando o detalhamento técnico de cada componente, as metas a serem cumpridas, o cronograma de implantação (além dos mecanismos de regulação, monitoramento e avaliação), o estabelecimento de responsabilidades e o aporte de recursos pela União, pelo estado, pelo Distrito Federal e pelos municípios envolvidos, bem como a previsão de auditoria da execução das ações e dos recursos, quando necessário (BRASIL, 2013). O PAR da RUE deverá ser pactuado pela Comissão Intergestores Bipartite (CIB) ou pelo Colegiado de Gestão da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal (CGSES/DF) e pela Comissão Intergestores Regional (CIR), quando houver, 38 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material
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