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APS Abordagens Psicológicas

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Ana Leticia Lemes Gonçalves
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1. Descrever a história de vida do sujeito eleito da forma mais completa possível, com ênfase nas questões que serão abordadas de acordo com a abordagem escolhida.
Maria tem 10 anos e está na terceira série, não sabe ler e escrever. A tia a levou para psicoterapia, pois estava com receio de que fosse repetir de ano devido ao baixo desempenho na escola. Pergunta-se à tia o que percebia de Maria, responde que não a entende, pois sempre fica aérea e não consegue aprender, costuma se esquecer de tudo. Pergunta-se o que achava que poderia estar relacionado a isso. 
A tia entende que essa dificuldade pode estar ligada a sucessivas rejeições que a criança passou. Tem receio de que tenha a mesma dificuldade que sua mãe teve em aprender, se recorda que a irmã teve tuberculose e por conta disso teve muitas dificuldades para aprender a escrever. A tia faz uma ligação entre a sobrinha e a irmã pela via da dificuldade. Acredita que a rejeição seja o fator mais importante na dificuldade de aprendizagem. A mãe de Maria também foi rejeitada pela sua própria mãe, que rejeitou todas as filhas e a mãe de Maria de forma mais intensa. Ela a expulsou de casa quando ficou grávida e mesmo não tendo onde ficar não a recebeu de volta e por um tempo precisou perambular pelas ruas. 
Outra questão apontada pela tia sobre as dificuldades é a tristeza que a criança sente pela morte da mãe. Acha que a sobrinha está apática, frequentemente, apresenta crises de choro e fica perguntando de sua mãe. A tia disse sentir-se irritada quando Maria pergunta da mãe. Perguntei o que a irritava e ela comenta que não conversam muito sobre isso porque, provavelmente, também sente falta da irmã e não gosta de ficar se recordando, pois sente-se triste. 
A tia disse que, desde o início, Maria foi rejeitada pela mãe, que não gostava de seu pai e dizia estar feliz. A irmã tinha sido apaixonada pelo pai da filha mais velha, mas o relacionamento não deu certo e ela conheceu o pai da Maria e acabou engravidando. 
Quando soube que estava grávida ela aceitou daquele jeito. Maria ficava muito tempo sozinha, apanhava muito e, quando os pais se separaram, tinha somente um ano e chegou a passar fome nesse período. 
Maria foi levada ao médico, pois achavam seu comportamento estranho, ela batia a cabeça na parede. Entretanto, a mãe não a levou a nenhum tratamento e quem decidiu cuidar dela foi o pai. A madrasta também a maltratava, Maria costumava apanhar bastante e a mãe decidiu buscá-la e a colocou num colégio interno onde ficou por 5 anos. 
Neste período a tia não sabe dizer o que aconteceu, já que não teve contato com ela. Sabe que começou a andar somente com 2 anos e meio e, aos 4 anos, ainda batia cabeça na parede, começou a falar as primeiras palavras aos 3 anos e, atualmente, reside na casa da tia e da avó. Havia uma grande lacuna na história contada de Maria. A cada fase de sua vida ela acabou morando com algum membro da família, não havia investimento afetivo. Enquanto a tia contava sua história a menina prestou muita atenção, como se fosse a primeira vez que tivesse escutado alguém falar de si. 
Em alguns momentos, a tia demonstrou identificar-se muito com ela, pois ela não se conforma com a rejeição vivida pela sobrinha. 
Maria deve ter ficado triste em muitos momentos, porque a irmã sempre foi fria com ela e a tia compreende isso porque a irmã também era muito distante dela e havia se afastado, o que a deixava triste também, além de que a própria mãe sempre a maltratou. O maltrato foi o que as uniu, tia e sobrinha. 
Na família os homens sempre foram bem tratados e as mulheres não. Sua mãe sempre valorizou seu irmão, dava mais carinho aos filhos homens e as mulheres sempre foram maltratadas. A irmã sempre dava amor à mãe, que nunca a retribuía. A tia corrobora este sentimento, lembrando que quando tentava se aproximar, não recebia um retorno. 
A tia fica muito pensativa sobre este lugar que as mulheres ocupavam na família e tem muito receio de que Maria viva o que ela mesma viveu. A mãe disse que as filhas não deram certo e guardou essa fala, mas logo diz que não será como as irmãs. 
A tia parece buscar um lugar e uma saída diferente para si. Não quer o lugar de quem segue o caminho errado. Diz que em alguns momentos teve vontade de largar tudo e fazer o que dá na cabeça, mas depois pensou bem e desistiu. 
A tia nega que esteja repetindo a história, mas disse que pretende ficar com somente o irmão de Maria, pois ele estava doente e acha que ele precisa dela e nega o fato de fazer isso porque ele é menino. Afinal, o menino seria cuidado. 
Para a avó de Maria, mulher não presta. É possível que a própria avó pense isso de si mesma. A avó queria colocar a menina no internato e não queria mais “cuidar” dela. 
Outra questão relacionada a rejeição consta nas observações de que a tia a trazia ao ambulatório, porém não a esperava. Se compara o irmão, dizendo que a tia sempre o acompanhava na espera. 
2. Identificar e caracterizar marcos e eventos significativos da abordagem escolhida
O sistema desta família parece ser um sistema fechado, cheio de crenças que foram passadas para as gerações das mulheres gerando preconceito e abandonos, com influência mutua forte dentro dos membros e um forte triangulo entre pai, filha e madrasta que influencia no relacionamento pai/filha intervindo e agredindo a criança. 
A comunicação dos familiares parece não existir e a resistência é grande, provando que apenas um membro, a tia, buscou por ajuda com a criança. 
3. Analisar o processo e a dinâmica do desenvolvimento caso clínico estabelecendo relação com a abordagem escolhida.
O relacionamento dos pais era conflitivo e agressivo, a mãe foi apaixonada pelo pai da primeira filha e teve um relacionamento passageiro com o pai de Maria. A mãe de Maria teve problemas de saúde sérios e foi fortemente rejeitada pela sua mãe (avó de Maria) que também foi rejeitada pela bisavó de Maria. E o mesmo acontece com Maria e sua irmã mais velha. O pais passam pouco tempo dentro do relacionamento e devido a rejeição Maria fica com o pai que com outro relacionamento conflitivo é muito agressivo com a criança que se mistura nas relações familiares. 
A diferenciação do self da menina é baixa e demonstra que a mesma não consegue se diferenciar do restante das mulheres da família, como sua tia o faz o mesmo. É possível observar que as mulheres da família têm um papel emaranhado e sem diferenciação nos papéis de indivíduo. Como sua diferenciação do self é baixa a sua ansiedade se torna alta fazendo com que a menina não tenha capacidade de lidar com estresse e age de maneira violenta e impulsiva. 
Devido ao alto nível de ansiedade ela também demonstra uma grande necessidade de aproximação da tia mesmo que com todas as experiências com adultos tenham sido de violência e rejeição a mesma insiste em aproximação da tia, que se mostra na tentativa de mudar a repetição da família, mas volta atrás quando esta escolhe cuidar do sobrinho ao invés da menina. Repetindo novamente o processo que a família vem desenvolvendo. As pessoas cuidavam dela com a justificativa de tirá-la da violência, porém acabaram por repetir a mesma dinâmica em que ficava presente uma intensa rejeição, constatada na forma de indiferença e distanciamento afetivo.
A criança foi rejeitada por ambas as famílias, paterna que por um tempo ficou com a criança mas agredia e a madrasta fazia o mesmo, não criando um laço de confiança ou com capacidade de distanciamento da relação entre pai/filha. E a materna que a mãe rejeitou a criança desde pequena a levando para um colégio interno onde o distanciamento cresce. 
A relação de maternidade que a criança tem depois é com a tia e avó que a rejeita da mesma maneira por ela ser mulher, e por uma crença que foi passada de gerações que acreditavam que mulher não presta e que deve se cuidar dos meninos e não das meninas. 
Referente a abordagem escolhida Terapia Família Estrutural de B. Murray. É possível de se observar neste caso as repetições feitas pelasmulheres da família em relação ao abandono e rejeição. A diferenciação do self dos familiares baixa e com processos recorrentes na família, as fusões instáveis que causam o distanciamento emocional e as projeções de problemas na criança que com os padrões recorrentes repete o desequilíbrio emocional e falta de capacidade de lidar com problemas e estresse levando a mesma a repetir as agressões que recebia, se machucando como batendo a cabeça na parede repetidamente. A fusão emocional da criança a distância dos familiares e de seus sentimentos, mas logo a mesma se aproxima de sua tia em busca de novas experiências dentro do ciclo de vida familiar que lhe resta. A desatenção da criança pode estar interligada com a alta ansiedade da mesma em relação ao que já viveu com os pais e que agora pode voltar a viver estando em contato com a família novamente, normalmente a criança é o indivíduo mais vulnerável pela falta de diferenciação, e é o que mais absorve a ansiedade do sistema familiar. 
Reestabelecer a conexão entre pai e filha, auxiliando no manejo da própria ansiedade de ambos e fortalecendo o funcionamento emocional do pai e filha respeitando o papel de cada um. E ao mesmo tempo transformando a relação entre tia e Maria já que a mesma seria responsável pelos cuidados da menina até a mesma seguir o ciclo da vida família e sair de casa. 
Neste âmbito acredito também que a abordagem estrutural também faça uma boa contribuição, observando e auxiliando nos subsistemas e as fronteiras que regulam o contato dos membros e neste caso a família nuclear não é comum, pois é composta de pai, madrasta, avó materna, tia materna e irmão. As fronteiras e a estrutura parece ser mais complexa ainda, e conseguir realinha-los parece mais difícil.

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