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Folha de São Paulo (2020-05-04)

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ISSN 1414-5723
9 771414 572025
33269
SEGUNDA-FEIRA, 4 DE MAIO DE 2020ANO 100 ┆ Nº 33.269 R$ 5,00
D E S D E 1 9 2 1 UM J O R NA L A S E RV I Ç O D O B R A S I L
AUDIÊNCIA/MÊS
PÁGINAS VISTAS 404.556.455
VISITANTES ÚNICOS 69.769.423
Marchados covardes
Falta de educação
Acerca de agressões de
bolsonaristasàimprensa.
Sobre um ano de Wein-
traubna chefiadoMEC.
EDITORIAISA2
QUARENTENAEMSP
Comércio Há 41 dias
Escolas Há 41 dias
Saiba o que abre e o que fecha
emcada estado em folha.com
Bolsonaro vai a ato, diz ter
apoiomilitar e desafia STF
Após se reunir com chefes das Forças Armadas, presidente afirma que “chegamos no limite”
O presidente Jair Bolsona-
roparticipounovamentede
ato contra o STF (Supremo
Tribunal Federal) e o Con-
gresso. Seus apoiadores se
aglomeraram na Praça dos
TrêsPoderes,contrariando
recomendaçõesdeconduta
contra onovo coronavírus.
“Tenhocertezadeumacoi-
sa:nóstemosopovoaonos-
solado,nóstemosasForças
Armadas ao lado do povo,
pelalei,pelaordem,pelade-
mocracia e pela liberdade”,
discursou Bolsonaro, posi-
cionado na rampa do Palá-
cio doPlanalto.
No sábado (2), ele se reu-
niu com os chefes das For-
çasArmadasecomosgene-
raisdoministério.OSTFfoi
criticado.Opresidentebus-
carespaldomilitarpararea-
giràsderrotasnoJudiciário.
A troca do comandante do
Exércitotemsidodiscutida.
O Supremo barrou a no-
meação do delegado Ale-
xandreRamagem,amigoda
família Bolsonaro, para co-
mandaraPolíciaFederal.O
presidentedissequeindica-
ráalguémnestasegunda(4).
“Chegamos no limite, não
temmaisconversa.”PoderA4
Estacionamento do ParkShopping São Caetano, na Grande São Paulo, vazio pelo fechamento do comércio Saúde B3
NA PANDEMIA, SOBRAMVAGAS
Danilo Verpa/Folhapress
País já soma
101mil casos
de Covid-19 e
7mil mortos
O Brasil chegou a 101.147
casosconfirmadose7.025
mortespelonovocorona-
vírus, segundo dados do
Ministério da Saúde. Fo-
ram 275 óbitos confirma-
dos neste domingo (3),
alémde4.588novosregis-
tros.Epicentrodacrise,o
estadodeSãoPaulo jáso-
ma 2.627 mortes e 31.772
casosconfirmados.SaúdeB5
Crise pode
retirar até
R$ 500 bi dos
brasileiros
Acriseeconômicagerada
pelonovocoronavíruspo-
detiraratéR$500bilhões
da renda dos brasileiros
neste ano, segundo pro-
jeçãodo Ibre.Oconsumo
das famílias é o principal
motor da economia. Sua
retração vai reduzir a de-
mandaprincipalmenteno
setor de serviços,minan-
do a recuperação no pós-
pandemia.MercadoA13
Mathias Alencastro
Acabou o amor
dos EUA conosco
Donald Trump virou as
costas para Jair Bolsona-
ro. O americano define o
Brasil como exemplo de
descontroledapandemia.
ComademissãodeMoro
e o desprestígio de Gue-
des,circodeErnestoAraú-
joperdesentido.MundoA10
Pais e promotores
recorrem à Justiça
contra aula remota
Comescolasnopaísfecha-
daspelapandemia,ações
doMinistério Públicope-
dem que não se contem
comocargahoráriaasau-
las não presenciais, prin-
cipalmentenaredepúbli-
ca, onde nem todos aces-
samainternet.CotidianoB2
Vizinhos, Paraguai
e Argentina temem
situação no Brasil
No Paraguai, o diretor de
vigilância da saúde, Guil-
lermo Sequera, disse que
“se o Brasil espirra, nós
pegamospneumonia”.Pa-
raopresidenteargentino,
AlbertoFernández,opaís
nãoestaria“levandoapan-
demia a sério”.MundoA10
mercadoA16
Criador do aplicativo
Zoom, para reunião
virtual, chinês fica
US$ 4 bi mais rico
entrevista da 2ª
Quarentena reforça
pornô feminista, diz
diretora-geral do
Grupo Playboy A12
Recuperados da
Covid-19 não se
reinfectaram
SaúdeB8
Manifestantes tentam evitar que o fotógrafo Dida Sampaio, do jornal O Estado de S. Paulo, trabalhe na Praça dos Três Poderes, emBrasília Ueslei Marcelino/Reuters
Susana Bragatto
Entre o temor e a avidez
social, saímos às ruas
emBarcelonaMundoA10
diasmelhores B3
Brasileiro projeta
ventilador pulmonar
com limpador de
para-brisa e pneu
folhainvest A17
Veja a trajetória
de 5 investidores
em tempos
de pandemia
Jornalistas são
agredidos e têm de
abandonar cobertura A6
Moradores de Ilhabela
são barrados na balsa ao
voltar para casa Saúde B4
Tabata Amaral
Risco de nos calarmos
agora émaior do que o
do impeachment B4
a eee
opinião
A2 SEGUNDA-FEIRA, 4 DE MAIO DE 2020
UM JORNAL A S ERV I ÇO DO BRAS I L
a
Publicado desde 1921 – Propriedade da Empresa Folha daManhã S.A.
presidente Luiz Frias
diretor de redação Sérgio Dávila
superintendentes Antonio Manuel Teixeira Mendes e Judith Brito
conselho editorial Rogério Cezar de Cerqueira Leite, Marcelo Coelho,
Ana Estela de Sousa Pinto, Cláudia Collucci, Hélio Schwartsman,
Mônica Bergamo, Patrícia Campos Mello, Suzana Singer, Vinicius Mota,
Antonio Manuel Teixeira Mendes, Luiz Frias e Sérgio Dávila (secretário)
diretoria-executiva Marcelo Benez (comercial), Marcelo Machado
Gonçalves (financeiro) e Eduardo Alcaro (planejamento e novos negócios)
editoriais@grupofolha.com.br
EDITORIAIS
Marcha dos covardes
Falta de educação
Nodomingo(3),DiaMundialdaLi-
berdadedeImprensa,numasuces-
sãodeeventosqueinfelizmentese
tornamhabituaisnoBrasil,umpu-
nhado de celerados se reuniu em
frente ao Palácio do Planalto, em
Brasília, para defender, entre ou-
trascoisas,o fechamentodoCon-
gressoedoSupremoTribunalFe-
deral e uma intervençãomilitar.
Mais uma vez, o presidente Jair
Bolsonaro achou por bem juntar-
seaosmanifestantesegritarpala-
vras de ordem que os legitimam.
Elesabequeasbandeirasafrontam
aConstituição,masnãose impor-
ta. Éoagitadorde sempre, oanti-
estadista, o eterno deputadome-
díocre dobaixo clero.
Denovo,entreassandicesprofe-
ridaspeloatualocupantedocargo
máximo do Executivo brasileiro,
estavamataquesao jornalismo.A
prática de Bolsonaro é macaque-
ada de seu inspirador norte-ame-
ricano, Donald Trump, que já de-
finiuaimprensanorte-americana
como “inimiga do povo”, uma ex-
pressão popularizada, ironia das
ironias,peloditadorcomunistaJo-
sef Stálin naUnião Soviética.
Palavras têm consequências.
Mais ainda se ditas e repetidas
por líderes políticos.
Nomesmoato de domingo, um
repórter-fotográfico do jornal O
Estado de S. Paulo e o motorista
queoajudavanacoberturaforam
agredidos com chutes (pelas cos-
tas),murros e empurrões. Profis-
sionaisdaTVGlobo,doportalPo-
der360edestaFolha tambémso-
freramataques físicosouverbais.
Algosemelhantehaviaocorrido
nodiaanterioremCuritiba,duran-
teodepoimentodoex-ministroda
JustiçaSergioMoronasededaPo-
líciaFederal,apartirdeacusações
queimplicamopresidenteemcri-
mes de responsabilidade.
Bolsonaristas que antes infla-
vam balões com o rosto do ex-ju-
izagoraoofendiamcomimpropé-
rios—eatacavamaimprensa.Um
cinegrafistadeumaafiliadadaTV
Recordteveacâmeraempurrada.
Aosaberdoocorridonodomin-
go,Bolsonarorespondeu:“Pessoal
da Globo vem aqui falar besteira.
Essa TV foi longedemais”.
A fala infelizmente é coerente
comaprática.Levantamentofeito
pelaFederaçãoNacionaldosJorna-
listas (Fenaj) mostra que nos pri-
meirosquatromesesde2020opre-
sidente investiu contra a impren-
sa 179 vezes, 38delas só emabril.
Oprotestodofimdesemanate-
ve como gatilho uma decisão de
ministrodoSTFque impediuBol-
sonaro de nomear um apanigua-
do como diretor-geral da Polícia
Federal, que investiga Bolsonaro
e família. Trata-se do sistema de
freiosecontrapesosdeumregime
democrático em funcionamento.
Uma imprensa livre e indepen-
dente fazpartedesse sistema.Ela
seguirávigilante,apesardasagres-
sões damarchados covardes.
Após um ano de Abraham Wein-
traub à frente do Ministério da
Educação,confirmam-seospiores
prognósticos.Findostumultuosos
trêsmesesdeRicardoVélezRodrí-
guez no comando da pasta, deve-
ria ser imprescindível dar ordem
a esse setor crucial para o desen-
volvimento dopaís,mas o substi-
tutopareceempenhadonooposto.
Hiperativo Weintraub tem se
mostrado, porémmais nas redes
sociaisdoquenoMEC.Oministro
seesmeraemadularopresidente
Jair Bolsonaro e de volta recebe
agrados como a menção no pro-
fuso e confuso pronunciamento
dochefenodia24deabril, depois
daquedadeSergioMoro(Justiça).
Movido por fanatismo, Wein-
traub declarou guerra ao nível de
ensinosobreoqualogovernocen-
tral tem jurisdição, o superior.No
flancofolclórico,dedicou-seaacu-
sar as universidadesfederais de
acoitar marxistas, plantações de
maconha e pesquisas inúteis. No
administrativo, asfixia-as.
Apóscortar-lhesverbasparapes-
quisa,oantigoprofessoruniversi-
táriodeanônimacarreirapromo-
veumudançaspolêmicasnasbol-
sasdaCapes,principalagênciade
fomento à pós-graduação e à for-
maçãodequadrosparaomagisté-
rio,reduzindoem17%osestipêndi-
osdasdemonizadashumanidades.
No plano do ensino fundamen-
tal emédio, destaca-se pela omis-
são no debate sobre a renovação
doFundeb,essencialparafinanci-
ar a educaçãobásica.Nememsu-
as postagens se bate pelo fundo,
dedicando-lhe 0,6% das manifes-
tações em que privilegia ataques
descabelados como o dirigido à
China, que lhe rendeu um inqué-
rito no Supremo Tribunal Fede-
ral para apurar crimede racismo.
Essenívelbasilardoensinocom-
peteaosgovernosmunicipaisees-
taduais,masoMECmantémosse-
cretáriosdeáreanoescuroquanto
àspolíticaseiniciativasfederais.Da
merendaemtemposdepandemia
àsmudançasnaalfabetização,ge-
ramaisatritodoquecoordenação
comessasesferasadministrativas.
Weintraub havia prometido o
melhorEnemdetodosostempos,
cientedaimportânciaqueessapor-
tadeacessoàsuniversidadesfede-
raisadquirenasvidasde jovens.O
que se viu em 2019 foi uma trapa-
lhada nas correções da prova, pa-
ranãomencionarpercalçospersis-
tentesatéhojeemlicitaçõesparaa
gráficaencarregadadaimpressão.
Porondequerquesecontemple
apresençadeWeintraubnoMEC,
umaconclusãoseimpõe:faltaedu-
caçãonas ações doministro.
Incitados pelo presidente, celerados empunham
bandeiras antidemocráticas e agridem a imprensa
são paulo Na cidade de Nova York,
onderesidemenosde3%dapopula-
çãodosEUA,ocorreram 28%deto-
dasasmortesporCovid-19dopaís.
OmunicípiodeSãoPaulo,comme-
nos de 6%da população brasileira,
concentra26%dosóbitosnacionais.
Parece que as doenças contagio-
sas predam o progresso humano.
Quantomais a espécie se distancia
dos núcleos tribais de poucos indi-
víduos,maiselasaameaçam.Sefor
esse o caso, então a resposta dura-
douraaotraumadocononavírusten-
de a desincentivar arquiteturas co-
lossais da vida urbana, como a no-
va-iorquina e a paulistana.
Ashordasinvisíveisdosvírusedas
superbactériasdeflagariam,comoos
bárbaros no passado, um retroces-
so feudal, mas agora com tecnolo-
gia. Se tenhomedodesair à ruapa-
ra trabalhar, aprender, cortar o ca-
belo,comernorestaurante, iraote-
atro,assistiraoconcerto,passearno
parqueouvisitaromuseu,paraque
precisodeNovaYorkouSãoPaulo?
Recolho-me num lugar afastado,
cheiode conexõesdigitais. Acostu-
mo-mea ver nas telas pessoas taci-
turnas banhadas numa luz amare-
lada, com fios brancos saindo das
orelhas, ou conchaspretas a envol-
vê-las, comentando política, jardi-
nagemegrandes jogosdopassado.
Tem“live”paratudo,desertanejo
a Turandot. O crítico me guia pelo
Metropolitan e peloMasp. De seus
aposentos,epidemiologistasmedão
dicasdesorologia, aerossóiseexer-
cícios respiratórios. Aprendo auto-
cortemullet comoyoutuber.
Mas talvezHongKong, Seul eTó-
quio ainda possam redimir Nova
York e São Paulo. Aquelas metró-
poles asiáticas fortemente povoa-
das atravessam o período da peste
compouquíssimos danos. Reagem
depressaecomeficiênciaaomenor
sinal dos visigodos doRNA.
Asmãoslimpas,asfacescobertas,
a obrigaçãodeprotegerooutro eo
distanciamento tornaram-se a se-
gundapeledoindivíduo.Emvezde
fugiremparaaroça,seushabitantes
ergueramarranha-céussimbólicos
e derammais umpasso no proces-
so civilizatório.
brasília Emapoioamaisumatocon-
traas instituiçõesquecompõemos
PoderesdaRepública,opresidente
JairBolsonaroafirmounestedomin-
go (3) na rampa do Palácio do Pla-
nalto: “Chegamosno limite”.
OrecadoespecíficofoiparaoSTF,
mas,diantedosepisódiosacumula-
dos, édifícil compreenderosignifi-
cadode“limite”novocabuláriores-
trito (e limitado)deBolsonaro. Em
seugovernoessafronteiranãoexiste.
Olimitedaéticafoiparaobeleléu
quando ele decidiu manter no car-
go umministro do Turismo indici-
ado e denunciado à Justiça pelo es-
quemade laranjas doPSL.
E sumiu pelo ralo com sua apro-
ximação de políticos do centrão,
abrindo obalcão de cargos em tro-
cadeproteçãonoCongressocontra
umpossível, ecadavezmaisprová-
vel,movimentode impeachment.
“Se gritar pega centrão, não fica
ummeu irmão”, disse AugustoHe-
lenonaconvençãodoPSLem2018.
AgoraBolsonarogritapelocentrão
etodososqueintegramessapatota
do fisiologismo político de Brasília
queremser seus irmãos.
O limite da impessoalidade que-
brou-se no primeiro ano de gover-
no,quandoBolsonaropermitiuque
seu filho Carlos montasse o gabi-
nete do ódio no Planalto para per-
seguir adversários e ministros, co-
moGustavoBebianno eCarlos dos
SantosCruz,expurgadospelafamí-
lia dopresidente.
A coroaçãoda influência familiar
veio com a nomeação (derrubada
pelo STF) de Alexandre Ramagem,
amigo do peito do presidente e do
filhoCarlos, para dirigir a PF.
Nocasodocoronavírus,Bolsona-
roatropelouos limiteshumanitári-
osaoviolarrecomendaçõesdasau-
toridadesanitárias,promoveraglo-
meraçõeseincitarapopulaçãocon-
traasmedidasdeisolamentosocial.
Nestedomingo,Bolsonaroassistiu
decamarote,darampadoPlanalto,
seusapoiadoresagrediremeintimi-
darem jornalistas empleno exercí-
cio livre daprofissão.
Nãofeznada,nãorepudioueain-
dacriticouaTVGlobo.Bolsonaroé
umpresidente sem limites.
riode janeiro SuponhaqueJairBol-
sonaro, espumando e em camisa
de força, seja submetido a um exa-
mepsiquiátrico. O resultado pode-
rá ser TranstornoDelirante Persis-
tente, síndromeque inclui alucina-
ções,sensaçãodeperseguiçãoedes-
conexãocomarealidade.Opacien-
terejeitamedicamentos,nãoadmi-
tequeestádoenteedizquenãopre-
cisa de ajuda.
VocêidentificouBolsonaroemca-
daitemdessediagnóstico.OTrans-
tornoDelirantesemanifestanasalu-
cinações emque ele se vêpratican-
do um autogolpe, fechando o Con-
gresso e o STF e se entronizando
como um ditador sustentado pe-
losmilitares. O delírio o faz acredi-
tar que a insignificantemanada de
apoiadores, reunida diante do Pla-
naltoparaofenderseusadversários
e os demais Poderes, representa “o
povobrasileiro”.Ao juntar-seaeles,
Bolsonarooficializaasofensase,ao
invocar as Forças Armadas, torna-
as cúmplices de suas alucinações.
Vejamos a sensaçãodepersegui-
ção. Bolsonaro vive empermanen-
te estadode terror contra inimigos
quesóeleenxergaeque,senãoexis-
tirem,precisamsercriados,atémes-
moentreosaliados—porqueédisso
queelesealimenta.Osagentesdes-
saperseguiçãosãotodososque,ao
seulado,ousamganharummínimo
de luz própria ou deixam de servi-
lo nos níveis inatingíveis que exige
dos subordinados.
Adesconexãocomarealidadetam-
béméflagrante.Bolsonaroéoúltimo
pitecantropovivoaenxergarcomu-
nistasemtodaparte.Nemseuherói
DonaldTrumpacreditamaisnisso.
Seoprimeiroparágrafodestaco-
luna lhe pareceu familiar —como
se você já o tivesse lido em algum
lugar—, acertou. Trata-se do diag-
nósticodosdois laudosmédicosofi-
ciais das equipes que examinaram
Adélio Bispo, o portador de insani-
dademental que esfaqueou Bolso-
naroemJuizdeFora,em2018.Adé-
liofoi internadonumapenitenciária
federalemCampoGrande(MS).Mas
Bolsonaro está à solta emBrasília.
Os visigodos doRNA
Sem limites
Louco à solta emBrasília
-
Vinicius Mota
-
Leandro Colon
-
Ruy Castro
Já escrevi neste espaço: o im-
peachmentnãoéumarevolu-
ção, mas a destituição de um
presidente por crime de res-
ponsabilidade, cujo desenla-
ce é a assunção do vice. Toda-
viaaschancesparaum“impe-
achmentdigital”—noqualpa-
nelaçossubstituiriamasmani-
festações de rua, e o plenário
virtual,oreal—sãopequenas.
Oimpeachmentéumadasfor-
mas de afastamento do presi-
dente:aoutraéatravésdacon-
denaçãopor crime comum.
Tambémnestecasoassumeo
vice.EmamboscaberáaoMPF
eaopresidentedaCâmarade-
flagraremoprocesso,eaospar-
lamentares,suaapreciação.No
julgamentodecrimescomuns,
aresponsabilidadepolíticaédi-
vididacomoSTF,oquediminui
oscustosdecoordenaçãoparla-
mentar.Haveráapoiocongres-
sualparaoafastamentoquando
umasupermaioriaparlamentar
de2/3preferiraalternativare-
presentadapelovice-presiden-
teaostatusquo.OSenadonão
participado jogo.
O presidente e seu vice per-
tencemaomesmocampopo-
lítico. Para setores da esquer-
da interessariadeixá-lo san-
grar: mantê-lo vivo politica-
mente,masenfraquecido,ser-
viria àpolarizaçãoeevitariao
custo de renegar a tese da ile-
gitimidadedeimpeachments.
Mas eles não contarãomuito,
ao contrário do centrão, para
o qual valeria em tese a lógica
doparasita:enfraquecerohos-
pedeiro,masnãomatá-lo,e in-
flar o custo do apoio.
Masaquioequilíbrioéinstá-
vel e do tipo tipping point: se
houverincentivosfortesdaopi-
nião pública e sinalização do
STF—e se a popularidade do
presidentedespencar—,oefei-
tomanadaprevaleceráeocen-
trão se juntará aos setores de
centro,ealguns,àesquerda.Se
parecer inevitável,amudança
serárápida,comodemonstra-
doporTimurKuran.
Afinal, o custo político será
baixo, porque a distância ide-
ológica entre presidente e vi-
ce é pequena. Não há ameaça
à agenda conservadora. A as-
censão do vice eliminaria as
fontes de instabilidade do go-
verno—oclãfamiliareseunú-
cleo ideológico—quepreocu-
pa estratosmédios, empresa-
riado e, sim,militares, que jo-
garãoparadosenãoperderão
emnenhumcenário.
Assim, o impedimento po-
derá ser visto como derrota
individualizada, e não coleti-
va, paraos apoiadoresdeBol-
sonaro foradonúcleoduro.O
custopara eles será tantome-
nor quantomais o presidente
semostrarincapazdesereele-
ger(seuúnicoativopolíticoéo
capitaleleitoral).Oqueéprová-
vel após a saídadeMoro, a ca-
lamidade emcurso e amonu-
mental recessãoque se inicia.
Quantomaioressaindividu-
alizaçãodoprocessonaperso-
nadopresidente—ojulgamen-
tonoSTFpesa aqui—equan-
tomaioravisibilidadedonexo
entre o horror sanitário e seu
comportamento, maiores as
chances do afastamento.
Impeachment e
efeitomanada
-
Marcus André Melo
Professor da Universidade Federal de
Pernambuco e ex-professor visitante da
Universidade Yale. Escreve às segundas
João Montanaro
Ano deWeintraub noMEC privilegia controvérsia
ideológica em detrimento damelhoria do ensino
a eee
opinião
SEGUNDA-FEIRA, 4 DE MAIO DE 2020 A3
ERRAMOS
erramos@grupofolha.com.br
Agressão à imprensa
“Manifestantespró-Bolsonaroagri-
demeameaçamjornalistasemato
noPlanalto”(Poder,3/5).Osmalu-
cos estão se achando grande coi-
sa,porquesóelessãoobtusose ir-
responsáveis o suficiente para se
aglomerarem.Nãohouvesseisola-
mento, estaríamos a ver batalhas
campais pois hámuita genteque-
rendo pegá-los pelos colarinhos.
Umjá levouumacoçadeumamu-
lher commetadedo tamanhode-
le emil vezesmais brio.
Wagner Santos (Ribeirão Preto, SP)
*
A mídia dizia que era persegui-
da pelos petistas. Fizeram de tu-
do para tirá-los do poder. E agora
não são apenas perseguidos, são
massacrados.
Elizabete Oliveira (Jaú, SP)
Essa minoria insana de 30% tem
quesercontida,acomeçarpeloca-
po! Ódio, truculência e fake news
têmdedar lugaraoqueéprioritá-
rio: o combate às nossas gravíssi-
mas crises sanitária e social.
Roberto Serpa Dias (Rio Pomba, MG)
Ironia
IroniadahistóriaéSergioMoroter
dedepornaPolíciaFederaldeCu-
ritibaadelegadosaquemdavaor-
densnocombateaocrimeepoden-
dose incriminarporprevaricação
aodelatarsomenteagoraumrosá-
rio de crimes deBolsonaro.
Antônio Beethoven Cunha deMelo
(São Paulo, SP)
Ídolo
“Aimprensaeseuídolo”(colunada
ombudsman,Poder,3/5).Nosúlti-
mostempos,essaanálisefoiamais
honesta que vi divulgada nos jor-
nais.Ofatodeserpopularnãodáa
SergioMorosalvo-condutoemre-
lação a nada. Como escreveu Flá-
via Lima, essa é a segunda chance
paraaimprensabuscarumpouco
de isençãona cobertura.
RomeroMelo (Recife, PE)
*
Parabéns à ombudsman pelo óti-
mo artigo. Semdúvida, a impren-
sa está cultivandoMoro para ten-
tar derrotar o PT em 2022, já que
ostucanostradicionaisestãonalo-
na.Nessacampanha,éclaroquea
parcialidadedojuiz,asuaatuação
ilegalemCuritibaeasuaconivên-
ciacomasconhecidasilegalidades
e imoralidades do clã serão em-
purradas para debaixo do tapete.
Pranciskus Algimantas Zibas
(São Paulo, SP)
*
Ombudsman?Mais uma viúva do
lulopetismo.Naminhaopinião, la-
mentável aFolhamanteremseus
quadrosativistasquerabiscamar-
tigos rasteiros comoesse.
Raymond Kappaz (São Paulo, SP)
Fernanda Torres
Aúltimafrasedoartigo“Todomun-
do temumbolsonaristaparacha-
mardeseu;eutenhoaminha”(Ilus-
trada, 3/5) foi um banho de água
fria,umchoquederealidade.Sim,
porque quem teve desilusão com
o PT e tem repulsa ao bolsonaris-
mo, como é omeu caso, vai votar
emquem,emqueprojetodepaís?
OdestinodoBrasil,aoquetudoin-
dica,estámesmonasmãosdessas
pessoas que neste domingo esti-
veramnapraça dosTrês Poderes.
Paloma Fonseca (Brasília, DF)
Marcha
Oataqueà imprensaé incompatí-
velcomoEstadodemocrático.Es-
ses covardes valentões são incen-
tivados por um presidente acua-
do por denúncias, o que eviden-
cia a característicabovinade suas
cabeças vazias (editorial “Marcha
dos covardes, Opinião, 3/5).
Tania Maria DeMoura Pereira
(Brasília, DF)
*
Peçodesculpasàimprensaporser
responsávelpor termosumpresi-
dente que frustrou os sonhos dos
brasileiros com suas investidas
maléficas, pois foi nele que eu vo-
tei! Preocupa-me a inércia do Su-
premo Tribunal Federal, do Judi-
ciário e do Legislativo; que assis-
temaBolsonaro avançar contra a
democracia e nada fazem! Quem
não reage rasteja.
David Johnson (Rio de Janeiro, RJ)
Judas
“Bolsonaro chamaMoro de Judas
e diz que ninguémdará um golpe
emcimadele” (Poder,2/5).Émui-
to divertido ver as madalenas ar-
rependidas se portaremcomo ra-
tazanasepularemdobarcodomi-
licianoparaentrarnodoex-juize-
co.EsquecemqueSergioMorofoi
o principal responsável pela elei-
çãodochefeemtrocadocargode
ministroda Justiça e da indicação
paraoSupremoTribunalFederal.
Agora vou assistir de camarote à
essa briga do miliciano contra o
ex-lacaio.
Wilson Kfouri (São Paulo, SP)
Bloqueios
“SP faz bloqueios em avenidas a
partir de segunda (4) para forçar
isolamento” (Cotidiano, 3/5). Em
breve São Paulo terá que entrar
em lockdown devido a esse afas-
tamento social malfeito, incenti-
vadopor umumpresidente igno-
rante e irresponsável.
Elias Souza (Sumaré, SP)
Novas ideias?
“ProfessoresepaisacionamJustiça
contraensinoremoto”(Cotidiano,
3/5). Vejo solicitações (e justifica-
tiva plausível, que remete aos ex-
cluídos, que sempre foram exclu-
ídos, mesmo em tempos de nor-
malidade)para suspender aulas à
distância, mas nenhuma alterna-
tiva nem novas ideias para lidar
comessasituação.Nenhumapro-
posta.Oua ideiaénão fazerabso-
lutamente nada?
Lourenço Faria Costa (Quirinópolis, SP)
Apocalipse, apocalipse
“Brasil enfrenta duplo apocalipse
com Bolsonaro e coronavírus, re-
flete Nuno Ramos” (Ilustríssima,
3/5).MaravilhosalucidezdeNuno
Ramosaodesmontarestegoverno
inomináveleosbolsonaristas.Re-
tratoumuito bem a irresponsabi-
lidade, a baixa cultura e o parasi-
tismodessas pessoas. Lendo o ar-
tigovemosqueessapodridãonão
tem limites.
Mariza Bacci Zago (Atibaia, SP)
*
Obrigado, Nuno, por nos expli-
car o caos.
Ricardo Brock (Rio de Janeiro, RJ)
Leitos hospitalares
Em“AfilaúnicaparaaCovid-19es-
tánamesa” (Poder,4/5), ElioGas-
pari defende que leitos privados
tambématendampacientesdoSUS
com Covid-19. Hoje, mais de 40%
dos leitos de UTI do Brasil estão
emhospitaisparticulares,porisso,
em 31/3, protocolei o PL 1.316/20,
jáaprovadonaComissãoExterna,
queobrigahospitaisprivadosain-
formargestoresdoSUSsobrecrité-
riosdeocupaçãodosleitos,permi-
tindoocontrole e requisiçãopara
o SUSdurante a pandemia.
Alexandre Padilha, deputado
federal —PT-SP (Brasília, DF)
mercado (1º mai., pág. a16) A re-
portagem“Valeaprovabônusmi-
lionário para diretores” errou ao
publicar que o BNDES não deta-
lhou o seu voto, contrário ao pa-
gamento aos executivos. O ban-
co enviou nota à Folha dizendo
que “se compromete como cum-
primento de uma série de princí-
pios de governança corporativa
em linha com as melhores práti-
cas domercado”.
PAINELDO LEITOR
folha.com/paineldoleitor leitor@grupofolha.com.br
Cartas para al. Barão de Limeira, 425, São Paulo, CEP 01202-900. A Folha se reserva o
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o debate dos problemas brasileiros emundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo
Sevocênãoacreditaquenossasins-
tituiçõesestãosendoconstantemen-
te testadas nos seus limites de rup-
tura, por favor não leia este artigo.
Da mesma forma, não o leia se vo-
cê acha quenão temnenhuma res-
ponsabilidade política.
Paraquemdecidiuseguiradiante,a
questãoquetrazemosé:comochega-
mosatéaquiecomosairemosdessa
paranoiadofimdomundo,doradi-
calismodeliranteedamarchadain-
sensatez!Nãoéprecisorefletirmui-
toprofundamenteparaconcluirmos
que essa conjuntura torna bastante
improvávelqualqueresforçodoBra-
sil em avançar com uma agenda de
país. Éesseonossograndedesafio.
Claroqueexistemdiversosfatores
paratododesastre,masoquepuxa
a fila nasceu emmeados de 2013 e
demosumnomebematual: “teoria
da cloroquina”, que consiste na se-
guinte lógica:omaiorproblemado
Brasil seria a corrupção. Portanto,
o remédio para esse grandemal vi-
riacomofimdapolíticaedospolíti-
cos,restandosomenteos“cidadãos
debem”,sejaláoqueissoquerdizer.
Equaloapeloda“teoriadacloro-
quina”?Vivemosemumpaísdees-
truturas imperfeitas, sejam econô-
micas, sejam sociais, e que muitas
vezes, até involuntariamente, be-
neficiamumapartedasociedade.A
“limpeza”deumproblemapela eli-
minaçãodeumacategoriapodeaté
serumasoluçãoconfortável,masé
escandalosamente pueril.
O Política Viva, em algum mo-
mentodesuacaminhadaecomou-
traconfiguração,àépoca, foiconvi-
dadoaabraçar a causadocombate
à corrupção, que visualizava como
umaformadedaresperançaauma
sociedadecansadaedesiludida.Mas
apautadeextirparapolíticanunca
foinossa.Entendemosquesoluções
simplistasparaproblemascomple-
xos estão fadadas ao fracasso.
OmaiorproblemadoBrasilnãoé
acorrupção,eaformadecombatê-
lapassaaolargodapropostadosra-
dicais. Se olharmos países com ní-
veis de transparência similares ao
nosso, eles possuemumprojetode
longoprazoquenãoéasfixiadope-
lo debate da corrupção. Por ser in-
compatível com a natureza huma-
na, entende-se quenãohá socieda-
de sem vícios. A história nos ensi-
na, com insofismável clareza, o pe-
rigodoslíderesqueemergemdessa
“cruzada”.OBrasilconfirmaaregra.
Obviamente,apolíticatemproble-
mas nomundo e precisa se aproxi-
mar mais das necessidades dos ci-
dadãos. Contudo, é importante re-
conhecer a sua função demediar a
sociedadeeestabelecercompromis-
sos. Sem a política, não haveria as
pólis, cidades, países; seriamos ter-
ra arrasada. Ela não é somente ne-
cessária,mas fundamental.
Se você chegouaté aqui, fazemos
uma convocação positiva: precisa-
mos de ummaior número de pes-
soas trabalhandoempontes coma
política, deixando de lado a teoria
ilusionista da cloroquina. Não po-
demos confundir a legítima neces-
sidade de fazer concessões, de ne-
gociar prioridades e cargos, com a
indesejável compra de apoio abso-
luto. Temos quedialogar, entender
motivações, agregar e, sobretudo,
nos informar para muito além da
superfície dosmemes.
EssaéagênesisdoPolíticaViva,que
intensificaremoscomatransforma-
çãoeminstitutosemfinslucrativos,
peladefesadaboapolíticaedasinsti-
tuiçõesdemocráticas.Atuamospor
meiodeumaredeúnicanoBrasil,or-
ganizada digital e presencialmente,
comquase10milformadoresdeopi-
nião,engajadospormeiodosnossos
diversos canais, que funcionam co-
momultiplicadoresdodebate.
Éaevoluçãodeumprojetoqueveio
paraliderarumagendamaisampla:
amaturidadepolíticada sociedade.
Desdequandocomeçamosaacom-
panharapandemiadeCovid-19,com
o apoio do Instituto Estáter, inicia-
mosumainvestigaçãodasinforma-
çõesdisponíveisnospaíses infecta-
dospara levaraodebatedeumgru-
pomultidisciplinar comquemnos
reunimosduas vezes por semana.
Tentamos entender os números
atrás da tragédia que assolou vári-
ospaísesecriouumestadodecho-
queglobal.Buscamosanalisá-losde
forma pragmática, sem o impacto
de nos percebermos vulneráveis e
dapreocupaçãocomnossosfilhos,
pais e amigos em risco. Os dados
ainda nos intrigam comperguntas
buscandorespostas.Concentremo-
nos aqui num ponto específico: o
quetemimpactadoamortalidade?
OiníciodapandemianaItáliaeEs-
panhacriouumtraumanacomuni-
dade médica, que viu o sistema de
saúdedespreparadoparaenfrentar
ademanda.Ospacienteseramsele-
cionadospelojuízodecadamédico,
de quem sobreviveria e quem não.
A consequência foi umesforço glo-
bal para conter ademanda (expan-
são do vírus) e melhorar a oferta
(aumentodeleitos).Aparentemen-
te,nosEUAenaEuropa,aprimeira
fase deu resultado.
No caso da Itália, não identifica-
mos faltadeUTIsdesdemeadosde
março: nodia 27, no ápice da curva
pandêmica,havia15%deociosidade
nas 1.500UTIs da Lombardia (Pro-
tezione civile eMinisterio della Sa-
lute), regiãodemaiormortalidade.
NoReinoUnido,segundooNHS-UK
(National Heath Service), a capaci-
dadeociosaestavaem28%nasema-
nade20abril.NosEUA,tambémas-
soladospela infecção,tampoucohá
indicaçãode falta de leitos.
Mas o intrigante é que, mesmo
comamaioroferta, osnúmerosde
mortalidade não arrefeceram em
nenhumdospaísesmencionados.
Por quê?
VoltandoàLombardia,entre27de
março e 6de abril (dez dias) houve
3.500óbitosporCovid-19.Nodia27
demarçohavia24milcasospositivos
—12,4milhospitalizados,dosquais
1.300 emUTI. Assumindo que uma
parcela desses internados morre e
mesmoconsiderandoumarotativi-
dadenosleitos,éfácildeduzirquea
maioria dos óbitos não passou pe-
las UTIs. Isso se repete nas demais
províncias italianas com maior ou
menor intensidade.
Os EUA, em 22 de abril, confor-
meosDH(DepartmentsofHealth),
haviamacumulado 889mil casos e
92,4mil hospitalizações, dos quais
20,5milpacientepassaramouesta-
vamemrespiradores ouUTIs. Óbi-
tos,atéentão,somavam44,1mil.Se
mortesdepacientesnasUTIsrepre-
sentassem20%(CDC-CentersofDi-
sease Controll and Prevention; da-
dos de 16 demarço), também con-
cluímos que a maioria dos pacien-
tes nãomorreunasUTIs.
EmSãoPaulo,osnúmerossãomui-
torecentes,eosdadosaindatransi-
tórios,mastambémdemonstrama
mesma tendência.
A queda silenciosa de oxigenação
identificadapelosespecialistassurge
comoaprincipalsuspeita,masnospa-
recequefaltaumaconclusãoestrutu-
radaeestratégiaaserimplementada.
Entendemosquerespostassobreonú-
merodeóbitosforadasUTIs,epossi-
velmentedoshospitais, tenhamque
serconcomitantesàdiscussãosobre
leitos.Nãoapenaspelarelevânciado
númeroaparentedecasos,mastam-
bémporque poderão influenciar na
conta necessária para leitos dedica-
dosàCovid-19.Asperguntasquepa-
recempertinentes:1 -Porqueagran-
demaioriadosóbitosnãoestápassan-
doporUTIs (ouhospitais)?; 2 - Qual
procedimento é recomendável para
diminuiressamortalidadepré-hospi-
talar?;e3 -Comoaeventualmudan-
çaafetaoprotocolodeinternaçãoou
deacompanhamentoambulatorial?
Éumadiscussãonecessáriaeain-
da tempestiva, uma vez que o pico
da curva no Brasil está por vir. Se
epidemiologistas concluírem por
mudançasdeprotocolo,aindadará
tempoparaimplementá-lasesalvar
muitas vidas.
Covid-19 e amortalidade
fora dos hospitais
Umaautópsia para a cura
-
Pércio de Souza e Ben-Hur Ferraz Neto
Engenheiro (Instituto Estáter)
Cirurgião de transplante de fígado do Hospital Alemão Oswaldo Cruz (SP)
-
Rosangela Lyra e Paulo Dalla NoraMacedo
Presidente do Política Viva
Vice-presidente do Política Viva
Por que a grandemaioria dos óbitos não está passando por UTIs?
Como chegamos até aqui e como sairemos desse radicalismo delirante?
[
Entendemos que
respostas sobre o número
de óbitos fora das UTIs,
e possivelmente dos
hospitais, tenham que
ser concomitantes
à discussão sobre
leitos. Não apenas pela
relevância do número
aparente de casos, mas
também porque poderão
influenciar na conta
necessária para leitos
dedicados à Covid-19
[
Omaior problema do
Brasil não é a corrupção,
e a forma de combatê-
la passa ao largo da
proposta dos radicais. (...)
Não podemos confundir
a legítima necessidade
de fazer concessões, de
negociar prioridades e
cargos, com a indesejável
compra de apoio absoluto.
Temos que dialogar,
entendermotivações,
agregar e, sobretudo, nos
informar paramuito além
da superfície dosmemes
Apoiadores de Bolsonaro durante
ato neste domingo emBrasília
Ueslei Marcelino/Reutersa eee
poder coronavírus
A4 SEGUNDA-FEIRA, 4 DE MAIO DE 2020
Jornal filiado ao IVC
Circulação paga às segundas de mar.2020, impresso mais digitais (IVC) 322.310 exemplares
Páginas vistas no site da Folha em abr.2020 (Google Analytics) 428.386.671
Visitantes únicos no site da Folha em abr.2020 (Google Analytics) 73.786.377
Nelson Teich, desde que tomou
posse, nunca cita a palavra SUS.
É um despreparado para o cargo
Do deputado federal Chico D’Angelo (PDT-RJ), sobre
a atuação do novoministro da Saúde na pandemia
TIROTEIO
comMariana Carneiro e Guilherme Seto
A nova participação de Bolsonaro em ato antidemo-
crático, que culminou em agressão a jornalistas, foi
vista por políticos do centrão como “um domingo
como outro qualquer”. Eles também minimizaram
a ameaça a enfermeiros no dia anterior e as declara-
ções intimidatórias do presidente contra o STF, dan-
do a entender que não aceitará eventuais decisões
desfavoráveis. O grupo é o novo aliado de Bolsonaro
e está prestes a receber um lote de cargos públicos.
Nada demais
amigos Ospoucosparlamen-
tares que se posicionaram a
respeito do ocorrido no fim
desemanadefenderamaspes-
soas agredidas, mas não cri-
ticaramBolsonaro, quemais
uma vez incentivou aglome-
rações durante a pandemia.
crise Neste domingo, o Mi-
nistério da Saúde confirmou
que o Brasil tem 7.025 mor-
tos pelo coronavírus e mais
de 100 mil infectados. Nada
disso, porém, faz virar a cha-
ve no Congresso, avaliam in-
tegrantes da oposição.
plateia Na avaliação de po-
líticos e membros do Judici-
ário, a ação de Bolsonaro foi
paraseguidores.Elequispas-
sar amensagemde que é ele
quemmanda,umdiaantesde
anunciar seu novo nomepa-
radiretor-geral daPolícia Fe-
deral. No órgão, a expectati-
va éadequeoescolhidoseja
RolandoSouza,braço-direito
deAlexandreRamagem,sus-
pensopelo STF.
sem essa Dentro do Supre-
mo, ministros dizem, no en-
tanto, que não haveriamoti-
voparaimpedirRolandoSou-
za de assumir o cargo. A de-
cisão doMoraes foi específi-
ca sobre Ramagem, por cau-
sa do inquérito aberto sobre
as acusações de SergioMoro
contra Bolsonaro.
simbolismo O episódio en-
volvendo Moraes no sábado
foi emblemáticodomomen-
toatualdoBrasil.Cercade20
bolsonaristas foram para a
frentedoprédiodoministro,
emSãoPaulo, eochamaram
decomunista,petista,bandi-
do e corrupto. Segundopoli-
ciais, houve ameaças aoma-
gistrado e sua família. Duas
pessoas forampresas.
reiposto Osdoismanifestan-
tesforamlibertadosapóspa-
gamento de fiança. Os depó-
sitos foram feitos com ajuda
dodeputadoestadualDouglas
Garcia (PSL-SP). O advogado
chamado para o caso foi Da-
nilo Garcia de Andrade, que
fazpartedomovimentomo-
narquista. Ele defendeu por
uma semana a modelo Naji-
la Trindade contraNeymar.
alarme DadosdaPrefeitura
deManauscoletadosentreos
dias 15 e 22de abrilmostram
que ao menos 487 sepulta-
mentosforamporóbitospor
causadesconhecidaoudoen-
çarespiratória,masnãocoro-
navírus.Onúmerorepresen-
ta 59,2%do total de enterros
(830) emapenasnaquele pe-
ríodo.Emtodoomêsdeabril
de2019, foramregistrados871
sepultamentos.
oficial Atéoúltimodia22,o
estado do Amazonas conta-
va 207mortes por coronaví-
rus,segundodadosdoMinis-
tério da Saúde. Procurada, a
prefeituradisseque,porcau-
sa da crise, não poderia rea-
lizar o levantamento sobre o
número de mortes em mes-
mo período do ano passado
por doença respiratória ou
causa desconhecida.
oculto Naavaliaçãodeespe-
cialistas, a análise desses oi-
to dias, comdados aos quais
o Painel teve acesso, é mais
um forte indício de subnoti-
ficaçãodapandemianopaís.
cuidado Depois do colapso
de Manaus, Santa Catarina
é considerado o próximo lo-
cal críticoporcausadocoro-
navírus,segundotécnicosdo
MinistériodaSaúde.Emuma
semana, o número de casos
confirmados quase dobrou.
Até24deabril, 1.200estavam
com Covid-19 oficialmente e
agorajásão2.346.Aavaliação
équeonúmerodemortesvai
começar a aumentar.
corrente Depoisdebolsona-
ristasresgataremumarepor-
tagemsobreumaintercepta-
ção telefônica de Alexandre
deMoraes na semana passa-
da, neste sábado apoiadores
dopresidentebombaramnas
redesumamatériaantigaso-
bre o governador JoãoDoria
(PSDB-SP).
rede O texto, publicado na
Folha em outubro de 2019, é
sobreareaçãodotucanocon-
tramanifestantespró-Bolso-
naro em um evento em Tau-
baté,emqueeledisse“vaipa-
racasa,vagabundo”.Olinkfi-
couentreosmaislidosdopor-
tal durante ofimde semana.
Camila Mattoso
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AL, BA, PE, SE, TO
R$ 1.177
Outros estados
R$ 1.460
GRUPO FOLHA
-Talita Fernandes
e Fábio Pupo
brasília OpresidenteJairBol-
sonaromaisumavezprestigi-
ou pessoalmente umamani-
festaçãoemBrasíliacomata-
quesaoSTF(SupremoTribu-
nal Federal) e ao Congresso,
disse estar junto com as For-
çasArmadas“aoladodopovo”
edeurecadosintimidatórios.
“PeçoaDeusquenãotenha-
mosproblemasessasemana.
Chegamosnolimite,nãotem
maisconversa.Daquiprafren-
te,nãosóexigiremos,faremos
cumpriraConstituição,elase-
rá cumprida a qualquer pre-
ço, eela temduplamão”, afir-
mou Bolsonaro, em declara-
çãotransmitidaaovivoneste
domingo (3) em rede social.
Umdiaapósterseencontra-
docomoschefesdeExército,
MarinhaeAeronáutica,opre-
sidenteafirmouque“temoso
povoaonossolado,nóstemos
asForçasArmadasaoladodo
povo,pelalei,pelaordem,pela
democraciaepela liberdade”.
Além de incluir pautas au-
toritárias, de desrespeitar re-
comendações sanitárias em
meioaocoronavírusedevoltar
a atacar asmedidas de gover-
nadoresnapandemia,amani-
festaçãoapoiadaporBolsona-
rofoimarcadadestaveztam-
bémporataquesaoex-minis-
troSergioMoro,quepediude-
missãodogovernocomacusa-
çõesaopresidente,eporagres-
sõeseameaçasa jornalistas.
A conduta do presidente
foirepudiadaporintegrantes
dosPoderesLegislativoepor
chefesdeExecutivoestaduais,
comoJoãoDoria(PSDB-SP)e
WilsonWitzel(PSC-RJ).Opre-
sidente do STF, Dias Toffoli,
nãosepronunciou,eentreos
ministros da corte as princi-
pais manifestações públicas
foramparacriticaragressões
debolsonaristasà imprensa.
OministroLuísRobertoBar-
roso disse à Globonews que
“não se deve lançar as Forças
Armadasnovarejodapolítica”.
Opanodefundodanovain-
vestida de Bolsonaro é sua ir-
ritação com as derrotas que
vem sofrendo no Supremo.
Com isso, ele busca respaldo
entreosmilitaresparareagir
ao Judiciário.E temrecebido
sinaisdeapoionosbastidores,
sobretudoemrelaçãoàsdeci-
sões do tribunal que interfe-
rememmedidasdogoverno.
Opresidenteatacounosúl-
timosdiasadecisãodominis-
trodoSTFAlexandredeMo-
raesdebarraranomeaçãode
Alexandre Ramagem, amigo
desuafamília,paracomandar
a Polícia Federal, após a acu-
saçãodeMorodetentativade
interferência política na cor-
poração.Nestedomingo,dis-
se que deve indicar umnovo
nomenestasegunda-feira(4).
Bolsonaro deixou o Palácio
da Alvorada neste domingo
e foi até a rampa do Planalto
para acenar aosmanifestan-
tes, aglomerados, que grita-
vam “Fora, Maia”, entre ou-
trascoisas.Umabandeirado
Brasil foiestendidanarampa.
O presidente disse querer
“umgovernoseminterferên-
cia,quepossaatrapalharpara
o futurodoBrasil”. “Acaboua
paciência”, disse. “Éumama-
nifestação espontânea, pela
democracia”, afirmou.
Elerepetiudiscursodeque
estãodestruindoosempregos
no país. “É inadmissível.” Se-
gundo ele, o efeito colateral
das medidas de isolamento
pode ser mais “danoso” que
opróprio coronavírus.
Umgrupodemanifestantes
sereuniuemfrenteaoMuseu
Nacional, emBrasília.Emse-
guida,foiorganizadaumacar-
reata em direção ao Palácio
doPlanalto.O atopromoveu
aglomeraçõesnummomento
queoBrasiltemmaisde7.000
mortes pelaCovid-19.
Embaladosporpalavrasdeordemecartazescomcríticas
aMoro,chamadode“canalha”
e“molequedeCuritiba”,apoi-
adores afirmavam que estão
“fechados comBolsonaro”.
AochegaremfrenteaoCon-
gresso,ogrupodeixouoscar-
ros e desceu em direção ao
PaláciodoPlanaltodianteda
promessafeitaporumdosor-
ganizadoresdequeBolsonaro
apareceria para vê-los.
Entreasmensagensdoscar-
tazeshavia“Armasparacida-
dãosdebem”,“ForaMaia”,“Fo-
raAlcolumbre”.Emfrenteao
STF, alguns gritaram “vamos
invadir”. “Olé, olé, STF é pu-
xadinhodoPT”, afirmavam.
Bolsonarodiz estar com
ForçasArmadas e ‘povo’ e
miraSTFao citar ‘limite’
Presidente participoumais uma vez de ato com ataques ao tribunal
e ao Congresso; pano de fundo são as derrotas seguidas na corte
EmmeioàscríticasaMoro,
feitas em um microfone de
um caminhão de som, uma
apoiadoragritouqueoex-ju-
iz é aliado ao centrão. O gru-
po de partidos, formadopor
legendas comoMDB, PP, PL,
Solidariedade,DEMeRepubli-
canos, temfeitotratativasde
apoio a Bolsonaro e deve ga-
nharnovoscargosnogoverno.
Nosábado(2),Bolsonarore-
cebeu os chefes das três For-
çasArmadaseosgeneraisque
integramsuaequipeministe-
rial,emencontroquenãoes-
tavaprevistonaagendaoficial.
A eles se queixou de estar
comdificuldadesparagover-
nar devido aoque ele chama
de “constante interferência
do Judiciário”. Ele ameaçou
fazer uma ruptura instituci-
onal, no sentindo de eventu-
almentedescumprirdetermi-
nações futuras da corte.
Deacordocommilitaresou-
vidos pela Folha, as declara-
ções de Bolsonaro emmani-
festaçãodestedomingotrans-
mitemessamensagem.Aala
fardada,emboracostumeatu-
arcomo“apagadoradeincên-
dios” de atitudesmais extre-
madas dopresidente, deu si-
nais de incômodo com deci-
sões do Supremo.
Não há uma unanimidade,
e o comandante doExército,
EdsonPujol,temsemostrado
refratário às atitudes dopre-
sidente.Mas outros generais
daaltacúpulaaindamantêm
ummaioralinhamentoaoPla-
naltoetêmmaiorproximida-
decomoantecessordePujol,
general Eduardo Villas Bôas,
conselheiro deBolsonaro.
Além da decisão que bar-
rouRamagem, incomodouo
presidente a redução de pra-
zodadaporCelsodeMello,de
60para5dias,paraqueMoro
fosseouvidosobreacusações
contra Bolsonaro. O depoi-
mentoocorreunosábado(2).
Entre militares, há um te-
mor de que a corte imponha
queopresidentemostreore-
sultadodeseuexameparaco-
ronavírus. Bolsonaro afirma
não ter contraído a doença,
masserecusaamostrá-lo.Ali-
ados defendem que, mesmo
com uma determinação da
corte, elemantenhao sigilo.
Continua na pág. A6
“
Chegamos
no limite,
não temmais
conversa,
daqui pra
frente, não só
exigiremos,
faremos
cumprir a
Constituição,
ela será
cumprida
a qualquer
preço, e ela
temdupla
mão
Jair Bolsonaro
Bolsonaro e sua filha Laura durante protesto neste domingo (3), emBrasília Evaristo Sa/AFP
a eee SEGUNDA-FEIRA, 4 DE MAIO DE 2020 A5
a eee
poder
A6 SEGUNDA-FEIRA, 4 DE MAIO DE 2020
ANÁLISE
-Igor Gielow
sãopaulo JairBolsonarofez
seunovoataqueaoLegislati-
voeaoJudiciárioexaltando
opapeldasForçasArmadas,
quesegundoeleestão“aola-
dodopovo”.
Não seria novidade, exce-
toporumdetalhe:navéspe-
ra, o presidente havia se re-
unido com os três coman-
dantes de Forças e minis-
trosmilitares,comoogene-
ralFernandoAzevedo(Defe-
sa)eochefedaSecretariade
Governo, general Luiz Edu-
ardoRamos.
Nocardápioposto,segun-
doa assessoriadeAzevedo,
“umaavaliaçãodoemprego
dasForçasArmadasnaOpe-
ração deCombate aoCoro-
navírus, além de avaliação
de determinados aspectos
da conjuntura atual”.
O demônio mora nos de-
talhes,nocasoostaisdeter-
minadosaspectos.Segundo
a Folha ouviu de interlocu-
tores de pessoas presentes
aoencontro,oSupremoTri-
bunal Federal foi duramen-
te criticado.
Omotivo,adecisãoprovi-
sóriadeAlexandredeMora-
esque inviabilizoua indica-
çãodeumamigoda investi-
gadafamíliaBolsonaro,Ale-
xandreRamagem,paraadi-
reçãodaPolícia Federal.
Issosignificaqueosgene-
rais deram amparo à nova
intentona retórica do pre-
sidente? Aqui há divergên-
ciasnosrelatosdisponíveis.
Aversãomajoritáriaapon-
touacrítica fardada,quede
restojátinhasidofeitaaoJu-
diciário e ao Congresso co-
moforçasacercearopoder
doExecutivo,masnegaque
o presidente tenha sido en-
corajadoanovamentedesa-
fiar os Poderes.
Uma leitura alternativa
dizqueopresidente se sen-
tiuautorizadoaultrapassar
o sinal novamente.
No ato de 19 de abril, Dia
do Exército, o simbolismo
era óbvio,mas velado.
Nestedomingo(3),Bolso-
naroencheuabocaparaco-
locar asForçasArmadasno
mesmoblocoquepediaaca-
beçadopresidentedaCâma-
ra, RodrigoMaia (DEM-RJ),
ataques ao Supremo e, de
quebra, espancava jornalis-
tasnoDiaMundialdaLiber-
dadede Imprensa.
A terceira leituraéaespe-
culação acerca do entusias-
modosmilitarescomaven-
turas totalitárias.
Issohojeéimprovável.Não
seimaginaaatualcúpulami-
litar brasileira apoiando fe-
chamentodePoderes.
Além disso, não há apoio
maciço ao governo na eli-
te econômica, na imprensa
emesmo entre todos os ra-
mosdasForças:ForçaAérea
e Marinha não têm o mes-
mocomprometimentocom
afigura de Bolsonaro que o
Exército,fiadordeumcapi-
tão reformado e renegado.
Aindaassim,acontempo-
rizaçãofeitaporalgunsofici-
ais, de que Bolsonaro se ex-
cedesemconsequências,fi-
camais difícil de ser aceita.
Para complicar o enredo,
foi discutida na reunião de
sábado a troca do coman-
dante do Exército, general
EdsonLealPujol,porRamos.
Ogeneral,queseguenaati-
vaenquantoexerceafunção
no Palácio do Planalto, era
talvez o mais bolsonarista
dos integrantes do Alto Co-
mandodoExército.
Suaeventual idaparaoco-
mandocriariaa ideiadeum
Exército liderado por uma
aliado ideológico do presi-
dente.
Ramosnegaqueoassunto
esteja na mesa. “Não sei de
ondeissosaiu.Temunsseis
generais mais longevos do
queeunafila”,disseàFolha.
Asubstituição,defato,po-
de ser assunto para 2021,
quando Ramos ainda esta-
rá na ativa —e caso Bolso-
naro siga nopoder.
A retórica inflamada do
presidente também tem a
ver comomomento de seu
governo, acumulandomais
de 7.000 mortos pelo novo
coronavírusesentindoabri-
sa do impeachment.
Há incertezas demais pa-
ragarantirqueopresidente
nãoseráalvodeumproces-
so de impedimento, apesar
de seuumterçode apoio.
Onomedaequaçãosecha-
ma Sergio Moro. O depo-
imento do ex-ministro da
Justiça a ouvintes bastante
familiarizados com os mé-
todos do ex-juiz da Lava Ja-
toapavoraosbolsonaristas.
Isso,somadoaossortilégi-
os que apurações sobremi-
lícias e fake news insinuam
sobreoclãpresidencial, ali-
mentamodiscurso oficial.
Ouso feitoporBolsonaro
dosmilitares explicita o re-
aldramaparaaosfardados:
a intrínsecaconexãocosdm
apolítica,algoqueconsegui-
ramevitar nopós-1985.
O preçode imagemainda
é insondável, mas apenas
o fato de serem questiona-
dos acerca de seus desígni-
os evidencia o tamanho do
gênio que permitiram sa-
ir da garrafa ao se alinhar a
Bolsonaro. Agora, terão de
se explicar.
Novoato força
cúpulamilitar
a explicar sua
posiçãona crise
Bolsonaro havia se reunido com
chefia fardada na véspera da
manifestação de tom golpista
Neste sábado, Bolsonaro fi-
cou especialmente irritado
com uma decisão do minis-
tro Luís Roberto Barroso, do
STF. O magistrado barrou a
ordemdogovernobrasileiro
paraexpulsardiplomatasve-
nezuelanos aliados aNicolás
MadurodoBrasil.
Nodespacho,oministroale-
gouocenáriodepandemiado
Bolsonaro diz estar com
Forças Armadas e ‘povo’ e
mira STF ao citar ‘limite’
Continuação da pág. A4 novo coronavírus para justi-
ficar sua decisão, a partir de
orientação da PGR (Procu-
radoria-Geral daRepública).
Nestasemana,o Itamaraty
enviou documento à embai-
xadaeaosconsuladosvenezu-
elanosnopaíse listou34 fun-
cionários que deveriam sair
dopaís—juntocomseusde-
pendentes—atéestesábado.
Poucomaisdeumahorade-
poisdeadecisãodoministro
serdivulgada,Bolsonarocha-
mouaoAlvoradaosministros
Fernando Azevedo (Defesa),
LuizEduardoRamos(Secreta-
riadeGoverno),AugustoHe-
leno,(GabinetedeSegurança
Institucional) eWalterBraga
Netto (CasaCivil).
Além deles, estiverampre-
sentesoscomandantesdaMa-
rinha,ExércitoeAeronáutica.
Grupospró-governoagridemjornalistas
emmanifestação, e presidente se cala
brasília Manifestantes pró-
governo Jair Bolsonaroagre-
diram, ameaçaram e expul-
saram jornalistas que cobri-
am na rampa do Palácio do
Planaltooatorealizadoneste
domingo(3),comapresença
dopresidente daRepública.
Enquanto Bolsonaro ace-
navapara os apoiadores, um
grupopassou aofender o re-
pórter fotográficoDidaSam-
paio,deOEstadodeS.Paulo,
que registrava omomento.
Osmanifestantescercaram
o fotógrafo, que foi derruba-
do duas vezes e chutado pe-
lascostas,alémdetomarum
soconoestômago.Alémdele,
omotoristadojornalMarcos
Pereiratambémfoiagredido.
Outrosprofissionaisdeim-
prensa foram empurrados e
ofendidosverbalmente,inclu-
indo os da Folha. Um repór-
terdo sitePoder360 foi agre-
dido. Aomesmo tempo, Bol-
sonaro foi alertado, segundo
imagenstransmitidaspelalive
emsuasredessociais,dacon-
fusãoenvolvendojornalistas.
Eleprestigioupessoalmente
amanifestação, que teve crí-
ticasaoSTF(SupremoTribu-
nal Federal) e aoCongresso.
“Expulsaramosrepórteres
da Globo, expulsaram os re-
pórteres”, disse uma pessoa
aopresidente.Bolsonaroen-
tão respondeu: “Pessoal da
Globo vem aqui falar bestei-
ra.EssaTVfoi longedemais”,
disse, semrepudiar as agres-
Carreata pró-Bolsonaro emBrasília, neste domingo (3) Wagner Pires/Futura Press/Folhapress
A Folha questionou a cú-
pula das três Forças Arma-
das sobre os motivos do en-
contro,arespostafoiunifica-
da e transmitida pelo Minis-
tériodaDefesa.Emnota,dis-
sequeoencontroserviupara
“fazer uma avaliação do em-
pregodasForçasArmadasna
OperaçãodeCombateaoCo-
ronavírus, alémde avaliação
de aspectos da conjuntura”.
Questionados, nem o Pla-
naltonemosmilitaresderam
detalhes sobre quais seriam
as ações sobre a pandemia.
Bolsonaro,enquantoisso,tem
mantido discurso contrário
ao isolamento social e segue
promovendoaglomerações.
Nosábado,elevisitouduas
cidadesdeGoiás,Cristalinae
Alexânia, onde cumprimen-
touapoiadoresegeroutumul-
to. Neste domingo, ele foi ao
Palácio do Planalto cumpri-
mentarmanifestantesquese
aglomeraramemfrenteàPra-
ça dos Três Poderes para de-
monstrarapoioàsuagestão.
Sobreoatocomataquesao
Congresso e ao Supremo, si-
tuações do tipo podem vir a
ser enquadradas nas defini-
ções legais de crime de res-
ponsabilidade. No caso do
presidente, tentar ou come-
terumcrimedessaclassepo-
delevaràperdadocargo,que
ocorre por meio de um pro-
cessode impeachment.
A previsão legal para isso
consta da Constituição e de
umaleide1950.Pelalegislação,
cabeaoCongressoautorizara
aberturadoprocessodeimpe-
achment, eo julgamentoque
decidesehouvecrimederes-
ponsabilidadeacontecenoSe-
nado.Hojehá cercade 30pe-
didosdeimpeachmentdeBol-
sonaroemanálisepelopresi-
dentedaCâmaradosDeputa-
dos,RodrigoMaia (DEM-RJ).
semmedoou favor”.
Emnota,adiretoriaeosjor-
nalistasdeOEstadodeS.Pau-
lo afirmaramque “repudiam
veementementeosatosdevi-
olência cometidos hoje (03)
contra sua equipe de jorna-
listasduranteumamanifesta-
çãodiante doPalácio doPla-
nalto em apoio ao presiden-
te Jair Bolsonaro”.
“Trata-se de uma agressão
covardecontraojornal,a im-
prensaeademocracia.Avio-
lência,mesmovindadacopa
edosporõesdopoder,nunca
nos intimidou. Apenas nos
incentiva a prosseguir com
as denúncias dos atos de um
governo que, eleito em pro-
cesso democrático , menos
de um ano emeio depois dá
todosossinaisdequesedes-
via para o arbítrio e a violên-
cia”, diz o comunicado.
A ANJ (Associação Nacio-
nal de Jornais) também di-
vulgou nota em que “conde-
na veementemente as agres-
sões sofridas por jornalistas
e pelomotorista do jornal O
Estado de S. Paulo quando
cobriam os atos realizados
neste domingo em Brasília”
e que espera que “as autori-
dades responsáveis identifi-
quemosagressores,queeles
sejam levados à Justiça e pu-
nidos na formada lei”.
Alexandre de Moraes, Lu-
ís Roberto Barroso, Luiz Fux
eGilmarMendes, do STF, e o
presidentedaCâmara,Rodri-
go Maia (DEM-RJ), repudia-
ramas agressões.
Talita Fernandes e
Fábio Pupo
Sou contra qualquer
tipo de covardia,
afirmaMourão
brasília Ovice-presidenteda
República, Hamilton Mou-
rão, classificoude “covardia”
as agressões sofridaspor jor-
nalistas na cobertura dama-
nifestaçãopró-governoneste
domingo(3),emBrasília,que
teve a presença do presiden-
te Jair Bolsonaro.
QuestionadopelaFolhaso-
bre o episódio de ataque à
imprensa, Mourão respon-
deu à reportagem: “Sou con-
traqualquertipodecovardia
e agredir quem está fazendo
seutrabalhonãofazparteda
minha cultura”.
Leandro Colon
sões aos profissionais.
APolíciaMilitar,queacom-
panhou o ato inteiro, não
apartou a confusão ao ser
acionadapelaFolha.Somen-
teemumsegundomomento,
quandorepórteres foramex-
pulsos,aPMcercouaimpren-
sa para fazer o isolamento.
Profissionais foram retira-
dos sob a escolta da polícia.
O episódio deste domingo
sesomaaoutrosrecentes,de
ataques vindos de apoiado-
resdopresidente .Nosábado
(2),umcinegrafistadaTVRe-
cordfoiagredidopormilitan-
tesbolsonaristasnaportada
Polícia Federal, emCuritiba,
onde Sergio Moro tinha de-
poimento marcado sobre as
acusaçõescontraBolsonaro.
Na sexta (1º), um grupo de
60enfermeirosqueprotesta-
vanaPraçadosTrêsPoderes,
emdefesadoisolamentosoci-
al e emhomenagemaospro-
fissionaisdesaúdequemorre-
ramnocombateàpandemia,
foramofendidosverbalmente
pormilitantesbolsonaristas.
Os ataques aos jornalistas
emfrenteàrampadoPlanal-
to aconteceramnoDiaMun-
dialdaLiberdadedeImpren-
sa.Nesteano,otemadefinido
pela ONU (Organização das
NaçõesUnidas)é“jornalismo
Fotógrafo Dida Sampaio é agredido durantemanifestação em
frente ao Planalto Ueslei Marcelino/Reuters
Apoiador de Bolsonaro discute com grupo de
enfermeiros na Praça dos Três Poderes, na
sexta (1º) YouTube/Reprodução
Manifestante empurra cinegrafista em frente
à PF, emCuritiba, no sábado (2) Eduardo
Matysiak/Futura Press/Folhapress
a eee
Moro durante pronunciamento no dia de sua demissão Evaristo Sá/AFP
coronavírus poder
SEGUNDA-FEIRA, 4 DE MAIO DE 2020 A7
O presidente enfrenta
investigações no STF
(Supremo Tribunal
Federal), vê uma série de
pedidos de impeachment
contra ele na Câmara e
acumula possíveis crimes
de responsabilidade
desde o início de seu
mandato, incluindo a
participação no protesto
deste domingo (3) contra
o Congresso e o STF
DEMISSÃODEMORO E
INVESTIGAÇÃO
O depoimento prestado
pelo ex-ministro à
PF neste sábado (2) é
considerado um dos
principais elementos
do inquérito que pode
levar à apresentação de
denúncia contra ele mesmo
ou contra Bolsonaro.
A oitiva foi o primeiro
passo da apuração iniciada
após Moro pedir demissão
do Ministério da Justiça
e Segurança Pública, no
último dia 24, com graves
acusações ao chefe do
Executivo. O objetivo é
descobrir se as acusações
são verdadeiras ou se o
ex-juiz pode ter mentido
sobre Bolsonaro—e
cometido crimes, portanto.
Na visão do procurador-
geral da República,
Augusto Aras, que pediu a
abertura da investigação,
oito delitos podem ter
sido cometidos: falsidade
ideológica, coação no
curso do processo,
advocacia administrativa,
obstrução de Justiça,
corrupção passiva
privilegiada, prevaricação,
denunciação caluniosa e
crime contra a honra.
Segundo interlocutores
do PGR,Moro pode ser
enquadradonos três
últimos e Bolsonaro,
nos seis primeiros. Nada
impede, no entanto, que
a investigação encontre
outros crimes além desses
e os denuncie por isso.
De acordo com
especialistas ouvidos
pela Folha, os atos do
presidente na demissão
doministro poderiam
ser enquadrados em
dois artigos da Lei do
Impeachment (7º e 9º).
A Constituição prevê que
o Legislativo temque
autorizar a abertura do
processo contra o chefe
do Executivo, com voto
favorável de dois terços
da Câmara dos Deputados.
O STF, então, decide
se recebe a denúncia
e abre processo
ATOS PRÓ-GOLPE
Oministro Alexandre
de Moraes, do STF,
autorizou a abertura de
inquérito para investigar
asmanifestações de 19
de abril, que tiveram a
participação deBolsonaro.
O pedido também partiu de
Aras. O objetivo da PGR é
apurar possível violação da
Lei de SegurançaNacional
(artigos 17 e 23)por “atos
contra o regimeda
democracia brasileira por
vários cidadãos, inclusive
deputados federais, o que
justifica a competência
do STF”. Interlocutores do
procurador-geral afirmamque, inicialmente,
o presidente não
será investigado.
Eles alertam, porém, que,
caso sejam encontrados
indícios de que o chefe
do Executivo ajudou a
organizar as manifestações,
ele pode vir a ser alvo
FAKENEWS
Emmarço de 2019,
o presidente do STF,
ministro Dias Toffoli,
anunciou a abertura de um
inquérito para investigar
a existência de fake news
que atingemmembros
da corte. Paralelamente,
em setembro domesmo
ano, a CPMI das Fake
News foi instaurada no
Congresso. Desde então,
a família Bolsonaro tem
se colocado contrária
ao funcionamento da
comissão, que investiga
perfis que fazem parte
do arco de apoio do
presidente da República.
No final de abril, a
Folha revelou que a PF
identificou o vereador
Carlos Bolsonaro,
filho do presidente Jair
Bolsonaro, como um
dos articuladores de
umesquema criminoso
de fake news
PEDIDOS DE
IMPEACHMENT
Ainda no final de abril, o
ministro Celso de Mello,
do STF, solicitou que o
presidente da Câmara,
RodrigoMaia (DEM-RJ),
explique a situação dos
pedidos de impeachment
contra o presidente que
estão parados na sua
mesa. São quase 30, de
autores como o deputado
federal Alexandre Frota
(PSDB-SP) e o ex-
candidato presidencial
Ciro Gomes e o presidente
do PDT, Carlos Lupi.
Maia, hoje rompido
comBolsonaro, é o
responsável por
analisar de forma
monocrática se dá ou
não sequência aos
pedidos de impeachment.
Ele não tem prazo para
tomar essas decisões.
Se Maia der sequência
a algum deles, o caso
é analisado por uma
comissão especial e, depois,
pelo plenário da Câmara
$
O que pode acontecer com Bolsonaro
-Renato Onofre e
Matheus Teixeira
brasília Oex-ministrodaJus-
tiça Sergio Moro entregou à
PolíciaFederalohistóricode
conversas recentes com Jair
Bolsonaro pelo WhatsApp,
incluindoodiálogoemqueo
presidentepressionapelasaí-
dadeMaurícioValeixodadire-
toria-geraldaPolíciaFederal.
No depoimento de sábado
(2), o ex-juiz repassou ainda
mensagenstrocadascomade-
putadafederalCarlaZambelli
(PSL-SP),aliadadeBolsonaro.
Numadasmensagensjáreve-
ladas porMoro, a parlamen-
tar tenta intercederparaque
ele fique no governo em tro-
ca de umanomeação ao STF
(SupremoTribunalFederal).
Comoexemplodaspressões
quedisse ter sofrido, o ex-ju-
iz relatounodepoimento re-
uniõescomopresidenteque
contaramcomapresençade
outrosministros.
Apósaoitiva,Moroteveque
aguardarosperitosdaPolícia
Federalacessaremseucelular.
Oaparelhofoiespelhadoem
umHDdaPFeoex-juizpermi-
tiuqueosinvestigadoresrecu-
perassemmensagensantigas
apagadas por ele, já que não
teria arquivado todos os diá-
logos que teve comBolsona-
rodesdeocomeçoogoverno.
No depoimento, o ex-mi-
nistromanteve as acusações
contra o presidente, a quem
atribuiuumatentativade in-
terferênciaeminvestigações
conduzidas pela PF.
Na trocademensagenspe-
loaplicativo,opresidenteco-
bradeMoroamudançadoco-
mandodacorporaçãodevido
aoinquéritodasfakenewsque
correnoSTFequeteriacomo
alvodeputadosbolsonaristas.
Todoohistóricodeconver-
saentreeleeBolsonarofoico-
piado pelos investigadores e
anexadoà investigaçãoaber-
tapelaPGR(ProcuradoriaGe-
raldeRepública)parainvesti-
garseopresidentetentouou
não interferir naPF.
Parte da conversa foi apre-
sentada por Moro ao Jornal
Nacional,daTVGlobo,em24
deabril,diadesuademissão,
logoapósopresidenteocha-
mar dementiroso.
Na troca de mensagens, a
queaFolhatambémteveaces-
so, Bolsonaro lhe envia uma
matéria do site OAntagonis-
ta intitulada“PFnacolade 10
a12deputadosbolsonaristas”.
Emseguida,eleescreve:“Mais
ummotivoparaatroca”,sere-
ferindoàsuaintençãodetirar
Valeixodo comando.
O inquérito citado pela re-
portagemdositefoiabertopa-
raapurarfakenewseameaças
contra integrantes da corte.
Moro ficou pormais de oi-
tohorasnasededaPolíciaFe-
deral emCuritiba prestando
depoimentoecompartilhan-
dooconteúdodoseucelular.
Oex-ministroestavaacom-
panhado de um advogado e,
segundopresentes,ficoucal-
modurantetodaaoitiva,que
foiinterrompidaumavezpara
quepudessemiraobanheiro.
As mensagens, segundo o
ex-ministro, provam que ele
não condicionou aceitar a
trocanaPFauma indicação.
O ex-ministro chegou ao
prédio por volta das 13h15,
masentroupelosfundos,frus-
trandoaexpectativademani-
festantes. O depoimento co-
meçoupertodas 14h.Eledei-
xouo local por volta de 0h20
sem falar coma imprensa.
Nosábado,opresidenteJair
Bolsonarousouasredessoci-
aisparacriticarodepoimen-
to.OchefedoExecutivocha-
mouMorode “Judas”.
Mororeagiuaocomentário
nestedomingo(3).“Hálealda-
desmaioresdoqueaspesso-
ais”, escreveunoTwitter.
De acordo com assessores
próximos,Morosedissealivia-
docomodepoimento.Eleafir-
mou ainda a aliados que não
haviamotivoparasepreocu-
parporquetodasasacusações
feitas por ele foram precedi-
das dematerial probatório.
Odepoimentoéconsidera-
doumdosprincipaiselemen-
Moroentregaconversa
emqueBolsonaro faz
pressãopor trocanaPF
Ex-juiz deixou com investigadores da corporação pacote
com íntegra de diálogos com o presidente por aplicativo
tosdo inquéritoquepode le-
varàapresentaçãodedenún-
ciacontraelemesmooucon-
tra opresidente.
Aoitiva,queduroumaisde
setehoras, foioprimeiropas-
sodaapuração iniciadaapós
Moro pedir demissão doMi-
nistériodaJustiçaeSeguran-
ça Pública, no último dia 24,
comgravesacusaçõesaoche-
fe doExecutivo.
A investigação foi aberta a
pedidodoprocurador-geralda
República,AugustoAras,eau-
torizada por Celso de Mello,
do STF, relator do caso.
Oobjetivoédescobrirseas
acusaçõessãoverdadeirasou,
então, seoex-juizdaLava Ja-
tocometeucrimesaomentir
sobreBolsonaro.
Na visão de Aras, oito deli-
tos podem ter sido cometi-
dos:falsidadeideológica,coa-
çãonocursodoprocesso,ad-
vocacia administrativa, obs-
trução de Justiça, corrupção
passivaprivilegiada,prevari-
cação,denunciaçãocaluniosa
e crime contra a honra.
Segundo interlocutoresdo
PGR, Moro pode ser enqua-
dradonos trêsúltimoseBol-
sonaro, nos seis primeiros.
Mas nada impede que a in-
vestigação encontre outros
crimeseosdenuncieporisso.
DepoisdeouvirMoro, aPF
deve realizar outras diligên-
ciasparabuscarmais provas
e informações sobre o caso.
O procurador-geral pode
fazer o mesmo, mas ele tem
indicadoapessoaspróximas
que deixará os detalhes da
apuração a cargo da polícia
e decidirá ao final o ofereci-
mento ou não da denúncia.
A investigação não tem uma
data para acabar.
Depoisdestesábado,osde-
legados que apuramos fatos
podem entender, por exem-
plo,queénecessáriocolhero
depoimento deMaurício Va-
leixo, diretor-geral da PF en-
quanto Moro era ministro e
pivôdacrisecomBolsonaro.
Isso porque, segundo o ex-
juiz da Lava Jato, o presiden-
tequeria retirá-lodocoman-
do da corporação para colo-
caralguémdasuarelaçãopes-
soal no cargo. A intenção se-
riaconseguiracessoarelató-
riosdeinteligênciaeinforma-
ções sobre investigações em
curso, oquenãoépermitido
pela legislação.
AlémdeValeixo, a PFpode
colher o depoimento de ou-
tras pessoas mencionadas
por Moro e também do pró-
prio Bolsonaro. Nesse caso,
porém, por se tratar do pre-
sidentedaRepública,quetem
foroprivilegiado,serianeces-
sária autorizaçãodo STF. E o
chefe do Executivo poderia
combinar o horário e local
adequadopara isso.
No caso de Moro, o depoi-
mento foi colhido pela dele-
gada Christiane Correa Ma-
chado,chefedoServiçodeIn-
quéritosEspeciais,grupores-
ponsávelporapuraroscasos
emcursono STF.
a eee
poder coronavírus
A8 SEGUNDA-FEIRA, 4 DE MAIO DE 2020
Asprimeiraspesquisasdeopi-
nião depois da demissão de
SergioMoro trouxeramalguns
resultados esperados eoutros
surpreendentes.
Como esperado, Bolsonaro
perdeu apoio junto às clas-
ses média e alta, que prova-
velmente eram lavajatistas.
O tamanho dessa perda vari-
oudepesquisaparapesquisa.
O que surpreendeu foi o
crescimento da aprovação
deBolsonaro entre os pobres,
que, na pesquisa Datafolha,
compensouaperdana classe
média emanteve sua aprova-
ção estável.
A semelhança com o que
aconteceu com Lula no pri-
meiro mandato não passou
despercebida.Ocientistapolí-
ticoRaphaelNeves notouque
Bolsonaropareceprocurarum
lulismo para chamar de seu.
Areferência éaoconceitode
“lulismo”, criadopelo cientista
políticoAndré Singer, quedes-
crevia o deslocamento eleito-ral ocorrido quando, aomes-
mo tempo, apareciam as pri-
meiras denúncias de corrup-
ção contra o PT e os progra-
mas sociais petistas começa-
vam a fazer efeito: Lula per-
deu o apoio da classe média
e conquistou os pobres.
Bolsonaro conseguirá exe-
cutar operação semelhante?
Não vai ser fácil.
Quanto à pandemia, ainda
não sabemos o que teve mai-
or efeito sobreasopiniõesdos
brasileirospobres: a rendabá-
sica emergencial deR$600ou,
pelo contrário, a falta de ren-
da que pode fazê-los preferir
arriscar a vida a ficar em ca-
sa sem comida.
Se foroprimeirocaso, éuma
basede sustentação frágil pa-
ra Bolsonaro. O governo está
negligenciandoasustentação
de renda dos pobres para for-
çarofimdaquarentena, eam-
pliaroauxílio facilitariaapo-
lítica dos governadores.
Mas se a explicação for o
desespero, a situação de Bol-
sonaro é confortável. Ele tem
muito desespero para entre-
gar. Se o desespero será sem-
pre administrável, é uma
outra história.
Poroutro lado, o lulismo te-
ve elementosqueBolsonaro te-
rá dificuldade em reproduzir.
Uma ideia de alto impacto,
baixo custo e comsólidopedi-
gree petista, o Bolsa Família.
Aumentos expressivosdosalá-
riomínimoque,mesmo se fo-
rem viáveis, não parecem es-
tar nos planos da equipe eco-
nômica ou do empresariado
que financia o bolsonarismo.
Um ambiente externo que fa-
vorecia o combate à pobreza.
E o fato de que Lula ocupou
um espaço vazio. No espaço
que Bolsonaro está tentando
ocupar, já há Lula.
O lulismo de Bolsonaro
ainda pode dar certo? Po-
der, pode. Talvez as expecta-
tivas dos brasileiros tenham
se reduzido tanto após anos
de crise que programas soci-
ais muito menos ambiciosos
produzam efeitos de popula-
ridade grandes.
Talvez a equipe econômica
tenhauma ideia arrojada co-
mo o Bolsa Escola e consiga
elaborá-la em poucas sema-
nas. Talvez a pandemia favo-
reçaa inérciapolítica até ofi-
nal da crise. Talvez os evangé-
licos preservem o voto bolso-
naristapobre. TalvezOlavode
Carvalho funcione comocom-
bustível fóssil.
De qualquer forma, o lulis-
mo de Bolsonaro parece ser
uma operação difícil de ser
implementada sem alterar a
composição da atual coali-
zão governista.
E todas essas manobras
podem ser neutralizadas por
uma oposição de esquerda
que, nesta situação, jogaria
em casa.
Bolsonaro está comprando
briga comLula, no campo de
Lula, porque teme apanhar
deMoro, no campo deMoro.
Pode acabar tendo que bri-
gar com Lula eMoro aomes-
motempo, contradois nomes
que o teriam destroçado na
eleição de 2018.
A única certeza é que não
vai brigar limpo.
Presidente mira apoio dos pobres, como no primeiro mandato do petista
-
Celso Rocha de Barros
Servidor federal, é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra)
Bolsonaro quer ser Lula
dom. ElioGaspari, JaniodeFreitas |seg. CelsoRochadeBarros |ter. Joel PinheirodaFonseca |qua. ElioGaspari, ConradoHübnerMendes |qui. FernandoSchüler |sex. ReinaldoAzevedo |sáb. DemétrioMagnoli
$
Calendário e
regras eleitorais
Cargos emdisputa
Prefeitos e vereadores
Data das eleições
4 de outubro (1° turno) e
25 de outubro (2° turno)
Período de convenções
partidárias para a escolha
de candidatos
De 20 de julho a 5 de agosto
Início da campanha
16 de agosto
Período da propaganda
eleitoral no rádio e na TV
28 de agosto a 1º de outubro
(1º turno)
FORMASDE
FINANCIAMENTO
• R$ 2,035 bilhões do fundo
eleitoral, criado em 2017,
distribuídos aos partidos,
que definem os critérios
de repasse aos candidatos
(por ora, como defendem as
principais siglas, permanece
reservado para quem
vai concorrer, e não para
o combate à pandemia,
como já foi pregado)
• R$ 960milhões do fundo
partidário, distribuído
às siglas. Parte desse
dinheiro é direcionado às
campanhas (em 2019, foram
repassados R$ 928milhões)
• Doações de pessoas físicas
e autofinanciamento
Em 2015 o Supremo Tribunal
Federal proibiu doações de
empresas, sob o argumento
principal de que o poderio
econômico feria o princípio de
equilíbrio de armas na disputa
Como o fundo eleitoral
é distribuído
Houvemudança na divisão do
fundo. Antes, o que valia era
o tamanho das bancadas na
última sessão legislativa do
ano anterior à eleição (o que
contou em 2018 foi a bancada
no fim de 2017). Agora, conta
o resultado da eleição
DIVISÃO ENTRE
OS PARTIDOS
2%
distribuídos igualmente entre
todas as legendas registradas
35%
consideram a votação de cada
partido que teve aomenos
um deputado eleito na última
eleição para a Câmara
48%
consideram o número de
deputados eleitos por sigla
no último pleito, sem contar
mudanças na legislatura
15%
consideram o número
de senadores eleitos
e os que estavam na
metade domandato no
dia da última eleição
-JoséMarques
sãopaulo Mesmoqueaselei-
ções municipais de outubro
não sejam adiadas, como já
sugeremparlamentarese in-
tegrantesdoJudiciário,apan-
demiadonovocoronavírusjá
alterou significativamente o
trabalho da Justiça Eleitoral
para a realizaçãodopleito.
Entre as medidas que têm
sido tomadas estão o adia-
mento e a remodelação de
testesprevistosparaossiste-
maseleitorais,alémdotreina-
mentoremotodoscoordena-
dores dosmesários.
O TSE (Tribunal Superior
Eleitoral) também já descar-
ta utilizar nas eleições deste
ano as novas urnas eletrôni-
cas queestãoemumproces-
so de compra que pode che-
garaovalorglobaldeaproxi-
madamenteR$ 800milhões.
Para que as eleições sejam
adiadas é necessário que o
Congresso aprove uma PEC
(PropostadeEmendaàCons-
tituição). A tendência atual
entreosparlamentaresé,em
caso de adiamento, que elas
aconteçam ainda em 2020,
semextensãodemandatos.
Para avaliar o impacto da
pandemia, a ministra Rosa
Weber,doSTF(SupremoTri-
bunalFederal),atualpresiden-
tedoTSE,criouumgrupode
trabalho formadopelos che-
fes dos setores técnico.
Todas as segundas-feiras
a equipe divulga relatórios e
informa se há condições pa-
ra que as eleições sejam rea-
lizadas nas datas originais: 4
deoutubro (1º turno) e 25de
outubro (2º turno).
Atéagora,apósduassema-
nasdefuncionamento,acon-
clusãoédequehácondições
paraisso,emboraalgunspro-
cedimentos tenham que ser
adiados e outros, alterados
completamente.Aideiaéque
o grupo de trabalho analise
semanalmente se esse cená-
rio irámudar.
Coordenador do grupo e
secretário-geraldapresidên-
ciadoTSE,EstêvãoWaterloo
dizqueaportariaquecrioua
equipeé“bastanteenxuta,po-
rémmuito objetiva”.
“Temosqueapresentarum
relatóriosemanalàpresiden-
te do tribunal. Esse relatório
édivulgadonomomentoem
que é remetido à presidên-
cia”, dizWaterloo àFolha. “O
GT [grupo de trabalho] tem
autonomia, mas é extrema-
mente técnico, não faz avali-
TSEdescartanovaurna
naseleiçõese treinará
mesáriosadistância
Tribunal monta grupo de trabalho para analisar o
impacto do novo coronavírus no pleito municipal
açãopolítica.”
Asreuniõesdogrupoacon-
tecemporvideoconferência,
umavezporsemana,apósca-
daárealevantarinformações
atualizadas.Apartirdessare-
uniãoéelaboradoorelatório.
Aequipeanalisaoquepode-
ráeoquenãopoderáocorrer
emconsonânciacomocrono-
gramada JustiçaEleitoral de
2020elaboradoantesdapan-
demia.Casoencontremobstá-
culosqueimpeçamavotação,
devemalertaracorte.Senão,
programamalterações inter-
naspontuaisparaquenãoha-
ja contratempos.
ComoaFolha apontou em
março,testescomasurnasfo-
ramabortadosouadiadosin-
definidamentedevidoàcrise
daCovid-19.
Ao contrário do otimismo
dogrupodetrabalhodoTSE,
integrantes de TREs (Tribu-
naisRegionaisEleitorais)dão
como certo que haverá adia-
mentodopleito.
Futuro presidente do TSE,
oministro Luís Roberto Bar-
roso, do STF, disse que esses
testes e eventuais aglomera-
çõesnasconvençõespartidá-
rias de agosto, quando as le-
gendasescolhemoscandida-
tos,serãocruciaisparadefinir
se a data será alterada.
No final de abril, uma pri-
meirarodadadetestesdosis-
temadeprestaçõesdecontas
daeleiçãoaconteceudeforma
remota, comos técnicos tra-
balhandoemesquemadeho-
meoffice.A iniciativa foi iné-
dita na JustiçaEleitoral.
Nestemês,ostestesdossis-
temas de candidatura e de
propaganda eleitoral serão
realizados também remota-
mente —antes, eles aconte-
ceriam presencialmente no
TREdeCuritiba.Ainda não foram remarca-
dos,noentanto, testesfísicos
dasurnas,queavaliamdefei-
tosemteclas,porexemplo,ou
em impressoras de boletins.
Essaavaliaçãoteráqueacon-
tecer presencialmente.
“Evidentemente, no caso
dos testes das urnas eletrô-
nicas vai ter que haver pes-
soas atuando, digitando nas
urnas,diretamentenosequi-
pamentos. Mas essas pesso-
as estarão afastadas [umas
das outras]. Será um forma-
to diferente e isso está sen-
do remodelado para que es-
sas novas condições aconte-
çam”, afirma Giuseppe Jani-
no, secretário de tecnologia
de informaçãodoTSE.
Outramudançaseránotrei-
namentodos“multiplicadores
dosregionais”,osfuncionári-
osdosTREsquevãoaBrasília
ajudarafinalizaroconteúdo
do treinamento do TSE para
osmesários.
Em vez de viajarem à capi-
tal federal, receberão treina-
mento a distância.
De acordo com a corte, a
medidaterápequenoscustos,
devido à produção do mate-
rial que será exibido a esses
servidores,mas essas despe-
sas serão compensadas com
aeconomiaqueotribunalte-
rá compassagens e diárias.
“Éumcustomuitopequeno
porque[ocurso]éumaprodu-
ção interna, a gentenãocon-
trata ninguém de fora para
fazer”,afirmaThayanneFon-
seca, secretária de gestão de
pessoas doTSE.
“Nopresencialagenteteria
umaurnaeletrônica,comto-
domundo trabalhando com
ela e tocandonessa urna.No
treinamento a distância vão
terqueserdesenhos, vídeos,
mostrando como é”, acres-
centa ela.
Ainda será definido como
serãooscursosdosTREs,nos
estados,comasrestriçõesde
isolamento social.
O TSE também diz que é
capaz de realizar as eleições
emoutubrosemnovasurnas.
Hoje, o tribunal tem 473mil
máquinasdisponíveisparaas
eleições deste ano.
Desdeoanopassado,háum
impasse na aquisição de ur-
nasquesubstituiriamosequi-
pamentos usados em 2006 e
2008, que estão obsoletos. O
edital previa a compradeaté
180mil delas.
Umaguerraderecursosen-
tre as empresas que concor-
remnalicitação,alémdepro-
blemas oriundos da pande-
mia, fizeram a corte descar-
tarousodasnovas.Masafal-
tadelasgerapreocupaçãoso-
bre um possível aumento de
filas e aglomerações.
OGTentendequeonúmero
demáquinasatuaisnãopreju-
dicaarealizaçãodasvotações.
“Tem-seporviávelarealiza-
çãodaseleiçõescomoparque
atual de urnas eletrônicas”,
dizia o primeiro relatório do
grupode trabalhodapande-
mia, de 20de abril.
“Independentemente da
conclusão pela viabilidade,
tratativas para aprimorar a
equalizaçãodoparquedeur-
nas permanecememcurso.”
Questionadonaquinta-fei-
ra(29)seaindahápossibilida-
de de utilização de novas ur-
nasnesteano,odiretor-geral
doTSE,AndersonVidal, afir-
maque“todoonossocálculo
já é descartando a utilização
dessas urnas”.
“Desdeoanopassadoaad-
ministração tem informado
e trabalhado para a realiza-
çãodas eleiçõesde 2020 sem
contar com a aquisição des-
sas urnas”, diz Vidal.
“O parque atual das urnas
eletrônicas para fazer essas
eleições é de 473 mil urnas.
Estamos trabalhando com
473 mil urnas para fazer as
eleições”, acrescenta.
AlémdeWaterloo,osoutros
secretários e o diretor-geral
tambémfazempartedogru-
po de trabalho que avalia os
impactos dapandemia.
Outros três integrantes
compõem a equipe. Nas re-
uniões, também participam
os chefes das assessorias de
gestãoestratégica,deexame
decontas edacomunicação.
“
Desde o ano
passado a
administração
tem informado e
trabalhado para
a realização das
eleições de 2020
sem contar com a
aquisição dessas
[novas] urnas
Anderson Vidal
diretor-geral do TSE
RosaWeber, presidente do TSE, em sessão virtual da corte em abril Abdias Pinheiro/Ascom/TSE
a eee
mundo coronavírus
SEGUNDA-FEIRA, 4 DE MAIO DE 2020 A9
-Sylvia Colombo
buenos aires O vírus chegou
primeiroaoBrasil.Aomenos
oficialmente. O primeiro ca-
sodeCovid-19naAméricaLa-
tina surgiu nodia 26de feve-
reiro,emSãoPaulo.Doisdias
depois, outro caso foi confir-
madonaCidadedoMéxico.
Decara,apandemiaentrou
pelaportadafrente,nasprin-
cipais cidadesdasduasmai-
ores economias da região.
Empoucomaisdedoisme-
ses, já infectou 251.577 pes-
soas ematoumais de 13.445
na América Latina, de acor-
do com dados compilados
pelo site Worldometers até
a tarde deste domingo (3).
Ascifras,noentanto,podem
ser muito maiores, uma vez
queégrandeapossibilidadede
subnotificação,sejapelainca-
pacidadederealizartestesem
massa,sejapelafaltadetrans-
parênciadealgunsgovernos.
Ocoronavírusganhoucon-
tornosmuitoparticularesna
América Latina. Trata-se de
umaregiãomuitopopulosa,
commais de 613milhões de
habitantes, e formada por
países que, em sua maioria,
temadesigualdadesocialco-
mo característica histórica.
Assim,onde53%domerca-
dodetrabalhoécompostopor
informais,segundoaOrgani-
zaçãoInternacionaldoTraba-
lho,eossistemasdesaúdesão
menospreparadosqueosda
Europa e dosEUA, os impac-
toseconômicosesanitáriosda
Covid-19 são aindamaiores.
ACepal (ComissãoEconô-
mica para a América Latina
e o Caribe) apresentou em
abrilumaprojeçãopessimis-
ta para a América Latina, na
qualhaveriaencolhimentode
5,3%doPIBregionalem2020.
Seria o pior desempenho
da história da região, cuja
quedamais expressivaneste
índice foi em 1930, durantea
Grande Depressão, quando
houve encolhimentode 5%.
“Eaconsequênciamaisgra-
ve seráoaumentodapobre-
za. A queda do PIB vai em-
purrar quase 29 milhões de
Víruspodegerar 29milhõesdenovos
pobres emAméricaLatina comraiva
Projeção indicamaior retração da história no PIB da região, repleta de surtos sociais antes da Covid-19
Coronavírus em países e territórios da América Latina
Antígua e Barbuda
Argentina
Aruba
Bahamas
Barbados
Belize
Bolivia
Brasil
Chile
Colômbia
Costa Rica
Cuba
Curaçao
El Salvador
Equador
Guatemala
Guiana
Guiana Francesa
Haiti
Honduras
Jamaica
Martinica
México
Nicaragua
Panamá
Paraguai
Peru
Rep. Dominicana
Suriname
Trinidad e Tobago
Uruguai
Venezuela
3
241
2
11
7
2
71
7.025
260
324
6
67
1
11
1.564
17
9
1
8
76
8
14
2.061
3
197
10
1.564
333
1
8
17
10
25
4.681
100
83
81
18
1.470
101.147
18.435
7.285
739
1.649
16
490
29.538
688
82
128
85
1.010
463
179
22.088
14
7.090
370
45.928
7.954
10
116
648
345
3
0,5
2
2,8
2,4
0,5
0,6
3,3
1,3
0,6
0,1
0,6
0,6
0,2
8,9
0,1
1,1
0,3
0,1
0,8
0,3
3,7
1,6
0,1
4,6
0,1
4,7
3,1
0,2
0,6
0,5
0,1
Fonte: ONU, Ministério da Saúde do Brasil e Worldometer.
Dados apurados às 18h do dia 3 de maio.
Casos Mortes
Mortes por
100mil hab.
NaBolívia, há inquietação
devido ao adiamento das
eleiçõespresidenciais,mar-
cadas inicialmentepara3de
maio epostergadaspelo go-
verno interino—econtesta-
do— de Jeanine Añez.
A oposição no Congresso,
compostaprincipalmentepe-
loMAS (Movimento ao Soci-
alismo), partido do ex-presi-
denteEvoMorales,nãoaceita
umanovavotaçãoapenasem
outubro, comopropôsAñez.
Na sexta-feira (1º), a Casa
aprovouumaleiquedetermi-
naarealizaçãodeeleiçõesge-
raisematé90dias,prazoque
venceráno início de agosto.
DesdearenúnciadeEvo,em
novembro,aBolíviaviveclima
de enfrentamento e violên-
cia nas ruas. A pandemia fez
comqueosprotestosseacal-
massem, mas há denúncias
daoposiçãodequeAñeztem
aproveitadoapandemiapara
militarizaraindamaisopaís.
Já no Equador, existia um
climadesuspensedesdequeo
governocedeuaatosnasruas
e recuouda alta na gasolina.
“Masessahistóriaficousem
conclusão. O presidente Le-
nínMorenoaindatemdeen-
contrarummododesatisfa-
zeroFMI [FundoMonetário
Internacional], que lhe em-
prestou dinheiro, sem cau-
sar a fúria das comunidades
indígenas”, avalia Tokatlian.
“Aissosesomaráosaldoda
crise sanitária. Moreno sai-
rámuito desgastado, pois as
imagens de Guayaquil viaja-
ramomundo,eficoumarca-
doque,emparte,ocorreram
porcontadanegligênciadele.”
NaArgentina,emquarente-
naobrigatórianacionaldesde
18demarço,háumasensação,
por ora, de que a crise sani-
tária está aomenos contida.
O presidente Alberto Fer-
nández, que tem enfrenta-
do pedidos de empresários
para reabrir o país, tem sido
duroao imporrestrições. Só
queaeconomia,que jánão ia
bem,deve sofrer forte abalo
quando acabar a pandemia.
O país tem adiado o paga-
mentodedívidas,alémdeim-
primirdinheiroparaalimentar
planosdeassistênciaaosmais
pobres. Emmeio aos proble-
mas, o presidente argentino
tem70%deaprovaçãopopular,
segundooinstitutoPoliarquia.

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