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ISSN 1414-5723 9 771414 572025 33269 SEGUNDA-FEIRA, 4 DE MAIO DE 2020ANO 100 ┆ Nº 33.269 R$ 5,00 D E S D E 1 9 2 1 UM J O R NA L A S E RV I Ç O D O B R A S I L AUDIÊNCIA/MÊS PÁGINAS VISTAS 404.556.455 VISITANTES ÚNICOS 69.769.423 Marchados covardes Falta de educação Acerca de agressões de bolsonaristasàimprensa. Sobre um ano de Wein- traubna chefiadoMEC. EDITORIAISA2 QUARENTENAEMSP Comércio Há 41 dias Escolas Há 41 dias Saiba o que abre e o que fecha emcada estado em folha.com Bolsonaro vai a ato, diz ter apoiomilitar e desafia STF Após se reunir com chefes das Forças Armadas, presidente afirma que “chegamos no limite” O presidente Jair Bolsona- roparticipounovamentede ato contra o STF (Supremo Tribunal Federal) e o Con- gresso. Seus apoiadores se aglomeraram na Praça dos TrêsPoderes,contrariando recomendaçõesdeconduta contra onovo coronavírus. “Tenhocertezadeumacoi- sa:nóstemosopovoaonos- solado,nóstemosasForças Armadas ao lado do povo, pelalei,pelaordem,pelade- mocracia e pela liberdade”, discursou Bolsonaro, posi- cionado na rampa do Palá- cio doPlanalto. No sábado (2), ele se reu- niu com os chefes das For- çasArmadasecomosgene- raisdoministério.OSTFfoi criticado.Opresidentebus- carespaldomilitarpararea- giràsderrotasnoJudiciário. A troca do comandante do Exércitotemsidodiscutida. O Supremo barrou a no- meação do delegado Ale- xandreRamagem,amigoda família Bolsonaro, para co- mandaraPolíciaFederal.O presidentedissequeindica- ráalguémnestasegunda(4). “Chegamos no limite, não temmaisconversa.”PoderA4 Estacionamento do ParkShopping São Caetano, na Grande São Paulo, vazio pelo fechamento do comércio Saúde B3 NA PANDEMIA, SOBRAMVAGAS Danilo Verpa/Folhapress País já soma 101mil casos de Covid-19 e 7mil mortos O Brasil chegou a 101.147 casosconfirmadose7.025 mortespelonovocorona- vírus, segundo dados do Ministério da Saúde. Fo- ram 275 óbitos confirma- dos neste domingo (3), alémde4.588novosregis- tros.Epicentrodacrise,o estadodeSãoPaulo jáso- ma 2.627 mortes e 31.772 casosconfirmados.SaúdeB5 Crise pode retirar até R$ 500 bi dos brasileiros Acriseeconômicagerada pelonovocoronavíruspo- detiraratéR$500bilhões da renda dos brasileiros neste ano, segundo pro- jeçãodo Ibre.Oconsumo das famílias é o principal motor da economia. Sua retração vai reduzir a de- mandaprincipalmenteno setor de serviços,minan- do a recuperação no pós- pandemia.MercadoA13 Mathias Alencastro Acabou o amor dos EUA conosco Donald Trump virou as costas para Jair Bolsona- ro. O americano define o Brasil como exemplo de descontroledapandemia. ComademissãodeMoro e o desprestígio de Gue- des,circodeErnestoAraú- joperdesentido.MundoA10 Pais e promotores recorrem à Justiça contra aula remota Comescolasnopaísfecha- daspelapandemia,ações doMinistério Públicope- dem que não se contem comocargahoráriaasau- las não presenciais, prin- cipalmentenaredepúbli- ca, onde nem todos aces- samainternet.CotidianoB2 Vizinhos, Paraguai e Argentina temem situação no Brasil No Paraguai, o diretor de vigilância da saúde, Guil- lermo Sequera, disse que “se o Brasil espirra, nós pegamospneumonia”.Pa- raopresidenteargentino, AlbertoFernández,opaís nãoestaria“levandoapan- demia a sério”.MundoA10 mercadoA16 Criador do aplicativo Zoom, para reunião virtual, chinês fica US$ 4 bi mais rico entrevista da 2ª Quarentena reforça pornô feminista, diz diretora-geral do Grupo Playboy A12 Recuperados da Covid-19 não se reinfectaram SaúdeB8 Manifestantes tentam evitar que o fotógrafo Dida Sampaio, do jornal O Estado de S. Paulo, trabalhe na Praça dos Três Poderes, emBrasília Ueslei Marcelino/Reuters Susana Bragatto Entre o temor e a avidez social, saímos às ruas emBarcelonaMundoA10 diasmelhores B3 Brasileiro projeta ventilador pulmonar com limpador de para-brisa e pneu folhainvest A17 Veja a trajetória de 5 investidores em tempos de pandemia Jornalistas são agredidos e têm de abandonar cobertura A6 Moradores de Ilhabela são barrados na balsa ao voltar para casa Saúde B4 Tabata Amaral Risco de nos calarmos agora émaior do que o do impeachment B4 a eee opinião A2 SEGUNDA-FEIRA, 4 DE MAIO DE 2020 UM JORNAL A S ERV I ÇO DO BRAS I L a Publicado desde 1921 – Propriedade da Empresa Folha daManhã S.A. presidente Luiz Frias diretor de redação Sérgio Dávila superintendentes Antonio Manuel Teixeira Mendes e Judith Brito conselho editorial Rogério Cezar de Cerqueira Leite, Marcelo Coelho, Ana Estela de Sousa Pinto, Cláudia Collucci, Hélio Schwartsman, Mônica Bergamo, Patrícia Campos Mello, Suzana Singer, Vinicius Mota, Antonio Manuel Teixeira Mendes, Luiz Frias e Sérgio Dávila (secretário) diretoria-executiva Marcelo Benez (comercial), Marcelo Machado Gonçalves (financeiro) e Eduardo Alcaro (planejamento e novos negócios) editoriais@grupofolha.com.br EDITORIAIS Marcha dos covardes Falta de educação Nodomingo(3),DiaMundialdaLi- berdadedeImprensa,numasuces- sãodeeventosqueinfelizmentese tornamhabituaisnoBrasil,umpu- nhado de celerados se reuniu em frente ao Palácio do Planalto, em Brasília, para defender, entre ou- trascoisas,o fechamentodoCon- gressoedoSupremoTribunalFe- deral e uma intervençãomilitar. Mais uma vez, o presidente Jair Bolsonaro achou por bem juntar- seaosmanifestantesegritarpala- vras de ordem que os legitimam. Elesabequeasbandeirasafrontam aConstituição,masnãose impor- ta. Éoagitadorde sempre, oanti- estadista, o eterno deputadome- díocre dobaixo clero. Denovo,entreassandicesprofe- ridaspeloatualocupantedocargo máximo do Executivo brasileiro, estavamataquesao jornalismo.A prática de Bolsonaro é macaque- ada de seu inspirador norte-ame- ricano, Donald Trump, que já de- finiuaimprensanorte-americana como “inimiga do povo”, uma ex- pressão popularizada, ironia das ironias,peloditadorcomunistaJo- sef Stálin naUnião Soviética. Palavras têm consequências. Mais ainda se ditas e repetidas por líderes políticos. Nomesmoato de domingo, um repórter-fotográfico do jornal O Estado de S. Paulo e o motorista queoajudavanacoberturaforam agredidos com chutes (pelas cos- tas),murros e empurrões. Profis- sionaisdaTVGlobo,doportalPo- der360edestaFolha tambémso- freramataques físicosouverbais. Algosemelhantehaviaocorrido nodiaanterioremCuritiba,duran- teodepoimentodoex-ministroda JustiçaSergioMoronasededaPo- líciaFederal,apartirdeacusações queimplicamopresidenteemcri- mes de responsabilidade. Bolsonaristas que antes infla- vam balões com o rosto do ex-ju- izagoraoofendiamcomimpropé- rios—eatacavamaimprensa.Um cinegrafistadeumaafiliadadaTV Recordteveacâmeraempurrada. Aosaberdoocorridonodomin- go,Bolsonarorespondeu:“Pessoal da Globo vem aqui falar besteira. Essa TV foi longedemais”. A fala infelizmente é coerente comaprática.Levantamentofeito pelaFederaçãoNacionaldosJorna- listas (Fenaj) mostra que nos pri- meirosquatromesesde2020opre- sidente investiu contra a impren- sa 179 vezes, 38delas só emabril. Oprotestodofimdesemanate- ve como gatilho uma decisão de ministrodoSTFque impediuBol- sonaro de nomear um apanigua- do como diretor-geral da Polícia Federal, que investiga Bolsonaro e família. Trata-se do sistema de freiosecontrapesosdeumregime democrático em funcionamento. Uma imprensa livre e indepen- dente fazpartedesse sistema.Ela seguirávigilante,apesardasagres- sões damarchados covardes. Após um ano de Abraham Wein- traub à frente do Ministério da Educação,confirmam-seospiores prognósticos.Findostumultuosos trêsmesesdeRicardoVélezRodrí- guez no comando da pasta, deve- ria ser imprescindível dar ordem a esse setor crucial para o desen- volvimento dopaís,mas o substi- tutopareceempenhadonooposto. Hiperativo Weintraub tem se mostrado, porémmais nas redes sociaisdoquenoMEC.Oministro seesmeraemadularopresidente Jair Bolsonaro e de volta recebe agrados como a menção no pro- fuso e confuso pronunciamento dochefenodia24deabril, depois daquedadeSergioMoro(Justiça). Movido por fanatismo, Wein- traub declarou guerra ao nível de ensinosobreoqualogovernocen- tral tem jurisdição, o superior.No flancofolclórico,dedicou-seaacu- sar as universidadesfederais de acoitar marxistas, plantações de maconha e pesquisas inúteis. No administrativo, asfixia-as. Apóscortar-lhesverbasparapes- quisa,oantigoprofessoruniversi- táriodeanônimacarreirapromo- veumudançaspolêmicasnasbol- sasdaCapes,principalagênciade fomento à pós-graduação e à for- maçãodequadrosparaomagisté- rio,reduzindoem17%osestipêndi- osdasdemonizadashumanidades. No plano do ensino fundamen- tal emédio, destaca-se pela omis- são no debate sobre a renovação doFundeb,essencialparafinanci- ar a educaçãobásica.Nememsu- as postagens se bate pelo fundo, dedicando-lhe 0,6% das manifes- tações em que privilegia ataques descabelados como o dirigido à China, que lhe rendeu um inqué- rito no Supremo Tribunal Fede- ral para apurar crimede racismo. Essenívelbasilardoensinocom- peteaosgovernosmunicipaisees- taduais,masoMECmantémosse- cretáriosdeáreanoescuroquanto àspolíticaseiniciativasfederais.Da merendaemtemposdepandemia àsmudançasnaalfabetização,ge- ramaisatritodoquecoordenação comessasesferasadministrativas. Weintraub havia prometido o melhorEnemdetodosostempos, cientedaimportânciaqueessapor- tadeacessoàsuniversidadesfede- raisadquirenasvidasde jovens.O que se viu em 2019 foi uma trapa- lhada nas correções da prova, pa- ranãomencionarpercalçospersis- tentesatéhojeemlicitaçõesparaa gráficaencarregadadaimpressão. Porondequerquesecontemple apresençadeWeintraubnoMEC, umaconclusãoseimpõe:faltaedu- caçãonas ações doministro. Incitados pelo presidente, celerados empunham bandeiras antidemocráticas e agridem a imprensa são paulo Na cidade de Nova York, onderesidemenosde3%dapopula- çãodosEUA,ocorreram 28%deto- dasasmortesporCovid-19dopaís. OmunicípiodeSãoPaulo,comme- nos de 6%da população brasileira, concentra26%dosóbitosnacionais. Parece que as doenças contagio- sas predam o progresso humano. Quantomais a espécie se distancia dos núcleos tribais de poucos indi- víduos,maiselasaameaçam.Sefor esse o caso, então a resposta dura- douraaotraumadocononavírusten- de a desincentivar arquiteturas co- lossais da vida urbana, como a no- va-iorquina e a paulistana. Ashordasinvisíveisdosvírusedas superbactériasdeflagariam,comoos bárbaros no passado, um retroces- so feudal, mas agora com tecnolo- gia. Se tenhomedodesair à ruapa- ra trabalhar, aprender, cortar o ca- belo,comernorestaurante, iraote- atro,assistiraoconcerto,passearno parqueouvisitaromuseu,paraque precisodeNovaYorkouSãoPaulo? Recolho-me num lugar afastado, cheiode conexõesdigitais. Acostu- mo-mea ver nas telas pessoas taci- turnas banhadas numa luz amare- lada, com fios brancos saindo das orelhas, ou conchaspretas a envol- vê-las, comentando política, jardi- nagemegrandes jogosdopassado. Tem“live”paratudo,desertanejo a Turandot. O crítico me guia pelo Metropolitan e peloMasp. De seus aposentos,epidemiologistasmedão dicasdesorologia, aerossóiseexer- cícios respiratórios. Aprendo auto- cortemullet comoyoutuber. Mas talvezHongKong, Seul eTó- quio ainda possam redimir Nova York e São Paulo. Aquelas metró- poles asiáticas fortemente povoa- das atravessam o período da peste compouquíssimos danos. Reagem depressaecomeficiênciaaomenor sinal dos visigodos doRNA. Asmãoslimpas,asfacescobertas, a obrigaçãodeprotegerooutro eo distanciamento tornaram-se a se- gundapeledoindivíduo.Emvezde fugiremparaaroça,seushabitantes ergueramarranha-céussimbólicos e derammais umpasso no proces- so civilizatório. brasília Emapoioamaisumatocon- traas instituiçõesquecompõemos PoderesdaRepública,opresidente JairBolsonaroafirmounestedomin- go (3) na rampa do Palácio do Pla- nalto: “Chegamosno limite”. OrecadoespecíficofoiparaoSTF, mas,diantedosepisódiosacumula- dos, édifícil compreenderosignifi- cadode“limite”novocabuláriores- trito (e limitado)deBolsonaro. Em seugovernoessafronteiranãoexiste. Olimitedaéticafoiparaobeleléu quando ele decidiu manter no car- go umministro do Turismo indici- ado e denunciado à Justiça pelo es- quemade laranjas doPSL. E sumiu pelo ralo com sua apro- ximação de políticos do centrão, abrindo obalcão de cargos em tro- cadeproteçãonoCongressocontra umpossível, ecadavezmaisprová- vel,movimentode impeachment. “Se gritar pega centrão, não fica ummeu irmão”, disse AugustoHe- lenonaconvençãodoPSLem2018. AgoraBolsonarogritapelocentrão etodososqueintegramessapatota do fisiologismo político de Brasília queremser seus irmãos. O limite da impessoalidade que- brou-se no primeiro ano de gover- no,quandoBolsonaropermitiuque seu filho Carlos montasse o gabi- nete do ódio no Planalto para per- seguir adversários e ministros, co- moGustavoBebianno eCarlos dos SantosCruz,expurgadospelafamí- lia dopresidente. A coroaçãoda influência familiar veio com a nomeação (derrubada pelo STF) de Alexandre Ramagem, amigo do peito do presidente e do filhoCarlos, para dirigir a PF. Nocasodocoronavírus,Bolsona- roatropelouos limiteshumanitári- osaoviolarrecomendaçõesdasau- toridadesanitárias,promoveraglo- meraçõeseincitarapopulaçãocon- traasmedidasdeisolamentosocial. Nestedomingo,Bolsonaroassistiu decamarote,darampadoPlanalto, seusapoiadoresagrediremeintimi- darem jornalistas empleno exercí- cio livre daprofissão. Nãofeznada,nãorepudioueain- dacriticouaTVGlobo.Bolsonaroé umpresidente sem limites. riode janeiro SuponhaqueJairBol- sonaro, espumando e em camisa de força, seja submetido a um exa- mepsiquiátrico. O resultado pode- rá ser TranstornoDelirante Persis- tente, síndromeque inclui alucina- ções,sensaçãodeperseguiçãoedes- conexãocomarealidade.Opacien- terejeitamedicamentos,nãoadmi- tequeestádoenteedizquenãopre- cisa de ajuda. VocêidentificouBolsonaroemca- daitemdessediagnóstico.OTrans- tornoDelirantesemanifestanasalu- cinações emque ele se vêpratican- do um autogolpe, fechando o Con- gresso e o STF e se entronizando como um ditador sustentado pe- losmilitares. O delírio o faz acredi- tar que a insignificantemanada de apoiadores, reunida diante do Pla- naltoparaofenderseusadversários e os demais Poderes, representa “o povobrasileiro”.Ao juntar-seaeles, Bolsonarooficializaasofensase,ao invocar as Forças Armadas, torna- as cúmplices de suas alucinações. Vejamos a sensaçãodepersegui- ção. Bolsonaro vive empermanen- te estadode terror contra inimigos quesóeleenxergaeque,senãoexis- tirem,precisamsercriados,atémes- moentreosaliados—porqueédisso queelesealimenta.Osagentesdes- saperseguiçãosãotodososque,ao seulado,ousamganharummínimo de luz própria ou deixam de servi- lo nos níveis inatingíveis que exige dos subordinados. Adesconexãocomarealidadetam- béméflagrante.Bolsonaroéoúltimo pitecantropovivoaenxergarcomu- nistasemtodaparte.Nemseuherói DonaldTrumpacreditamaisnisso. Seoprimeiroparágrafodestaco- luna lhe pareceu familiar —como se você já o tivesse lido em algum lugar—, acertou. Trata-se do diag- nósticodosdois laudosmédicosofi- ciais das equipes que examinaram Adélio Bispo, o portador de insani- dademental que esfaqueou Bolso- naroemJuizdeFora,em2018.Adé- liofoi internadonumapenitenciária federalemCampoGrande(MS).Mas Bolsonaro está à solta emBrasília. Os visigodos doRNA Sem limites Louco à solta emBrasília - Vinicius Mota - Leandro Colon - Ruy Castro Já escrevi neste espaço: o im- peachmentnãoéumarevolu- ção, mas a destituição de um presidente por crime de res- ponsabilidade, cujo desenla- ce é a assunção do vice. Toda- viaaschancesparaum“impe- achmentdigital”—noqualpa- nelaçossubstituiriamasmani- festações de rua, e o plenário virtual,oreal—sãopequenas. Oimpeachmentéumadasfor- mas de afastamento do presi- dente:aoutraéatravésdacon- denaçãopor crime comum. Tambémnestecasoassumeo vice.EmamboscaberáaoMPF eaopresidentedaCâmarade- flagraremoprocesso,eaospar- lamentares,suaapreciação.No julgamentodecrimescomuns, aresponsabilidadepolíticaédi- vididacomoSTF,oquediminui oscustosdecoordenaçãoparla- mentar.Haveráapoiocongres- sualparaoafastamentoquando umasupermaioriaparlamentar de2/3preferiraalternativare- presentadapelovice-presiden- teaostatusquo.OSenadonão participado jogo. O presidente e seu vice per- tencemaomesmocampopo- lítico. Para setores da esquer- da interessariadeixá-lo san- grar: mantê-lo vivo politica- mente,masenfraquecido,ser- viria àpolarizaçãoeevitariao custo de renegar a tese da ile- gitimidadedeimpeachments. Mas eles não contarãomuito, ao contrário do centrão, para o qual valeria em tese a lógica doparasita:enfraquecerohos- pedeiro,masnãomatá-lo,e in- flar o custo do apoio. Masaquioequilíbrioéinstá- vel e do tipo tipping point: se houverincentivosfortesdaopi- nião pública e sinalização do STF—e se a popularidade do presidentedespencar—,oefei- tomanadaprevaleceráeocen- trão se juntará aos setores de centro,ealguns,àesquerda.Se parecer inevitável,amudança serárápida,comodemonstra- doporTimurKuran. Afinal, o custo político será baixo, porque a distância ide- ológica entre presidente e vi- ce é pequena. Não há ameaça à agenda conservadora. A as- censão do vice eliminaria as fontes de instabilidade do go- verno—oclãfamiliareseunú- cleo ideológico—quepreocu- pa estratosmédios, empresa- riado e, sim,militares, que jo- garãoparadosenãoperderão emnenhumcenário. Assim, o impedimento po- derá ser visto como derrota individualizada, e não coleti- va, paraos apoiadoresdeBol- sonaro foradonúcleoduro.O custopara eles será tantome- nor quantomais o presidente semostrarincapazdesereele- ger(seuúnicoativopolíticoéo capitaleleitoral).Oqueéprová- vel após a saídadeMoro, a ca- lamidade emcurso e amonu- mental recessãoque se inicia. Quantomaioressaindividu- alizaçãodoprocessonaperso- nadopresidente—ojulgamen- tonoSTFpesa aqui—equan- tomaioravisibilidadedonexo entre o horror sanitário e seu comportamento, maiores as chances do afastamento. Impeachment e efeitomanada - Marcus André Melo Professor da Universidade Federal de Pernambuco e ex-professor visitante da Universidade Yale. Escreve às segundas João Montanaro Ano deWeintraub noMEC privilegia controvérsia ideológica em detrimento damelhoria do ensino a eee opinião SEGUNDA-FEIRA, 4 DE MAIO DE 2020 A3 ERRAMOS erramos@grupofolha.com.br Agressão à imprensa “Manifestantespró-Bolsonaroagri- demeameaçamjornalistasemato noPlanalto”(Poder,3/5).Osmalu- cos estão se achando grande coi- sa,porquesóelessãoobtusose ir- responsáveis o suficiente para se aglomerarem.Nãohouvesseisola- mento, estaríamos a ver batalhas campais pois hámuita genteque- rendo pegá-los pelos colarinhos. Umjá levouumacoçadeumamu- lher commetadedo tamanhode- le emil vezesmais brio. Wagner Santos (Ribeirão Preto, SP) * A mídia dizia que era persegui- da pelos petistas. Fizeram de tu- do para tirá-los do poder. E agora não são apenas perseguidos, são massacrados. Elizabete Oliveira (Jaú, SP) Essa minoria insana de 30% tem quesercontida,acomeçarpeloca- po! Ódio, truculência e fake news têmdedar lugaraoqueéprioritá- rio: o combate às nossas gravíssi- mas crises sanitária e social. Roberto Serpa Dias (Rio Pomba, MG) Ironia IroniadahistóriaéSergioMoroter dedepornaPolíciaFederaldeCu- ritibaadelegadosaquemdavaor- densnocombateaocrimeepoden- dose incriminarporprevaricação aodelatarsomenteagoraumrosá- rio de crimes deBolsonaro. Antônio Beethoven Cunha deMelo (São Paulo, SP) Ídolo “Aimprensaeseuídolo”(colunada ombudsman,Poder,3/5).Nosúlti- mostempos,essaanálisefoiamais honesta que vi divulgada nos jor- nais.Ofatodeserpopularnãodáa SergioMorosalvo-condutoemre- lação a nada. Como escreveu Flá- via Lima, essa é a segunda chance paraaimprensabuscarumpouco de isençãona cobertura. RomeroMelo (Recife, PE) * Parabéns à ombudsman pelo óti- mo artigo. Semdúvida, a impren- sa está cultivandoMoro para ten- tar derrotar o PT em 2022, já que ostucanostradicionaisestãonalo- na.Nessacampanha,éclaroquea parcialidadedojuiz,asuaatuação ilegalemCuritibaeasuaconivên- ciacomasconhecidasilegalidades e imoralidades do clã serão em- purradas para debaixo do tapete. Pranciskus Algimantas Zibas (São Paulo, SP) * Ombudsman?Mais uma viúva do lulopetismo.Naminhaopinião, la- mentável aFolhamanteremseus quadrosativistasquerabiscamar- tigos rasteiros comoesse. Raymond Kappaz (São Paulo, SP) Fernanda Torres Aúltimafrasedoartigo“Todomun- do temumbolsonaristaparacha- mardeseu;eutenhoaminha”(Ilus- trada, 3/5) foi um banho de água fria,umchoquederealidade.Sim, porque quem teve desilusão com o PT e tem repulsa ao bolsonaris- mo, como é omeu caso, vai votar emquem,emqueprojetodepaís? OdestinodoBrasil,aoquetudoin- dica,estámesmonasmãosdessas pessoas que neste domingo esti- veramnapraça dosTrês Poderes. Paloma Fonseca (Brasília, DF) Marcha Oataqueà imprensaé incompatí- velcomoEstadodemocrático.Es- ses covardes valentões são incen- tivados por um presidente acua- do por denúncias, o que eviden- cia a característicabovinade suas cabeças vazias (editorial “Marcha dos covardes, Opinião, 3/5). Tania Maria DeMoura Pereira (Brasília, DF) * Peçodesculpasàimprensaporser responsávelpor termosumpresi- dente que frustrou os sonhos dos brasileiros com suas investidas maléficas, pois foi nele que eu vo- tei! Preocupa-me a inércia do Su- premo Tribunal Federal, do Judi- ciário e do Legislativo; que assis- temaBolsonaro avançar contra a democracia e nada fazem! Quem não reage rasteja. David Johnson (Rio de Janeiro, RJ) Judas “Bolsonaro chamaMoro de Judas e diz que ninguémdará um golpe emcimadele” (Poder,2/5).Émui- to divertido ver as madalenas ar- rependidas se portaremcomo ra- tazanasepularemdobarcodomi- licianoparaentrarnodoex-juize- co.EsquecemqueSergioMorofoi o principal responsável pela elei- çãodochefeemtrocadocargode ministroda Justiça e da indicação paraoSupremoTribunalFederal. Agora vou assistir de camarote à essa briga do miliciano contra o ex-lacaio. Wilson Kfouri (São Paulo, SP) Bloqueios “SP faz bloqueios em avenidas a partir de segunda (4) para forçar isolamento” (Cotidiano, 3/5). Em breve São Paulo terá que entrar em lockdown devido a esse afas- tamento social malfeito, incenti- vadopor umumpresidente igno- rante e irresponsável. Elias Souza (Sumaré, SP) Novas ideias? “ProfessoresepaisacionamJustiça contraensinoremoto”(Cotidiano, 3/5). Vejo solicitações (e justifica- tiva plausível, que remete aos ex- cluídos, que sempre foram exclu- ídos, mesmo em tempos de nor- malidade)para suspender aulas à distância, mas nenhuma alterna- tiva nem novas ideias para lidar comessasituação.Nenhumapro- posta.Oua ideiaénão fazerabso- lutamente nada? Lourenço Faria Costa (Quirinópolis, SP) Apocalipse, apocalipse “Brasil enfrenta duplo apocalipse com Bolsonaro e coronavírus, re- flete Nuno Ramos” (Ilustríssima, 3/5).MaravilhosalucidezdeNuno Ramosaodesmontarestegoverno inomináveleosbolsonaristas.Re- tratoumuito bem a irresponsabi- lidade, a baixa cultura e o parasi- tismodessas pessoas. Lendo o ar- tigovemosqueessapodridãonão tem limites. Mariza Bacci Zago (Atibaia, SP) * Obrigado, Nuno, por nos expli- car o caos. Ricardo Brock (Rio de Janeiro, RJ) Leitos hospitalares Em“AfilaúnicaparaaCovid-19es- tánamesa” (Poder,4/5), ElioGas- pari defende que leitos privados tambématendampacientesdoSUS com Covid-19. Hoje, mais de 40% dos leitos de UTI do Brasil estão emhospitaisparticulares,porisso, em 31/3, protocolei o PL 1.316/20, jáaprovadonaComissãoExterna, queobrigahospitaisprivadosain- formargestoresdoSUSsobrecrité- riosdeocupaçãodosleitos,permi- tindoocontrole e requisiçãopara o SUSdurante a pandemia. Alexandre Padilha, deputado federal —PT-SP (Brasília, DF) mercado (1º mai., pág. a16) A re- portagem“Valeaprovabônusmi- lionário para diretores” errou ao publicar que o BNDES não deta- lhou o seu voto, contrário ao pa- gamento aos executivos. O ban- co enviou nota à Folha dizendo que “se compromete como cum- primento de uma série de princí- pios de governança corporativa em linha com as melhores práti- cas domercado”. PAINELDO LEITOR folha.com/paineldoleitor leitor@grupofolha.com.br Cartas para al. Barão de Limeira, 425, São Paulo, CEP 01202-900. A Folha se reserva o direito de publicar trechos das mensagens. Informe seu nome completo e endereço TENDÊNCIAS/DEBATES folha.com/tendencias debates@grupofolha.com.br Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece aopropósito de estimular o debate dos problemas brasileiros emundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo Sevocênãoacreditaquenossasins- tituiçõesestãosendoconstantemen- te testadas nos seus limites de rup- tura, por favor não leia este artigo. Da mesma forma, não o leia se vo- cê acha quenão temnenhuma res- ponsabilidade política. Paraquemdecidiuseguiradiante,a questãoquetrazemosé:comochega- mosatéaquiecomosairemosdessa paranoiadofimdomundo,doradi- calismodeliranteedamarchadain- sensatez!Nãoéprecisorefletirmui- toprofundamenteparaconcluirmos que essa conjuntura torna bastante improvávelqualqueresforçodoBra- sil em avançar com uma agenda de país. Éesseonossograndedesafio. Claroqueexistemdiversosfatores paratododesastre,masoquepuxa a fila nasceu emmeados de 2013 e demosumnomebematual: “teoria da cloroquina”, que consiste na se- guinte lógica:omaiorproblemado Brasil seria a corrupção. Portanto, o remédio para esse grandemal vi- riacomofimdapolíticaedospolíti- cos,restandosomenteos“cidadãos debem”,sejaláoqueissoquerdizer. Equaloapeloda“teoriadacloro- quina”?Vivemosemumpaísdees- truturas imperfeitas, sejam econô- micas, sejam sociais, e que muitas vezes, até involuntariamente, be- neficiamumapartedasociedade.A “limpeza”deumproblemapela eli- minaçãodeumacategoriapodeaté serumasoluçãoconfortável,masé escandalosamente pueril. O Política Viva, em algum mo- mentodesuacaminhadaecomou- traconfiguração,àépoca, foiconvi- dadoaabraçar a causadocombate à corrupção, que visualizava como umaformadedaresperançaauma sociedadecansadaedesiludida.Mas apautadeextirparapolíticanunca foinossa.Entendemosquesoluções simplistasparaproblemascomple- xos estão fadadas ao fracasso. OmaiorproblemadoBrasilnãoé acorrupção,eaformadecombatê- lapassaaolargodapropostadosra- dicais. Se olharmos países com ní- veis de transparência similares ao nosso, eles possuemumprojetode longoprazoquenãoéasfixiadope- lo debate da corrupção. Por ser in- compatível com a natureza huma- na, entende-se quenãohá socieda- de sem vícios. A história nos ensi- na, com insofismável clareza, o pe- rigodoslíderesqueemergemdessa “cruzada”.OBrasilconfirmaaregra. Obviamente,apolíticatemproble- mas nomundo e precisa se aproxi- mar mais das necessidades dos ci- dadãos. Contudo, é importante re- conhecer a sua função demediar a sociedadeeestabelecercompromis- sos. Sem a política, não haveria as pólis, cidades, países; seriamos ter- ra arrasada. Ela não é somente ne- cessária,mas fundamental. Se você chegouaté aqui, fazemos uma convocação positiva: precisa- mos de ummaior número de pes- soas trabalhandoempontes coma política, deixando de lado a teoria ilusionista da cloroquina. Não po- demos confundir a legítima neces- sidade de fazer concessões, de ne- gociar prioridades e cargos, com a indesejável compra de apoio abso- luto. Temos quedialogar, entender motivações, agregar e, sobretudo, nos informar para muito além da superfície dosmemes. EssaéagênesisdoPolíticaViva,que intensificaremoscomatransforma- çãoeminstitutosemfinslucrativos, peladefesadaboapolíticaedasinsti- tuiçõesdemocráticas.Atuamospor meiodeumaredeúnicanoBrasil,or- ganizada digital e presencialmente, comquase10milformadoresdeopi- nião,engajadospormeiodosnossos diversos canais, que funcionam co- momultiplicadoresdodebate. Éaevoluçãodeumprojetoqueveio paraliderarumagendamaisampla: amaturidadepolíticada sociedade. Desdequandocomeçamosaacom- panharapandemiadeCovid-19,com o apoio do Instituto Estáter, inicia- mosumainvestigaçãodasinforma- çõesdisponíveisnospaíses infecta- dospara levaraodebatedeumgru- pomultidisciplinar comquemnos reunimosduas vezes por semana. Tentamos entender os números atrás da tragédia que assolou vári- ospaísesecriouumestadodecho- queglobal.Buscamosanalisá-losde forma pragmática, sem o impacto de nos percebermos vulneráveis e dapreocupaçãocomnossosfilhos, pais e amigos em risco. Os dados ainda nos intrigam comperguntas buscandorespostas.Concentremo- nos aqui num ponto específico: o quetemimpactadoamortalidade? OiníciodapandemianaItáliaeEs- panhacriouumtraumanacomuni- dade médica, que viu o sistema de saúdedespreparadoparaenfrentar ademanda.Ospacienteseramsele- cionadospelojuízodecadamédico, de quem sobreviveria e quem não. A consequência foi umesforço glo- bal para conter ademanda (expan- são do vírus) e melhorar a oferta (aumentodeleitos).Aparentemen- te,nosEUAenaEuropa,aprimeira fase deu resultado. No caso da Itália, não identifica- mos faltadeUTIsdesdemeadosde março: nodia 27, no ápice da curva pandêmica,havia15%deociosidade nas 1.500UTIs da Lombardia (Pro- tezione civile eMinisterio della Sa- lute), regiãodemaiormortalidade. NoReinoUnido,segundooNHS-UK (National Heath Service), a capaci- dadeociosaestavaem28%nasema- nade20abril.NosEUA,tambémas- soladospela infecção,tampoucohá indicaçãode falta de leitos. Mas o intrigante é que, mesmo comamaioroferta, osnúmerosde mortalidade não arrefeceram em nenhumdospaísesmencionados. Por quê? VoltandoàLombardia,entre27de março e 6de abril (dez dias) houve 3.500óbitosporCovid-19.Nodia27 demarçohavia24milcasospositivos —12,4milhospitalizados,dosquais 1.300 emUTI. Assumindo que uma parcela desses internados morre e mesmoconsiderandoumarotativi- dadenosleitos,éfácildeduzirquea maioria dos óbitos não passou pe- las UTIs. Isso se repete nas demais províncias italianas com maior ou menor intensidade. Os EUA, em 22 de abril, confor- meosDH(DepartmentsofHealth), haviamacumulado 889mil casos e 92,4mil hospitalizações, dos quais 20,5milpacientepassaramouesta- vamemrespiradores ouUTIs. Óbi- tos,atéentão,somavam44,1mil.Se mortesdepacientesnasUTIsrepre- sentassem20%(CDC-CentersofDi- sease Controll and Prevention; da- dos de 16 demarço), também con- cluímos que a maioria dos pacien- tes nãomorreunasUTIs. EmSãoPaulo,osnúmerossãomui- torecentes,eosdadosaindatransi- tórios,mastambémdemonstrama mesma tendência. A queda silenciosa de oxigenação identificadapelosespecialistassurge comoaprincipalsuspeita,masnospa- recequefaltaumaconclusãoestrutu- radaeestratégiaaserimplementada. Entendemosquerespostassobreonú- merodeóbitosforadasUTIs,epossi- velmentedoshospitais, tenhamque serconcomitantesàdiscussãosobre leitos.Nãoapenaspelarelevânciado númeroaparentedecasos,mastam- bémporque poderão influenciar na conta necessária para leitos dedica- dosàCovid-19.Asperguntasquepa- recempertinentes:1 -Porqueagran- demaioriadosóbitosnãoestápassan- doporUTIs (ouhospitais)?; 2 - Qual procedimento é recomendável para diminuiressamortalidadepré-hospi- talar?;e3 -Comoaeventualmudan- çaafetaoprotocolodeinternaçãoou deacompanhamentoambulatorial? Éumadiscussãonecessáriaeain- da tempestiva, uma vez que o pico da curva no Brasil está por vir. Se epidemiologistas concluírem por mudançasdeprotocolo,aindadará tempoparaimplementá-lasesalvar muitas vidas. Covid-19 e amortalidade fora dos hospitais Umaautópsia para a cura - Pércio de Souza e Ben-Hur Ferraz Neto Engenheiro (Instituto Estáter) Cirurgião de transplante de fígado do Hospital Alemão Oswaldo Cruz (SP) - Rosangela Lyra e Paulo Dalla NoraMacedo Presidente do Política Viva Vice-presidente do Política Viva Por que a grandemaioria dos óbitos não está passando por UTIs? Como chegamos até aqui e como sairemos desse radicalismo delirante? [ Entendemos que respostas sobre o número de óbitos fora das UTIs, e possivelmente dos hospitais, tenham que ser concomitantes à discussão sobre leitos. Não apenas pela relevância do número aparente de casos, mas também porque poderão influenciar na conta necessária para leitos dedicados à Covid-19 [ Omaior problema do Brasil não é a corrupção, e a forma de combatê- la passa ao largo da proposta dos radicais. (...) Não podemos confundir a legítima necessidade de fazer concessões, de negociar prioridades e cargos, com a indesejável compra de apoio absoluto. Temos que dialogar, entendermotivações, agregar e, sobretudo, nos informar paramuito além da superfície dosmemes Apoiadores de Bolsonaro durante ato neste domingo emBrasília Ueslei Marcelino/Reutersa eee poder coronavírus A4 SEGUNDA-FEIRA, 4 DE MAIO DE 2020 Jornal filiado ao IVC Circulação paga às segundas de mar.2020, impresso mais digitais (IVC) 322.310 exemplares Páginas vistas no site da Folha em abr.2020 (Google Analytics) 428.386.671 Visitantes únicos no site da Folha em abr.2020 (Google Analytics) 73.786.377 Nelson Teich, desde que tomou posse, nunca cita a palavra SUS. É um despreparado para o cargo Do deputado federal Chico D’Angelo (PDT-RJ), sobre a atuação do novoministro da Saúde na pandemia TIROTEIO comMariana Carneiro e Guilherme Seto A nova participação de Bolsonaro em ato antidemo- crático, que culminou em agressão a jornalistas, foi vista por políticos do centrão como “um domingo como outro qualquer”. Eles também minimizaram a ameaça a enfermeiros no dia anterior e as declara- ções intimidatórias do presidente contra o STF, dan- do a entender que não aceitará eventuais decisões desfavoráveis. O grupo é o novo aliado de Bolsonaro e está prestes a receber um lote de cargos públicos. Nada demais amigos Ospoucosparlamen- tares que se posicionaram a respeito do ocorrido no fim desemanadefenderamaspes- soas agredidas, mas não cri- ticaramBolsonaro, quemais uma vez incentivou aglome- rações durante a pandemia. crise Neste domingo, o Mi- nistério da Saúde confirmou que o Brasil tem 7.025 mor- tos pelo coronavírus e mais de 100 mil infectados. Nada disso, porém, faz virar a cha- ve no Congresso, avaliam in- tegrantes da oposição. plateia Na avaliação de po- líticos e membros do Judici- ário, a ação de Bolsonaro foi paraseguidores.Elequispas- sar amensagemde que é ele quemmanda,umdiaantesde anunciar seu novo nomepa- radiretor-geral daPolícia Fe- deral. No órgão, a expectati- va éadequeoescolhidoseja RolandoSouza,braço-direito deAlexandreRamagem,sus- pensopelo STF. sem essa Dentro do Supre- mo, ministros dizem, no en- tanto, que não haveriamoti- voparaimpedirRolandoSou- za de assumir o cargo. A de- cisão doMoraes foi específi- ca sobre Ramagem, por cau- sa do inquérito aberto sobre as acusações de SergioMoro contra Bolsonaro. simbolismo O episódio en- volvendo Moraes no sábado foi emblemáticodomomen- toatualdoBrasil.Cercade20 bolsonaristas foram para a frentedoprédiodoministro, emSãoPaulo, eochamaram decomunista,petista,bandi- do e corrupto. Segundopoli- ciais, houve ameaças aoma- gistrado e sua família. Duas pessoas forampresas. reiposto Osdoismanifestan- tesforamlibertadosapóspa- gamento de fiança. Os depó- sitos foram feitos com ajuda dodeputadoestadualDouglas Garcia (PSL-SP). O advogado chamado para o caso foi Da- nilo Garcia de Andrade, que fazpartedomovimentomo- narquista. Ele defendeu por uma semana a modelo Naji- la Trindade contraNeymar. alarme DadosdaPrefeitura deManauscoletadosentreos dias 15 e 22de abrilmostram que ao menos 487 sepulta- mentosforamporóbitospor causadesconhecidaoudoen- çarespiratória,masnãocoro- navírus.Onúmerorepresen- ta 59,2%do total de enterros (830) emapenasnaquele pe- ríodo.Emtodoomêsdeabril de2019, foramregistrados871 sepultamentos. oficial Atéoúltimodia22,o estado do Amazonas conta- va 207mortes por coronaví- rus,segundodadosdoMinis- tério da Saúde. Procurada, a prefeituradisseque,porcau- sa da crise, não poderia rea- lizar o levantamento sobre o número de mortes em mes- mo período do ano passado por doença respiratória ou causa desconhecida. oculto Naavaliaçãodeespe- cialistas, a análise desses oi- to dias, comdados aos quais o Painel teve acesso, é mais um forte indício de subnoti- ficaçãodapandemianopaís. cuidado Depois do colapso de Manaus, Santa Catarina é considerado o próximo lo- cal críticoporcausadocoro- navírus,segundotécnicosdo MinistériodaSaúde.Emuma semana, o número de casos confirmados quase dobrou. Até24deabril, 1.200estavam com Covid-19 oficialmente e agorajásão2.346.Aavaliação équeonúmerodemortesvai começar a aumentar. corrente Depoisdebolsona- ristasresgataremumarepor- tagemsobreumaintercepta- ção telefônica de Alexandre deMoraes na semana passa- da, neste sábado apoiadores dopresidentebombaramnas redesumamatériaantigaso- bre o governador JoãoDoria (PSDB-SP). rede O texto, publicado na Folha em outubro de 2019, é sobreareaçãodotucanocon- tramanifestantespró-Bolso- naro em um evento em Tau- baté,emqueeledisse“vaipa- racasa,vagabundo”.Olinkfi- couentreosmaislidosdopor- tal durante ofimde semana. Camila Mattoso painel@grupofolha.com.brPAINEL MG, PR, RJ, SP R$ 5 (seg. a sáb.) R$ 7 (domingo) Redação São Paulo Al. Barão de Limeira, 425 | Campos Elíseos | 01202-900 | (11) 3224-3222 Atendimento ao assinante (11) 3224-3090 | 0800-775-8080 Ombudsman ombudsman@grupofolha.com.br | 0800-015-9000 Assine a Folha assine.folha.com.br | 0800-015-8000 Venda avulsa ES, GO, MT, MS, RS R$ 6 R$ 8,50 DF, SC R$ 5,50 R$ 8 AL, BA, PE, SE, TO R$ 9,25 R$ 11 Outros estados R$ 10 R$ 11,50 Assinatura semestral à vista com entrega domiciliar diária Carga tributária 3,65% MG, PR, RJ, SP R$ 685 ES, GO, MT, MS, RS R$ 1.089 DF, SC R$ 858 AL, BA, PE, SE, TO R$ 1.177 Outros estados R$ 1.460 GRUPO FOLHA -Talita Fernandes e Fábio Pupo brasília OpresidenteJairBol- sonaromaisumavezprestigi- ou pessoalmente umamani- festaçãoemBrasíliacomata- quesaoSTF(SupremoTribu- nal Federal) e ao Congresso, disse estar junto com as For- çasArmadas“aoladodopovo” edeurecadosintimidatórios. “PeçoaDeusquenãotenha- mosproblemasessasemana. Chegamosnolimite,nãotem maisconversa.Daquiprafren- te,nãosóexigiremos,faremos cumpriraConstituição,elase- rá cumprida a qualquer pre- ço, eela temduplamão”, afir- mou Bolsonaro, em declara- çãotransmitidaaovivoneste domingo (3) em rede social. Umdiaapósterseencontra- docomoschefesdeExército, MarinhaeAeronáutica,opre- sidenteafirmouque“temoso povoaonossolado,nóstemos asForçasArmadasaoladodo povo,pelalei,pelaordem,pela democraciaepela liberdade”. Além de incluir pautas au- toritárias, de desrespeitar re- comendações sanitárias em meioaocoronavírusedevoltar a atacar asmedidas de gover- nadoresnapandemia,amani- festaçãoapoiadaporBolsona- rofoimarcadadestaveztam- bémporataquesaoex-minis- troSergioMoro,quepediude- missãodogovernocomacusa- çõesaopresidente,eporagres- sõeseameaçasa jornalistas. A conduta do presidente foirepudiadaporintegrantes dosPoderesLegislativoepor chefesdeExecutivoestaduais, comoJoãoDoria(PSDB-SP)e WilsonWitzel(PSC-RJ).Opre- sidente do STF, Dias Toffoli, nãosepronunciou,eentreos ministros da corte as princi- pais manifestações públicas foramparacriticaragressões debolsonaristasà imprensa. OministroLuísRobertoBar- roso disse à Globonews que “não se deve lançar as Forças Armadasnovarejodapolítica”. Opanodefundodanovain- vestida de Bolsonaro é sua ir- ritação com as derrotas que vem sofrendo no Supremo. Com isso, ele busca respaldo entreosmilitaresparareagir ao Judiciário.E temrecebido sinaisdeapoionosbastidores, sobretudoemrelaçãoàsdeci- sões do tribunal que interfe- rememmedidasdogoverno. Opresidenteatacounosúl- timosdiasadecisãodominis- trodoSTFAlexandredeMo- raesdebarraranomeaçãode Alexandre Ramagem, amigo desuafamília,paracomandar a Polícia Federal, após a acu- saçãodeMorodetentativade interferência política na cor- poração.Nestedomingo,dis- se que deve indicar umnovo nomenestasegunda-feira(4). Bolsonaro deixou o Palácio da Alvorada neste domingo e foi até a rampa do Planalto para acenar aosmanifestan- tes, aglomerados, que grita- vam “Fora, Maia”, entre ou- trascoisas.Umabandeirado Brasil foiestendidanarampa. O presidente disse querer “umgovernoseminterferên- cia,quepossaatrapalharpara o futurodoBrasil”. “Acaboua paciência”, disse. “Éumama- nifestação espontânea, pela democracia”, afirmou. Elerepetiudiscursodeque estãodestruindoosempregos no país. “É inadmissível.” Se- gundo ele, o efeito colateral das medidas de isolamento pode ser mais “danoso” que opróprio coronavírus. Umgrupodemanifestantes sereuniuemfrenteaoMuseu Nacional, emBrasília.Emse- guida,foiorganizadaumacar- reata em direção ao Palácio doPlanalto.O atopromoveu aglomeraçõesnummomento queoBrasiltemmaisde7.000 mortes pelaCovid-19. Embaladosporpalavrasdeordemecartazescomcríticas aMoro,chamadode“canalha” e“molequedeCuritiba”,apoi- adores afirmavam que estão “fechados comBolsonaro”. AochegaremfrenteaoCon- gresso,ogrupodeixouoscar- ros e desceu em direção ao PaláciodoPlanaltodianteda promessafeitaporumdosor- ganizadoresdequeBolsonaro apareceria para vê-los. Entreasmensagensdoscar- tazeshavia“Armasparacida- dãosdebem”,“ForaMaia”,“Fo- raAlcolumbre”.Emfrenteao STF, alguns gritaram “vamos invadir”. “Olé, olé, STF é pu- xadinhodoPT”, afirmavam. Bolsonarodiz estar com ForçasArmadas e ‘povo’ e miraSTFao citar ‘limite’ Presidente participoumais uma vez de ato com ataques ao tribunal e ao Congresso; pano de fundo são as derrotas seguidas na corte EmmeioàscríticasaMoro, feitas em um microfone de um caminhão de som, uma apoiadoragritouqueoex-ju- iz é aliado ao centrão. O gru- po de partidos, formadopor legendas comoMDB, PP, PL, Solidariedade,DEMeRepubli- canos, temfeitotratativasde apoio a Bolsonaro e deve ga- nharnovoscargosnogoverno. Nosábado(2),Bolsonarore- cebeu os chefes das três For- çasArmadaseosgeneraisque integramsuaequipeministe- rial,emencontroquenãoes- tavaprevistonaagendaoficial. A eles se queixou de estar comdificuldadesparagover- nar devido aoque ele chama de “constante interferência do Judiciário”. Ele ameaçou fazer uma ruptura instituci- onal, no sentindo de eventu- almentedescumprirdetermi- nações futuras da corte. Deacordocommilitaresou- vidos pela Folha, as declara- ções de Bolsonaro emmani- festaçãodestedomingotrans- mitemessamensagem.Aala fardada,emboracostumeatu- arcomo“apagadoradeincên- dios” de atitudesmais extre- madas dopresidente, deu si- nais de incômodo com deci- sões do Supremo. Não há uma unanimidade, e o comandante doExército, EdsonPujol,temsemostrado refratário às atitudes dopre- sidente.Mas outros generais daaltacúpulaaindamantêm ummaioralinhamentoaoPla- naltoetêmmaiorproximida- decomoantecessordePujol, general Eduardo Villas Bôas, conselheiro deBolsonaro. Além da decisão que bar- rouRamagem, incomodouo presidente a redução de pra- zodadaporCelsodeMello,de 60para5dias,paraqueMoro fosseouvidosobreacusações contra Bolsonaro. O depoi- mentoocorreunosábado(2). Entre militares, há um te- mor de que a corte imponha queopresidentemostreore- sultadodeseuexameparaco- ronavírus. Bolsonaro afirma não ter contraído a doença, masserecusaamostrá-lo.Ali- ados defendem que, mesmo com uma determinação da corte, elemantenhao sigilo. Continua na pág. A6 “ Chegamos no limite, não temmais conversa, daqui pra frente, não só exigiremos, faremos cumprir a Constituição, ela será cumprida a qualquer preço, e ela temdupla mão Jair Bolsonaro Bolsonaro e sua filha Laura durante protesto neste domingo (3), emBrasília Evaristo Sa/AFP a eee SEGUNDA-FEIRA, 4 DE MAIO DE 2020 A5 a eee poder A6 SEGUNDA-FEIRA, 4 DE MAIO DE 2020 ANÁLISE -Igor Gielow sãopaulo JairBolsonarofez seunovoataqueaoLegislati- voeaoJudiciárioexaltando opapeldasForçasArmadas, quesegundoeleestão“aola- dodopovo”. Não seria novidade, exce- toporumdetalhe:navéspe- ra, o presidente havia se re- unido com os três coman- dantes de Forças e minis- trosmilitares,comoogene- ralFernandoAzevedo(Defe- sa)eochefedaSecretariade Governo, general Luiz Edu- ardoRamos. Nocardápioposto,segun- doa assessoriadeAzevedo, “umaavaliaçãodoemprego dasForçasArmadasnaOpe- ração deCombate aoCoro- navírus, além de avaliação de determinados aspectos da conjuntura atual”. O demônio mora nos de- talhes,nocasoostaisdeter- minadosaspectos.Segundo a Folha ouviu de interlocu- tores de pessoas presentes aoencontro,oSupremoTri- bunal Federal foi duramen- te criticado. Omotivo,adecisãoprovi- sóriadeAlexandredeMora- esque inviabilizoua indica- çãodeumamigoda investi- gadafamíliaBolsonaro,Ale- xandreRamagem,paraadi- reçãodaPolícia Federal. Issosignificaqueosgene- rais deram amparo à nova intentona retórica do pre- sidente? Aqui há divergên- ciasnosrelatosdisponíveis. Aversãomajoritáriaapon- touacrítica fardada,quede restojátinhasidofeitaaoJu- diciário e ao Congresso co- moforçasacercearopoder doExecutivo,masnegaque o presidente tenha sido en- corajadoanovamentedesa- fiar os Poderes. Uma leitura alternativa dizqueopresidente se sen- tiuautorizadoaultrapassar o sinal novamente. No ato de 19 de abril, Dia do Exército, o simbolismo era óbvio,mas velado. Nestedomingo(3),Bolso- naroencheuabocaparaco- locar asForçasArmadasno mesmoblocoquepediaaca- beçadopresidentedaCâma- ra, RodrigoMaia (DEM-RJ), ataques ao Supremo e, de quebra, espancava jornalis- tasnoDiaMundialdaLiber- dadede Imprensa. A terceira leituraéaespe- culação acerca do entusias- modosmilitarescomaven- turas totalitárias. Issohojeéimprovável.Não seimaginaaatualcúpulami- litar brasileira apoiando fe- chamentodePoderes. Além disso, não há apoio maciço ao governo na eli- te econômica, na imprensa emesmo entre todos os ra- mosdasForças:ForçaAérea e Marinha não têm o mes- mocomprometimentocom afigura de Bolsonaro que o Exército,fiadordeumcapi- tão reformado e renegado. Aindaassim,acontempo- rizaçãofeitaporalgunsofici- ais, de que Bolsonaro se ex- cedesemconsequências,fi- camais difícil de ser aceita. Para complicar o enredo, foi discutida na reunião de sábado a troca do coman- dante do Exército, general EdsonLealPujol,porRamos. Ogeneral,queseguenaati- vaenquantoexerceafunção no Palácio do Planalto, era talvez o mais bolsonarista dos integrantes do Alto Co- mandodoExército. Suaeventual idaparaoco- mandocriariaa ideiadeum Exército liderado por uma aliado ideológico do presi- dente. Ramosnegaqueoassunto esteja na mesa. “Não sei de ondeissosaiu.Temunsseis generais mais longevos do queeunafila”,disseàFolha. Asubstituição,defato,po- de ser assunto para 2021, quando Ramos ainda esta- rá na ativa —e caso Bolso- naro siga nopoder. A retórica inflamada do presidente também tem a ver comomomento de seu governo, acumulandomais de 7.000 mortos pelo novo coronavírusesentindoabri- sa do impeachment. Há incertezas demais pa- ragarantirqueopresidente nãoseráalvodeumproces- so de impedimento, apesar de seuumterçode apoio. Onomedaequaçãosecha- ma Sergio Moro. O depo- imento do ex-ministro da Justiça a ouvintes bastante familiarizados com os mé- todos do ex-juiz da Lava Ja- toapavoraosbolsonaristas. Isso,somadoaossortilégi- os que apurações sobremi- lícias e fake news insinuam sobreoclãpresidencial, ali- mentamodiscurso oficial. Ouso feitoporBolsonaro dosmilitares explicita o re- aldramaparaaosfardados: a intrínsecaconexãocosdm apolítica,algoqueconsegui- ramevitar nopós-1985. O preçode imagemainda é insondável, mas apenas o fato de serem questiona- dos acerca de seus desígni- os evidencia o tamanho do gênio que permitiram sa- ir da garrafa ao se alinhar a Bolsonaro. Agora, terão de se explicar. Novoato força cúpulamilitar a explicar sua posiçãona crise Bolsonaro havia se reunido com chefia fardada na véspera da manifestação de tom golpista Neste sábado, Bolsonaro fi- cou especialmente irritado com uma decisão do minis- tro Luís Roberto Barroso, do STF. O magistrado barrou a ordemdogovernobrasileiro paraexpulsardiplomatasve- nezuelanos aliados aNicolás MadurodoBrasil. Nodespacho,oministroale- gouocenáriodepandemiado Bolsonaro diz estar com Forças Armadas e ‘povo’ e mira STF ao citar ‘limite’ Continuação da pág. A4 novo coronavírus para justi- ficar sua decisão, a partir de orientação da PGR (Procu- radoria-Geral daRepública). Nestasemana,o Itamaraty enviou documento à embai- xadaeaosconsuladosvenezu- elanosnopaíse listou34 fun- cionários que deveriam sair dopaís—juntocomseusde- pendentes—atéestesábado. Poucomaisdeumahorade- poisdeadecisãodoministro serdivulgada,Bolsonarocha- mouaoAlvoradaosministros Fernando Azevedo (Defesa), LuizEduardoRamos(Secreta- riadeGoverno),AugustoHe- leno,(GabinetedeSegurança Institucional) eWalterBraga Netto (CasaCivil). Além deles, estiverampre- sentesoscomandantesdaMa- rinha,ExércitoeAeronáutica. Grupospró-governoagridemjornalistas emmanifestação, e presidente se cala brasília Manifestantes pró- governo Jair Bolsonaroagre- diram, ameaçaram e expul- saram jornalistas que cobri- am na rampa do Palácio do Planaltooatorealizadoneste domingo(3),comapresença dopresidente daRepública. Enquanto Bolsonaro ace- navapara os apoiadores, um grupopassou aofender o re- pórter fotográficoDidaSam- paio,deOEstadodeS.Paulo, que registrava omomento. Osmanifestantescercaram o fotógrafo, que foi derruba- do duas vezes e chutado pe- lascostas,alémdetomarum soconoestômago.Alémdele, omotoristadojornalMarcos Pereiratambémfoiagredido. Outrosprofissionaisdeim- prensa foram empurrados e ofendidosverbalmente,inclu- indo os da Folha. Um repór- terdo sitePoder360 foi agre- dido. Aomesmo tempo, Bol- sonaro foi alertado, segundo imagenstransmitidaspelalive emsuasredessociais,dacon- fusãoenvolvendojornalistas. Eleprestigioupessoalmente amanifestação, que teve crí- ticasaoSTF(SupremoTribu- nal Federal) e aoCongresso. “Expulsaramosrepórteres da Globo, expulsaram os re- pórteres”, disse uma pessoa aopresidente.Bolsonaroen- tão respondeu: “Pessoal da Globo vem aqui falar bestei- ra.EssaTVfoi longedemais”, disse, semrepudiar as agres- Carreata pró-Bolsonaro emBrasília, neste domingo (3) Wagner Pires/Futura Press/Folhapress A Folha questionou a cú- pula das três Forças Arma- das sobre os motivos do en- contro,arespostafoiunifica- da e transmitida pelo Minis- tériodaDefesa.Emnota,dis- sequeoencontroserviupara “fazer uma avaliação do em- pregodasForçasArmadasna OperaçãodeCombateaoCo- ronavírus, alémde avaliação de aspectos da conjuntura”. Questionados, nem o Pla- naltonemosmilitaresderam detalhes sobre quais seriam as ações sobre a pandemia. Bolsonaro,enquantoisso,tem mantido discurso contrário ao isolamento social e segue promovendoaglomerações. Nosábado,elevisitouduas cidadesdeGoiás,Cristalinae Alexânia, onde cumprimen- touapoiadoresegeroutumul- to. Neste domingo, ele foi ao Palácio do Planalto cumpri- mentarmanifestantesquese aglomeraramemfrenteàPra- ça dos Três Poderes para de- monstrarapoioàsuagestão. Sobreoatocomataquesao Congresso e ao Supremo, si- tuações do tipo podem vir a ser enquadradas nas defini- ções legais de crime de res- ponsabilidade. No caso do presidente, tentar ou come- terumcrimedessaclassepo- delevaràperdadocargo,que ocorre por meio de um pro- cessode impeachment. A previsão legal para isso consta da Constituição e de umaleide1950.Pelalegislação, cabeaoCongressoautorizara aberturadoprocessodeimpe- achment, eo julgamentoque decidesehouvecrimederes- ponsabilidadeacontecenoSe- nado.Hojehá cercade 30pe- didosdeimpeachmentdeBol- sonaroemanálisepelopresi- dentedaCâmaradosDeputa- dos,RodrigoMaia (DEM-RJ). semmedoou favor”. Emnota,adiretoriaeosjor- nalistasdeOEstadodeS.Pau- lo afirmaramque “repudiam veementementeosatosdevi- olência cometidos hoje (03) contra sua equipe de jorna- listasduranteumamanifesta- çãodiante doPalácio doPla- nalto em apoio ao presiden- te Jair Bolsonaro”. “Trata-se de uma agressão covardecontraojornal,a im- prensaeademocracia.Avio- lência,mesmovindadacopa edosporõesdopoder,nunca nos intimidou. Apenas nos incentiva a prosseguir com as denúncias dos atos de um governo que, eleito em pro- cesso democrático , menos de um ano emeio depois dá todosossinaisdequesedes- via para o arbítrio e a violên- cia”, diz o comunicado. A ANJ (Associação Nacio- nal de Jornais) também di- vulgou nota em que “conde- na veementemente as agres- sões sofridas por jornalistas e pelomotorista do jornal O Estado de S. Paulo quando cobriam os atos realizados neste domingo em Brasília” e que espera que “as autori- dades responsáveis identifi- quemosagressores,queeles sejam levados à Justiça e pu- nidos na formada lei”. Alexandre de Moraes, Lu- ís Roberto Barroso, Luiz Fux eGilmarMendes, do STF, e o presidentedaCâmara,Rodri- go Maia (DEM-RJ), repudia- ramas agressões. Talita Fernandes e Fábio Pupo Sou contra qualquer tipo de covardia, afirmaMourão brasília Ovice-presidenteda República, Hamilton Mou- rão, classificoude “covardia” as agressões sofridaspor jor- nalistas na cobertura dama- nifestaçãopró-governoneste domingo(3),emBrasília,que teve a presença do presiden- te Jair Bolsonaro. QuestionadopelaFolhaso- bre o episódio de ataque à imprensa, Mourão respon- deu à reportagem: “Sou con- traqualquertipodecovardia e agredir quem está fazendo seutrabalhonãofazparteda minha cultura”. Leandro Colon sões aos profissionais. APolíciaMilitar,queacom- panhou o ato inteiro, não apartou a confusão ao ser acionadapelaFolha.Somen- teemumsegundomomento, quandorepórteres foramex- pulsos,aPMcercouaimpren- sa para fazer o isolamento. Profissionais foram retira- dos sob a escolta da polícia. O episódio deste domingo sesomaaoutrosrecentes,de ataques vindos de apoiado- resdopresidente .Nosábado (2),umcinegrafistadaTVRe- cordfoiagredidopormilitan- tesbolsonaristasnaportada Polícia Federal, emCuritiba, onde Sergio Moro tinha de- poimento marcado sobre as acusaçõescontraBolsonaro. Na sexta (1º), um grupo de 60enfermeirosqueprotesta- vanaPraçadosTrêsPoderes, emdefesadoisolamentosoci- al e emhomenagemaospro- fissionaisdesaúdequemorre- ramnocombateàpandemia, foramofendidosverbalmente pormilitantesbolsonaristas. Os ataques aos jornalistas emfrenteàrampadoPlanal- to aconteceramnoDiaMun- dialdaLiberdadedeImpren- sa.Nesteano,otemadefinido pela ONU (Organização das NaçõesUnidas)é“jornalismo Fotógrafo Dida Sampaio é agredido durantemanifestação em frente ao Planalto Ueslei Marcelino/Reuters Apoiador de Bolsonaro discute com grupo de enfermeiros na Praça dos Três Poderes, na sexta (1º) YouTube/Reprodução Manifestante empurra cinegrafista em frente à PF, emCuritiba, no sábado (2) Eduardo Matysiak/Futura Press/Folhapress a eee Moro durante pronunciamento no dia de sua demissão Evaristo Sá/AFP coronavírus poder SEGUNDA-FEIRA, 4 DE MAIO DE 2020 A7 O presidente enfrenta investigações no STF (Supremo Tribunal Federal), vê uma série de pedidos de impeachment contra ele na Câmara e acumula possíveis crimes de responsabilidade desde o início de seu mandato, incluindo a participação no protesto deste domingo (3) contra o Congresso e o STF DEMISSÃODEMORO E INVESTIGAÇÃO O depoimento prestado pelo ex-ministro à PF neste sábado (2) é considerado um dos principais elementos do inquérito que pode levar à apresentação de denúncia contra ele mesmo ou contra Bolsonaro. A oitiva foi o primeiro passo da apuração iniciada após Moro pedir demissão do Ministério da Justiça e Segurança Pública, no último dia 24, com graves acusações ao chefe do Executivo. O objetivo é descobrir se as acusações são verdadeiras ou se o ex-juiz pode ter mentido sobre Bolsonaro—e cometido crimes, portanto. Na visão do procurador- geral da República, Augusto Aras, que pediu a abertura da investigação, oito delitos podem ter sido cometidos: falsidade ideológica, coação no curso do processo, advocacia administrativa, obstrução de Justiça, corrupção passiva privilegiada, prevaricação, denunciação caluniosa e crime contra a honra. Segundo interlocutores do PGR,Moro pode ser enquadradonos três últimos e Bolsonaro, nos seis primeiros. Nada impede, no entanto, que a investigação encontre outros crimes além desses e os denuncie por isso. De acordo com especialistas ouvidos pela Folha, os atos do presidente na demissão doministro poderiam ser enquadrados em dois artigos da Lei do Impeachment (7º e 9º). A Constituição prevê que o Legislativo temque autorizar a abertura do processo contra o chefe do Executivo, com voto favorável de dois terços da Câmara dos Deputados. O STF, então, decide se recebe a denúncia e abre processo ATOS PRÓ-GOLPE Oministro Alexandre de Moraes, do STF, autorizou a abertura de inquérito para investigar asmanifestações de 19 de abril, que tiveram a participação deBolsonaro. O pedido também partiu de Aras. O objetivo da PGR é apurar possível violação da Lei de SegurançaNacional (artigos 17 e 23)por “atos contra o regimeda democracia brasileira por vários cidadãos, inclusive deputados federais, o que justifica a competência do STF”. Interlocutores do procurador-geral afirmamque, inicialmente, o presidente não será investigado. Eles alertam, porém, que, caso sejam encontrados indícios de que o chefe do Executivo ajudou a organizar as manifestações, ele pode vir a ser alvo FAKENEWS Emmarço de 2019, o presidente do STF, ministro Dias Toffoli, anunciou a abertura de um inquérito para investigar a existência de fake news que atingemmembros da corte. Paralelamente, em setembro domesmo ano, a CPMI das Fake News foi instaurada no Congresso. Desde então, a família Bolsonaro tem se colocado contrária ao funcionamento da comissão, que investiga perfis que fazem parte do arco de apoio do presidente da República. No final de abril, a Folha revelou que a PF identificou o vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro, como um dos articuladores de umesquema criminoso de fake news PEDIDOS DE IMPEACHMENT Ainda no final de abril, o ministro Celso de Mello, do STF, solicitou que o presidente da Câmara, RodrigoMaia (DEM-RJ), explique a situação dos pedidos de impeachment contra o presidente que estão parados na sua mesa. São quase 30, de autores como o deputado federal Alexandre Frota (PSDB-SP) e o ex- candidato presidencial Ciro Gomes e o presidente do PDT, Carlos Lupi. Maia, hoje rompido comBolsonaro, é o responsável por analisar de forma monocrática se dá ou não sequência aos pedidos de impeachment. Ele não tem prazo para tomar essas decisões. Se Maia der sequência a algum deles, o caso é analisado por uma comissão especial e, depois, pelo plenário da Câmara $ O que pode acontecer com Bolsonaro -Renato Onofre e Matheus Teixeira brasília Oex-ministrodaJus- tiça Sergio Moro entregou à PolíciaFederalohistóricode conversas recentes com Jair Bolsonaro pelo WhatsApp, incluindoodiálogoemqueo presidentepressionapelasaí- dadeMaurícioValeixodadire- toria-geraldaPolíciaFederal. No depoimento de sábado (2), o ex-juiz repassou ainda mensagenstrocadascomade- putadafederalCarlaZambelli (PSL-SP),aliadadeBolsonaro. Numadasmensagensjáreve- ladas porMoro, a parlamen- tar tenta intercederparaque ele fique no governo em tro- ca de umanomeação ao STF (SupremoTribunalFederal). Comoexemplodaspressões quedisse ter sofrido, o ex-ju- iz relatounodepoimento re- uniõescomopresidenteque contaramcomapresençade outrosministros. Apósaoitiva,Moroteveque aguardarosperitosdaPolícia Federalacessaremseucelular. Oaparelhofoiespelhadoem umHDdaPFeoex-juizpermi- tiuqueosinvestigadoresrecu- perassemmensagensantigas apagadas por ele, já que não teria arquivado todos os diá- logos que teve comBolsona- rodesdeocomeçoogoverno. No depoimento, o ex-mi- nistromanteve as acusações contra o presidente, a quem atribuiuumatentativade in- terferênciaeminvestigações conduzidas pela PF. Na trocademensagenspe- loaplicativo,opresidenteco- bradeMoroamudançadoco- mandodacorporaçãodevido aoinquéritodasfakenewsque correnoSTFequeteriacomo alvodeputadosbolsonaristas. Todoohistóricodeconver- saentreeleeBolsonarofoico- piado pelos investigadores e anexadoà investigaçãoaber- tapelaPGR(ProcuradoriaGe- raldeRepública)parainvesti- garseopresidentetentouou não interferir naPF. Parte da conversa foi apre- sentada por Moro ao Jornal Nacional,daTVGlobo,em24 deabril,diadesuademissão, logoapósopresidenteocha- mar dementiroso. Na troca de mensagens, a queaFolhatambémteveaces- so, Bolsonaro lhe envia uma matéria do site OAntagonis- ta intitulada“PFnacolade 10 a12deputadosbolsonaristas”. Emseguida,eleescreve:“Mais ummotivoparaatroca”,sere- ferindoàsuaintençãodetirar Valeixodo comando. O inquérito citado pela re- portagemdositefoiabertopa- raapurarfakenewseameaças contra integrantes da corte. Moro ficou pormais de oi- tohorasnasededaPolíciaFe- deral emCuritiba prestando depoimentoecompartilhan- dooconteúdodoseucelular. Oex-ministroestavaacom- panhado de um advogado e, segundopresentes,ficoucal- modurantetodaaoitiva,que foiinterrompidaumavezpara quepudessemiraobanheiro. As mensagens, segundo o ex-ministro, provam que ele não condicionou aceitar a trocanaPFauma indicação. O ex-ministro chegou ao prédio por volta das 13h15, masentroupelosfundos,frus- trandoaexpectativademani- festantes. O depoimento co- meçoupertodas 14h.Eledei- xouo local por volta de 0h20 sem falar coma imprensa. Nosábado,opresidenteJair Bolsonarousouasredessoci- aisparacriticarodepoimen- to.OchefedoExecutivocha- mouMorode “Judas”. Mororeagiuaocomentário nestedomingo(3).“Hálealda- desmaioresdoqueaspesso- ais”, escreveunoTwitter. De acordo com assessores próximos,Morosedissealivia- docomodepoimento.Eleafir- mou ainda a aliados que não haviamotivoparasepreocu- parporquetodasasacusações feitas por ele foram precedi- das dematerial probatório. Odepoimentoéconsidera- doumdosprincipaiselemen- Moroentregaconversa emqueBolsonaro faz pressãopor trocanaPF Ex-juiz deixou com investigadores da corporação pacote com íntegra de diálogos com o presidente por aplicativo tosdo inquéritoquepode le- varàapresentaçãodedenún- ciacontraelemesmooucon- tra opresidente. Aoitiva,queduroumaisde setehoras, foioprimeiropas- sodaapuração iniciadaapós Moro pedir demissão doMi- nistériodaJustiçaeSeguran- ça Pública, no último dia 24, comgravesacusaçõesaoche- fe doExecutivo. A investigação foi aberta a pedidodoprocurador-geralda República,AugustoAras,eau- torizada por Celso de Mello, do STF, relator do caso. Oobjetivoédescobrirseas acusaçõessãoverdadeirasou, então, seoex-juizdaLava Ja- tocometeucrimesaomentir sobreBolsonaro. Na visão de Aras, oito deli- tos podem ter sido cometi- dos:falsidadeideológica,coa- çãonocursodoprocesso,ad- vocacia administrativa, obs- trução de Justiça, corrupção passivaprivilegiada,prevari- cação,denunciaçãocaluniosa e crime contra a honra. Segundo interlocutoresdo PGR, Moro pode ser enqua- dradonos trêsúltimoseBol- sonaro, nos seis primeiros. Mas nada impede que a in- vestigação encontre outros crimeseosdenuncieporisso. DepoisdeouvirMoro, aPF deve realizar outras diligên- ciasparabuscarmais provas e informações sobre o caso. O procurador-geral pode fazer o mesmo, mas ele tem indicadoapessoaspróximas que deixará os detalhes da apuração a cargo da polícia e decidirá ao final o ofereci- mento ou não da denúncia. A investigação não tem uma data para acabar. Depoisdestesábado,osde- legados que apuramos fatos podem entender, por exem- plo,queénecessáriocolhero depoimento deMaurício Va- leixo, diretor-geral da PF en- quanto Moro era ministro e pivôdacrisecomBolsonaro. Isso porque, segundo o ex- juiz da Lava Jato, o presiden- tequeria retirá-lodocoman- do da corporação para colo- caralguémdasuarelaçãopes- soal no cargo. A intenção se- riaconseguiracessoarelató- riosdeinteligênciaeinforma- ções sobre investigações em curso, oquenãoépermitido pela legislação. AlémdeValeixo, a PFpode colher o depoimento de ou- tras pessoas mencionadas por Moro e também do pró- prio Bolsonaro. Nesse caso, porém, por se tratar do pre- sidentedaRepública,quetem foroprivilegiado,serianeces- sária autorizaçãodo STF. E o chefe do Executivo poderia combinar o horário e local adequadopara isso. No caso de Moro, o depoi- mento foi colhido pela dele- gada Christiane Correa Ma- chado,chefedoServiçodeIn- quéritosEspeciais,grupores- ponsávelporapuraroscasos emcursono STF. a eee poder coronavírus A8 SEGUNDA-FEIRA, 4 DE MAIO DE 2020 Asprimeiraspesquisasdeopi- nião depois da demissão de SergioMoro trouxeramalguns resultados esperados eoutros surpreendentes. Como esperado, Bolsonaro perdeu apoio junto às clas- ses média e alta, que prova- velmente eram lavajatistas. O tamanho dessa perda vari- oudepesquisaparapesquisa. O que surpreendeu foi o crescimento da aprovação deBolsonaro entre os pobres, que, na pesquisa Datafolha, compensouaperdana classe média emanteve sua aprova- ção estável. A semelhança com o que aconteceu com Lula no pri- meiro mandato não passou despercebida.Ocientistapolí- ticoRaphaelNeves notouque Bolsonaropareceprocurarum lulismo para chamar de seu. Areferência éaoconceitode “lulismo”, criadopelo cientista políticoAndré Singer, quedes- crevia o deslocamento eleito-ral ocorrido quando, aomes- mo tempo, apareciam as pri- meiras denúncias de corrup- ção contra o PT e os progra- mas sociais petistas começa- vam a fazer efeito: Lula per- deu o apoio da classe média e conquistou os pobres. Bolsonaro conseguirá exe- cutar operação semelhante? Não vai ser fácil. Quanto à pandemia, ainda não sabemos o que teve mai- or efeito sobreasopiniõesdos brasileirospobres: a rendabá- sica emergencial deR$600ou, pelo contrário, a falta de ren- da que pode fazê-los preferir arriscar a vida a ficar em ca- sa sem comida. Se foroprimeirocaso, éuma basede sustentação frágil pa- ra Bolsonaro. O governo está negligenciandoasustentação de renda dos pobres para for- çarofimdaquarentena, eam- pliaroauxílio facilitariaapo- lítica dos governadores. Mas se a explicação for o desespero, a situação de Bol- sonaro é confortável. Ele tem muito desespero para entre- gar. Se o desespero será sem- pre administrável, é uma outra história. Poroutro lado, o lulismo te- ve elementosqueBolsonaro te- rá dificuldade em reproduzir. Uma ideia de alto impacto, baixo custo e comsólidopedi- gree petista, o Bolsa Família. Aumentos expressivosdosalá- riomínimoque,mesmo se fo- rem viáveis, não parecem es- tar nos planos da equipe eco- nômica ou do empresariado que financia o bolsonarismo. Um ambiente externo que fa- vorecia o combate à pobreza. E o fato de que Lula ocupou um espaço vazio. No espaço que Bolsonaro está tentando ocupar, já há Lula. O lulismo de Bolsonaro ainda pode dar certo? Po- der, pode. Talvez as expecta- tivas dos brasileiros tenham se reduzido tanto após anos de crise que programas soci- ais muito menos ambiciosos produzam efeitos de popula- ridade grandes. Talvez a equipe econômica tenhauma ideia arrojada co- mo o Bolsa Escola e consiga elaborá-la em poucas sema- nas. Talvez a pandemia favo- reçaa inérciapolítica até ofi- nal da crise. Talvez os evangé- licos preservem o voto bolso- naristapobre. TalvezOlavode Carvalho funcione comocom- bustível fóssil. De qualquer forma, o lulis- mo de Bolsonaro parece ser uma operação difícil de ser implementada sem alterar a composição da atual coali- zão governista. E todas essas manobras podem ser neutralizadas por uma oposição de esquerda que, nesta situação, jogaria em casa. Bolsonaro está comprando briga comLula, no campo de Lula, porque teme apanhar deMoro, no campo deMoro. Pode acabar tendo que bri- gar com Lula eMoro aomes- motempo, contradois nomes que o teriam destroçado na eleição de 2018. A única certeza é que não vai brigar limpo. Presidente mira apoio dos pobres, como no primeiro mandato do petista - Celso Rocha de Barros Servidor federal, é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra) Bolsonaro quer ser Lula dom. ElioGaspari, JaniodeFreitas |seg. CelsoRochadeBarros |ter. Joel PinheirodaFonseca |qua. ElioGaspari, ConradoHübnerMendes |qui. FernandoSchüler |sex. ReinaldoAzevedo |sáb. DemétrioMagnoli $ Calendário e regras eleitorais Cargos emdisputa Prefeitos e vereadores Data das eleições 4 de outubro (1° turno) e 25 de outubro (2° turno) Período de convenções partidárias para a escolha de candidatos De 20 de julho a 5 de agosto Início da campanha 16 de agosto Período da propaganda eleitoral no rádio e na TV 28 de agosto a 1º de outubro (1º turno) FORMASDE FINANCIAMENTO • R$ 2,035 bilhões do fundo eleitoral, criado em 2017, distribuídos aos partidos, que definem os critérios de repasse aos candidatos (por ora, como defendem as principais siglas, permanece reservado para quem vai concorrer, e não para o combate à pandemia, como já foi pregado) • R$ 960milhões do fundo partidário, distribuído às siglas. Parte desse dinheiro é direcionado às campanhas (em 2019, foram repassados R$ 928milhões) • Doações de pessoas físicas e autofinanciamento Em 2015 o Supremo Tribunal Federal proibiu doações de empresas, sob o argumento principal de que o poderio econômico feria o princípio de equilíbrio de armas na disputa Como o fundo eleitoral é distribuído Houvemudança na divisão do fundo. Antes, o que valia era o tamanho das bancadas na última sessão legislativa do ano anterior à eleição (o que contou em 2018 foi a bancada no fim de 2017). Agora, conta o resultado da eleição DIVISÃO ENTRE OS PARTIDOS 2% distribuídos igualmente entre todas as legendas registradas 35% consideram a votação de cada partido que teve aomenos um deputado eleito na última eleição para a Câmara 48% consideram o número de deputados eleitos por sigla no último pleito, sem contar mudanças na legislatura 15% consideram o número de senadores eleitos e os que estavam na metade domandato no dia da última eleição -JoséMarques sãopaulo Mesmoqueaselei- ções municipais de outubro não sejam adiadas, como já sugeremparlamentarese in- tegrantesdoJudiciário,apan- demiadonovocoronavírusjá alterou significativamente o trabalho da Justiça Eleitoral para a realizaçãodopleito. Entre as medidas que têm sido tomadas estão o adia- mento e a remodelação de testesprevistosparaossiste- maseleitorais,alémdotreina- mentoremotodoscoordena- dores dosmesários. O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) também já descar- ta utilizar nas eleições deste ano as novas urnas eletrôni- cas queestãoemumproces- so de compra que pode che- garaovalorglobaldeaproxi- madamenteR$ 800milhões. Para que as eleições sejam adiadas é necessário que o Congresso aprove uma PEC (PropostadeEmendaàCons- tituição). A tendência atual entreosparlamentaresé,em caso de adiamento, que elas aconteçam ainda em 2020, semextensãodemandatos. Para avaliar o impacto da pandemia, a ministra Rosa Weber,doSTF(SupremoTri- bunalFederal),atualpresiden- tedoTSE,criouumgrupode trabalho formadopelos che- fes dos setores técnico. Todas as segundas-feiras a equipe divulga relatórios e informa se há condições pa- ra que as eleições sejam rea- lizadas nas datas originais: 4 deoutubro (1º turno) e 25de outubro (2º turno). Atéagora,apósduassema- nasdefuncionamento,acon- clusãoédequehácondições paraisso,emboraalgunspro- cedimentos tenham que ser adiados e outros, alterados completamente.Aideiaéque o grupo de trabalho analise semanalmente se esse cená- rio irámudar. Coordenador do grupo e secretário-geraldapresidên- ciadoTSE,EstêvãoWaterloo dizqueaportariaquecrioua equipeé“bastanteenxuta,po- rémmuito objetiva”. “Temosqueapresentarum relatóriosemanalàpresiden- te do tribunal. Esse relatório édivulgadonomomentoem que é remetido à presidên- cia”, dizWaterloo àFolha. “O GT [grupo de trabalho] tem autonomia, mas é extrema- mente técnico, não faz avali- TSEdescartanovaurna naseleiçõese treinará mesáriosadistância Tribunal monta grupo de trabalho para analisar o impacto do novo coronavírus no pleito municipal açãopolítica.” Asreuniõesdogrupoacon- tecemporvideoconferência, umavezporsemana,apósca- daárealevantarinformações atualizadas.Apartirdessare- uniãoéelaboradoorelatório. Aequipeanalisaoquepode- ráeoquenãopoderáocorrer emconsonânciacomocrono- gramada JustiçaEleitoral de 2020elaboradoantesdapan- demia.Casoencontremobstá- culosqueimpeçamavotação, devemalertaracorte.Senão, programamalterações inter- naspontuaisparaquenãoha- ja contratempos. ComoaFolha apontou em março,testescomasurnasfo- ramabortadosouadiadosin- definidamentedevidoàcrise daCovid-19. Ao contrário do otimismo dogrupodetrabalhodoTSE, integrantes de TREs (Tribu- naisRegionaisEleitorais)dão como certo que haverá adia- mentodopleito. Futuro presidente do TSE, oministro Luís Roberto Bar- roso, do STF, disse que esses testes e eventuais aglomera- çõesnasconvençõespartidá- rias de agosto, quando as le- gendasescolhemoscandida- tos,serãocruciaisparadefinir se a data será alterada. No final de abril, uma pri- meirarodadadetestesdosis- temadeprestaçõesdecontas daeleiçãoaconteceudeforma remota, comos técnicos tra- balhandoemesquemadeho- meoffice.A iniciativa foi iné- dita na JustiçaEleitoral. Nestemês,ostestesdossis- temas de candidatura e de propaganda eleitoral serão realizados também remota- mente —antes, eles aconte- ceriam presencialmente no TREdeCuritiba.Ainda não foram remarca- dos,noentanto, testesfísicos dasurnas,queavaliamdefei- tosemteclas,porexemplo,ou em impressoras de boletins. Essaavaliaçãoteráqueacon- tecer presencialmente. “Evidentemente, no caso dos testes das urnas eletrô- nicas vai ter que haver pes- soas atuando, digitando nas urnas,diretamentenosequi- pamentos. Mas essas pesso- as estarão afastadas [umas das outras]. Será um forma- to diferente e isso está sen- do remodelado para que es- sas novas condições aconte- çam”, afirma Giuseppe Jani- no, secretário de tecnologia de informaçãodoTSE. Outramudançaseránotrei- namentodos“multiplicadores dosregionais”,osfuncionári- osdosTREsquevãoaBrasília ajudarafinalizaroconteúdo do treinamento do TSE para osmesários. Em vez de viajarem à capi- tal federal, receberão treina- mento a distância. De acordo com a corte, a medidaterápequenoscustos, devido à produção do mate- rial que será exibido a esses servidores,mas essas despe- sas serão compensadas com aeconomiaqueotribunalte- rá compassagens e diárias. “Éumcustomuitopequeno porque[ocurso]éumaprodu- ção interna, a gentenãocon- trata ninguém de fora para fazer”,afirmaThayanneFon- seca, secretária de gestão de pessoas doTSE. “Nopresencialagenteteria umaurnaeletrônica,comto- domundo trabalhando com ela e tocandonessa urna.No treinamento a distância vão terqueserdesenhos, vídeos, mostrando como é”, acres- centa ela. Ainda será definido como serãooscursosdosTREs,nos estados,comasrestriçõesde isolamento social. O TSE também diz que é capaz de realizar as eleições emoutubrosemnovasurnas. Hoje, o tribunal tem 473mil máquinasdisponíveisparaas eleições deste ano. Desdeoanopassado,háum impasse na aquisição de ur- nasquesubstituiriamosequi- pamentos usados em 2006 e 2008, que estão obsoletos. O edital previa a compradeaté 180mil delas. Umaguerraderecursosen- tre as empresas que concor- remnalicitação,alémdepro- blemas oriundos da pande- mia, fizeram a corte descar- tarousodasnovas.Masafal- tadelasgerapreocupaçãoso- bre um possível aumento de filas e aglomerações. OGTentendequeonúmero demáquinasatuaisnãopreju- dicaarealizaçãodasvotações. “Tem-seporviávelarealiza- çãodaseleiçõescomoparque atual de urnas eletrônicas”, dizia o primeiro relatório do grupode trabalhodapande- mia, de 20de abril. “Independentemente da conclusão pela viabilidade, tratativas para aprimorar a equalizaçãodoparquedeur- nas permanecememcurso.” Questionadonaquinta-fei- ra(29)seaindahápossibilida- de de utilização de novas ur- nasnesteano,odiretor-geral doTSE,AndersonVidal, afir- maque“todoonossocálculo já é descartando a utilização dessas urnas”. “Desdeoanopassadoaad- ministração tem informado e trabalhado para a realiza- çãodas eleiçõesde 2020 sem contar com a aquisição des- sas urnas”, diz Vidal. “O parque atual das urnas eletrônicas para fazer essas eleições é de 473 mil urnas. Estamos trabalhando com 473 mil urnas para fazer as eleições”, acrescenta. AlémdeWaterloo,osoutros secretários e o diretor-geral tambémfazempartedogru- po de trabalho que avalia os impactos dapandemia. Outros três integrantes compõem a equipe. Nas re- uniões, também participam os chefes das assessorias de gestãoestratégica,deexame decontas edacomunicação. “ Desde o ano passado a administração tem informado e trabalhado para a realização das eleições de 2020 sem contar com a aquisição dessas [novas] urnas Anderson Vidal diretor-geral do TSE RosaWeber, presidente do TSE, em sessão virtual da corte em abril Abdias Pinheiro/Ascom/TSE a eee mundo coronavírus SEGUNDA-FEIRA, 4 DE MAIO DE 2020 A9 -Sylvia Colombo buenos aires O vírus chegou primeiroaoBrasil.Aomenos oficialmente. O primeiro ca- sodeCovid-19naAméricaLa- tina surgiu nodia 26de feve- reiro,emSãoPaulo.Doisdias depois, outro caso foi confir- madonaCidadedoMéxico. Decara,apandemiaentrou pelaportadafrente,nasprin- cipais cidadesdasduasmai- ores economias da região. Empoucomaisdedoisme- ses, já infectou 251.577 pes- soas ematoumais de 13.445 na América Latina, de acor- do com dados compilados pelo site Worldometers até a tarde deste domingo (3). Ascifras,noentanto,podem ser muito maiores, uma vez queégrandeapossibilidadede subnotificação,sejapelainca- pacidadederealizartestesem massa,sejapelafaltadetrans- parênciadealgunsgovernos. Ocoronavírusganhoucon- tornosmuitoparticularesna América Latina. Trata-se de umaregiãomuitopopulosa, commais de 613milhões de habitantes, e formada por países que, em sua maioria, temadesigualdadesocialco- mo característica histórica. Assim,onde53%domerca- dodetrabalhoécompostopor informais,segundoaOrgani- zaçãoInternacionaldoTraba- lho,eossistemasdesaúdesão menospreparadosqueosda Europa e dosEUA, os impac- toseconômicosesanitáriosda Covid-19 são aindamaiores. ACepal (ComissãoEconô- mica para a América Latina e o Caribe) apresentou em abrilumaprojeçãopessimis- ta para a América Latina, na qualhaveriaencolhimentode 5,3%doPIBregionalem2020. Seria o pior desempenho da história da região, cuja quedamais expressivaneste índice foi em 1930, durantea Grande Depressão, quando houve encolhimentode 5%. “Eaconsequênciamaisgra- ve seráoaumentodapobre- za. A queda do PIB vai em- purrar quase 29 milhões de Víruspodegerar 29milhõesdenovos pobres emAméricaLatina comraiva Projeção indicamaior retração da história no PIB da região, repleta de surtos sociais antes da Covid-19 Coronavírus em países e territórios da América Latina Antígua e Barbuda Argentina Aruba Bahamas Barbados Belize Bolivia Brasil Chile Colômbia Costa Rica Cuba Curaçao El Salvador Equador Guatemala Guiana Guiana Francesa Haiti Honduras Jamaica Martinica México Nicaragua Panamá Paraguai Peru Rep. Dominicana Suriname Trinidad e Tobago Uruguai Venezuela 3 241 2 11 7 2 71 7.025 260 324 6 67 1 11 1.564 17 9 1 8 76 8 14 2.061 3 197 10 1.564 333 1 8 17 10 25 4.681 100 83 81 18 1.470 101.147 18.435 7.285 739 1.649 16 490 29.538 688 82 128 85 1.010 463 179 22.088 14 7.090 370 45.928 7.954 10 116 648 345 3 0,5 2 2,8 2,4 0,5 0,6 3,3 1,3 0,6 0,1 0,6 0,6 0,2 8,9 0,1 1,1 0,3 0,1 0,8 0,3 3,7 1,6 0,1 4,6 0,1 4,7 3,1 0,2 0,6 0,5 0,1 Fonte: ONU, Ministério da Saúde do Brasil e Worldometer. Dados apurados às 18h do dia 3 de maio. Casos Mortes Mortes por 100mil hab. NaBolívia, há inquietação devido ao adiamento das eleiçõespresidenciais,mar- cadas inicialmentepara3de maio epostergadaspelo go- verno interino—econtesta- do— de Jeanine Añez. A oposição no Congresso, compostaprincipalmentepe- loMAS (Movimento ao Soci- alismo), partido do ex-presi- denteEvoMorales,nãoaceita umanovavotaçãoapenasem outubro, comopropôsAñez. Na sexta-feira (1º), a Casa aprovouumaleiquedetermi- naarealizaçãodeeleiçõesge- raisematé90dias,prazoque venceráno início de agosto. DesdearenúnciadeEvo,em novembro,aBolíviaviveclima de enfrentamento e violên- cia nas ruas. A pandemia fez comqueosprotestosseacal- massem, mas há denúncias daoposiçãodequeAñeztem aproveitadoapandemiapara militarizaraindamaisopaís. Já no Equador, existia um climadesuspensedesdequeo governocedeuaatosnasruas e recuouda alta na gasolina. “Masessahistóriaficousem conclusão. O presidente Le- nínMorenoaindatemdeen- contrarummododesatisfa- zeroFMI [FundoMonetário Internacional], que lhe em- prestou dinheiro, sem cau- sar a fúria das comunidades indígenas”, avalia Tokatlian. “Aissosesomaráosaldoda crise sanitária. Moreno sai- rámuito desgastado, pois as imagens de Guayaquil viaja- ramomundo,eficoumarca- doque,emparte,ocorreram porcontadanegligênciadele.” NaArgentina,emquarente- naobrigatórianacionaldesde 18demarço,háumasensação, por ora, de que a crise sani- tária está aomenos contida. O presidente Alberto Fer- nández, que tem enfrenta- do pedidos de empresários para reabrir o país, tem sido duroao imporrestrições. Só queaeconomia,que jánão ia bem,deve sofrer forte abalo quando acabar a pandemia. O país tem adiado o paga- mentodedívidas,alémdeim- primirdinheiroparaalimentar planosdeassistênciaaosmais pobres. Emmeio aos proble- mas, o presidente argentino tem70%deaprovaçãopopular, segundooinstitutoPoliarquia.
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