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FEB - resumo aula 1-7

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1 
 
Aula 1: Formação Econômica do Brasil colonial 
 
 
- Por que o estudo de Formação Econômica é importante para o curso de 
graduação em Administração? 
 
Porque permite conhecimento da estrutura econômica e dos negócios que 
sustentaram o país em sua etapa inicial de desenvolvimento. 
 
- Que habilidades o estudante de Administração desenvolve ao analisar o 
contexto econômico e os negócios mais rentáveis em cada período histórico? 
 
 Identificar as relações entre ambiente econômico; 
 Presença e/ou apoio em maior menor grau do governo; 
 Desenvolvimento tecnológico; 
 Mercado de trabalho. 
 
 
Como surgiu a empresa colonial agrícola 
 
Iniciou-se com a introdução da monocultura do açúcar no Nordeste pelos 
portugueses, seu desenvolvimento deu-se a partir da expansão comercial 
européia, iniciada em fins da Idade Média. 
A expansão comercial rompeu com o isolamento econômico típico de Período 
Feudal1,neste período o Mar Mediterrâneo tornou-se a mais importante rota de 
comércio, o que acabou beneficiando poucas cidades. Como havia grande 
risco do empreendimento comercial e custo elevado de transporte, apenas 
produtos de grande valor de mercado, porém com pouco volume e peso 
(especiarias orientais: canela, pimenta-do-reino e etc.) eram transportados por 
ser economicamente viável. 
Portanto quando Constantinopla foi tomada pelos turcos, aumentou a 
dificuldade em manter a rota comercial que ligava as cidades mediterrâneas às 
fontes de especiarias, pois com os turcos no comando, espanhóis e 
portugueses tiveram o acesso proibido a estas terras. Sendo assim, se viram 
obrigados a descobrir novas rotas comerciais, dando início então em 1453 a 
era moderna e marcando o fim do feudalismo. 
 
 
 
 
 
1 Período Feudal (Feudalismo) – Forma ao qual a sociedade européia vivia na Idade Média, tendo como 
base o poder descentralizado, economia agropastoril e trabalho dos servos. Sua organização social era 
dividida em três estamentos: Clero, Nobreza e Servos. 
2 
 
Portugal entra em cena 
 
Os portugueses já vinham explorando a rota do Atlântico desde os meados do 
século XV, se estabelecendo em algumas localidades a costa africana e 
cultivando a cana-de-açúcar. O principal objetivo era alcançar fornecedores de 
especiarias localizados na Índia usando a rota do Atlântico, porém para isto foi 
necessário que eles aprimorassem a tecnologia de construção dos navios. 
Este aprimoramento permitiu vencer a travessia do chamado “Mar tenebroso2”, 
o que marcou a cultura do país, já que aconteceu no auge do império marítimo 
português. 
 
A ocupação portuguesa na colônia 
 
O descobrimento do Brasil foi uma etapa da conquista do oceano Atlântico, 
fazendo parte do grande movimento deflagrado pelas Grandes Navegações3, 
com isto o Mediterrâneo perdeu a centralidade no comércio mundial, que se 
deslocou para o Atlântico. 
Portugal era nesta época uma monarquia absolutista, surgindo como estrutura 
política que a burguesia encontrava para garantir apoio a seus interesses 
comerciais, caracterizados como Mercantilismo (base acúmulo de capital), o 
que eu garantia lucros do comércio por meio de um modelo de comércio 
exterior protecionista. 
 
Estados Absolutistas Burguesia 
Organização política que surgiu a 
partir do século XV; 
Surgido na Europa, com o 
renascimento comercial e das cidades 
com fim do período feudal; 
Alicerçados no poder do rei e da 
Igreja; 
Burgueses: médicos, artesãos, 
comerciantes que viviam aglomerados 
à volta dos castelos medievais; 
Centralização do poder; 
Sempre associada ao poder, ajudou a 
diminuir a influência do clero e da 
nobreza a sociedade; 
Crescimento do nacionalismo; 
Passou a dominar a vida social, 
política e econômica após a 
Revolução Francesa, no século XVIII. 
Unificação territorial 
 
 
 
2 Mar tenebroso – conhecido por ser mais difícil de navegar do que as águas calmas do Mar 
Mediterrâneo. 
3 Grandes navegações – expansão marítima ocorrida entre os séculos XV e XVI que ampliou as rotas 
comerciais, unindo Europa à África e Ásia. 
3 
 
A consolidação de Portugal como Estado Nacional moderno ocorreu no século 
XVI, quando o governo lusitano financiou as grandes navegações, que permitiu 
conquistar novos territórios e assim submetendo-se ao Pacto Colonial4. 
A ocupação do Brasil no período colonial (1500-1822) esta ligada a expansão 
comercial e colonial européia Portugal como não encontrou metais preciosos 
em seus domínios, implantou uma atividade lucrativa a fim de financiar a 
defesa da própria colônia, além de permitir a transferência de lucros mercantis 
para a metrópole. Introduziu então o cultivo de um produto tropical, a cana-de-
açúcar, que já era um produto explorado em outras ilhas e tinha um mercado 
em expansão na Europa. 
O que garantiu a lucratividade do empreendimento foi o monopólio comercial, 
determinado pela metrópole. 
 
Características da colonização portuguesa no Brasil 
 
O sentido de colonização era cultivar produtos tropicais de forma lucrativa para 
o comércio europeu, de modo a não competir com as culturas de clima 
temperado existentes na Europa. Os produtos seriam tropicais porque a 
produção colonial deveria ser complementar, e nunca competitiva, à produção 
européia. 
De acordo com Caio Prado Júnior a estrutura da economia colonial é baseada 
em três elementos principais: o latifúndio, a monocultura e o trabalho escravo. 
Tendo sido pensada com único sentido: fornecer gêneros tropicais ao comércio 
europeu. 
 
 Latifúndio: necessário para permitir o crescimento extensivo da 
produção, tendo em vista eu a atividade não se expandia com base no 
aumento da produtividade e sim no uso extensivo de terras; 
 Monocultura: tendo em vista que o foco era a lucratividade comercial, 
tornou-se mais interessante para o colonizador mobilizar seus recursos 
para o plantio de um produto destinado à exportação; 
 Trabalho escravo: com a dificuldade de se conseguir mão-de-obra 
barata, a fim de conter custos de produção,introduziu-se a escravidão 
na colônia. 
 
 
Economia canavieira: Elemento-chave no sucesso da empresa colonial 
agrícola 
 
A cultura da cana-de-açúcar foi o maior êxito experimentado pela economia 
colonial agrícola, pois permitiu associar a experiência portuguesa da cana nas 
ilhas do Atlântico Sul à utilização de mão-de-obra escrava nas colônias 
 
4 Pacto Colonial – conjunto de relações econômicas e políticas que subordinavam a colônia à metrópole. 
4 
 
africanas, e ao uso de terras férteis da costa do Nordeste para a produção de 
uma cultura tropical que desfrutava de crescente mercado consumidor na 
Europa. 
Um elemento fundamental que explica este sucesso foi a implementação de 
uma rota comercial entre as colônias da Coroa portuguesa, criando uma 
interdependências entre os dois negócios: exploração de produtos primários da 
colônia brasileira voltados pata mercado externo e a exportação de escravos 
pelas colônias africanas. 
Por volta da metade do século XVI, a produção de açúcar passou a ser cada 
vez mais um empreendimento conjunto entre portugueses e holandeses. Eles 
recolhiam os produtos em Lisboa, o refinavam e distribuíam por toda a Europa. 
Porém a parceria com holandeses terminou a partir do momento em que 
Portugal foi anexado pela Espanha e em meio as lutas a Holanda resistiu à 
perda do negócio do açúcar e invadiu o Brasil em 1630, estabelecendo-se no 
Nordeste, mas a expulsão dos holandeses em 1654, trouxe conseqüências 
econômicas graves e duradouras. 
Como haviam adquirido conhecimento da cultura da cana-de-açúcar, se 
estabeleceram em um empreendimento concorrente nas Antilhas e acabaram 
como o monopólio na oferta di produto pelos colonos do Nordestebrasileiro, o 
que fez entrar em declínio o preço da cana no mercado externo, deixando 
então a economia canavieira de ser lucrativa. 
A colônia enfrentou uma crise devido a queda dos preços da cana, o que 
favoreceu a economia da metrópole, isso ocorreu até que a mineração 
substituísse a cultura de cana-de-açúcar como principal fonte de renda de 
exportações. 
 
Economia de Subsistência X Economia Mercantil 
 
Economia de Subsistência é aquela produzida para autoconsumo, em que o 
produtor não se distingue do consumidor, sendo desnecessário o uso do 
dinheiro. 
 
Economia mercantil é aquela em que o produto e direcionado para o mercado, 
tornando assim necessário a separação entre produtores e consumidores, o 
que torna possível a intermediação monetária. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
Aula 2: Atividades econômicas de subsistência e mineração auxiliam o 
povoamento do interior 
 
 
O primeiro critério de distribuição do solo da colônia portuguesa na América foi 
o regime de concessão de sesmarias. O interesse primordial do processo de 
colonização portuguesa estava aliado à extensiva exploração do território, com 
intuito de campear recursos minerais, principalmente ouro. Porém este 
propósito foi totalmente frustrado, pois durante todo século XVI não houve 
ocorrência de descoberta de metais preciosos nos solos coloniais americanos 
de possessão portuguesa. 
Mas a empresa colonial percebeu que a colônia poderia produzir outros tipos 
de riquezas, portanto em 1557 foi instalado o primeiro engenho de açúcar no 
Brasil e como os portugueses dominavam esta técnica de plantio e fabricação 
do açúcar devido as experiências adquiridas nas ilhas do Atlântico, puderam 
introduzir e incentivar a produção, já que era algo que possuía grande valor 
comercial. 
 
Busca por metais preciosos e apresamento de índios: os bandeirantes 
ampliaram os domínios portugueses na América 
 
Para falarmos da expansão territorial é necessário ressaltar sobre o Tratado de 
Tordesilhas5, tratado este que determinava a divisão do recém-descoberto 
continente americano entre Espanha e Portugal. 
Acontece que este tratado não foi respeitado, devido: 
 Potências européias excluídas da divisão nunca deixaram de lutar pelas 
conquistas de territórios; 
 Franceses, ingleses e holandeses conseguiram se estabelecer ao norte 
da América do Sul, fundando a Guiana Francesa, a Guiana e o 
Suriname; 
 As fronteiras entre América portuguesa e espanhola foram modificadas 
devidas as bandeiras6. 
 
 
 
 
 
 
 
5 Tratado de Tordesilhas – Tratado criado sob a mediação do papa da época, ao qual convencionou que 
a terra do oeste do meridiano que corta o Brasil ficaria sob o domínio da Espanha e os portugueses 
ficaram com as terras situadas a leste da linha imaginária. 
6 Bandeiras – Expedição armada que desbravava os sertões a fim de escravizar indígenas ou descobrir 
ouro. 
6 
 
Ocupação do Sudeste 
 
A ocupação do Sudeste foi feita por colonos que logo perceberam que não 
podiam utilizar as terras para produção de cana-de-açúcar pois não eram 
férteis o suficiente para este tipo de produção, porém nas terras do sudeste 
havia muitos índios e logo perceberam que poderiam começar outra atividade, 
a escravização do trabalho indígena. Além deste colonos também se 
instalaram jesuítas que tinham o intuito de catequizar os índios existentes 
naquela região. 
 
A ocupação do Vale Amazônico 
 
Região que tinha rios e afluentes como facilitador de incursões, sendo assim 
espanhóis, holandeses e ingleses conseguiram se estabelecer no norte do 
continente em 1596 e desenvolveram comércio com a produção extraída da 
floresta (madeiras e urucum, que era utilizado para tingir tecidos e pescados). 
Na parte pertencente a Portugal, houve também tentativas de invasão, porém 
os portugueses expulsaram franceses, ingleses e holandeses das margens do 
rio Amazonas. Para fins de defesa, Portugal construiu o forte do Presépio na 
cidade portuária de Belém, que era local estratégico o que impedia a entrada 
de invasores. 
 
Sul: as missões jesuítas 
 
Os jesuítas tiveram papel fundamental na ocupação de outras partes do país, 
pois formavam núcleos de povoação indígenas que visavam a defender os 
índios do aprisionamento pelos colonizadores brancos. 
 
A retaguarda da expansão agrícola: o grande sertão da pecuária 
 
O gado foi o instrumento principal da ocupação do Nordeste, Sudeste e Centro-
Oeste, porque atendia principalmente às necessidades das fazendas 
produtoras de monocultura visando ao mercado externo. No início do século 
XVII, a criação de gado tornou-se mais independente, e a ocupar cada vez 
mais terras para o interior, já que o rebanho requeria grandes extensões de 
terra para pastagens. 
Esta atividade respondia aos estímulos principalmente da economia canavieira 
e da mineira, sendo uma atividade móvel pela natureza, portanto a pecuária 
contribuiu decisivamente para a ocupação do território. 
 
 
 
 
 
7 
 
O que mudou com a mineração? 
 
A economia colonial enfrentou uma longa crise e com a descoberta de ouro 
iniciou-se um novo ciclo na economia colonial, intensificando as relações entre 
metrópole e colônia. A mineração então se tornou o centro das atenções de 
Portugal, o que fez partir fluxos emigratórios para a colônia. 
Sendo assim, as demais atividades econômicas entraram em declínio, 
ocorrendo empobrecimento e despovoamento de regiões onde se localizavam. 
O ouro era prospectado em rios, o que permitia haver sempre a possibilidade 
de se encontrar novas reservas. A economia mineira permitiu que o Tratado de 
Methuen7 pudesse ser cumprido, o que proporcionou recursos necessários a 
Portugal para enfrentar o comércio deficitário com a Inglaterra. 
 
 
Aula 3: A crise da economia colonial no Brasil 
 
No período colonial, as atividades produtivas e comerciais na economia 
brasileira não se esgotavam na empresa colonial agrícola. A ocupação do Sul, 
o vale amazônico e o movimento das bandeiras foram importantes para o 
desenvolvimento de atividades econômicas no interior do país, assim como a 
pecuária e a mineração. 
As colônias na América foram constituídas no momento de formação dos 
estados nacionais europeus (absolutistas), em que predominavam as práticas 
mercantilistas. 
A empresa colonial nasceu exatamente dessa associação, em que os 
interesses da burguesia mercantil estavam absolutamente relacionados aos da 
Coroa. Juntos, os burgueses e monarcas buscavam novas fontes de renda por 
meio de conquistas coloniais. 
 
O sentido da crise 
 
A crise da economia colonial agrícola decorreu de dois aspectos 
complementares, um de caráter interno, e outro, externo. 
 
1º Aspecto: A expansão de mercados na colônia, resultado direto do aumento 
da população e do incremento da produção. Surgiram, em consequência, 
conflitos de interesses entre colonos e metrópole. Até então, os colonos 
sentiam-se portugueses em terras brasileiras, tendo, em um mercado pouco 
expressivo, privilégios garantidos pelo monopólio (exclusivo) comercial e suas 
 
7 Tratado de Methuen – Acordo comercial entre Portugal e Inglaterra, que estabelecia que Portugal 
passava a importar os produtos têxteis ingleses, com taxas privilegiadas, enquanto a Inglaterra se 
comprometia a importar vinhos portugueses taxando-os em apenas dois terços dos tributos de 
importação pagos pelos vinhos franceses. 
8 
 
restrições à concorrência externa. Com o aumento da produção e o 
crescimento do mercado interno – sobretudo após o início do ciclo do ouro -, os 
interesses particulares da colônia foram aumentando de maneira significativa. 
O pacto colonial passou a ser, então, um empecilho à expansão dos negócios 
e, portanto, ao potencial de ganhos dos colonos. 
 
2º Aspecto: Referente ao planoexterno eram os efeitos da Revolução Industrial 
8cada vez mais visível na Europa. O processo de acumulação de capital, 
naquele contexto, centrava-se fortemente na esfera de produção da indústria, 
com uma rápida incorporação de novas técnicas produtivas que ampliavam 
largamente seu horizonte de crescimento. 
 
Assim, a necessidade de busca e incorporação de novos mercados pelas 
unidades industriais em formação tornou-se um traço típico da dinâmica 
capitalista. É fácil entender, então, que o monopólio comercial e produtivo 
formalizado no pacto colonial era uma barreira para o capital industrial e para a 
produção em grande escala. Isto explica o grande interesse da Inglaterra pelos 
movimentos de independência das Américas hispânica e portuguesa. 
Essas transformações também estavam representadas no campo institucional 
e das idéias pela crescente contestação às instituições absolutistas e o avanço 
do Iluminismo (Movimento cultural originado no Renascimento, a partir do 
século XVII. Do ponto de vista econômico, seu principal foco era a definição de 
uma política econômica mais livre das restrições típicas do mercantilismo). 
 
As mudanças na metrópole e suas conseqüências para o Brasil 
 
No Brasil, o período foi marcado por dificuldades econômicas graves, 
resultantes da queda das exportações. A exceção, nesse contexto, foi o 
Maranhão, em virtude dos incentivos do Marquês de Pombal ao criar uma 
companhia de comércio altamente capitalizada para explorar e ampliar a 
produção e exportação de algodão, produto em alta substantiva no mercado 
internacional. 
O acirramento das crises internas e nas colônias, todavia, obrigou o ministro a 
demitir-se em 4 de março de 1777. Neste mesmo ano o rei faleceu, e o trono 
passou a ser ocupado por Dona Maria. Esse conjunto de mudanças não trouxe 
transformações importantes, pois de maneira geral a Política Pombalina9 ainda 
prevalecia, graças à tentativa de preservar as estruturas do exclusivo 
 
8 Revolução Industrial – desenvolveu também uma nova sociedade: a capitalista, baseada na divisão dos 
indivíduos em duas classes: os capitalistas, detentores dos meios de produção, e os trabalhadores, 
homens livres que vendem sua força de trabalho em troca de um salário. O capitalismo, consolidado 
com a Revolução Industrial, gerou muita riqueza e um enorme progresso material. 
9 Política Pombalina – Conjunto de medidas visando ao fortalecimento do poder real em Portugal. 
9 
 
comercial. A diferença fundamental foi a redefinição de alguns laços formais 
que substanciavam sua existência, realizando ações como: 
 
a) Acabar com as companhias de comércio, permitindo uma maior 
liberdade aos comerciantes; 
b) Combate ao contrabando; 
c) Permissão para o comércio intercolonial com a África e o Oriente; 
d) Liberação do comércio e exploração do sal e da pesca da baleia, 
terminando o monopólio metropolitano nesse setor; 
e) Proibição da manufatura têxtil no Brasil. 
 
Essas mudanças refletiam, em realidade, a crescente dependência econômica, 
por parte de Portugal, da colônia brasileira e, portanto, era vantajoso, para a 
metrópole, fazer concessões. 
A grande fonte de concorrência estava no contrabando inglês 
Apesar da flexibilização das relações expostas, as bases do exclusivo 
comercial estavam mantidas, e as reações no Brasil começavam a ganhar um 
contorno mais decisivo. Exemplos históricos importantes foram: 
 
 Inconfidência Mineira: queriam a independência do Brasil e instaurar a 
República. Pretendiam incentivas as manufaturas, proibidas desde 1785, 
e fundar uma universidade em Vila Rica. Integrado por membros da elite 
intelectual e econômica da região – fazendeiros e grandes comerciantes 
- , o movimento reflete as contradições desses segmentos: sua bandeira 
traz o lema “libertas quae será tamem (Liberdade ainda que tardia)”, 
mas não se propõe a abolir a escravidão. O momento escolhido para a 
eclosão da revolta é o da cobrança da Derrama (Imposto cobrado por 
Portugal, onde a população é obrigada a entregar seus bens para 
integralizar o valor da dívida). A Derrama, movimento foi denunciado 
pelos portugueses Joaquim Silvério dos Reis, Brito Malheiros e Correia 
Pamplona, em 5 de março de 1789. Devedores de grandes somas ao 
tesouro real, eles entregam os parceiros em troca do perdão de suas 
dívidas. Em 10 de maio de 1789, Tiradentes é preso e instaura-se a 
devassa, para estabelecer a culpa dos conspiradores. 
 
 Conjuração Baiana: Também conhecida como Revolta dos alfaiates, de 
caráter social e popular, explode em Salvador (1798) e inspira-se nas 
idéias da revolução francesa e da inconfidência mineira. O movimento é 
radical e dirigido por pessoas do povo, como os alfaiates João de Deus 
e Manoel dos Santos Lira, os soldados Lucas Dantas e Luís Gonzaga 
das Virgens. Propõe a independência, a igualdade racial, o fim da 
escravidão e o livre comércio entre os povos. 
 
 
10 
 
O acirramento dos conflitos de interesses e o processo de independência 
 
O processo de separação colônia/metrópole só viria a ser precipitado pela 
invasão francesa a Portugal e a vinda da corte para o Brasil em 1808, na 
medida em que determinou uma série de mudanças institucionais de relevo 
para que a colônia servisse de sede do governo no rio de Janeiro, como a 
abertura dos portos e a criação do Banco do Brasil. A situação portuguesa de 
lucros extraordinários no comércio com a colônia foi então rompida, 
especialmente após a formalização dos tratados com a Inglaterra. 
No campo externo, dois aspectos sobressaíam: 
 Política direcionada a contrariar os interesses napoleônicos na América 
do Sul, caracterizando uma estratégia expansionista na invasão da 
Guiana Francesa, em 1809; 
 Com objetivo de tornar-se regente do império espanhol na América, no 
período de ocupação da Espanha pelas tropas francesas, D. João VI 
envia navios para sitiar e ocupar a Banda Oriental, em 1821, como 
Província Cisplatina, após o período de desagregação do Vice-Reinado 
do Prata, que seguiu a independência da Argentina em 1816. 
 
Do ponto de vista dos colonos brasileiros, a liberalização da economia e 
dinamização do comércio (resultado da vinda da Corte e da abertura dos 
portos) modificou fundamentalmente o cenário. A manutenção estrutural do 
pacto colonial funcionava como um entrave à expansão da economia 
doméstica, e os grandes agricultores – classe dominante – enxergavam 
Portugal como um entreposto desnecessário e caro. 
O descontentamento aumentava internamente, e as medidas associadas ao 
pacto colonial eram cada vez mais repelidas, como a proibição do comércio 
entre as províncias, o monopólio de portugueses nos cargos públicos, e, 
sobretudo, os impostos abusivos cobrados pela Coroa. 
 
Adendos: 
 
A vinda da corte portuguesa para o Brasil 
 
Em novembro de 1807, as tropas francesas invadiram o território português, 
impondo uma transferência às pressas da corte portuguesa para o Brasil, sua 
principal colônia, com apoio da esquadra britânica. Esse processo determinou 
um aprofundamento ainda maior dos laços políticos e econômicos de Portugal 
e Inglaterra. As primeiras medidas tomadas com a chegada da corte ao Brasil 
formam: 
 
a) Abertura dos portos (1808), já que Portugal estava ocupado e não 
poderia exercer a função de entreposto comercial para as mercadorias 
brasileiras; 
11 
 
b) Fomento à agricultura e fundação do Horto Real (Jardim Botânico) no 
Rio de Janeiro; 
c) Incentivo ao desenvolvimento das manufaturas, concedendo isenção de 
impostos a matérias-primas importadas; 
d) Permissão de acesso de estrangeiros às sesmarias, com o objetivo de 
garantir fronteiras com a expansão do povoamento; 
e) Criação do Banco do Brasil, com objetivo primordial de financiar os 
gastos da Coroa. 
 
Os Tratados com a Inglaterra 
 
Os principais tratados foram: 
 
1.Tratado de Aliança e Amizade: definia as condições de defesa mútua e 
apoio ao ataque português à Guiana Francesa. Em contrapartida, 
acordou-se o comprometimento de Portugal com a redução do tráfico de 
escravos, circunscrito à região abaixo da linha do Equador; 
2. Tratado de Comércio e Navegação: definia vantagens tarifárias para a 
Inglaterra, até mesmo sobre Portugal, no comércio com o Brasil. Esse 
tratado deu liberdade ao ingleses para criar casas de comércio e 
negociar livremente tanto os produtos brasileiros no exterior, quanto as 
vendas de importados para o Brasil. 
 
A independência do Brasil 
 
Em 7 de setembro de 1822, D. Pedro I proclamou a independência do Brasil 
em relação a Portugal, tornando-se nosso primeiro imperador. Estava 
conquistada, então, a autonomia política, mas não a econômica: Portugal 
exigiu 2 milhões de libras para reconhecer a independência do Brasil. Como o 
recém-formado império não dispunha de capital suficiente, D. Pedro decidiu 
pedir um empréstimo à Inglaterra. 
Em relação aos demais países, México e Estados Unidos foram os primeiros 
países a reconhecer nossa independência. Transformavam-se também as 
relações comerciais, com maior autonomia para o Brasil. 
No plano interno, porém, a independência não provocou grandes mudanças. A 
estrutura permaneceu inalterada, com base na escravidão, na monocultura e 
no latifúndio, e a distribuição de renda continuava desigual, beneficiando, 
principalmente, a elite agrária. O povo permaneceu à margem deste processo. 
 
 
Aula 4: Economia cafeeira escravista 
 
O século XIX marcou um importante processo de estagnação da economia 
brasileira, particularmente no período que se seguiu ao processo de 
12 
 
independência do país. No campo externo, crescia o déficit comercial – 
resultante, sobretudo, de dois fatores. Primeiro, a extensão de vantagens 
comerciais dadas a outros países além da Inglaterra. Segundo, as culturas da 
cana-de-açúcar e do algodão, principais fontes de recursos externos (moeda 
estrangeira, sofriam crescente concorrência no mercado internacional. 
No caso da cana, o aumento da produção de açúcar, na Europa, a partir da 
beterraba, e a pesada entrada no mercado de países como Cuba aumentaram 
sobremaneira a oferta internacional. Como conseqüências, temos a queda do 
preço no mercado externo e a redução da receita de exportação brasileira. 
No plano interno, agravava-se rapidamente o déficit público. Isso ocorreu em 
função do aumento das despesas militares. Os conflitos regionais 
multiplicaram-se, e houve também disputas territoriais, como as guerras 
cisplatinas. Além disso, o Brasil se viu obrigado a pagar uma indenização a 
Portugal para ter sua independência reconhecida. 
Durante este período, houve uma queda importante das receitas alfandegárias, 
resultado direto da adoção de medidas direcionadas à prática do Livre 
Cambismo10, que estendeu a outros países as vantagens comerciais 
concedidas à Inglaterra quando da assinatura dos tratados comerciais. 
Nesse cenário de estagnação e dificuldades de crédito, o único fator abundante 
na economia brasileira era a terra. 
 
O início da cafeicultura para exportação no Brasil 
 
Cultivado no Brasil desde o início do século XVIII, o café era, até então, um 
produto direcionado à subsistência e com difusão bastante limitada no país. 
Apenas no século XIX passou a ser incentivada sua produção para o mercado 
externo. Alguns fatores contribuíram decisivamente para isto. 
Pelo lado da demanda, o crescimento dos mercados europeu e norte-
americano, em função do avanço da indústria e da urbanização, foi 
fundamental. Ao mesmo tempo, do lado da oferta, o colapso da produção 
haitiana ( colônia francesa em processo de independência) determinou um 
importante aumento dos preços internacionais, estimulando a entrada do Brasil 
nesse mercado. 
Contava ainda, a favor do produto, uma característica crucial para o momento: 
a baixa capitalização requerida para o processo produtivo, bem mais reduzido 
que na economia açucareira – o maquinário utilizado para a produção de 
açúcar tinha um custo bem superior. 
Como resultado, na década de 1830 o café já era o principal produto de 
exportação do Brasil, superando as receitas das culturas tradicionais de açúcar 
e algodão. 
 
10 Livre Cambismo – Conjunto de medidas direcionadas para a liberação do comércio internacional – a 
redução das tarifas alfandegárias, por exemplo. 
13 
 
O início da produção de café para exportação no Brasil se deu no Vale do 
Paraíba. Tratava-se de uma região de condições climáticas propícias para o 
cultivo desse produto, com terras abundantes para o plantio. 
É importante ressaltar que o Vale do Paraíba já vinha sendo ocupado, por ser 
caminho natural da área de mineração para o Rio de Janeiro, que era a capital 
e principal porto de escoamento das exportações. 
Desta forma, havia um claro interesse na ocupação e plantio dessa área para 
abastecer a capital, principalmente após a vinda da corte portuguesa para o 
país em 1808. Além disso, havia uma razão favorável para esta localização em 
função da ausência de meios de transporte capazes de garantir o escoamento 
da produção a ser exportada a partir do porto do Rio de Janeiro. O café era 
então transportado por mulas, disponíveis em grande quantidade e bastante 
resistentes para a atividade. 
O sistema de ocupação, como em geral ocorria à época, foi realizado por meio 
do sistema de Sesmarias: as terras eram distribuídas e entregues aos 
fazendeiros de acordo com o número de escravos possuídos por eles, este 
ponto foi um dos determinantes do processo de concentração fundiária no 
Brasil. 
Neste caso, quando o a produção de café começou a ganhar peso e 
importância, elevando substancialmente a capacidade de geração de renda e 
lucros no setor, os grandes fazendeiros expulsaram os pequenos proprietários 
– sobretudo por meio de falsificação dos registros. Isso obrigava os 
minifundiários a migrar para as cidades ou a partir para regiões periféricas, 
formando cordões agregados aos grandes latifúndios. 
 
Bases e características da produção de café 
 
O café era cultivado em latifúndios monocultores de base escravista, utilizando-
se técnicas absolutamente precárias para a plantação, o que destacava a 
forma extensiva do processo produtivo. 
Tradicionalmente, o “preparo” da terra para o plantio baseava-se na derrubada 
e queimada da Mata Atlântica que cobria a região, utilizando o método vertical 
de plantação nas encostas, quando o recomendado para solos montanhosos 
seria a plantação das mudas em platôs ao longo da encosta. 
A intenção explícita dos cafeicultores era facilitar o trabalho dos escravos, 
desprovidos de qualquer experiência com o plantio do café – oriundos, em sua 
maioria, da atividade de mineração. 
É importante perceber que essa forma de utilização da terra impôs uma 
produção que ocupava áreas cada vez mais extensas, PIS a deterioração do 
solo tornava-se acelerada. 
O crédito e a comercialização do café seguiam um esquema semelhante ao 
apresentado na cultura do açúcar. Destacava-se, assim, a figura do comissário 
intermediando as transações entre fazendeiros, exportadores e importadores. A 
14 
 
maior parte do lucro resultante do café girava em torno da comercialização do 
produto, a cargo dos exportadores e dos intermediários. 
Além disso, no que se referem ao crédito, os bancos nunca forneciam 
empréstimos diretamente aos fazendeiros, que ficavam dependentes dos 
comissários para auferir os recursos necessários para a produção. Os 
comissários, por sua vez, seriam responsáveis pela venda do café, recebendo 
uma comissão remuneradora. 
Inicialmente, o café era transportado por mulas, em estradas precárias, 
causando perdas importantes de café e de escravos. Essa prática era possível 
em função da proximidade entre as áreasiniciais de plantio no Vale e o porto 
do Rio de Janeiro. À medida que a produção se expandia. E considerando sua 
natureza extensiva, outra forma de transporte tornava-se necessária. A Estrada 
de Ferro D. Pedro II foi um exemplo: foi financiada com capitais antes 
empregados no tráfico de escravos e que ficaram sem aplicações após a Lei 
Eusébio de Queiroz. 
 
O Declínio da produção de café no Vale do Paraíba 
 
A decadência da cultura do café no Vale é explicada diretamente pelas bases 
assumidas no seu processo de produção, sobretudo no que diz respeito à 
utilização das terras e à mão-de-obra escrava insistentemente empregada ao 
longo da segunda metade do século XIX, quando sua oferta tornou-se 
definitivamente escassa. 
Ao mesmo tempo, a decadência da cafeicultura implicou a inadimplência 
crescente dos produtores junto aos comissários levando-os também a uma 
situação financeira complicada. A quebra de casas comissárias, por sua vez, 
atingiu também bancos em que os comissários descontavam títulos para obter 
recursos. Esse processo foi responsável por uma importante redução da 
disponibilidade de crédito para a produção, o que dificultou ainda mais a 
continuidade do negócio. 
Como resultado, a produção do café passou a se concentrar, definitivamente, 
na região conhecida como Oeste Paulista. 
 
Aula 5: Economia cafeeira com trabalho livre 
 
A segunda metade do século XIX marcou o assentamento definitivo do café 
como principal produto de exportação do Brasil. As condições precárias do uso 
as terra caracterizavam a produção no Vale do Paraíba, causando rápida 
destruição do solo da região. Porém, o principal obstáculo para a continuidade 
do processo produtivo estava na mão-de-obra. 
A grande dispersão dos escravos era decorrente da própria estrutura 
sociopolítica brasileira, ou seja, de uma estrutura na qual não havia integração 
entra várias regiões do país. Esta falta de integração acontecia tanto em 
aspectos físicos (dificuldade de trânsito entre as regiões) quanto sociais e 
15 
 
políticos, tornando o recrutamento dos escravos uma tarefa bastante 
complicada. A utilização desse tipo de mão-de-obra disponível nas áreas 
urbanas, por outro lado, encontrava obstáculos na reduzida capacidade de 
adaptação dos escravos aos métodos e à disciplina exigidos pela lavoura 
agrícola. 
A utilização da mão-de-obra imigrante foi a solução adotada por alguns 
fazendeiros do oeste paulista como forma alternativa de superar o problema da 
mão-de-obra. A lavoura paulista do café inaugurou a inserção do imigrante na 
monocultura de exportação, permitindo a continuidade do forte ritmo de 
crescimento da cafeicultura no Brasil. 
 
O café no Oeste Paulista 
 
Alguns fatores importantes contribuíram para o deslanche da produção de café 
no oeste paulista, com destaque para: 
 
a) A existência dos solos de melhor qualidade que os do Vale do Paraíba e 
a possibilidade de utilização de técnicas mais modernas e adequadas 
para o plantio e o beneficiamento do café; 
b) O início de uma época em que as restrições ao uso da mão-de-obra 
escrava estavam cada vez mais evidentes, permitindo uma percepção 
mais clara do problema associado à inevitável escassez de escravos – e 
da necessidade de uma alternativa; 
c) A coincidência de sua expansão com um forte crescimento dos 
investimentos britânicos na América Latina, em particular na construção 
de ferrovias. Esses investimentos permitiram uma sensível redução dos 
custos de transporte dos produtos para exportação; 
d) O aumento da população dos Estados Unidos, provocado pela grande 
imigração que houve para esse país. Os norte-americanos passaram a 
impor muito, incrementando significativamente o mercado para as 
exportações brasileiras. Os Estados Unidos chegaram a ser 
responsáveis por cerca de 60% das compras internacionais do café 
brasileiro; 
e) A garantia, por parte do empreendimento cafeeiro concentrado nessa 
região, das condições básicas para o nascimento de uma nova classe, 
assentada em relações de produção tipicamente capitalistas e capazes 
de organizar com maior desembaraço seus interesses políticos e 
econômicos, cujo papel consolidou-se na República Velha. 
 
Informações adicionais: 
 
Abolição da Escravatura: Em 1888, foi abolida a escravidão no Brasil. As 
conseqüências econômicas deste ato logo se fizeram sentir na economia e na 
política nacional. 
16 
 
Dois conceitos são entendidos por abolição da escravatura: 
 O conjunto de manobras sociais e políticas empreendidas entre período 
de 1870 a 1888 em prol da libertação dos escravos e a própria 
promulgação da Lei Áurea, assinada pela princesa Isabel em 13 de maio 
de 1888, promovendo a oficialização da abolição do regime escravista; 
 A mão-de-obra proveniente de novas correntes imigratórias passou a ser 
empregada. Os negros, por um lado libertos, não possuíam instrução 
educacional ou especialização profissional que passou a ser exigida, 
decorrendo desses aspectos a permanência dos negros à margem da 
sociedade frente à falta de oportunidades a eles oferecidas. A liberdade 
dada aos negros anteriormente escravizados é relativa: embora não 
mais escravizados, nenhuma estrutura que garantisse a ascensão social 
ou a cidadania dos negros foi oferecida. 
 
 
A produção do café no oeste paulista apresentou duas formas bem marcada de 
utilização de mão-de-obra imigrante. Primeiro acontecei o sistema de parceria, 
marcando o chamado oeste velho paulista, momento inicial de inserção de 
imigrantes. A segunda forma, o sistema de colonato, no oeste novo paulista, 
inaugurou a formação das bases de relações capitalistas de produção. 
 
O Oeste Velho Paulista: O sistema de parceria 
 
O ano de 1845 marca a primeira experiência de utilização da mão-de-obra de 
imigrantes na monocultura exportadora do café, na fazenda Ibicaba. 
O sistema consistia de uma proposta divulgada na Europa por agentes 
contratados por Vergueiro visando contratar trabalhadores dispostos ao serviço 
na lavoura, recebendo em troca lotes de pés de café adultos – preparados, 
portanto, para a produção. Metade do valor da colheita (cotas de pagamento) 
seria dos imigrantes, logicamente após a dedução dos custos de transporte, 
impostos e comissões – daí a definição parceria. Ao trabalhador caberia ainda 
a exploração de lotes de subsistência – e, se houvesse excedentes, seriam 
também repartidos com o proprietário. Apesar do conceito de parceria, todo o 
processo de comercialização e contabilidade ficava a cargo do proprietário. 
No entanto, o que acontecia era uma situação completamente distinta daquela 
apregoada pelos agentes de Vergueiro no recrutamento dos imigrantes na 
Europa. Começava pelas péssimas condições de traslado, muitos imigrantes 
morreram antes de chegar ao Brasil, devido à falta de higiene, que 
proporcionava o desenvolvimento de uma série de doenças. 
Ao chegar, a primeira novidade para os “colonos” (como o Senador 
denominava esses imigrantes) era a obrigação de pagamento de todo o custo 
de seu transporte, além do pagamento de juros de 6% ao ano pelo 
adiantamento oferecido para a manutenção dos trabalhadores durante o 
primeiro ano de sua chegada. Os imigrantes eram obrigados, por contrato, a 
17 
 
permanecer pelo menos quatro anos na fazenda. Além disso, a família 
imigrante era a responsável legal por cada um de seus membros, de maneira 
que, se algum morresse, os outros deveriam arcar com o pagamento de sua 
dívida. 
Apesar destas condições extremamente desfavoráveis, incluindo as mortes e 
doenças decorrentes dos maus-tratos e da longa e contínua jornada de 
trabalho, as safras foram abundantes e os termos de contrato estavam sendo 
cumpridos. 
 
Sistema de Parceria: A escravidão disfarçada e seus limites 
 
O grande problema do sistema de parceria dizia respeito à relação 
fazendeiros/colonos, que era na verdade uma continuação das condições de 
escravidãonas bases do trabalho e do nível de vida. Não houve uma mudança 
ideológica por parte dos fazendeiros no que se refere ao trabalho: 
consideravam e tratavam os imigrantes realmente como escravos. Para isso, 
utilizavam má-fé nos contratos, já altamente desvantajosos para os imigrantes, 
de maneira que a insatisfação tornava-se crescente tanto para os colonos 
quanto para os fazendeiros. 
As cláusulas contratuais, em realidade, prendiam os imigrantes à fazenda 
eternamente, sob rigoroso controle e supervisão dos fazendeiros – como era a 
função dos capatazes para os escravos africanos. Diversos direitos do colono, 
mesmo previstos em contrato, eram suprimidos sem qualquer pudor. Como 
exemplo, sair da fazenda e receber visitas era atividades proibidas. A moradia 
dos imigrantes era, em geral, uma “adaptação” das antigas instalações das 
senzalas. 
Os fazendeiros impunham ainda rigorosas punições aos colonos, sob a 
argumentação de vadiagem, embriaguez e outras situações semelhantes. Tudo 
isso apoiado em uma situação de endividamento eterno dos imigrantes junto 
aos patrões fazendeiros – à custa de manipulação desonesta dos livros de 
contabilidade da fazenda, práticas de subfaturamento da produção e até 
aumento indiscriminado da dívida registrada. 
Para os fazendeiros, os colonos representavam a ralé da população dos países 
de origem, gente desordeira e pouco afeita ao trabalho – como os escravos, 
mas agora disfarçados na pele branca. Tratava-se, portanto, de uma situação 
insustentável. 
 
O Oeste Novo Paulista e o Sistema de Colonato 
 
Apesar dos conflitos internos do sistema de parceria e da impossibilidade de 
continuação daquele processo de recrutamento da mão-de-obra imigrante, a 
“falta de braços” para a expansão da lavoura agrícola cafeeira persistia. O 
problema residia no fato de que a imagem do Brasil como um possível espaço 
para a realização de homens pobres europeus vinha sendo desfeita a passos 
18 
 
largos. A divulgação na Europa dos maus-tratos conferidos aos imigrantes em 
São Paulo repercutia de maneira bastante negativa. 
Ao mesmo tempo, a empresa cafeeira ascendente começava a dar mais corpo 
político aos fazendeiros (os barões do café), cuja participação no processo de 
decisões tornava-se cada vez mais decisivas. A capacidade de vislumbrar com 
clareza o problema da escassez de mão-de-obra em um ambiente hostil para a 
imigração exigiu a definição de novas formas de atração dos estrangeiros. 
No entorno de 1870, o colonato aparecia como o novo formato encontrado para 
garantir os fluxos de imigração para a cafeicultura, trazendo mudanças 
significativas em relação ao sistema de parceria. 
Além da criação de uma forma de pagamento direto ao colono, pelo menos em 
parte do total que era devido pelo seu trabalho na lavoura, o fazendeiro foi 
obrigado a arcar com despesas de viagem e do primeiro ano de trabalho. 
Também era concedida ao imigrante uma fatia de terra para o plantio de artigos 
para a subsistência. 
Um passo fundamental para a dinamização do sistema de colonato foi a 
utilização do governo da província de São Paulo para custear o transporte para 
o Brasil, além da instalação dos estrangeiros. O governo paulista participava 
diretamente na contratação de imigrantes, principalmente através da 
Sociedade Promotora de Imigração, em 1886, por iniciativa de Antônio de 
Queiroz Telles, o conde de Parnaíba. Nesse período, o contingente mais 
importante de imigração era de italianos, vindos principalmente devido ao 
violento processo de unificação das Itália. 
No último quartel do século XIX, algo em torno de 800 mil imigrantes entrou no 
Brasil para produção de café, garantindo definitivamente as condições básicas 
do crescimento de sua produção. 
 
 
Aula 6: Políticas de sustentação da renda da cafeicultura na República 
Velha 
 
A república Velha (ou Primeira República 1889-1930) começou com a 
proclamação da República e teve fim na Revolução de 1930. No novo regime, 
duas mudanças foram muito expressivas: o povo passou a escolher os 
governantes, ainda que sujeito a grandes restrições, e a Igreja foi legalmente 
separada do Estado, por meio de uma Constituição. 
 No entanto, a República Velha não mudou o fato de o Brasil ser o país do café 
e dos grandes latifúndios. Os donos destas propriedades, chamados coronéis, 
impunham seu poder sobre os empregados, submetendo-os ao voto de 
cabresto. Isso fazia com que o poder político da região também estivesse sob 
seu domínio. Esse período da História ficou conhecido como República do 
Café-com-leite, pois o poder político se concentrou nas mãos das oligarquias 
paulista (responsável por produzir o café) e mineira (responsável pela produção 
de leite). 
19 
 
O início da República Velha foi caracterizado por condições altamente 
favoráveis para a acumulação de capital na cafeicultura. 
O final do século XIX marcou um importante fluxo de imigrantes europeus para 
o país, atraídos particularmente pela cultura cafeeira desenvolvida em São 
Paulo. Isso aconteceu porque o governo brasileiro criou uma série de estímulos 
para a vinda desses estrangeiros (em sua maioria européia) e porque a 
Argentina, concorrente de peso para o Brasil no abrigo de imigrantes, passou 
por um período de estagnação econômica durante toda a década de 1890. 
Além desses motivos, os chamados fatores de expulsão na Europa (como o 
violento processo de unificação na Itália e na Alemanha), bem como a crise 
econômica que se iniciou nos Estados Unidos a partir de 1893, contribuíram 
para o processo de imigração. 
A cafeicultura encontrou uma situação especial de ampliação das terras 
disponíveis para o cultivo, decorrente da importante expansão da malha 
ferroviária no espaço paulista. Esses fatores conjugados (espaço e mão-de-
obra) permitiram um relevante aumento da capacidade produtiva do café. 
A grande entrada de mão-de-obra imigrante garantiu a manutenção de taxas 
salariais em um nível bastante reduzido. Como mão-de-obra é um dos 
principais determinantes do preço de um produto, foi possível haver aumento 
da produção sem aumento associado dos custos médios. Dessa forma, a 
cafeicultura experimentou grande aumento na acumulação de capital, 
persistindo, em consequência, o aumento sistemático da população. 
 
1889/1898: Desvalorização cambial e sustentação da renda da cafeicultura 
 
No final da década de 80 do século XIX, os preços internacionais do café 
seguiram uma trajetória sistemática de alta, ampliando as margens de lucro do 
setor. Isso era resultado do crescimento as demanda norte-americana, 
responsável por cerca de 60% das compras de café no mercado internacional e 
pela quebra da safra brasileira em 1887/88 e 1889/90, o que reduziu 
significativamente a oferta. É importante salientar que a produção brasileira 
representava, naquele momento, algo em torno de ¾ da oferta total de 
exportações do café no mundo. 
 
 
Informações Adicionais: 
 
Taxa de Câmbio e Mercado Cambial 
 
Antes de entender o que significam estes dois conceitos, você precisa ter em 
mente que as transações financeiras e comerciais entre países diferentes 
sempre acontecem usando uma moeda como referência. 
Nos dias de hoje, o dólar é esta moeda, por ser o dinheiro do país 
economicamente mais forte do mundo, os EUA. Na época da Primeira 
20 
 
República, as negociações aconteciam em libras, pois estas eram (e ainda são) 
a moeda da Inglaterra. 
Taxa de Câmbio é o valor da moeda nacional em relação a uma moeda 
estrangeira (quantos reais custam um dólar, por exemplo). Ela é determinada, 
fundamentalmente pelas transações de compra e venda de moeda estrangeira, 
que acontecem em um “ambiente virtual”, o mercado de câmbio. Os agentes 
envolvidos neste mercado são, em geral, demandantes e ofertantes de moeda 
estrangeira. 
As fontes de demanda por moeda estrangeira são: 
 
 Gastos com importações de bens e serviços; 
 Pagamentosde dívidas contraídas anteriormente com outros países; 
 Remessas de lucros para matriz de empresa multinacional; 
 Aplicações financeiras no exterior. 
 
A oferta de moeda estrangeira caracteriza-se por: 
 
 Receitas de exportação de bens e serviços; 
 Dívidas contraídas; 
 Rendas recebidas; 
 Aplicações financeiras de estrangeiros no Brasil. 
 
O Banco Central é o gestor da política cambial, pois aumenta ou diminui a 
oferta de moeda estrangeira, podendo controlar, por esse mecanismo de oferta 
e procura as taxas de câmbio. Suas principais atribuições no mercado de 
câmbio são: 
 
 A regulamentação do mercado cambial; 
 A aplicação de medidas relativas ao regime cambial (fixo ou flutuante) 
definidas pela política governamental. 
 
Uma desvalorização da taxa de câmbio representa o aumento do preço da 
moeda estrangeira, encarecendo os produtos importados e aumentando as 
receitas de exportações em moeda nacional. 
O principal instrumento de análise dos efeitos das operações no mercado 
cambial para o país é o Balanço de Pagamentos. É uma razão entre as 
operações de bens e serviços (transações correntes) e as de natureza 
financeira (conta de capital e conta financeira). 
 
 
A partir de 1891, no entanto, o contínuo avanço da produção entrou em 
descompasso com o crescimento do mercado externo, principalmente após o 
21 
 
início da prolongada crise econômica que passou a assolar a economia norte-
americana em 1893. 
Nosso país produzia mais café (aumentava a oferta) e não havia resposta da 
economia mundial na mesma medida. Houve uma queda sensível do preço 
internacional do café, revertendo a tendência de alta dos preços até então 
registrada, determinando uma redução da receita das exportações, que era 
nosso principal produto de exportação desde a metade do século XIX. 
Em decorrência da queda de preços do café, o Balanço de Pagamentos sofreu 
um impacto importante, promovendo mudanças na condução da política 
econômica do Brasil. Esse movimento provocou o início de um ciclo de 
desvalorização da taxa de câmbio que marcou de maneira expressiva os 
primeiros anos da República Velha. 
 
O círculo vicioso da desvalorização cambial e suas principais conseqüências 
 
A desvalorização cambial era uma realidade decorrente de dois fatores: 
 
1. Redução da entrada de moeda estrangeira no país, devido à queda do 
preço internacional do café; 
2. Pressão política exercida pelos cafeicultores, visando preservar seus 
ganhos em moeda nacional; 
 
 
O uso do imigrante substituindo o trabalho escravo estava cristalizado apenas 
na produção de café, de maneira que as demais atividades produtivas 
necessitavam de recursos para sua recuperação. Nessa direção, foi 
implementada uma política de emissão monetária na gestão de Rui Barbosa 
como ministro da Fazenda do governo provisório de Deodoro da Fonseca que 
ficou conhecida como Encilhamento11. 
Essa política, entretanto, causou uma profunda desordem financeira na 
economia brasileira. O encilhamento teve efeitos diretos sobre a taxa de 
câmbio e contribuiu fortemente para uma desvalorização cambial mais intensa. 
Este processo, todavia, determinava a formação de um círculo vicioso, na 
medida em que, apesar da queda do preço internacional do café, a sustentação 
das receitas em mil-réis para os produtores e exportadores de café os 
estimulava a aumentar ainda mais a produção. 
 
 
 
 
 
 
11 Encilhamento – política financeira de estímulo à indústria, adotada por Rui Barbosa. Baseava-se no 
incremento do meio circulante com a criação de bancos emissores. 
22 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Processo de manutenção das receitas dos produtores e exportadores de café 
 
A depreciação do câmbio invertia a trajetória dos preços internacionais quando 
convertidos para os preços em mil-réis: enquanto os preços internacionais do 
café caíam expressivamente, os cafeicultores recebiam mais, em mil-réis, pela 
venda do produto. 
A longo prazo, manter essas condições mostrava-se inviável. A desvalorização 
cambial determinava uma elevação dos preços dos produtos importados – 
base da cesta de consumo brasileira, uma vez que pouco era produzido para o 
mercado interno. Assim, a subsistência tornava-se mais cara em moeda 
nacional, forçando o aumento dos salários, base dos custos de produção da 
cultura cafeeira. Seguindo esta tendência, o aumento dos custos seria 
responsável pela redução da margem de lucro da cafeicultura, reduzindo seu 
espaço para acumulação de capital em longo prazo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
As conseqüências da desvalorização cambial em longo prazo. 
Aumento da produção 
brasileira de café. 
Elevação da oferta 
internacional do café. 
Redução do preço 
internacional do café. 
Queda da receita de 
exportações do café. 
Redução da oferta de 
moeda estrangeira no 
Brasil. 
 
Desvalorização cambial 
Aumento dos preços 
internos e da receita 
em moeda nacional. 
Queda dos preços do café em moeda 
estrangeira. 
Desvalorização cambial – aumento do 
preço do café em moeda nacional. 
Perda do poder de compra de produtos 
importados com moeda nacional, 
Necessidade de aumento dos salários. 
Aumento nos custos da produção do café. 
Redução dos lucros dos cafeicultores. 
23 
 
De maneira mais dramática em curto e médio prazo, a desvalorização cambial 
afetava também as finanças públicas. A redução nas importações diminuía 
sistematicamente a receita do governo, que tinha nas arrecadações de 
impostos sobre os produtos importados sua maior fonte. 
O fim da tarifa-ouro12 aplicada sobre as importações em 1891 agravava esse 
quadro, corroendo a capacidade da arrecadação do Estado. Ao mesmo tempo, 
a maior fonte de financiamento público era o endividamento externo, cujo 
pagamento é efetivado em moeda estrangeira – a desvalorização cambial 
implicava, portanto, aumento das necessidades de gasto do governo. 
Quanto menor a entrada de moeda estrangeira no país, maior o risco de não 
pagar as dívidas e, obviamente, menor a oferta de novos empréstimos. 
 
O governo Campos Sales (1898-1902) e o “Saneamento Monetário” de 
Joaquim Murtinho 
 
Quando a República foi proclamada, instaurou-se um governo provisório, 
comandado pelo marechal Deodoro da Fonseca. Deodoro se manteve no 
poder até novembro de 1891, quando tentou dar um golpe de Estado e 
dissolver o Congresso. A campanha legalista de Floriano Peixoto, outro militar, 
derrotou as pretensões de Deodoro colocando Floriano Peixoto no poder, o que 
prolongou até 1894 a República da Espada. 
Prudente de Moraes deu início ao período que ficou conhecido como República 
Café-com-Leite e consolida a presença dos civis no governo do país. Foi 
substituído, ao final de seu mandato, por Campos Sales, também 
representante da oligarquia cafeeira paulista. 
Apoiada em um discurso de base liberal, que valorizava o papel do mercado e 
os efeitos negativos da intervenção governamental, a política econômica do 
grupo Campos Sales citava a ineficiência produtiva no Brasil (tanto no campo 
quanto na indústria nascente) como justificativo para uma mudança radical nos 
rumos do país. O principal mentor desse governo era o ministro da Fazenda, 
Joaquim Murtinho. 
Na verdade, a meta primordial do presidente era a obtenção de novos recursos 
externos para resolver o problema da solvência das finanças públicas. Logo ao 
tomar posse, o novo presidente foi à Europa em busca desses recursos. 
Campos Sales assinou o II Funding Loan13, negociando uma consolidação da 
dívida externa brasileira com novas condições (mais favoráveis) de pagamento. 
Em contrapartida, firmou uma série de compromissos para a condução da 
política econômica do país. 
 
12 Tarifa-ouro: Imposto cobrado pelo governo em ouro, evitava que o governo perdesse dinheiro natroca de moeda, aumentando as reservas do Estado. 
13 Funding Loan: Moratória concedida pelos credores a um Estado devedor. Em troca, são emitidos 
novos títulos correspondentes aos encargos da dívida e das operações com excedentes comerciais. 
24 
 
O objetivo principal da nova política econômica era bastante claro: definir uma 
trajetória de saneamento monetário capaz de impor uma inversão dos 
movimentos da taxa cambial, permitindo a valorização da moeda nacional. Por 
trás disso estava o firme propósito de garantir condições para o pagamento da 
dívida externa consolidada no início do governo. 
Para isso, o governo empreendeu esforços significativos buscando a redução 
do déficit e a retirada de circulação de moeda no valor equivalente à dívida a 
ser paga (de acordo com a taxa cambial definida na época). Havia ainda a 
necessidade de depositar esse montante em bancos estrangeiros 
predeterminados no acordo firmado com os credores. 
Do ponto de vista fiscal, foi novamente aplicado a tarifa-ouro para as compras 
de importados, o que garantia para o governo uma receita em moeda 
estrangeira. Essa tarifa sofreu aumentos importantes a partir de 1990. 
Os efeitos dessa política foram bastante sentidos pela população, com 
destaque para uma pesada diminuição do nível de atividade econômica 
decorrente de uma forte retração da oferta de moeda e crédito e da Deflação 
14associada a essa retração (cerca de 30%). 
Em consequência, o câmbio foi efetivamente valorizado e mantido sob controle 
durante a vigência dessas medidas de política econômica. Em contrapartida, a 
economia brasileira acabou sofrendo os efeitos dessa política com o Pânico 
Bancário do Rio de Janeiro em 1900 ( dada a retração da oferta de moeda) e 
uma importante recessão – afetando os negócios em geral e, particularmente, 
os cafeicultores, que pressionavam para uma mudança nos rumos da política 
adotada. 
 
 
Informações Adicionais: 
 
Pânico Bancário no Rio de Janeiro e 1900 
 
Quando o Brasil assinou o Funding Loan, houve a retirada de muito papel-
moeda de circulação. Isto aconteceu devido às condições do contrato 
assinado, que solicitava que parte da dívida fosse depositada em bancos 
internacionais como garantia. A retirada de dinheiro de circulação causou uma 
enorme crise econômica. Diante da impossibilidade de uma nova política de 
emissão (considerando a perturbação econômica gerada pelo Encilhamento), o 
governo resolveu utilizar o dinheiro do principal banco brasileiro dessa época, 
O Banco Republicano Brasileiro (BRB), este fato gerou muita preocupação na 
sociedade. 
 
14 Deflação: queda do índice geral de preços de um país, geralmente associada a uma retração do nível 
de atividade econômica. 
25 
 
O BRB foi liquidado e reestruturado, agora sob controle do governo, que se 
responsabilizou pelas dívidas e gerou títulos que poderiam ser resgatados mo 
futuro. Isso, de certa forma, apaziguou a eminente crise da sociedade. 
 
A nova forma de valorização do café – o convênio de Taubaté 
 
Nesse período, em contrapartida, cresciam as demandas, sobretudo dos 
cafeicultores, para um direcionamento mais flexível que permitisse a retomada 
do crescimento econômico. De certa forma, o aumento da população urbana e 
a necessidade de investimentos em infra-estrutura – principalmente nas áreas 
de saneamento, urbanização, portos e estradas de ferro – garantiram uma 
importante retomada do nível de atividade da economia brasileira. 
A estabilidade monetária e a constante pressão para valorização cambial 
deixavam insatisfeitos os cafeicultores, que viam suas receitas recorrentemente 
reduzidas ou ameaçadas. A situação agravava-se toda vez que havia uma 
previsão de safra excedente na produção de café, 
Havia, portanto, a ameaça de mais uma crise de superprodução. Exercendo 
sua enorme capacidade de interferência no poder, especialmente através do 
governo da província de São Paulo, os cafeicultores conseguiram negociar 
uma vantajosa solução para o problema. Conhecida como Convênio de 
Taubaté, esta solução foi firmada em 1906 pelos presidentes das províncias de 
São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, - os três maiores produtores de café 
-, mesmo contando com a oposição de Rodrigues Alves, o então presidente da 
República. 
O Convênio estabeleceu que: 
 
a) Haveria a compra de excedentes de produção pelos governos estaduais 
envolvidos; 
b) A compra seria viabilizada por meio de um financiamento de 15 milhões 
de libras esterlinas; 
c) O gasto com a compra do excedente de café seria coberto pela criação 
de um imposto em ouro aplicado a cada saca exportada de café; 
d) Um fundo seria criado para estabilizar a taxa de câmbio, impedindo sua 
constante valorização – que funcionaria na forma de uma Caixa de 
Conversão; 
e) Seriam tomadas medidas para desencorajar a expansão das lavouras 
no longo prazo, como a definição de taxas proibitivas. 
 
Essas medidas mudariam significativamente a orientação da política 
econômica do país no que diz respeito às exportações de café. O Convênio 
de Taubaté determinou, nesse sentido, a institucionalização da prática de 
controle de estoques para regular o preço internacional. Artifício permitido 
pela enorme parcela do mercado internacional ocupada pela produção 
brasileira. 
26 
 
Todavia, apesar do sucesso alcançado na estabilização dos preços 
internacionais, a prática acabou induzindo uma forte concentração na 
atividade cafeeira. Os maiores lucros acabaram direcionados para os 
operadores do mercado financeiro, com destaque para os banqueiros 
internacionais e as casas comissárias, que compravam o produto na baixa e 
vendiam na alta. 
Os banqueiros internacionais, inclusive, passaram a dominar o comércio do 
café, credenciados pela dívida externa crescente, e adquiriram grandes 
fazendas dos produtores nacionais. 
Além disso, a manutenção de altos preços e da receita de exportação 
inviabilizava qualquer tentativa de desestimular o crescimento das lavouras, 
tornando o problema insolúvel no longo prazo. 
 
 
Aula 7: Origens dos desequilíbrios regionais no Brasil 
 
O Brasil faz parte do grupo das 15 maiores economias mundiais, além de já 
ter representado, na década de 1980, o oitavo maior Produto Interno Bruto 
(PIB)15 do mundo. Apesar dos resultados tão animadores, é um dos 
campeões de desigualdade econômica. 
 
Os desequilíbrios regionais são uma marca da economia brasileira 
 
O desequilíbrio econômico entre as regiões distingue os países mais 
desenvolvidos dos menos desenvolvidos. Canadá e Estados Unidos, por 
exemplo, são países onde há pouca discrepância em relação ao 
desenvolvimento entre os estados e menos desequilíbrios internos. Em 
nenhum deles, entretanto, um estado tem peso econômico expressivamente 
superior aos demais, como acontece no Brasil, onde São Paulo participa 
com um terço do PIB brasileiro. 
A maneira como a população esta distribuída no território também é um 
indicador dos desequilíbrios regionais do país. Outro indicador dos 
desequilíbrios regionais é a distribuição do PIB por regiões. 
Os desequilíbrios regionais sempre fizeram parte de nossa realidade. Em 
nosso país, até meados do século XIX, as regiões eram caracterizadas 
como ilhotas regionais, sem guardar relações econômicas entre si. De 1850 
a 1930, a expansão cafeeira e a industrialização romperam este isolamento 
regional, fazendo surgir uma economia centrada em São Paulo. Isso tornou 
as demais regiões dependentes do dinamismo paulista. 
 
Nordeste: do auge açucareiro à estagnação 
 
15 Produto Interno Bruto: Valor agregado de todos os bens e serviços finais produzidos dentro de um 
país. É uma medida da riqueza do país em um período de tempo determinado. 
27 
 
O Nordeste atravessou um processo secular de estagnação, tornando-se 
umaárea de emigração. No entanto, foi nessa região que se desenvolveu a 
primeira atividade econômica importante do país: a agroexportação 
canavieira. Além da cana-de-açúcar, foram importantes a pecuária e a 
cultura do algodão, cotonicultura. Nenhuma dessas, todavia, trouxe as 
condições para a superação da crise. 
O engenho de açúcar, unidade de produção típica, apresentava grau de 
auto-subsistência, o que implicava baixa circulação interna de dinheiro, 
tornando a economia local pouco afetada pelas oscilações observadas na 
renda das exportações da cana-de-açúcar. No entanto, a partir de meados 
do século XVII, a rena das exportações caiu devido ao declínio dos preços 
internacionais do açúcar, e a agroexportação mergulhou em uma crise que 
impediu o seu processo de desenvolvimento. 
Segundo Celso Furtado (1971), as necessidades de abastecimento interno 
no âmbito da economia canavieira referiam-se apenas as fontes de energia: 
madeira para lenha e animais como meio de transporte. A ocupação 
extensiva da cana diminuía a disponibilidade desses recursos nos 
engenhos, levando os grandes proprietários a comprá-los dos pequenos 
produtores locais. 
A pecuária e a cultura do algodão (cotonicultura) foram importantes 
instrumentos de ocupação do interior nordestino. Entretanto, ao se 
manterem como atividades de baixa produtividade, não contribuíram para a 
formação de um mercado interno que sustentasse o desenvolvimento 
industrial da região. 
 
Pecuária 
 
Em função das relações mercantis, inicialmente no Nordeste, desenvolveu-
se uma atividade pecuária, que foi a projeção da economia canavieira. A 
pecuária foi, portanto, mais importante como atividade de ocupação do 
território do que por sua contribuição à economia colonial. Por meio dela, foi 
possível ocupar o interior do país. Esta atividade serviu também como 
“amortecedor” das crises da cana-de-açúcar, ao abrigar trabalhadores que 
se tornaram desnecessários para a economia canavieira, durante a crise. 
Outra vantagem da pecuária em relação às demais atividades voltadas para 
o mercado externo era não demandar investimento inicial elevado. 
Tampouco eram necessários gastos operacionais, tratando-se, assim, de 
uma atividade muito resistente às crises. 
Como atividade canavieira, a pecuária teve um papel fundamental para a 
formação do que Furtado chamou “reservatório de mão-de-obra”. Isso 
explica por que, mesmo com a economia nordestina estagnada, a região 
participava com 40% da população brasileira ainda em 1900, tendo se 
tornado a maior região de emigração ao longo do século XX. 
 
28 
 
Algodão: uma alternativa para a cana-de-açúcar 
 
Outra importante cultura nordestina foi a do algodão, considerada como 
uma alternativa à crise da economia canavieira no século XVIII, dada a 
identificação da Revolução Industrial com a indústria têxtil. 
Importante matéria-prima industrial, o algodão nordestino somente 
conheceu desenvolvimento nos momentos em que os produtores 
tradicionais experimentaram crises, como na Guerra Civil norte-americana. 
Terminado o conflito, as exportações de algodão caíram. 
No entanto, essa cultura proporcionou o aparecimento de atividades 
industriais têxteis no início do século XX, sendo abortada na crise de 1929. 
Passada a crise, a cotonicultura paulista, tecnologicamente mais moderna, 
limitou o crescimento dessa atividade e, consequentemente, seu dinamismo 
como fonte de renda da economia nordestina. 
 
A região das Minas: a ilusão do ouro 
 
Outra região brasileira em que se sentiram intensamente os efeitos da 
atividade econômica realizada pela colônia foi a região das minas, 
localizada principalmente no Estado de Minas Gerais, no Sudeste. No 
século XVIII, a descoberta de ouro na região gerou um grande movimento 
migratório para o interior, inclusive de portugueses. 
Por tratar-se de uma atividade que não dependia da propriedade de terras, 
o garimpo atraiu todo tipo de trabalhadores, até mesmo os ex-escravos que 
conseguiram comprar sua liberdade. Diferente da fazenda de açúcar, onde 
havia produção de subsistência, a atividade garimpeira era totalmente 
voltada para a produção mercantil. 
Devido a inexistência de agricultura nas áreas de garimpo, o abastecimento 
da população garimpeira gerou um comércio de longa distância, incluindo 
desde os produtores primários do Sul do país até os criadores do Nordeste. 
Outra característica que distinguia a mineração da cultura canavieira era a 
concentração da população em cidades, necessitando de abastecimento 
alimentar, o que impulsionou a economia do interior da Colônia. 
O isolamento geográfico, conjugado ao curto período do chamado “ciclo do 
ouro”, fez com que as atividades manufatureiras voltadas para o mercado 
interno não se mostrassem sustentáveis. 
 
O Sul: Latifúndio e Indústria Regional 
 
A ocupação do que é atualmente o Rio Grande do Sul foi movida pela 
colonização de povoamento, com o imigrante europeu estabelecendo-se 
como pequeno proprietário, não estando aí presente o trabalhador escravo. 
A principal atividade econômica era a pecuária além da produção agrícola, 
voltadas para o mercado interno. 
29 
 
No rio Grande do Sul, o território foi dividido segundo a utilização em 
distintas atividades. Ao sul, predominava a pecuária, baseada no latifúndio 
e empregando pequeno número de trabalhadores. Ao norte, predominava a 
agricultura, com base no trabalho extensivo que a imigração européia 
propiciou. 
Diferentemente das economias cafeeira e mineira, a economia do extremo 
sul encontrou, no mercado interno, sua estratégia de desenvolvimento. 
Inseriu-se na economia brasileira pela oferta de alimentos, tornando-se o 
primeiro celeiro do país (grande produtor de alimentos). 
 
 
Amazônia: O “ciclo” da borracha 
 
É sempre bom lembrar que falar de ciclos na economia colonial não 
significa que, ao final do período de predomínio daquele produto, há um 
retrocesso às condições econômicas anteriores. A experiência dessas 
atividades quase sempre tem impacto favorável na economia local. Houve, 
entretanto, um caso de regressão à situação vigente antes do início do 
ciclo: a do Amazonas, após o ciclo da borracha. 
De 1870 a 1920, as exportações de látex da Amazônia atingiram tamanha 
proporção que a região conheceu a prosperidade de que é testemunha o 
Teatro Amazonas, de Manaus. Em alguns momentos, o valor das 
exportações de látex atingiu aproximadamente 75% do valor das 
exportações de café. 
A atividade extrativista atraiu grande contingente migratório, em grande 
parte proveniente do Nordeste, onde a estagnação econômica associada às 
periódicas secas expulsava trabalhadores, que se submetiam a relações de 
trabalho caracterizadas por grande vulnerabilidade. 
A economia da borracha era uma atividade nômade, que pouco fixava o 
trabalhador à terra. Pelo seu caráter extrativista, o trabalhador era 
contratado sob esquema do avivamento, recebendo em espécie, com 
pequena parcela em dinheiro, e levado a adentrar o território em busca de 
novas seringueiras. Tratava-se assim, de uma economia em que havia 
pouca circulação de dinheiro, não favorecendo o surgimento das cidades – 
com exceção daquelas portuárias, para onde a borracha era transportada, 
com fins de exportação. O desenvolvimento de uma agricultura mercantil 
não era estimulado. 
Outro fator que limitou o impacto do ciclo econômico da borracha foi o fato 
de que sua infra-estrutura de transportes era constituída por rios e canais 
fluviais, abundantes na Região Norte. Não houve, portanto, investimentos 
em malha ferroviária, ao contrário do ocorrido na região cafeeira. 
A conjunção desses fatores – atividade extrativista, relações de trabalho 
baseadas no aviamento e inexistência de investimento no sistema de 
transporte – não permitiu que a crise do ciclo da borracha pudesse ser 
30 
 
superada com o desenvolvimento de outra atividade de maior dinamismo,como aconteceu com a indústria, na região do café. 
 
 
São Paulo: do café à industrialização 
 
A cultura do café transformou a economia paulista, proporcionando-lhe as 
bases para que sua crise fosse superada pela transferência de recursos 
para a atividade industrial. 
São Paulo foi a única região em que uma atividade agroexportadora teve 
sua crise superada pelo surgimento de uma atividade mais dinâmica: a 
indústria. Esta, por sua vez, transformou São Paulo na “locomotiva” do PIB 
brasileiro, atingindo um percentual equivalente a 39,4%, em 1970. Tamanha 
polarização econômica transformou a capital estadual – que, no século XIX, 
não passava de uma pequena cidade, se comparada com as maiores 
cidades brasileiras da época – na maior metrópole sul-americana. 
A partir de 1880, São Paulo tornou-se o maior produtor do país. Esse 
desempenho está associado a quatro fatores principais: 
 
 Técnicas de produção que sustentavam a fertilidade do solo por mais 
tempo do que no cultivo da província fluminense; 
 Disponibilidade de terras; 
 Implantação da malha ferroviária; 
 Mão-de-obra livre. 
 
Por ser uma cultura que se instalara inicialmente em terras fluminenses, a 
economia cafeeira na nova área de expansão da produção pôde ultrapassar o 
conhecimento técnico acumulado e desfrutar de maior produtividade e, 
portanto, de maior lucratividade. 
A oferta de terras ampliou-se com a expansão da malha ferroviária, permitindo 
o aproveitamento de território mais distante do litoral. Além de proporcionar 
essa maior disponibilidade de recursos naturais e deslocamento a custos 
decrescentes, a expansão ferroviária transformou-se em infra-estrutura de 
apoio à atividade industrial que ia se instalando, sucedendo a cultura do café. 
Finalmente, o fator mais importante a favor da cultura cafeeira paulista, em 
relação à fluminense, estava nas relações de trabalho, livre no oeste paulista e 
escravo no Estado do Rio de Janeiro. A proibição do tráfico negreiro, em 1850, 
elevou os preços dos escravos, o que estimulou a emigração de trabalhadores 
europeus, interessados em se tornar pequenos proprietários. A necessidade de 
poupar fez do emigrante um trabalhador muito mais produtivo do que o 
escravo. Além disso, o trabalhador livre era consumidor. E o escravo não era, o 
que impactava significativamente a formação do mercado consumidor, 
necessário para estimular o surgimento de indústrias. 
 
31 
 
A cultura do café e o surgimento de cidade 
 
Por ser uma atividade muito dependente de mão-de-obra, houve estímulo ao 
surgimento de muitas cidades: ao deslocar-se o plantio de novos cafezais, a 
terra era reconvertida para outros usos agrícolas, intensificando uma 
agricultura mercantil iniciada pelos trabalhadores em regime de colonato. Ao 
receber permissão para cultivar alimentos paralelamente ao café, os 
trabalhadores produziram uma agricultura mercantil que permitiu o 
abastecimento das cidades, contribuindo para sua consolidação, e 
conseqüente não-reversão, como no caso da Amazônia. 
Quando a economia cafeeira passou a enfrentar crises de superprodução, a 
partir de 1894, a reação foi o estabelecimento de política de sustentação da 
renda dos cafeicultores, inicialmente através das desvalorizações cambiais, 
que permitiam a manutenção da receita das exportações, sustentando-lhe a 
lucratividade ao mesmo tempo em que encarecia as importações. Isso criava 
estímulo à industrialização substitutiva de importações. 
A partir de 1906, a política de sustentação da renda da cafeicultura passou a 
ter como base a compra dos excedentes de produção, o que continuava a 
assegurar a renda do negócio e, portanto, o nível de emprego nessa atividade. 
A manutenção do nível de emprego e o encarecimento das importações 
levaram à migração dos lucros da atividade cafeeira para financiar os 
empreendimentos industriais. 
Portanto, a expansão cafeeira para o oeste paulista criou as bases para a 
emergência da indústria. 
A superação da crise cafeeira pela indústria – uma atividade mais dinâmica, 
geradora de maior produtividade – transformou não só a economia paulista, 
mas a do país. As indústrias das demais economias regionais tornaram-se 
zonas de complementação da indústria paulista, especializando-se em fornecer 
insumos a serem processados por ela.

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