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A Teoria dos Jogos Aplicada a - Alex Allochio Scalfoni_209

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA 
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES 
DEPARTAMENTO DE DIREITO 
 
 
 
 
 
Alex Allochio Scalfoni 
 
 
 
A TEORIA DOS JOGOS APLICADA À MEDIAÇÃO 
ENVOLVENDO DIREITOS PATRIMONIAIS 
 
 
 
 
Viçosa, Minas Gerais 
2013 
 
 
Alex Allochio Scalfoni 
 
 
 
 
A TEORIA DOS JOGOS APLICADA À MEDIÇÃO 
ENVOLVENDO DIREITOS PATRIMONIAIS 
 
 
 
 
Monografia apresentada ao Curso de 
Direito da Universidade Federal de 
Viçosa, como requisito parcial para a 
aprovação na disciplina DIR 499 – 
Monografia II. 
 
Orientador: Professor Luiz Filipe Araújo 
Alves 
 
 
 
 
 
 
Viçosa, Minas Gerais 
2013 
 
 
 
RESUMO 
 
 
A presente monografia possui como objetivo principal a análise do instituto 
da mediação de conflitos envolvendo relações patrimoniais no âmbito do processo civil 
com substrato na Teoria dos Jogos. Nesse sentido, intentou apurar os seguintes 
questionamentos: a mediação, enquanto institucionalização de uma contenda 
verificável no plano dos fatos, pode efetivamente ser estruturada com base nos 
conceitos básicos da Teoria dos Jogos? Em caso positivo, a referida teoria possui 
alguma sistemática utilizável para otimizar o processo de mediação, e 
consequentemente contribuir para a pacificação? Para responder tais perguntas, 
primeiramente fez-se um breve e relato acerca dos delineamentos básicos dos métodos 
alternativos de resolução de disputas, com ênfase obviamente na mediação. 
Correlatamente, conceituou-se de forma concisa o que vêm a ser os direitos 
patrimoniais. Logo após, foram descritos sucintamente conceitos elementares da Teoria 
dos Jogos que pretender-se-iam úteis à possível análise do processo de mediação. Por 
fim, concluiu-se ser plenamente possível a descrição da mediação no modelo de um 
jogo da Teoria dos Jogos, além de apontar para a possibilidade de alcance de uma 
situação em que se encontra o chamado Equilíbrio de Nash no decorrer da mediação, 
como forma de facilitar a consecução de soluções mais harmoniosas para as contendas 
sociais. 
 
Palavras-chave: Teoria dos Jogos. Mediação. Métodos alternativos de resolução de 
conflitos. 
 
 
 
 
Sumário 
 
INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 5 
1 - O INSTITUTO DA MEDIAÇÃO NO PROCESSO CIVIL ENVOLVENDO DIREITOS 
PATRIMONIAIS ................................................................................................................................. 7 
1.1. MEIOS ALTERNATIVOS DE RESOLUÇÃO DE CONFLITOS ............................................................. 10 
1.2. ARBITRAGEM E CONCILIAÇÃO ................................................................................................... 12 
1.1. MEDIAÇÃO ................................................................................................................................ 14 
2 - TEORIA DOS JOGOS E SEUS CONCEITOS FUNDAMENTAIS ............................................ 18 
2.1. A IDEIA DE JOGO PARA A TEORIA DOS JOGOS ................................................................................... 18 
2.2. PRESSUPOSTOS AXIOMÁTICOS DA TEORIA DOS JOGOS: .................................................................... 20 
2.2.1 Agentes (Jogadores): ................................................................................................ 20 
2.2.2 Utilidade:.................................................................................................................. 21 
2.2.3 Presunção de Racionalidade: ................................................................................... 22 
2.2.4 Estratégia e Payoffs .................................................................................................. 23 
2.2.5 Tipos de Jogos .......................................................................................................... 24 
2.2.5.1 Jogos cooperativos e jogos não-cooperativos .................................................................................... 25 
2.2.5.2 Jogos de soma zero e jogos de soma não-zero ................................................................................... 26 
2.2.5.3 Jogos de informação perfeita e de informação imperfeita.................................................................. 27 
2.2.6 Princípo Minimax .................................................................................................... 29 
2.2.7 Equilíbrio de Nash ................................................................................................... 30 
3 – APLICAÇÃO DA TEORIA DOS JOGOS NA MEDIAÇÃO ENVOLVENDO DIREITOS 
PATRIMONIAIS ............................................................................................................................... 34 
3.1 O PROCESSO JUDICIAL CONTENCIOSO SOB A ÓTICA DA TEORIA DOS JOGOS ..................................... 34 
3.1.1 Análise acerca da possibilidade de Ponto Minimax e Equilíbrio de Nash no Processo 
Judicial Contencioso ......................................................................................................... 37 
3.2 O PROCESSO DE MEDIAÇÃO SOB A ÓTICA DA TEORIA DOS JOGOS ..................................................... 38 
3.2.1 Equilíbrio de Nash no Processo de Mediação .......................................................... 40 
CONCLUSÃO .................................................................................................................................... 42 
REFERÊNCIAS ................................................................................................................................. 45 
LEGISLAÇÃO ................................................................................................................................... 48 
 
 
 
5 
 
Introdução 
 
A vida em sociedade necessariamente implica em situações de conflito. Em 
um mundo no qual os recursos materiais são escassos, é inevitável que surjam embates 
interindividuais para a obtenção de tais bens. A experiência histórica mostra que, 
rechaçada a insegura e muitas vezes violenta autotutela primitiva na busca pela resolução 
dos conflitos sociais, é inevitável o surgimento do ente estatal como forma centralizada e 
uniforme para a promoção da pacificação social não-violenta. Nasce, dessa maneira, a 
ideia do que modernamente chama-se jurisdição: trata-se de uma das expressões do poder 
estatal, consubstanciada na “na capacidade, que o Estado tem, de decidir imperativamente 
e impor decisões1.” 
Entretanto, é patente que um processo judicial contencioso, em sua forma 
clássica, acaba por se tornar uma via muito custosa e demorada para a resolução das 
controvérsias de natureza patrimonial. Tais dificuldades tornam-se empecilhos para o 
acesso a uma forma pacífica e organizada de composição de conflitos que o Estado 
deveria estar apto a fornecer. 
É neste cenário que nascem os chamados métodos alternativos de resolução 
de conflitos. Alternativos ao moroso e caro – mas claramente necessário para a vida em 
sociedade – processo judicial contencioso, tais modelos aparecem como propostas de 
tendência autocompositiva para a pacificação das contendas inerentes à vida em 
sociedade. Ao contrário das primitivas formas de resolução de controvérsias, as modernas 
técnicas estão incorporadas às regras e determinações do poder estatal, mas caracterizam-
se por uma maior participação dos próprios interessados no embate. No âmbito do direito 
processual civil contemporâneo, as mais conhecidas formas alternativas de composição 
de conflitos são a mediação, a conciliação e a arbitragem. 
O presente trabalho visa a estudar o instituto da mediação, em especial com 
relação às relações jurídicas de natureza patrimonial. Utiliza-se para tanto a os conceitos 
da Teoria dos Jogos. Trata-se de um ramo da matemática aplicada cuja formulação 
moderna se deve ao matemáticohúngaro John von Neumann 2, tendo como objetivo a 
 
1 CINTRA, Antonio Carlos de Araújo, GRINOVER, Ada Pellegrini, DINAMARCO, Cândido Rangel. 
Teoria Geral do Processo. 25ᵃ ed. São Paulo: Malheiros, 2009. p. 30. 
2 SIEGFRIED, Tom. A beautiful math: John Nash, game theory, and the modern quest for a code of 
nature. Washington: Joseph Henry Press, 2006. p. 29. 
6 
 
análise de conflitos envolvendo tomadas de decisões estratégicas envolvendo indivíduos 
racionais3. 
Este trabalho tem, portanto, o escopo de investigar a possibilidade de se 
conceber o instituto da mediação no direito processual civil de forma estruturalmente 
compatível com a Teoria dos Jogos. Dessa forma, procura inquirir de que maneira os 
conceitos básicos de tal formulação teórica pode auxiliar na otimização da resolução dos 
conflitos sociais envolvendo direitos patrimoniais. 
Para alcançar tais objetivos, utiliza-se os métodos bibliográfico e dedutivo, 
consistindo este na intersecção de duas áreas do saber: a Teoria dos Jogos enquanto ramo 
da matemática aplicada e a dogmática jurídica no que concerne aos métodos alternativos 
de resolução de conflitos, em especial a mediação de controvérsias envolvendo relações 
jurídicas de fundo patrimonial. 
Isto posto, no primeiro capítulo apresentar-se os conceitos básicos dos mais 
utilizados métodos alternativos de resolução de contendas, com destaque para a 
mediação. Conceitua também o que são as relações jurídicas patrimoniais, institutos 
passíveis de serem resolvidos pelo método da mediação. 
No segundo capítulo, expõe-se os conceitos fundamentais da Teoria dos 
Jogos considerados importantes para a sua aplicação no instituto da mediação. É 
importante ressaltar que esta monografia não tem como propósito a análise de 
particularidades matemáticas da teoria, tais como equações e afins, mas apenas 
instrumentalizar as concepções básicas da Teorias dos Jogos reputadas pelo autor como 
úteis para sua aplicação no instituto da mediação. 
Por fim, no terceiro capítulo há a efetiva análise, primeiramente do processo 
judicial contencioso, e depois da mediação, sob o prisma da referida teoria matemática, 
de forma a demonstrar contributos de tal intersecção para a pacificação das relações 
sociais. 
 
 
3 STEVENS, Scott P. Games People Play: Game Theory in Life, Business, and Beyond – Course 
Guidebook. Chantilly: The Great Courses, 2008. p. 1. 
 
7 
 
1 - O Instituto da Mediação no Processo Civil envolvendo Direitos Patrimoniais 
 
Nas sociedades modernas, o Estado é a instituição que, por excelência, é meio 
para a formulação de regras de convivência social e instituição para a resolução dos 
conflitos intersubjetivos. Quanto a estes, pode-se caracterizá-los como situações em que 
dois ou mais sujeitos disputam um bem da vida, dada a natural escassez dos bens na 
sociedade4. 
Quando o Estado chama a si a prerrogativa de solucionar tais conflitos no 
lugar das próprias partes interessadas, está-se diante da finalidade pacificadora do Estado, 
exercida por meio da atividade jurisdicional. O próprio Estado chama para si, como 
terceiro imparcial, a função de resolver o conflito. Conforme Daniel Amorim Assumpção 
Neves, jurisdição é “[...] a atuação estatal visando a aplicação do direito objetivo ao caso 
concreto, resolvendo-se com definitividade uma situação de crise jurídica e gerando com 
tal solução a pacificação social5.” 
Ao longo da história do Estado de Direito, o método heterocompositivo da 
jurisdição foi tido como a forma quase absoluta de resolução de conflitos nos 
ordenamentos jurídicos. Por heterocomposição entende-se o procedimento pelo qual um 
terceiro substitui a vontade das partes, determina e aplica uma solução ao caso 
apresentado para a sua apreciação6. No caso, cabe ao Estado, no papel de sua atividade 
jurisdicional, determinar a solução com base nas normas jurídicas de seu ordenamento. 
Conforme prelecionam Antonio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini 
Grinover e Cândido Rangel Dinamarco7: 
 
O extraordinário fortalecimento do Estado, ao qual se aliou a consciência da 
sua essencial função pacificadora, conduziu, a partir da já mencionada 
evolução do direito romano e ao longo dos séculos, à afirmação da quase 
absoluta exclusividade estatal no exercício dela. A autotutela é definida como 
crime, seja quando praticada pelo particular (“exercício arbitrário das próprias 
 
4 “Escassez significa que a sociedade tem recursos limitados e, portanto, não pode produzir todos os bens 
e serviços que as pessoas desejam ter. Assim, como uma família não pode dar a seus membros tudo o que 
eles desejam, umas sociedade não pode dar a cada membro um padrão de vida alto ao qual eles aspirem.” 
Cf. MANKIW, N. Gregory. Introdução à Economia. Trad. Allan Vidigal Hastings. São Paulo: Cengage 
Leraning, 2009. p. 4. 
5 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil. 3ᵃ ed. Rio de Janeiro: 
Forense; São Paulo: MÉTODO, 2011. p. 4 
6 DIDIER JR, Fredie. Curso de Direito Processual Civil, Vol.1: Teoria geral do processo e processo 
de conhecimento. 11ᵃ ed. Salvador: JusPODIVM, 2009. p. 68. 
7 CINTRA, Antonio Carlos de Araújo, GRINOVER, Ada Pellegrini, DINAMARCO, Cândido Rangel. 
Teoria Geral do Processo. 25ᵃ ed. São Paulo: Malheiros, 2009. p. 31. 
8 
 
razões”, art. 345 CP), seja pelo próprio Estado (“exercício arbitrário ou abuso 
de poder”, art. 350). A própria autocomposição, que nada tem de anti-social, 
não vinha sendo estimulada pelo Estado. 
 
Entretanto, por diversos motivos, o método jurisdicional vem há muito tempo 
se mostrando deficiente para resolver os embates sociais de maneira satisfatória. A 
extensa duração de um processo judicial e seu elevado custo se mostra como óbice a uma 
efetiva e satisfatória para a solução dos embates interpessoais em sociedade. 
O elevado custo de um processo para as partes talvez seja um dos principais 
óbices ao efetivo acesso a uma prestação jurisdicional adequada. Até por conta da 
evidente percepção deste problema, o ordenamento pátrio prevê diversos mecanismo para 
atenuá-lo, como a chamada Assistência Jurídica Gratuita e a instituição da Defensoria 
Pública. Como afirma Luiz Guilherme Marinoni8: 
 
O custo do processo pode impedir o cidadão de propor a ação, ainda que tenha 
convicção de que o seu direito foi violado ou está sendo ameaçado de violação. 
Isso significa que, por razões financeiras, expressiva parte dos brasileiros pode 
ser obrigada a abrir mão dos seus direito. Porém, é evidente que não adianta 
outorgar direitos e técnicas processuais adequadas e não permitir que o 
processo possa ser utilizado em razão de óbices econômicos. 
Não é por outra razão que a Constituição Federal, no seu art. 5ᵒ, LXXIV, 
afirma que “o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que 
comprovarem insuficiência de recursos.” Diante disso, sendo o Estado 
obrigado a fornecer advogado ás pessoas menos favorecidas economicamente, 
a própria Constituição Federal, mais na frente (art.134), afirma que “a 
Defensoria Pública é a instituição essencial à função jurisdicional do Estado, 
incumbindo-lhe a orientação jurídica e a defesa, em todos os gruas, dos 
necessitados, na forma do art. 5ᵒ, LXXIV.” 
 
Além do obstáculo econômico-financeiro, a demora de um processo judicial 
contencioso é sem dúvidas motivo de grande insatisfação quando se fala em prestação da 
função jurisdicional do Estado. A questão da demora processual foi por muito tempo 
ignorada por uma parcela mais tecnicista da doutrina processualista, por não ser, para 
estes, considera uma temática afeita ao “discurso científico”. Entretanto, entende-se 
atualmente que esse é um tema de extrema relevância a ser discutido para a efetividade 
do ordenamento jurídico.Isso fica ainda mais evidente ante a constatação de que um 
processo que se estende demasiadamente no tempo tende a prejudicar a parcela da 
 
8 MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de Processo Civil, Vol.1: Teoria Geral do Processo. 3ᵃ ed. São 
Paulo: Malheiros, 2008. p. 187. 
9 
 
população que carece de recursos financeiros. Nesse sentido, mais uma vez preleciona 
Marinoni9: 
 
A demora processual foi tratada, por parcela da doutrina, como algo 
meramente acidental ao processo, e por isso destituída de qualquer 
importância para um “discurso científico”. 
[...] para outra parte da doutrina, a questão da demora do processo sempre 
importou, e ainda bem importando, para a adequada compreensão do direito 
processual civil. Ora, não há dúvida de que uma das principais questões 
recorrentes na história do processo é a da relação entre a aspiração à certeza, 
a exigir ponderação e meditação do juiz, e a busca de rapidez na definição do 
litígio. 
[...] 
Ademais, a morosidade do processo atinge de modo muito mais acentuado os 
que têm menos recursos. A demora, tratando-se de litígios envolvendo 
patrimônio, certamente pode ser compreendida como um custo, e esse é tanto 
mais árduo quanto mais dependente o autor é do valor patrimonial buscado 
em juízo. Quando o autor não depende economicamente do valor do litígio, 
ele obviamente não é afetado como aquele que tem o seu projeto de vida, ou 
seu desenvolvimento empresarial, vinculado à obtenção do bem ou do capital 
objeto do processo. 
 
Como forma de atenuar o problema, foram instituídas diversas modificações 
no Código de Processo Civil com o escopo de fornecer às partes litigantes e ao magistrado 
instrumentos para alcançarem maior celeridade na prestação jurisdiciona. Exemplos são 
a tutela antecipatória contra receio de dano (art. 273, I e 461, §3ᵒ do CPC), as tutelas 
antecipatórias com base em abuso de direito de defesa e no caso de ausência de 
controvérsia de parcela da demanda (art. 273, II e art. 273, §6ᵒ, ambos do CPC, 
respectivamente10. 
Não há dúvidas de que tais disposições constitucionais e infraconstitucionais 
em muito contribuem para o acesso à justiça, ajudando a vencer os males do alto custo e 
demasiada lentidão da prestação jurisdicional. Todavia, elas não são suficientes para 
atender à crescente demanda pela composição dos conflitos sociais. É nesse cenário que 
surgem os meio alternativos de resolução de conflitos. 
 
 
 
 
 
 
9 MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de Processo Civil, Vol.1: Teoria Geral do Processo. 3ᵃ ed. São 
Paulo: Malheiros, 2008. p. 187 e 188. 
10 MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de Processo Civil, Vol.1: Teoria Geral do Processo. 3ᵃ ed. São 
Paulo: Malheiros, 2008. p. 190 e 191. 
10 
 
1.1. Meios Alternativos de Resolução de Conflitos 
 
Os métodos alternativos de resolução de confitos são assim chamados porque 
não coadunam-se com o método heterocompositivo tradicional do processo jurisdicional. 
Ou seja, o Estado não atua diretamente, na figura do magistrado, como terceiro imparcial 
para a resolução do litígio a ele apresentado. Há de se atentar para o fato de que a 
característica autocompositiva desses métodos alternativos não implica necessariamente 
na ausência de um terceiro para a decidir da controvérsia11. Conforme Cintra, Grinover e 
Dinamarco12: 
 
Abrem-se os olhos agora, todavia, para todas essas modalidades de soluções 
não-jurisdicionais dos conflitos, tratadas como meios alternativos de 
pacificação social. Vai ganhando corpo a consciência de que, se o que importa 
é pacificar, torna-se irrelevante que a pacificação venha por obra do Estado ou 
por outros meios, desde que eficientes. Por outro lado, cresce também a 
percepção de que o Estado tem falhado muito na sua missão pacificadora, que 
ele tenta realizar mediante o exercício da jurisdição e através das formas do 
processo civil, penal ou trabalhista. 
 
A propósito desta temática, dois eminentes juristas, o italiano Mauro Capeletti 
e o norte-americano Bryant Garth capitanearam uma série de estudos em que 
sistematizaram as chamadas Ondas Renovatórias do Direito Processual, ideias que se 
encontram sistematizadas na obra Acesso à Justiça, de 1978. 
Nessa obra, os autores elaboraram um panorama histórico-conceitual de três 
movimentos de ampliação do chamado acesso à justiça, as conhecidas Ondas 
Renovatórias do Direito Processual. A primeira “onda” versa sobre a evolução da 
assistência judiciária gratuita. A segunda, acerca da proteção dos chamados “direitos 
difusos” nos marcos do processo civil. Já a terceira abarca o desenvolvimento dos 
chamados meios alternativos de resolução de conflitos. De fato, prelecionam os referidos 
autores13: 
 
O recente despertar de interesse em torno do acesso efetivo à Justiça levou a 
três posições básicas, pelo menos nos países do mundo Ocidental. Tendo 
 
11 Conforme será visto no presente trabalho, a figura de um terceiro com função de decidir 
imperativamente o conflito, nos métodos alternativos, só existe na arbitragem, com a diferença de que ao 
contrário do processo judicial contencioso, na arbitragem o terceiro é escolhido pelas partes. 
12 CINTRA, Antonio Carlos de Araújo, GRINOVER, Ada Pellegrini, DINAMARCO, Cândido Rangel. 
Teoria Geral do Processo. 25ᵃ ed. São Paulo: Malheiros, 2009. p. 31 e 32. 
13 CAPPELLETTI, Mauro, GARTH, Bryant. Acesso à Justiça. Trad. Ellen Gracie Northfleet. Porto 
Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 1988. p. 31. 
11 
 
início em 1965, estes posicionamentos emergiram mais ou menos em 
seqüência cronológica. Podemos afirmar que a primeira solução para o acesso 
a primeira ‘onda’ desse movimento novo foi a assistência judiciária; a segunda 
dizia respeito às reformas tendentes a proporcionar representação jurídica para 
os interesses “difusos”, especialmente nas áreas da proteção ambiental e do 
consumidor; e o terceiro e mais recente é o que nos propomos a chamar 
simplesmente "enfoque de acesso à justiça" porque inclui os posicionamentos 
anteriores, mas vai muito além deles, representando, dessa forma, uma 
tentativa de atacar as barreiras ao acesso de modo mais articulado e 
compreensivo. 
 
Atenção especial há de ser dada à Terceira Onda Renovatória. Se a Primeira 
e Segunda Ondas representam um grande avanço para o efetivo acesso à justiça, a 
Terceira pretenderia ir além. De fato, as duas primeiras Ondas tratavam da efetiva 
representação de interesses em geral já constituídos nos ordenamentos jurídicos 
ocidentais, mas que não encontravam até então proteção adequada. A Terceira Onda trata 
a temática do acesso à justiça de forma mais abrangente. Há o reconhecimento de que os 
mecanismos apresentados nas duas primeiras Ondas de reforma são possibilidades, dentre 
outras, para a melhora no acesso à justiça. 
Sendo assim, a Terceira Onda reconhece as limitações do procedimento 
jurisdicional comum, mesmo com os necessários avanços apresentados pelas Ondas 
anteriores e discorre sobre os meios alternativos de resolução de conflitos, procedimentos 
mais simples e informais. Como exemplos, os autores invocam o juízo arbitral, a 
conciliação e o uso de incentivos econômicos para a pacificação de conflitos 
extrajudicialmente. Ao apresentar tais colocações, afirmam os autores14: 
 
As colocações a seguir tendem a aceitar as limitações das reformas dos 
tribunais regulares e, como consequência, envolvem a criação de alternativas, 
utilizando procedimentos mais simples e/ou julgadores mais informais. Os 
reformadores estão utilizando, cada vez mais, o juízo arbitral, a conciliação e 
os incentivos econômicos para a solução dos litígios fora dos tribunais. Essas 
técnicas, é preciso que se diga, podem ser obrigatórias para algumas ou todas 
as demandas, ou podem tornar-sedisponíveis como opção para as partes. 
 
A partir da década de 1990, os métodos alternativos de resolução de conflitos 
vêm crescendo em importância no ordenamento jurídico pátrio. No âmbito do processo 
civil, são basicamente três mecanismos: a conciliação; a arbitragem, que já conta com 
normatização própria (Lei nº. 9.307 de 23 de setembro de 1996); e a mediação, instituto 
que, apesar de não estar positivado em lei, cada vez mais vem sendo utilizada. 
 
14 CAPPELLETTI, Mauro, GARTH, Bryant. Acesso à Justiça. Trad. Ellen Gracie Northfleet. Porto 
Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 1988. p. 81. 
12 
 
Seguindo nesta toada, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) editou em 29 de 
novembro de 2010 a Resolução nᵒ125, instituindo a chamada Política Pública de 
Tratamento Adequado de Conflitos. Através de tal política, visa o CNJ a organizar, 
uniformizar e incentivar os serviços de mediação conciliação e outros métodos 
consensuais de resolução de conflitos e garantir sua boa execução. 
 
1.2. Arbitragem e Conciliação 
 
A arbitragem é um método autocompositivos de resolução e controvérsias 
que caracteriza-se pela seguinte dinâmica: as próprias partes envolvidas na desavença 
decidem, de forma contratual, submeterem o conflito a um juízo arbitral escolhido por 
elas próprias. Luiz Antunes Caetano define o instituto da seguinte maneira15: 
 
[...] é um procedimento em que as partes escolhem uma pessoa capaz e de sua 
confiança (árbitro) para solucionar os conflitos. Na arbitragem, ao contrário 
da conciliação e da mediação, as partes não possuem a poder de decisão. O 
árbitro é quem decide a questão. 
 
A arbitragem foi instituída no ordenamento jurídico brasileiro pela Lei nº. 
9.307/96. Tal norma estabelece a possibilidade do uso da arbitragem em conflitos 
referentes a direitos patrimoniais disponíveis. Não é um método utilizável, portanto, em 
lides relativas a direitos personalíssimos, ou em casos criminais. Entretanto, é muito 
usado em controvérsias comerciais. 
Os requisitos para exercer o papel de árbitro são simples: basta ser uma pessoa 
capaz e de confiança das partes. Pode haver, no caso concreto, um árbitro para ambas as 
partes, um para cada parte, e ainda a nomeação de árbitros reservas. Caso haja mais de 
um árbitro, é necessário que sejam em número ímpar, formando assim um Tribunal 
Arbitral.16 
Ao fim do procedimento, haverá a prolação de uma sentença pelo árbitro ou 
pelo Tribunal Arbitral. Trata-se da sentença arbitral, que é sigilosa para terceiros, 
podendo haver publicação caso haja autorização das partes. É também uma decisão 
 
15 CAETANO, Luiz Antunes. Arbitragem e Mediação: rudimentos. São Paulo: Atlas, 2002. p. 40. 
16 MENEGHIN, Laís, NEVES, Fabiana Junqueira. Meios Alternativos de Resolução de conflitos – 
Mediação, Conciliação e Arbitragem. Disponível em 
<http://intertemas.unitoledo.br/revista/index.php/ETIC/article/viewFile/2442/1966>. Acesso em 20 de 
outubro de 2012. 
http://intertemas.unitoledo.br/revista/index.php/ETIC/article/viewFile/2442/1966
13 
 
irrecorrível, embora possa ser declarada sua nulidade pelo juiz de direito. Além disso, não 
precisa ser homologada pelo Poder Judiciário17.Mais uma vez utiliza-se das lições de Luiz 
Antunes Caetano para traçar uma conceito para o instituto em questão18: 
 
[...] meio ou modo de acordo do conflito entre partes adversas, desavindas em 
seus interesses ou direitos, pela atuação de um terceiro. A conciliação também 
é um dos modos alternativos de solução extrajudicial de conflitos. 
Em casas específicas, por força de Lei, está sendo aplicada pelos órgãos do 
Poder Judiciário. 
 
Já método da conciliação é o mais simples dentre os três métodos alternativos 
de composição de conflitos utilizados pelo processo civil brasileiro. Tem como 
fundamento a ideia de que as partes dialogam entre si na busca de soluções para o embate, 
enquanto um terceiro imparcial interfere no, apontando possíveis soluções. 
A conciliação também se encontra estabelecida no ordenamento processual 
civil nacional, sendo por este instituída de duas formas: a endoprocessual e a 
extraprocessual. Como as próprias designações já denotam, a primeira ocorre dentro de 
um processo judicial, enquanto a segunda modalidade acontece fora do procedimento 
jurisdicional. De fato, O Código de Processo Civil faz referência ao uso da conciliação 
endoprocessual ao estabelecer, em seu art. 125, inciso IV, que o juiz deve tentar, a 
qualquer momento, conciliar as partes. Nesse sentido, afirmam Cintra, Grinover e 
Dinamarco19: 
 
[...] a conciliação pode ser extraprocessual ou endoprocessual. Em ambos os 
casos, visa a induzir as pessoas em conflito a ditar a solução para a sua 
pendência. O conciliador procura obter uma transação entre as partes, ou a 
submissão de um à pretensão do outro, ou a desistência da pretensão. 
Tratando-se de conciliação endoprocessual, pode-se chegar à mera desistência 
da ação, ou seja, revogação da demanda inicial para que o processo se extinga 
sem que o conflito receba solução alguma. 
 
Dessa forma, expõe-se a seguir o método de resolução de conflitos mais 
importante para o desenvolvimento do presente trabalho, qual seja: o processo de 
mediação. 
 
17 MENEGHIN, Laís, NEVES, Fabiana Junqueira. Meios Alternativos de Resolução de conflitos – 
Mediação, Conciliação e Arbitragem. Disponível em 
<http://intertemas.unitoledo.br/revista/index.php/ETIC/article/viewFile/2442/1966>. Acesso em 20 de 
outubro de 2012. 
18 CAETANO, Luiz Antunes. Arbitragem e Mediação: rudimentos. São Paulo: Atlas, 2002. p. 4. 
19 CINTRA, Antonio Carlos de Araújo, GRINOVER, Ada Pellegrini, DINAMARCO, Cândido Rangel. 
Teoria Geral do Processo. 25ᵃ ed. São Paulo: Malheiros, 2009. p. 34. 
http://intertemas.unitoledo.br/revista/index.php/ETIC/article/viewFile/2442/1966
14 
 
 
 
1.1. Mediação 
Como método alternativo de solução de disputas, a mediação é um processo 
por meio do qual as partes envolvidas buscam um terceiro imparcial para auxiliar na 
formulação para a decisão do impasse. Este não possui o poder de impor uma solução aos 
litigantes, apenas atuando como facilitador da procura de um consenso para a disputa. 
Conforme Bernardina de Pinho20: 
 
Entende-se a mediação como o processo por meio do qual os litigantes buscam 
o auxílio de um terceiro imparcial que irá contribuir na busca pela solução do 
conflito. 
Esse terceiro não tem a missão de decidir (e nem a ele foi dada autorização 
para tanto). Ele apenas auxilia as partes na obtenção da solução consensual. 
 
No mesmo sentido aponta a definição de Helena Soleto Muñoz21: 
 
A mediação é um procedimento através do qual um terceiro imparcial ajuda 
as partes em disputa a chegar a um acordo. A essência da mediação que reflete 
esta definição é a autonomia da vontade das partes: são as partes que chegam 
a um acordo, livremente, e apoiadas por um terceiro, o qual, 
consequentemente, deve ser imparcial. Além disso, essa visão de mediação 
está ligada ao conflito que é objeto ou pode ser objeto de um processo. 
(tradução livre) 
 
Ao contrário da arbitragem e da conciliação, a mediação não está 
regulamentada no ordenamento jurídico pátrio. No ano de 1998, foi proposto o Projeto 
de Lei nᵒ 4827/98, com fulcro em institucionalizar a prática da mediação no processo civil 
brasileiro. No ano seguinte o Instituto Brasileiro de Direito Processual (IBDP) apresentou 
um anteprojeto de lei com o mesmo objetivo22. 
 
20 PINHO, Humberto Dalla Bernardina de. Mediação – a redescoberta de um velho aliado na solução 
de conflitos. In: PRADO, Geraldo (org.). Acesso à Justiça: efetividade do processo. Rio de Janeiro: 
Lumen Juris, 2005. p. 10. 
21 "La mediación esun procedimiento a través del cual un tercero imparcial ayuda a las partes en conflicto 
a llegar a un acuerdo. La esencia de La mediación que refleja esta definición es la autonomía de la 
voluntad de las partes: son las partes las que llegan a un acuerdo, libremente, y auxiliadas por un tercero, 
que, consecuentemente, ha de ser imparcial. Por otra parte, esta perspectiva de la mediación se encuentra 
vinculada al conflicto que es objeto o puede ser objeto de un processo." Cf. MUÑOZ, Helena Soleto. La 
Mediación: Método de Resolución Alternativa de Conflictos en el Proceso Civil Español. In: Revista 
Eletrônica de Direito Processual, ano 3, vol. 3, janeiro a junho de 2009. p.67. Disponível em e 
<http://www.redp.com.br/arquivos/redp_3a_edicao.pdf>. Acesso em: 03 de fevereiro de 2013. 
22 PINHO, Humberto Dalla Bernardina de. A Mediação no Direito Brasileiro: Evolução, Atualidades e 
Possibilidades no Projeto do Novo Código de Processo Civil. p. 2. Disponível em 
http://www.redp.com.br/arquivos/redp_3a_edicao.pdf
15 
 
Tendo em vista o projeto do IBDP, em 2002 houve a elaboração de um texto 
conciliatório entre os dois projetos, o que resultou no Projeto de Lei nº. 94/02. Tal projeto 
foi aprovado pelo Senado Federal em 2006, com o objetivo de institucionalizar e 
regulamentar a mediação nos conflitos cíveis no ordenamento jurídico brasileiro23. Em 
2009, diante da convocação de uma comissão de juristas presidida pelo então Ministro do 
Superior Tribunal de Justiça e atual Ministro do Supremo Tribunal Federal Luiz Fux, para 
apresentar um novo Código de Processo Civil, foi proposto um anteprojeto, convertido 
no Projeto de Lei nᵒ 166/10. 
Foi então que mais uma vez, em 2011, foi proposto no Senado novo projeto 
de lei para a instituição da mediação no ordenamento jurídico pátrio, o Projeto de Lei nᵒ 
517/11, elaborado com a colaboração dos professores Humberto Dalla Bernardina Pinho, 
Trícia Navarro e Gabriela Asmar, atualmente em tramitação no Congresso Nacional. 
O artigo 2ᵒ do Projeto de Lei nᵒ 517/11 traz uma definição do instituto da 
mediação, nos seguintes termos: “Art. 2º Para fins desta Lei, mediação é um processo 
decisório conduzido por terceiro imparcial, com o objetivo de auxiliar as partes a 
identificar ou desenvolver soluções consensuais24.” 
Ainda que não seja ainda uma norma vigente no ordenamento jurídico pátrio, 
tal projeto de lei torna-se um bom parâmetro para a análise do instituto da mediação. 
Seguindo os conceitos expostos no projeto, pode-se fazer uma análise do instituto com 
base em três elementos fundamentais: a existência de partes em conflito que estejam 
dispostas a, voluntariamente, optar pela via da mediação; um terceiro capacitado a 
auxiliar na busca por uma solução consensual, escolhido e reconhecido pelos litigantes 
como confiável para a tarefa; e a própria contraposição de interesses entre essas partes25. 
O primeiro elemento apresentado são as partes envolvidas no conflito. Podem 
ser pessoas físicas ou jurídicas. Se forem pessoas físicas, podem ser inclusive menores, 
 
<http://www.humbertodalla.pro.br/arquivos/a_mediacao_e_o_processo_civil_brasileiro_-
_evolucao_atualidades_e_expectativas_no_ncpc_-_200511.pdf>. Acesso em: 03 de fevereiro de 2013. 
23 PINHO, Humberto Dalla Bernardina de. A Mediação no Direito Brasileiro: Evolução, Atualidades e 
Possibilidades no Projeto do Novo Código de Processo Civil. p. 2 e 3. Disponível em 
<http://www.humbertodalla.pro.br/arquivos/a_mediacao_e_o_processo_civil_brasileiro_-
_evolucao_atualidades_e_expectativas_no_ncpc_-_200511.pdf>. Acesso em: 03 de fevereiro de 2013. 
24 BRASIL. Projeto de Lei nᵒ 517 de 2011. Disponível em: 
<http://www.senado.gov.br/senado/novocpc/pdf/Anteprojeto.pdf>. Acesso em: 10 de abril de 2013. 
25 PINHO, Humberto Dalla Bernardina de. A Mediação e a Necessidade de sua Sistematização no 
Processo Civil Brasileiro. p. 7. Disponível em 
<http://www.humbertodalla.pro.br/arquivos/a_mediacao_e_a_necessidade_de_sua_sistematizacao_no_pr
ocesso_civil_brasileiro.pdf>. Acesso em: 03 de fevereiro de 2013. 
http://www.humbertodalla.pro.br/arquivos/a_mediacao_e_o_processo_civil_brasileiro_-_evolucao_atualidades_e_expectativas_no_ncpc_-_200511.pdf
http://www.humbertodalla.pro.br/arquivos/a_mediacao_e_o_processo_civil_brasileiro_-_evolucao_atualidades_e_expectativas_no_ncpc_-_200511.pdf
http://www.humbertodalla.pro.br/arquivos/a_mediacao_e_o_processo_civil_brasileiro_-_evolucao_atualidades_e_expectativas_no_ncpc_-_200511.pdf
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http://www.senado.gov.br/senado/novocpc/pdf/Anteprojeto.pdf
http://www.humbertodalla.pro.br/arquivos/a_mediacao_e_a_necessidade_de_sua_sistematizacao_no_processo_civil_brasileiro.pdf
http://www.humbertodalla.pro.br/arquivos/a_mediacao_e_a_necessidade_de_sua_sistematizacao_no_processo_civil_brasileiro.pdf
16 
 
desde que devidamente representados ou assistidos. As partes podem ser também entes 
despersonalizados, desde que identificáveis o representante ou gestor. É importante 
salientar que a mediação deve ser encarada como um meio de resolução de conflitos 
voluntário: as partes por livre e espontânea vontade devem ter a opção de escolher se 
farão uso ou não deste método. 
O segundo tópico da estrutura do instituto da mediação é o próprio mediador, 
o terceiro neutro que ajudará as partes conflitantes a chegarem a um resultado consensual 
satisfatório. É de extrema importância que sua escolha recaia em uma pessoa equidistante 
às partes e que goze de credibilidade diante delas. A confiança dos litigantes em relação 
à figura do mediador é crucial para o bom desenvolvimento do processo de mediação. 
Humberto Dalla Bernadina Pinho estabelece interessante classificação do 
processo com base na figura do mediador. O procedimento de mediação pode ser passivo, 
no qual o mediador atua meramente como facilitador na busca do resultado conciliatório. 
Apenas intermedeia o diálogo entre as partes, não apresentando assim seu ponto de vista 
sobre o assunto em questão. Por outro lado, há a possibilidade de o procedimento ser 
ativo, em que a figura do mediador tem a prerrogativa de apresentar propostas de solução 
do problema26. Trata-se de uma postura avaliadora do mediador. É fácil notar que, nesta 
modalidade, o mediador atua como uma espécie de conciliador27. 
De acordo com a definição apresentada pelo já citado art. 2ᵒ do Projeto de Lei 
nᵒ 517/11, embora este não tenha sido convertido em lei, demonstra ao menos que a 
orientação seguida no caso brasileiro é a do modelo passivo de mediação. Por fim, o 
terceiro elemento é a existência do próprio conflito. Ainda segundo o professor Dalla 
Bernardina Pinho, este item é o delimitador da amplitude da atuação do mediador no caso 
concreto. Para o eminente processualista, é importante que o mediador, para bem 
desenvolver seus trabalhos, possua conhecimentos de psicologia, tomando cuidado para 
não tornar a mediação demasiada abstrata e interminável28. 
 
26 A modalidade de mediação ativa muito se assemelha com a conciliação. 
27 PINHO, Humberto Dalla Bernardina de. A Mediação e a Necessidade de sua Sistematização no 
Processo Civil Brasileiro. p. 9. Disponível em 
<http://www.humbertodalla.pro.br/arquivos/a_mediacao_e_a_necessidade_de_sua_sistematizacao_no_pr
ocesso_civil_brasileiro.pdf>. Acesso em: 03 de fevereiro de 2013. 
28 PINHO, Humberto Dalla Bernardina de A Mediação e a Necessidade de sua Sistematização no 
Processo Civil Brasileiro. p. 8. Disponível em 
<http://www.humbertodalla.pro.br/arquivos/a_mediacao_e_a_necessidade_de_sua_sistematizacao_no_pr
ocesso_civil_brasileiro.pdf>. Acesso em: 03 de fevereiro de 2013. 
http://www.humbertodalla.pro.br/arquivos/a_mediacao_e_a_necessidade_de_sua_sistematizacao_no_processo_civil_brasileiro.pdfhttp://www.humbertodalla.pro.br/arquivos/a_mediacao_e_a_necessidade_de_sua_sistematizacao_no_processo_civil_brasileiro.pdf
http://www.humbertodalla.pro.br/arquivos/a_mediacao_e_a_necessidade_de_sua_sistematizacao_no_processo_civil_brasileiro.pdf
http://www.humbertodalla.pro.br/arquivos/a_mediacao_e_a_necessidade_de_sua_sistematizacao_no_processo_civil_brasileiro.pdf
17 
 
Além de tais conhecimentos, é interessante que o mediador domine outras 
áreas do saber que facilitem seu trabalho de auxiliar as partes a dar fim à controvérsia 
apresentada. Dessa maneira, o objetivo do presente trabalho é justamente demonstrar 
como a Teoria dos Jogos pode ser uma dessas ferramentas a serem utilizada para o bom 
desenvolvimento do processo de mediação, mais especificamente na seara dos direitos 
patrimoniais, quais sejam: os direitos subjetivos suscetíveis a apreciação pecuniária29. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
29 GOMES, Orlando. Introdução ao Direito Civil. 19ᵃ ed. Rev. e atual. Por Edvaldo Brito e Reginalda 
Paranhos de Brito. Rio de Janeiro: Forense, 2008. p. 102. 
18 
 
2 - Teoria dos Jogos e seus Conceitos Fundamentais 
 
Uma das mais clássicas cenas do cinema mundial foi protagonizada por James 
Dean e Corey Allen no filme Rebel Without a Cause (1955), dirigido por Nicholas Ray30. 
Nela, os personagens Jim Stark e Buzz Gunderson, interpretados por Dean e Allen, 
respectivamente, disputam o chamado “Jogo do Covarde” (Chicken Run, no original): 
utilizando carros roubados, ambos apostam uma corrida em direção a um desfiladeiro. O 
primeiro que desistir, pulando do automóvel, perde a disputa, sendo assim considerado 
um covarde. 
Considerando o cenário deste desafio, quais as atitudes que os personagens 
poderiam tomar? Se ambos abandonam a corrida, ninguém perde. Os dois podem pular 
do carro, desistindo, ou continuar – parando antes do desfiladeiro, obviamente – e assim 
vencendo o embate. Se um corredor pula do carro, a melhor atitude para seu concorrente 
é não pular. Uma conduta pior para um dos corredores do que ambos saírem do carro é 
pular, se o outro não pular. Mas há uma possibilidade pior para ambos do que as 
anteriores: nenhum dos dois pularem, levando-os para a morte certa no desfiladeiro31. No 
filme, Buzz prende a alça do braço de sua jaqueta à maçaneta do carro o que o faz perder 
a direção do veículo. Percebendo que este não vai parar, Jim pula do carro, enquanto seu 
adversário cai desfiladeiro abaixo. 
Como exercício de imaginação, a obra cinematográfica coloca o espectador 
diante de um conflito em que a decisão a ser tomada por um concorrente que almeja ter o 
melhor resultado possível para si, dadas as circunstâncias, depende de sua expectativa 
acerca de como agirá seu adversário. É justamente este tipo de situação que é estudada 
pela chamada Teoria dos Jogos. 
 
2.1. A ideia de Jogo para a Teoria dos Jogos 
 
Para se entender o que é a Teoria dos Jogos, primeiramente é necessário saber 
o que se entende pela ideia de jogo. Para tal, deve-se ter em mente que tal definição é 
dada pela palavra usada para exprimi-la. As palavras não são resultado de uma operação 
lógica ou científica, mas sim pelo uso reiterado nas diversas formações sociais. Portanto, 
 
30 REBEL WITHOUT A CAUSE. Direção: Nicholas RAY. EUA: Warner Bros, 1955. 1 DVD (111 min.), 
widescreen, color., legendado. 
31 FIANI, Ronaldo. Teoria dos Jogos: para cursos de administração e economia. 2ᵃ ed. ver. e atual. 
Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. p. 112 e 113. 
19 
 
para se ter uma noção do que o termo exprime, é interessante buscar seu conceito não só 
em nosso léxico, mas também em outras línguas que nos são culturalmente próximas. 
Com efeito, o termo jogo tem seu correspondente no latim uma palavra 
bastante abrangente: ludus, de ludere, da qual deriva lusus. Sua etimologia parece derivar 
da ideia de “ilusão”, “simulação”. Mais tarde o termo deixou de ser usado, substituído 
por um derivado de jocus, cujo significado original – gracejar – deu lugar a uma 
concepção mais geral da ideia de jogo. Daí surgiram os vocábulos das línguas derivadas 
do latim, como por exemplo: jeu, jouer, no francês, juego, jugar, no espanhol e jogo, 
jogar no português32. 
Na língua inglesa, o termo play se origina do anglo-saxão plega, que denota 
literalmente jogo, mas também dá a ideia de movimento rápido, aperto de mãos, 
exercícios físicos, dentro outros significados33.A evolução das línguas holandesa e alemã, 
passando pelo latim medieval e pelo antigo anglo-saxão, mostram uma enorme gama de 
significados para seus termos, como perigo, desafio, competição. De fato, todos esses 
termos estão relacionados à ideia de jogo34. 
Esta brevíssima etimologia do vocábulo jogo auxilia a compreender a 
concepção do termo na Teoria dos Jogos. O aspecto lúdico, ao contrário do que possa 
parecer à primeira vista, não é essencial para a compreensão da teoria, embora esse 
atributo possa estar, (muitas vezes está) presente. 
O fundamental aqui é a ideia de conflito. A Teoria dos Jogos é um ramo da 
matemática aplicada para a análise e proposta de resolução de disputas, podendo estas 
variarem de simples jogos de cartas a embates militares e evolução biológica de seres 
vivos, passando pelo domínio da Ciência Econômica, ramo do conhecimento pelo qual 
as contribuições da Teoria dos Jogos logrou maior reconhecimento35, e, é claro, o 
fenômeno jurídico. 
Sendo assim, a Teoria dos Jogos pode ser definida basicamente como uma 
ferramenta matemática que visa a analisar uma situação de conflitos entre agentes 
 
32 HUIZINGA, Johan. Homo Ludens: A Study of the Play-Element in Culture. Londres, Boston e 
Henley: Routledge & Kegan Paul Ltd., 1949. p. 35 e 36. 
33 HUIZINGA. Homo Ludens: A Study of the Play-Element in Culture. Londres, Boston e Henley: 
Routledge & Kegan Paul Ltd., 1949. p.39. 
34 HUIZINGA. Homo Ludens: A Study of the Play-Element in Culture. Londres, Boston e Henley: 
Routledge & Kegan Paul Ltd., 1949. p.40. 
35 ALMEIDA, Fábio Portela Lopes de. A teoria dos jogos: uma fundamentação teórica dos métodos 
de resolução de disputa. In: AZEVEDO, André Gomma de (org.). Estudos em Arbitragem, Mediação e 
Negociação. Vol. 2, Brasília: Ed. Grupos de Pesquisa, 2003. p.179 e 180. 
20 
 
racionais, com o objetivo de descobrir as melhores estratégias a serem utilizadas para que 
tais participantes alcancem o objetivo que desejam ao participar. Para se compreender 
esta definição e modo funcionamento da teoria, é necessário ter em mente os diversos 
conceitos importantes, tais como: utilidade, racionalidade, estratégia, payoffs, Princípio 
Minimax e Equilíbrio de Nash. É o que será visto a seguir. 
 
2.2. Pressupostos Axiomáticos da Teoria dos Jogos: 
 
 Para a devida compreensão da base teórica da Teoria dos Jogos, é preciso 
entender uma série de conceitos fundamentais. Tais pressupostos não possuem 
fundamentação conceitual ou corroboração empírica36. A Teoria dos Jogos os considera 
como axiomas, ou seja, são válidos pela ligação intrínseca das ideias que os compõe, não 
precisando, portanto, ser provados37. 
 
2.2.1 Agentes (Jogadores): 
 
 Qualquer conflito de interesses pressupõe a existências dos agentes 
conflitantes. As situações estudadas pela Teoria dos Jogos, como não poderia deixar de 
ser, pressupõe agentes ou grupos de agentes em interação uns com os outros, portanto 
capazes de influenciar a tomada de decisões que influenciam as expectativa de seu(s) 
adversário(s)38. Geralmente, estes agentes são denominados jogadores, embora a 
nomenclatura utilizada para designá-los não possua maior importância. Nesta toada, 
conceitua Ronaldo Fiani39: 
 
36 ALMEIDA, Fábio Portela Lopes de. A teoria dos jogos: umafundamentação teórica dos métodos 
de resolução de disputa. In: AZEVEDO, André Gomma de (org.). Estudos em Arbitragem, Mediação e 
Negociação. Vol. 2, Brasília: Ed. Grupos de Pesquisa, 2003. p.183. 
37 “AXIOMA - (do gr. axiós, valor, daí axioma, estimativa). a) Diz-se de cada proposição universalmente 
válida, que é evidente ex ipsis terminis intelectis (pela compreensão dos termos, sujeito e predicado: pela 
ligação intrínseca das respectivas idéias) e que, portanto, não precisa ou não pode ser provada.” Cf. 
SANTOS, Mário Ferreira dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. São Paulo: Matese, 1963. 
p. 201 e 202. 
38 Há autores que consideram não haver a necessidade, dependendo do caso em questão, de que os 
jogadores em um conflito analisado sob o prisma da Teoria dos Jogos influenciem a tomada de decisões 
por parte dos adversários, como no caso de um vendedor em um mercado pulverizado, no qual cada 
vendedor representa uma fatia tão diminuta da oferta total de determinado bem que não chega a 
influenciar o preço do bem ofertado, não influenciando assim as expectativas de um comprador. 
Entretanto, os casos considerados neste estudo seguem a ideia de que os jogadores são sempre capazes de 
influenciar as decisões de seus adversários. Neste sentido, FIANI, Ronaldo. Teoria dos Jogos: para 
cursos de administração e economia. 2ᵃ ed. ver. e atual. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. p. 12 e 13. 
39 FIANI, Ronaldo. Teoria dos Jogos: para cursos de administração e economia. 2ᵃ ed. ver. e atual. 
Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. p. 13. 
21 
 
 
Um agente é qualquer indivíduo, ou grupo de indivíduos, com capacidade de 
decisão para a afetar os demais: um indivíduo sozinho pode ser um agente, 
como no caso em que um empregado decide se vai ou não pedir um aumento 
a seu patrão; ou um grupo de indivíduos pode ser um agente, como no caso de 
empregados que decidem fazer uma greve por melhores salários. Em ambos 
os casos, um agente é denominado, em teoria dos jogos, um jogador. Vale 
enfatizar que jogadores podem ser tanto indivíduos como organizações 
(empresas, governos, sindicatos, partidos políticos etc.). 
 
2.2.2 Utilidade: 
 
 O termo utilidade é um conceito que se pode chamar de polissêmico no 
âmbito da filosofia, ciências humanas e sociais. O teólogo germânico do século XIII 
Alberto Magno conceitua o vocábulo como “o que é meio ou instrumento para um fim 
qualquer40.” No pensamento do filósofo inglês Thomas Hobbes, útil é “o que serve à 
conservação do homem ou, em geral, satisfaz às suas necessidades ou atende aos seus 
interesses41.” Para o intelectual oitocentista Jeremy Bentham, baluarte do chamado 
pensamento utilitarista, o termo é definido como “a propriedade de um objeto em virtude 
da qual ele tende a produzir benefício, vantagem, prazer, bem ou felicidade42.” Já na 
acepção da economia política, geralmente se define como útil “tudo o que satisfaz uma 
necessidade43.” 
 É interessante notar que, embora tais definições não sejam idênticas, são 
bem semelhantes. Todas possuem em comum a ideia de satisfação de uma necessidade. 
Trata-se de uma propriedade inerente a um agente, não havendo sentido em se falar em 
algo útil se não há um alguém para usufruir da utilidade. 
 De fato, enquanto axioma da Teoria dos Jogos, a noção de utilidade é uma 
reflexão do objetivo do jogador, que é o de garantir a maior satisfação possível, dadas as 
circunstâncias, com o jogo. Utilidade, portanto, pode ser definida, para a Teoria dos 
 
40 ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Trad. Alfredo Bosi e Ivone Castilho Benedetti. 5ᵃ ed. 
rev. e atual. São Paulo: Martins Fontes, 2007. p. 985. 
41 ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Trad. Alfredo Bosi e Ivone Castilho Benedetti. 5ᵃ ed. 
rev. e atual. São Paulo: Martins Fontes, 2007. 986. 
42 BENTHAM, Jeremy apud ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Trad. Alfredo Bosi e 
Ivone Castilho Benedetti. 5ᵃ ed. rev. e atual. São Paulo: Martins Fontes, 2007. p. 986. 
43 ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Trad. Alfredo Bosi e Ivone Castilho Benedetti. 5ᵃ ed. 
rev. e atual. São Paulo: Martins Fontes, 2007. p. 986. 
22 
 
Jogos, como a sensação imediata de preferência por parte de um jogador em relação aos 
resultados do conflito44. 
 
2.2.3 Presunção de Racionalidade: 
 
Talvez o principal axioma da Teoria dos Jogos seja o conceito de 
racionalidade. Há de se ressaltar que se trata de uma concepção diferente do 
desenvolvimento da ideia de racionalidade que se encontra em outras áreas do saber, 
como psicologia e biologia. É um conceito relativamente simples se comparado ao 
estudado nestas áreas, embora estas, como já enfatizado, possuam temas que já foram 
alvo de pesquisas com base na Teoria dos Jogos45. 
 Fundamentalmente, a ideia de racionalidade está fincada no pressuposto de 
que os agentes jogam para maximizar utilidade. Agir desta maneira, para a Teoria dos 
Jogos, é agir de forma racional. Ou seja, a parte em um conflito não joga para perder 
utilidade, e sim para obter a máxima satisfação possível com o jogo, dada as 
circunstâncias. 
Desta forma, a Teoria dos Jogos não pode ser aplicada em conflitos nos quais 
os agentes jogam para perder a disputa. Por isso se fala em presunção de racionalidade: o 
agir racional, nos termos expostos, é um pressuposto para que determinado conflito seja 
alvo de análise pela teoria. Este axioma também reduz as possibilidades de resultados de 
um conflito, dado que o agir racional, nos termos da teoria, é mais previsível do que uma 
conduta irracional46. 
É interessante notar que o entendimento de racionalidade utilizado pela 
Teoria dos Jogos exclui qualquer consideração de cunho moral quanto aos objetivos dos 
jogadores. Sendo assim, para a funcionalidade da teoria, não importa eventual avaliação 
 
44 ALMEIDA, Fábio Portela Lopes de. A teoria dos jogos: uma fundamentação teórica dos métodos 
de resolução de disputa. In: AZEVEDO, André Gomma de (org.). Estudos em Arbitragem, Mediação e 
Negociação. Vol. 2, Brasília: Ed. Grupos de Pesquisa, 2003. p.183. 
45 “Para a teoria dos jogos, a idéia de racionalidade há de ser entendida de forma bem diferente daquela 
em que é comumente utilizada tanto na filosofia quanto na biologia, ou mesmo na psicologia. A discussão 
acerca da racionalidade humana já levou a diversos tratados sobre o assunto e, até hoje, a ciência não 
chegou a um conceito unívoco.” Cf. ALMEIDA, Fábio Portela Lopes de. A teoria dos jogos: uma 
fundamentação teórica dos métodos de resolução de disputa. In: AZEVEDO, André Gomma de 
(org.). Estudos em Arbitragem, Mediação e Negociação. Vol. 2, Brasília: Ed. Grupos de Pesquisa, 2003. 
p.183. 
46 ALMEIDA, Fábio Portela Lopes de. A teoria dos jogos: uma fundamentação teórica dos métodos 
de resolução de disputa. In: AZEVEDO, André Gomma de (org.). Estudos em Arbitragem, Mediação e 
Negociação. Vol. 2, Brasília: Ed. Grupos de Pesquisa, 2003. p. 184. 
23 
 
de cunho axiológico que os jogadores ou algum agente externo ao conflito venham a fazer 
quanto ao escopo daqueles. O importante para a concepção de racionalidade na Teoria 
dos Jogos é, fundamentalmente, entender que as partes envolvidas no embate jogam para 
maximizar sua utilidade47. 
Dado o exposto, é importante ressaltar uma importante questão. Dizer que o 
agente joga para maximizar utilidade não significa que ele não jogue para perder a 
disputa. Se ser derrotado no conflito maximizar a utilidade do jogador, tem-se claramente 
que ele está agindo racionalmente48. Um exemplo que facilita a compreensão desta ideia 
é o de um pai que confessa um crime cometido pelo filho. Embora tal atitude piore a 
situação do pai – deve cumprir uma pena por algo um crime que não cometeu – a utilidade 
está no fato de que seu filho estará em liberdade. Dada a preferência do pai,ele de fato 
maximizou sua utilidade, agindo assim de forma racional49. 
 
2.2.4 Estratégia e Payoffs 
 
Assim como os demais conceitos já abordados, para a Teoria dos Jogos o 
termo estratégia possui uma definição bem restrita. De fato, estratégia para a teoria nada 
mais é do que “o conjunto de opções de ação que os jogadores têm para chegar a todos os 
resultados possíveis50.” 
Dado, como já visto, que os jogadores em um conflito agem de forma a 
maximizar sua utilidade, um comportamento racional de suas partes pressupõe que suas 
ações durante o jogo levem em conta as possibilidades de ação do adversário. É o 
 
47 FIANI, Ronaldo. Teoria dos Jogos: para cursos de administração e economia. 2ᵃ ed. ver. e atual. 
Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. p. 13. 
48 Seguindo esta linha de raciocínio, há autores, como FIANI, que chegam a entender que o conceito de 
racionalidade para a Teoria dos Jogos é a coerência entre os meios e os fins dos agentes em conflito. Para 
tanto, fornece o exemplo de que uma pessoa que reúne informações no mercado financeiro para aplicação 
para aplicar seu dinheiro em ações e assim maximizá-lo em proveito próprio age tão racionalmente, 
quanto outro sujeito que coletasse informações sobre as formas mais eficientes de transferir seus fundos 
para a população de rua. Embora o raciocínio esteja correto, trata-se de um conceito incompleto. Para se 
traçar uma definição de racionalidade no âmbito da Teoria dos Jogos é imperioso ressaltar a ideia de 
maximização de utilidade. De fato, no exemplo ministrado, o indivíduo que coleta informações para 
ajudar os necessitados o faz como forma de maximizar sua satisfação no dado contexto. 
49 ALMEIDA, Fábio Portela Lopes de. A teoria dos jogos: uma fundamentação teórica dos métodos 
de resolução de disputa. In: AZEVEDO, André Gomma de (org.). Estudos em Arbitragem, Mediação e 
Negociação. Vol. 2, Brasília: Ed. Grupos de Pesquisa, 2003. p.184. 
50 ALMEIDA, Fábio Portela Lopes de. A teoria dos jogos: uma fundamentação teórica dos métodos 
de resolução de disputa. In: AZEVEDO, André Gomma de (org.). Estudos em Arbitragem, Mediação e 
Negociação. Vol. 2, Brasília: Ed. Grupos de Pesquisa, 2003. p. 184. 
24 
 
chamado comportamento estratégico dos jogadores51. Com efeito, as decisões tomadas 
pelos jogadores ao longo de uma disputa se configuram como uma cadeia na qual o que 
uma parte decide depende da expectativa sobre o que o adversário fará em resposta às 
suas ações, e vice-versa. Neste sentido, dispõe Thomas C. Schelling52: 
 
O termo “estratégia” é tomado, aqui, a partir da teoria dos jogos, a qual 
distingue jogos de habilidade, jogos de azar e jogos de estratégia, sendo esses 
último aqueles nos quais o melhor curso de ação para cada jogador depende 
do que o outro jogadores fazem. O termo tem a intenção de focar a 
interdependência das decisões dos adversários e suas expectativas sobre o 
comportamento de cada um dos outros.(tradução livre) 
 
Correlato à noção de estratégia, está o conceito de payoff. Trata-se nada mais 
do que os possíveis resultados que cada um dos jogadores espera obter em cada possível 
combinação de estratégias feita pelos participantes do jogo. Dito de outra forma, payoff é 
a perda ou recompensa que um jogador obtém quando todos os jogadores seguem suas 
respectivas estratégias53. 
 
2.2.5 Tipos de Jogos 
 
Dadas as noções básicas de estruturação de conflitos sob a ótica de Teoria dos 
Jogos, é necessário expor algumas classificações usualmente utilizadas pelos autores da 
área, com o objetivo de melhor operar os conceitos da teoria frente aos conflitos da vida 
real. De fato, não basta saber os conceitos básicos para se trabalhar satisfatoriamente com 
a Teoria dos Jogos. É preciso saber modelar tais formulações para uma análise satisfatória 
do conflito, para assim avaliar mais facilmente as interações estratégicas dos agentes nele 
envolvidos e assim prever seus possíveis resultados54. 
 
51 BAIRD, Douglas G., GERTNER, Robert H., PICKER, Randal C. Game Theory and the Law. 
Cambridge: Harvard University Press, 1994. p. 1. 
52 “The term ‘strategy’ is taken, here, from the theory of games, which distinguishes games of skill, 
games of chance, and games of strategy, the latter being those in which the best course of action for each 
player depends on what the other players do. The term is intended to focus on the interdependence of the 
adversaries' decisions and on their expectations about each other's behavior’’ Cf. SCHELLING, Thomas 
C. The Strategy of Conflict. Londres: Eighth printing, 1981. p .1. 
53 “A payoff is the reward or loss a player experiences when all the players follow their respective 
strategies.” Cf. STEVENS, Scott P. Games People Play: Game Theory in Life, Business, and Beyond 
– Course Guidebook. Chantilly: The Great Courses, 2008. p. 5 e 6. 
54 FIANI, Ronaldo. Teoria dos Jogos: para cursos de administração e economia. 2ᵃ ed. rev. e atual. 
Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. p. 41. 
25 
 
No presente trabalho, são apresentadas três classificações básicas dos 
modelos de jogos: jogos cooperativos e não-cooperativos; jogos de soma zero e de soma 
não-zero; e jogos de informação perfeita e informação imperfeita55. 
 
2.2.5.1 Jogos cooperativos e jogos não-cooperativos 
 
A classificação mais simples para a Teoria dos Jogos é a que separa os tipos 
de jogos em cooperativos e não-cooperativos. 
Um jogo cooperativo caracteriza-se por se tratar de uma situação na qual os 
agentes jogadores agregam utilidade se cooperarem entre si. Nesse tipo de jogo a 
coordenação facilita os jogadores a alcançarem seus objetivos, o que faz com que eles 
sintam-se motivados a cooperar entre si. Em outras palavras, cada jogador possui um 
melhor payoff, ou seja, uma recompensa, caso aja de forma coordenada com seu 
adversário, ao invés de atuar de forma independente. Com efeito, é um tipo de jogo em 
que os participantes objetivam ganhos mútuos56. Robert S. Pindick e Daniel L. Rubinfeld 
apresentam didáticos exemplos57: 
 
Um exemplo de jogo cooperativo é a negociação entre um comprador e um 
vendedor em torno do preço de um tapete. Se o tapete custa $ 100 para ser 
produzido e o comprador atribui o valor de $ 200 ao tapete, torna-se possível 
uma solução cooperativa para o jogo, pois um acordo de venda por qualquer 
preço entre $ 101 e $ 199 maximizará a soma do excedente do consumidor 
com o lucro do vendedor e será benéfica para ambas as partes. Outro jogo 
cooperativo pode envolver duas empresas de determinado setor que estejam 
negociando um investimento em conjunto para desenvolver uma nova 
tecnologia (considerando-se que nenhuma das duas teria know-how suficiente 
para obter sucesso sozinha). Se as empresas podem assinar um contrato entre 
si, dividindo os lucros decorrentes do investimento conjunto, torna-se possível 
um resultado cooperativo que beneficiará ambas as partes. 
 
De forma contrária, o jogo não-cooperativo é definido pela ideia de que um 
jogador, a princípio, não maximizará utilidade se eventualmente decidir cooperar com a 
parte adversária. São jogos nos quais os participantes possuem objetivos confrontantes. 
 
55 De fato, a Teoria dos Jogos possui diversas outras classificações quanto aos modelos de jogos, tais 
como jogos de forma normal e extensiva e jogos de estratégia dominante e dominada. Entretanto, tais 
ordenações não se mostram necessárias para o escopo do presente trabalho. 
56 STEVENS, Scott P. Games People Play: Game Theory in Life, Business, and Beyond – Course 
Guidebook. Chantilly: The Great Courses, 2008. p. 77. 
57 PINDYCK, Robert S., RUBINFELD, Daniel L. Microeconomia. Trad. Eleutério Prado, Thelma 
Guimarães e Luciana do Amaral Teixeira. 7ᵃ ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2010.p. 426. 
26 
 
Dessa forma, coordenar esforços com o adversário significa perder utilidade. Mais uma 
vez, Pindick e Rubinfeld trazem ilustrativos exemplos58: 
 
Um exemplo de jogo não-cooperativo é a situação na qual duas empresas 
concorrentes levam em consideração os prováveis comportamentos uma da 
outra e determinam independentemente uma estratégia de preço. Ambas 
sabem que, estabelecendo preços menores que a outra, podem obter uma fatia 
maior do mercado. Mas também sabem que, ao fazê-lo, correm o risco de 
iniciar uma guerra de preços. Outro jogo não-cooperativo é o leilão [...]. Cada 
licitante deve levar em, consideração o comportamento dos outros ao 
determinar uma estratégia ótima para oferecer lances. 
 
É importante ressaltar que esta classificação leva em conta uma tendência de 
comportamento dos jogadores, e não uma determinação cabal de suas ações. Não é 
impossível que em jogos incialmente tidos como não-cooperativos aja reunião de esforços 
dos participantes durante a disputa. A questão é que eles não se sentem motivados a 
atuarem dessa forma, pois assim, a princípio, prejudicariam a si próprios. Entretanto, há 
situações concretas em determinados jogos que podem levar jogadores de um conflito 
tido como não-cooperativo a coordenar esforços. Tal possibilidade se dá com a aplicação 
do chamado Equilíbrio de Nash, cuja explanação dar-se-á mais adiante neste trabalho. 
 
2.2.5.2 Jogos de soma zero e jogos de soma não-zero 
 
Muito semelhante à noção de jogos cooperativos e não-cooperativos é a 
concepção de jogos de soma zero e soma não-zero. 
Fundamentalmente, um jogo de soma zero, ou jogo de soma diferente de zero, 
é um conflito no qual os objetivos das partes são completamente opostos. Para um jogador 
ganhar, seu adversário necessariamente terá que perder59. Em geral jogos esportivos de 
competição são exemplos de jogos de soma-zero, na acepção da Teoria dos Jogos. É 
interessante notar que um jogo de soma-zero é necessariamente um jogo não-cooperativo: 
um tenista não tem motivação para auxiliar seu adversário, já que isso significa sua 
própria derrota. 
 
58 PINDYCK, Robert S., RUBINFELD, Daniel L. Microeconomia. Trad. Eleutério Prado, Thelma 
Guimarães e Luciana do Amaral Teixeira. 7ᵃ ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2010. p. 426. 
59 STEVENS, Scott P. Games People Play: Game Theory in Life, Business, and Beyond – Course 
Guidebook. Chantilly: The Great Courses, 2008. p. 16. 
27 
 
Por outro lado, jogos de soma não-zero (ou jogos de soma diferente de zero) 
são aqueles nos quais os jogadores possuem objetivos comuns e opostos ao mesmo tempo. 
Uma particularidade dos jogos de soma não-zero é que, dados os objetivos comuns entre 
os participantes, é possível a cooperação entre eles60. Veja-se um elucidativo exemplo: a 
celebração de um negócio jurídico bilateral e oneroso, como um contrato de locação de 
um imóvel, se configura como um jogo de soma não-zero. Ambas as partes pretendem 
celebrar o contrato, o que é o intuito comum entre os dois. Entretanto, enquanto o locador 
objetiva pagar um menor preço, o locatário pretende obter o maior lucro possível com o 
objeto de sua propriedade. Mesmo divergindo inicialmente quanto ao preço, o escopo 
comum de celebrar o contrato possibilita a discussão acerca do valor do aluguel, o que 
pode levar ambos a cederem quanto ao ponto de conflito. 
 
2.2.5.3 Jogos de informação perfeita e de informação imperfeita 
 
O tema da informação é outra questão importante quando se trata da análise 
dos modelos de jogos. Quanto a este ponto, os jogos são ordenados como de informação 
perfeita e de informação imperfeita. Fundamentalmente, jogos de informação perfeita são 
aqueles nos quais todos os jogadores possuem conhecimento dos eventos ocorridos na 
conflito até o momento no qual se encontra. Desde as motivações, e portanto dos objetivos 
de seu adversário, o jogador conhece todas as jogadas feitas pelo seu concorrente61. 
No caso dos jogos de informação imperfeita, a situação é o oposto: uma parte 
da disputa possui dados sobre a situação do jogo que a outra não possui. Um jogador sabe 
quais são os seus objetivos e jogadas, mas não detém informações sobre o que está 
ocorrendo com seu adversário. Trata-se de um fenômeno conhecido como assimetria de 
informação62. 
 
60 ALMEIDA, Fábio Portela Lopes de. A teoria dos jogos: uma fundamentação teórica dos métodos 
de resolução de disputa. In: AZEVEDO, André Gomma de (org.). Estudos em Arbitragem, Mediação e 
Negociação. Vol. 2, Brasília: Ed. Grupos de Pesquisa, 2003. p.186. 
61 ALMEIDA, Fábio Portela Lopes de. A teoria dos jogos: uma fundamentação teórica dos métodos 
de resolução de disputa. In: AZEVEDO, André Gomma de (org.). Estudos em Arbitragem, Mediação e 
Negociação. Vol. 2, Brasília: Ed. Grupos de Pesquisa, 2003. p.186 e 187. 
62 “Uma diferença de acesso a conhecimento relevante é chamada de informação assimétrica.” Cf. 
MANKIW, N. Gregory. Introdução à Economia. São Paulo: Cengage Leraning, 2009. p. 480. 
28 
 
A assimetria de informação é recorrente no domínio das relações econômicas, 
tais como relações de trabalho e de consumo63, que podem ser descritas como jogos de 
informação imperfeita. É fácil perceber que nesse tipo de jogo a parte e com maior 
conhecimento sobre a disputa está em vantagem sobre a outra. Numa relação de consumo, 
por exemplo, uma consequência desta assimetria de informação é a situação na qual um 
comprador adquire um produto de baixa qualidade por não ter conhecimentos sobre o 
produto que o vendedor detém. No campo da economia, é o que se chama de seleção 
adversa64. Para evitar a ocorrência desse tipo de distorção nestas relações, é interessante 
notar que ordenamento jurídico pátrio apresenta mecanismos para compensar tal 
discrepância de conhecimento. 
Um instrumento jurídico que acaba por diminuir a assimetria de informação 
na seara consumerista, por exemplo, é a indicação geográfica. Trata-se um instituto de 
proteção de propriedade intelectual que objetiva identificar o local de origem de um 
determinado produto, nos casos em que suas características marcantes e reputação são 
ligadas a tal localidade.65 O Acordo de Direitos de Propriedade Intelectual Relativos ao 
Comércio (Acordo TRIPS), do qual o Brasil é signatário, conceitua o instituto da seguinte 
forma66: 
 
Acordo TRIPS. Art. 22 – Proteção das indicações geográficas. 
1. Para fins do presente Acordo, entende-se por indicação geográfica as 
indicações que servem para identificar um produto como sendo originário de 
um território de um Membro, ou de uma região, ou de uma localidade de um 
território, nos casos em que uma qualidade, uma reputação ou uma 
 
63 “Um empregado sabe mais do que seu empregador sobre quanto esforço despende em seu trabalho. Um 
vendedor de carros usados possui mais informações do que o comprador sobre a verdadeira condição do 
carro.” Cf. MANKIW, N. Gregory. Introdução à Economia. Trad. Allan Vidigal Hastings. São Paulo: 
Cengage Leraning, 2009. p. 480. 
64 “A seleção adversa é um problema que surge em mercados em que o vendedor sabe mais sobre os 
atributos de um bem que está sendo vendido que o comprador do bem. Como resultado, o comprador 
corre o risco de comprar um bem de baixa qualidade. Ou seja, a “seleção” dos bens vendidos pode ser 
“adversa” do ponto de vista do comprador desinformado.” Cf. MANKIW, N. Gregory. Introdução à 
Economia. Trad. Allan Vidigal Hastings. São Paulo: Cengage Leraning, 2009. São Paulo: Cengage 
Leraning, 2009. p. 481. 
65 NEVES, Vinícius Pimentel. Aspectos Econômicos, Sociais e Jurídicos do Instituto da Indicação 
Geográfica no Brasil. Monografia – Departamento de Direito. Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 
Minas Gerais. p. 44. 
66A promulgação da Ata Final que incorpora os resultados da Rodada Uruguai de Negociações 
Comerciais Multilaterais do GATT foi realizada através do Decreto no 1.355, de 30 de dezembro de 
1994, em vigor desde 1ᵒ de janeiro de 1995. BRASIL. Cf. BRASIL. Decreto nᵒ 1.355, de 30 de 
dezembro de 1994. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/Antigos 
/D1355.htm>. Acesso em: 10 de abril 2013. 
29 
 
característica determinada do produto podem ser essencialmente atribuídas a 
essa origem geográfica. 
 
A indicação geográfica, sendo um signo distintivo que fornece informações 
acerca da origem de um determinado produto, de onde este retira sua fama quando à 
qualidade, acaba por garantir um equilíbrio de informações na relação e consumo. Neste 
sentido, afirma Vinícius Pimentel Neves67: 
 
Podemos perceber que a indicação geográfica satisfaz plenamente a 
obrigatoriedade de informar o consumidor, principalmente no tocante à 
origem. Além disso, a sistemática do instituto dá mais garantia ao consumidor 
sobre a qualidade do bem e da matéria-prima adquirida, haja vista o controle 
sobre a preservação do modo de preparo e do material utilizado, o atendimento 
dos requisitos de qualidade específicos da denominação de origem (artigo 182, 
da Lei nº 9.279, de 1996) e, por fim, o controle entre os próprios produtores 
para preservação da qualidade dos produtos. 
 
 
Portanto, pode-se afirmar que um contrato consumerista envolvendo um 
produto protegido pelo instituto da indicação geográfica é um jogo de informação quase-
perfeita, dado ser uma relação na qual as partes contratantes (jogadores), agindo de forma 
racional, visando a maximização de utilidade (o vendedor querendo obter o maior ganho 
financeiro possível e o comprador visando adquirir o melhor produto ao menor preço 
possível) transacionam (jogam) possuindo como substrato protetivo a indicação 
geográfica, como forma de evitar a assimetria de informações. 
 
2.2.6 Princípo Minimax 
 
O chamado princípio Minimax, desenvolvido pelo matemático húngaro John 
von Neumann, corresponde a um ponto de equilíbrio alcançável no desenvolvimento de 
um determinado jogo com certas características específicas. Essencialmente, trata-se de 
um momento do jogo no qual um agente nunca ganhará menos de um determinado valor 
mínimo, enquanto seu adversário de forma correlata garante que seus ganhos não serão 
menores do que outra determinada quantia. Enquanto uma parte do conflito garante um 
 
67 NEVES, Vinícius Pimentel. Aspectos Econômicos, Sociais e Jurídicos do Instituto da Indicação 
Geográfica no Brasil. Monografia – Departamento de Direito. Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 
Minas Gerais. p. 44. 
30 
 
mínimo possível, a outra garante um máximo possível68. Fábio Portela Lopes de Almeida 
traz um interessante exemplo de aplicação do Princípio Minimax69: 
 
[...] duas irmãs estão brigando por causa da divisão de um pedaço de bolo, por 
não saberem como dividi-lo de forma eqüitativa. A mãe das duas, ao tentar 
resolver o conflito, diz a uma delas: “filha, você cortará o bolo e a sua irmã 
escolherá o pedaço”. Com esta orientação, a menina pensa no seguinte dilema: 
“se eu cortar um pedaço grande, a minha irmã o escolherá e a mim restará o 
menor pedaço”. Assim, ela tem um incentivo real para cortar o bolo o mais 
próximo possível da metade, ou seja, buscará assegurar o ponto maximin (o 
“maior” mínimo possível, já que a irmã decerto escolherá o maior pedaço), 
enquanto à irmã restará o minimax (o mínimo máximo, ou seja, a metade do 
bolo mais uma pequena porcentagem, já que é muito difícil cortar exatamente 
na metade um pedaço de bolo e deve-se considerar que ela deverá escolher o 
maior pedaço, mesmo que a quantia maior que a do outro pedaço seja 
mínima). 
 
A importância desta ideia é que a ela possibilita a visualização de uma 
situação de equilíbrio em uma situação na qual os jogadores tendem a não cooperar, já 
que o ponto Minimax é alcançável a princípio em jogos de soma zero, portanto não-
cooperativos70. 
 
2.2.7 Equilíbrio de Nash 
 
Como já visto, o ponto de equilíbrio Minimax é alcançável em jogos de 
informação perfeita e de soma-zero, consequentemente não-cooperativos. Em jogos 
cooperativos de soma não-zero, é relativamente simples que se encontre uma solução na 
qual todos os jogadores saiam satisfeitos, já que a tendência colaborativa desse tipo de 
jogo facilita o encontro de um resultado final consensual. Entretanto, também existem 
jogos de soma diferente de zero que também são não-cooperativos. Dessa forma, fica o 
 
68 STEVENS, Scott P. Games People Play: Game Theory in Life, Business, and Beyond – Course 
Guidebook. Chantilly: The Great Courses, 2008. p. 27. 
69 ALMEIDA, Fábio Portela Lopes de. A teoria dos jogos: uma fundamentação teórica dos métodos 
de resolução de disputa. In: AZEVEDO, André Gomma de (org.). Estudos em Arbitragem, Mediação e 
Negociação. Vol. 2, Brasília: Ed. Grupos de Pesquisa, 2003. p.188 e 189. 
70 Enquanto Fábio Portela Lopes de Almeida afirma que somente jogos de soma-zero são suscetíveis a à 
aplicação do Princípio Minimax, há quem sustente, como Robert S. Pindyck e Damiel L. Rubinfeld, que 
há a possibilidade de aplicação do princípio em jogos de soma diferente de zero. Trata-se de questão 
controversa, e no presente trabalho optou-se pela primeira linha. Cf. PINDYCK, Robert S., 
RUBINFELD, Daniel L. Microeconomia. Trad. Eleutério Prado, Thelma Guimarães e Luciana do 
Amaral Teixeira. 7ᵃ ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2010. p. 431 e 432. 
31 
 
questionamento: será possível o encontro de uma solução satisfatória para todos os 
participantes em um jogo não-cooperativo de soma diferente de zero? 
Para responder a esta pergunta, é fundamental conhecer as ideias do 
matemático norte-americano John Forbes Nash. Vencedor do Prêmio Sveriges Riksbank 
de Ciências Econômicas em Memória de Alfred Nobel (popularmente chamado de 
“Prêmio Nobel de Ciências Econômicas”) em 1994 por seus estudos sobre Teoria dos 
Jogos71, o então jovem John Nash apresentou em 1950, como tese de doutorado na 
Universidade de Princeton, um estudo sobre a possibilidade de equilíbrio em jogos não-
cooperativos72. Tal proposição ficou conhecida como Equilíbrio de Nash. 
Por mais estranho que pareça à primeira vista, Nash propõe a possibilidade 
de ações colaborativas entre os agentes em jogos não-cooperativos. Tal concepção se 
baseia na seguinte ideia, aqui exposta de maneira simplificada: os jogadores de uma 
disputa não cooperativa tendem a princípio a não cooperar, pois o confronto de objetivos 
os farão perder utilidade, caso ajam de maneira colaborativa. 
Entretanto, se o jogo também for de soma não-zero, ou seja, caso possuam os 
agentes objetivos em comum além de escopos confrontantes, ao levarem em consideração 
os interesses de seus adversários, podem formular estratégias as quais levem a resultados 
satisfatórios para todos os envolvidos. Ninguém obtém um resultado máximo em termos 
de ganhos, mas conseguem os máximos resultado que todos podem ganhar, caso sigam 
esse modelo de estratégia e, é claro, para isso possuam um incentivo para dessa forma 
agir. Tal incentivo faz com que os jogadores não se arrependam ao fazerem suas jogadas 
de forma colaborativa, tornando suas estratégias as melhores respostas possíveis frente às 
estratégias dos outros participantes73. 
No momento em que os jogadores obtêm os resultados máximos de satisfação 
levando em conta os interesses dos outros agentes da disputa, pode-se dizer que chegou-
se a um ponto do Equilíbrio de Nash. Trata-se, enfim, de uma maximização da utilidade 
 
71 SIEGFRIED, Tom. A beautiful math : John Nash, game theory, and the modern quest for a

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