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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE DIREITO Alex Allochio Scalfoni A TEORIA DOS JOGOS APLICADA À MEDIAÇÃO ENVOLVENDO DIREITOS PATRIMONIAIS Viçosa, Minas Gerais 2013 Alex Allochio Scalfoni A TEORIA DOS JOGOS APLICADA À MEDIÇÃO ENVOLVENDO DIREITOS PATRIMONIAIS Monografia apresentada ao Curso de Direito da Universidade Federal de Viçosa, como requisito parcial para a aprovação na disciplina DIR 499 – Monografia II. Orientador: Professor Luiz Filipe Araújo Alves Viçosa, Minas Gerais 2013 RESUMO A presente monografia possui como objetivo principal a análise do instituto da mediação de conflitos envolvendo relações patrimoniais no âmbito do processo civil com substrato na Teoria dos Jogos. Nesse sentido, intentou apurar os seguintes questionamentos: a mediação, enquanto institucionalização de uma contenda verificável no plano dos fatos, pode efetivamente ser estruturada com base nos conceitos básicos da Teoria dos Jogos? Em caso positivo, a referida teoria possui alguma sistemática utilizável para otimizar o processo de mediação, e consequentemente contribuir para a pacificação? Para responder tais perguntas, primeiramente fez-se um breve e relato acerca dos delineamentos básicos dos métodos alternativos de resolução de disputas, com ênfase obviamente na mediação. Correlatamente, conceituou-se de forma concisa o que vêm a ser os direitos patrimoniais. Logo após, foram descritos sucintamente conceitos elementares da Teoria dos Jogos que pretender-se-iam úteis à possível análise do processo de mediação. Por fim, concluiu-se ser plenamente possível a descrição da mediação no modelo de um jogo da Teoria dos Jogos, além de apontar para a possibilidade de alcance de uma situação em que se encontra o chamado Equilíbrio de Nash no decorrer da mediação, como forma de facilitar a consecução de soluções mais harmoniosas para as contendas sociais. Palavras-chave: Teoria dos Jogos. Mediação. Métodos alternativos de resolução de conflitos. Sumário INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 5 1 - O INSTITUTO DA MEDIAÇÃO NO PROCESSO CIVIL ENVOLVENDO DIREITOS PATRIMONIAIS ................................................................................................................................. 7 1.1. MEIOS ALTERNATIVOS DE RESOLUÇÃO DE CONFLITOS ............................................................. 10 1.2. ARBITRAGEM E CONCILIAÇÃO ................................................................................................... 12 1.1. MEDIAÇÃO ................................................................................................................................ 14 2 - TEORIA DOS JOGOS E SEUS CONCEITOS FUNDAMENTAIS ............................................ 18 2.1. A IDEIA DE JOGO PARA A TEORIA DOS JOGOS ................................................................................... 18 2.2. PRESSUPOSTOS AXIOMÁTICOS DA TEORIA DOS JOGOS: .................................................................... 20 2.2.1 Agentes (Jogadores): ................................................................................................ 20 2.2.2 Utilidade:.................................................................................................................. 21 2.2.3 Presunção de Racionalidade: ................................................................................... 22 2.2.4 Estratégia e Payoffs .................................................................................................. 23 2.2.5 Tipos de Jogos .......................................................................................................... 24 2.2.5.1 Jogos cooperativos e jogos não-cooperativos .................................................................................... 25 2.2.5.2 Jogos de soma zero e jogos de soma não-zero ................................................................................... 26 2.2.5.3 Jogos de informação perfeita e de informação imperfeita.................................................................. 27 2.2.6 Princípo Minimax .................................................................................................... 29 2.2.7 Equilíbrio de Nash ................................................................................................... 30 3 – APLICAÇÃO DA TEORIA DOS JOGOS NA MEDIAÇÃO ENVOLVENDO DIREITOS PATRIMONIAIS ............................................................................................................................... 34 3.1 O PROCESSO JUDICIAL CONTENCIOSO SOB A ÓTICA DA TEORIA DOS JOGOS ..................................... 34 3.1.1 Análise acerca da possibilidade de Ponto Minimax e Equilíbrio de Nash no Processo Judicial Contencioso ......................................................................................................... 37 3.2 O PROCESSO DE MEDIAÇÃO SOB A ÓTICA DA TEORIA DOS JOGOS ..................................................... 38 3.2.1 Equilíbrio de Nash no Processo de Mediação .......................................................... 40 CONCLUSÃO .................................................................................................................................... 42 REFERÊNCIAS ................................................................................................................................. 45 LEGISLAÇÃO ................................................................................................................................... 48 5 Introdução A vida em sociedade necessariamente implica em situações de conflito. Em um mundo no qual os recursos materiais são escassos, é inevitável que surjam embates interindividuais para a obtenção de tais bens. A experiência histórica mostra que, rechaçada a insegura e muitas vezes violenta autotutela primitiva na busca pela resolução dos conflitos sociais, é inevitável o surgimento do ente estatal como forma centralizada e uniforme para a promoção da pacificação social não-violenta. Nasce, dessa maneira, a ideia do que modernamente chama-se jurisdição: trata-se de uma das expressões do poder estatal, consubstanciada na “na capacidade, que o Estado tem, de decidir imperativamente e impor decisões1.” Entretanto, é patente que um processo judicial contencioso, em sua forma clássica, acaba por se tornar uma via muito custosa e demorada para a resolução das controvérsias de natureza patrimonial. Tais dificuldades tornam-se empecilhos para o acesso a uma forma pacífica e organizada de composição de conflitos que o Estado deveria estar apto a fornecer. É neste cenário que nascem os chamados métodos alternativos de resolução de conflitos. Alternativos ao moroso e caro – mas claramente necessário para a vida em sociedade – processo judicial contencioso, tais modelos aparecem como propostas de tendência autocompositiva para a pacificação das contendas inerentes à vida em sociedade. Ao contrário das primitivas formas de resolução de controvérsias, as modernas técnicas estão incorporadas às regras e determinações do poder estatal, mas caracterizam- se por uma maior participação dos próprios interessados no embate. No âmbito do direito processual civil contemporâneo, as mais conhecidas formas alternativas de composição de conflitos são a mediação, a conciliação e a arbitragem. O presente trabalho visa a estudar o instituto da mediação, em especial com relação às relações jurídicas de natureza patrimonial. Utiliza-se para tanto a os conceitos da Teoria dos Jogos. Trata-se de um ramo da matemática aplicada cuja formulação moderna se deve ao matemáticohúngaro John von Neumann 2, tendo como objetivo a 1 CINTRA, Antonio Carlos de Araújo, GRINOVER, Ada Pellegrini, DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria Geral do Processo. 25ᵃ ed. São Paulo: Malheiros, 2009. p. 30. 2 SIEGFRIED, Tom. A beautiful math: John Nash, game theory, and the modern quest for a code of nature. Washington: Joseph Henry Press, 2006. p. 29. 6 análise de conflitos envolvendo tomadas de decisões estratégicas envolvendo indivíduos racionais3. Este trabalho tem, portanto, o escopo de investigar a possibilidade de se conceber o instituto da mediação no direito processual civil de forma estruturalmente compatível com a Teoria dos Jogos. Dessa forma, procura inquirir de que maneira os conceitos básicos de tal formulação teórica pode auxiliar na otimização da resolução dos conflitos sociais envolvendo direitos patrimoniais. Para alcançar tais objetivos, utiliza-se os métodos bibliográfico e dedutivo, consistindo este na intersecção de duas áreas do saber: a Teoria dos Jogos enquanto ramo da matemática aplicada e a dogmática jurídica no que concerne aos métodos alternativos de resolução de conflitos, em especial a mediação de controvérsias envolvendo relações jurídicas de fundo patrimonial. Isto posto, no primeiro capítulo apresentar-se os conceitos básicos dos mais utilizados métodos alternativos de resolução de contendas, com destaque para a mediação. Conceitua também o que são as relações jurídicas patrimoniais, institutos passíveis de serem resolvidos pelo método da mediação. No segundo capítulo, expõe-se os conceitos fundamentais da Teoria dos Jogos considerados importantes para a sua aplicação no instituto da mediação. É importante ressaltar que esta monografia não tem como propósito a análise de particularidades matemáticas da teoria, tais como equações e afins, mas apenas instrumentalizar as concepções básicas da Teorias dos Jogos reputadas pelo autor como úteis para sua aplicação no instituto da mediação. Por fim, no terceiro capítulo há a efetiva análise, primeiramente do processo judicial contencioso, e depois da mediação, sob o prisma da referida teoria matemática, de forma a demonstrar contributos de tal intersecção para a pacificação das relações sociais. 3 STEVENS, Scott P. Games People Play: Game Theory in Life, Business, and Beyond – Course Guidebook. Chantilly: The Great Courses, 2008. p. 1. 7 1 - O Instituto da Mediação no Processo Civil envolvendo Direitos Patrimoniais Nas sociedades modernas, o Estado é a instituição que, por excelência, é meio para a formulação de regras de convivência social e instituição para a resolução dos conflitos intersubjetivos. Quanto a estes, pode-se caracterizá-los como situações em que dois ou mais sujeitos disputam um bem da vida, dada a natural escassez dos bens na sociedade4. Quando o Estado chama a si a prerrogativa de solucionar tais conflitos no lugar das próprias partes interessadas, está-se diante da finalidade pacificadora do Estado, exercida por meio da atividade jurisdicional. O próprio Estado chama para si, como terceiro imparcial, a função de resolver o conflito. Conforme Daniel Amorim Assumpção Neves, jurisdição é “[...] a atuação estatal visando a aplicação do direito objetivo ao caso concreto, resolvendo-se com definitividade uma situação de crise jurídica e gerando com tal solução a pacificação social5.” Ao longo da história do Estado de Direito, o método heterocompositivo da jurisdição foi tido como a forma quase absoluta de resolução de conflitos nos ordenamentos jurídicos. Por heterocomposição entende-se o procedimento pelo qual um terceiro substitui a vontade das partes, determina e aplica uma solução ao caso apresentado para a sua apreciação6. No caso, cabe ao Estado, no papel de sua atividade jurisdicional, determinar a solução com base nas normas jurídicas de seu ordenamento. Conforme prelecionam Antonio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cândido Rangel Dinamarco7: O extraordinário fortalecimento do Estado, ao qual se aliou a consciência da sua essencial função pacificadora, conduziu, a partir da já mencionada evolução do direito romano e ao longo dos séculos, à afirmação da quase absoluta exclusividade estatal no exercício dela. A autotutela é definida como crime, seja quando praticada pelo particular (“exercício arbitrário das próprias 4 “Escassez significa que a sociedade tem recursos limitados e, portanto, não pode produzir todos os bens e serviços que as pessoas desejam ter. Assim, como uma família não pode dar a seus membros tudo o que eles desejam, umas sociedade não pode dar a cada membro um padrão de vida alto ao qual eles aspirem.” Cf. MANKIW, N. Gregory. Introdução à Economia. Trad. Allan Vidigal Hastings. São Paulo: Cengage Leraning, 2009. p. 4. 5 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil. 3ᵃ ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2011. p. 4 6 DIDIER JR, Fredie. Curso de Direito Processual Civil, Vol.1: Teoria geral do processo e processo de conhecimento. 11ᵃ ed. Salvador: JusPODIVM, 2009. p. 68. 7 CINTRA, Antonio Carlos de Araújo, GRINOVER, Ada Pellegrini, DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria Geral do Processo. 25ᵃ ed. São Paulo: Malheiros, 2009. p. 31. 8 razões”, art. 345 CP), seja pelo próprio Estado (“exercício arbitrário ou abuso de poder”, art. 350). A própria autocomposição, que nada tem de anti-social, não vinha sendo estimulada pelo Estado. Entretanto, por diversos motivos, o método jurisdicional vem há muito tempo se mostrando deficiente para resolver os embates sociais de maneira satisfatória. A extensa duração de um processo judicial e seu elevado custo se mostra como óbice a uma efetiva e satisfatória para a solução dos embates interpessoais em sociedade. O elevado custo de um processo para as partes talvez seja um dos principais óbices ao efetivo acesso a uma prestação jurisdicional adequada. Até por conta da evidente percepção deste problema, o ordenamento pátrio prevê diversos mecanismo para atenuá-lo, como a chamada Assistência Jurídica Gratuita e a instituição da Defensoria Pública. Como afirma Luiz Guilherme Marinoni8: O custo do processo pode impedir o cidadão de propor a ação, ainda que tenha convicção de que o seu direito foi violado ou está sendo ameaçado de violação. Isso significa que, por razões financeiras, expressiva parte dos brasileiros pode ser obrigada a abrir mão dos seus direito. Porém, é evidente que não adianta outorgar direitos e técnicas processuais adequadas e não permitir que o processo possa ser utilizado em razão de óbices econômicos. Não é por outra razão que a Constituição Federal, no seu art. 5ᵒ, LXXIV, afirma que “o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos.” Diante disso, sendo o Estado obrigado a fornecer advogado ás pessoas menos favorecidas economicamente, a própria Constituição Federal, mais na frente (art.134), afirma que “a Defensoria Pública é a instituição essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a orientação jurídica e a defesa, em todos os gruas, dos necessitados, na forma do art. 5ᵒ, LXXIV.” Além do obstáculo econômico-financeiro, a demora de um processo judicial contencioso é sem dúvidas motivo de grande insatisfação quando se fala em prestação da função jurisdicional do Estado. A questão da demora processual foi por muito tempo ignorada por uma parcela mais tecnicista da doutrina processualista, por não ser, para estes, considera uma temática afeita ao “discurso científico”. Entretanto, entende-se atualmente que esse é um tema de extrema relevância a ser discutido para a efetividade do ordenamento jurídico.Isso fica ainda mais evidente ante a constatação de que um processo que se estende demasiadamente no tempo tende a prejudicar a parcela da 8 MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de Processo Civil, Vol.1: Teoria Geral do Processo. 3ᵃ ed. São Paulo: Malheiros, 2008. p. 187. 9 população que carece de recursos financeiros. Nesse sentido, mais uma vez preleciona Marinoni9: A demora processual foi tratada, por parcela da doutrina, como algo meramente acidental ao processo, e por isso destituída de qualquer importância para um “discurso científico”. [...] para outra parte da doutrina, a questão da demora do processo sempre importou, e ainda bem importando, para a adequada compreensão do direito processual civil. Ora, não há dúvida de que uma das principais questões recorrentes na história do processo é a da relação entre a aspiração à certeza, a exigir ponderação e meditação do juiz, e a busca de rapidez na definição do litígio. [...] Ademais, a morosidade do processo atinge de modo muito mais acentuado os que têm menos recursos. A demora, tratando-se de litígios envolvendo patrimônio, certamente pode ser compreendida como um custo, e esse é tanto mais árduo quanto mais dependente o autor é do valor patrimonial buscado em juízo. Quando o autor não depende economicamente do valor do litígio, ele obviamente não é afetado como aquele que tem o seu projeto de vida, ou seu desenvolvimento empresarial, vinculado à obtenção do bem ou do capital objeto do processo. Como forma de atenuar o problema, foram instituídas diversas modificações no Código de Processo Civil com o escopo de fornecer às partes litigantes e ao magistrado instrumentos para alcançarem maior celeridade na prestação jurisdiciona. Exemplos são a tutela antecipatória contra receio de dano (art. 273, I e 461, §3ᵒ do CPC), as tutelas antecipatórias com base em abuso de direito de defesa e no caso de ausência de controvérsia de parcela da demanda (art. 273, II e art. 273, §6ᵒ, ambos do CPC, respectivamente10. Não há dúvidas de que tais disposições constitucionais e infraconstitucionais em muito contribuem para o acesso à justiça, ajudando a vencer os males do alto custo e demasiada lentidão da prestação jurisdicional. Todavia, elas não são suficientes para atender à crescente demanda pela composição dos conflitos sociais. É nesse cenário que surgem os meio alternativos de resolução de conflitos. 9 MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de Processo Civil, Vol.1: Teoria Geral do Processo. 3ᵃ ed. São Paulo: Malheiros, 2008. p. 187 e 188. 10 MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de Processo Civil, Vol.1: Teoria Geral do Processo. 3ᵃ ed. São Paulo: Malheiros, 2008. p. 190 e 191. 10 1.1. Meios Alternativos de Resolução de Conflitos Os métodos alternativos de resolução de confitos são assim chamados porque não coadunam-se com o método heterocompositivo tradicional do processo jurisdicional. Ou seja, o Estado não atua diretamente, na figura do magistrado, como terceiro imparcial para a resolução do litígio a ele apresentado. Há de se atentar para o fato de que a característica autocompositiva desses métodos alternativos não implica necessariamente na ausência de um terceiro para a decidir da controvérsia11. Conforme Cintra, Grinover e Dinamarco12: Abrem-se os olhos agora, todavia, para todas essas modalidades de soluções não-jurisdicionais dos conflitos, tratadas como meios alternativos de pacificação social. Vai ganhando corpo a consciência de que, se o que importa é pacificar, torna-se irrelevante que a pacificação venha por obra do Estado ou por outros meios, desde que eficientes. Por outro lado, cresce também a percepção de que o Estado tem falhado muito na sua missão pacificadora, que ele tenta realizar mediante o exercício da jurisdição e através das formas do processo civil, penal ou trabalhista. A propósito desta temática, dois eminentes juristas, o italiano Mauro Capeletti e o norte-americano Bryant Garth capitanearam uma série de estudos em que sistematizaram as chamadas Ondas Renovatórias do Direito Processual, ideias que se encontram sistematizadas na obra Acesso à Justiça, de 1978. Nessa obra, os autores elaboraram um panorama histórico-conceitual de três movimentos de ampliação do chamado acesso à justiça, as conhecidas Ondas Renovatórias do Direito Processual. A primeira “onda” versa sobre a evolução da assistência judiciária gratuita. A segunda, acerca da proteção dos chamados “direitos difusos” nos marcos do processo civil. Já a terceira abarca o desenvolvimento dos chamados meios alternativos de resolução de conflitos. De fato, prelecionam os referidos autores13: O recente despertar de interesse em torno do acesso efetivo à Justiça levou a três posições básicas, pelo menos nos países do mundo Ocidental. Tendo 11 Conforme será visto no presente trabalho, a figura de um terceiro com função de decidir imperativamente o conflito, nos métodos alternativos, só existe na arbitragem, com a diferença de que ao contrário do processo judicial contencioso, na arbitragem o terceiro é escolhido pelas partes. 12 CINTRA, Antonio Carlos de Araújo, GRINOVER, Ada Pellegrini, DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria Geral do Processo. 25ᵃ ed. São Paulo: Malheiros, 2009. p. 31 e 32. 13 CAPPELLETTI, Mauro, GARTH, Bryant. Acesso à Justiça. Trad. Ellen Gracie Northfleet. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 1988. p. 31. 11 início em 1965, estes posicionamentos emergiram mais ou menos em seqüência cronológica. Podemos afirmar que a primeira solução para o acesso a primeira ‘onda’ desse movimento novo foi a assistência judiciária; a segunda dizia respeito às reformas tendentes a proporcionar representação jurídica para os interesses “difusos”, especialmente nas áreas da proteção ambiental e do consumidor; e o terceiro e mais recente é o que nos propomos a chamar simplesmente "enfoque de acesso à justiça" porque inclui os posicionamentos anteriores, mas vai muito além deles, representando, dessa forma, uma tentativa de atacar as barreiras ao acesso de modo mais articulado e compreensivo. Atenção especial há de ser dada à Terceira Onda Renovatória. Se a Primeira e Segunda Ondas representam um grande avanço para o efetivo acesso à justiça, a Terceira pretenderia ir além. De fato, as duas primeiras Ondas tratavam da efetiva representação de interesses em geral já constituídos nos ordenamentos jurídicos ocidentais, mas que não encontravam até então proteção adequada. A Terceira Onda trata a temática do acesso à justiça de forma mais abrangente. Há o reconhecimento de que os mecanismos apresentados nas duas primeiras Ondas de reforma são possibilidades, dentre outras, para a melhora no acesso à justiça. Sendo assim, a Terceira Onda reconhece as limitações do procedimento jurisdicional comum, mesmo com os necessários avanços apresentados pelas Ondas anteriores e discorre sobre os meios alternativos de resolução de conflitos, procedimentos mais simples e informais. Como exemplos, os autores invocam o juízo arbitral, a conciliação e o uso de incentivos econômicos para a pacificação de conflitos extrajudicialmente. Ao apresentar tais colocações, afirmam os autores14: As colocações a seguir tendem a aceitar as limitações das reformas dos tribunais regulares e, como consequência, envolvem a criação de alternativas, utilizando procedimentos mais simples e/ou julgadores mais informais. Os reformadores estão utilizando, cada vez mais, o juízo arbitral, a conciliação e os incentivos econômicos para a solução dos litígios fora dos tribunais. Essas técnicas, é preciso que se diga, podem ser obrigatórias para algumas ou todas as demandas, ou podem tornar-sedisponíveis como opção para as partes. A partir da década de 1990, os métodos alternativos de resolução de conflitos vêm crescendo em importância no ordenamento jurídico pátrio. No âmbito do processo civil, são basicamente três mecanismos: a conciliação; a arbitragem, que já conta com normatização própria (Lei nº. 9.307 de 23 de setembro de 1996); e a mediação, instituto que, apesar de não estar positivado em lei, cada vez mais vem sendo utilizada. 14 CAPPELLETTI, Mauro, GARTH, Bryant. Acesso à Justiça. Trad. Ellen Gracie Northfleet. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 1988. p. 81. 12 Seguindo nesta toada, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) editou em 29 de novembro de 2010 a Resolução nᵒ125, instituindo a chamada Política Pública de Tratamento Adequado de Conflitos. Através de tal política, visa o CNJ a organizar, uniformizar e incentivar os serviços de mediação conciliação e outros métodos consensuais de resolução de conflitos e garantir sua boa execução. 1.2. Arbitragem e Conciliação A arbitragem é um método autocompositivos de resolução e controvérsias que caracteriza-se pela seguinte dinâmica: as próprias partes envolvidas na desavença decidem, de forma contratual, submeterem o conflito a um juízo arbitral escolhido por elas próprias. Luiz Antunes Caetano define o instituto da seguinte maneira15: [...] é um procedimento em que as partes escolhem uma pessoa capaz e de sua confiança (árbitro) para solucionar os conflitos. Na arbitragem, ao contrário da conciliação e da mediação, as partes não possuem a poder de decisão. O árbitro é quem decide a questão. A arbitragem foi instituída no ordenamento jurídico brasileiro pela Lei nº. 9.307/96. Tal norma estabelece a possibilidade do uso da arbitragem em conflitos referentes a direitos patrimoniais disponíveis. Não é um método utilizável, portanto, em lides relativas a direitos personalíssimos, ou em casos criminais. Entretanto, é muito usado em controvérsias comerciais. Os requisitos para exercer o papel de árbitro são simples: basta ser uma pessoa capaz e de confiança das partes. Pode haver, no caso concreto, um árbitro para ambas as partes, um para cada parte, e ainda a nomeação de árbitros reservas. Caso haja mais de um árbitro, é necessário que sejam em número ímpar, formando assim um Tribunal Arbitral.16 Ao fim do procedimento, haverá a prolação de uma sentença pelo árbitro ou pelo Tribunal Arbitral. Trata-se da sentença arbitral, que é sigilosa para terceiros, podendo haver publicação caso haja autorização das partes. É também uma decisão 15 CAETANO, Luiz Antunes. Arbitragem e Mediação: rudimentos. São Paulo: Atlas, 2002. p. 40. 16 MENEGHIN, Laís, NEVES, Fabiana Junqueira. Meios Alternativos de Resolução de conflitos – Mediação, Conciliação e Arbitragem. Disponível em <http://intertemas.unitoledo.br/revista/index.php/ETIC/article/viewFile/2442/1966>. Acesso em 20 de outubro de 2012. http://intertemas.unitoledo.br/revista/index.php/ETIC/article/viewFile/2442/1966 13 irrecorrível, embora possa ser declarada sua nulidade pelo juiz de direito. Além disso, não precisa ser homologada pelo Poder Judiciário17.Mais uma vez utiliza-se das lições de Luiz Antunes Caetano para traçar uma conceito para o instituto em questão18: [...] meio ou modo de acordo do conflito entre partes adversas, desavindas em seus interesses ou direitos, pela atuação de um terceiro. A conciliação também é um dos modos alternativos de solução extrajudicial de conflitos. Em casas específicas, por força de Lei, está sendo aplicada pelos órgãos do Poder Judiciário. Já método da conciliação é o mais simples dentre os três métodos alternativos de composição de conflitos utilizados pelo processo civil brasileiro. Tem como fundamento a ideia de que as partes dialogam entre si na busca de soluções para o embate, enquanto um terceiro imparcial interfere no, apontando possíveis soluções. A conciliação também se encontra estabelecida no ordenamento processual civil nacional, sendo por este instituída de duas formas: a endoprocessual e a extraprocessual. Como as próprias designações já denotam, a primeira ocorre dentro de um processo judicial, enquanto a segunda modalidade acontece fora do procedimento jurisdicional. De fato, O Código de Processo Civil faz referência ao uso da conciliação endoprocessual ao estabelecer, em seu art. 125, inciso IV, que o juiz deve tentar, a qualquer momento, conciliar as partes. Nesse sentido, afirmam Cintra, Grinover e Dinamarco19: [...] a conciliação pode ser extraprocessual ou endoprocessual. Em ambos os casos, visa a induzir as pessoas em conflito a ditar a solução para a sua pendência. O conciliador procura obter uma transação entre as partes, ou a submissão de um à pretensão do outro, ou a desistência da pretensão. Tratando-se de conciliação endoprocessual, pode-se chegar à mera desistência da ação, ou seja, revogação da demanda inicial para que o processo se extinga sem que o conflito receba solução alguma. Dessa forma, expõe-se a seguir o método de resolução de conflitos mais importante para o desenvolvimento do presente trabalho, qual seja: o processo de mediação. 17 MENEGHIN, Laís, NEVES, Fabiana Junqueira. Meios Alternativos de Resolução de conflitos – Mediação, Conciliação e Arbitragem. Disponível em <http://intertemas.unitoledo.br/revista/index.php/ETIC/article/viewFile/2442/1966>. Acesso em 20 de outubro de 2012. 18 CAETANO, Luiz Antunes. Arbitragem e Mediação: rudimentos. São Paulo: Atlas, 2002. p. 4. 19 CINTRA, Antonio Carlos de Araújo, GRINOVER, Ada Pellegrini, DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria Geral do Processo. 25ᵃ ed. São Paulo: Malheiros, 2009. p. 34. http://intertemas.unitoledo.br/revista/index.php/ETIC/article/viewFile/2442/1966 14 1.1. Mediação Como método alternativo de solução de disputas, a mediação é um processo por meio do qual as partes envolvidas buscam um terceiro imparcial para auxiliar na formulação para a decisão do impasse. Este não possui o poder de impor uma solução aos litigantes, apenas atuando como facilitador da procura de um consenso para a disputa. Conforme Bernardina de Pinho20: Entende-se a mediação como o processo por meio do qual os litigantes buscam o auxílio de um terceiro imparcial que irá contribuir na busca pela solução do conflito. Esse terceiro não tem a missão de decidir (e nem a ele foi dada autorização para tanto). Ele apenas auxilia as partes na obtenção da solução consensual. No mesmo sentido aponta a definição de Helena Soleto Muñoz21: A mediação é um procedimento através do qual um terceiro imparcial ajuda as partes em disputa a chegar a um acordo. A essência da mediação que reflete esta definição é a autonomia da vontade das partes: são as partes que chegam a um acordo, livremente, e apoiadas por um terceiro, o qual, consequentemente, deve ser imparcial. Além disso, essa visão de mediação está ligada ao conflito que é objeto ou pode ser objeto de um processo. (tradução livre) Ao contrário da arbitragem e da conciliação, a mediação não está regulamentada no ordenamento jurídico pátrio. No ano de 1998, foi proposto o Projeto de Lei nᵒ 4827/98, com fulcro em institucionalizar a prática da mediação no processo civil brasileiro. No ano seguinte o Instituto Brasileiro de Direito Processual (IBDP) apresentou um anteprojeto de lei com o mesmo objetivo22. 20 PINHO, Humberto Dalla Bernardina de. Mediação – a redescoberta de um velho aliado na solução de conflitos. In: PRADO, Geraldo (org.). Acesso à Justiça: efetividade do processo. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005. p. 10. 21 "La mediación esun procedimiento a través del cual un tercero imparcial ayuda a las partes en conflicto a llegar a un acuerdo. La esencia de La mediación que refleja esta definición es la autonomía de la voluntad de las partes: son las partes las que llegan a un acuerdo, libremente, y auxiliadas por un tercero, que, consecuentemente, ha de ser imparcial. Por otra parte, esta perspectiva de la mediación se encuentra vinculada al conflicto que es objeto o puede ser objeto de un processo." Cf. MUÑOZ, Helena Soleto. La Mediación: Método de Resolución Alternativa de Conflictos en el Proceso Civil Español. In: Revista Eletrônica de Direito Processual, ano 3, vol. 3, janeiro a junho de 2009. p.67. Disponível em e <http://www.redp.com.br/arquivos/redp_3a_edicao.pdf>. Acesso em: 03 de fevereiro de 2013. 22 PINHO, Humberto Dalla Bernardina de. A Mediação no Direito Brasileiro: Evolução, Atualidades e Possibilidades no Projeto do Novo Código de Processo Civil. p. 2. Disponível em http://www.redp.com.br/arquivos/redp_3a_edicao.pdf 15 Tendo em vista o projeto do IBDP, em 2002 houve a elaboração de um texto conciliatório entre os dois projetos, o que resultou no Projeto de Lei nº. 94/02. Tal projeto foi aprovado pelo Senado Federal em 2006, com o objetivo de institucionalizar e regulamentar a mediação nos conflitos cíveis no ordenamento jurídico brasileiro23. Em 2009, diante da convocação de uma comissão de juristas presidida pelo então Ministro do Superior Tribunal de Justiça e atual Ministro do Supremo Tribunal Federal Luiz Fux, para apresentar um novo Código de Processo Civil, foi proposto um anteprojeto, convertido no Projeto de Lei nᵒ 166/10. Foi então que mais uma vez, em 2011, foi proposto no Senado novo projeto de lei para a instituição da mediação no ordenamento jurídico pátrio, o Projeto de Lei nᵒ 517/11, elaborado com a colaboração dos professores Humberto Dalla Bernardina Pinho, Trícia Navarro e Gabriela Asmar, atualmente em tramitação no Congresso Nacional. O artigo 2ᵒ do Projeto de Lei nᵒ 517/11 traz uma definição do instituto da mediação, nos seguintes termos: “Art. 2º Para fins desta Lei, mediação é um processo decisório conduzido por terceiro imparcial, com o objetivo de auxiliar as partes a identificar ou desenvolver soluções consensuais24.” Ainda que não seja ainda uma norma vigente no ordenamento jurídico pátrio, tal projeto de lei torna-se um bom parâmetro para a análise do instituto da mediação. Seguindo os conceitos expostos no projeto, pode-se fazer uma análise do instituto com base em três elementos fundamentais: a existência de partes em conflito que estejam dispostas a, voluntariamente, optar pela via da mediação; um terceiro capacitado a auxiliar na busca por uma solução consensual, escolhido e reconhecido pelos litigantes como confiável para a tarefa; e a própria contraposição de interesses entre essas partes25. O primeiro elemento apresentado são as partes envolvidas no conflito. Podem ser pessoas físicas ou jurídicas. Se forem pessoas físicas, podem ser inclusive menores, <http://www.humbertodalla.pro.br/arquivos/a_mediacao_e_o_processo_civil_brasileiro_- _evolucao_atualidades_e_expectativas_no_ncpc_-_200511.pdf>. Acesso em: 03 de fevereiro de 2013. 23 PINHO, Humberto Dalla Bernardina de. A Mediação no Direito Brasileiro: Evolução, Atualidades e Possibilidades no Projeto do Novo Código de Processo Civil. p. 2 e 3. Disponível em <http://www.humbertodalla.pro.br/arquivos/a_mediacao_e_o_processo_civil_brasileiro_- _evolucao_atualidades_e_expectativas_no_ncpc_-_200511.pdf>. Acesso em: 03 de fevereiro de 2013. 24 BRASIL. Projeto de Lei nᵒ 517 de 2011. Disponível em: <http://www.senado.gov.br/senado/novocpc/pdf/Anteprojeto.pdf>. Acesso em: 10 de abril de 2013. 25 PINHO, Humberto Dalla Bernardina de. A Mediação e a Necessidade de sua Sistematização no Processo Civil Brasileiro. p. 7. Disponível em <http://www.humbertodalla.pro.br/arquivos/a_mediacao_e_a_necessidade_de_sua_sistematizacao_no_pr ocesso_civil_brasileiro.pdf>. Acesso em: 03 de fevereiro de 2013. http://www.humbertodalla.pro.br/arquivos/a_mediacao_e_o_processo_civil_brasileiro_-_evolucao_atualidades_e_expectativas_no_ncpc_-_200511.pdf http://www.humbertodalla.pro.br/arquivos/a_mediacao_e_o_processo_civil_brasileiro_-_evolucao_atualidades_e_expectativas_no_ncpc_-_200511.pdf http://www.humbertodalla.pro.br/arquivos/a_mediacao_e_o_processo_civil_brasileiro_-_evolucao_atualidades_e_expectativas_no_ncpc_-_200511.pdf http://www.humbertodalla.pro.br/arquivos/a_mediacao_e_o_processo_civil_brasileiro_-_evolucao_atualidades_e_expectativas_no_ncpc_-_200511.pdf http://www.senado.gov.br/senado/novocpc/pdf/Anteprojeto.pdf http://www.humbertodalla.pro.br/arquivos/a_mediacao_e_a_necessidade_de_sua_sistematizacao_no_processo_civil_brasileiro.pdf http://www.humbertodalla.pro.br/arquivos/a_mediacao_e_a_necessidade_de_sua_sistematizacao_no_processo_civil_brasileiro.pdf 16 desde que devidamente representados ou assistidos. As partes podem ser também entes despersonalizados, desde que identificáveis o representante ou gestor. É importante salientar que a mediação deve ser encarada como um meio de resolução de conflitos voluntário: as partes por livre e espontânea vontade devem ter a opção de escolher se farão uso ou não deste método. O segundo tópico da estrutura do instituto da mediação é o próprio mediador, o terceiro neutro que ajudará as partes conflitantes a chegarem a um resultado consensual satisfatório. É de extrema importância que sua escolha recaia em uma pessoa equidistante às partes e que goze de credibilidade diante delas. A confiança dos litigantes em relação à figura do mediador é crucial para o bom desenvolvimento do processo de mediação. Humberto Dalla Bernadina Pinho estabelece interessante classificação do processo com base na figura do mediador. O procedimento de mediação pode ser passivo, no qual o mediador atua meramente como facilitador na busca do resultado conciliatório. Apenas intermedeia o diálogo entre as partes, não apresentando assim seu ponto de vista sobre o assunto em questão. Por outro lado, há a possibilidade de o procedimento ser ativo, em que a figura do mediador tem a prerrogativa de apresentar propostas de solução do problema26. Trata-se de uma postura avaliadora do mediador. É fácil notar que, nesta modalidade, o mediador atua como uma espécie de conciliador27. De acordo com a definição apresentada pelo já citado art. 2ᵒ do Projeto de Lei nᵒ 517/11, embora este não tenha sido convertido em lei, demonstra ao menos que a orientação seguida no caso brasileiro é a do modelo passivo de mediação. Por fim, o terceiro elemento é a existência do próprio conflito. Ainda segundo o professor Dalla Bernardina Pinho, este item é o delimitador da amplitude da atuação do mediador no caso concreto. Para o eminente processualista, é importante que o mediador, para bem desenvolver seus trabalhos, possua conhecimentos de psicologia, tomando cuidado para não tornar a mediação demasiada abstrata e interminável28. 26 A modalidade de mediação ativa muito se assemelha com a conciliação. 27 PINHO, Humberto Dalla Bernardina de. A Mediação e a Necessidade de sua Sistematização no Processo Civil Brasileiro. p. 9. Disponível em <http://www.humbertodalla.pro.br/arquivos/a_mediacao_e_a_necessidade_de_sua_sistematizacao_no_pr ocesso_civil_brasileiro.pdf>. Acesso em: 03 de fevereiro de 2013. 28 PINHO, Humberto Dalla Bernardina de A Mediação e a Necessidade de sua Sistematização no Processo Civil Brasileiro. p. 8. Disponível em <http://www.humbertodalla.pro.br/arquivos/a_mediacao_e_a_necessidade_de_sua_sistematizacao_no_pr ocesso_civil_brasileiro.pdf>. Acesso em: 03 de fevereiro de 2013. http://www.humbertodalla.pro.br/arquivos/a_mediacao_e_a_necessidade_de_sua_sistematizacao_no_processo_civil_brasileiro.pdfhttp://www.humbertodalla.pro.br/arquivos/a_mediacao_e_a_necessidade_de_sua_sistematizacao_no_processo_civil_brasileiro.pdf http://www.humbertodalla.pro.br/arquivos/a_mediacao_e_a_necessidade_de_sua_sistematizacao_no_processo_civil_brasileiro.pdf http://www.humbertodalla.pro.br/arquivos/a_mediacao_e_a_necessidade_de_sua_sistematizacao_no_processo_civil_brasileiro.pdf 17 Além de tais conhecimentos, é interessante que o mediador domine outras áreas do saber que facilitem seu trabalho de auxiliar as partes a dar fim à controvérsia apresentada. Dessa maneira, o objetivo do presente trabalho é justamente demonstrar como a Teoria dos Jogos pode ser uma dessas ferramentas a serem utilizada para o bom desenvolvimento do processo de mediação, mais especificamente na seara dos direitos patrimoniais, quais sejam: os direitos subjetivos suscetíveis a apreciação pecuniária29. 29 GOMES, Orlando. Introdução ao Direito Civil. 19ᵃ ed. Rev. e atual. Por Edvaldo Brito e Reginalda Paranhos de Brito. Rio de Janeiro: Forense, 2008. p. 102. 18 2 - Teoria dos Jogos e seus Conceitos Fundamentais Uma das mais clássicas cenas do cinema mundial foi protagonizada por James Dean e Corey Allen no filme Rebel Without a Cause (1955), dirigido por Nicholas Ray30. Nela, os personagens Jim Stark e Buzz Gunderson, interpretados por Dean e Allen, respectivamente, disputam o chamado “Jogo do Covarde” (Chicken Run, no original): utilizando carros roubados, ambos apostam uma corrida em direção a um desfiladeiro. O primeiro que desistir, pulando do automóvel, perde a disputa, sendo assim considerado um covarde. Considerando o cenário deste desafio, quais as atitudes que os personagens poderiam tomar? Se ambos abandonam a corrida, ninguém perde. Os dois podem pular do carro, desistindo, ou continuar – parando antes do desfiladeiro, obviamente – e assim vencendo o embate. Se um corredor pula do carro, a melhor atitude para seu concorrente é não pular. Uma conduta pior para um dos corredores do que ambos saírem do carro é pular, se o outro não pular. Mas há uma possibilidade pior para ambos do que as anteriores: nenhum dos dois pularem, levando-os para a morte certa no desfiladeiro31. No filme, Buzz prende a alça do braço de sua jaqueta à maçaneta do carro o que o faz perder a direção do veículo. Percebendo que este não vai parar, Jim pula do carro, enquanto seu adversário cai desfiladeiro abaixo. Como exercício de imaginação, a obra cinematográfica coloca o espectador diante de um conflito em que a decisão a ser tomada por um concorrente que almeja ter o melhor resultado possível para si, dadas as circunstâncias, depende de sua expectativa acerca de como agirá seu adversário. É justamente este tipo de situação que é estudada pela chamada Teoria dos Jogos. 2.1. A ideia de Jogo para a Teoria dos Jogos Para se entender o que é a Teoria dos Jogos, primeiramente é necessário saber o que se entende pela ideia de jogo. Para tal, deve-se ter em mente que tal definição é dada pela palavra usada para exprimi-la. As palavras não são resultado de uma operação lógica ou científica, mas sim pelo uso reiterado nas diversas formações sociais. Portanto, 30 REBEL WITHOUT A CAUSE. Direção: Nicholas RAY. EUA: Warner Bros, 1955. 1 DVD (111 min.), widescreen, color., legendado. 31 FIANI, Ronaldo. Teoria dos Jogos: para cursos de administração e economia. 2ᵃ ed. ver. e atual. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. p. 112 e 113. 19 para se ter uma noção do que o termo exprime, é interessante buscar seu conceito não só em nosso léxico, mas também em outras línguas que nos são culturalmente próximas. Com efeito, o termo jogo tem seu correspondente no latim uma palavra bastante abrangente: ludus, de ludere, da qual deriva lusus. Sua etimologia parece derivar da ideia de “ilusão”, “simulação”. Mais tarde o termo deixou de ser usado, substituído por um derivado de jocus, cujo significado original – gracejar – deu lugar a uma concepção mais geral da ideia de jogo. Daí surgiram os vocábulos das línguas derivadas do latim, como por exemplo: jeu, jouer, no francês, juego, jugar, no espanhol e jogo, jogar no português32. Na língua inglesa, o termo play se origina do anglo-saxão plega, que denota literalmente jogo, mas também dá a ideia de movimento rápido, aperto de mãos, exercícios físicos, dentro outros significados33.A evolução das línguas holandesa e alemã, passando pelo latim medieval e pelo antigo anglo-saxão, mostram uma enorme gama de significados para seus termos, como perigo, desafio, competição. De fato, todos esses termos estão relacionados à ideia de jogo34. Esta brevíssima etimologia do vocábulo jogo auxilia a compreender a concepção do termo na Teoria dos Jogos. O aspecto lúdico, ao contrário do que possa parecer à primeira vista, não é essencial para a compreensão da teoria, embora esse atributo possa estar, (muitas vezes está) presente. O fundamental aqui é a ideia de conflito. A Teoria dos Jogos é um ramo da matemática aplicada para a análise e proposta de resolução de disputas, podendo estas variarem de simples jogos de cartas a embates militares e evolução biológica de seres vivos, passando pelo domínio da Ciência Econômica, ramo do conhecimento pelo qual as contribuições da Teoria dos Jogos logrou maior reconhecimento35, e, é claro, o fenômeno jurídico. Sendo assim, a Teoria dos Jogos pode ser definida basicamente como uma ferramenta matemática que visa a analisar uma situação de conflitos entre agentes 32 HUIZINGA, Johan. Homo Ludens: A Study of the Play-Element in Culture. Londres, Boston e Henley: Routledge & Kegan Paul Ltd., 1949. p. 35 e 36. 33 HUIZINGA. Homo Ludens: A Study of the Play-Element in Culture. Londres, Boston e Henley: Routledge & Kegan Paul Ltd., 1949. p.39. 34 HUIZINGA. Homo Ludens: A Study of the Play-Element in Culture. Londres, Boston e Henley: Routledge & Kegan Paul Ltd., 1949. p.40. 35 ALMEIDA, Fábio Portela Lopes de. A teoria dos jogos: uma fundamentação teórica dos métodos de resolução de disputa. In: AZEVEDO, André Gomma de (org.). Estudos em Arbitragem, Mediação e Negociação. Vol. 2, Brasília: Ed. Grupos de Pesquisa, 2003. p.179 e 180. 20 racionais, com o objetivo de descobrir as melhores estratégias a serem utilizadas para que tais participantes alcancem o objetivo que desejam ao participar. Para se compreender esta definição e modo funcionamento da teoria, é necessário ter em mente os diversos conceitos importantes, tais como: utilidade, racionalidade, estratégia, payoffs, Princípio Minimax e Equilíbrio de Nash. É o que será visto a seguir. 2.2. Pressupostos Axiomáticos da Teoria dos Jogos: Para a devida compreensão da base teórica da Teoria dos Jogos, é preciso entender uma série de conceitos fundamentais. Tais pressupostos não possuem fundamentação conceitual ou corroboração empírica36. A Teoria dos Jogos os considera como axiomas, ou seja, são válidos pela ligação intrínseca das ideias que os compõe, não precisando, portanto, ser provados37. 2.2.1 Agentes (Jogadores): Qualquer conflito de interesses pressupõe a existências dos agentes conflitantes. As situações estudadas pela Teoria dos Jogos, como não poderia deixar de ser, pressupõe agentes ou grupos de agentes em interação uns com os outros, portanto capazes de influenciar a tomada de decisões que influenciam as expectativa de seu(s) adversário(s)38. Geralmente, estes agentes são denominados jogadores, embora a nomenclatura utilizada para designá-los não possua maior importância. Nesta toada, conceitua Ronaldo Fiani39: 36 ALMEIDA, Fábio Portela Lopes de. A teoria dos jogos: umafundamentação teórica dos métodos de resolução de disputa. In: AZEVEDO, André Gomma de (org.). Estudos em Arbitragem, Mediação e Negociação. Vol. 2, Brasília: Ed. Grupos de Pesquisa, 2003. p.183. 37 “AXIOMA - (do gr. axiós, valor, daí axioma, estimativa). a) Diz-se de cada proposição universalmente válida, que é evidente ex ipsis terminis intelectis (pela compreensão dos termos, sujeito e predicado: pela ligação intrínseca das respectivas idéias) e que, portanto, não precisa ou não pode ser provada.” Cf. SANTOS, Mário Ferreira dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. São Paulo: Matese, 1963. p. 201 e 202. 38 Há autores que consideram não haver a necessidade, dependendo do caso em questão, de que os jogadores em um conflito analisado sob o prisma da Teoria dos Jogos influenciem a tomada de decisões por parte dos adversários, como no caso de um vendedor em um mercado pulverizado, no qual cada vendedor representa uma fatia tão diminuta da oferta total de determinado bem que não chega a influenciar o preço do bem ofertado, não influenciando assim as expectativas de um comprador. Entretanto, os casos considerados neste estudo seguem a ideia de que os jogadores são sempre capazes de influenciar as decisões de seus adversários. Neste sentido, FIANI, Ronaldo. Teoria dos Jogos: para cursos de administração e economia. 2ᵃ ed. ver. e atual. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. p. 12 e 13. 39 FIANI, Ronaldo. Teoria dos Jogos: para cursos de administração e economia. 2ᵃ ed. ver. e atual. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. p. 13. 21 Um agente é qualquer indivíduo, ou grupo de indivíduos, com capacidade de decisão para a afetar os demais: um indivíduo sozinho pode ser um agente, como no caso em que um empregado decide se vai ou não pedir um aumento a seu patrão; ou um grupo de indivíduos pode ser um agente, como no caso de empregados que decidem fazer uma greve por melhores salários. Em ambos os casos, um agente é denominado, em teoria dos jogos, um jogador. Vale enfatizar que jogadores podem ser tanto indivíduos como organizações (empresas, governos, sindicatos, partidos políticos etc.). 2.2.2 Utilidade: O termo utilidade é um conceito que se pode chamar de polissêmico no âmbito da filosofia, ciências humanas e sociais. O teólogo germânico do século XIII Alberto Magno conceitua o vocábulo como “o que é meio ou instrumento para um fim qualquer40.” No pensamento do filósofo inglês Thomas Hobbes, útil é “o que serve à conservação do homem ou, em geral, satisfaz às suas necessidades ou atende aos seus interesses41.” Para o intelectual oitocentista Jeremy Bentham, baluarte do chamado pensamento utilitarista, o termo é definido como “a propriedade de um objeto em virtude da qual ele tende a produzir benefício, vantagem, prazer, bem ou felicidade42.” Já na acepção da economia política, geralmente se define como útil “tudo o que satisfaz uma necessidade43.” É interessante notar que, embora tais definições não sejam idênticas, são bem semelhantes. Todas possuem em comum a ideia de satisfação de uma necessidade. Trata-se de uma propriedade inerente a um agente, não havendo sentido em se falar em algo útil se não há um alguém para usufruir da utilidade. De fato, enquanto axioma da Teoria dos Jogos, a noção de utilidade é uma reflexão do objetivo do jogador, que é o de garantir a maior satisfação possível, dadas as circunstâncias, com o jogo. Utilidade, portanto, pode ser definida, para a Teoria dos 40 ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Trad. Alfredo Bosi e Ivone Castilho Benedetti. 5ᵃ ed. rev. e atual. São Paulo: Martins Fontes, 2007. p. 985. 41 ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Trad. Alfredo Bosi e Ivone Castilho Benedetti. 5ᵃ ed. rev. e atual. São Paulo: Martins Fontes, 2007. 986. 42 BENTHAM, Jeremy apud ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Trad. Alfredo Bosi e Ivone Castilho Benedetti. 5ᵃ ed. rev. e atual. São Paulo: Martins Fontes, 2007. p. 986. 43 ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Trad. Alfredo Bosi e Ivone Castilho Benedetti. 5ᵃ ed. rev. e atual. São Paulo: Martins Fontes, 2007. p. 986. 22 Jogos, como a sensação imediata de preferência por parte de um jogador em relação aos resultados do conflito44. 2.2.3 Presunção de Racionalidade: Talvez o principal axioma da Teoria dos Jogos seja o conceito de racionalidade. Há de se ressaltar que se trata de uma concepção diferente do desenvolvimento da ideia de racionalidade que se encontra em outras áreas do saber, como psicologia e biologia. É um conceito relativamente simples se comparado ao estudado nestas áreas, embora estas, como já enfatizado, possuam temas que já foram alvo de pesquisas com base na Teoria dos Jogos45. Fundamentalmente, a ideia de racionalidade está fincada no pressuposto de que os agentes jogam para maximizar utilidade. Agir desta maneira, para a Teoria dos Jogos, é agir de forma racional. Ou seja, a parte em um conflito não joga para perder utilidade, e sim para obter a máxima satisfação possível com o jogo, dada as circunstâncias. Desta forma, a Teoria dos Jogos não pode ser aplicada em conflitos nos quais os agentes jogam para perder a disputa. Por isso se fala em presunção de racionalidade: o agir racional, nos termos expostos, é um pressuposto para que determinado conflito seja alvo de análise pela teoria. Este axioma também reduz as possibilidades de resultados de um conflito, dado que o agir racional, nos termos da teoria, é mais previsível do que uma conduta irracional46. É interessante notar que o entendimento de racionalidade utilizado pela Teoria dos Jogos exclui qualquer consideração de cunho moral quanto aos objetivos dos jogadores. Sendo assim, para a funcionalidade da teoria, não importa eventual avaliação 44 ALMEIDA, Fábio Portela Lopes de. A teoria dos jogos: uma fundamentação teórica dos métodos de resolução de disputa. In: AZEVEDO, André Gomma de (org.). Estudos em Arbitragem, Mediação e Negociação. Vol. 2, Brasília: Ed. Grupos de Pesquisa, 2003. p.183. 45 “Para a teoria dos jogos, a idéia de racionalidade há de ser entendida de forma bem diferente daquela em que é comumente utilizada tanto na filosofia quanto na biologia, ou mesmo na psicologia. A discussão acerca da racionalidade humana já levou a diversos tratados sobre o assunto e, até hoje, a ciência não chegou a um conceito unívoco.” Cf. ALMEIDA, Fábio Portela Lopes de. A teoria dos jogos: uma fundamentação teórica dos métodos de resolução de disputa. In: AZEVEDO, André Gomma de (org.). Estudos em Arbitragem, Mediação e Negociação. Vol. 2, Brasília: Ed. Grupos de Pesquisa, 2003. p.183. 46 ALMEIDA, Fábio Portela Lopes de. A teoria dos jogos: uma fundamentação teórica dos métodos de resolução de disputa. In: AZEVEDO, André Gomma de (org.). Estudos em Arbitragem, Mediação e Negociação. Vol. 2, Brasília: Ed. Grupos de Pesquisa, 2003. p. 184. 23 de cunho axiológico que os jogadores ou algum agente externo ao conflito venham a fazer quanto ao escopo daqueles. O importante para a concepção de racionalidade na Teoria dos Jogos é, fundamentalmente, entender que as partes envolvidas no embate jogam para maximizar sua utilidade47. Dado o exposto, é importante ressaltar uma importante questão. Dizer que o agente joga para maximizar utilidade não significa que ele não jogue para perder a disputa. Se ser derrotado no conflito maximizar a utilidade do jogador, tem-se claramente que ele está agindo racionalmente48. Um exemplo que facilita a compreensão desta ideia é o de um pai que confessa um crime cometido pelo filho. Embora tal atitude piore a situação do pai – deve cumprir uma pena por algo um crime que não cometeu – a utilidade está no fato de que seu filho estará em liberdade. Dada a preferência do pai,ele de fato maximizou sua utilidade, agindo assim de forma racional49. 2.2.4 Estratégia e Payoffs Assim como os demais conceitos já abordados, para a Teoria dos Jogos o termo estratégia possui uma definição bem restrita. De fato, estratégia para a teoria nada mais é do que “o conjunto de opções de ação que os jogadores têm para chegar a todos os resultados possíveis50.” Dado, como já visto, que os jogadores em um conflito agem de forma a maximizar sua utilidade, um comportamento racional de suas partes pressupõe que suas ações durante o jogo levem em conta as possibilidades de ação do adversário. É o 47 FIANI, Ronaldo. Teoria dos Jogos: para cursos de administração e economia. 2ᵃ ed. ver. e atual. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. p. 13. 48 Seguindo esta linha de raciocínio, há autores, como FIANI, que chegam a entender que o conceito de racionalidade para a Teoria dos Jogos é a coerência entre os meios e os fins dos agentes em conflito. Para tanto, fornece o exemplo de que uma pessoa que reúne informações no mercado financeiro para aplicação para aplicar seu dinheiro em ações e assim maximizá-lo em proveito próprio age tão racionalmente, quanto outro sujeito que coletasse informações sobre as formas mais eficientes de transferir seus fundos para a população de rua. Embora o raciocínio esteja correto, trata-se de um conceito incompleto. Para se traçar uma definição de racionalidade no âmbito da Teoria dos Jogos é imperioso ressaltar a ideia de maximização de utilidade. De fato, no exemplo ministrado, o indivíduo que coleta informações para ajudar os necessitados o faz como forma de maximizar sua satisfação no dado contexto. 49 ALMEIDA, Fábio Portela Lopes de. A teoria dos jogos: uma fundamentação teórica dos métodos de resolução de disputa. In: AZEVEDO, André Gomma de (org.). Estudos em Arbitragem, Mediação e Negociação. Vol. 2, Brasília: Ed. Grupos de Pesquisa, 2003. p.184. 50 ALMEIDA, Fábio Portela Lopes de. A teoria dos jogos: uma fundamentação teórica dos métodos de resolução de disputa. In: AZEVEDO, André Gomma de (org.). Estudos em Arbitragem, Mediação e Negociação. Vol. 2, Brasília: Ed. Grupos de Pesquisa, 2003. p. 184. 24 chamado comportamento estratégico dos jogadores51. Com efeito, as decisões tomadas pelos jogadores ao longo de uma disputa se configuram como uma cadeia na qual o que uma parte decide depende da expectativa sobre o que o adversário fará em resposta às suas ações, e vice-versa. Neste sentido, dispõe Thomas C. Schelling52: O termo “estratégia” é tomado, aqui, a partir da teoria dos jogos, a qual distingue jogos de habilidade, jogos de azar e jogos de estratégia, sendo esses último aqueles nos quais o melhor curso de ação para cada jogador depende do que o outro jogadores fazem. O termo tem a intenção de focar a interdependência das decisões dos adversários e suas expectativas sobre o comportamento de cada um dos outros.(tradução livre) Correlato à noção de estratégia, está o conceito de payoff. Trata-se nada mais do que os possíveis resultados que cada um dos jogadores espera obter em cada possível combinação de estratégias feita pelos participantes do jogo. Dito de outra forma, payoff é a perda ou recompensa que um jogador obtém quando todos os jogadores seguem suas respectivas estratégias53. 2.2.5 Tipos de Jogos Dadas as noções básicas de estruturação de conflitos sob a ótica de Teoria dos Jogos, é necessário expor algumas classificações usualmente utilizadas pelos autores da área, com o objetivo de melhor operar os conceitos da teoria frente aos conflitos da vida real. De fato, não basta saber os conceitos básicos para se trabalhar satisfatoriamente com a Teoria dos Jogos. É preciso saber modelar tais formulações para uma análise satisfatória do conflito, para assim avaliar mais facilmente as interações estratégicas dos agentes nele envolvidos e assim prever seus possíveis resultados54. 51 BAIRD, Douglas G., GERTNER, Robert H., PICKER, Randal C. Game Theory and the Law. Cambridge: Harvard University Press, 1994. p. 1. 52 “The term ‘strategy’ is taken, here, from the theory of games, which distinguishes games of skill, games of chance, and games of strategy, the latter being those in which the best course of action for each player depends on what the other players do. The term is intended to focus on the interdependence of the adversaries' decisions and on their expectations about each other's behavior’’ Cf. SCHELLING, Thomas C. The Strategy of Conflict. Londres: Eighth printing, 1981. p .1. 53 “A payoff is the reward or loss a player experiences when all the players follow their respective strategies.” Cf. STEVENS, Scott P. Games People Play: Game Theory in Life, Business, and Beyond – Course Guidebook. Chantilly: The Great Courses, 2008. p. 5 e 6. 54 FIANI, Ronaldo. Teoria dos Jogos: para cursos de administração e economia. 2ᵃ ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. p. 41. 25 No presente trabalho, são apresentadas três classificações básicas dos modelos de jogos: jogos cooperativos e não-cooperativos; jogos de soma zero e de soma não-zero; e jogos de informação perfeita e informação imperfeita55. 2.2.5.1 Jogos cooperativos e jogos não-cooperativos A classificação mais simples para a Teoria dos Jogos é a que separa os tipos de jogos em cooperativos e não-cooperativos. Um jogo cooperativo caracteriza-se por se tratar de uma situação na qual os agentes jogadores agregam utilidade se cooperarem entre si. Nesse tipo de jogo a coordenação facilita os jogadores a alcançarem seus objetivos, o que faz com que eles sintam-se motivados a cooperar entre si. Em outras palavras, cada jogador possui um melhor payoff, ou seja, uma recompensa, caso aja de forma coordenada com seu adversário, ao invés de atuar de forma independente. Com efeito, é um tipo de jogo em que os participantes objetivam ganhos mútuos56. Robert S. Pindick e Daniel L. Rubinfeld apresentam didáticos exemplos57: Um exemplo de jogo cooperativo é a negociação entre um comprador e um vendedor em torno do preço de um tapete. Se o tapete custa $ 100 para ser produzido e o comprador atribui o valor de $ 200 ao tapete, torna-se possível uma solução cooperativa para o jogo, pois um acordo de venda por qualquer preço entre $ 101 e $ 199 maximizará a soma do excedente do consumidor com o lucro do vendedor e será benéfica para ambas as partes. Outro jogo cooperativo pode envolver duas empresas de determinado setor que estejam negociando um investimento em conjunto para desenvolver uma nova tecnologia (considerando-se que nenhuma das duas teria know-how suficiente para obter sucesso sozinha). Se as empresas podem assinar um contrato entre si, dividindo os lucros decorrentes do investimento conjunto, torna-se possível um resultado cooperativo que beneficiará ambas as partes. De forma contrária, o jogo não-cooperativo é definido pela ideia de que um jogador, a princípio, não maximizará utilidade se eventualmente decidir cooperar com a parte adversária. São jogos nos quais os participantes possuem objetivos confrontantes. 55 De fato, a Teoria dos Jogos possui diversas outras classificações quanto aos modelos de jogos, tais como jogos de forma normal e extensiva e jogos de estratégia dominante e dominada. Entretanto, tais ordenações não se mostram necessárias para o escopo do presente trabalho. 56 STEVENS, Scott P. Games People Play: Game Theory in Life, Business, and Beyond – Course Guidebook. Chantilly: The Great Courses, 2008. p. 77. 57 PINDYCK, Robert S., RUBINFELD, Daniel L. Microeconomia. Trad. Eleutério Prado, Thelma Guimarães e Luciana do Amaral Teixeira. 7ᵃ ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2010.p. 426. 26 Dessa forma, coordenar esforços com o adversário significa perder utilidade. Mais uma vez, Pindick e Rubinfeld trazem ilustrativos exemplos58: Um exemplo de jogo não-cooperativo é a situação na qual duas empresas concorrentes levam em consideração os prováveis comportamentos uma da outra e determinam independentemente uma estratégia de preço. Ambas sabem que, estabelecendo preços menores que a outra, podem obter uma fatia maior do mercado. Mas também sabem que, ao fazê-lo, correm o risco de iniciar uma guerra de preços. Outro jogo não-cooperativo é o leilão [...]. Cada licitante deve levar em, consideração o comportamento dos outros ao determinar uma estratégia ótima para oferecer lances. É importante ressaltar que esta classificação leva em conta uma tendência de comportamento dos jogadores, e não uma determinação cabal de suas ações. Não é impossível que em jogos incialmente tidos como não-cooperativos aja reunião de esforços dos participantes durante a disputa. A questão é que eles não se sentem motivados a atuarem dessa forma, pois assim, a princípio, prejudicariam a si próprios. Entretanto, há situações concretas em determinados jogos que podem levar jogadores de um conflito tido como não-cooperativo a coordenar esforços. Tal possibilidade se dá com a aplicação do chamado Equilíbrio de Nash, cuja explanação dar-se-á mais adiante neste trabalho. 2.2.5.2 Jogos de soma zero e jogos de soma não-zero Muito semelhante à noção de jogos cooperativos e não-cooperativos é a concepção de jogos de soma zero e soma não-zero. Fundamentalmente, um jogo de soma zero, ou jogo de soma diferente de zero, é um conflito no qual os objetivos das partes são completamente opostos. Para um jogador ganhar, seu adversário necessariamente terá que perder59. Em geral jogos esportivos de competição são exemplos de jogos de soma-zero, na acepção da Teoria dos Jogos. É interessante notar que um jogo de soma-zero é necessariamente um jogo não-cooperativo: um tenista não tem motivação para auxiliar seu adversário, já que isso significa sua própria derrota. 58 PINDYCK, Robert S., RUBINFELD, Daniel L. Microeconomia. Trad. Eleutério Prado, Thelma Guimarães e Luciana do Amaral Teixeira. 7ᵃ ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2010. p. 426. 59 STEVENS, Scott P. Games People Play: Game Theory in Life, Business, and Beyond – Course Guidebook. Chantilly: The Great Courses, 2008. p. 16. 27 Por outro lado, jogos de soma não-zero (ou jogos de soma diferente de zero) são aqueles nos quais os jogadores possuem objetivos comuns e opostos ao mesmo tempo. Uma particularidade dos jogos de soma não-zero é que, dados os objetivos comuns entre os participantes, é possível a cooperação entre eles60. Veja-se um elucidativo exemplo: a celebração de um negócio jurídico bilateral e oneroso, como um contrato de locação de um imóvel, se configura como um jogo de soma não-zero. Ambas as partes pretendem celebrar o contrato, o que é o intuito comum entre os dois. Entretanto, enquanto o locador objetiva pagar um menor preço, o locatário pretende obter o maior lucro possível com o objeto de sua propriedade. Mesmo divergindo inicialmente quanto ao preço, o escopo comum de celebrar o contrato possibilita a discussão acerca do valor do aluguel, o que pode levar ambos a cederem quanto ao ponto de conflito. 2.2.5.3 Jogos de informação perfeita e de informação imperfeita O tema da informação é outra questão importante quando se trata da análise dos modelos de jogos. Quanto a este ponto, os jogos são ordenados como de informação perfeita e de informação imperfeita. Fundamentalmente, jogos de informação perfeita são aqueles nos quais todos os jogadores possuem conhecimento dos eventos ocorridos na conflito até o momento no qual se encontra. Desde as motivações, e portanto dos objetivos de seu adversário, o jogador conhece todas as jogadas feitas pelo seu concorrente61. No caso dos jogos de informação imperfeita, a situação é o oposto: uma parte da disputa possui dados sobre a situação do jogo que a outra não possui. Um jogador sabe quais são os seus objetivos e jogadas, mas não detém informações sobre o que está ocorrendo com seu adversário. Trata-se de um fenômeno conhecido como assimetria de informação62. 60 ALMEIDA, Fábio Portela Lopes de. A teoria dos jogos: uma fundamentação teórica dos métodos de resolução de disputa. In: AZEVEDO, André Gomma de (org.). Estudos em Arbitragem, Mediação e Negociação. Vol. 2, Brasília: Ed. Grupos de Pesquisa, 2003. p.186. 61 ALMEIDA, Fábio Portela Lopes de. A teoria dos jogos: uma fundamentação teórica dos métodos de resolução de disputa. In: AZEVEDO, André Gomma de (org.). Estudos em Arbitragem, Mediação e Negociação. Vol. 2, Brasília: Ed. Grupos de Pesquisa, 2003. p.186 e 187. 62 “Uma diferença de acesso a conhecimento relevante é chamada de informação assimétrica.” Cf. MANKIW, N. Gregory. Introdução à Economia. São Paulo: Cengage Leraning, 2009. p. 480. 28 A assimetria de informação é recorrente no domínio das relações econômicas, tais como relações de trabalho e de consumo63, que podem ser descritas como jogos de informação imperfeita. É fácil perceber que nesse tipo de jogo a parte e com maior conhecimento sobre a disputa está em vantagem sobre a outra. Numa relação de consumo, por exemplo, uma consequência desta assimetria de informação é a situação na qual um comprador adquire um produto de baixa qualidade por não ter conhecimentos sobre o produto que o vendedor detém. No campo da economia, é o que se chama de seleção adversa64. Para evitar a ocorrência desse tipo de distorção nestas relações, é interessante notar que ordenamento jurídico pátrio apresenta mecanismos para compensar tal discrepância de conhecimento. Um instrumento jurídico que acaba por diminuir a assimetria de informação na seara consumerista, por exemplo, é a indicação geográfica. Trata-se um instituto de proteção de propriedade intelectual que objetiva identificar o local de origem de um determinado produto, nos casos em que suas características marcantes e reputação são ligadas a tal localidade.65 O Acordo de Direitos de Propriedade Intelectual Relativos ao Comércio (Acordo TRIPS), do qual o Brasil é signatário, conceitua o instituto da seguinte forma66: Acordo TRIPS. Art. 22 – Proteção das indicações geográficas. 1. Para fins do presente Acordo, entende-se por indicação geográfica as indicações que servem para identificar um produto como sendo originário de um território de um Membro, ou de uma região, ou de uma localidade de um território, nos casos em que uma qualidade, uma reputação ou uma 63 “Um empregado sabe mais do que seu empregador sobre quanto esforço despende em seu trabalho. Um vendedor de carros usados possui mais informações do que o comprador sobre a verdadeira condição do carro.” Cf. MANKIW, N. Gregory. Introdução à Economia. Trad. Allan Vidigal Hastings. São Paulo: Cengage Leraning, 2009. p. 480. 64 “A seleção adversa é um problema que surge em mercados em que o vendedor sabe mais sobre os atributos de um bem que está sendo vendido que o comprador do bem. Como resultado, o comprador corre o risco de comprar um bem de baixa qualidade. Ou seja, a “seleção” dos bens vendidos pode ser “adversa” do ponto de vista do comprador desinformado.” Cf. MANKIW, N. Gregory. Introdução à Economia. Trad. Allan Vidigal Hastings. São Paulo: Cengage Leraning, 2009. São Paulo: Cengage Leraning, 2009. p. 481. 65 NEVES, Vinícius Pimentel. Aspectos Econômicos, Sociais e Jurídicos do Instituto da Indicação Geográfica no Brasil. Monografia – Departamento de Direito. Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Minas Gerais. p. 44. 66A promulgação da Ata Final que incorpora os resultados da Rodada Uruguai de Negociações Comerciais Multilaterais do GATT foi realizada através do Decreto no 1.355, de 30 de dezembro de 1994, em vigor desde 1ᵒ de janeiro de 1995. BRASIL. Cf. BRASIL. Decreto nᵒ 1.355, de 30 de dezembro de 1994. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/Antigos /D1355.htm>. Acesso em: 10 de abril 2013. 29 característica determinada do produto podem ser essencialmente atribuídas a essa origem geográfica. A indicação geográfica, sendo um signo distintivo que fornece informações acerca da origem de um determinado produto, de onde este retira sua fama quando à qualidade, acaba por garantir um equilíbrio de informações na relação e consumo. Neste sentido, afirma Vinícius Pimentel Neves67: Podemos perceber que a indicação geográfica satisfaz plenamente a obrigatoriedade de informar o consumidor, principalmente no tocante à origem. Além disso, a sistemática do instituto dá mais garantia ao consumidor sobre a qualidade do bem e da matéria-prima adquirida, haja vista o controle sobre a preservação do modo de preparo e do material utilizado, o atendimento dos requisitos de qualidade específicos da denominação de origem (artigo 182, da Lei nº 9.279, de 1996) e, por fim, o controle entre os próprios produtores para preservação da qualidade dos produtos. Portanto, pode-se afirmar que um contrato consumerista envolvendo um produto protegido pelo instituto da indicação geográfica é um jogo de informação quase- perfeita, dado ser uma relação na qual as partes contratantes (jogadores), agindo de forma racional, visando a maximização de utilidade (o vendedor querendo obter o maior ganho financeiro possível e o comprador visando adquirir o melhor produto ao menor preço possível) transacionam (jogam) possuindo como substrato protetivo a indicação geográfica, como forma de evitar a assimetria de informações. 2.2.6 Princípo Minimax O chamado princípio Minimax, desenvolvido pelo matemático húngaro John von Neumann, corresponde a um ponto de equilíbrio alcançável no desenvolvimento de um determinado jogo com certas características específicas. Essencialmente, trata-se de um momento do jogo no qual um agente nunca ganhará menos de um determinado valor mínimo, enquanto seu adversário de forma correlata garante que seus ganhos não serão menores do que outra determinada quantia. Enquanto uma parte do conflito garante um 67 NEVES, Vinícius Pimentel. Aspectos Econômicos, Sociais e Jurídicos do Instituto da Indicação Geográfica no Brasil. Monografia – Departamento de Direito. Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Minas Gerais. p. 44. 30 mínimo possível, a outra garante um máximo possível68. Fábio Portela Lopes de Almeida traz um interessante exemplo de aplicação do Princípio Minimax69: [...] duas irmãs estão brigando por causa da divisão de um pedaço de bolo, por não saberem como dividi-lo de forma eqüitativa. A mãe das duas, ao tentar resolver o conflito, diz a uma delas: “filha, você cortará o bolo e a sua irmã escolherá o pedaço”. Com esta orientação, a menina pensa no seguinte dilema: “se eu cortar um pedaço grande, a minha irmã o escolherá e a mim restará o menor pedaço”. Assim, ela tem um incentivo real para cortar o bolo o mais próximo possível da metade, ou seja, buscará assegurar o ponto maximin (o “maior” mínimo possível, já que a irmã decerto escolherá o maior pedaço), enquanto à irmã restará o minimax (o mínimo máximo, ou seja, a metade do bolo mais uma pequena porcentagem, já que é muito difícil cortar exatamente na metade um pedaço de bolo e deve-se considerar que ela deverá escolher o maior pedaço, mesmo que a quantia maior que a do outro pedaço seja mínima). A importância desta ideia é que a ela possibilita a visualização de uma situação de equilíbrio em uma situação na qual os jogadores tendem a não cooperar, já que o ponto Minimax é alcançável a princípio em jogos de soma zero, portanto não- cooperativos70. 2.2.7 Equilíbrio de Nash Como já visto, o ponto de equilíbrio Minimax é alcançável em jogos de informação perfeita e de soma-zero, consequentemente não-cooperativos. Em jogos cooperativos de soma não-zero, é relativamente simples que se encontre uma solução na qual todos os jogadores saiam satisfeitos, já que a tendência colaborativa desse tipo de jogo facilita o encontro de um resultado final consensual. Entretanto, também existem jogos de soma diferente de zero que também são não-cooperativos. Dessa forma, fica o 68 STEVENS, Scott P. Games People Play: Game Theory in Life, Business, and Beyond – Course Guidebook. Chantilly: The Great Courses, 2008. p. 27. 69 ALMEIDA, Fábio Portela Lopes de. A teoria dos jogos: uma fundamentação teórica dos métodos de resolução de disputa. In: AZEVEDO, André Gomma de (org.). Estudos em Arbitragem, Mediação e Negociação. Vol. 2, Brasília: Ed. Grupos de Pesquisa, 2003. p.188 e 189. 70 Enquanto Fábio Portela Lopes de Almeida afirma que somente jogos de soma-zero são suscetíveis a à aplicação do Princípio Minimax, há quem sustente, como Robert S. Pindyck e Damiel L. Rubinfeld, que há a possibilidade de aplicação do princípio em jogos de soma diferente de zero. Trata-se de questão controversa, e no presente trabalho optou-se pela primeira linha. Cf. PINDYCK, Robert S., RUBINFELD, Daniel L. Microeconomia. Trad. Eleutério Prado, Thelma Guimarães e Luciana do Amaral Teixeira. 7ᵃ ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2010. p. 431 e 432. 31 questionamento: será possível o encontro de uma solução satisfatória para todos os participantes em um jogo não-cooperativo de soma diferente de zero? Para responder a esta pergunta, é fundamental conhecer as ideias do matemático norte-americano John Forbes Nash. Vencedor do Prêmio Sveriges Riksbank de Ciências Econômicas em Memória de Alfred Nobel (popularmente chamado de “Prêmio Nobel de Ciências Econômicas”) em 1994 por seus estudos sobre Teoria dos Jogos71, o então jovem John Nash apresentou em 1950, como tese de doutorado na Universidade de Princeton, um estudo sobre a possibilidade de equilíbrio em jogos não- cooperativos72. Tal proposição ficou conhecida como Equilíbrio de Nash. Por mais estranho que pareça à primeira vista, Nash propõe a possibilidade de ações colaborativas entre os agentes em jogos não-cooperativos. Tal concepção se baseia na seguinte ideia, aqui exposta de maneira simplificada: os jogadores de uma disputa não cooperativa tendem a princípio a não cooperar, pois o confronto de objetivos os farão perder utilidade, caso ajam de maneira colaborativa. Entretanto, se o jogo também for de soma não-zero, ou seja, caso possuam os agentes objetivos em comum além de escopos confrontantes, ao levarem em consideração os interesses de seus adversários, podem formular estratégias as quais levem a resultados satisfatórios para todos os envolvidos. Ninguém obtém um resultado máximo em termos de ganhos, mas conseguem os máximos resultado que todos podem ganhar, caso sigam esse modelo de estratégia e, é claro, para isso possuam um incentivo para dessa forma agir. Tal incentivo faz com que os jogadores não se arrependam ao fazerem suas jogadas de forma colaborativa, tornando suas estratégias as melhores respostas possíveis frente às estratégias dos outros participantes73. No momento em que os jogadores obtêm os resultados máximos de satisfação levando em conta os interesses dos outros agentes da disputa, pode-se dizer que chegou- se a um ponto do Equilíbrio de Nash. Trata-se, enfim, de uma maximização da utilidade 71 SIEGFRIED, Tom. A beautiful math : John Nash, game theory, and the modern quest for a
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