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REVISÃO GERAL Nicolle Marcondes Análise Funcional do Comportamento análise funcional: bases co nceituais e filosóficas Baseada nos pressupostos da Psicologia Experimental, e com a direção filosófica e conceitual do Behaviorismo Radical, a Análise do comportamento tem se firmado como continuidade de uma tradição de trabalho pautado em princípios da aprendizagem e no conhecimento das ciências do comportamento, sendo o seu objeto de estudo, portanto, o comportamento. O comportamento – entendido sempre uma relação entre eventos ambientais(estímulos) e atividades de um organismo (respostas). Para entendermos o comportamento como objeto de estudo da Análise do Comportamento, devemos esclarecer três pontos: 1.Ambiente – podem ser estímulos públicos e privados, físicos e sociais; 2. Atividade do organismo – é composta por respostas manifestas e encobertas–relacionadas ao comportamento respondente e operante; 3.Relação organismo-ambiente – variáveis que controlam o comportamento. Os conceitos que compõem o sistema explicativo da Análise do Comportamento descrevem relações entre eventos ambientais e atividades do organismo e na compreensão das relações respondentes e operantes deste comportamento. Modelos de causalidade do comportamento: Modelo Clássico e Modelo de seleção por consequências. O que é e para que serve um modelo de causalidade? Analistas do comportamento baseiam-se no sistema explicativo conhecido como Análise do Comportamento. Todo sistema explicativo fundamenta-se em um modelo de causalidade. Modelos de causalidade compreendem a suposição do cientista sobre: ▪ Relação entre os eventos ambientais e comportamento; ▪ Causas de um determinado comportamento. O modelo de causalidade assumido pela Análise do Comportamento foi apresentado e desenvolvido originalmente por B.F.Skinner (1981/2007) e recebeu o nome de modelo de seleção por consequências. As explicações mentais são simplistas e não chegam à Raiz dos determinantes do comportamento. O modelo de causalidade clássico faz uma análise de uma causa momentânea, faz uma leitura superficial, encontrando a explicação da reação de um comportamento, imediatamente à situação antecedente. S - R (leitura imediata) o O behaviorismo radical vai buscar a raiz nas profundidades de sua interação com o ambiente. Isso vale para todo e qualquer comportamento (relações funcionais/contingências.) o Skinner: NÃO EXISTE COMPORTAMENTO SEM AS CIRCUNSTÂNCIAS/CONTEXTO. o Agente selecionador: o ambiente. o Este modelo é fundamental pois: Integra e dá sentido aos conceitos da Análise do Comportamento; o Distingue a Análise do Comportamento de outros sistemas explicativos do comportamento humano; o Sintetiza como analistas do comportamento estabelecem relações entre eventos ambientais e comportamentais; Mostra ONDE e COMO os analistas do comportamento deveriam procurar respostas para a pergunta: por que as pessoas se comportam de certa maneira? O modelo de seleção por consequência faz uma análise mais profunda das causas do comportamento, levando em consideração o sujeito em sua totalidade; em sua relação biológica, sócio-histórica e cultural. Os três Níveis da análise do comportamento: filogenético, ontogenético e social/cultural. Para Skinner, o comportamento humano é “o produto de três tipos de seleção: 1. Filogênese REVISÃO GERAL Nicolle Marcondes o São as características chamadas de filogenéticas das várias espécies. Isto é, aquelas características que são típicas de cada uma das espécies, aquelas que usualmente chamamos de inatas. o Entre as características de origem filogenética dos organismos está o comportamento respondente ou reflexo incondicionado. 2. Ontogênese o A sobrevivência em ambientes em constante mudança só foi possível com o surgimento e seleção de um novo processo comportamental: o condicionamento operante-envolve processos de aprendizagem. características psicológicas (comportamentais) de indivíduo; novos comportamentos; observada durante a vida Relação Bio-Psico-Social do sujeito, interagindo com o meio ambiente. 3. Nível Sociocultural: características culturais; novas práticas culturais; as variáveis grupais são determinantes do tipo de comportamento desencadeado, no qual a cultura tem um papel fundamental para estabelecer a função reforçadora ou aversiva de um indivíduo em sociedade. o Nesse 3ºnível, o comportamento verbal é fundamental para o comportamento. Contribui nas soluções dos problemas grupais. o É propagado de gerações para gerações. Ex: algo que faz mal para o organismo, que é propagado para gerações futuras - Transmissão cultural. Operações Motivadoras (OM) Tradicionalmente, motivação refere-se a uma experiência interna, portanto, uma "força" que energiza o comportamento, a ser procurada dentro do organismo. Na visão analítico-comportamental, por outro lado, motivação está relacionada avariáveis externas (variáveis motivadoras) que dependem de certas alterações no ambiente, as quais têm efeitos sobre o comportamento do indivíduo. Tal conceito se opõe as concepções mentalistas, que consideram que a motivação é determinada por instâncias internas, e defende a ideia de que eventos ambientais podem estar diretamente relacionados com o fato de as pessoas quererem fazer alguma coisa. Ambiente é o termo empregado para se referir àquela parcela do universo que afeta o organismo. Os estímulos podem ser divididos em duas grandes classes: Os que ocorrerem antes da resposta = estímulos Antecedentes; E os que sucederem a resposta = estímulos Consequentes. Em 1982, J. Michael propôs o termo operação estabelecedora para se referir aos estímulos antecedentes envolvidos numa relação comportamental e questão relacionados aos aspectos motivacionais. Todos os eventos que têm efeitos sobre o comportamento: 1- alteram a efetividade de algum objeto ou evento como reforçador (positivo ou negativo) ou punidor (positivo e negativo). 2- alteram a probabilidade de respostas que no passado tenham produzido tal consequência. Uma das funções de uma operação motivadora é alterar a efetividade dos estímulos consequentes. Mas deve-se atentar para o tipo de alteração que ela pode exercer: aumentando ou diminuindo a efetividade daquele estímulo. O termo operação estabelecedora para nos referirmos aos eventos ambientais que aumentam a efetividade reforçadora ou punidora da consequência e operação abolidora para os eventos ambientais que diminuem a efetividade reforçadora ou punidora da consequência Ex. de operações estabelecedoras: Vamos analisar a resposta de uma criança de pedir colo para a sua mãe. Em uma situação em que a mãe fica longe da criança muitas horas devido ao trabalho, esse tempo de ficar longe da mãe tem o efeito de aumentar o valor reforçador da presença materna, e aumentará a frequência de pedir colo. REVISÃO GERAL Nicolle Marcondes Ex. de Operação abolidora: Eventos que tornam respostas dessa classe operante menos prováveis de ocorrerem, por diminuírem a efetividade reforçadora ou aumentar a efetividade punidora da consequência. Exemplo = resposta de um rapaz propor aos amigos uma feijoada no sábado e, após comerem a feijoada, os amigos agitam um encontro no dia seguinte para continuarem se confraternizando. Nessa ocasião, não mais observamos o rapaz propor a feijoada; isso porque comer a feijoada se constituiu como uma operação abolidora que a tornou menos atrativa e diminui respostas que tenham como consequência produzir feijoada. O que é uma análise funcional do comportamento? Análise funcional é a busca dos determinantes de um comportamento (contingências),e de sua função e não de sua forma, ou seja, busca identificar relações funcionais entre o comportamento e o a ambiente, em que comportamentos iguais podem ter funções diferentes e comportamentos distintos podem ter a mesma função. Esse entendimento das relações funcionais entre comportamento e ambiente consiste na base da análise funcional do comportamento. Esta análise pressupõe que um indivíduo emite um dado comportamento por este ter sido selecionado por suas consequências. Assim, todo e qualquer comportamento possuiu má função dentro do repertório comportamental de um indivíduo (Skinner,1953). Objetivo do trabalho do clínico analítico comportamental Quase a totalidade dos comportamentos humanos são derivados de relações operantes. Assim, conhecer o conceito de operante é fundamental para se pensar em predição e controle de comportamento. É a partir dessa noção de operante que o clínico começa sua investigação e, posteriormente, planeja suas intervenções. Nessa perspectiva, o clínico analítico comportamental busca identificar as contingências e a função que esse comportamento exerce na relação com seu meio. Compreensão analítico comportamental das emoções EPISÓDIOS EMOCIONAIS: Apesar de não ser vista como “causa”, a emoção não é negligenciada pela análise do comportamento. Ao contrário, é compreendida enquanto “fenômeno comportamental complexo”. Para compreender a emoção do ponto de vista da Análise do Comportamento, é importante identificar a interação entre comportamento respondente e operante. Analisar um fenômeno comportamental complexo, como a emoção, envolveria, então, olhar para essas múltiplas funções dos estímulos em conjunto, alterando a relação organismo -ambiente como um todo. Para a Análise do Comportamento, a emoção não se refere a um estado do organismo e sim a uma alteração na predisposição para ação, ou seja, a uma alteração na probabilidade de uma classe de respostas sob controle de uma classe de estímulos. Um estímulo, antecedente ou consequente, também elicia respostas respondentes. O episódio emocional refere-se à relação entre eventos ambientais e todas as alterações em um conjunto amplo de diferentes classes de respostas, não sendo redutível a uma única classe de respostas ou atribuí vela um único conjunto de operações. Exemplo: suponha que uma pessoa perdeu um jogo em função de um erro do juiz. Ela dirá que “está com raiva”. Do ponto de vista de um analista do comportamento, isso possivelmente significa que: 1. respostas que produzam dano ao outro, como xingar, reclamar, gritar e socar terão sua probabilidade aumentada; 2. respostas reflexas, como aumento dos batimentos cardíacos, enrubescimento, o ofegar serão eliciadas pela punição/extinção característica da condição da perda do jogo; 3. a efetividade reforçadora de outros estímulos, como a presença da família, poderá diminuir, e a pessoa poderá relatar que “precisa ficar sozinha”. A raiva, então, não seria somente o que a pessoa sente, mas toda esta alteração no repertório total do indivíduo. É importante destacar que, geralmente, as emoções aparecem como queixa clínica, e o psicólogo pode cair em erro ao considerá-las apenas do ponto de vista respondente e programar intervenções que alterem esse aspecto da emoção. Outro erro poderia ser optar por um tratamento exclusivamente medicamentoso– o que, talvez, alteraria o padrão respondente–, pois não se ensinaria um REVISÃO GERAL Nicolle Marcondes desempenho operante de enfrentamento, nem aumentaria a efetividade de outros estímulos como reforçadores positivos. Olhar para ansiedade ou qualquer outra emoção como um fenômeno comportamental complexo envolve avaliar todas as alterações comportamentais envolvidas no episódio emocional e, com isso, programar intervenções clínicas que modifiquem toda a relação organismo- ambiente característica do episódio emocional. Compreensão das Doenças e Tra nstornos na perspectiva da Análise do Comportamento. Influência do modelo de seleção natural de Darwin, Skinner propôs o modelo de seleção por consequências como explicação para o aparecimento e manutenção dos comportamentos dos organismos. Baseando-se nesse modelo explicativo, a análise do comportamento se posiciona como uma abordagem da psicologia que não vê os comportamentos humanos problemáticos como “doenças” ou “psicopatologias”. Nessa perspectiva, esses fenômenos têm causas e naturezas iguais aos demais comportamentos. Os motivos que levam um indivíduo a procurar ajuda de um psicólogo clínico são a busca de autoconhecimento e/ou problemas que o cliente não está conseguindo o enfrentar sozinho, entre eles os chamados transtornos psiquiátricos. Um indivíduo diz que está com problemas quando seus comportamentos não produzem aquilo que gostariam ou quando produzem trazem consigo sofrimento. Nesse sentido, “estar com problemas” refere-se a dificuldade sem emitir respostas que diminuam estimulações aversivas ou que deem acesso a reforçadores. Como avanço dos estudos da psiquiatria e das ciências do comportamento, hoje se sabe que tanto “transtornos psiquiátricos” como qualquer outro comportamento sofrem influência em três níveis: filogenético, ontogenético e cultural. Os “transtornos psiquiátricos” são resultantes do entrelaçamento de fatores genéticos, experiências diretas ou transmitidas pelo grupo social que o indivíduo integra. Assim são determinados por múltiplas “causas” e mantidos por contingências entrelaçadas. Se em muitos sentidos, os “transtornos psiquiátricos” não se distinguem de outros comportamentos. Pode-se distingui-los dos demais comportamentos pelo comprometimento que podem exercer sobre o indivíduo. A classificação de padrões comportamentais como transtornos mentais é determinada por práticas culturais, que estabelecem os padrões socialmente aceitos ou não. A análise do comportamento dá ênfase à análise de contingências (avaliação funcional), entendendo que alguns comportamentos merecem maior atenção do clínico ou do profissional de saúde, não porque são “patológicos” ou “anormais”, mas porque violam expectativas sociais e consequentemente trazem maior sofrimento àqueles que os apresentam ou àqueles que com eles convivem. Os objetivos terapêuticos seriam buscar novas formas de interação entre o indivíduo e seu meio, minimizando estimulações aversivas presentes nessas relações e aumentando estimulações apetitivas — diminuindo, assim, o sofrimento do indivíduo de forma direta ou indireta (quando diminui a estimulação aversiva que seu comportamento produz aos outros e estes por consequência a diminuem as punições direcionadas aos seus comportamentos). Foco do trabalho das Abordagens comportamentais de 1ª geração PRIMEIRA GERAÇÃO: ASPECTOS HISTÓRICOS E CLÍNICOS No início do século XX, um fisiologista russo chamado Ivan Pavlov forneceu a primeira explicação sistemática daquilo que passou a ser chamado de condicionamento clássico ou condicionamento Pavloviano. O trabalho de Pavlov influenciou o psicólogo experimental John Watson, considerado o fundador do behaviorismo. O Behaviorismo de Watson enfatizava a importância da objetividade nos estudos dos comportamentos, os quais deveriam ser feitos somente com estímulos e respostas passíveis de observação direta. Edward Thorndike investigou o fortalecimento e o enfraquecimento de comportamentos por meio da modificação de suas consequências, como o reforço e a punição. Esse tipo de aprendizagem passou a ser chamado de condicionamento operante ou instrumental. As pesquisas de Thorndike e Watson, influenciaram Skinner em suas pesquisas e consolidação do Behaviorismo radical, como conceito de comportamento operante. Apesar de os esforços da Terapia Comportamental terem se mostrado sistematicamente efetivos, somente foram impulsionadosna década de 1950, a partir dos resultados do estudo retrospectivo de Eysenck. O foco do trabalho das abordagens comportamentais da 1ªgeração, era a modificação do comportamento através da utilização de técnicas derivadas de princípios dos condicionamentos clássico e operante. A primeira onda focava diretamente as emoções e os comportamentos problemáticos, utilizando-se REVISÃO GERAL Nicolle Marcondes de condicionamentos e princípios comportamentais. As décadas de 1950 e 1960 constituem o auge do pensamento mecanicista dentro do comportamentalismo, durante as quais pouca ênfase era dada à relação terapêutica. Terapias comportamentais de 3ª geração A terceira geração de terapias comportamentais retornou à perspectiva contextual presente na primeira geração e pouco enfatizada na segunda. Essa perspectiva contextual é a razão pela qual esse grupo de abordagens também é chamado de “terapias contextuais”. Assim, a ênfase do papel contextual no trabalho clínico é retomada, incluindo tanto o entendimento de psicopatologia como a avaliação e o tratamento. Essas abordagens se interessam mais pelas funções dos comportamentos do que pelos comportamentos em si, e optam preferencialmente pela mudança por contingências em detrimento da mudança mais didática e psicoeducativa baseada em regras. Dentro desta terceira onda de terapias comportamentais contextuais, encontramos: ▪ FAP–Psicoterapia Analítica Funcional ▪ ACT–Terapia de Aceitação e Compromisso Aprimorada por FAP ▪ Terapia Comportamental Integrativa de Casais ▪ TAC–Terapia Analítico-Comportamental ▪ TCR–Terapia por Contingências de Reforçamento ▪ ACL–Awareness, Courage and Love– Atenção, Coragem e Amor ▪ DBT–Terapia Comportamental Dialética
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