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Epilepsia 1

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Epilepsia 
Definição 
Crises recorrentes, não provocadas, ocasionadas por descargas cerebrais paroxísticas e 
sincrônicas de um grupo de neurônios cerebrais, evidenciadas em eletroencefalograma. 
• Normalmente os nossos neurônios trabalham em ritmos que já são pré-determinados. 
Durante a vigília e o sono, tem um ritmo cerebral. De repente, um grupo neuronal 
diverge desse funcionamento, funcionando de uma maneira autônoma. 
• São disparados potenciais por um grupo de neurônios, que ocorre de maneira 
sincrônica e a parte dos outros neurônios, gerando uma crise epilética. 
Crises recorrentes e provocadas por condição reversível (hipoglicemia, abstinência alcoólica, 
uremia) NÃO SÃO CONSIDERADAS EPILEPSIA. 
Classificação – ILAE (International League Against Epilepsy): 
1º - Tipo de Crise 
2º - Tipo de Epilepsia 
3º - Síndrome Epiléptica 
Tipo de Crise 
 
Focais 
• Afetam uma parte do cérebro, um circuito localizado. 
• É visto no eletroencefalograma como só um grupo de neurônios ativados e 
funcionando diferente do restante da atividade cerebral. 
• Manifestações clínicas e eletroencefalográficas indicam que somente uma parte restrita de 
um hemisfério cerebral foi ativada. 
Isabela Terra Raupp 
Início focal (Parcial) 
Tem circuito focal, bem delimitado, em geral 
unilateral. 
A- Início com sintomas motores x não 
motores. 
B- Comprometimento ou não da consciência 
 Complexa: compromete a consciência 
 Simples: não comprometem a 
consciência. 
C- Focal a bilateral tônico-clônicas 
(generalização secunária). 
Início Generalizado 
Envolve os dois hemisférios cerebrais 
simultaneamente. 
Sempre comprometem a consciência 
• Não motoras 
• Motoras 
• De início desconhecido 
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• Manifestações ictais - área do cérebro envolvida: 
• Crises motoras: clônica (Abalos musculares), tônica (manutenção em postura sustentada – 
extensão forçada dos membros), atônica (perda súbita do tônus), mioclônica (espasmos 
abruptos da musculatura que não segue sequência) ou hipercinética, ou manifestar-se como 
automatismos ou espasmos epilépticos. 
• Relacionada ao hemisfério frontal. Se envolve o lobo frontal esquerdo, posso ter 
comprometimento da fala. 
• Automatismos: atos motores complexo que estamos executando e que durante a crise 
eles não cessam. 
• Ex.: segue movimento da boca ou mexendo em cima da mesa. 
• Espasmos epilépticos: fazem parte de crises infantis em que se tem o movimento 
abrupto da musculatura proximal dos membros (geralmente dos dois membros 
superiores) e tem tempo mais breve que um espasmo mioclônico. 
• Crises não motoras: sintomas sensitivos (parestesias, sensações próprias de sensibilidades 
especiais), alteração do comportamento, sintomas cognitivos (ex: déjá vu), sintomas 
emocionais, sintomas ou sinais autonômicos. 
• Alterações de sensibilidade especiais: sentem cheiros diferentes (perversão do 
olfato). 
• Alteração do comportamento: pessoa fica quieta, com raiva, agressiva... 
• Sintomas emocionais: medo irreal de uma situação. 
• Sintomas autonômicos: durante a crise a pessoa pode ter pioereção, dilatação pupilar, 
sudorese profusa. 
Generalizadas: 
• Envolvem redes em ambos hemisférios cerebrais logo de início. 
• Geralmente tem disseminação rápida para outras regiões. 
• Em geral há perda de consciência, podendo haver preservação parcial (ataques breves de 
ausência e algumas crises mioclônicas. 
• Uma parte da crise o paciente consegue se lembrar, mas não lembra do todo. 
• Crises não motoras (ausência): comprometimento da consciência com eventuais 
componentes clônicos, tônicos, miotônicos ou atônicos leves; autonômicos (enurese) ou 
automatismos. 
• Início e fim abrupto. 
• Geralmente iniciam na infância e desaparecem por volta dos 20 anos, ou são 
substituídas, geralmente por outra crise mais severa. 
• DD: TDAH (desempenho escolar muito ruim). 
• Não percebe que teve a crise. 
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• Paciente perde a consciência: ele está agindo normal e subitamente para de falar, 
com olhar vago e depois volta de onde parou. 
• Crises motoras: tônico-clônica, tônica, clônica, mioclônica, mioclônica-tônico-clônica, 
mioclônica-atônica, atônica, espasmos epilépticos. 
• Ex.: epilepsia mioclônica juvenil: caracterizada por crises mioclônicas enquanto o 
paciente está acordado, principalmente no período da manhã (joga a xícara longe, 
risca o caderno porque a mão faz espasmo) e a noite esses pacientes fazem crises 
tônico-clônicas generalizadas durante o sono. 
 Crises de início desconhecido 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Tipo de epilepsia 
• Classificada de acordo com o tipo de crise: focal, generalizada ou combinada. 
• Combinadas: crises focais e generalizadas ou crises focais com generalização 
secundária. 
Síndromes epilépticas 
• Definidas pela constelação de tipo de crise, achados de EEG e imagem. 
• Por exemplo: síndrome de West – retardo do desenvolvimento neuropsicomotor, 
espasmos (contração súbita da musculatura proximal) e hipssarritmia no EEG. É 
resultado de diversas injúrias cerebrais, como anoxia, hemorragia cerebral severa... 
• Não determinam uma etiologia específica. 
Etiologias 
1. Etiologia estrutural: anormalidades congênitas, injúria perinatal, esclerose hipocampal (atrofia 
do hipocampo), trauma, tumores e lesões que ocupam espaço (abcessos ou hematomas), 
doenças vasculares (AVE) e distúrbios degenerativos (perda neuronal). 
o Lesão de uncus cerebral – sintomas olfatórios no início (cheiros que não existem). 
Em geral são tumores estruturais, como tumores e malformações. 
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2. Genética 
3. Infecciosa: neurotuberculose, neurossífilis. Podem ser transitórias quando trata a doença ou 
podem ficar como sequela. 
4. Metabólica: erros inatos do metabolismo. Geralmente não são corrigíveis ou não corrigíveis 
perfeitamente. 
5. Imune: relacionados a doenças autoimunes. 
6. Desconhecida. 
Achados clínicos 
• Investigação inicial: semiologia da crise (o que acontece quando tem crise). Em geral, o 
paciente não sabe explicar e precisa da presença de um familiar. 
• Principalmente nas generalizadas, que ele perde a consciência, precisa ter sinais de 
lateralização da crise, porque elas geralmente começam em uma área pequena do 
cérebro e rapidamente se expandem para as outras regiões. 
• Sinais de lateralização: abalos clônicos em uma das mãos, lateralização 
cefálica. 
• Focal: precisamos captar se tem algum movimento da mão ou do braço que não para. 
• Sintomas prodrômicos (até 24h antes) → cefaléia, alterações do humor, letargia, espasmos 
mioclônicos. 
• Aura → sintomas sensitivos que antecedem brevemente a crise. Já é parte da crise! 
• Ex.: formigamento da mão, alterações visuais... 
• Podem ser sensitivas, defeitos visuais como escotolmas cintilantes, borramento 
visual, alterações de fala. 
• Imprevisíveis ou relacionadas a um precipitante externo: sono, menstruação (crises 
catameniais), abstinência de álcool, flashes de luz, leitura, febre... 
• Imediatamente após a crise: respostas plantares extensoras podem ser vistas (Babinski +), 
bem como sonolência, obnubilação por até 24 horas. 
• Causados pelo estado de hibernação dos neurônios motores superiores, que liberam 
os neurônios motores inferiores na medula e exibem essas respostas. 
• Sinais focais ou lateralizados pós crise podem apontar início focal. 
• Ex.: Paralisia de Toddi, que acontece depois da crise epilética, em que o paciente fica 
com hemiparesia, podendo durar até 24h. 
• Sempre investigar com exames de imagem e descartar AVC. 
• Sempre que o paciente chega com uma história de perda de consciência associada a perda 
esfincteriana, abalos clônicos fica mais claro de identificar uma crise epiléptica. Mas pode não 
ser tão claro no início: 
• Pode vir com perda de consciência inexplicada. 
• Perversão do olfato. 
• Sempre que os eventos forem paroxísticos (apareceme desaparecem), por mais 
bizarros que sejam, tem que pensar em epilepsia. 
Investigação – semiologia 
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 História familiar 
 Exame físico neurológico completo 
 Determinar fatores desencadeantes 
o Determinar tipo de crise (focal/generalizada) 
o Sinais de lateralização 
o Sinais focais 
Investigação – exames laboratoriais 
• Hemograma 
• Glicose – hipoglicemia e DM 
• Eletrólitos – Medicações que alteram o sódio podem 
gerar crises 
• Creatinina – IRA pelo aumento da ureia 
• Cálcio 
• Magnésio 
• Testes de função e lesão hepática – hepatopatias podem gerar crises epilépticas. 
• Afastar infecção urinária e infecção respiratória em pacientes febris. 
• Punção lombar se suspeita de infecção do SNC, principalmente se o paciente apresenta 
irritação meníngea, cefaleia intensa... 
Investigação – exames de imagem 
• RM superior à TC, porque mostra melhor a região do hipocampo, mostra esclerose 
hipocampal (epilepsia do lobo temporal), pequenas malformações cerebrais, pequenas áreas 
isquêmicas, lesões desmielinizastes, lesões de fossa superior. 
Indicações de exame de imagem: 
• Sintomas/sinais focais, crises focais, EEG com 
achado de distúrbio focal. 
• Alterações pela semiologia focal, ver se 
condiz com a região relacionada. 
• Sempre que tenho alteração semiológica focal compatível com EEG da região, tenho 
que fazer exame de imagem, porque pode ser uma lesão tumoral. 
• Evidência de distúrbio progressivo 
• Início das crises após 20 anos 
• Afastar epilepsia secundária 
Diagnóstico diferencial 
Pedir em casos de primeira crise ou 
crise de início recente na 
investigação. 
Objetivo: descartar causas tratáveis 
que NÃO são epilepsia. 
Não faz em todas as epilepsias, principalmente na 
infância não se faz porque não são associadas a 
alterações cerebrais típicas visíveis em exames de 
imagem. 
Crises focais 
• AIT 
• Migrânea com aura (enxaqueca) 
• Ataques de pânico 
• Ataques de raiva 
Crises generalizadas 
• Síncope 
• Doença Cardíaca 
• Isquemia de tronco (oclui a. basilar) 
• Alteração consciência 
• Crises não epilépticas psicogênicas – 
• mov. Descicronizado, mantem olho fechado 
• Mantém consciência 
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Tratamento 
Depende do tipo de crise: 
Farmacológico: 
 Depende do tipo de crise, doses aumentadas até controle 
de crises, dose teto alcançada, toxicidade ou efeitos 
adversos intoleráveis. 
• Em geral começa com uma dose mínima e vai aumentando 
até o controle das crises, até que se chegue a dose máxima do medicamento calculado pelo 
peso ou até que tenha toxicidade relacionada a droga ou efeitos adversos que ele não tolere. 
• MONOTERAPIA É PREFERENCIAL NO TRATAMENTO DA EPILEPSIA. 
• Na maior parte dos casos: controle com um fármaco, dois fármacos necessários em alguns 
casos 
• Nível sérico da medicação: controle de aderência, suspeita de toxicidade. 
• A carbamazepina pode piorar o estado mioclônico do paciente! 
• Nos EUA, existe uma medicação chamada levotirassetam que tem sido usada para crises 
focais e generalizadas com eficácia comprovada. 
• Suspensão do tratamento: após 2 anos sem crise, se ausência de fatores ativos 
predisponentes 
Tratamento cirúrgico: 
 Crises refratárias a duas ou mais medicações, focais bem delimitadas (geralmente associada 
a lesão estrutural). 
Condições especiais 
Em geral: 
Focais → carbamazepina 
Generalizadas → Ácido volpróico 
Crises de ausência → Etossuximida 
Crise solitária: 
Tratamento preventivo discutível SE
lesão estrutural como possível causa
secundária (no exame de imagem tem
AVC ou aalgo que possa causar). Se
tiver labs e imagem normais, é
orientado procurar neurologista e não
necessita de tratamento na
emergência.
Crises por abstinência de álcool: 
Em geral 48 hrs depois.
Não requerem tratamento
anticonvulsivo uma vez que são
autolimitadas.
Status epiléptico:
URGÊNCIA neurológica com alta
mortalidade associada.
Crises epilépticas com duração
superior a 30 minutos ou 2 crises
epilépticas sem retorno da consciência
entre as crises.
Pode ser necessário coma induzido
para o tratamento.
Relacionado ao uso irregular da
medicação ou abandono do
tratamento.

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