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Dietoterapia Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Me. Amanda José Pereira do Nascimento Revisão Textual: Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin Avaliação e Diagnóstico no Tratamento do Paciente Hospitalizado • Avaliação do Estado Nutricional em Pacientes Hospitalizados; • Conhecimentos e Habilidades Técnicas para o Diagnóstico em Nutrição; • Planejamento e Implementação de Intervenção Nutricional Adequada para o Tratamento e a Prevenção de Doenças Agudas e Crônicas e Promoção de Saúde. • Apropriar-se dos conceitos e técnicas necessárias para a realização de avaliação e de diagnóstico nutricional. OBJETIVO DE APRENDIZADO Avaliação e Diagnóstico no Tratamento do Paciente Hospitalizado Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam- bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Avaliação e Diagnóstico no Tratamento do Paciente Hospitalizado Contextualização Nesta Unidade, você vai aprofundar seus conhecimentos e habilidades sobre Ava- liação e Diagnóstico do Estado Nutricional, que é um processo sistemático para obter informações adequadas e identificar problemas alimentares durante a internação. Figura 1 – Paciente do sexo masculino sendo monitorado em ambiente hospitalar Fonte: Getty Images 8 9 Avaliação do Estado Nutricional em Pacientes Hospitalizados A Avaliação do Estado Nutricional constitui-se de coleta, verificação e interpreta- ção de dados para tomada de decisões referente à natureza e à causa de problemas relacionados à nutrição. Por ser um método dinâmico, permite comparações entre os dados obtidos e os padrões de referência, pois compreende, também, a reavalia- ção periódica e o acompanhamento da evolução do paciente. Com esses subsídios, estabelece-se o diagnóstico nutricional e, em seguida, as condutas profissionais (SBNPE/BRASPEN, 2011). A abordagem do paciente hospitalizado deve ser feita segundo as orientações da American Dietetic Association (ADA, 2009), que sugere a definição do estado nu- tricional por meio das histórias médica, alimentar e medicamentosa, do exame físico, das medidas antropométricas e dos exames bioquímicos, e inclui, ainda, a organização e a análise das informações por um profissional habilitado (LACEY; PRITCHETT, 2003). Na prática clínica, o protocolo é realizado com base em métodos que analisam os compartimentos corporais, o estado nutricional e as alterações causadas pela alimentação desequilibrada. Inclui, também, a avaliação metabólica, que é a análise da função dos órgãos, buscando a determinação das alterações relacionadas à perda de massa magra e de outros compartimentos corporais, bem como da resposta metabólica à intervenção nutricional (ROSSI, 2015). Em unidades hospitalares, o processo mais coerente e produtivo para o início da avaliação do estado nutricional é realizar a triagem nutricional, para identificar o risco nutricional. Na presença de risco, o próximo passo é a realização de uma avaliação nutricio- nal detalhada a fim de determinar ou quantificar o grau do agravo nutricional (ADA, 1994; SBNPE/BRASPEN, 2011). Conhecimentos e Habilidades Técnicas para o Diagnóstico em Nutrição Triagem nutricional O processo mais coerente e produtivo para o início da avaliação do estado nu- tricional em unidades hospitalares é realizar a triagem nutricional, que é definida como um processo de identificação das características conhecidas por ter relação 9 UNIDADE Avaliação e Diagnóstico no Tratamento do Paciente Hospitalizado com problemas nutricionais, com o objetivo de identificar indivíduos desnutridos ou em risco. O objetivo da triagem é a identificação do risco nutricional. Na presença de ris- co, o próximo passo é a realização de uma avaliação nutricional detalhada, a fim de determinar ou quantificar o grau do agravo nutricional. Em seguida, deve-se estabelecer um plano de cuidado com determinação da conduta dietética (SOCIEDADE BRASILEIRA DE NUTRIÇÃO PARENTERAL E ENTERAL ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NUTROLOGIA, 2011; CARVALHO, 2016; RIBEIRO, 2018; LOHMAN, 1988; ROSSI, 2015). São classificados em risco nutricional, os adultos que se enquadram nos casos expostos a seguir. Desnutrição atual ou potencial Exemplo Perda involuntária de > 10% do peso usual, dentro de 6 meses, ou > 5% do peso usual dentro de 1 mês, ou peso atual 20% abaixo do ideal, presença de doença crônica ou aumento dos requerimentos metabólicos. Alteração na alimentação ou esquemas especiais de alimentação Exemplo Recebendo nutrição por sonda ou parenteral total, cirurgia recente, doença ou trauma. Ingestão nutricional inadequada (incluindo o não recebimento de alimentos ou produtos nutricionais por sete dias) Exemplo Alteração da capacidade de ingerir alimentos ou absorver nutrientes adequadamente. Sabendo-se do potencial risco nutricional, podem ser aplicados alguns instru- mentos e métodos, em diferentes combinações, de acordo com a disponibilidade, para maior eficiência na assistência nutricional. A seguir, estão detalhados cada um deles. Avaliação Subjetiva Global A Avaliação Subjetiva Global (ASG) é um método clínico de avaliação do estado nutricional e se diferencia dos demais métodos de avaliação nutricional utilizados na prática clínica por englobar não apenas alterações da composição corporal, mas também alterações funcionais do paciente. 10 11 Trata-se de um método simples, de baixo custo e não invasivo, podendo ser re- alizado à beira do leito. Por ser de fácil execução e de boa reprodutibilidade, a ASG (Figura 1) vem se tornando o método de escolha também em outras situações clínicas, seja na sua forma original, seja depois de adaptações. A partir da definição do estado nutricional, uma conduta nutricional adequada seria adotada. Figura 2 – Exemplo de Formulário de Avaliação Subjetiva Global (ASG) Fonte: BARVORA-SILVA, 2002 Anamnese A palavra anamnese origina-se do grego aná (recordar) e mnesis (memória) e pode ser definida como uma entrevista que possibilita o levantamento detalhado dos antecedentes fisiológicos, patológicos e socioeconômico-culturais do paciente e de seus familiares, com a finalidade de facilitar o diagnóstico, e tem sido apontada como a parte mais importante no processo de coleta de dados sobre o estado desaúde do paciente. Ao ouvi-lo, o entrevistador pode formular hipóteses sobre as queixas relatadas. Também é durante a anamnese que se constroem os elementos necessários para fundamentar relações pessoais entre paciente e profissional da saúde. 11 UNIDADE Avaliação e Diagnóstico no Tratamento do Paciente Hospitalizado É o instrumento utilizado para conhecer o paciente internado (Exemplo 1), a fim de identificar a alimentação e o maior número possível de fatores associados. Na internação, são coletados os seguintes dados: • Demográficos: sexo, idade, dados de moradia e contatos; • De saúde geral: doenças existentes ou preexistentes, doenças familiares, uso de medicamentos e/ou suplementos e hábitos de vida (tabagismo, álcool e exer- cício físico, entre outros); • De comportamento alimentar: conhecimentos sobre nutrição e alimentação (aspecto cognitivo do comportamento alimentar), preferências, aversões, res- trições, condições financeiras e físicas para aquisição e preparo dos alimentos; • De medicamentos e/ou suplementos nutricionais: para minimizar as intera- ções entre medicamentos e nutrientes. Exemplo 1 Protocolo de atendimento nutricional de paciente hospitalizado. ANAMNESE CLÍNICA E ALIMENTAR PARA PACIENTES ADMITIDOS NO HC-UFG A anamnese alimentar a ser realizada com o paciente admitido no HC-UFG/EBSERH deverá conter minimamente os tópicos apresentados abaixo: 1) Alergias ou aversões alimentares; 2) Preferências alimentares; 3) Apetite anterior à internação; 4) Apetite na internação/Aceitação e tolerância à dieta hospitalar; 5) Ingestão habitual: a) Número de refeições; b) Consumo de frutas/verduras; c) Consumo de alimentos proteicos (carne, ovos, leite e derivados); d) Consumo de alimentos gordurosos ou frituras; e) Consumo de alimentos ricos em sódio; f) Outros; 6) Alteração de quantidade, consistência ou composição da dieta nos últimos dois (2) meses; 7) Jejum total ou parcial/período; 8) Ingestão hídrica. Para os pacientes em uso de Terapia Nutricional Enteral o registro em prontuário deverá conter: 1. Tipo/Via de TN; 2. Tempo de TN; 12 13 3. Prescrição dietoterápica na admissão : a. Características da fórmula ; b. Módulos adicionados ; c. Volume/fracionamento ; d. Velocidade/tempo de infusão ; 4. Valor nutricional: ________ Kcal/dia; _______CHO/dia; __________ PTN/dia; _______LIP/dia Outros:___________________________ _______________________________________________. Fonte: HC/UFG/EBSERH, 2016 Avaliação antropométrica Antropometria é a medida do tamanho corporal e de suas proporções. É um dos indicadores diretos do estado nutricional e inclui medidas de peso, altura, pregas cutâneas e circunferências de membros. Detalharemos, aqui, observações referentes às medidas mais específicas e de maior dificuldade para a realização em paciente hospitalizado. Sugere-se a padronização, conforme o protocolo próprio de cada instituição. Peso Muitas vezes a determinação do peso atual (aferida na balança) em pacientes hospitalizados é complicado, pois em algumas situações não é possível a utilização da balança, como, por exemplo, paciente acamado. A mesma situação ocorre com o peso usual, ou seja, peso referido como normal pelo paciente. Nesse caso, se ele apresentar confusão mental ou o familiar/cuidador não souber referir o peso. Quando ocorrem situações que impossibilitem a mensuração do peso atual ou usual ou em situações específicas, como na obesidade, é necessário utilizar equações para sua estimativa. Como exemplo, temos: peso ideal (segundo o IMC médio), peso ajustado (obesidade e desnutrição), peso corrigido (amputados), peso estima- do (utilizado para os casos em que é impossível realizar a medida do peso e não há outras formas de determiná-lo), peso seco (descontado de edemas). No caso de pacientes em hemodiálise, o peso é aferido antes da sessão (peso molhado) e se considera peso seco a medição realizada após o término da sessão, pois o paciente perde os líquidos corporais retidos. Importante! Alguns Hospitais possuem balança profissional hospitalar para pesagem no leito ou cama elétrica com balança. A pesagem pode ocorrer com o paciente em qualquer posi- ção, evitando a necessidade de remoção de pacientes em estado crítico. Importante! 13 UNIDADE Avaliação e Diagnóstico no Tratamento do Paciente Hospitalizado Altura As limitações de mensuração de altura em paciente hospitalizado também po- dem ocorrer e, por isso, muitas vezes é necessário utilizar métodos de estimativos, como equações (utiliza idade em anos e altura do joelho em centímetros) e, ainda, extensão dos braços (indivíduo na horizontal, aferindo a distância entre os dácti- los maiores) ou altura recumbente (marca-se e posteriormente se mede com uma fita métrica a marca do topo da cabeça e da base do pé, lado direito, paciente em decúbito ventral, com o leito em posição horizontal completa). A estimativa da altura recumbente é um dos métodos preferidos nas Unidades de Terapias In- tensivas (UTI), embora o resultado possa ser em torno de 2% maior do que a medida em pé. Ex pl or Índice de Massa Corporal Define-se como índice uma combinação de medidas. Por exemplo, na avaliação de crianças e adolescentes, trabalha-se com índices como peso/idade, estatura/ idade, peso/altura, IMC/idade. O Índice de Massa Corporal (IMC) é o exemplo mais comum e trata da relação entre peso e estatura: IMC = peso/estatura² Significa “a interpretação dos índices”. Assim, considerando, por exemplo, o estado nutricional de idosos em uma população, a proporção de indivíduos abaixo da normalidade para determinado índice é considerada um indicador do estado nutricional daquele grupo populacional. Circunferências e dobras cutâneas As circunferências e dobras cutâneas também são medidas utilizadas para avalia- ção nutricional do paciente hospitalizado. Mas há algumas limitações e observações que devem ser consideradas e estão descritas a seguir: • Circunferência da cintura: atenção às interferências em sua medida ocasio- nadas por visceromegalias ou ascite/edema; • Circunferência do braço: bom indicador de reserva muscular. Mensuração necessária para utilização nas variáveis das Equações para estimativa de peso corporal; • Circunferência da panturrilha: mensuração necessária para utilização nas variáveis das Equações para estimativa de peso corporal; 14 15 O maior benefício das dobras cutâneas é sua obtenção em série, comparando o indivíduo com ele mesmo. Entretanto, no paciente hospitalizado, servem mais para avaliação inicial do que para acompanhamento, devido à sua não resposta em curto prazo em interven- ções nutricionais. Ex pl or • Dobra cutânea tricipital: avalia a reserva de gordura corporal, sendo a Dobra Cutânea Tricipital (DCT) a mais utilizada rotineiramente; • Dobra cutânea subescapular: mensuração necessária para utilização nas va- riáveis das Equações para estimativa de peso corporal. Laboratório de Avaliação Nutricional de Populações: http://bit.ly/31yftg3 O Laboratório de Avaliação Nutricional de Populações – LANPOP/USP disponibiliza treina- mentos antropométricos (mediante agendamento de grupos), equipamentos para emprés- timo e materiais didáticos. Guia de Realização do Exame de Antropometria – PNS 2019. Disponível em: http://bit.ly/31vezB5 Ex pl or Exame físico – Sinais e sintomas de deficiências ou excessos Um histórico médico e um exame físico são métodos clínicos usados para identi- ficar sinais (observações feitas por um observador qualificado) e sintomas (manifes- tações referidas pelo avaliado) de desvios nutricionais. É importante ressaltar que sinais e sintomas não são específicos e podem se desenvolver somente em estágios avançados da deficiência ou da doença. Por isso, não é recomendado elaborar um diagnóstico nutricional com base exclusivamente em sinais e sintomas. Esse tipo de avaliação deve sempre ser acompanhada de um diagnóstico bioquímico. O Quadro 1 relaciona alguns sinais e sintomasmais comumente associados ao estado nutricional. Quadro 1 – Sinais e sintomas associados ao estado nutricional Sistema corporal Aspectos relacionados com “normalidade” Achados de má nutrição O que essas constatações podem refl etir Cabelos Brilhantes e firmes no couro cabeludo Opacos, quebradiços, secos, com muita queda Má nutrição proteico-energética Olhos Globo ocular (branco dos olhos) claro, membranas rosadas e fácil ajuste à luz Membranas pálidas, manchas, vermelhidão, dificuldade para ajustar à luz Deficiências em vitaminas A, do complexo B, zinco ou ferro Dentes e gengiva Sem dores ou cáries, gengivas firmes, dentes claros Edentulismo parcial ou total, descoloração, gengivas inchadas ou de sangramento fácil Estado de minerais ou vitamina C 15 UNIDADE Avaliação e Diagnóstico no Tratamento do Paciente Hospitalizado Sistema corporal Aspectos relacionados com “normalidade” Achados de má nutrição O que essas constatações podem refletir Rosto Sem ressecamento ou descamação Pálido, descamado, pele quebradiça Má nutrição proteico- energética, estado nutricional relativo a ferro ou vitamina A Glândulas Sem nódulos Inchadas no pescoço Má nutrição proteico-energética ou estado nutricional relativo ao iodo Língua Vermelha, com cortes e ou depressões, áspera Descolorida, lisa, inchada Estado de vitamina C Pele Lisa, firme, boa coloração Seca, áspera, manchada, com sensação de lixa, presença de feridas, perda de gordura subcutânea Má nutrição proteico- energética, deficiência de ácidos graxos essenciais, estado de vitaminas A, C e do complexo B Unhas Firmes e rosadas Formato de colher, quebradiças, sulcadas, pálidas Estado de ferro Sistemas internos Ritmo cardíaco normal, pressão arterial normal, sem transtornos digestivos, reflexos adequados e estado mental equilibrado Ritmo e frequência cardíacos alterados, PA alterada, fígado aumentado, digestão alterada, febre, formigamento em mãos e pés, perda de equilíbrio e coordenação Má nutrição proteico-energética e estado de minerais Ossos e músculos Tônus muscular, postura, desenvolvimento de ossos longos apropriado para a idade Aparência de perda muscular, nódulos ou inchaços nas extremidades ósseas, nódulos nas costelas, deformidades em pernas ou joelhos Má nutrição proteico- energética, estado de minerais e de vitamina D Fonte: RIBEIRO, 2018 Avaliação bioquímica A avaliação dos exames bioquímicos auxilia na detecção de alterações metabóli- cas, falências orgânicas e carências nutricionais (SBNPE/BRASPEN, 2011). A avaliação bioquímica deve ser feita à luz da história clínica do paciente e associada aos demais parâmetros de avaliação nutricional para determinação do diagnóstico nutricional. Vários nutrientes são armazenados em locais específicos do organismo. Isso possibilita que sua deficiência seja caracterizada por etapas. O ferro, por exemplo, é armazenado no fígado, sob a forma de ferritina. Até que a anemia seja clinicamente diagnosticada (a partir de sinais e sintomas de deficiência), várias etapas ocorrem, iniciando-se pela depleção das reservas. Nesse caso, somente testes bioquímicos são capazes de detectar as deficiências em estágios iniciais. Além disso, muitas vezes certos tipos de terapias nutricionais precisam ser ava- liados com precisão e rapidez, como no caso de pacientes hospitalizados recebendo nutrição parenteral. Nessas situações, são necessários métodos de avaliação capazes de detectar mu- danças em um curto período. Novamente, apenas variáveis bioquímicas específicas podem fornecer o diagnóstico. 16 17 Cabe destacar, ainda, que os micronutrientes, como as vitaminas, os minerais e os elementos traço somente pode ser avaliados a partir de variáveis bioquímicas. Ao contrário de macronutrientes, que são incorporados na massa corporal (e, portanto, podem ser avaliados por medidas antropométricas), os micronutrientes constituem um percentual mínimo da massa corporal. As técnicas bioquímicas podem, ainda, ser realizadas por diferentes abordagens. Os testes chamados estáticos medem a concentração de determinado nutriente no sangue ou nos tecidos. Por sua vez, testes funcionais avaliam a atividade espe- cífica do nutriente na célula. Testes funcionais podem ser exemplificados por: adaptação ao escuro (vitamina A), atividades de enzimas avaliadas in vitro (como as do complexo B), entre outros. Embora os métodos bioquímicos possam ser considerados os de maior sensibi- lidade, infelizmente, ainda não existem técnicas bioquímicas ou mesmo padrões de referência bem estabelecidos para muitos nutrientes, limitando, muitas vezes, esse tipo de análise. Os exames de rotina em laboratório clínico também podem apresentar informa- ções valiosas para a interpretação do estado nutricional. Marcadores bioquímicos de diferentes processos metabólicos, como dislipidemias, hipertensão arterial e es- tresse oxidativo, também fornecem informações bastante pertinentes ao processo de avaliação do estado nutricional. Importante! Apesar da grande variedade de medidas nutricionais, ainda não está estabelecido um método padrão-ouro para a determinação do estado nutricional. Importante! Diagnóstico em nutrição Todas as medidas utilizadas na avaliação nutricional podem ser afetadas pela doença ou pelo trauma. Também não há um método sem pelo menos uma limi- tação importante. Enfatiza-se a obtenção do maior número possível de dados com base na história dietética e clínica, no exame físico, nas medições antropométricas e laboratoriais que: completam o perfil de avaliação, favorecem a interpretação e tentam identifi- car a alteração nutricional (SBNPE/BRASPEN, 2011). A importância da triagem e a avaliação nutricional é reconhecida pelo Mi- nistério da Saúde do Brasil, que tornou obrigatória a implantação de protocolos para pacientes internados pelo SUS como condicionante para remuneração de terapia nutricional. 17 UNIDADE Avaliação e Diagnóstico no Tratamento do Paciente Hospitalizado Segundo a Lei n. 8.234/91, que regulamenta a profissão e a Resolução CFN nº 600/2018, que dispõe sobre a definição das áreas de atuação do nutricionista e suas atribuições, indica parâmetros numéricos mínimos de referência, por área de atuação, referem que é atribuição do nutricionista a realização da avaliação nutri- cional na prática clínica, estabelecendo o diagnóstico nutricional. A determinação do diagnóstico nutricional final inclui a avaliação do paciente, por métodos subjetivos, objetivos e pela análise de parâmetros bioquímicos, que são examinados com base em padrões de referências estabelecidos por meio de investigações científicas. Segundo a Portaria n. 337/99, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (An- visa), posteriormente revogada pela Resolução nº 63/00, compete ao nutricionista, como membro da Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional (EMTN): Realizar avaliação do estado nutricional do paciente, utilizando indicado- res nutricionais subjetivos e objetivos, com base em protocolo preestabe- lecido, de modo a identificar o risco ou a deficiência nutricional (...) e a adequar a prescrição dietética, em consenso com o médico, com base na evolução nutricional e tolerância digestiva [...]. Níveis de assistência nutricional A classificação em níveis de assistência nutricional tem como objetivo estabele- cer prioridades, de modo que os pacientes mais debilitados possam receber a aten- ção nutricional adequada, e leva em conta tanto o diagnóstico nutricional como a terapia nutricional envolvida. Destacam-se os seguintes níveis (ROSSI, 2015): • Nível primário: de atendimento, que envolve os pacientes que não necessitam de dietoterapia específica para suas afecções e não apresentam risco nutricional; • Nível secundário: que inclui os pacientes que necessitam de dietoterapia espe- cífica ou apresentam algum risco nutricional; • Nível terciário: que abrange os pacientes que contemplam os dois critérios estabelecidos, ou seja,necessitam de dietoterapia específica para o tratamento de suas afecções e apresentam fatores de risco nutricional. 18 19 Planejamento e Implementação de Intervenção Nutricional Adequada para o Tratamento e a Prevenção de Doenças Agudas e Crônicas e Promoção de Saúde No setor da Saúde, o planejamento é o instrumento que permite melhorar o de- sempenho, aperfeiçoar a produção e elevar a eficácia e a eficiência dos sistemas no desenvolvimento das funções de proteção, promoção, recuperação e reabilitação da saúde (CAISAN, 2018; CGPAN, 2010; BRASIL 2014). O II Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (PLANSAN) é o principal instrumento de planejamento, gestão e execução da Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional e está estruturado de acordo a nove desafios. Desafios são eixos estratégicos de atuação que sintetizam as principais questões a serem enfrentadas para promoção da segurança alimentar e nutricional e garan- tia do Direito Humano à Alimentação Adequada da população brasileira. Dentre esses desafios, destacamos o nº 5, que tem como objetivo promover uma alimentação adequada e saudável por meio da integração de ações que per- passam desde ações de educação alimentar e nutricional, capazes de incentivar escolhas alimentares mais saudáveis pelos indivíduos a medidas regulatórias, que obriguem a indústria a adotar, na produção de alimentos, parâmetros mais alinha- dos à promoção do Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA). No tema da Promoção da Alimentação Saudável, destacam-se as metas rela- cionadas à redução do consumo regular de refrigerante e de suco artificial, a am- pliação do consumo de frutas e hortaliças, a implementação das recomendações do Guia Alimentar para a População Brasileira e da Estratégia Nacional de Promoção do Aleitamento Materno. O planejamento e a implementação de intervenção nutricional adequada para o tratamento e a prevenção de doenças agudas e crônicas e a promoção de saúde depende de objetivos/metas a serem estabelecidas. As modificações na alimentação são reconhecidas como um potencial para a per- da de peso, o controle glicêmico e a redução do risco para doenças cardiovasculares. Importante! A avaliação antropométrica faz parte do diagnóstico do estado nutricional e é funda- mental para o planejamento da intervenção. Importante! 19 UNIDADE Avaliação e Diagnóstico no Tratamento do Paciente Hospitalizado A Estratégia Global para Alimentação Saudável e Atividade Física (OPAS/OMS, 2003) traz as seguintes recomendações específicas sobre alimentação: • Manter o equilíbrio energético e o peso saudável; • Limitar a ingestão energética procedente de gorduras, substituir as gorduras saturadas por insaturadas e eliminar as gorduras trans (hidrogenadas); • Aumentar o consumo de frutas, legumes, verduras, cereais integrais e legumi- nosas (feijões); • Limitar a ingestão de açúcar livre; • Limitar a ingestão de sal (sódio) de toda procedência. A terminologia da intervenção nutricional é organizada em quatro domínios: • Fornecimento de alimentos e/ou nutrientes: cada patologia demandará as suas próprias recomendações nutricionais frente ao consumo de calorias, ma- cronutrientes, vitaminas, minerais e suplementações específicas, entre outros; • Educação nutricional: é útil na prevenção para o retardo das complicações associadas às condições crônicas, integrando o conjunto de medidas de auto- cuidado e educação e promoção em Saúde. É recomendado que não tenha caráter proibitivo (por exemplo: não coma açúcar, não coma sal), mas que sirva de suporte para o paciente e sua família, promovendo melhores esco- lhas alimentares; • Aconselhamento nutricional: o nutricionista deverá estabelecer metas realis- tas em conjunto com o paciente, pois é de fundamental importância que ele se mantenha motivado durante o tratamento e não se frustre por não conseguir alcançar metas utópicas para ele. É também papel do nutricionista auxiliar o paciente a identificar as dificuldades e potencialidades para realizar as modifi- cações no estilo de vida e encontrar estratégias que possibilitem a continuidade da adesão do paciente ao plano alimentar. O monitoramento e a reavaliação devem ser constantes; • Coordenação do cuidado nutricional por um nutricionista: o nutricionista é o profissional habilitado para realizar o cuidado nutricional. São objetivos da intervenção nutricional nas Doenças Crônicas: • Atender às necessidades nutricionais; • Perder peso nos casos de sobrepeso e obesidade; • Melhorar o controle glicêmico; • Melhorar o perfil lipídico; • Manter a pressão arterial em níveis adequados; • Manter o prazer da alimentação, restringindo os alimentos indicados com base nas evidências; • Prevenir e/ou retardar os agravos; • Melhorar a saúde e o bem-estar geral. 20 21 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Biblioteca Virtual em Saúde http://bit.ly/39fkLzB Livros Diagnóstico e Necessidades Nutricionais do Paciente Hospitalizado: Da Gestante ao Idoso HINKELMANN, J. V. et. al. Diagnóstico e Necessidades Nutricionais do Paciente Hospitalizado: Da Gestante ao Idoso. Editora Rubio, 2015. Leitura Avaliação Nutricional de indivíduos internados em um hospital geral ROSA, C. de O. B. et. al. Avaliação Nutricional de indivíduos internados em um hospital geral. O mundo da Saúde, v. 38, n. 4, p. 430-8, 2014. http://bit.ly/3bezDQU Cuidado nutricional hospitalar: percepção de nutricionistas para atendimento humanizado PEDROSO, C. G. T.; SOUSA, A. A. de; SALLES, R. K. de. Cuidado nutricional hospitalar: percepção de nutricionistas para atendimento humanizado. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 16, supl. 1, p. 1155-1162, 2011. http://bit.ly/39bGs3C 21 UNIDADE Avaliação e Diagnóstico no Tratamento do Paciente Hospitalizado Referências AMERICAN DIETETIC ASSOCIATION (ADA). ADA pocket guide to nutrition assessment. 2nd.ed. Chicago/IL: American Dietetic Association, 2009. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Estratégias para o cuidado da pessoa com doença crônica. Brasília: Ministério da Saúde, 2014. CAISAN – Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional. II Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. PLANSAN 2016-2019 Rev., Brasília. set. 2018. Disponível em: <http://www.mds.gov.br/webarquivos/arquivo/ seguranca_alimentar/caisan/Publicacao/Caisan_Nacional/PLANSAN%202016- 2019_revisado_completo.pdf>. Acesso em: 4 jan. 2020. CARVALHO, A. P. P. F. et. al. Protocolo de atendimento nutricional do paciente hospitalizado. Goiânia: Gráfica UFG, 2016. CGPAN – Coordenação‐Geral da Política Nacional de Alimentação e Nutrição. Recomendações para o Planejamento e Implementação das Ações de Alimentação e Nutrição nas Secretarias Municipais de Saúde. Brasília, 2010. Disponível em: <http://nutricao.saude.gov.br/docs/geral/pap_versao4.pdf>. Acesso em: 4 jan. 2020. LACEY, K., PRITCHETT, E. Nutrition care process and model: ADA adopts road map to quality care and outcomes management, J Am Diet Assoc, n. 103, p. 1061-1072, 2003. LOHMAN, T. G. ROCHE, A.F., MARTORELL, R. Anthropometric standardization reference manual. Human Kinetics. Champaign, 1988. OPAS – Organização Pan-Americana da Saúde. Doenças crônico-degenerativas e obesidade: estratégia mundial sobre alimentação, atividade física e saúde. Brasilia, 2003. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/ doenca_cronico_degenerativas_obesidade_estrategia_mundial_alimentacao_ atividade_fisica.pdf>. Acesso em: 4 jan. 2020. RIBEIRO, S. M. L., MELO, C. M., TIRAPEGUI J. Avaliação nutricional: teoria e prática. 2.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018. ROSSI, L.; CARUSO, L.; GALANTE, A. P. Avaliação nutricional: novas perspectivas. 2.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015. SAMPAIO, L. R. (org.). Avaliação nutricional. Salvador: EDUFBA, 2012. SBNPE/BRASPEN. SOCIEDADE BRASILEIRADE NUTRIÇÃO PARENTERAL E ENTERAL ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NUTROLOGIA. Triagem e Avaliação do Estado Nutricional. Projeto Diretrizes. São Paulo: Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina, 2011. 22 23 TIRAPEGUI, J. RIBEIRO, S. M. L. Avaliação nutricional: teoria e prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009. 23
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