Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
56 Unidade II Re vi sã o: V irg in ia /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 9/ 01 /1 3 Unidade II GeoGrafia 5 GeoGrafia e o eSPaÇo ViViDo 5.1 o indivíduo como parte integrante da construção do lugar em que vive O ensino de Geografia deve priorizar o desenvolvimento de noções que os alunos já dominem, sejam porque trazem conhecimentos acumulados de outras etapas do processo de escolarização, seja porque sua inserção na escola é precedida por uma vida em sociedade. A criança possui uma cultura própria, relaciona-se com o trabalho dos familiares e convive em ambientes onde a natureza está sempre presente. Abordar temas relacionados à família e ao local de moradia torna-se fundamental e pode ajudar o aluno a compreender e identificar os tipos de paisagens que compõem o seu lugar de vivência. O professor pode partir de situações concretas com as quais os alunos convivem, como, por exemplo: a família, onde seus membros trabalham, como se deslocam no dia a dia, suas alternativas de lazer e de onde eles vieram. Desse modo, é possível desenvolver noções de sociedade, cultura, trabalho, localização e diferentes tipos de lugares. Pode também, solicitar aos alunos que descrevam, a partir de observações, alguns fenômenos naturais, como as características do tempo de cada dia, observação do movimento aparente do Sol etc. A utilização de fotos, imagens e vídeos para mostrar as diferentes paisagens naturais e modos de vida em várias partes do mundo, desenvolve no aluno a capacidade de observação e comparação, pois ao identificar e comparar diversas características naturais, culturais e sociais, ele passa a ser capaz de entender como o seu próprio espaço é produto da interação desses fatores ao longo da História. Da mesma forma, o uso da linguagem cartográfica deve sempre estar presente em todos os momentos do Ensino Fundamental. Ler e interpretar um mapa é tão importante quanto qualquer outro conteúdo. O trabalho com mapas não pode ser exclusividade dos anos finais e nem seu uso deve ficar restrito ao Atlas. Os mapas e gráficos estão presentes no nosso dia a dia, sendo importante que o aluno esteja capacitado para utilizá-los. Enfim, é importante que o aluno reconheça-se como parte integrante do lugar em que vive, condição fundamental para ter consciência de seu papel de cidadão. A consciência de como se constrói o lugar em que se vive amplia a ideia de participação. Assim, entender o porquê da existência ou não de cada equipamento urbano no lugar em que se vive é desvendar as formas de apropriação e valorização desse espaço. O lugar ganha uma dimensão para além de sua materialidade; é espaço que circunda imediatamente o corpo, portanto dotado de representações. 57 Re vi sã o: V irg in ia /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 9/ 01 /1 3 Metodologia e Prática do ensino de História e geografia Com qualquer conteúdo que o professor trabalhe, o aluno deve perceber que as condições materiais do lugar em que vive são determinadas pelas múltiplas e contraditórias relações que ocorrem no mundo, e sua participação na construção deste lugar. 5.2 as relações do homem com a natureza e com o espaço Ao longo da História, o homem sempre produziu ferramentas para facilitar seu trabalho ou para ajudá-lo a superar suas limitações físicas. Assim o homem, um ser que facilmente seria vencido pelos elementos da natureza, produziu um enorme número de artefatos que lhe possibilitaram dominar e transformar o meio natural. Essa atitude de criar instrumentos e aperfeiçoá-los constantemente torna possível a compreensão do processo civilizatório pelo qual vem passando desde que surgiu na Terra. A forma como a criança vai adquirindo noções de espaços decorrem das experiências vivenciadas a partir de objetos, ações e representações. Os antropólogos culturais sabem muito bem disso e são capazes de reconstituir a organização de um grupo humano a partir dos objetos que se preservaram (ALMEIDA e PASSINI, 2002). Como ciência social, a Geografia tem como objeto de estudo a sociedade que, no entanto, é objetivada. O estudo da Geografia abrange, hoje, grande complexidade de aspectos: o desenvolvimento dos meios de comunicação, o crescimento demográfico, a descoberta de novos meios de explorar a superfície terrestre, a evolução da técnica em geral e a entrada do capitalismo trouxe profundas transformações na Geografia, no plano da realidade e no plano do saber. A Geografia começa a ser observada a partir do momento em que se necessita de orientação, com a ajuda da ciência às expedições que abriram as portas das civilizações, estudando a individualidade dos lugares, compreendendo o caráter singular de cada porção do planeta. Isso permitiu uma visão ecológica da diferenciação de áreas por meio da individualização e comparação, propondo uma perspectiva mais generalizada e explicativa das relações entre o homem e a natureza. O estudo do espaço só seria aceito se fosse concebido como um ser específico do real, com características e com uma dinâmica própria, somente depois de demonstrar a afirmação efetuada, visando a uma maior compreensão e interpretação da realidade. Os métodos de ensino do qual o professor pode fazer uso, variam desde uma aula em que a evolução dos acontecimentos represente uma progressão, à uma aula em que os desafios e enigmas geográficos capacitem o aluno a raciocinar e interpretá-los. Sendo assim, torna-se necessário o uso de métodos pedagógicos modernos que estimulem a criatividade e a capacidade dos alunos e facilite, de certa forma, o conhecimento da Geografia, principalmente no cotidiano, estimulando-os quanto à necessidade de repensar o passado da disciplina que ele possa aprender por compreensão. [...] e o professor dotado de uma sensibilidade para tais mudanças, demonstre competência para geri-las e potencialize a compreensão dos alunos através dos meios mais modernos de educação que se tornam necessários (CAVALCANTI, 2002, p. 12). 58 Unidade II Re vi sã o: V irg in ia /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 9/ 01 /1 3 Na origem da Geografia, o homem e a natureza são os seus conteúdos basilares e a paisagem surge como categoria geográfica que traduzirá a natureza. Fisionomia da vegetação, estudo da vegetação, noção de meio natural, conceito de região natural, são algumas noções trabalhadas pela Geografia para compreender a natureza. Evidentemente que estas noções compõem o que se denomina de Geografia Clássica ou Tradicional e que desde então muito já se repensou sobre as noções apontadas (ALBORNOZ, 1992, p. 11). Todavia, elas ilustram muito bem como se dá a apreensão da natureza pela Geografia. Isto não acontece unicamente na Geografia, ela não será uma exceção, mas corresponde ao processo de constituição das ciências e da sua divisão: ciências da natureza e ciências humanas. Se tomarmos como princípio geral a ideia descrita anteriormente para pensarmos a Geografia, a velha dicotomia Geografia Física x Geografia Humana não teria sentido. Algumas categorias geográficas, como espaço, lugar e paisagem, não permitem a dualidade, a separação. A respeito da atribuição do que seria o conhecimento de uma e de outra parcela da Geografia, trazemos a contribuição dada por Dirce Suertegaray (2000) em texto publicado no livro Geografia e educação: geração de ambiências (apud RÊGO; SUERTEGARAY e HYDRICH, 2000). A autora, ao refletir sobre a questão o que ensinar em Geografia (Física), formulada por um acadêmico de Geografia, diz ter respondido àquela indagação com as seguintes palavras: “tudo o que for possível ensinar no contexto espaço-temporal da disciplina sob a nossa responsabilidade” (2000, p. 98), e chama atençãopara o fato de que: “o significativo nesta pergunta é mais do que o conteúdo em si, a questão metodológica, ou seja, como ensinar no contexto da Geografia os conteúdos referentes à compreensão da natureza, nesta ciência, reconhecidos como Geografia Física”. Neste mesmo texto, Suertegaray propõe alguns estudos que partam da concepção de lugar como espaço próximo, espaço vivido e como espaço de expressão de relações horizontais (relações da comunidade com seu meio) e espaço de relações verticais (relações sociais mais amplas determinando em parte a especificidade dos lugares) (2000, p. 99). Concordamos com a autora e acrescentamos que o problema da dualidade está no método e na epistemologia, portanto, na teoria do conhecimento e na metodologia. Desta forma, natureza, sociedade e trabalho são inerentes à Geografia. Como bem explicou Milton Santos em A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção: [...] é por demais sabido que a principal forma de relação entre o homem e a natureza, ou melhor, entre o homem e o meio, é dada pela técnica. As técnicas são um conjunto de meios instrumentais e sociais, com os quais o homem realiza sua vida, produz e, ao mesmo tempo, cria espaço (2004, p. 25). Se técnica é trabalho, a relação natureza/sociedade/trabalho produz o espaço. 59 Re vi sã o: V irg in ia /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 9/ 01 /1 3 Metodologia e Prática do ensino de História e geografia Com as várias facetas da educação, tornou-se imprescindível o uso de instrumentos que se figurem num aprendizado mais significativo e direcionado para a realidade. Sendo assim, os desafios e a tecnologia vêm muito a contribuir para este avanço no estudo geográfico, e os professores dotados desta visão pedagógica contribuirão para o avanço no seu crescimento profissional. 5.3 Cartografia na escola Entre as linguagens gráficas encontram-se o desenho e o mapa. O primeiro (desenho) consiste em uma das manifestações mais antigas da humanidade, presente na cultura de praticamente todos os povos. Aparece espontaneamente nas atividades das crianças, desde bem pequenas. O segundo (mapa) resulta de séculos de acumulação de conhecimentos e do desenvolvimento de técnicas cartográficas, o que exige um longo aprendizado para que se possa ler e entender os mapas. No entanto, quando pensamos em ambos como linguagens, podemos estabelecer um paralelo interessante entre eles. A respeito da representação do espaço no desenho infantil, Luquet (1969) considerou as produções gráficas das crianças tomando como referência o desenho do adulto, daí a interpretação dada por ele repousar na noção de realismo. Apesar de não aceitarem esse ponto de vista, estudos posteriores, principalmente em Psicologia, continuaram a usar a terminologia de Luquet, o que lhes deu uma visão marcadamente evolutiva. A influência desses estudos no ensino pode levar os professores a verem, de modo inadequado, os desenhos das crianças como produções a serem melhoradas, ou até como incorretas. Para as crianças, desenhar é brincar. “A criança desenha para se divertir”, disse Luquet. Os primeiros desenhos são feitos pelo prazer de riscar, de explorar as possibilidades do material (lápis de cor, giz de cera, caneta hidrográfica), para produzir efeitos interessantes no papel. É uma atividade lúdica, na qual os rabiscos não têm um significado determinado (CHAUÍ, 1995). O espaço geográfico é aquele que foi modificado pelo homem ao longo da História, que contém um passado histórico e foi transformado pela organização social, técnica e econômica daqueles que habitaram ou habitam os diferentes lugares. O espaço geográfico é o palco das realizações humanas (ALVES, 2005). Um conceito bastante presente na Geografia em geral, o espaço geográfico apresenta definição bastante complexa e abrangente. Outros conceitos também relacionados ao espaço geográfico, ou antes, que estão contidos nele são: lugar, que é um conceito ligado a um local que nos é familiar ou que faz parte de nossa vida; e paisagem, que é a porção do espaço que nossa visão alcança e é produto da percepção. O espaço geográfico Por Caroline Faria A primeira definição de espaço foi feita pelo filósofo Aristóteles e para ele tal conceito representava a inexistência do vazio e lugar seria a posição de um corpo entre outros corpos. 60 Unidade II Re vi sã o: V irg in ia /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 9/ 01 /1 3 Aristóteles ignorava o homem como constituinte do espaço, contudo, ele já considerava um aspecto importante da estrutura do espaço geográfico: a localização. Mais adiante, no século XVIII, Immanuel Kant define o espaço como sendo algo não passível de percepção, porém, o que permite haver a percepção. Ou seja, Kant introduziu a ideia de que o espaço é algo separado dos demais elementos espaciais. Entretanto, suas ideias não permitem concebê-lo como algo constituído de significado ou estrutura própria. Mais tarde, outros filósofos inserem o homem como um componente essencial para a compreensão do espaço, como ser que cria e modifica espaços de acordo com suas culturas e objetivos. Por último, seguiu-se a concepção filosófica de espaço proposta por Maurice Merleau-Ponty: o espaço não é o meio (real ou lógico) onde se dispõe as coisas, mas o meio pelo qual a posição das coisas se torna possível. Todas estas são concepções filosóficas do espaço que, entretanto, diferem um pouco da concepção geográfica. A concepção geográfica de espaço que predominou de 1870 a meados de 1950, embora ele ainda não fosse considerado como objeto de estudo, foi a introduzida por Ratzel e Hartshorne para os quais a concepção de “espaço vital” se confundia com a de território na medida em que era atrelado a ele uma relação de poder. Hatshorne usa o conceito de Kant, ou seja, para ele o espaço em si não existe, o que existe são os fenômenos que se materializam neste referencial. Aqui, espaço e tempo são desprezados. A partir de 1950 o espaço passa a ser associado à noção de “planície isotrópica” (superfície plana com as mesmas propriedades físicas em todas as direções, homogênea) sob a ação de mecanismos unicamente econômicos (uso da terra, relações centro – periferia etc.). Em 1970 surge uma nova concepção atrelada à Geografia crítica, que tem como base os pensamentos marxistas e para a qual o espaço é definido como o locus da reprodução das relações sociais de produção. Nesta concepção, espaço e sociedade estão intimamente ligados. Mais tarde surge uma nova concepção epistemológica para Geografia que passa a encarar o espaço como fenômeno materializado. Ou, nas palavras de Alves (2005), o espaço é produto das relações entre homens e dos homens com a natureza, e ao mesmo tempo é fator que interfere nas mesmas relações que o constituíram. O espaço é, então, a materialização das relações existentes entre os homens na sociedade. Fonte: FARIA, 2009. Disponível em: <http://www.infoescola.com/Geografia/espaco-geografico/>. Acesso em: 22 out. 2012. 6 eNSiNaNDo GeoGrafia Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997), o ensino e a aprendizagem de Geografia envolvem as relações entre o processo histórico que regula a formação das sociedades humanas e o funcionamento da natureza, por meio da leitura do espaço geográfico e da paisagem. 61 Re vi sã o: V irg in ia /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 9/ 01 /1 3 Metodologia e Prática do ensino de História e geografia A divisão da Geografia em campos de conhecimento da sociedade e da natureza tem propiciado um aprofundamento temático de seus objetos de estudo. Essa divisão é necessária, como um recurso didático, para distinguir os elementos sociaisou naturais, mas é artificial, na medida em que o objetivo da Geografia é explicar e compreender as relações entre a sociedade e a natureza e como ocorre a apropriação desta por aquela. Na busca dessa abordagem relacional, a Geografia tem que trabalhar com diferentes noções espaciais e temporais, bem como com os fenômenos sociais, culturais e naturais que são característicos de cada paisagem, para permitir uma compreensão processual e dinâmica de sua constituição. Identificar e relacionar aquilo que na paisagem representa as heranças das sucessivas relações no tempo entre a sociedade e a natureza é um de seus objetivos. No que se refere ao Ensino Fundamental, é importante considerar quais são as categorias da Geografia mais adequadas para os alunos em relação à sua faixa etária, ao momento da escolaridade em que se encontram e às capacidades que se espera que eles desenvolvam. Embora o espaço geográfico deva ser o objeto central de estudo, as categorias paisagem, território e lugar devem também ser abordadas, principalmente nos ciclos iniciais, quando se mostram mais acessíveis aos alunos, tendo em vista suas características cognitivas e afetivas. Lembrete Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997), o ensino e a aprendizagem de Geografia envolvem as relações entre o processo histórico que regula a formação das sociedades humanas e o funcionamento da natureza, por meio da leitura do espaço geográfico e da paisagem. 6.1 Por que ensinar Geografia Uma das razões de se ensinar Geografia na atualidade, justifica-se pela possibilidade de ampliação das capacidades dos alunos para apreenderem a realidade, sob o ponto de vista da espacialidade complexa. As primeiras noções de espacialidade, desenvolvidas desde as séries iniciais do Ensino Fundamental, estiveram relacionadas às formas e arranjos espaciais. Ampliando e aprofundando esse significado, a espacialidade é também constituída pela complexa teia de relações presentes no espaço geográfico, orientando a distribuição e a localização dos fenômenos urbanos e rurais, bem como os processos socioespaciais que os conformam. Vivemos, atualmente, uma espacialidade complexa configurada pelo processo de mundialização da sociedade, o que dificulta aos cidadãos a compreensão do seu espaço de modo crítico, fazendo com que ele se conduza apenas por suas práticas espaciais diárias. No entanto, novas representações são possíveis com o desenvolvimento de outras dimensões importantes da formação humana, aliadas às capacidades de apreensão da realidade do ponto de vista da espacialidade. É preciso, pois, buscar o 62 Unidade II Re vi sã o: V irg in ia /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 9/ 01 /1 3 desenvolvimento dessas alternativas concretas para que se compreenda o papel do espaço nas práticas sociais e o papel das práticas sociais na configuração do espaço geográfico. Mas como encontrar essas alternativas concretas? Veja o exemplo seguinte. Imagine uma pessoa que vive na miséria e que pode estar cercada de bens que são essenciais para seu sustento, conforto e segurança pessoal, mas que não possui conhecimentos para explorar esses recursos, apreciar a beleza que está ao redor, a alegria que existe no viver, a maravilha do alimento e no poder da água de matar sua sede. Há muitas pessoas que possuem tão poucos conhecimentos que mal conseguem fazer uma leitura de seu lugar e do momento em que vivem. Faltam-lhe meios para compreender o espaço e para perceber o seu tempo. Essa é a principal razão pela qual se deve ensinar Geografia. Por ser uma ciência de paisagens e por despertar a visão interligada entre o homem e seu mundo, a Geografia é um poderoso instrumento para que possamos nos conhecer e nos compreender melhor, perceber toda a dimensão do espaço e do tempo, onde estamos e para onde caminhamos, descobrir as populações e suas múltiplas relações com o ambiente. Ensina-se Geografia para que os alunos possam construir e desenvolver uma compreensão de espaço e do tempo, fazer uma leitura coerente do mundo e dos intercâmbios que o sustentam, apropriando-se de conhecimentos específicos e usando-os como verdadeira ferramenta para seu crescimento pessoal e para suas relações com os outros. Não existem pessoas que possam sobreviver sem nenhum conhecimento, pois mesmo as que nunca puderam aprender Geografia, pela experiência, sabem coisas de seu lugar e de seu tempo, de outros lugares e de outras gentes. Com o que possuem, fazem uma precária leitura do mundo, que com a Geografia que ensinamos, torna-se bem mais fácil. Assim, noções de Geografia envolvem o sentido que se tem do lugar e do espaço e a materialização das muitas relações próximas ou distantes (DAMIANI, 1999). Mas para que o professor possa realmente ajudar seus alunos a aprenderem Geografia é essencial que ele domine o uso de “ferramentas” que ajudem o aluno a desenvolver competências e dominar suas habilidades. 6.2 Particularidades da Geografia Parece uma redundância, mas a História do pensamento geográfico começa na Idade Antiga, na Grécia, sendo os gregos reconhecidos como seus primeiros exploradores, e a Geografia entendida como ciência que à época se confundia com a Filosofia. Vários estudiosos concordam em considerar como iniciadores dos conhecimentos geográficos: Tales de Mileto, Heródoto, Eratóstenes, Hiparco, Aristóteles, Estrabão e Ptolomeu. Na continuidade histórica, ainda na Idade Antiga, vamos encontrar os romanos que deram sua contribuição, sobretudo na cartografia, com o périplo, documento que descrevia os portos e as escalas que os viajantes dos mares poderiam encontrar em suas viagens. 63 Re vi sã o: V irg in ia /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 9/ 01 /1 3 Metodologia e Prática do ensino de História e geografia A Idade Média destaca os trabalhos de aprofundamento do legado dos gregos e romanos por Edrisi, Ibn Battuta e Ibn Khaldun. A Idade Moderna contou com a expansão dos conhecimentos geográficos com as viagens de Marco Polo, que, além disso, despertou o interesse da sociedade europeia pelas viagens e explorações marítimas. No período do Renascimento, começam a surgir escritos teóricos com informações e detalhamentos mais precisos sobre a Terra. Destacam-se as obras: Geographia Generalis, de Bernardo Varenius e o mapa do mundo de Gerardo Mercator, entendido por muitos como o maior geógrafo de todos os tempos. Seu legado tem grande significado até hoje, pois ao usarmos um mapa, um atlas ou um GPS (Sistema de Posicionamento Global), estamos nos beneficiando dos estudos de Mercator. Alexander Von Humboldt (1769–1859), foi um cientista considerado o pai da Geografia Moderna. Após concluir seus estudos, participou de várias expedições pela Europa para investigação de campo. Foi assim que conheceu a Ásia e a América Latina. Grande parte da herança recebida de sua família rica foi gasta em suas viagens de exploração e publicação de suas obras. Como resultado de seus estudos, foi o primeiro a empregar isotermas (para a física: no espaço caracterizado por variáveis termodinâmicas, tais como a pressão, a temperatura e o volume, linha sobre a qual a temperatura se mantém constante) para representar as temperaturas e o magnetismo nas diferentes regiões do planeta. Por todos estes feitos, foi considerado um dos maiores cientistas da Idade Moderna. A Idade Contemporânea, sobretudo a partir de 1870, registra um acréscimo volumoso de informações geográficas ao que já existia na Geografia, que aos poucos vai sendo entendida em seu conteúdo acadêmico, passando a integrar os currículos universitários. De lá até os nossos dias, ou seja, nos dois últimos séculos, o crescimento do volume de conhecimentos geográficos científicos também é resultadodo surgimento de instrumentos de precisão, o que tem sido fundamental para o cruzamento de dados interdisciplinares no campo da Geografia, da Geologia e da Botânica. Outro cientista considerado por muitos o fundador da Moderna Geografia Humana foi Friedrich Ratzel (1844–1904), geógrafo e etnógrafo alemão, responsável também pela constituição de mais uma dimensão da Geografia, a Geografia Política. Durante os séculos XIX e XX, a Geografia como área do conhecimento apresenta diferentes visões e passa por várias fases importantes para a humanidade. 6.3 a Geografia e suas diferentes visões À época do determinismo geográfico, a Geografia explicava que as forças ambientais (frio, calor, umidade excessiva, extrema aridez) atuavam sobre as pessoas, definindo suas características. São representantes dessa Geografia os estudiosos Carl Ritter, Ellen Churchill Semple e Ellsworth Huntington. 64 Unidade II Re vi sã o: V irg in ia /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 9/ 01 /1 3 Na prática, o determinismo geográfico era evidente na linguagem e no conhecimento do senso comum, por meio das frases: “quem habita os trópicos é preguiçoso, não gosta de trabalhar, é ‘molenga’; os que vivem nos países onde o frio é intenso são mais espertos e inteligentes”. Por volta de 1930, esta tendência foi sendo repudiada, uma vez que seus pressupostos não tinham suporte teórico que os sustentasse. Surge, então, a tendência denominada Geografia Regional. Agora, dizia-se que o campo próprio de trabalho da Geografia eram o espaço e os lugares geográficos. Os seguidores dessa tendência dedicaram- se à pesquisa e ao estudo das características dos lugares, bem como se preocuparam com a escolha de procedimentos sistematizados (métodos) para a divisão da terra em regiões definidas pelas semelhanças de vegetação, clima etc. Seus pressupostos teóricos foram levantados, dentre outros, por Vidal de La Blache e Richard Hartshorne. Cada um deles, por sua vez, também tinha as próprias explicações: o primeiro explicava que os estilos de vida humana é que definiam os diferentes perfis da Geografia; para o segundo, a Geografia se definia pela continuidade e descontinuidade de elementos geográficos (vegetação, clima, terra) de cada área. Na década de 1950, a História registra uma grande realização: o homem chega à Lua, como resultado de muitos anos de dedicação científica e tecnológica. Logo após o lançamento do Sputnik, a Revolução Quantitativa caracteriza-se pelo esforço de a Geografia se redefinir como ciência. Seus seguidores, chamados de revolucionários quantitativos ou os “cadetes espaciais”, eram adeptos do positivismo das ciências naturais. Afirmavam que o fim último da Geografia era testar as regras gerais que até então definiam as várias regiões do globo terrestre. Para provar suas hipóteses, usavam o mesmo método das demais ciências: o estatístico. Desde então, o espaço geográfico foi matematizado e representado pelos índices de frequência (%) e, logo em seguida, conforme o desenvolvimento da tecnologia, também foi informatizado. Como acontece com toda teoria, há os que a aceitam e os que a consideram imprópria para explicar os fatos. Assim, em reação ao positivismo da última escola, forma-se a corrente intitulada Geografia Crítica ou Radical que, em seu início, foi representada pela dimensão humanista, surgindo assim a Geografia Humana, que contou com várias versões. Dentre elas, há que se destacar a Geografia Marxista, originada pela explicação dos princípios de Karl Marx. Nessa linha, ganharam destaque os cientistas sociais David Harvey e Richard Peet. Ainda atuante como fonte explicativa dos fenômenos geográficos, a Geografia Radical ganha uma nova versão: trata-se da versão pós- modernista que explica a ação das relações sociais e espaciais pelas ideias do pós-modernismo e das teorias pós-estruturalistas. No Brasil, Milton Santos e Aziz Ab’Saber destacam-se como representantes da Geografia Crítica. Milton Santos, ainda hoje, mesmo após seu falecimento (2001), é considerado por muitos o pai da Geografia Crítica. Escreveu textos e livros sobre a Geografia como ciência social, acusando a sociedade capitalista pelo estudo do espaço sob a mira do capitalismo ou da economia neoliberal. Também cabe ressaltar os estudos importantes do professor Jurandyr Ross, cujo trabalho foi o de mapear detalhadamente o relevo do solo brasileiro. 65 Re vi sã o: V irg in ia /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 9/ 01 /1 3 Metodologia e Prática do ensino de História e geografia observação Milton Santos é considerado por muitos o pai da Geografia Crítica. Escreveu textos e livros sobre a Geografia como ciência social, acusando a sociedade capitalista pelo estudo do espaço sob a mira do capitalismo ou da economia neoliberal. Para saber mais sobre a vida e a obra do grande geógrafo Milton Santos, acesse: <http://www.nossosaopaulo.com.br/Reg_SP/Educacao/ MiltonSantos.htm>. 6.3.1 Linha do tempo da Geografia no contexto educacional brasileiro 1837 - O Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, é a primeira escola brasileira a incluir Geografia nas disciplinas obrigatórias. A intenção é criar uma elite nacional capaz de ocupar quadros políticos e administrativos. 1900 - A área ganha espaço nas escolas de todo o país. Acredita-se que, conhecendo as características físicas do local, o sentimento de nacionalismo e patriotismo será despertado nos estudantes. 1905 - O livro Compêndio de Geografia Elementar, de Manuel Said Ali Ida (1861-1953), propõe o estudo do Brasil por regiões, abrindo espaço para melhor conhecer o território nacional. 1934 - O departamento e o curso superior de Geografia são criados na Universidade de São Paulo. A maioria dos professores era da escola francesa e defendia a abordagem tradicional. 1966 - O livro Geografia do Subdesenvolvimento, de Yves Lacoste, é lançado no Brasil. Com a publicação, as teorias da Geografia crítica começam a ecoar em todo o país. 1971 - Durante o período militar, Geografia e História são aglutinadas na disciplina Estudos Sociais. O governo acredita que o conhecimento dessas áreas é uma ameaça à hegemonia nacional. 1978 - Milton Santos (1926-2001), considerado o maior geógrafo do Brasil, publica o livro Por uma Geografia nova, no qual preconiza a importância do estudo das questões sociais. 1990 - Com a pesquisa que mostrou a deficiente formação dos estudantes americanos, se inicia um debate sobre o papel da disciplina no século XXI e os reais objetivos de aprendizagem. 1993 - Inaugurado o Núcleo de Pesquisa sobre Espaço e Cultura da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, que divulga estudos e pesquisas realizados de acordo com essa abordagem. 66 Unidade II Re vi sã o: V irg in ia /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 9/ 01 /1 3 1998 - A publicação dos PCNs lista os objetivos da disciplina. Os alunos precisam compreender as relações entre a formação da sociedade e o funcionamento da natureza com base na paisagem. 6.4 objetivos gerais do ensino de Geografia Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais, o ensino de Geografia para todos os anos do Ensino Fundamental possui objetivos que visam permitir a cada aluno, dentro de seu limite e respeitando seu nível de compreensão, que sejam capazes de: • conhecer a organização do espaço geográfico e o funcionamento da natureza em suas múltiplas relações, de modo a compreender o papel das sociedades em sua construção e na produção do território, da paisagem e do lugar; • identificar e avaliar as ações dos homens em sociedade e suas consequências em diferentes espaços e tempos, de modo a construir referenciais que possibilitem uma participaçãopropositiva e reativa nas questões sócio ambientais locais; • compreender a espacialidade e temporalidade dos fenômenos geográficos estudados em suas dinâmicas e interações; • compreender que as melhorias nas condições de vida, os direitos políticos, os avanços técnicos e tecnológicos e as transformações socioculturais são conquistas decorrentes de conflitos e acordos, que ainda não são usufruídas por todos os seres humanos e, dentro de suas possibilidades, empenhar-se em democratizá-las; • conhecer e saber utilizar procedimentos de pesquisa da Geografia para compreender o espaço, a paisagem, o território e o lugar, seus processos de construção, identificando suas relações, problemas e contradições; • fazer leituras de imagens, de dados e de documentos de diferentes fontes de informação, de modo a interpretar, analisar e relacionar informações sobre o espaço geográfico e as diferentes paisagens; • saber utilizar a linguagem cartográfica para obter informações e representar a espacialidade dos fenômenos geográficos; • valorizar o patrimônio sociocultural e respeitar a sócio diversidade, reconhecendo-a como um direito dos povos e indivíduos e um elemento de fortalecimento da democracia. 6.5 os conteúdos no ensino de Geografia Escola e professores devem ter consciência do ponto de partida para o ensino de Geografia: o que o aluno já sabe. Contudo, somente precisamos olhar para o espaço ao redor? O espaço em que habitamos e de onde viemos poderá estar ligado ao território de outros povos? Precisamos conhecer outros lugares, outras paisagens e estabelecer outras relações que não somente as da nossa origem? 67 Re vi sã o: V irg in ia /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 9/ 01 /1 3 Metodologia e Prática do ensino de História e geografia Para responder a esses questionamentos, consultamos os Parâmetros Curriculares Nacionais. Conforme os PCN de Geografia e História (1997, p. 5): Embora o espaço geográfico deva ser objeto central de estudo, as categorias paisagem, território e lugar devem também ser abordadas, principalmente nos ciclos iniciais, quando se mostram mais acessíveis aos alunos, tendo em vista suas características cognitivas e afetivas. Portanto, devemos começar o ensino dessa disciplina a partir do que está mais próximo e seguir na direção do que está mais distante, porém com significado: o aluno cidadão tem direito ao conhecimento, sobretudo se pensarmos que, para muitos, a escola é a única fonte de estímulo ao saber. Ao falarmos da paisagem local próxima ao aluno como conteúdo geográfico, citamos novamente os PCN de Geografia e História (ibidem, p. 6): [...] dela fazem parte seu relevo, a orientação dos rios e córregos da região, sobre os quais se implantaram suas vias expressas, o conjunto de construções humanas, a distribuição da população que nela vive, o registro das tensões, sucessos e fracassos da história dos indivíduos e grupos que nela se encontram. É nela que estão expressas as marcas da história de uma sociedade, fazendo, assim, da paisagem uma soma de tempos desiguais, uma combinação de espaços geográficos. Enquanto os PCN nos instruem sobre as categorias de análise, surgem os conteúdos a serem trabalhados no Ensino Fundamental, muitas vezes explorados pela mídia, que também ajuda na postura a ser adotada diante da realidade, mas confunde o real com o imaginário. Por isso, é recomendável que se recorra aos conhecimentos científicos como suporte às reflexões pertinentes ao espaço geográfico e ao referido lugar, senão corremos o risco de nos desviarmos do real. Segundo Kozel e Filizola (2010), Coll e Teberosky (2008) e os PCN de Geografia (1997), alguns temas devem ser desenvolvidos no Ensino Fundamental do 1º ao 5º ano, variando em grau de complexidade pela ampliação em profundidade e em extensão e que compreendam: • a Geografia da vida cotidiana; • a vida na cidade e no campo; • a cidade inserida no Estado; • a organização do espaço pelo trabalho; • a vida nos diferentes espaços da sociedade; • o conhecimento do planeta; • a relação entre tecnologia e os espaços geográficos. 68 Unidade II Re vi sã o: V irg in ia /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 9/ 01 /1 3 Assim, conforme a Declaração Internacional sobre Educação Geográfica, firmada pela Comissão de Educação Geográfica da UGI 6, em 1992, em Washington, e ratificada em 2000, na reunião realizada em Seul, na Coreia do Sul: • a Geografia como campo de estudos é essencial para a compreensão de nosso lugar no mundo e de como as pessoas interagem com as demais em seu entorno; • a investigação e educação geográficas promovem e ampliam a compreensão cultural, a interação, a igualdade e a justiça em escala local, regional e global; • todos os estudantes têm direito à oportunidade de desenvolver seus valores sociais, culturais e ambientais por meio da educação geográfica que promoverá seu desenvolvimento como pessoas geograficamente informadas; • os geógrafos profissionais e educadores geográficos [devem] promover a educação geográfica global para fazer frente aos futuros desafios do desenvolvimento e o entorno natural. Para que o ensino de Geografia na escola atinja tais propósitos, é preciso que se tenha muita clareza quanto aos pressupostos e objetivos da visão científica dessa área de conhecimento, dos conteúdos da dimensão pedagógica e democrática do cotidiano escolar e do compromisso dos profissionais envolvidos. A Geografia tratada dessa maneira difere muito da de tempos atrás, quando os alunos eram obrigados a decorar os nomes dos acidentes geográficos e registrar esses mesmos acidentes no mapa, além de decorar as lições do livro didático e ouvir longas explanações do professor, sem direito a ter dúvidas. Para a seleção dos conteúdos conforme os PCN de Geografia e de História (1997, p. 13), por meio do estudo dessa disciplina, os alunos podem construir atitudes, procedimentos e valores significativos para a vida em sociedade. Os conteúdos a serem tratados durante as aulas devem possibilitar o pleno desenvolvimento e a construção de uma identificação com o lugar onde vive e, “em sentido mais abrangente, com a nação brasileira, valorizando os aspectos socioambientais que caracterizam seu patrimônio cultural e ambiental”. Além disso, devem possibilitar desenvolver e aprimorar a tomada de consciência sobre o território nacional que é composto de muitas e diferentes culturas. Essas culturas dão perfil aos grupos sociais, povos e etnias que habitam a sociedade brasileira. Portanto, um dos critérios a serem usados para a seleção dos conteúdos é a preservação da diversidade nacional. Somos todos diferentes, porém iguais quanto à natureza e aos direitos, constituímos a tessitura do que chamamos identidade brasileira. Há ainda que se levar em conta o desenvolvimento cognitivo da clientela em relação ao tempo e ao espaço, para que as atividades propostas pelo professor deem bons resultados nas interações sociais e nas aprendizagens. Uma pesquisa poderá ser proposta como estratégia de estudo e ser abordada do ponto de vista das interfaces com as demais disciplinas do Ensino Fundamental, mas, para isso, caberá ao professor conhecer como estão os recursos cognitivos do aluno. 69 Re vi sã o: V irg in ia /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 9/ 01 /1 3 Metodologia e Prática do ensino de História e geografia Ao mesmo tempo, para que uma pesquisa seja desenvolvida com sucesso, há que se contar com alunos alfabetizados, senão as trocas simbólicas não acontecerão e a busca de informação será muito limitada, ocasionando empobrecimento no resultado final. Nunca podemos esquecer de que, para muitosalunos, a escola é a única possibilidade de interação com o conhecimento, portanto há que se levar em conta as possibilidades formadoras desse ambiente no que diz respeito à construção de habilidades necessárias que muitas vezes parecem não lhes ser atraentes, mas que constituem o acesso aos bens socioculturais e à prática da cidadania. Desta forma, nos primeiros anos de escolaridade, o estudo da Geografia deve voltar-se sobretudo para os temas relativos à presença e ao papel da natureza e sua relação com a ação das pessoas e dos grupos sociais e, de forma geral, da sociedade na construção do espaço geográfico. Para tanto, o conhecimento que o aluno traz de casa é a referência para a organização do trabalho do professor. Citando mais uma vez os PCN de Geografia e História (1997, p. 17): O estudo das manifestações da natureza em suas múltiplas formas, presentes na paisagem local, é ponto de partida para uma compreensão mais ampla das relações entre sociedade e natureza. É possível analisar as transformações que esta sofre por causa de atividades econômicas, hábitos culturais ou questões políticas, expressas de diferentes maneiras no próprio meio em que os alunos estão inseridos. Por exemplo, através da arquitetura, da distribuição da população, dos hábitos alimentares, da divisão e constituição do trabalho, das formas de lazer e inclusive através de suas próprias características biofísicas pode-se observar a presença da natureza e sua relação com a vida dos homens em sociedade. Do mesmo modo, é possível também compreender por que a natureza favorece o desenvolvimento de determinadas atividades e não de outras e, assim, conhecer as influências que uma exerce sobre a outra, reciprocamente. II Não são apenas os impulsos subjetivos ou coletivos que definem as formas de ocupação dos espaços geográficos. Também há de se levar em conta as atividades econômicas, as questões políticas, os costumes que emergem da sociedade onde o aluno está inserido. Por outro lado, é preciso entender as características dos espaços, que muitas vezes podem impossibilitar determinadas ações transformadoras, o que contribui para a diferenciação entre os espaços geográficos. Ao estudo da Geografia cabe também o destaque às diferenças entre a cidade e a zona rural, enfatizando as questões socioculturais e a própria diversidade ambiental. Aqui, cabe destacar a importância do papel do trabalho, das tecnologias, da sistemática da informação e da comunicação, bem como dos meios de transporte existentes na região em destaque. Uma metodologia adequada a esses estudos poderá chamar a atenção sobre o processo histórico e as forças políticas que definiram as categorias (cidade e zona rural) tornando-as tão diferentes. As 70 Unidade II Re vi sã o: V irg in ia /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 9/ 01 /1 3 fotografias ou cenas da vida que caracterizam o antes e o depois são significativas como recursos metodológicos. Atualmente, não só o trabalho produz mudanças nos estilos de vida e ritmos da cidade e do campo, a tecnologia também influi nas suas formas de relacionamento e na sua organização. Uma vez esses temas sendo selecionados, é interessante que se destaque como se relacionam com a vida cotidiana, qual seu papel no conforto e desconforto que trazem, os benefícios e malefícios que proporcionam. É possível comparar técnicas e tecnologias antigas e modernas, como o arado e o trator, a colheita manual e a mecanizada e avaliar o que é melhor para as pessoas e seu meio ambiente. Os mesmos temas podem analisar a distribuição da tecnologia na paisagem urbana e na rural levantando-se várias questões sobre as pessoas que têm acesso a elas, como são distribuídos o lazer, as escolas, os produtos de consumo; como são atendidas as preferências das pessoas, qual a sistemática de distribuição de remédios para a população carente de um e outro lugar. Muitos outros questionamentos podem ser feitos. O que importa é que, na seleção dos conteúdos, os critérios de sua escolha impliquem atividades significativas e conhecimentos transformadores aos alunos. E para que essas atividades sejam significativas é necessário disponibilizar meios e ferramentas para que os alunos possam buscar respostas. Mas quais são essas ferramentas da Geografia? O fato geográfico Segundo o geógrafo Milton Santos (2004), o espaço geográfico é a configuração territorial dos objetos geográficos e seu conteúdo social, a vida que lhes dá sentido e os anima. Veja o exemplo seguinte. Um vulcão se torna “fato geográfico” quando se localiza o lugar onde se encontra, quando são examinadas suas características e origem e se percebe ação e riscos sociais. Quando se examina a lava que expeliu e que, tempos depois, transformou-se em solo, justificando a ocupação humana e a atividade agrícola, exigindo estradas e tornando viável o comércio dos produtos cultivados e de outros tantos necessários a esses agricultores. Nesse caso, o vulcão é o “objeto geográfico” e é a análise de seu “conteúdo social” que lhe dá sentido e o anima. Não existe um fato geográfico em um único fenômeno, seja esse acidente, um planalto ou uma cidade, mas na análise cuidadosa desse fenômeno com seu entorno e suas muitas relações com as pessoas. O texto e a carta geográfica A linguagem, em seu sentido mais amplo, é um dos elementos essenciais à vida moderna e às ciências. Muito mais que um meio de comunicação entre pessoas, expressa o que se entende por “conhecimento”, pois a linguagem encarna as significações. Quando uma pessoa fala com você, ela 71 Re vi sã o: V irg in ia /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 9/ 01 /1 3 Metodologia e Prática do ensino de História e geografia não fala qualquer palavra, mas fala de coisas que possuem significados. Para quem fala, a palavra traduz um pensamento e, para quem escuta, a palavra que chega é o próprio conhecimento que se conquista. A linguagem não existe sem pensamentos, sem nada e, por esse motivo, é muito importante conhecer quais são as “linguagens” da Geografia, pois é através delas que se expressam os conhecimentos geográficos. Justamente por esse motivo, quem ensina Geografia deve estar muito atento a duas de suas mais importantes linguagens: o texto geográfico e a representação geográfica, isto é, a cartografia. Os mapas nos permitem ter domínio espacial e fazer síntese dos fenômenos que ocorram em um determinado espaço e, por isso, representam outra linguagem imprescindível à Geografia, pois aprender “geograficamente” o texto é tão importante quando “aprender cartograficamente” um mapa e, nesse sentido, um essencial papel do professor é “alfabetizar cartograficamente” seus alunos. A alfabetização cartográfica O primeiro passo de um aluno em sua alfabetização cartográfica é aprender a ver um mapa ou carta geográfica, diferenciando a ação do verbo ver com a ação do olhar. Olhar não é algo que se aprende, pois, se temos olhos e eles funcionam, sua função é olhar, algo tão simples quanto o respirar. Mas ver é olhar com interesse, atenção, concentrando-se nessa tarefa para perceber coisas que o rápido olhar jamais percebe. Não é necessário aprendermos a olhar, mas é importante que aprendamos a ver, ação essencial para quem pratica a alfabetização cartográfica. Todo aluno tem necessidade de ir se acostumando com as diferenças entre a linguagem escrita e a linguagem visual. Mas o que se deve ensinar os alunos a ver em uma carta geográfica? O título: verificar se a informação nos conta de que natureza é a carta geográfica, destaca a que parte do lugar ela se refere. A escala do mapa: para que através dela se possa perceber a extensão da área mapeada, calcular distâncias e buscar ver a relação entre o espaçoque se estuda e os espaços que se localizam em seu entorno, desde os mais próximos aos mais distantes. Todo mapa geográfico mostra uma parte singular e específica de um espaço maior que é o nosso planeta. A análise da localização da área mapeada: analisar significa decompor o todo em suas partes constituintes e, portanto, observar uma carta geográfica é proceder à leitura atenta de tudo quanto ela nos revela, vendo suas indicações e referências e compreendendo os sinais convencionais utilizados. A orientação espacial: é o sentido da posição geográfica. As correlações: ver como interagem os elementos naturais com os elementos humanos e perceber como a atividade destes caracteriza a visão econômica, a produção e os transportes. 72 Unidade II Re vi sã o: V irg in ia /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 9/ 01 /1 3 A síntese: concluir a leitura com um trabalho que permita explicar, comparar, classificar, descrever, associar e aplicar em outras situações a paisagem que o mapa ilustra. Segundo Maria Elena Ramos Simielli (1999), a conquista do aluno e sua consequente alfabetização cartográfica supõem que o aluno domine: • a visão oblíqua e vertical da área mapeada; • a percepção tridimensional a partir da visão de uma imagem bidimensional; • o domínio de palavras e expressões do alfabeto cartográfico; • a identificação da escala e sua projeção em relação ao espaço real; • a lateralidade e a orientação. Trabalhos de campo e o estudo do meio Por meio de uma atividade externa, os alunos têm a chance de descobrir uma nova Geografia e de percebê-la, não como tema restrito à sala de aula, mas como projeto de pesquisa no qual se aprende a olhar o objeto estudado e a atribuir-lhe sentido. Lembrete Nos primeiros anos de escolaridade, o estudo da Geografia deve voltar- se sobretudo para os temas relativos à presença e ao papel da natureza e sua relação com a ação das pessoas e dos grupos sociais na construção do espaço geográfico. Para tanto, o conhecimento que o aluno traz de casa é a referência para a organização do trabalho do professor. 7 oS SaBereS De GeoGrafia Na SaLa De aULa Para o desenvolvimento de habilidades e competências relacionadas aos temas significativos no ensino de Geografia (o indivíduo como parte integrante do lugar em que vive e as relações do homem com o espaço), apresentamos sugestões de atividades de acordo com os objetivos específicos para cada ano de escolaridade e a fundamentação teórica dos conteúdos. Portanto, ao término dos cinco primeiros anos letivos do Ensino Fundamental (1º ao 5º), os alunos deverão ser capazes de: • observar, conhecer e comparar as paisagens locais, identificando as naturais, e as modificadas pelo homem; • observar, localizar e registrar, por meio de desenho, os pontos de referência nos percursos diários; 73 Re vi sã o: V irg in ia /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 9/ 01 /1 3 Metodologia e Prática do ensino de História e geografia • representar e utilizar os símbolos dos pontos de referência, identificando-os na legenda; • identificar as formas de convívio social, hábitos e costumes, festejos e comemorações sejam estas antigas ou atuais; • conhecer e relacionar as normas e regras de convívio na sala de aula, na escola, no bairro; • conhecer diferentes formas de representação do espaço, elaborando mapas e maquetes dos lugares de vivência, como sala de aula, escola, moradia; • conhecer os diferentes meios de transporte, o trânsito, suas transformações e seu impacto na vida cotidiana; • conhecer e respeitar as normas da sociedade (Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei dos Direitos Humanos, Estatuto do Idoso etc.); • elaborar mapas com vários pontos de referência, utilizando legendas; • reconhecer os lugares da cidade por meio de leitura de mapas; • organizar e registrar informações por meio de tabelas, esquemas, gráficos, listas, relatórios, ilustrações, maquetes etc.; • utilizar observações, experimentações e leituras para coletar e selecionar informações em uma abordagem investigativa e crítica, a partir de suportes (livros, revistas, Internet etc.) e gêneros textuais variados (entrevistas, notícias de jornal, filmes, músicas etc.); • identificar diferentes aspectos do município: os limites territoriais, as paisagens urbana e rural, as formas de administração; • compreender a evolução da configuração territorial e a divisão política do Brasil (estados e regiões), relacionando-a com a dinâmica da ocupação espacial; • conhecer e utilizar as diferentes formas de orientação e localização (estrelas, Lua, rosa dos ventos, bússola e GPS) para se locomover em diferentes lugares; • reconhecer o globo terrestre e os mapas como representações do espaço, relacionando-os com lugares conhecidos e identificando os elementos neles presentes; • conhecer as principais características dos elementos naturais das diferentes paisagens do município, do estado e do Brasil (relevo, hidrografia, clima e vegetação); • analisar os impactos da ação humana no ambiente (erosão, poluição, aquecimento global e desmatamento), reconhecendo a importância de ações individuais e coletivas como forma de minimizar esses impactos; • reconhecer a importância dos meios de comunicação social e exercitar um olhar crítico sobre as suas mensagens; 74 Unidade II Re vi sã o: V irg in ia /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 9/ 01 /1 3 • reconhecer seus direitos e deveres como cidadão, ampliando seus conhecimentos sobre as leis e normas da sociedade. 7.1 Sugestão de atividades Primeiro ano Atividade 1 – A Paisagem Observar as paisagens a seguir e realizar as ações que se pede: Paisagens naturais Figura 1 Figura 2 Paisagens modificadas Figura 3 Figura 4 Desenvolvimento • escrever os elementos visíveis que identificar na paisagem natural; • escrever os elementos visíveis que identificar na paisagem modificada; 75 Re vi sã o: V irg in ia /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 9/ 01 /1 3 Metodologia e Prática do ensino de História e geografia • registrar as diferenças observadas entre a paisagem natural e a modificada; • conversar com os colegas sobre o que mais chamou a atenção nessas paisagens; • observar se ao redor da escola há elementos iguais aos das paisagens observadas e identificar a que mais parece com as paisagens anteriores; • desenhar alguns elementos que existem nos arredores de sua escola; • comparar com os desenhos dos colegas e relacionar todos os elementos que vocês descobriram. Fundamentação É fundamental o desenvolvimento de atividades que visem ao aprimoramento, no aluno, das habilidades de observar e comparar as paisagens, identificando os elementos naturais e aqueles construídos pelo ser humano. Além disso, é importante que ele perceba que as paisagens não são estáticas, mas mutáveis; que carregam em si marcas da história do lugar, produzidas pela relação entre os elementos naturais e a sociedade que ali vive. Para atingir parte desse objetivo, trabalha-se com o entendimento da paisagem, que é um conceito fundamental no ensino de Geografia. Paisagem é tudo aquilo que a visão alcança e que os sentidos podem perceber. O conceito de paisagem, assim como outros conceitos, não é exclusivo do quadro conceitual da Geografia, sendo bastante utilizado, por exemplo, por arquitetos e urbanistas (CAVALCANTI, 2004, p. 96). Sendo assim, é importante considerar as ideias que os alunos trazem de suas experiências sobre esse assunto, fazendo-os gradativamente, construírem o conceito geográfico. O intuito é que o alunoentenda e saiba analisar uma paisagem, ao ponto de identificar seus elementos e compará-los quanto às similaridades e/ou diferenças. Roda de conversa O ponto de partida para esta atividade é a observação de paisagens naturais e modificadas. Deixe que os alunos falem livremente sobre o que eles observaram e procure despertá-los quanto à capacidade de observação da paisagem que existe ao seu redor. Sua percepção deve ser estimulada para que, partindo do que lhe é próximo, ele entenda as transformações das paisagens. 76 Unidade II Re vi sã o: V irg in ia /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 9/ 01 /1 3 Saiba mais Leitura CASTELLAR, S. Educação geográfica: teorias e práticas docentes. São Paulo: Contexto, 2005. Você ampliará sua compreensão sobre os conceitos de Geografia, principalmente o de paisagem, aplicando-os na sua prática docente diária. LOBATO, M. Assembleia na mata. 5. ed. São Paulo: Brasiliense, 1995. Neste livro você encontra a descrição de uma paisagem que já está desaparecendo em nosso país. Filme BARAKA. Dir. Ron Fricke. EUA, 1992, 96 minutos. Esse filme foi feito com imagens obtidas em 24 países e não tem diálogos. Desperta a curiosidade sobre as diferentes culturas, mostrando rituais religiosos e fenômenos da natureza. É uma boa ferramenta para perceber como as paisagens são importantes para o ser humano, pois elas despertam emoções, tanto pelo que é captado pela visão, quanto pelo que é percebido pelos outros sentidos. Atividade 2 – O mapeamento do lugar Figura 5 77 Re vi sã o: V irg in ia /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 9/ 01 /1 3 Metodologia e Prática do ensino de História e geografia Desenvolvimento • o aluno deve representar em uma folha de papel a paisagem que vê no caminho entre sua casa e a escola; • colocar legenda para identificar os elementos desta paisagem; • definir elementos de referência para sua casa e para sua escola; • observar a imagem anterior e refletir sobre como é o espaço no interior da casa; • conversar com os colegas sobre as formas de representar o espaço de uma casa além da fotografia; • perguntar ao aluno: você sabe o que é um mapa e para que serve? Fundamentação Essa atividade não se limita aos elementos construídos pelo ser humano e aos elementos naturais. Além desses dois conteúdos, acrescentaremos a legenda, ponto indispensável para a leitura de imagens e mapas, pois se pretende que o aluno seja capaz de interpretar e fazer relações entre a legenda, o mapa e o espaço que ele representa. Adotamos a definição de planta como a representação gráfica de uma construção. O espaço da sala de aula, por exemplo, corresponde a um tipo de mapa, podendo até ser chamado de “mapa da sala”, como também “mapa da casa”, “mapa da escola”, já que representa a ocupação de um determinado espaço. É importante mostrar ao aluno que esses mapas não têm terceira dimensão. Já é possível começar a explicar ao aluno o que é terceira dimensão, desde que seja com algo visível para ele. Por exemplo, comparando a planta com a maquete. Na maquete, têm-se todos os lados, altura, largura e comprimento, e é possível vê-la em perspectiva. Na planta baixa (mapas), não existem todos os lados e não podemos ver em perspectiva. Roda de conversa O ponto de partida para esta atividade é o caminho entre a casa e a escola. O objetivo é observar a paisagem, os tipos de construções, as moradias, os comércios, as indústrias e fazer a representação no papel, para iniciar o conhecimento sobre mapas. Como o trabalho com mapas envolve um maior grau de abstração, a criança começa por reconstruir a representação, tornando-se “mapeador”. Etapa por etapa, ela desenvolverá códigos para representar o espaço, desvendando mecanismos e recursos, de acordo com o grau de abstração que foi atingido. Quando a criança desenha os espaços internos da sua casa, da escola, ou o caminho casa/escola, está utilizando símbolos, abstraindo, adquirindo condições para interpretar mapas. 78 Unidade II Re vi sã o: V irg in ia /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 9/ 01 /1 3 Saiba mais Leitura FILIZOLA, R.; KOZEL, S. Didática de Geografia: memórias da terra. O espaço vivido. São Paulo: FTD, 1996. Estimula a criança a fazer uso dos seus conhecimentos para despertar nela a percepção do espaço em que vive. ABREU, A. M. V. Escala de mapa, passo a passo: do concreto ao abstrato. Revista Orientação, São Paulo, n. 6, IG/USP, 1985. Propicia a aprendizagem da construção e leitura de mapas passo a passo. Segundo ano Atividade 1 – Casa, uma necessidade de todos Desenvolvimento Observe as figuras e reflita sobre as questões a seguir: • o que chama a atenção nas imagens; • por que moramos em casas; • por que o quarto é uma parte importante da casa; • faça uma pesquisa sobre habitações do homem: como são as habitações atuais, o que elas devem ter para serem seguras e confortáveis, como é uma habitação antiga e comparar com a atual; • pesquise sobre os primeiros lugares usados como moradia pelo ser humano; • socialize com os colegas de classe os tipos de habitação que você encontrou e em quais lugares; • por que hoje existem tantos edifícios nas áreas urbanas e não há nas zonas rurais; • observe os lugares a seguir e as transformações ocorridas; • analise o lugar onde você vive e reflita sobre o que é lugar. 79 Re vi sã o: V irg in ia /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 9/ 01 /1 3 Metodologia e Prática do ensino de História e geografia Figura 6 Figura 7 - Palafita Figura 8 80 Unidade II Re vi sã o: V irg in ia /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 9/ 01 /1 3 Figura 9 - Oca indígena Fundamentação Nesta atividade, discute-se com o aluno a importância da casa na organização da vida das pessoas. Partimos do que é próximo ao aluno para que ele comece, de maneira sistematizada, a separar e a nomear os elementos que lhe são mais comuns. Este é o primeiro passo para a alfabetização geográfica e a aprendizagem de alguns conceitos como: • paisagem – entendida como tudo o que a vista alcança, com relação aos elementos visíveis, mas sem esquecer que ela também é formada por cheiros, sons, além de despertar emoções em nós. A paisagem pode ser representada por meio de uma foto, um quadro, um filme, entre outros. Ela não é estática e pode passar por várias transformações, causadas tanto pela natureza como pelo ser humano; • lugar – é bem mais subjetivo que a paisagem. O lugar é o espaço que está próximo, ou com que se tem uma forte relação de vivência. Está muito ligado ao sentimento que uma pessoa ou um conjunto de pessoas têm em relação a um determinado espaço. O que é lugar para um, não necessariamente será para outro; • região – provavelmente é o conceito mais caro à Geografia, pois para se caracterizar uma região, depende-se sempre de um critério definido. Esse critério pode ser físico, como clima, vegetação, relevo, entre outros, ou mesmo relacionado a um aspecto socioeconômico, como região rica, região pobre, região desenvolvida, região não desenvolvida e assim por diante; • território – sempre que nos referirmos a este conceito, estamos falando de poder. É um espaço sem tamanho definido, mas pode ser desde a carteira do aluno, um território que deve ser respeitado por todos da sala, até um terreno, uma casa ou um país. Roda de conversa O ponto de partida para a discussão sobre o quarto como componente do espaço da casa é o quadro do pintor holandês Vincent Van Gogh (1853 – 1890).81 Re vi sã o: V irg in ia /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 9/ 01 /1 3 Metodologia e Prática do ensino de História e geografia Figura 10 - Quarto em Arles, de Vincent Van Gogh O tema da atividade é a casa. O quarto é utilizado por ser uma referência próxima aos alunos, quer desfrutem ou não desse espaço em suas casas. O objetivo é falar sobre as mudanças das paisagens. Entre as paisagens, qual é a mais próxima dos alunos senão a casa e, dentro desta, o quarto? Peça que eles observem os detalhes da pintura de Van Gogh, falem sobre o tipo de quarto, se o mobiliário é igual ao das casas da atualidade. Pergunte por que eles acham que o pintor resolveu retratar logo um quarto, entre todos os outros ambientes da casa, compondo um quadro que acabou se transformando em uma grande obra de arte. A partir das discussões sobre o quarto como espaço da casa, várias questões podem ser propostas aos alunos, explorando a definição de casa, a necessidade de se ter uma casa, as diferenças entre os vários tipos de moradias de antes e da atualidade. Este é o caminho para que o aluno possa relacionar a ocupação do espaço com o crescimento e a proliferação dos tipos de habitação e as mudanças ocorridas nas paisagens. Peça para os alunos desenharem a sua moradia, prestando atenção, em alguns detalhes, como: • forma e tamanho da casa ou prédio; • cores das paredes janelas e portas; • forma do telhado; • material utilizado na construção, entre outros. Depois, responder por escrito: a. Onde fica sua casa? Escreva seu endereço. b. Há quanto tempo você mora nesse lugar? c. Quantas pessoas moram na casa com você? 82 Unidade II Re vi sã o: V irg in ia /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 9/ 01 /1 3 d. O que você mais gosta na sua casa? e. Você gosta da sua moradia? Por quê? f. Se você pudesse mudar algo em sua casa, o que modificaria? Saiba mais Pesquisa BAYMA, S. Novas tecnologias vão atender aos nossos novos hábitos: nossa casa do futuro será mais amiga da natureza. Revista Superinteressante, São Paulo, SUPER 179a, set. 2002. Disponível em: <http://super.abril.com. br/tecnologia/mantendo-equilibrio-443304.shtml >. Acesso em: 17 out. 2012. Leitura HEBERT, J. Marco Polo e sua maravilhosa viagem à China: para crianças e jovens. São Paulo: Jorge Zahar, 2003. Marco Polo foi um dos homens que mais viajou em nosso planeta. Vale a pena conhecer suas aventuras e aprender sobre o modo de vida de outros povos. Atividade 2 – Meios e sistemas de transporte Desenvolvimento Reflita sobre as questões: • meio de transporte que você mais usa; • sistema de transporte que sua família mais usa; • meio de transporte mais utilizado pelo homem; • pergunte aos seus pais e avós como eram os transportes quando eles eram crianças; • discuta com seus colegas sobre o que é sistema de transporte e dê exemplos; • pesquise sobre os transportes fluviais e discuta com os colegas; • pesquise sobre os transportes aéreos e discuta com os colegas; • faça uma pesquisa para descobrir a relação que existe entre o transporte e a poluição do ambiente. 83 Re vi sã o: V irg in ia /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 9/ 01 /1 3 Metodologia e Prática do ensino de História e geografia Fundamentação Os meios e os sistemas de transporte são grandes transformadores da paisagem. Antes do motor à explosão, que movimenta o avião, o navio, o trem e o automóvel, as cidades tinham uma organização. A partir dele, ruas foram inventadas e as que já existiam tiveram de ser aumentadas. Tudo ganhou velocidade: as mercadorias, que até então não saíam do entorno onde eram produzidas, hoje podem estar em qualquer lugar do mundo. É fundamental que o aluno entenda a importância que os meios e os sistemas de transporte têm em nossas vidas, pois eles estão presentes de uma forma ou de outra em nosso dia a dia. Nesta atividade, o aluno deve desenvolver suas habilidades para conhecer os diferentes meios e sistemas de transporte, percebendo suas transformações ao longo do tempo, bem como seu impacto na vida cotidiana. Roda de conversa O ponto de partida para esta atividade é a apresentação de fotos e gravuras de diversos meios e sistemas de transportes utilizados no passado e na atualidade. É importante que o aluno seja instrumentalizado, primeiramente, para explicar as diferenças entre um meio e um sistema de transporte. Saiba mais Leitura SANTA ROSA, N. S. Santos Dumont. São Paulo: Callis, 2006. (Coleção Crianças Famosas). Pesquisa <https://sites.google.com/site/andandonofuturo/a>. Apresenta os meios e sistemas de transportes antigos e atuais. Terceiro ano Atividade 1 – O bairro: suas características e transformações Desenvolvimento Apresentação de ilustrações de diversos bairros e solicitar as ações: • fazer uma leitura do espaço e encontrar os diversos tipos de construções; • escrever o que conseguiram observar na ilustração; 84 Unidade II Re vi sã o: V irg in ia /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 9/ 01 /1 3 • debater com os colegas sobre a forma de organização das construções e classificar o tipo de bairro; • analisar a ilustração em sua representação espacial: plana, oblíqua, terceira dimensão etc.; • refletir sobre o que falta neste bairro; • estabelecer relações entre os tipos de construções; • representar, por meio de desenho, a escola e seu entorno, identificando as construções; • fazer um levantamento nos arredores da escola para identificar as construções que tiveram transformações ou que mudaram de função; • pesquisar sobre o que é um bairro e como é a sua criação; • identificar as condições que o bairro se apresenta, os recursos existentes e do que necessita; • perceber as ligações com outros bairros e estabelecer comparações entre eles; • identificar os meios de transportes do bairro; • pesquisar sobre a História do bairro: nome, origem, localização, hábitos e costumes dos moradores etc. Fundamentação Esta atividade possibilita ao aluno aguçar a sua percepção para entender melhor a distribuição espacial do seu entorno e a perceber permanências e modificações na paisagem urbana em diferentes períodos. Por isso, é importante ensinar o aluno a ler, interpretar e também a confeccionar mapas, maquetes ou qualquer outra representação do espaço. Assim, aos poucos, ele entenderá que cada pessoa que elabora uma representação espacial embute nela seus desejos, ideologias etc., e manterá uma distância crítica de quaisquer representações desse tipo com que venha a lidar no futuro, não tomando o mapa pelo lugar, mas considerando-o, como deve ser, a representação desse lugar. A finalidade desta atividade é analisar diferentes tipos de bairros, pois o bairro é a unidade política mais próxima do aluno. É a partir do bairro que o aluno entenderá o que é um município e qual sua configuração política. É importante que fique claro para o aluno que o bairro é parte do município, portanto, não pode ser entendido como uma unidade isolada. As pessoas circulam entre os bairros, existe um sistema de transporte que os integra, uma paisagem que se estende por vários deles, entre outros aspectos geográficos. Nesta atividade o aluno saberá também que a criação de um bairro é uma decisão que se dá na Câmara de Vereadores. Assim, ele também saberá que a criação desses locais tem várias implicações, políticas e econômicas. 85 Re vi sã o: V irg in ia /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 9/ 01 /1 3 Metodologia e Prática do ensino de Históriae geografia Outro ponto importante é que o aluno consiga comparar a organização de uma grande cidade, com vários bairros, com a organização de cidades pequenas, com poucos bairros, normalmente situados ao redor de um bairro central, que concentra a maior parte dos serviços. Saiba mais Filme QUEM quer ser um milionário. Dir. Danny Boyle, Reino Unido / EUA, 2008. 120 minutos. Retrata a vida de algumas crianças da Índia até a juventude. Roda de conversa A primeira abordagem do tema visa fazer com que os alunos tenham a atenção despertada para as diversas possibilidades de ocupação do espaço próximo deles – os bairros. Na observação das ilustrações, faça com que eles percebam as diversas características dos bairros, sejam eles residenciais, comerciais, industriais, mistos. Destaque a questão das paisagens existentes em cada organização de bairro e retome os conteúdos referentes às permanências e transformações. É preciso trabalhar com instrumentos relacionados à realidade local do aluno, comparar os sistemas de transportes, a arquitetura, verificar se houve crescimento vertical, questionar o relevo, o clima, a vegetação, entre outros aspectos. Leve o aluno a pensar nas condições que existem no bairro onde ele mora, e que perceba que o bairro é uma parte da estrutura urbana e que tem ligações com outros bairros. Instigue o aluno para que ele analise algumas questões importantes para entender a história do bairro. Saiba mais Leitura CAVALCANTI, L. S. A Geografia escolar e a cidade: ensaios sobre o ensino de Geografia para a vida urbana cotidiana. Campinas – SP: Papirus, 2008. Apresenta contribuições para a formação de indivíduos conscientes de seu papel como cidadãos em sua interação com o meio urbano. PONTUSCHKA, N. N; OLIVEIRA, A. U. (Org.) Geografia em perspectiva: ensino e pesquisa. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2006. 86 Unidade II Re vi sã o: V irg in ia /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 9/ 01 /1 3 Coletâneas de artigos sobre a disciplina geográfica e a cognição dos alunos. CAMARGOS, M. V. K. Crônica de Belle Èpoque. São Paulo: Senac, 2001. Ajuda a fazer comparações com o atual momento urbano. Mesmo que mencione locais específicos, pode ser relacionado com qualquer área urbana do nosso país. CORRÊA, R. L. O espaço urbano. São Paulo: Ática, 1995. (Série Princípios). Apresenta a caracterização do espaço urbano a partir da ação dos agentes sociais que o produzem e dos processos e formas espaciais. Quarto ano Atividade 1 – Criação de municípios Desenvolvimento Apresente mapas do seu Estado, um antigo e um atual, e solicite aos alunos que: Figura 11 - Mapa geográfico do Estado de São Paulo • transitem nos mapas para localizar o seu município e os que estão ao seu redor; • verifiquem se há municípios que estão em um mapa e não estão em outro; • leiam e analisem o texto sobre a criação ou extinção de um município; • pesquisem na internet sobre as leis para criação de municípios; 87 Re vi sã o: V irg in ia /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 9/ 01 /1 3 Metodologia e Prática do ensino de História e geografia • conversem com os colegas e com o professor sobre os regulamentos atuais para criação de um município; • verifiquem o relevo, o clima, a vegetação do seu município e comparem com outros do seu Estado; • observem e analisem o que separa um município de outro; • conheçam os instrumentos para localização: bússola e rosa dos ventos; • compreendam os pontos cardeais e colaterais, tomando como base o seu município; • percebam que o município é uma realização do homem enquanto ser político para discussão sobre o conceito de território; • conheçam a organização dos municípios e a relação entre eles para a formação do Estado. Fundamentação A finalidade desta atividade é o município e sua participação dentro do Estado. Portanto, é importante esclarecer que o Brasil está dividido em aproximadamente 5.560 municípios, mas eles não estão distribuídos de maneira equilibrada no território nacional. O aumento do número de municípios começou a ganhar força a partir da década de 1980, quando ocorreu a instauração de um grande número de prefeituras em todo o país. Para que um município seja criado, é necessário o desmembramento de outro, um terá que perder território. Entre os anos de 1980 e 2000, muito se falou em criar municípios, mas pouco se falou de que maneira a máquina pública seria sustentada. Portanto, é fundamental mostrar ao aluno a importância dos tributos na vida de cada um, e a nossa responsabilidade como cidadãos de um município na gestão dos recursos. Outro ponto a ser trabalhado são as diferentes formas de orientação e localização para se locomover em diferentes lugares. Apresente aos alunos uma bússola e fale sobre a sua importância para a humanidade. Informe que a bússola foi inventada pelos chineses e que foi um instrumento muito utilizado pelos europeus em suas navegações, chegando às regiões mais distantes do globo, em uma época que os navios se movimentavam com a força do vento. O domínio dos pontos cardeais e colaterais faz parte da “alfabetização” geográfica, pois é ponto fundamental para a orientação. A localização dos bairros no município, dos municípios no Estado, dos Estados nas regiões e das regiões no Brasil faz com que os alunos adquiram diversos conhecimentos sobre lugar, território, paisagem e região. 88 Unidade II Re vi sã o: V irg in ia /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 9/ 01 /1 3 Saiba mais Pesquisa <http://www.diaadia.pr.gov.br/index.php>. Neste site você encontrará informações que poderão ser úteis para interpretação de mapas e elaboração de maquetes. Roda de conversa O estudo do município é o ponto de partida para começar a trabalhar as questões políticas com o aluno. São questões que dizem respeito à cidadania. É no município que o cidadão vive, trabalha, estuda, tem seus momentos de lazer etc., portanto, é necessário “alfabetizar” geograficamente o aluno para que ele tenha essa leitura política do espaço municipal. A apresentação de instrumentos como maquetes, mapas, textos e aparelhos como bússolas, rosa dos ventos e GPS são fundamentais para a interação dos alunos com os conteúdos a serem trabalhados. Saiba mais Leitura ALMEIDA, R. D. Do desenho ao mapa: iniciação cartográfica na escola. São Paulo: Contexto, 2004. Apresenta atividades que auxiliam o aluno na leitura cartográfica e contribuem para o desenvolvimento da capacidade de localização em situações do cotidiano. CARLOS, A. F. A. A Geografia na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2001. Aborda temas variados como cartografia, cidadania, cinema, televisão, metrópole, educação e compromissos sociais. LENCIONI, S. Região e Geografia. São Paulo: EDUSP, 1998. Trata especificamente das origens do conhecimento geográfico, da região como objeto de estudo e ainda das perspectivas teóricas contemporâneas para a Geografia regional. 89 Re vi sã o: V irg in ia /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 9/ 01 /1 3 Metodologia e Prática do ensino de História e geografia Quinto ano Atividade – A localização do território do Brasil Apresentar mapas e solicitar aos alunos que: Figura 12 - Mapa-múndi 1 Figura 13 - Mapa do Brasil 90 Unidade II Re vi sã o: V irg in ia /C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 0 9/ 01 /1 3 Figura 14 - Mapa-múndi 2 • observem com atenção os detalhes dos continentes, principalmente o do continente onde está localizado o Brasil; • comparem
Compartilhar