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2020 - 03 - 18 Curso de Direito Penal Brasileiro - (v. II) - Parte Especial - Ed. 2018 DECRETO-LEI 2848, DE 7 DE DEZEMBRO DE 1940 ART. 159. Extorsão mediante sequestro Art. 159. Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate: Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos. § 1º Se o sequestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se o sequestrado é menor de 18 (dezoito) ou maior de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é cometido por bando ou quadrilha: Pena - reclusão, de 12 (doze) a 20 (vinte) anos. § 2º Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: Pena - reclusão, de 16 (dezesseis) a 24 (vinte e quatro) anos. § 3º Se resulta a morte: Pena - reclusão, de 24 (vinte e quatro) a 30 (trinta) anos. § 4º Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à autoridade, facilitando a libertação do sequestrado, terá sua pena reduzida de 1 (um) a 2/3 (dois terços). 1. Bem jurídico protegido e sujeitos do delito O bem jurídico protegido vem a ser a inviolabilidade do patrimônio e a liberdade pessoal. A extorsão mediante sequestro é delito pluriofensivo, porque lesa mais de um bem jurídico. Dessa forma, a lei tutela a inviolabilidade patrimonial e a liberdade individual, mais precisamente a liberdade pessoal. Portanto, sendo certo que é crime contra o patrimônio, não é menos certo que a liberdade assume papel de grande relevo entre os direitos e garantias individuais, sendo justamente a supressão da liberdade a razão maior para que o legislador majorasse a pena, em relação ao delito a que se refere o artigo 158 (extorsão).17 Sujeito ativo do crime pode ser qualquer pessoa física (delito comum), e, ainda que haja relação de parentesco, vedada é a concessão do benefício das escusas absolutórias. Sujeito passivo pode ser qualquer pessoa. Não é necessário que a pessoa privada de sua liberdade seja a mesma pessoa que sofra a lesão patrimonial. 2. Tipicidade objetiva e subjetiva 2.1 Extorsão mediante sequestro A ação incriminada é sequestrar pessoa, ou seja, privá-la de sua liberdade, arrebatá-la, detêla ou retê-la arbitrariamente em um determinado lugar,18 com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate (tipo autônomo/simples/anormal/incongruente). O sequestrado fica salvo quando estabelece contato para negociar o preço ou condição imposta para o resgate, incomunicável, tornando extremamente difícil o socorro. A privação da liberdade da vítima pode ocorrer através de qualquer meio executivo (delito de forma livre). Todavia, mesmo que se conceda à vítima liberdade de movimentos, permanece em um lugar solitário, impedida de fugir em razão da vigilância ameaçadora do sujeito ativo. No que tange à vantagem descrita no tipo, simples interpretação do dispositivo induziria à conclusão de que não deva ser necessariamente econômica. Contudo, outro deve ser o entendimento. De fato, a extorsão está encartada entre os delitos contra o patrimônio, sendo o delito-fim, e, no sequestro, apesar de o próprio tipo não especificar a natureza da vantagem, parece indefensável entendimento diverso. Tome-se o exemplo daquele que sequestra um menor para constranger a mãe à conjunção carnal. Aqui, afirma-se que não se caracteriza a ofensa patrimonial, sendo hipótese de sequestro com estupro consumado em concurso19 (art. 148 e art. 213, ambos do CP). O tipo subjetivo é representado pelo dolo, consistente na vontade livre e consciente de sequestrar, e o elemento subjetivo do injusto, com o fim de obter vantagem indevida (delito de intenção). O elemento subjetivo do injusto pode surgir depois de praticado o ato de sequestrar, bastando que o agente exija qualquer vantagem, como condição ou preço de resgate. A condição pode consistir na prática de um ato, obtenção de documento, enquanto o preço diz respeito propriamente ao pagamento de determinada quantia em moeda (dinheiro). O sequestro é delito permanente, protraindo-se no tempo o seu momento consumativo, e de mera atividade, vale dizer, realizado o ato de sequestrar a pessoa, detê-la, retê-la, está consumado o crime, independentemente da obtenção da vantagem. A obtenção da vantagem é irrelevante para considerar-se consumado o delito, constituindose em mero exaurimento (pós-fato impunível), podendo ser analisado como circunstância judicial no momento da fixação da pena (art. 59 do CP). A tentativa é possível, pois o agente pode ter frustrada sua ação de sequestrar, isto é, quando está realizando os atos tendentes à privação da liberdade do sujeito passivo, tem sua conduta interrompida por circunstâncias alheias à sua vontade. O delito de extorsão mediante sequestro pode ser assim classificado: comum, complexo, de mera atividade, comissivo, doloso e permanente. 2.2 Formas qualificadas O artigo 159, § 1.º, elenca três hipóteses de agravamento da pena, motivadas pela maior gravidade do injusto, manifestado, como foi observado anteriormente, pelo desvalor da ação e/ou do resultado. Verificada alguma das situações, a pena é de reclusão, de 12 (doze) a 20 (vinte) anos (tipo derivado/simples/anormal/incongruente). A primeira tem lugar quando o sequestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas. A gravidade do injusto é manifestada pelo acentuado desvalor do resultado, já que a duração do sequestro por mais de vinte e quatro horas sobreleva o sofrimento da vítima. Qualifica-se ainda o delito na hipótese de prática do crime contra vítima menor de 18 (dezoito) anos ou maior de 60 (sessenta) anos. Em razão da maior propensão do sujeito passivo às sugestões do agente, agrava-se a pena imposta. Essa agravante, a seu turno, atua na medida do injusto, implicando maior desvalor da ação, já que a qualidade da vítima afasta a possibilidade de uma efetiva reação à ação delituosa e, consequentemente, aumenta a probabilidade de produção do resultado. O aumento do desvalor da ação, in casu, está lastreado não apenas na suposta vulnerabilidade da vítima, mas também na acentuada periculosidade da ação. Por fim, eleva-se a reprimenda se o delito é cometido por quadrilha ou bando. Ora, tendo em vista que o tipo faz expressa referência ao delito insculpido no artigo 288 do Código, o conceito de quadrilha deve ser o fornecido por este (agora, associação criminosa), sob pena de não incidência da agravação. Dessa forma, é fundamental que estejam reunidas no mínimo três pessoas para realizar a extorsão mediante sequestro; todavia, também é imprescindível que essas pessoas tenham se associado para o fim específico de cometer crimes, de modo que, se conjugam esforços tão somente para a prática de um crime, respondem pelo disposto no artigo 159, caput, e eventualmente o § 1.º, pois não se configura associação criminosa, tal como delineado no artigo 288 do Código Penal. Conforme foi salientado na análise do § 5.º do artigo 155, o delito perpetrado por associação criminosa acentua a gravidade do injusto, pelo manifesto desvalor da ação e do resultado. Ademais, se do fato resulta lesão corporal de natureza grave, comina-se pena de reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos; se resulta morte, reclusão, de vinte e quatro a trinta anos (art. 159, §§ 2.º e 3.º). 3. Causa de diminuição de pena Dispõe o artigo 159, § 4.º, que, se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à autoridade, facilitando a libertação do sequestrado, tem sua pena reduzida de um a dois terços. A Lei dos Crimes Hediondos (Lei 8.072/1990) cria a causa especial de diminuição de pena para o delator que, com sua denúncia, facilite a libertação da vítima do sequestro. É o que se denomina delação premiada, instituto que encontra raiz na política criminal, priorizando a prevenção e repressão do crime (art. 8.º, parágrafo único). É possível incidência da atenuante, por força da redação dada pela Lei 9.269/1996. A pena só é diminuída se a denúncia de um dos concorrentes do crime efetivamente facilita a libertação do sequestrado; caso contrário, a atenuante não temlugar. A efetiva cooperação do agente na delação do coagente e na libertação do sequestrado influi positivamente na graduação, para menor, da culpabilidade, por considerações político criminais, propiciando-lhe, por consequência, uma reprovação minorada, como prêmio ao seu comportamento pós-delito. 4. Pena e ação penal Comina-se pena de reclusão, de oito a quinze anos (art. 159, caput). A pena do crime de extorsão mediante sequestro, a exemplo da maioria dos crimes que foram catalogados como hediondos, teve suas margens mínima e máxima significativamente aumentadas. Se o sequestro dura mais de vinte e quatro horas, se o sequestrado é menor de dezoito anos ou maior de sessenta anos, ou se o delito é cometido por associação criminosa, a pena prevista é de reclusão, de doze a vinte anos (art. 159, § 1.º). Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave, comina-se pena de reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos; se resulta morte, reclusão, de vinte e quatro a trinta anos (art. 159, §§ 2.º e 3.º). A propósito, advirta-se que só responde o agente pelo resultado morte se esta produziu-se ao menos culposamente, sob pena de admitir-se a responsabilidade penal objetiva, expressamente vedada pelo sistema. Assim, se o resultado mais grave aconteceu em virtude de caso fortuito, fica excluída sua imputação. A extorsão mediante sequestro e suas formas qualificadas (art. 159, caput e §§ 1.º, 2.º e 3.º) são consideradas crimes hediondos (art. 1.º, IV, Lei 8.072/1990), não sendo passíveis de anistia, graça, indulto e fiança (art. 2.º, I e II, Lei 8.072/1990, com a redação dada pela Lei 11.464/2007, e art. 5.º, XLIII, CF). A pena deve ser cumprida inicialmente em regime fechado (art. 2.º, § 1.º, Lei 8.072/1990, alterado pela Lei 11.464/2007). A prisão temporária admissível nessa hipótese (art. 1.º, III, e, Lei 7.960/1989) é de trinta dias, prorrogável por igual período em caso de extrema e comprovada necessidade (art. 2.º, § 4.º, Lei 8.072/1990). A ação penal é pública incondicionada. QUADRO SINÓTICO EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO Bem jurídico A inviolabilidade patrimonial e a liberdade pessoal. Sujeitos Ativo – qualquer pessoa (delito comum). Passivo – qualquer pessoa, não sendo necessário que a vítima da privação da liberdade seja a mesma que sofre a lesão patrimonial. Tipo objetivo A ação incriminada é sequestrar pessoa, isto é, arrebatá-la, detê-la, tirá-la de circulação. O agente objetiva obter qualquer vantagem (de natureza econômica), como condição ou preço de resgate. Tipo subjetivo O dolo, consistente na vontade livre e consciente de sequestrar, e o elemento subjetivo do injusto (fim de obter vantagem indevida). Consumação e tentativa Consumação – com o sequestro da pessoa, independentemente da obtenção da vantagem (delito de mera atividade). Tentativa – admissível. Formas qualificadas Se o sequestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se o sequestrado é menor de 18 (dezoito) anos ou maior de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é cometido por associação criminosa, a pena é de reclusão, de doze a vinte anos (art. 159, § 1.º). Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave, a pena é de reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos (art. 159, § 2.º). Se resulta morte, a pena é de reclusão, de vinte e quatro a trinta anos (art. 159, § 3.º). Causa de Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denuncia à © desta edição [2018] diminuição de pena autoridade, facilitando a libertação do sequestrado, tem sua pena reduzida de um a dois terços (art. 159, § 4.º). Pena e ação penal Comina-se pena de reclusão, de oito a quinze anos (art. 159, caput). A pena é de reclusão de doze a vinte anos: se o sequestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se o sequestrado é menor de 18 (dezoito) anos ou maior de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é cometido por associação criminosa (art. 159, § 1.º). Se do fato resultar lesão corporal de natureza grave, a pena é de reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos (art. 159, § 2.º). Se resulta morte, a pena é de reclusão, de vinte e quatro a trinta anos (art. 159, § 3.º). Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à autoridade, facilitando a libertação do sequestrado, tem sua pena reduzida de um a dois terços (art. 159, § 4.º). A ação penal é pública incondicionada. NOTAS DE RODAPÉ 17. Cf. NORONHA, E. M. Op. cit., p. 231. 18. Cf. HUNGRIA, N. Comentários ao Código Penal, VII, p. 72. 19. Cf. NORONHA, E. M. Op. cit., p. 238; FRAGOSO, H. C. Lições de Direito Penal. P. E., I, p. 366. Contra, entendendo que a vantagem não precisa ser de natureza patrimonial, HUNGRIA, N. Op. cit., p. 72.
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