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e-Tec Brasil59 Aula 8 – Agroecologia como uma ciência aplicada (parte I) Nesta aula você irá perceber que a agricultura alternativa cresceu, gerou informações que deram suporte científico e passou a se chamar Agroe- cologia. Você conhecerá as diferentes correntes da Agroecologia funda- mentada em princípios. Essa ciência congrega as várias correntes do que chamávamos de Agricultura Alternativa. Vamos conhecer um pouco mais de cada uma dessas correntes? 8.1 Conceitos Antes de iniciarmos, achamos prudente colocar os conceitos do termo Agro- ecologia, escritos por alguns pesquisadores. I. Agroecologia segundo Altieri (2002), é a ciência ou a disciplina cien- tífica que apresenta uma série de princípios, conceitos e metodologias para estudar, analisar, dirigir, desenhar e avaliar agroecossistemas, com o propósito de permitir a implantação e o desenvolvimento de estilos de agricultura com maiores níveis de sustentabilidade. A agroecologia pro- porciona então as bases científicas para apoiar o processo de transição para uma agricultura “sustentável” nas suas diversas manifestações e/ou denominações. II. Enfoque Agroecológico de acordo com Gliessman (2001), corresponde à aplicação dos conceitos e princípios da Ecologia no manejo e desenho de agroecossistemas sustentáveis. III. Agroecologia segundo Primavesi (1997), consiste em trabalhar a agri- cultura de forma sustentável, ou seja, ecologicamente sustentável, social- mente justa e economicamente viável. IV. Agroecologia e Desenvolvimento Rural de acordo com Guzman (2000), constitui o campo de conhecimentos que promove o manejo ecológico dos recursos naturais, através de formas de ação social coleti- va que apresentam alternativas à atual crise de Modernidade, mediante propostas de desenvolvimento participativo desde os âmbitos da produ- ção e da circulação alternativa de seus produtos, pretendendo estabele- cer formas de produção e de consumo que contribuam para encarar a crise ecológica e social e, deste modo, restaurar o curso alterado da co- evolução social e ecológica. Sua estratégia tem uma natureza sistêmica, ao considerar a propriedade, a organização comunitária e o restante dos marcos de relação das sociedades rurais articulados em torno à dimensão local, onde se encontram os sistemas de conhecimento portadores do potencial endógeno e sociocultural. Tal diversidade é o ponto de partida de suas agriculturas alternativas, a partir das quais se pretende o desenho participativo de métodos de desenvolvimento endógeno para estabele- cer dinâmicas de transformação em direção a sociedades sustentáveis. 8.2 Agricultura Biodinâmica A corrente biodinâmica da agricultura, como histórico, teve seu início num ciclo de 8 palestras feitas na década de 1920, na Polônia, pelo filó- sofo Rudolf Steiner (Figura 8.1), que formulou uma nova filosofia para ser aplicada na medici- na, na pedagogia e nas artes: a antroposofia, a qual pretende captar através de métodos expe- rimentais, fatos suprassensoriais, ou elementos de natureza espiritual que estão além da maté- ria no meio natural. Segundo Sixel (2010), o impulso da Agricultu- ra Biodinâmica, sendo uno com a Antroposofia, tem como consequência natural da renovação do manejo agrícola, o sanar do meio ambiente e a produção de alimentos realmente condignos ao ser humano. Esse impulso quer devolver à agricultura sua força original criadora e fomen- tadora cultural e social, força que ela perdeu no caminho da industrialização direcionada à monocultura e da criação em massa de animais fora do seu ambiente natural. A Agricultura Biodinâmica quer ajudar aqueles que lidam no campo, a ven- cer a unilateralidade materialista na concepção da natureza, para que eles possam cada um por si mesmo, achar uma relação espiritual/ética com o solo, com as plantas e os animais e com os coirmãos humanos. Figura 8.1: Fotografia de Rudolf Steiner Fonte: http://pt.wikipedia.org Agricultura e Desenvolvimento Rural Sustentávele-Tec Brasil 60 A Biodinâmica quer lembrar a todos os seres humanos que “A agricultura é o fundamento de toda cultura, ela tem algo a ver com todos” (SIXEL, 2010). O ponto central da Agricultura Biodinâmica é o ser humano que conclui a criação a partir de suas intenções espirituais, baseadas numa verdadeira cog- nição da natureza. Ele quer transformar sua fazenda ou sítio em um organis- mo em si, concluso e maximamente diversificado; um organismo do qual a partir de si mesmo for capaz de produzir uma renovação. O sítio natural deve ser elevado a uma espécie de individualidade agrícola. O fundamento para tal é a integração de todos os elementos ambientais agrícolas, tais como culturas do campo e da horta, pastos, fruticulturas, ou- tras culturas permanentes, florestas, sebes e capões arbustivos, mananciais hídricas e várzeas etc. Caso o organismo agrícola ordene-se em torno desses elementos, nasce uma fertilidade permanente e atinge-se a saúde do solo, das plantas, dos animais e dos seres humanos. A partida e a continuidade desse desenvolvimento ascendente da totalidade do organismo/empresa são asseguradas pelo manejo biodinâmico dos tratos culturais agrícolas e do uso de preparados, apresentados pela primeira vez por Rudolf Steiner durante o Congresso de Pentecostes. Trata-se de prepa- rados que incrementam e dinamizam a capacidade intrínseca da planta a ser produtora de nutrientes, seja por mobilização química, transmutação ou, transubstanciação do mineral morto ou por harmonização e adequação na reciclagem das sobras da biomassa produzida. Esses preparados apóiam a planta, para que ela possa ser transmissora, receptora e acumuladora do intercâmbio da Terra com o Cosmo. Adubar na biodinâmica significa, portanto, aviventar ou vivificar o solo e não simplesmente fornecer nutrientes para as plantas (Figura 8.2). A grande preocupação que devemos ter é o que fazer para que isso aconteça. Nesse caso, é possível abster-se de muito do que hoje em dia parece ser impres- cindível. Na Agricultura Biodinâmica não se usam adubos nitrogenados mi- nerais, pesticidas sintéticos, herbicidas, hormônios de crescimento, etc. A concepção do melhoramento biodinâmico dos cultivares ou das raças está em irrestrita oposição à tecnologia transgênica. A ração para os animais é produzida no próprio sítio ou fazenda e a quantidade dos animais mantidos está relacionada com a capacidade natural da área ocupada. O agricultor biodinâmico está empenhado em fazer somente aquilo pelo qual ele mesmo pode responsabilizar-se, a saber, o que serve ao desenvolvimento Transmutação v.t. Mudar, transformar, converter. Transformar um elemento químico em outro. Transubstanciação Semelhantemente a Transmutação, via atividade biológica ou bioquímica. e-Tec BrasilAula 8 – Agroecologia, como uma ciência aplicada (parte I) 61 duradouro da “individualidade agrícola”. Isso inclui o cultivo e a seleção das suas próprias sementes, como também a adaptação e a seleção própria de raças de animais. Além disso, significa uma orientação renovada na pesquisa, consultoria e formação profissional. Figura 8.2: Produtos da Agricultura Biodinâmica Fonte: http://sosagriculturasustentavel.files.wordpress.com 8.3 Agricultura Orgânica De acordo com essa corrente, os princípios da agricultura biodinâmica, afir- ma que a saúde do solo, das plantas e dos animais dependem da sua cone- xão com as forças de origem cósmica da natureza. Para restabelecer o elo entre as formas de matéria e de energia presentes no ambiente natural, é preciso considerar a propriedade agrícola como um organismo, um ser indi- visível. Através do equilíbrio entre as várias atividades (lavouras, criação de animais, uso de reservas naturais), busca-se alcançar maior independência possível de energia e de materiais externos à fazenda. Este é o princípio chamado de “autossustentabilidade”, que vale tanto para a agricultura bio- dinâmicacomo para todas as outras correntes da Agroecologia. (Fonte: http://www.planetaorganico.com.br) A grande expansão observada na agricultura orgânica no Brasil pode ser verificada tanto pela comparação da área cultivada, do número de agriculto- res envolvidos ou da diversidade de produtos comercializados, inclusive com crescente oferta de produtos processados e volume de vendas no mercado interno e externo, a par da inserção mais que assumida de diversas institui- ções de ensino e pesquisa no desenvolvimento da produção orgânica, indi- cando claramente a força do movimento. Agricultura e Desenvolvimento Rural Sustentávele-Tec Brasil 62 Além disso, o número crescente de eventos, exposições, feiras, cursos, semi- nários e congressos, tem despertado muita curiosidade dos consumidores e interesse por parte dos meios de comunicação. O conceito de agricultura orgânica surge com o inglês Sir Albert Ho- ward, entre os anos de 1925 e 1930, que trabalhou e pesquisou durante muitos anos na Índia. Howard ressaltava a importância da utilização da matéria orgânica e da manutenção da vida biológica do solo. Resumi- damente, agricultura orgânica é o sistema de produção que exclui o uso de fertilizantes sintéticos de alta solubilidade, agrotóxicos, reguladores de crescimento e aditivos para a alimentação animal, compostos sintetica- mente. Sempre que possível baseia-se no uso de estercos animais, rotação de culturas, adubação verde, compostagem e controle biológico de pra- gas e doenças. Busca manter a estrutura e produtividade do solo, traba- lhando em harmonia com a natureza. Fonte: http://www.aao.org.br/historia.asp Mas afinal, o que é um produto orgânico? A resposta mais comum que se tem é a de que são produtos sem agrotó- xicos, hormônios, drogas veterinárias, e outros produtos sintéticos. Esta é uma definição que consideramos incompleta e simplista demais. Na verdade, os sistemas de produção orgânica, tal como definido interna- cionalmente no Codex Alimentarius (um Programa Conjunto da Organi- zação das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação - FAO e da Organização Mundial da Saúde - OMS criado para proteger a saúde da população, assegurando práticas equitativas no comércio regional e in- ternacional de alimentos) e no Brasil, pela Lei no. 10831 de 23/12/2003, têm por objetivos a sustentabilidade, a proteção do meio ambiente, a maximização dos benefícios sociais, a minimização da dependência de energia não renovável, a otimização do uso dos recursos naturais e socio- econômicos disponíveis, bem como o respeito à integridade cultural das comunidades rurais. Assim, definimos agricultura orgânica como sistema de manejo sustentável da unidade de produção, com enfoque holístico, que privilegia a preservação ambiental, a agrobiodiversidade, os ciclos biológicos e a qualidade de vida do homem, visando à sustentabilidade social, ambiental e econômica no tempo e no espaço. (Figura 8.4). e-Tec BrasilAula 8 – Agroecologia, como uma ciência aplicada (parte I) 63 Baseia-se na conservação dos recursos naturais e não utilização de fertilizantes de alta solubilidade, agrotóxicos, antibióticos, aditivos químico-sintéticos, hor- mônios, organismos transgênicos e radiações ionizantes (NEVES et al.,2004). Figura 8.3 e 8.4: Exemplos de produção orgânica Fonte: http://sites.google.com http://www.avonrenew.com.br Resumo A Agricultura alternativa passa a ser ciência após estudos de observação e pesquisa, onde nasce o novo conceito de agroecologia, com as suas diversas correntes formadoras. Nessa aula estudamos duas dessas correntes, as quais formam a base de sustentação de uma agricultura que nasceu como alter- nativa a um modelo destruidor e passa a ser ciência. Atividade de aprendizagem 1. Qual a diferença entre agricultura alternativa e Agroecologia? 2. Com base no que você estudou, como você define Agroecologia? 3. Como você resumiria a agricultura biodinâmica? Agricultura e Desenvolvimento Rural Sustentávele-Tec Brasil 64 miaccorsi Caixa de texto miaccorsi Caixa de texto
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