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Prof. Adilson Camacho UNIDADE II Agricultura Sustentável Para início de conversa: Objetivos específicos: é nesta unidade que se deve capacitar o aluno para entender a produção do agronegócio, encaminhando-o à aplicação das boas práticas e dos conceitos discutidos (conceitos da sustentabilidade e de desenvolvimento limpo) no início do texto. Então, do que estamos falando? Agropecuária sustentável. Sustentabilidade. Cultivo e criação. Agricultura sustentável Por quê? Para mantermos a qualidade de vida e, acima de tudo, a saúde das ecologias de nosso corpo e do ambiente, tomadas como unidade. Isso é, de modo geral, sustentabilidade! Como? Tanto no cotidiano e na escala local quanto na internacional, plantando, cultivando, criando melhor; e de modo mais adequado. Agricultura sustentável Nosso roteiro da Unidade II: 5. Problemas do modelo de desenvolvimento convencional, de suas formas de gestão e instrumentos, bem como do emprego de toda ordem de venenos, agrotóxicos, pesticidas, equilibração artificial dos ecossistemas. Degenerescência da produção. 6. Uma introdução às possibilidades sustentáveis de transição para situações de melhoria de qualidade ambiental e de vida. 7. Desenvolvimento das propostas com foco na cultura e no ambiente para o manejo ecológico e econômico, ecoeficiente. Perdas e correções, experiências e casos de sucesso da agricultura sustentável. 8. Apontamentos e perspectivas a título de síntese, com (re)educação ambiental de todos os agentes, foco na dimensão política, além da técnica e econômica. Agricultura sustentável 5. Problemas advindos do modelo de desenvolvimento convencional, de suas formas de gestão e instrumentos, bem como do emprego de toda ordem de venenos, agrotóxicos, pesticidas, equilibração artificial dos ecossistemas. Degenerescência da produção. Observação: não se trata de, ingenuamente, esquecermos as “barbaridades” que nós seres humanos cometemos em nome de muitas ideias e valores. Agricultura sustentável O caminho que estamos criando para o mundo está pavimentado com boas intenções. No entanto, sabemos para onde ele leva? Materialmente, estamos promovendo o esgotamento dos recursos. Nossos programas de apoio à agricultura dão pouca atenção aos usos e produtos autóctones. Em vez de aprender sobre as suas experiências e preferências, nós nos esforçamos para impor nossos usos, considerando atrasado o que não se encaixa em nosso padrão. Pá, enxada e cultivos variados são uma afronta à nossa fé no progresso (SAUER, 1992:23). Agricultura sustentável Devemos ser incisivos, com visões alternativas de organização do espaço rural e revisões nos modelos de gestão e de planejamento ambiental alternativos e participativos. A agroecologia é uma dessas vias. A construção do conhecimento agroecológico ocorre com base em utopias, no melhor sentido da palavra. Como é tema recorrente, voltaremos aos seus benefícios mais adiante. Observação: utopia é o que não tem lugar (u-topos), mas podemos tomá-la com aquilo que ainda não teve lugar! Agricultura sustentável Tomemos como exemplo os debates sobre os alimentos geneticamente alterados (os transgênicos) que dividem os contendores em basicamente dois lados: 1. aqueles que se alinham a favor de uma saída tecnológica para especialização e fortalecimento de espécies, contra os que os veem como “obstáculos” ao desenvolvimento, além dos “problemas de produtividade” (estão pensando em escala); 2. e aqueles que temem efeitos indesejáveis ou impactos do uso à saúde, não previstos pelas pesquisas, com tempo insuficiente ainda para avaliação da eficiência ambiental (não econômica). Agricultura sustentável Que caminho tomamos? Pergunta para discutirmos alternativas sobre o que nos interessa produzir e consumir. Crosby, em seu “Imperialismo ecológico” (1993) expõe de modo interessante a irradiação dos padrões alimentares de boa parte do mundo a partir da Europa, o que estaria também forçando ecossistemas de modo artificial a produzirem espécies exóticas. Lembrar de Fast Food Nation e de Super Size Me! Observação: o agravante desse processo de séculos é a visão que se adquiriu de “solos pobres”, quando na verdade os solos não deveriam ter eficiência com cultivares “estranhos”; é o caso dos solos de nossas florestas tropicais, que não são adequados ao plantio de espécies do gosto do colonizador europeu. Agricultura sustentável E ainda: Esse processo imposto moldou os circuitos produtivos de alimentos, insumos, cardápios inteiros baseados em regiões que milhões de pessoas nunca viram, a estrutura fundiária e as bases agropecuárias dos povos subjugados pelo comércio português, espanhol e britânico, mas também francês, holandês e belga. As consequências dessas posturas produtivistas e imediatistas do capital foram uma visão imediatista e descuidada dos recursos. Tanto que é somente em 2000 que se chega à lei que instaura o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (o SNUC), que define as áreas de preservação em unidades de proteção integrais e com permissões graduais e funcionais de uso. É um instrumento de política ambiental que pode ser muito útil, mas também apenas mais uma lei. Agricultura sustentável Uma lista sem fim de situações mostrando a negação da complexidade alimentar poderia ser citada, como lanchonetes, restaurantes, supermercados vendendo reduções simplificadas de pratos antes comuns, habitualmente mais complexos e preparados em casa; trata-se do reino do funcional, do prazer fácil, quase sempre solitário, do comer apressado. Observação: não há lugar para pratos complexos, pois a experiência, tanto para seu preparo quanto para comê-los, não estará disponível. Claro que estamos num terreno perigoso para se achar o verdadeiro hábito em meio às imposições de povos conquistadores e consequentes transformações de estruturas milenares. Comemos o que nos dizem as grandes empresas agroalimentares, influenciados por modismos e propaganda. A legislação ambiental deve ser associada à saúde. Agricultura sustentável As inovações tecnológicas abstratas são aquelas desvinculadas das regiões e populações reais, que causam os maiores problemas, como afirma R. B. Lima: Diante desse diagnóstico (de que a crise fora gerada, em grande medida, em decorrência do próprio padrão científico-tecnológico. O que, segundo alguns pensadores, exigiria uma nova configuração do conhecimento socialmente produzido sobre o mundo social e natural), a atual relação entre sociedade e natureza parece ter por base uma nova escassez (não mais uma relação antropocêntrica, como a da categoria trabalho em Marx). In: LIMA, Ricardo Barbosa de. Da crítica ao modelo de desenvolvimento à gestão dos problemas ambientais: a relação entre teoria crítica e conhecimento científico no campo de pesquisa sobre as relações entre ambiente e sociedade no Brasil (1992-2002), Maio de 2004. (p. 5). Agricultura sustentável Pelo contrário: A principal clivagem que a sociedade contemporânea parece ter construído na sua relação com o seu substrato natural, é uma “escassez limitante” ao desenvolvimento humano. Não é mais a natureza do ambiente local (a intempérie, os fenômenos naturais, a sazonalidade, os desastres naturais) que está a desafiar a capacidade e criatividade cultural de um grupo humano em particular. Hoje são os limites de regeneração da Terra como um todo, que parecem se impor à moderna sociedade industrial: suas relações de produção, seus padrões de consumo, seu padrão tecnológico, sua densidade demográfica, sua hierarquização e desqualificação de saberes e culturas. In: LIMA, Ricardo Barbosa de. Da crítica ao modelo de desenvolvimento à gestão dos problemas ambientais: a relação entre teoria crítica e conhecimento científico no campo de pesquisa sobre as relações entre ambiente esociedade no Brasil (1992-2002), 5/2004. (p. 5). Agricultura sustentável Na lista de problemas, devemos assinalar que a desigualdade social em todos os níveis está na base de todos os problemas, perpetuando-os; assim, a questão da propriedade deve ser discutida quando se considera o desenvolvimento sustentável e as formas de produção sustentáveis. Ladislau Dowbor faz algumas considerações sobre a questão da propriedade que o modelo convencional enrijeceu e não parece ceder facilmente aos apelos da razão. Não é abrir mão da propriedade, mas repensá-la de acordo com os princípios da sustentabilidade real. Segue trecho de artigo do autor. DOWBOR, Ladislau. Da propriedade intelectual à economia do conhecimento (Primeira parte). Economia Global e Gestão, Lisboa , v. 15, n. 1, abr. 2010a (p. 55). Agricultura sustentável “Para dar um exemplo trazido pelos autores (Gar Alperovitz e Lew Daly, do livro ‘Apropriação indébita: como os ricos estão tomando a nossa herança comum’), quando a Monsanto adquire controle exclusivo sobre determinada semente, como se a inovação tecnológica fosse um aporte apenas dela, esquece o processo que sustentou estes avanços”. O que eles nunca levam em consideração é o imenso investimento coletivo que carregou a ciência genética, dos seus primeiros passos até o momento em que a empresa toma a sua decisão [...] tudo isto chega à empresa sem custo, um presente do passado. Trata-se de um pedágio sobre o esforço dos outros. In: DOWBOR, Ladislau. Da propriedade intelectual à economia do conhecimento (Primeira parte). Economia Global e Gestão, Lisboa , v. 15, n. 1, abr. 2010 (p. 55). Apropriação indébita Dowbor recomenda mensagem de 1813, de Thomas Jefferson: “Se há uma coisa que a natureza fez que é menos suscetível que todas as outras de propriedade exclusiva, esta coisa é a ação do poder de pensamento que chamamos de ideia […]. Que as ideias devam se expandir livremente de uma pessoa para outra, por todo o globo, para a instrução moral e mútua do homem, e o avanço de sua condição, [...] passíveis de expansão por todo o espaço, sem reduzir a sua densidade em nenhum ponto, e como o ar no qual respiramos, nos movemos e existimos fisicamente, incapazes de confinamento ou de apropriação exclusiva. Invenções não podem, por natureza, ser objeto de propriedade”. In: DOWBOR, Ladislau. Da propriedade intelectual à economia do conhecimento (Primeira parte). Economia Global e Gestão, Lisboa , v. 15, n. 1, abr. 2010a (p. 55). De quem são as ideias? Assinale a alternativa correta quanto ao sentido contemporâneo da escassez. a) Os maiores problemas ambientais da atualidade são aqueles desencadeados no plano local, lugar das decisões globais. b) O regime de propriedade, sua regulação e controle, não interferem na questão ambiental. c) Inovações são sempre bem-vindas, pois a modernização tecnológica pode somente melhorar as condições de produção. d) Imperialismo ecológico é uma maneira de uniformizar o gosto. e) Tecnologia é sempre a melhor saída, principalmente para a crise de segurança alimentar. Interatividade Assinale a alternativa correta quanto ao sentido contemporâneo da escassez. a) Os maiores problemas ambientais da atualidade são aqueles desencadeados no plano local, lugar das decisões globais. b) O regime de propriedade, sua regulação e controle, não interferem na questão ambiental. c) Inovações são sempre bem-vindas, pois a modernização tecnológica pode somente melhorar as condições de produção. d) Imperialismo ecológico é uma maneira de uniformizar o gosto. e) Tecnologia é sempre a melhor saída, principalmente para a crise de segurança alimentar. Resposta 6. Um esboço das soluções saudáveis ou uma introdução às possibilidades sustentáveis de transição a situações de melhoria de qualidade ambiental (de vida). Agricultura sustentável Em essência, o enfoque agroecológico corresponde à aplicação de conceitos e princípios da ecologia, da agronomia, da sociologia, da antropologia, da ciência da comunicação, da economia ecológica e de tantas outras áreas do conhecimento no redesenho e no manejo de agroecossistemas que queremos que sejam mais sustentáveis através do tempo (CAPORAL, 2002:14). Um agroecossistema é um sítio de produção agrícola, como uma fazenda, visto como um ecossistema. O conceito de agroecossistema fornece uma estrutura para analisar sistemas de produção alimentar, na sua totalidade, incluindo o complexo conjunto de entradas e saídas e as interações entre suas partes (GLIESSMAN, 2002:17). Agricultura sustentável Há muitas razões para mudar e as alternativas devem se basear nas formas vernáculas, bem como a diversidade de percepções, ideologias e tecnologias podem ser encontradas no Fórum Social Mundial e autores como M. Santos, M. Serres, E. Morin. A transição dos sistemas convencionais para as alternativas que resgatam a escala humana (saúde, criação, acesso, entre outros valores éticos) poder ser efetuados por meio de: ecologia experimental e “intuitiva”, de preservação, economia social e “flexível”, resgate da “microeconomia” de alimentos caseiros, com a devida supervisão pelos gestores públicos e privados, hortas urbanas, feiras e redes para trocas de sementes. Agricultura sustentável Os temas listados são próprios à associação entre sustentabilidade e ecologia pois, como afirma Gliessman (2000), “o enfoque agroecológico pode ser definido como a aplicação dos princípios e conceitos da ecologia no manejo e desenho de agroecossistemas mais sustentáveis”. A modernização social ética deve se realizar sobre vias distintas, tornando-se paisagens de liberdade; menos mirabolantes, talvez, mas coerentes com a sociedade real, isto é, considerada como todo. Para Gliessman (2000), podemos distinguir três planos do processo de transição para a produção baseada em agroecossistemas mais sustentáveis. Agricultura sustentável O primeiro nível diz respeito ao aumento da eficiência das práticas convencionais para reduzir o uso e consumo de inputs externos caros, escassos e danosos ao meio ambiente. O segundo nível da transição se refere à substituição de inputs e práticas convencionais por práticas alternativas. A meta seria a substituição de insumos e práticas intensivas em capital, contaminantes e degradadoras do meio ambiente, por outras mais benignas sob o ponto de vista ecológico. Neste nível da transição, a estrutura básica do agroecossistema seria pouco alterada, podendo ocorrer, então, problemas similares aos que se verificam nos sistemas convencionais. O terceiro e mais complexo nível da transição é representado pelo redesenho dos agroecossistemas, para que funcionem com base em um novo conjunto de processos ecológicos. Agricultura sustentável [...] na Agroecologia, é central o conceito de transição agroecológica, entendida como um processo gradual e multilinear de mudança, que ocorre através do tempo, nas formas de manejo dos agroecossistemas, que, na agricultura, têm como meta a passagem de um modelo agroquímico de produção (que pode ser mais ou menos intensivo no uso de inputs industriais) a estilos de agriculturas que incorporem princípios e tecnologias de base ecológica. Essa ideia de mudança se refere a um processo de evolução contínua e crescente no tempo, porém, sem ter um momento final determinado (CAPORAL, 2004:12). Entretanto, continua o autor... Agricultura sustentável Entretanto, por se tratar de um processo social, isto é, por depender da intervenção humana, a transição agroecológica implica não somente na busca de uma maior racionalização econômico-produtiva, com base nas especificidades biofísicas de cada agroecossistema, mas também numa mudança nas atitudes e valores dos atores sociais em relação ao manejo e conservação dos recursos naturais (CAPORAL, 2004:12). Agricultura sustentável É preciso que se discuta publicamente qual é o melhor modo de produzir, de acordo com os verdadeiros preceitos de sustentabilidade, o que implica discutir modelos de agricultura ecológica e formas de agricultura industrial e familiar, Caporal (2004:11-2) chama atenção à elitização dos processos e dos resultados sociais. Observação: é orientar a produção industrial agropecuária, de acordo com as especificidades dos grupos de demanda, definidos por renda, por região ou temas articuladores como as lutas por menos pesticidas e agrotóxicos, que passariam, desse modo, a participar da pauta política da agenda agrária. Agricultura sustentável Caporal (2009) estabelece alguns dos desvios dos preceitos da agroecologia, lamentando que haja confusão quanto ao modo como vem acontecendo com a palavra de ordem “desenvolvimento sustentável”. Para o autor: a agroecologia busca integrar os saberes históricos dos agricultores com os conhecimentos de diferentes ciências, permitindo tanto a compreensão, análise e crítica do atual modelo do desenvolvimento e de agricultura, como o estabelecimento de novas estratégias para o desenvolvimento rural. Agricultura sustentável Agroecologia constitui-se em um campo do conhecimento científico que [...] pretende contribuir para que as sociedades possam redirecionar o curso alterado da coevolução social e ecológica, nas suas mais diferentes inter-relações e mútua influência (CAPORAL, 2009, p. 4). Sistemas, circuitos e cadeias produtivas vernáculas e alternativas. Diversidade de percepções, de ideologias e de tecnologias, representadas pelo Fórum Social Mundial (FSM). Ecologia experimental e “intuitiva”, de preservação. Economia social e “flexível”. Resgate da “microeconomia” de alimentos caseiros com a devida supervisão pelos gestores públicos e privados. Hortas urbanas, feiras e redes para trocas de sementes. Agricultura sustentável Stédile (2003, p. 5) afirma que hoje a reforma agrária não poderia mais ser a “reforma agrária clássica capitalista”, pois deve ir além do simples assentamento, com políticas de incentivos governamentais, apoio tecnológico, extensão e acompanhamento agronômico. E acrescenta que também seriam necessários: política de preços mínimos; crédito concedido de acordo com categorias dimensionais das propriedades e dos produtos; manejo sustentável; programa de redistribuição de terras conforme a área e os produtos a serem trabalhados. Agricultura sustentável Ainda segundo Stédile, a construção da soberania alimentar no Brasil supõe soberania popular e requer reformas estruturais no meio rural e no modelo de produção agrícola do país: 1. Uma reforma agrária ampla e massiva que democratize a posse e uso da terra, tendo como consequência a garantia de acesso a 4 milhões de famílias de trabalhadores que querem produzir na agricultura. 2. Mudar o atual modelo de produção e de tecnologia agrícola dominante para uma outra concepção de produção de alimentos saudáveis, baseados na agroecologia, agricultura ecológica, orgânica e outros caminhos que garantam produção e oferta abundante em todos os locais. Políticas estruturantes para alcançar a soberania alimentar, por Stédile 3. Limitar o tamanho máximo da propriedade e posse da terra e garantir o princípio do interesse de toda sociedade sobre os bens da natureza, água e biodiversidade. 4. Reformular o papel do Estado para que ele ordene o processo de soberania alimentar, garantindo a sua produção e distribuição em todas as regiões. 5. Controle direto do governo sobre o comércio exterior (importação/exportação) de alimentos e sobre as taxas de juros e de câmbio. 6. Implementar um amplo programa de pequenas e médias agroindústrias instaladas em todos os municípios do país, na forma cooperativa. Agricultura sustentável 7. Garantir estoques reguladores de alimentos saudáveis por parte do governo, para garantia de acesso a toda população. 8. Desenvolvimento de um novo modelo econômico, baseado na ampla distribuição de renda, na garantia de emprego e renda para toda população; na universalização da educação e na implementação de uma indústria nacional voltada para o mercado interno. Agricultura sustentável 9. O conhecimento e plena liberdade para intercambiar e melhorar sementes é um componente fundamental da Soberania Alimentar, porque sua existência em diversidade permite assegurar a abundância alimentar, servir de base a uma nutrição adequada e variada e desenvolver formas culinárias culturalmente próprias e desejadas. As sementes são o início e o fim dos ciclos de produção camponesa, são criação coletiva que reflete a história dos povos e de suas mulheres, as quais foram suas criadoras e principais guardiãs e aperfeiçoadoras. Seu desaparecimento leva ao desaparecimento das culturas dos povos do campo e de comunidades. Como não são apropriáveis, devem manter seu caráter de patrimônio coletivo. Agricultura sustentável 10. Impedir o uso e fomento de sementes transgênicas. Elas representam a propriedade privada da vida, a impossibilidade da livre reprodução, e acima de tudo representam a destruição de toda biodiversidade, pois elas não conseguem se reproduzir sem contaminação de todas as demais sementes. Além de pesar dúvidas e a falta de pesquisa sobre suas consequências para a saúde animal e humana. Fonte: STÉDILE, João Pedro e Carvalho, Horácio Martins de. Soberania Alimentar: Uma Necessidade dos Povos. In: Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (2010). Fome Zero: Uma história Brasileira. Brasília, DF, Assessoria Fome Zero, 3 vol., vol. 3 pp. 144 a 156. (p. 14-5). Agricultura sustentável É uma concepção fundamentalmente ética, assim, torna-se importante e moderno instrumento de produção, pois mais que uma área do conhecimento científico, é uma possibilidade em potencial para a proteção dos recursos naturais, enquanto ciência, os estudos na área são capazes de levantar dados importantes que, além de propiciar conhecimentos científicos relevantes, auxiliam na proteção de áreas naturais. Os conhecimentos difundidos pelas populações tradicionais se referem ao meio no qual foram produzidos, permitindo articulação entre meio natural e social, proporcionada pela etnociência, buscando a melhoria da produção e a conservação dos recursos naturais [...]. PEREIRA, B. E.; DIEGUES, A. C. (2010:47-8). A etnoconservação da natureza Os saberes tradicionais, não apenas do agricultor, mas do pescador e criador de animais, vistos anteriormente, são resgatados pelas ciências sociais em geral e aplicados em novos contextos por pesquisadores das engenharias, como a agronômica. Lembrete: Os princípios da etnoconservação são poderosos instrumentos que, articulados como corpo técnico e social, permitem-nos, junto com as formas de agricultura vernaculares tratadas na Unidade 1, desenvolver maneiras de produção sustentáveis. Agricultura sustentável Questão fundamental e deve ser encarada como na permacultura, segundo João Rockett: Podemos dizer que a permacultura engloba a agroecologia, como se fosse uma plataforma. Trata-se de um projeto interdisciplinar para criar unidades sustentáveis, envolvendo a questão da água, da energia, da habitação, dos animais e das plantas dentro de um sistema que conecta esses e outros sistemas. Ou seja, trata-se do projeto de otimizar um local com menor impacto sobre o espaço. Dentro desse sistema mais amplo, a agroecologia está relacionada à questão dos alimentos, considerando também a forma de distribuir esse produto no mercado e a questão social envolvida na produção. ROCKETT, João. Permacultura: por uma outra visão de mundo. Entrevista especial com João Rockett. IHU On-line Instituto Humanitas Unisinos [IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS]. Entrevistas. Domingo,06 de janeiro de 2013. O tratamento de resíduos da produção agropecuária Assinale a alternativa correta quanto às possibilidades de transição para um modelo de produção agrário saudável. a) Reforma agrária de qualquer espécie somente pode acontecer sob a bandeira socialista. b) A agroecologia e a permacultura são utopias a-científicas. c) Tal transição implica, como vimos, numa construção gradual, pois requer mudanças psicossociais profundas em nossas formas de viver e pensar. d) A questão dos resíduos sólidos é uma questão essencialmente tecnológica (das engenharias), o que pode ser comprovado ao observarmos as consequências de contaminação rural e urbana. e) A questão da propriedade não é relevante para discutir o modelo de desenvolvimento econômico e o regime agroexportador; este sim está na base da soberania alimentar. Interatividade Assinale a alternativa correta quanto às possibilidades de transição para um modelo de produção agrário saudável. a) Reforma agrária de qualquer espécie somente pode acontecer sob a bandeira socialista. b) A agroecologia e a permacultura são utopias a-científicas. c) Tal transição implica, como vimos, numa construção gradual, pois requer mudanças psicossociais profundas em nossas formas de viver e pensar. d) A questão dos resíduos sólidos é uma questão essencialmente tecnológica (das engenharias), o que pode ser comprovado ao observarmos as consequências de contaminação rural e urbana. e) A questão da propriedade não é relevante para discutir o modelo de desenvolvimento econômico e o regime agroexportador; este sim está na base da soberania alimentar. Resposta 7. Em seguida vamos pelo desenvolvimento das soluções com predomínio da cultura e do ambiente para o manejo ecológico e econômico, de fato ecoeficiente. São apresentadas as perdas de qualidade socioambiental e esboço de correções, experiências e casos de sucesso da agricultura sustentável. Agricultura sustentável A melhoria das condições ambientais e da saúde humana, de um modo particular, requer que se considerem as dimensões da cultura e da política para o manejo ecológico e econômico dos ecossistemas. Como corrigir os rumos baseados nas perdas? Os dilemas da via tecnológica apontam que não se pode colocar todas as fichas nesta frente. Agricultura sustentável Leff (2001, p. 145) traz uma importante contribuição às frentes sustentáveis com suas reflexões e projetos relacionados ao saber ambiental. Trata da formação do saber ambiental, como a construção de uma racionalidade ambiental. Implica na formação de um novo saber e a integração e diálogo interdisciplinar do conhecimento para explicar o comportamento de sistemas socioambientais complexos. O saber ambiental problematiza o conhecimento fragmentado em disciplinas e a administração setorial do desenvolvimento para constituir um campo de conhecimentos teóricos e práticos orientado para a rearticulação das relações sociedade-natureza. Agricultura sustentável Khatounian vê na “reconstrução ecológica da agricultura”: um conjunto de correções nos processos produtivos convencionais, requerendo o estabelecimento e disseminação dos princípios sustentáveis de planejamento e gestão, bem como clareza sobre as áreas de abrangência e de progressiva ocorrência dos novos métodos (2001, p. 23-24). Para Khatounian, os métodos alternativos têm: expandido seus mercados, já que estariam inseridos numa profunda mudança na atitude das pessoas diante de recursos naturais. O autor aponta que “até o início dos anos 1960, a atitude predominante era a do temor- domínio”, no afã de controlar e manejar todas as forças do planeta (2001, p. 24). Agricultura sustentável Crenças na tecnologia: possibilitaram ao ser humano transformar o ambiente numa tal escala que os mecanismos naturais de reconstituição não eram mais suficientes para esse modelo convencional de produção de excedentes além do consumo. Apesar de generalizar-se com a globalização... Agricultura sustentável Os marcos desse pensamento e dessas ações, para Khatounian (2001, p. 25): No início dos anos 1960: “Silent spring”, de Rachel Carson. Nas décadas de 1970 e de 1980: constatações da poluição generalizada do planeta e exaustão iminente das reservas de importantes recursos naturais. Em 1992, Terceira Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, a ECO-92. A Terra deixará de ser um campo ilimitado e se tornará um pequeno jardim da humanidade. Agricultura sustentável O autor acha que há novas formas de agricultura “menos dependentes de insumos químicos”, “tentando conciliar as necessidades econômicas e sociais com a preservação da sua base natural” (KHATOUNIAN, 2001, p. 25). Reações em diversos países, incorporando elementos de suas culturas locais às visões teóricas e instrumentos de sustentabilidade. Agricultura sustentável Algumas saídas, pela via tecnológica, poderiam trazer benefícios se associadas a outras ações, como é o caso da mudança de material das embalagens, descrita na matéria “O plástico que se come”, da revista Caros Amigos: Feito a base de mandioca, bom para embalar, dá até para comer. A tecnologia brasileira busca alternativas às embalagens plásticas tradicionais. A jornalista Cylene Dworzak aborda o tema nesta edição especial de Caros Amigos. Sabemos que o plástico é um dos maiores poluidores, só a China se vê às voltas com 3 milhões de sacolas plásticas por dia”. DWORZAK, C. O plástico que se come. Especial Meio Ambiente. Caros Amigos, Ano XIII, N. 43, Casa Amarela, jun. 2008. (p.14-5). Agricultura sustentável Nas décadas de 1920 a 1940, organizam-se os primeiros movimentos a usarem adjetivos como biológico-dinâmico, orgânico ou natural para se diferenciarem da corrente dominante centrada na química. Há uma diversidade das frentes. O termo sustentável, mais do que uma escola, abrange todas essas ações, assim como as designações de todas elas se interpenetram; porém, prevalece aqui o apelo didático para facilitar as suas maiores marcas. Apresentamos, seguindo Khatounian (2001), as escolas de agricultura ecológica ou sustentável. Agricultura sustentável 1. Biodinâmica Foi criada na Alemanha, em 1924, como reação à química agrícola, lá também criada. Sua figura central é o filósofo Rudolf Steiner, grande influência em várias gerações de agrônomos e agricultores. Os adubos químicos da época causaram grande estrago nas lavouras, gerando um ambiente propício às ideias de Steiner. Agricultura sustentável 2. Orgânica Surge no Reino Unido, disseminando-se em seguida pelos Estados Unidos. A figura de maior expressão dessa corrente foi o agrônomo Albert Howard, com extensa experiência na Índia, então colônia britânica. Ele percebeu que “a adubação química produzia excelentes resultados nos primeiros anos, mas depois os rendimentos caíam drasticamente” em comparação com os resultados obtidos pelos camponeses indianos a partir de métodos tradicionais, com menores, mas constantes rendimentos. Agricultura sustentável 3. Natural Mokiti Okada iniciou um movimento de caráter filosófico-religioso no Japão, nos anos 1930 e nos 1940, criando a Igreja Messiânica. “Um dos pilares desse movimento foi o método agrícola “natural” ou agricultura natural” (Shizen Noho). (Khatounian, 2001:26). Suas bases estão no trabalho de Masanobu Fukuoka (fitopatologista), que defende “a menor alteração possível no funcionamento natural dos ecossistemas, alimentando-se diretamente do Zen-Budismo” (Khatounian, 2001:26). É das maiores fontes de inspiração para as técnicas de produção orgânica. Agricultura sustentável 4. Biológica No início dos anos 1960, na França, acontece o movimento da agricultura ecológica com arcabouço teórico sistematizado por Claude Aubert, em livro publicado em 1974, “A agriculturabiológica: por que e como praticá-la”. Assim como a agricultura orgânica de Howard, a proposta de Aubert não se vincula a uma doutrina filosófica ou religiosa particular. Desenha-se “como uma abordagem técnica sobre o pano de fundo de um relacionamento mais equilibrado com o meio ambiente e de melhor qualidade dos produtos colhidos.” (Khatounian, 2001:27). Agricultura sustentável 5. Alternativa Com a crise do petróleo nos anos 70 e com os movimentos de agricultura ecológica nos anos 80, há um aumento da consciência da gravidade dos problemas ambientais, principalmente em suas repercussões à saúde humana. Há, também, uma ampliação do mercado para produtos ecológicos. Nos Estados Unidos, a referida crise do petróleo expõe a dependência que sua agricultura desenvolve dos combustíveis fósseis, bem como a sua decorrente fragilidade. Ao que se somam os problemas do modelo inquestionado: uso de fertilizantes minerais e dos herbicidas. (Khatounian, 2001:27-8). Agricultura sustentável 6. Agroecológica O destaque desse movimento latino-americano é o chileno Miguel Altieri, que procura atender às “necessidades de preservação ambiental e de promoção socioeconômica dos pequenos agricultores” (Khatounian, 2001:29). É um movimento de cunho político e diante do alijamento desses agricultores, esse movimento se politiza e segue a direção de aumentar seu peso político nas sociedades da América Latina. O trabalho de Altieri valoriza a produção familiar camponesa e a relaciona com o movimento ambientalista na América Latina. Agricultura sustentável 7. Permacultura Na Austrália tem lugar o movimento da Permacultura, com modelos para as regiões menos dotadas de recursos naturais, desenvolvendo a criação de agroecossistemas sustentáveis através da simulação dos ecossistemas naturais, prioriza as culturas perenes (árvores) como centrais em sua proposta. Principais ideólogos: Bill Mollisson e colaboradores (Khatounian, 2001:29). Também os aspectos urbanos são objeto da permacultura, planejando cidades ecologicamente adaptadas e procurando autogestão de energia, melhor uso de materiais, com melhor aproveitamento dos elementos do ambiente, promovendo associação da natureza e da tecnologia nos projetos arquitetônicos (ventilação natural, insolação pelo posicionamento das construções, melhoria do ar com tecnologias limpas e flexíveis) com aprendizado das culturas tradicionais. Agricultura sustentável 8. Orgânica como coletivo Os movimentos de produção sem agroquímicos organizaram-se no plano internacional, “tanto para o intercâmbio de experiências como para estabelecer os padrões mínimos de qualidade para os produtos de todos os movimentos”. Agricultura orgânica: conjunto de propostas alternativas. Fundam, em 1972, a Federação Internacional de Agricultura Orgânica (Khatounian, 2001:29). A Federação estabelece normas para classificação dos produtos, que assim podem ser oferecidos no mercado, vendidos com o seu selo “orgânico”. Tais normas proíbem agrotóxicos, também “restringem a utilização dos adubos químicos e incluem ações de conservação dos recursos naturais”. Têm apelo ético “nas relações sociais internas da propriedade e no trato com os animais”. (Khatounian, 2001:29). Agricultura sustentável 9. Sustentável Para Khatounian, há uma conjunção de fatores ligados à sobrecarga dos sistemas ecológicos (2001:29) e, acrescentaríamos, principalmente dos organismos humanos; o que é atestado pela área médica. Então, diante da constatação de insustentabilidade ambiental do modelo de desenvolvimento, há um movimento crítico denominado desenvolvimento sustentável, aqui especificamente considerado em sua aplicação agrária. O termo agricultura sustentável é uma tentativa de conciliar as expectativas sociais de alimento e ambiente sadios com os interesses das corporações. Advertência quanto à sua participação! A agricultura sustentável, embora represente um avanço, não deixa de ser também um retrocesso em relação à agricultura orgânica, cujas normas são absolutamente claras. (31-2). Agricultura sustentável 10. Ecológica A ecologia deixa de ser apenas uma disciplina da biologia, acadêmica. E “com a crescente conscientização da magnitude dos problemas ambientais, o termo foi ganhando o grande público, sempre associado à preservação ou recuperação do meio ambiente” (Khatounian, 2001:31). As correntes de ideias e práticas alternativas e sustentáveis são fortes instrumentos de mudança, pois todas trazem elementos fundamentais; devemos, pois, pesquisar mais sobre cada uma. Agricultura sustentável O autor ainda afirma que, do ponto de vista da tecnologia, os cultivos orgânicos “costumam apresentar elementos recuperados de bons exemplos do passado, combinados com procedimentos de ponta em termos de manejo de microrganismos, controle fitossanitário, variedades, máquinas e insumos ecologicamente corretos” (Khatounian, 2001, p. 32-33). Há graves problemas nas políticas públicas e em sua ausência. Agricultura sustentável Há problemas: 1) em algumas espécies menos resistentes; 2) cuja alternativa pior seria reduzir a gama de alimentos consumidos. É muito importante entendermos o debate sobre a “agricultura sem agrotóxicos”: de um lado aqueles com grande apreço aos avanços da química na nutrição artificial e no combate aos desequilíbrios ecológicos por envenenamento; de outro, aqueles com abertura tanto ao (re)aprendizado das tradições quanto para novas experiências com tecnologias limpas, naturais. Agricultura sustentável As correntes ou escolas agrícolas apresentadas podem ser consideradas: a) Movimentos de sonhadores em busca de soluções inócuas para problemas concretos que requerem ação científica. b) Dependentes de fé e sem caráter científico. c) Integradoras e com objetivos ligados principalmente à saúde. d) De forte cunho capitalista, pois todas estão inseridas nos mercados de commodities, especificamente de alimentos. e) Localistas, pois seus preceitos servem basicamente às regiões em que surgiram. Interatividade As correntes ou escolas agrícolas apresentadas podem ser consideradas: a) Movimentos de sonhadores em busca de soluções inócuas para problemas concretos que requerem ação científica. b) Dependentes de fé e sem caráter científico. c) Integradoras e com objetivos ligados principalmente à saúde. d) De forte cunho capitalista, pois todas estão inseridas nos mercados de commodities, especificamente de alimentos. e) Localistas, pois seus preceitos servem basicamente às regiões em que surgiram. Resposta 8. Construção das melhorias possíveis a partir de exemplos concretos de produtividade sustentável, passando pelas transformações sociais que explicam as mudanças na concepção de produto e na essência das tecnologias empregadas. Agricultura sustentável Práticas sustentáveis numa propriedade rural. Agricultura sustentável Agricultura sustentável Fonte: Adaptado de: TAGUSHI, V. 10 práticas sustentáveis. Matéria Globo Rural, 1.10.2011 (p. 36- 59). Disponível em: < http://revistagloborural.globo.com/Revi sta/Common/0,,ERT270205- 18282,00.html >. Acesso em: 1.2.2014. Integração Lavoura-Pecuária-Floresta1 Plantio direto2 Descarte de embalagens3 Recuperação de pastagens4 Rastreabilidade5 Manejo da água6 Bioenergia7 Manejo integrado de pragas8 Fixação biológica de nitrogênio9 Tratamento de resíduos10 1. Integração lavoura-pecuária-floresta. 2. Plantio direto. 3. Descarte de embalagens. 4. Recuperação de pastagens. 5. Rastreabilidade. 6. Manejo da água. 7. Bioenergia. 8. Manejo integrado de pragas (mip). 9. Fixação biológica de nitrogênio (fbn). 10. Tratamento de resíduos. Fonte: Tagushi (2011). Agricultura sustentável Seja como for, depois das dezenas de entrevistas que fiz, livros que li, documentários que vi e lugares que visitei paraproduzir este livro, uma coisa me parece certa: o futuro da comida é uma volta ao passado (Kedouk, 2013, p. 214). A partir do que foi apresentado, podemos concluir que as alternativas ao modelo atual de exploração dos recursos ganham quando alimentadas com cuidadoso e despojado estudo das práticas sociais originais, em geral, e produtivas, em particular; isto é, as práticas nativas ou autóctones, vernáculas, vistas anteriormente. Agricultura sustentável Além das perdas de qualidade advindas das mudanças culturais nas relações de trabalho, o próprio caráter da produção é deslocado do suprimento básico à sobrevivência para os aumentos em escala, com riscos e impactos negativos à integridade alimentar; há geração de insegurança alimentar. Com a escala nos moldes convencionais, há empobrecimento da biodiversidade, um empobrecimento simbólico, com esquecimento e desuso de rituais associados aos ciclos produtivos e consequente aplanamento dos gostos. As perdas são de ordem material, geradas em meio às atividades e procedimentos produtivos já descaracterizados e sem identidade trabalhador-ambiente. A organização intrínseca à vida social passa a ser apenas gestão, aí se esvazia, sem imaginação ou conteúdo do grupo. Agricultura sustentável Com os problemas ambientais e alimentares mais prementes, aprendemos que, se estamos nos envenenando, também podemos limpar os ambientes e a produção em todas as suas etapas. Encerramos com a pesquisa de Kedouk (2013) sobre dinâmica social, que nos é muito cara: a produção por parte de sujeitos individuais. Há um debate entre duas concepções de crescimento econômico: uma atrelada às demandas internacionais, às quais visa a atender, assim fazendo caixa e patrocinando o desenvolvimento; e a outra, que acredita que se todos que souberem fazer alguma coisa fizerem em suas casas com os equipamentos que já possuem, um grande passo já terá sido dado para a cidadania, por meio da integração social pela economia. Agricultura sustentável A produção artesanal de comida também está voltando à tona. É o caso dos queijos de regiões mineiras, como Serro, uma cidade que foi colonizada pelos portugueses e se desenvolveu por causa da mineração. As famílias por ali tinham o costume de fazer o próprio queijo, principalmente quando queriam agradar as visitas que chegavam ou presentear alguém que morava longe – os queijos eram despachados para o País inteiro. Na Serra da Canastra também. Os tropeiros que passavam na cidade guiando animais de uma região para outra davam uma parada na Canastra para se abastecer com o queijo típico de lá. (Kedouk, 2013, p. 214). Agricultura sustentável Bastante interessante a dupla produção do cineasta Silvio Tendler (2011; 2014) sobre nosso envenenamento pelos agrotóxicos. Ficha técnica Nome original: “O veneno está na mesa” País de origem: Brasil Gênero: Documentário Duração: 50 min. Ano: 2011 Direção: Silvio Tendler Agricultura sustentável Título: O veneno está na mesa 2 (original). Ano produção: 2014 Dirigido por: Silvio Tendler Estreia: 16 de Abril de 2014 (Brasil) Duração: 70 min. Gênero: Documentário Países de origem: Brasil Com base na ideia de sustentabilidade, assinale a alternativa que apresente tanto elementos de (re)qualificação técnica da produção quanto princípios filosóficos de conscientização do padrão alimentar (sentido em comer). a) A alimentação e a produção não têm necessariamente relação no setor agropecuário. b) A cadeia produtiva, nos moldes atuais, ocupa-se tanto da educação alimentar profilática (a medicina mais eficiente) quanto dos estudos dos diversos conhecimentos produtivos. Interatividade c) A agricultura somente pode ser rentável em grandes escalas, como mostram os números oficiais. d) Permacultura, agroecologia e demais concepções unicistas (integradoras) aplicadas à criação e cultivo somente podem ser implantadas com imensos investimentos governamentais. e) Pode-se inovar (re)aprendendo tanto técnicas já existentes quanto a comer com consciência. Interatividade Com base na ideia de sustentabilidade, assinale a alternativa que apresente tanto elementos de (re)qualificação técnica da produção quanto princípios filosóficos de conscientização do padrão alimentar (sentido em comer). e) Pode-se inovar (re)aprendendo tanto técnicas já existentes quanto a comer com consciência. Resposta ATÉ A PRÓXIMA!
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