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DIREITO DAS SUCESSÕES

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DIREITO DAS SUCESSÕES:
	TEMAS ABORDADOS:
I. Disposições gerais sobre o direito sucessório.
II. Capacidade sucessória.
III. Sucessão legítima.
IV. Direito de petição.
V. Sucessão testamentária.
VI. Aceitação, renúncia e exclusão da herança (indignidade e deserdação e representação do herdeiro excluído).
VII. Doação aos descendentes, antecipação da legítima, colação e pena de sonegados.
VIII. Quadro comparativo dos procedimentos.
	I. Disposições gerais sobre o direito sucessório:
1) Sentidos da expressão “sucessão”:
- A palavra “sucessão”, em sentido amplo, significa o ato pelo qual alguém assume o lugar de outra, substituindo-a na titularidade de certos direitos. Essa sucessão pode ser inter vivos ou causa mortis.
- O direito das sucessões ocupa-se de uma interpretação estrita do termo, que abrange apenas a sucessão causa mortis. O direito das sucessões estuda a transmissão do patrimônio (ativo e passivo) da pessoa falecida (de cujus sucessionis agitur – de cuja sucessão se trata) aos seus sucessores.
- Ou seja, o direito das sucessões cuida da regulação da transmissão da herança.
2) O que é a herança?
A herança constitui uma universalidade de direito que abrange todos os direitos e obrigações patrimoniais, bens, créditos e dívidas titularizados pela pessoa falecida.
Alguns direitos do falecido são insuscetíveis de transmissão aos sucessores, como os direitos da personalidade, em virtude de seu caráter extrapatrimonial e vitalício.
Outros direitos, embora tenham conteúdo patrimonial, também não se transmitem com a herança, pois são personalíssimos e extinguem-se com a morte do titular (vitalícios). É o caso dos direitos reais de uso, de usufruto e de habitação.
Com a morte, a herança transmite-se aos herdeiros como um todo unitário, ainda que vários sejam os herdeiros (CCB, art. 1.791).
Entre os herdeiros, haverá um condomínio pro indiviso, até a partilha (CCB, art. 1.791, prg. único). Ou seja, cada herdeiro é titular de uma fração ideal do acervo hereditário. Com a partilha, a herança é distribuída entre os herdeiros e cessa o estado de indivisibilidade do acervo.
Além disso, a herança é considerada na sua totalidade como um bem imóvel por ficção jurídica (CCB, art. 80, inc. II), mesmo que composta apenas por bens móveis, singulares e divisíveis.
3) O que é espólio?
O espólio é o ente desprovido de personalidade jurídica que representa a herança em juízo ou fora dele.
O espólio pode praticar atos jurídicos de interesse da herança, extrajudicialmente (como realizar contratos) ou judicialmente (pois é dotado de capacidade processual para representar a herança, no pólo ativo ou passivo).
As causas relacionadas a bens e interesses patrimoniais que compõem a herança devem ser propostas pelo espólio ou contra o espólio.
- As ações de natureza extrapatrimonial de interesse do falecido NÃO devem ser propostas contra o espólio, mas contra os herdeiros do falecido. Ex: ação de investigação de parentalidade, ação de adoção póstuma etc.
- Obs:  A jurisprudência do STJ admite a legitimidade passiva do espólio do falecido nas ações de reconhecimento e dissolução de união estável pós-morte (Informativo 405, de setembro de 2009. REsp 1.080.614-SP, 3ª Turma, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 1º/9/2009). Cada um dos herdeiros pode, caso queira, pleitear seu ingresso no processo, mas não há ilegitimidade do espólio.
EXCEÇÃO: caso já tenha encerrado o inventário, a legitimidade passiva é dos herdeiros e não do espólio.
4) Quem representa o espólio?
• O inventariante, caso tenha sido designado (CPC-2015, art. 75, inc. VII; CPC-1973, art. 12, inc. V).
Se o inventariante é dativo, o CPC-1973 previa que “todos os herdeiros e sucessores do falecido serão autores ou réus nas ações em que o espólio for parte” (art. 12, prg. 1º). Por sua vez, o CPC-2015 prevê que todos os sucessores do falecido serão intimados (art. 75, prg. 1º).
• Se ainda não houve designação do inventariante, o espólio é representado pelo administrador provisório (art. 985 do CPC-1973 e art. 613 do CPC-2015, na ordem do art. 1.797 do CCB: cônjuge ou companheiro convivente, herdeiro na posse ou administração do bem, etc.) ou, em sua falta, por todos os herdeiros.
5) Como pode ser a sucessão causa mortis?
	- Quanto à fonte do direito hereditário:
	Sucessão legítima
	
	Sucessão testamentária
	- Quanto à forma de destinação da herança:
	Sucessão universal
	
	Sucessão singular
 Quanto à fonte do direito hereditário, a sucessão pode ser por lei ou por disposição de última vontade (CCB, art. 1.786).
- legítima: segue a ordem de vocação hereditária prevista na lei; ou
- testamentária: deriva de disposição de última vontade, por meio de testamento (CCB, art. 1.857 e seguintes) ou codicilo (CCB, art. 1.881 e seguintes), em favor do herdeiro testamentário, também chamado de herdeiro instituído.
	Lembre-se que o testamento é um negócio jurídico causa mortis:
- personalíssimo (CCB, art 1.858; logo, não pode ser feita por procurador);
- e que pode ser produzido por qualquer pessoa mentalmente sã, a partir dos 16 anosde idade (CCB, art. 1.860).
- Uma mesma pessoa pode ser herdeira legítima e testamentária ao mesmo tempo. O herdeiro, chamado, na mesma sucessão, a mais de um quinhão hereditário, sob títulos sucessórios diversos, pode livremente deliberar quanto aos quinhões que aceita e aos que renuncia (art. 1.808, prg. 2º, do CCB).
	Haverá sucessão legítima em 05 situações, descritas nos artigos 1.788 e 1.789 do CCB:
(1) se o falecido não houver deixado testamento (sucessão ab intestato);
(2) se o testamento não contemplou todos os seus bens;
(3) se o testamento for invalidado (se houve erro essencial na sua elaboração ou se foi feito mediante coação);
(4) se o testamento caducar. Exemplos:
i) se o herdeiro testamentário ou o legatário houverem falecido antes do autor da herança;
ii) se o herdeiro testamentário ou o legatário  houverem sido excluídos por indignidade (art. 1.814);
iii) se estes houverem renunciado, sem que o autor da herança tenha indicado substituto;
(5) sempre que o falecido houver deixado pelo menos um herdeiro legítimo necessário, também chamado delegitimário e de reservatário.
- Será herdeiro necessário o descendente, o ascendente ou cônjuge sobrevivente (CCB 1.845).
- Havendo herdeiro necessário, ele terá direito à intangibilidade da metade da herança (legítima), que deverá ser distribuída entre os herdeiros necessários que concorrerem à herança (CCB 1.789, 1.846 e 1857, prg. 1º).
- A regra de proteção da legítima é uma intervenção estatal limitadora da liberdade de disposição do indivíduo com a finalidade de compulsoriamente distribuir parcela da renda para pessoas que possuem certos laços familiares com o falecido.
	O cônjuge sobrevivente, casado no regime da separação convencional de bens (celebrado por meio de pacto antenupcial por escritura pública), é herdeiro necessário?
De acordo com o art. 1.845, do Código Civil, o cônjuge é herdeiro necessário, QUALQUER que seja o regime de bens do casamento.
Esse entendimento é o atual da SEGUNDA SEÇÃO do STJ (REsp 1.382.170-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, Rel. para acórdão Min. João Otávio de Noronha, julgado em 22/4/2015, DJe 26/5/2015.
CONTUDO, há alguns meses, existiam divergências no STJ quanto ao cônjuge casado no regime da separação convencional de bens.
- A Terceira Turma tem entendido que será herdeiro necessário. “O pacto antenupcial celebrado no regime de separação convencional somente dispõe acerca da incomunicabilidade de bens e o seu modo de administração no curso do casamento, não produzindo efeitos após a morte por inexistir no ordenamento pátrio previsão de ultratividade do regime patrimonial apta a emprestar eficácia póstuma ao regime matrimonial”. Ademais, o art. 1.845 não excepcionou da condição de herdeiro necessário o cônjuge casado no regime da separação convencional (REsp 1.472.945/RJ, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 23/10/2014, DJe 19/11/2014).
- A Quarta Turma tem entendido que o cônjugesobrevivente, quando casado pelo regime da separação convencional de bens, NÃO pode ser considerado herdeiro necessário do cônjuge falecido. A justificativa é a de que deve ser respeitado o regime de bens estipulado, que obriga as partes na vida e na morte. Ou seja, segundo esse entendimento, o cônjuge casado no regime da separação convencional não é herdeiro necessário nem concorre com os filhos do falecido à herança  (AgRg na MC 23.242/RS, Rel. Ministro MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, julgado em 03/02/2015, DJe 19/02/2015. No mesmo sentido: REsp 1.111.095/RJ, julgado em 01/10/2009, DJe 11/02/2010. Há antigo julgado da TERCEIRA TURMA adotando essa concepção: REsp 992.749/MS.
Algumas bancas examinadoras cobraram itens sobre o tema em provas para carreiras jurídicas (como o CESPE, no concurso do MPDFT, de 2013). O entendimento era no sentido de que o cônjuge casado sob o regime da separação convencional NÃO seria herdeiro necessário e NÃO concorreria com os descendentes à herança.
 Quanto à forma de destinação da herança, a sucessão pode ser:
- a título universal: transmite-se o patrimônio como um todo ou em alíquotas ou cotas abstratas – ex. 25% da herança será destinada a determinado herdeiro testamentário; ou
- a título singular: ocorre apenas na sucessão testamentária. A sucessão a título singular é de um legado, ou seja, um bem ou um crédito determinado ou determinável, a um herdeiro testamentário que será chamado de legatário (Ex. “por testamento, deixo o meu automóvel ou o saldo da caderneta de poupança a determinado herdeiro”). A sucessão de legado é regulada pelos arts. 1.912 e seguintes, do Código Civil.
6) Quando ocorre a abertura da sucessão?
- A morte real ou presumida (CCB, arts. 6º e 7º) de alguém acarreta a imediata abertura da sucessão, também chamada de delação hereditária ou devolução sucessória.
- A transmissão da propriedade e da posse da herança aos herdeiros legítimos e testamentários é automática e independe de formalidades, como a realização da partilha ou a aceitação da herança. A aceitação apenas torna definitiva a transmissão da herança (CCB, art. 1.804) e a partilha individualiza a sua cota hereditária.
- Esse é o direito de saisine (CCB, art. 1.784), que vem do conhecido adágio Le mort saisit le vif – com a morte, a herança transmite-se, independentemente de qualquer ato dos herdeiros ou da partilha de bens. A aceitação apenas consolida retroativamente a transmissão da herança feita desde a abertura da sucessão (CCB, art. 1.804).
7) Quais as consequências do direito de saisine a respeito da herança?
Quatro consequências jurídicas importantes:
- Consequência 01: O direito à herança somente se transmite ao herdeiro com a morte, antes, não. Por isso, é proibido o pacto de corvina: não se pode contratar herança de pessoa viva (CCB, art. 426).
- Essa hipótese não se confunde com a Partilha em vida (CCB, art. 2.018): a pessoa pode, em vida, doar o seu patrimônio aos seus descendentes, desde que:
i) respeite a legítima dos herdeiros necessários (se houver) (CCB, art. 1.846: haverá nulidade parcial da doação inoficiosa, na parte em que invadir a legítima); e
ii) reserve para si meios de prover a sua subsistência (CCB, art. 548: nulidade parcial da doação universal).
- Consequência 02: Os sucessores legítimos e testamentários recebem ex lege o domínio e a posse civil da herança a partir da abertura da sucessão.
Como a herança é considerada, indivisivelmente (CCB, art. 1.791), um bem imóvel por ficção jurídica (CCB, art. 80, inc. II), todos esses herdeiros exercem composse dos bens que compõem a herança, desde a abertura da sucessão (morte do autor da herança).
O sucessor universal (herdeiro legítimo e testamentário) continua de direito a posse do antecessor (CCB, art. 1.207) que se transmite com as mesmas características (CCB, art. 1.206). Trata-se da sucessio possessionis.
- O herdeiro legítimo e o testamentário, como sucessores universais continuam de direito a posse do seu antecessor, com todas as suascaracterísticas objetivas (posse justa ou injusta) e subjetivas (posse de boa ou de má fé).
- Mesmo sem a apreensão física da coisa (posse natural), o herdeiro tem justo título legal (posse civil) para, em nome próprio, exercer a defesa de sua posse contra quem injustamente esbulhe, turbe ou ameace a posse de qualquer bem do acervo hereditário, porque ele tem direito à posse indivisível do acervo hereditário (CCB, art. 1.210). Não importa se o inventário foi aberto ou não.
- Por outro lado, o inventariante, depois da assinatura do termo de compromisso, na condição de representante do espólio, e em nome do espólio, tem a obrigação legal de ajuizar a ação possessória para evitar ou reprimir turbação ou esbulho a bem que componha o acervo hereditário.
- Mas essa atuação não afasta o direito próprio de qualquer herdeiro, mesmo sem exercer a apreensão física da coisa (posse natural), de viabilizar a proteção possessória de qualquer bem da herança contra quem quer que injustamente possua ou detenha qualquer dos bens que compõem o acervo hereditário, ou mesmo contra os copossuidores que excluam a sua posse (V. Informativo 431, do STJ. REsp 537.363-RS, Rel. Min. Vasco Della Giustina (Desembargador convocado do TJ-RS), julgado em 20/4/2010). Isso porque o herdeiro é titular da posse civil, amparado em título que lhe confere, total ou parcialmente, direitos de proprietário do bem.
- Depois da nomeação e assinatura do termo de compromisso pelo inventariante, ele passa a ter direito à posse direta dos bens que compõem o acervo hereditário. Se algum dos herdeiros exercer a posse direta de bem, de forma exclusiva e em conflito de interesses com os demais herdeiros, o inventariante pode reclamá-la em favor da massa, no exercício da administração da herança. O inventariante (ou qualquer dos coerdeiros) também pode ajuizar ação de arbitramento de aluguel a ser pago por aquele que usufrui exclusivamente do bem em favor da massa. Essa ação deve tramitar perante o juízo do inventário, por conexão.
- O legatário possui os mesmos direitos sobre o legado? Não, nem todos. O legatário submete-se a um regime jurídico distinto do regime dos herdeiros legítimo e testamentário, em dois aspectos.
- (1ª diferença) artigos 1.923 e 1.924, do CCB: O legatário somente terá direito ao legado: (1) se o legado não for submetido a condição suspensiva e (2) se o legado já se encontrar no acervo hereditário. Esse direito de domínio do legado e de recebimento dos frutos do legado já é reconhecido desde a abertura da sucessão. Mas isso, por si só, não dá ao legatário o direito de exercer a posse do bem. Ele pode pedir a posse direta aos herdeiros. Mas os herdeiros podem se opor à transmitir a posse direta se houver dúvida fundada sobre a legalidade do testamento que gerou o legado ou sobre a solvência da herança diante das dívidas deixadas pelo falecido.
- (2ª diferença) artigo 1207, do CCB: o legatário, como sucessor singular, tem a faculdade de unir a sua posse a do antecessor, para efeitos legais como a aquisição pela usucapião (acessio possessionis = faculdade de soma ou acessão de posses). Se o legatário optar pela acessão de posses, a sua será acometida de eventuais vícios objetivos e subjetivos que recaíam sobre a posse de seu antecessor.
Consequência 03: Se a herança é transmitida a partir da abertura da sucessão, mesmo que ainda não tenha ocorrido a partilha, o coerdeiro pode ceder (gratuitamente ou onerosamente) a terceiro a sua cota hereditária (sua fração ideal e abstrata sobre a herança).
A cessão deve obedecer aos seguintes requisitos:
i) deve ser feita por escritura pública (CCB, art. 1.793).
	- Isso decorre da natureza imobiliária da herança (CCB, art. 80, II). A necessidade de escritura não depende do valor da cota hereditária (diferentemente da regra da transmissão inter vivos dos imóveis, que só exige a escritura pública se o imóvel possuir valor superior a 30 (trinta) salários mínimos – CCB, art. 108).
ii) a cessão feita por pessoa casada deve contar com autorização do cônjuge,salvo no regime da separação convencional ou na participação final nos aquestos, se houver essa opção no pacto antenupcial (CCB, art. 1.647, inc. I, e CCB, art. 1.656); e
iii) se a cessão da cota hereditária for onerosa e em favor de pessoa estranha à sucessão, os demais coerdeiros, na condição de condôminos da herança, podem exercer direito de preferência (prelação ou preempção) sobre a cota cedida, depositando o seu valor de venda no prazo de 180 dias após a (ciência da) transmissão (CCB, art. 1.794 e 1.795).
	- O legatário não precisa observar o direito de preferência ao ceder onerosamente o seu legado a outrem, pois sobre o legado não há condomínio. Mas, como mencionado anteriormente, a transmissão da propriedade sobre o legado somente será eficaz após a partilha, se confirmada a legalidade do legado e a capacidade da herança de suportá-lo após a quitação das dívidas.
	O credor de um herdeiro pode pedir a penhora no rosto dos autos dessa cota apurada em processo de inventário? Pode. Pode inclusive adjudicar, para si, essa cota, depois da definição de seu valor, mas deve respeitar o direito de preferência dos coerdeiros de “comprarem” a fração do patrimônio penhorada. Informativo n. 544 do STJ, de agosto de 2014. REsp 1.330.165-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 13/5/2014.
- Consequência 04: A cessão de bem específico da herança a terceiro por herdeiro legítimo ou testamentário (o legatário está fora dessa regra pelas razões expostas anteriormente) somente será considerada eficaz se:
i) consentida por todos os coerdeiros e
ii) precedida de autorização judicial
Caso esses dois requisitos não sejam cumpridos, a alienação será ineficaz perante os herdeiros que não consentiram (CCB, art. 1.793, §§2º e 3º). Esses requisitos se justificam porque somente a partilha será capaz de individualizar o quinhão de cada herdeiro.
8) Qual a lei aplicável à sucessão (quanto à qualidade de herdeiro e extensão de seus direitos, ou quanto à alíquota do ITCD, por exemplo)?
É a vigente na data da abertura da sucessão (CCB, art. 1787).
É possível que uma lei já sem vigência, como o Código Civil de 1916, vigore no caso concreto.
Ex. Antes da Constituição de 1988, os filhos adotados não tinham direitos sucessórios sobre a herança de seus pais adotivos. Esse direito à absoluta igualdade de tratamento foi incorporado pelo art. 227, prg. 6º, da Carta Maior. Portanto, se o falecimento do autor da herança ocorreu antes da vigência da Constituição de 1988, seus filhos adotivos não concorrerão à sua herança (STF, AR 1.811, Relator(a):  Min. LUIZ FUX, Relator(a) p/ Acórdão:  Min. DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 03/04/2014).
9) Qual o juízo competente para processar o inventário?
1º exame: Jurisdição Brasileira.
- O processo de inventário deve tramitar no Brasil se houver bens situados no país (jurisdição brasileira exclusiva – CPC 2015: art. 23; e CPC-1973: art, 89, II), mesmo que o falecido seja estrangeiro e ainda que tenha domicílio no exterior.
- Se o falecido não possui bens no Brasil, mas ele tinha domicílio no Brasil ou o óbito foi em território brasileiro, é facultativa a instauração do inventário no Brasil (CPC 2015: art. 21, inc. I; CPC-1973: art. 88, inc. I).
2º exame: Competência territorial no Brasil.
- É do local do ÚLTIMO DOMICÍLIO do falecido (CCB, art. 1.785).
- Se o autor não tinha domicílio certo:
	CPC-1973:
	CPC-2015:
	- juízo do local em que se situem seus BENS (art. 96, p.u., I);
- e se NÃO possuir bens ou se possuir bens em MAIS DE UM lugar, competente será o juízo do local do ÓBITO (art. 96, p.u., II).
	- juízo do local em que se situem bens IMÓVEIS (se houver mais de um, qualquer desses locais) (art. 48, incs. I e II);
- se NÃO possuir IMÓVEIS, competente será o foro do local de qualquer dos bens (art. 48, inc. III).
- A jurisprudência do STJ acolhe o entendimento majoritário de que a competência é relativa, e, portanto, não pode ser conhecida de ofício pelo magistrado e pode ser prorrogada caso não seja apresente a exceção no prazo legal (CPC-1973: 114; CPC-2015: art. 65).
10) Qual o juízo competente para processar as causas de interesse da herança?
Ações contra o espólio devem tramitar perante o foro do local em que se processa o inventário (ou, caso não tenha sido instaurado, perante o último domicílio do falecido) (CPC-2015: art. 48; CPC-1973: art. 96), exceto se a competência para processar e julgar a ação contra o espólio for de natureza absoluta, como ocorre com as causas possessórias e dominiais imobiliárias (CPC-2015: art. 47; CPC-1973: art. 95), caso em que devem tramitar no foro da situação da coisa.
	II. Capacidade sucessória: quem pode ser herdeiro?
	
Herdeiro legítimo:
Art. 1.798. Legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou já concebidas no momento da abertura da sucessão.
- Os nascituros têm legitimidade hereditária, mas o domínio e a posse da herança submetem-se ao nascimento com vida.
- De acordo com parte da doutrina, a concepção que legitima ao recebimento da herança pode ser in vivo (nidação) ou in vitro (embrião fecundado em laboratório). Mesmo que a implantação do embrião na viúva ocorra após a partilha, o filho não poderá ser prejudicado em seus direitos hereditários e pode se valer da petição de herança (art. 1.824) para defendê-los.
Esse é o sentido do enunciado n. 267 das Jornadas de Dir. Civil do CJF, “a regra do art. 1.798 do Código Civil deve ser estendida aos embriões formados mediante o uso de técnicas de reprodução assistida, abrangendo, assim, a vocação hereditária da pessoa humana a nascer cujos efeitos patrimoniais se submetem às regras previstas para a petição da herança.
- Durante a gestação, admite-se a designação de um curador do ventre para administrar os bens até o nascimento com vida, que será a gestante, salvo se interditada, caso em que seu curador será, por extensão, o curador do nascituro.  Vide procedimento da posse em nome do nascituro nos artigos 877 e 878, do CPC-1973. Não há correspondente no CPC-2015, devendo ser adotadas as regras dos procedimento de jurisdição voluntária.
	
Herdeiro testamentário:
Art. 1.799. Na sucessão testamentária podem ainda ser chamados a suceder:
I – os filhos, ainda não concebidos (prole eventual ou concepturo), de pessoas indicadas pelo testador, desde que vivas estas ao abrir-se a sucessão;
	Art. 1800. § 4o Se, decorridos dois anos após a abertura da sucessão, não for concebido o herdeiro esperado, os bens reservados, salvo disposição em contrário do testador, caberão aos herdeiros legítimos.
	A disposição testamentária para a prole eventual pode se dar por meio da substituição fideicomissária (CCB, art. 1.951 e seguintes).
- O testamento contempla um herdeiro fiduciário, um herdeiro fideicomissário (concepturo – CCB, art. 1.951) e a designação de um termo ou de uma condição à escolha do testador. O fiduciário, se aceitar a herança, terápropriedade resolúvel sobre a deixa testamentária até que sobrevenha o termo ou a condição designada pelo testador. A partir daí, sua propriedade se resolve e será transmitida ao fideicomissário.
II - as pessoas jurídicas (já existentes);
III - as pessoas jurídicas, cuja organização for determinada pelo testador sob a forma de fundação.
	III. Sucessão legítima:
(ordem de vocação hereditária).
	
TRÊS REGRAS FUNDAMENTAIS:
1) Ordem preferencial de classes: descendentes (com possível concorrência do cônjuge ou do companheiro),ascendentes (com possível concorrência do cônjuge ou do companheiro), cônjuge, colaterais ou transversais(com possível concorrência com o companheiro) e companheiro.
2) A existência de herdeiros nas classes mais próximas exclui as classes mais remotas.
3) Dentro da mesma classe, os herdeiros em grau mais próximo do autor da herança afastam os herdeiros de graus mais remotos.
- EXCEÇÃO (arts. 1.833 e 1.840): DIREITO DE REPRESENTAÇÃO (arts. 1.851 a 1.856).
a) Conceito: no direito de representação, um herdeiro legítimo em grau mais afastado é chamado a herdar no lugar de parente mais próximo do autorda herança (art. 1.851).
b) Haverá sucessão por estirpe. Quem representa recebe a cota hereditária que iria para o representado. Se houver mais de um representante, eles dividirão por igual a cota que iria para o representado (art. 1.855).
c) O efeito do direito de representação é atribuir direito hereditário a pessoas que não sucederiam, por existirem herdeiros em grau mais próximo.
CINCO regras importantes do direito de representação:
1º) O direito por representação só ocorre na sucessão legítima. Na sucessão testamentária, é possível a indicação de substituto (substituição vulgar).
2º) O herdeiro representado deve ser pré-morto, comoriente ou excluído da sucessão, por indignidade (art. 1.814 – atentados contra a vida, a honra ou a liberdade de testar do autor da herança) ou por deserdação dos herdeiros necessários (arts. 1.961 a 1.965). NÃO se representa herdeiro renunciante (art. 1811).
3º) O herdeiro representado deve ser descendente (ex. filho ou neto) ou irmão do autor da herança (arts. 1.852 e 1.853). Não existe direito de representação na linha ascendente. Na linha colateral, a representação só aproveita os filhos de irmãos (sobrinhos).
4º) O representante deve ser filho do representado e deve ter legitimação para herdar.
- Se foi excluído da sucessão do pai, não poderá representá-lo na herança do avô.
- CONTUDO, se renunciou à herança do pai, PODERÁ representá-lo na herança do avô (art. 1.856).
5º) A sucessão por representação pressupõe a existência de desigualdade de graus. Para que N herde em representação ao seu pai P, é preciso que o autor da herança A, seu avô, tenha deixado ao menos outro filho que possa e queira aceitar a herança. Se não houver nenhum filho do falecido que possa e queira receber a herança, N receberá por direito próprio e não por representação. Em outras palavras: se todos os demais herdeiros do falecido que se encontrarem na mesma classe do substituído não puderem ou não quiserem herdar, ou se ele for o único de sua classe, não haverá sucessão por representação. Haverá sucessão por direito próprio (por cabeça).
	
SUCESSÃO DO DESCENDENTE
- Os filhos do falecido sucedem:
a)   por cabeça (direito próprio) e em igualdade de condições; ou
b)   por estirpe (direito de representação), como explicado no item anterior.
	
ADENDO:
 Influenciará a sucessão dos descendentes o adiantamento da legítima feito através de doações promovidas em vida pelo autor da herança, em prol dos descendentes e do cônjuge.
“Art. 544. A doação de ascendentes a descendentes, ou de um cônjuge a outro, importa adiantamento do que lhes cabe por herança”.
Existem três exceções legais a essa regra:
1ª) gastos ordinários com o filho menor (CCB, art. 2.010);
2ª) doações remuneratórias (CCB, art. 2.011);
3ª) dispensa de colação: ocorre quando, no título da doação ou no testamento houver imputação da doação à parte disponível pelo testador (CCB, art.  2.005 e CCB, art.  2.006). Nesse caso, o que se deve observar é se houve invasão da cota IGUALITÁRIA dos coerdeiros necessários sobre a legítima. Se houver invasão, haverá doação INOFICIOSA e NULIDADE do EXCESSO (CCB, art. 549).
- O descendente donatário deverá colacionar as doações no processo de inventário do doador (CCB, art. 2.002), até a apresentação das últimas declarações (CCB, art. 1.996), apresentando o valor do bem doado no momento da liberalidade (CCB, art. 2.004), para igualar a cota de cada descendente ou cônjuge concorrente sobre a legítima (CCB, art. 2.003).
- Também devem ser colacionados os bens doados ao renunciante e ao representado, no caso da sucessão pelo direito de representação (CCB, arts. 2.008 e 2.009).
- A doação colacionada acrescenta à legítima, para divisão igualitária das cotas (CCB, arts. 1.847 e 2.002).
- Promovida a colação, se ficar constatado que o patrimônio doado extrapolou a parte disponível e invadiu a legítima, prejudicando a igualdade na legítima entre os coerdeiros necessários concorrentes, poderá ser reconhecida a nulidade parcial da doação (CCB, art. 549), apenas quanto ao excesso. Haverá a redução da doação ou da disposição testamentária inoficiosa (CCB, art. 2.007).
- Essa redução é feita pela ordem da mais recente, para a mais antiga, até que seja viável o estabelecimento da igualdade (CCB, art. 2.007, prg. 4º).
- Se não houver a colação, quando esta era necessária, poderá ser promovida pelos prejudicados AÇÃO autônoma de SONEGADOS (CCB, art. 1.994), que implica em três consequências:
1ª) a restituição do bem doado (ou seu valor no momento do recebimento) ao monte hereditário (CCB, art. 1.995), para que seja partilhado ou sobrepartilhado;
2ª) a remoção do sonegante da condição de inventariante, se o inventário ainda estiver em curso (CCB, art. 1.993); e
3ª) a perda da participação sucessória sobre o bem (CCB, art. 1.992).
	
SUCESSÃO DO ASCENDENTE
- Os pais sucedem por cabeça (direito próprio) em igualdade de condições.
- Se apenas um dos pais é vivo, receberá toda a herança, pois não há direito de representação na classe dos ascendentes.
- Se nenhum dos pais for vivo, os avós sucedem por linha: metade da herança vai para a linha materna (avós maternos) e a outra metade para a linha paterna (avós paternos), quantos quer que sejam os ascendentes em cada linha sob o mesmo grau.
	
SUCESSÃO DO COLATERAL:
- Os colaterais são chamados a suceder se não houver descendentes, ascendentes ou cônjuge sobreviventes.
- Os colaterais de grau mais próximo excluem os mais remotos. Exemplo: se o falecido deixou irmãos vivos (que são colaterais de segundo grau), os sobrinhos e tios (que são colaterais de terceiro grau) não herdam.
- Se o falecido deixou seus irmãos como herdeiros, duas regras são importantes:
i) os irmãos unilaterais recebem apenas metade da cota dos irmãos bilaterais;
ii) se um dos irmãos for premorto ou excluído da sucessão (por indignidade ou deserdação), os filhos dele (sobrinhos do falecido), poderão herdar por representação (estirpe) a cota hereditária que caberia ao genitor.
- Se o falecido não deixou irmãos vivos, herdam os colaterais de terceiro grau. Para garantir maior continuidade do patrimônio, os sobrinhos preferem aos tios (os tios somente recebem a herança se o falecido não tiver sobrinhos vivos ou que possam ou queiram herdar). Ademais, não há direito de representação em favor de sobrinhos-netos. Se o sobrinho é premorto ou excluído da sucessão (por indignidade ou deserdação), os filhos deste jamais herdarão a sua cota-parte por estirpe.
- Se não houver herdeiro colateral em terceiro grau ou se nenhum deles quiser ou puder herdar, a herança será dividida por cabeça, ou direito próprio, entre os colaterais em quarto grau (primos, tios-avós e sobrinhos-netos). Não há ordem preferencial no quarto grau.
	
SUCESSÃO DO CÔNJUGE:
1º) QUANDO O CÔNJUGE HERDA?
1.1) Legitimidade sucessória:
- De acordo com o art. 1830, do CCB, o cônjuge somente possui legitimidade para suceder como herdeiro legítimo se não estiver separado judicialmente ou separado de fato há mais de dois anos.
- Contudo, se a separação de fato não decorreu de culpa sua, terá legitimidade sucessória. A regra é criticada pela doutrina que considera que, com a separação de fato, deveria cessar o direito à herança, pouco importando qualquer discussão póstuma sobre a culpa pelo fim da união.
1.2) Direito real de habitação. O cônjuge que possui legitimidade sucessória terá automaticamente direito real de habitação relativamente ao imóvel destinado à residência da família:
	CCB, art. 1831. “Ao cônjuge sobrevivente, qualquer que seja o regime de bens, será assegurado, sem prejuízo da participação que lhe caiba na herança, o direito real de habitação relativamente ao imóvel destinado à residênciada família, desde que seja o único daquela natureza a inventariar.”
- De acordo com a redação do artigo, o direito é vitalício e perdurará mesmo que o viúvo case-se novamente ou constitua união estável. O artigo não instituiu tais limitações, embora tal interpretação seja criticada pela doutrina.
- Atenção:no regime anterior, somente cônjuge casado sob regime da comunhão universal tinha direito de habitação e o direito durava enquanto durasse a sua viuvez (art. 1611, prg. 2º, do CCB-1916). Os casados em outros regimes de bens tinham direito ao usufruto vidual, na proporção da quarta parte dos bens, quando concorriam com filhos do falecido, comuns ao casal ou não, ou da metade dos bens quando concorriam com ascendentes do falecido (art. 1611, prg 1º, do CCB-1916). “O direito real de habitação conferido pelo novo diploma civil à viúva sobrevivente, não alcança as sucessões abertas na vigência da legislação revogada (art. 2.041 do CC/2002)” (STJ, Informativo 495, de abril de 2012.. REsp 1.204.347-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 12/4/2012).
- O direito se aplica ao imóvel comum ao casal ou exclusivo do falecido. O importante é que ele detenha propriedade do bem quando falecer (STJ, REsp 1273222/SP, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 18/06/2013, DJe 21/06/2013).
- Se o falecido era cotitular de bens, em conjunto com seus irmãos, não haverá direito real de habitação em favor do(a) viúvo(a). “A viúva não pode opor o direito real de habitação aos irmãos de seu falecido cônjuge na hipótese em que eles forem, desde antes da abertura da sucessão, coproprietários do imóvel em que ela residia com o marido” (STJ, Informativo 541, de junho de 2014. REsp 1.184.492-SE, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 1º/4/2014).
2º) O CÔNJUGE PODE CONCORRER COM DESCENDENTES, A DEPENDER DO REGIME DE BENS DO CASAMENTO:
	Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte: I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares.
- comunhão universal: não concorre com descendentes;
- separação obrigatória ou legal (art. 1641): não concorre com descendentes;
O tratamento dispensado pelo legislador é incoerente, visto que tem sido admitida a aplicação do enunciado sumular n. 377, do STF, que aproxima o regime da separação legal do regime da comunhão parcial ao permitir a comunicação dos aquestos (bens adquiridos durante a união afetiva). Contudo, no campo sucessório, as consequências são bem diferentes a depender do regime adotado.
- separação convencional: para a maioria da doutrina concorre com os descendentes (Enunciado 270 das 3ª Jornada de Direito Civil do CJF).
- Conforme julgado divulgado no INFORMATIVO 562, de maio de 2015, a Segunda Seção do STJ pacificou a divergência e fixou o entendimento de que no regime de separação convencional de bens, o cônjuge sobrevivente concorre na sucessão causa mortis com os descendentes do autor da herança.
REsp 1.382.170-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, Rel. para acórdão Min. João Otávio de Noronha, julgado em 22/4/2015, DJe 26/5/2015. (SEGUNDA SEÇÃO):  “Quem determina a ordem da vocação hereditária é o legislador, que pode construir um sistema para a separação em vida diverso do da separação por morte. E ele o fez, estabelecendo um sistema para a partilha dos bens por causa mortis e outro sistema para a separação em vida decorrente do divórcio. Se a mulher se separa, se divorcia, e o marido morre, ela não herda. Esse é o sistema de partilha em vida. Contudo, se ele vier a morrer durante a união, ela herda porque o Código a elevou à categoria de herdeira. São, como se vê, coisas diferentes. Ademais, se a lei fez algumas ressalvas quanto ao direito de herdar em razão do regime de casamento ser o de comunhão universal ou parcial, ou de separação obrigatória, não fez nenhuma quando o regime escolhido for o de separação de bens não obrigatório, de forma que, nesta hipótese, o cônjuge casado sob tal regime, bem como sob comunhão parcial na qual não haja bens comuns, é exatamente aquele que a lei buscou proteger, pois, em tese, ele ficaria sem quaisquer bens, sem amparo, já que, segundo a regra anterior, além de não herdar (em razão da presença de descendentes) ainda não haveria bens a partilhar. Essa, aliás, é a posição dominante hoje na doutrina nacional, embora não uníssona. No mesmo sentido, caminha o Enunciado 270 do CJF, aprovado na III Jornada de Direito Civil, ao dispor que: “O art. 1.829, inc. I, só assegura ao cônjuge sobrevivente o direito de concorrência com os descendentes do autor da herança quando casados no regime da separação convencional de bens ou, se casados nos regimes da comunhão parcial ou participação final nos aquestos, o falecido possuísse bens particulares, hipóteses em que a concorrência se restringe a tais bens, devendo os bens comuns (meação) ser partilhados exclusivamente entre os descendentes”. Ressalta-se ainda que o art. 1.829, I, do CC, ao elencar os regimes de bens nos quais não há concorrência entre cônjuge supérstite e descendentes do falecido, menciona o da separação obrigatória e faz constar entre parênteses o art. 1.640, parágrafo único. Significa dizer que a separação obrigatória a que alude o dispositivo é aquela prevista no artigo mencionado entre parênteses. Como registrado na doutrina, a menção ao art. 1.640 constitui equívoco a ser sanado. Tal dispositivo legal não trata da questão. A referência correta é ao art. 1.641, que elenca os casos em que é obrigatória a adoção do regime de separação. Nessas circunstâncias, uma única conclusão é possível: quando o art. 1.829, I, do CC diz separação obrigatória, está referindo-se apenas à separação legal prevista no art. 1.641, cujo rol não inclui a separação convencional. Assim, de acordo com art. 1.829, I, do CC, a concorrência é afastada apenas quanto ao regime da separação legal de bens prevista no art. 1.641 do CC, uma vez que o cônjuge, qualquer que seja o regime de bens adotado pelo casal, é herdeiro necessário (art. 1.845 do CC).
- participação final nos aquestos e comunhão parcial: concorre com descendentes, mas existem QUATROperspectivas diferentes sobre como se daria essa participação, de acordo com interpretações diferentes do artigo 1.829, inciso I, do CCB: “Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte: I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se (...); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares.”
A questão controvertida quanto ao regime da comunhão parcial e da participação final nos aquestos é a seguinte: suponhamos que o falecido tenha deixado bens particulares ou próprios (que não entraram na meação) e bens que já foram divididos na meação. O que o cônjuge viúvo herdará?
Se houver bens próprios do falecido (que não foram objeto da meação), a concorrência hereditária do cônjuge com os filhos ocorrerá...
	1ª CORRENTE:  quanto aos bens próprios.
	2ª CORRENTE: quanto aos bens comuns. 
	3ª CORRENTE: quanto a todos os bens, comuns e próprios.
	4ª CORRENTE:  não haverá concorrência hereditária do cônjuge com os filhos. 
 1ª CORRENTE (DOMINANTE): o cônjuge sobrevivente somente concorrerá com os descendentes em relação aos BENS PRÓPRIOS (quanto aos bens comuns, só tem direito à meação): Enunciado 270 da 3a Jornada de Direito Civil do CJF, Christiano Cassetari, Eduardo de Oliveira Leite, Flavio Tartuce, Giselda Hironaka, Rodrigo da Cunha Pereira, Rolf Madaleno, Zeno Veloso. STJ: QUARTA TURMA, REsp 974.241/DF, Rel. Ministro HONILDO AMARAL DE MELLO CASTRO (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/AP), Rel. p/ Acórdão Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, julgado em 07/06/2011, DJe 05/10/2011
2ª CORRENTE: O cônjuge tem direito à meação e à herança apenas sobre os BENS COMUNS (duplo título). É a corrente defendida por Chaves e Rosenvald. STJ: TERCEIRA  TURMA: “Preserva-se o regime da comunhão parcial de bens, de acordo com o postulado da autodeterminação, ao contemplar o cônjuge sobrevivente com o direito à meação, além da concorrência hereditária sobre os bens comuns, mesmo que haja bens particulares, os quais, emqualquer hipótese, são partilhados apenas entre os descendentes (Resp 1.117.563/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, julgado em 17/12/2009, DJe 06/04/2010).
3ª CORRENTE: se o falecido deixar bens particulares seus (alheios a meação), o sobrevivente participa da herança com os descendentes sobre o ACERVO HEREDITÁRIO TOTAL (bens particulares e os comuns): Guilherme Calmon Nogueira da Gama, Inácio de Carvalho Neto, Luiz Paulo de Vieira Carvalho, Maria Helena Diniz, Francisco Jose Cahali.
4ª CORRENTE: se o falecido deixar bens particulares seus (alheios a meação), a sucessão do cônjuge fica EXCLUÍDA. Só há sucessão na hipótese em que o falecido não deixou bens particulares, concorrendo o cônjuge sobrevivente com os descendentes, na herança dos bens comuns (“Ponto final”. Disponível em: <http://www.mariaberenicedias.com.br/site/content.php?cont_id=108&isPopUp=t rue>, acesso em 22 set. 2009).
3º) QUANDO O CÔNJUGE CONCORRE COM OS DESCENDENTES PODE TER DIREITO À RESERVA DE UM QUARTO DA HERANÇA:
	Art. 1.832. Em concorrência com os descendentes (art. 1.829, inciso I) caberá ao cônjuge quinhão igual ao dos que sucederem por cabeça, não podendo a sua quota ser inferior à quarta parte da herança, se for ascendente dos herdeiros com que concorrer.
- Se o cônjuge concorrer com descendentes, terá direito a cota hereditária igual a dos descendentes.
- Mas se os descendentes (filhos ou netos) forem comuns ao sobrevivente e ao falecido, tem direito ao mínimo de¼ (um quarto) da herança (CCB 1832).
- E se houver filiação hibrida (a pessoa falecida teve filhos com o cônjuge sobrevivente e também teve filhos com outra pessoa)?
ORIENTAÇÃO DOMINANTE: NÃO haverá direito à reserva de ¼. Para a maioria, somente haverá reserva de um quarto da herança para o cônjuge se ele for ascendente de todos os filhos com quem concorre (Enunciado 527 das Jornadas de Direito Civil do CJF, Caio Mario, Flavio Tartuce, Maria Berenice Dias, Maria Helena Diniz, Rodrigo da Cunha Pereira, Rolf Madaleno, Sebastião Amorim, Zeno Veloso, Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald).
ORIENTAÇÃO MINORITÁRIA: cônjuge tem direito a reserva de ¼: (Francisco José Cahali, José Fernando Simão e Silvio Venosa).
4º) CONCORRÊNCIA DO CÔNJUGE COM ASCENDENTES:
- independe do regime de bens;
- tem direito à mesma cota que o(s) pai(s) do falecido, mas se concorrer com avós do falecido, possui direito àmetade da herança (CCB 1837), a outra metade será dividida entre os avós, por linha.
5º) PREFERÊNCIA DO CÔNJUGE AOS COLATERAIS. Na falta de descendentes e ascendentes, a sucessão hereditária vai, por inteiro, ao cônjuge, que prefere aos colaterais.
	
SUCESSÃO DO COMPANHEIRO:
A participação do(a) companheiro(a) está descrita no art. 1790 do CCB. As regras relacionadas à sucessão do companheiro são assimétricas em relação às regras da sucessão do cônjuge. Para o STF, é INCONSTITUCIONAL a distinção de regime sucessório entre cônjuges e companheiros. Essa conclusão possui REPERCUSSÃO GERAL e foi adotada no julgamento do RE 646.721:
"Ementa: Direito constitucional e civil. Recurso extraordinário. Repercussão geral. Aplicação do artigo 1.790 do Código Civil à sucessão em união estável homoafetiva. Inconstitucionalidade da distinção de regime sucessório entre cônjuges e companheiros. 1. A Constituição brasileira contempla diferentes formas de família legítima, além da que resulta do casamento. Nesse rol incluem-se as famílias formadas mediante união estável, hetero ou homoafetivas. O STF já reconheceu a “inexistência de hierarquia ou diferença de qualidade jurídica entre as duas formas de constituição de um novo e autonomizado núcleo doméstico”, aplicando-se a união estável entre pessoas do mesmo sexo as mesmas regras e mesas consequências da união estável heteroafetiva (ADI 4277 e ADPF 132, Rel. Min. Ayres Britto, j. 05.05.2011) 2. Não é legítimo desequiparar, para fins sucessórios, os cônjuges e os companheiros, isto é, a família formada pelo casamento e a formada por união estável. Tal hierarquização entre entidades familiares é incompatível com a Constituição de 1988. Assim sendo, o art. 1790 do Código Civil, ao revogar as Leis nº 8.971/1994 e nº 9.278/1996 e discriminar a companheira (ou o companheiro), dando-lhe direitos sucessórios bem inferiores aos conferidos à esposa (ou ao marido), entra em contraste com os princípios da igualdade, da dignidade humana, da proporcionalidade como vedação à proteção deficiente e da vedação do retrocesso. 3. Com a finalidade de preservar a segurança jurídica, o entendimento ora firmado é aplicável apenas aos inventários judiciais em que não tenha havido trânsito em julgado da sentença de partilha e às partilhas extrajudiciais em que ainda não haja escritura pública. 4. Provimento do recurso extraordinário. Afirmação, em repercussão geral, da seguinte tese: “No sistema constitucional vigente, é inconstitucional a distinção de regimes sucessórios entre cônjuges e companheiros, devendo ser aplicado, em ambos os casos, o regime estabelecido no art. 1.829 do CC/2002” (RE 646.721, Relator(a):  Min. MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão:  Min. ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 10/05/2017, ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-204 DIVULG 08-09-2017 PUBLIC 11-09-2017).
	IV. PETIÇÃO DE HERANÇA (CCB, arts. 1824 a 1828):
a)  Objetivo: ação real que visa reconhecer o direito sucessório de alguém que está sendo ou foi preterido na partilha. Há sempre uma discussão sobre a qualidade do direito à herança. O objetivo é reconhecer esse direito e obter a restituição total ou parcial da herança de quem, na qualidade de herdeiro ou não, a possua (CCB, art. 1827).
- A petição de herança pode ser proposta durante a tramitação do inventário ou após a partilha. Para Giselda Hironaka, o reconhecimento de que o demandante da petição de herança foi preterido de seu direito hereditário, implica a ineficácia da partilha ou da adjudicação, para que haja a restituição da herança ao monte-mor e haja a correção da distribuição da herança em novo processo de inventário. Parte da doutrina entende que a procedência da petição de herança implica nulidade da partilha e não ineficácia. De qualquer forma, procedente a petição de herança, deverá haver uma nova partilha de bens, a ser executada mediante simples petição, sem necessidade de propositura de ação anulatória autônoma após o trânsito em julgado da sentença de procedência da petição de herança.
b)  Legitimidade passiva:
- Antes da partilha, o STJ admite o ajuizamento contra o espólio, a ser representado pelo inventariante (salvo se dativo).
- Após a partilha: a ação será ajuizada contra os herdeiros e outros possuidores sucessivos da herança, que o adquiriram por transmissão de herdeiro.
EXCEÇÃO: Se a petição de herança é cumulada com investigação de paternidade ou de reconhecimento e dissolução de união estável pós-morte, devem constar como demandados os herdeiros do autor da herança (AgRg no Ag 580.197/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 14/04/2009, DJe 04/05/2009).
c)  Casos mais comuns:
- As hipóteses mais comuns de petição de herança ocorrem em pedidos cumulados de investigação de paternidade ou de reconhecimento e dissolução de união estável pós-morte. Quando existe essa cumulação, o juízo competente é da Vara de Família do domicílio dos herdeiros, e, se forem vários, pode ser indicado o domicílio de qualquer deles.
- Há uma outra hipótese comum: a ação de petição de herança pode ser proposta pelo herdeiro testamentário ou legatário que não recebeu seu direito sucessório por desconhecimento ou supressão do testamento ao tempo da partilha.  Nesse caso, as regras de competência são as seguintes:
i) Se ainda tramitar o inventário, para o STJ a competência é do “foro do domicílio do autor de herança, no Brasil (CPC-2015: art. art. 48; CPC-1973: art. 96), que é o competente para “o inventário, a partilha, a arrecadação, o cumprimento de disposições de última vontade e todas as ações em que o espólio for réu, ainda que o óbito tenha ocorridono estrangeiro."
ii) Se já foi já encerrado o inventário, com trânsito em julgado da sentença homologatória da partilha, essa regra especial de fixação de competência não incide (CC 124.274/PR, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 08/05/2013, DJe 20/05/2013).
d)  Efeitos da sentença: Havendo acolhimento do pedido, o demandado, que figurar como possuidor da herança, terá regulada a sua responsabilidade de restituir a herança segundo a qualidade da sua posse, que será considerada de má-fé após a citação, caso a demanda seja julgada procedente (CCB, art. 1826). Caso o possuidor do bem que compõe a herança tenha adquirido onerosamente e de boa-fé um bem que lhe foi alienado por quem figurava como herdeiro aparente, mas depois veio a ser afastado da sucessão, ele será mantido com a propriedade e posse do bem, pois o negócio e válido e eficaz. Contudo, nesse caso, o alienante (que veio a ser excluído da sucessão) responderá pelos prejuízos causados a quem foi privado injustamente da herança (CCB, arts. 1827 e 1827).
e)Prazo prescricional: Incide a prescrição sobre a demanda de petição de herança mas não sobre a demanda de investigação de paternidade (Enunciado Sumular n. 149, do STF). Existe doutrina contra a prescritibilidade da petição de herança: Giselda Hironaka e Flávio Tartuce. Mas essa não é a posição dominante. O prazo prescricional é de 10 anos (art. 205, do CCB). Há divergências sobre o início do prazo prescricional. Mas existem precedentes do STF e do STJ que iniciam o seu cômputo com a morte (STF, RE 74.100, julgado em 1973; STJ, AgRg no Ag 1247622/SP, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 05/08/2010, DJe 16/08/2010). Mas vale lembrar que o prazo prescricional não flui contra o absolutamente incapaz (art. 198, inc. I, do CCB).
	V. Sucessão testamentária:
	-O que é o testamento?
O testamento é:
- um negócio jurídico (não é um ato jurídicostricto sensupois nem todos os seus efeitos estão predeterminados na lei; há margem significativa de liberdade para instituí-los),
-mortis causa(a morte compõe o seu suporte fático como elemento integrativo e não apenas acessório, como se fosse condição ou termo),
-personalíssimo(só o testador pode fazer o testamento e não pode ser representado, no ato, por procurador ou pelo representante legal),
- unilateral(se aperfeiçoa com uma única manifestação de vontade),
-não-receptício(a sua aptidão para produzir efeitos independe do conhecimento do destinatário),
- gratuito(somente uma das partes aufere vantagens; a existência de encargos não descaracteriza a gratuidade),
-solene(a escritura pública é condição de validade) e
-revogávelpelo testador (mediante outro testamento).
Quem pode testar?
- Toda pessoa capaz e dotada de discernimento no momento de sua elaboração.
- Excepcionalmente, é deferida capacidade testamentária ativa plena ao maior de dezesseis anos, independentemente de estar assistido pelo seu representante legal.
	Art. 1.857. Toda pessoa capaz pode dispor, por testamento, da totalidade dos seus bens, ou de parte deles, para depois de sua morte.
Art. 1.860. Além dos incapazes, não podem testar os que, no ato de fazê-lo, não tiverem pleno discernimento.
Parágrafo único. Podem testar os maiores de dezesseis anos.
Testamento: formas de testamento, nulidade, anulação, rompimento, caducidade e revogação.
Formas ordinárias de testamento e suas formalidades essenciais:
- Público (CCB, art. 1864): o testador comparece a presença do tabelião – declara o testamento – tabelião lê ao testador e a duas testemunhas – todos assinam – registra-se o testamento.
[Para a maioria da doutrina, mudo não pode. Cego só pode testar de forma publica].
- Abertura: Quando o testamento for público, qualquer interessado, exibindo-lhe o traslado ou certidão, poderá requerer ao juiz que ordene o seu cumprimento (CPC-2015: art. 736; CPC-1973: art. 1.128). O processamento da abertura do testamento seguirá o art. 735, do CPC-2015, ou os arts. 1.125 e 1.126, do CPC-1973.
- Cerrado ou místico (CCB, art. 1868): testador (ou pessoa a seu pedido) escreve, assina, entrega ao tabelião na presença de duas testemunhas, declara que o testamento e de sua vontade – testador imediatamente lacra o testamento, lavra o auto de aprovação e lê (o auto, não o testamento) na frente das duas testemunhas – todos assinam – o testamento e entregue ao testador. Quando ele falecer, o testamento será apresentado ao juiz, que o abrira, registrara e determinara seu cumprimento.
- Ao receber testamento cerrado, o juiz, após verificar se está intacto [sem vício externo que o torne suspeito de nulidade ou de falsidade], o abrirá e mandará que o escrivão o leia em presença de quem o entregou. Lavrar-se-á em seguida o ato de abertura. Conclusos os autos, o juiz, ouvido o órgão do Ministério Público, mandará registrar, arquivar e cumprir o testamento, se não houver dúvidas a serem esclarecidas (CPC-2015: art. 735; CPC-1973: art. 1.125).
- Particular ou hológrafo (CCB, art. 1876): testador escreve o testamento (autográfico), lê na presença de três testemunhas, todos assinam. Quando o testador falecer, o testamento será apresentado por qualquer pessoa em juízo, será registrado em juízo, serão chamadas as testemunhas para serem inquiridas e confirmarem suas assinaturas, em audiência com a presença dos herdeiros legítimos, testamentários e legatários e do MP. Se as testemunhas forem incontestes sobre o fato da disposição, ou, ao menos, sobre a sua leitura perante elas, e se reconhecerem as próprias assinaturas, assim como a do testador, o testamento será confirmado. Se faltarem testemunhas, por morte ou ausência, e se pelo menos uma delas o reconhecer, o testamento poderá ser confirmado, se, a critério do juiz, houver prova suficiente de sua veracidade (CCB, 1878, p. único). Em seguida, não havendo irresignação, o juiz confirmará sua autenticidade e será publicado o testamento (CPC-2015: art. 737; CPC-1973: arts. 1.130 a 1.133).
   - Testamento nuncupativo: CCB, art. 1879: Em circunstâncias excepcionais, declaradas na cédula testamentária, poderá ser confirmado pelo juiz testamento confeccionado de próprio punho pelo testador, ainda que não haja testemunhas.
O testamento será integralmente nulo se:
(a) for realizado por pessoa que não possuía pleno discernimento para testar (absolutamente ou relativamente incapaz – salvo maior de 16 anos, que pode testar mesmo sem ser assistido),
(b) testamento que não obedeceu as solenidades legais,
(c) testamento conjunto e correspectivo (feito mediante condição captatória).
- Embora o testamento seja válido, a cláusula testamentária pode ser nula se:
(a) se referir a pessoa incerta, sem identidade averiguável ou definida pelo arbítrio de terceiro [mas o legado será valido se a individualização ocorrer em coletividade limitada – CCB 1901, inc. I],
(b) dispuser sobre valor ou legado definido pelo arbítrio de terceiro [mas o legado pode ser incerto se o valor corresponder a remuneração dos serviços prestados ao testador para tratamento da moléstia da qual faleceu – CCB, art. 1901, inc. II] ou
(c) favorecer pessoa excluída por ilegitimidade (CCB, art. 1801/1802: i) pessoa que escreveu, testemunhou ou aprovou o testamento; ii) concubino do testador casado – salvo se separado de fato ha mais de 05 anos -, bem como iii) ascendentes, descendentes, irmãos ou cônjuges dessas pessoas excluídas por ilegitimidade, que são consideradas “pessoas interpostas”).
- Prazo decadencial: 05 anos a partir do registro do testamento (CCB, art. 1859).
 O testamento ou a disposição testamentária (cláusula) será anulável se for inquinada de erro, dolo ou coação (CCB, art. 1.909). O prazo decadencial será de 04 anos a partir do conhecimento do vicio pelo interessado.
 Caducidade do testamento, da disposição testamentária ou do legado: ocorre se, antes da abertura da sucessão,
(a) o objeto da disposição for alterado substancialmente ou desaparecer da esfera de titularidade do testador (perda, alienação, evicção),
(b) houver premoriência ou exclusãopor indignidade do herdeiro testamentário ou do legatário.
Não ha invalidação, mas perda da eficácia.
 Rompimento do testamento: ocorre quando, depois de lavrado o testamento, sobrevém um descendente ao testador (desde que antes dele o testador não tenha nenhum) ou outros herdeiros necessários (ascendentes ou cônjuge) do testador cuja existência ou sobrevivência ele desconhecia. Consequência: o testamento será ineficaz em todas as suas disposições. Exceção: não obstante os fatos acima descritos ocorram, as disposiçõestestamentárias serão eficazes se o herdeiro necessário em questão morrer antes do testador ou se o testamento apenas tratar da parte disponível sem contemplar os herdeiros necessários de cuja existência já sabia (CCB, arts. 1973 a 1975).
 Revogação do testamento: somente por outro testamento valido (ainda que não venha a ter eficácia). Exceção: o testamento cerrado que for aberto ou dilacerado com o consentimento do testador será considerado revogado (CCB, arts. 1969 a 1972).
	
Codicilo: (CCB, arts. 1881 a 1885)
- conteúdo: disposições personalíssimas sobre enterro, doação de bens moveis de baixo valor ou de uso pessoal, nomeação ou substituição de testamenteiro, mas pode ser aproveitado para o reconhecimento de filhos.
- forma: não constitui ato solene. Deve ser escrito e não pode ser a rogo.
- revogação: podem ser revogados pela mesma forma. ATENCAO: testamento posterior ao codicilo que não o confirmar ou modificar expressamente, o revoga (CCB, art. 1.884).
	VI. Aceitação, renúncia e exclusão da herança indignidade e deserdação e representação do herdeiro excluído).
Formas de Aceitação e Renúncia da herança:
- Aceitação: negócio jurídico unilateral, não-receptício (os seus efeitos independem da comunicação a outrem), incondicional (puro e simples, insuscetível de termo ou condição, que são ineficazes), irretratável (embora possa ser anulável se houver vício de consentimento) e indivisível quanto ao mesmo direito ou qualidade hereditária (CCB, art. 1808: não pode aceitar parcialmente a herança, mas se pode aceitar a herança e renunciar ao legado, ou vice-versa, ou aceitar a herança de uma pessoa e renunciar à herança de outra).
- Formas de aceitação:
a) expressa: feita por declaração escrita (CCB, art. 1805, parte inicial);
b) tácita: atos próprios da qualidade de herdeiro (CCB, art. 1805, parte final. Exs: constituição de advogado para atuar no inventario, assunção da apreensão física de bens da herança etc.). Não exprimem aceitação atos de solidariedade familiar (gastos com funeral), atos de conservação e administração dos bens que compõem o acervo hereditário (CCB, art. 1805, §1º);
c) presumida: CCB, art. 1807: “O interessado em que o herdeiro declare se aceita, ou não, a herança, poderá, vinte dias após aberta a sucessão, requerer ao juiz (no direito romano, o requerimento era feito por meio da actio interrogatorium) prazo razoável, não maior de trinta dias, para, nele, se pronunciar o herdeiro, sob pena de se haver a herança por aceita.” O silencio presumirá a aceitação. Trata-se de EXCEÇÃO à regra geral do Direito Civil, de que “quem cala NÃO consente”.
Transmissão (ou sucessão hereditária) do direito de aceitar a herança:
Trata-se de instituto previsto no artigo 1809, do CCB:
CCB 1.809: Falecendo o herdeiro antes de declarar se aceita a herança, o poder de aceitar passa-lhe aos herdeiros, a menos que se trate de vocação adstrita a uma condição suspensiva, ainda não verificada.
	Essa exceção a que se refere o artigo ocorre na sucessão testamentária, quando o testamento prevê que a transmissão da deixa testamentária ou do legado deva ocorrer apenas após o advento de uma condição suspensiva. Se o falecimento do herdeiro testamentário ou legatário ocorrer antes do implemento da condição, não haverá transmissibilidade da herança, pois o não implemento da condição suspensiva impede a aquisição do direito (CCB 125). Logo, caso haja o falecimento do herdeiro testamentário cuja vocação (ou qualidade) estava suspensa até o advento da condição, o benefício caducará, ele não terá direito à herança, e, por consequência, os seus próprios sucessores não terão direito de aceitar algo que não existe.
Parágrafo único. Os chamados à sucessão do herdeiro falecido antes da aceitação, desde que concordem em receber a segunda herança, poderão aceitar ou renunciar a primeira.
	Somente os herdeiros que aceitarem a herança do falecido poderão exercer o direito de aceitar ou de renunciar a herança transmitida ao falecido antes de sua morte. Para o exercício desse direito, devem concordar em aceitar a herança daquele em nome de quem vão se pronunciar.
Renúncia: expressa, incondicionável, indivisível quanto à mesma qualidade hereditária, irretratável e solene: deve ser feita por instrumento público ou termo nos autos.
- Classificação:
a) abdicativa (renúncia propriamente dita, pura e simples) ou
b) translativa (renúncia em favor de pessoa determinada e implica em cessão da herança e dupla incidência tributária ITCD e ITBI).
- Requisitos de validade da renúncia à herança:
a) Capacidade jurídica de fato para a prática do ato.
b) Consentimento do cônjuge. O Código não exige a outorga para a renúncia abdicativa da herança. Existem duas correntes.
Doutrina a favor da exigência de outorga conjugal: Francisco Cahali, Carlos Roberto Gonçalves e Eduardo de Oliveira Leite.  Argumento: a disposição de direitos imobiliários impõe a anuência do cônjuge, que deve ter ciência da forma como o cônjuge administra o seu patrimônio de maior expressão (bens imóveis).  Aplicação da regra do art. 1647, inc, I, do CCB (alienação de direito real sobre a herança, que é bem imóvel).
Doutrina contrária à exigência: Washington de Barros, Maria Helena Diniz, Silvio Rodrigues. Argumento: Não há disposição de propriedade imobiliária, pois ela não se incorpora à esfera de direitos do renunciante.
c) Inexistência de prejuízos aos seus credores.
CCB, art. 1813: Quando o herdeiro prejudicar os seus credores, renunciando à herança, poderão eles, com autorização do juiz, aceitá-la em nome do renunciante (aceitação indireta). § 1o A habilitação dos credores se fará no prazo de trinta dias seguintes ao conhecimento do fato. § 2o Pagas as dívidas do renunciante, prevalece a renúncia quanto ao remanescente, que será devolvido aos demais herdeiros.
Efeitos na sucessão legítima:
a) o renunciante é excluído da sucessão, como se jamais houvesse sido chamado (efeitos retroativos à abertura da sucessão);
 b) a sua parte na herança será atribuída aos demais herdeiros da mesma classe; e
c) NÃO há direito de representação do renunciante (CCB, art. 1811).
Efeitos na sucessão testamentária: O renunciante é excluído da sucessão e seu patrimônio pode ir para o substituto indicado pelo testador (CCB, art. 1.947 – a substituição pode ser vulgar e recíproca), ou, caso não exista substituto, pode ser acrescido ao coerdeiro testamentário sobre o mesmo bem ou quinhão (CCB, art. 1.941 – direito de acrescer na conjunção real ou na mista). Se não for possível nenhuma das hipóteses, haverá a caducidade da instituição e o bem testado reverterá a favor dos herdeiros legítimos.
	Hipóteses de exclusão do herdeiro:
	
	
Exclusão do herdeiro:
Indignidade: comportamento repugnante dos herdeiros legítimos, testamentários ou legatários.
	Em que situações ocorre?
(CCB 1814)
	 Ofensa à vida. Homicídio, tentado ou consumado, contra o autor da herança, cônjuge, companheiro, ascendente, descendente.
 Ofensa à honra. Denunciação caluniosa ou crime contra a honra do autor da herança ou de seu cônjuge ou companheiro.
 Ofensa à liberdade de testar. Atos de inibição ou de impedimento da plena liberdade de testar.
	Como pode ser reconhecida a indignidade?
(CCB 1815)
	O interessado economicamente no reconhecimento da indignidade – aquele que auferirá imediato benefício patrimonial - (e o MP, se houver questão de ordem pública – CJF 116) devera ajuizar ação de declaração de indignidade, no prazo de 04 anos a partir da abertura da sucessão.Não énecessário aguardar o trânsito em julgado de sentença penal condenatória, pois há independência entre as esferas. Contudo, se houver absolvição no juízo criminal por inexistência do fato ou por negativa de autoria, isso vinculará o juízo cível (art. 935, do CCB: A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo criminal). Se houver confirmação da conduta indigna no juízo cível do processo declaratório da indignidade e posterior absolvição por esses motivos no juízo criminal, é cabível a ação rescisória (CPC-2015: art. 966, inc. VI; CPC-1973: art. 485, inc. VI).
	E possível o perdão - reabilitação?
	Sim, o autor da herança pode reabilitar expressamente no testamento ou por ato autêntico. Atenção: se o autor da herança, ofendido em vida, houver contemplado depois do ato, o ofensor em testamento, ele terá direito apenas a disposição testamentária, mas não terá direito a herança legitima, se for herdeiro (CCB, art. 1818).
 Deserdação: finalidade de excluir herdeiros NECESSÁRIOS, mediante testamento.
	Em que situações ocorre?
(CCB, art. 1961)
	Em todos os casos de indignidade;
Ofensa física
Injuria grave
Relações ilícitas do filho/filha, pai/mãe com cônjuge ou companheiro do autor do testador.
Desamparo do testador com deficiência mental ou grave enfermidade.
	Como pode ser reconhecida a deserdação?
(CCB, arts. 1964/5)
	O testador deve DECLARAR A CAUSA da deserdação no testamento. Depois do falecimento do testador, os interessados na disposição devem ajuizar, no prazo de 04 anos apos a abertura do testamento, ação declaratória de deserdação, para comprovação. As mesmas considerações feitas sobre a independência das esferas cível e criminal na indignidade são aplicáveis à deserdação.
	Pode haver perdão – reabilitação?
	Pode, mas apenas por outro testamento.
CONSEQUÊNCIAS COMUNS À INDIGNIDADE E À DESERDAÇÃO:
- DIREITO DE REPRESENTAÇÃO: o herdeiro legítimo excluído, se for descendente ou irmão do autor da herança, poderá ser representado por seus descendentes, como se fosse premorto (CCB, art. 1816 – exclusão por indignidade e extensão por analogia a deserdação). Ademais, o excluído da sucessão não terá direito ao usufruto ou à administração dos bens que a seus sucessores couberem na herança, nem à sucessão eventual desses bens, denominados EREPTÍCIOS (CCB, art. 1816, p.u.).
- TEORIA DA APARÊNCIA: perante terceiros adquirentes de boa fé, são válidos e eficazes os atos onerosos praticados pelo herdeiro aparente antes do trânsito em julgado da sentença que o exclui da herança. Os demais herdeiros prejudicados terão direito a reparação dos prejuízos em face do excluído da sucessão (CCB, art. 1817 - exclusão por indignidade e extensão por analogia a deserdação).
	VII.Doação a descendentes, antecipação da legítima, colação e pena de sonegados.
	- O que é a doação?
É “o contrato em que uma pessoa, por liberalidade, transfere do seu patrimônio bens ou vantagens para o de outra” (CCB, art. 538).
- A doação é negócio unilateral quanto aos efeitos (gera obrigação ao doador e direito ao donatário). Embora a doação seja ao menos bilateral quanto ao número de participantes do contrato, essa classificação leva em conta apenas os efeitos do contrato.
 - A doação é negócio gratuito: apenas uma das partes aufere proveito patrimonial.
Exceção: doação onerosa, gravada ou modal (aquela que atribui ao donatário um encargo no interesse do doador, de terceiro ou da coletividade).  A doação com encargo é bilateral e onerosa.
- A doação é negócio formal. Ela se aperfeiçoa com o acordo de vontades, feito por escritura pública ou instrumento particular (CCB, art. 541) e não depende da entrega do bem doado (a tradição).
Exceção: doação manual. Se a doação é de bens móveis e de pequeno valor, seguindo-se imediatamente a tradição, poderá ser verbal (CCB, art. 541, p. un.).  Ela pode ser verbal (e, portanto, consensual) e real (consumando-se com a tradição da coisa de pequeno valor).
- A doação necessita de aceitação do donatário?
Sim.
- Se a doação for sujeita a encargo – doação onerosa – precisará de aceitação expressa (CCB, art. 539).
- Se a doação for pura e simples, o donatário terá o direito de aceitar ou não a doação.
- A aceitação pode ser expressa, tácita ou presumida.
a) expressa: mediante declaração verbal ou por escrito;
b) tácita: mediante comportamento típico de quem aceita (como o donatário do automóvel que apresenta ao DETRAN o DUT para transferir o veículo para o seu nome);
c) presumida. A doação presumida ocorre em três situações
c.1) quando o donatário for absolutamente incapaz (CCB, art. 543);
c.2) quando for propter nuptias (em razão do casamento futuro de alguém) e o casamento ocorrer (CCB, art. 546); e
c.3) quando o doador fixa prazo ao donatário para declarar se aceita ou não a liberalidade. Se o donatário, ciente do prazo, nada declarar, será presumida a aceitação (CCB, art. 539).
- Existem limites legais impostos ao doador para a proteção de seus próprios interesses?
Sim. É nula a doação de todos os bens sem reserva de parte, ou renda suficiente para a subsistência do doador (CCB, art. 548). Cuida-se da proibição da doação universal. Esse é um instrumento de proteção do patrimônio mínimo para a subsistência digna da pessoa humana.
- Existem limites legais à doação para a proteção dos interesses de outras pessoas?
Sim. Existem três regras principais para a proteção de interesses de terceiros:
1ª)CCB, art. 158: se a doação é feita em situação de fraude contra credores, é anulável.
2ª)CCB, art. 550: se a doação é feita por um cônjuge adúltero ao cúmplice, é anulável, pelo cônjuge prejudicado (ou, se falecido, por seus herdeiros necessários), desde que proposta a ação até dois anos após dissolvida a sociedade conjugal.
3ª)CCB, art. 549: se a doação exceder à parte que o doador, no momento da liberalidade, poderia dispor em testamento, será nula quanto ao excesso.
A parte disponível em testamento é a metade, quando a pessoa tenha herdeiros necessários (CCB, art. 1.845 =descendentes, ascendentes e cônjuge – salvo, para o STJ, se casados no regime de separação convencional).
A doação que invade a legítima dos herdeiros necessários é chamada de doação inoficiosa. Se isso ocorrer, os herdeiros necessários do doador, que estão sendo prejudicados com o atingimento da metade indisponível do patrimônio do doador (legítima – CCB 1.846), têm legitimidade ativa para ajuizar pedido de ‘redução da doação’(CCB 2.007), para declarar a nulidade do ato de disposição quanto ao excesso que invadiu a legítima (CCB 549).
No pólo passivo, deverão figurar como litisconsortes passivos necessários e unitários o doador (ou o espólio, se falecido) e o donatário.
Prazo decadencial: Na vigência do CCB-1916, a hipótese também era de nulidade, mas o prazo aplicado era prescricional de 20 anos e começava a fluir a partir do ato de doação ou do seu registro, quando o bem do doado era imóvel (STJ, REsp 1.049.078/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 18/12/2012, DJe 01/03/2013). No CCB vigente, quanto à declaração da nulidade da doação inoficiosa, não há previsão legal. Duas correntes: 1) Não convalesce com o decurso do tempo (CCB 169); 2) 10 anos, quanto aos efeitos patrimoniais (CCB 205).
- O doador pode doar validamente seu patrimônio aos seus descendentes, sem o consentimento dos demais e do cônjuge?
Sim, a doação não exige tal autorização.
A venda de ascendente a descendente (CCB, art. 496) e a troca entre ascendente e descendente (CCB, art. 533, inc. II) é que exigem o consentimento expresso dos demais descendentes e do cônjuge (salvo na separação obrigatória), sob pena de anulabilidade (CCB, art. 496). A ação anulatória é submetida ao prazo decadencial de dois anos (CCB, art. 179).
Importante ressaltar que somente haverá anulação da troca e da venda entre ascendente e descendente se o negócio fugir dos parâmetros de mercado,encobrindo uma quase-doação (STJ, Informativo 477, REsp 953.461).
- Qual a repercussão jurídica da doação de ascendente a descendente?
 “A doação de ascendentes a descendentes, ou de um cônjuge a outro, importa adiantamento do que lhes cabe por herança” (CCB, art. 544).
Ou seja, se o descendente figurar como donatário do ascendente, esse adiantamento da herança deve ser compensado após o falecimento do doador.
Essa compensação ocorre, durante o processo de inventário, por meio da colação, que tem por objetivo apresentar o patrimônio doado, ou seu valor quando ocorreu a doação (CCB, art. 2.004).
- Toda doação precisa ser colacionada?
Não, nem toda. Existem três hipóteses legais de dispensa de colação:
1ª Hipótese: CCB, art. 2.010. Não virão à colação os gastos ordinários do ascendente com o descendente,enquanto menor, na sua educação, estudos, sustento, vestuário, tratamento nas enfermidades, enxoval, assim como as despesas de casamento, ou as feitas no interesse de sua defesa em processo-crime.
2ª Hipótese: CCB, art. 2.011. As doações remuneratórias de serviços feitos ao ascendente também não estão sujeitas a colação.
3ª Hipótese: CCB, art. 2.005. São dispensadas da colação as doações que o doador determinar saiam da parte disponível, contanto que não a excedam, computado o seu valor ao tempo da doação. Parágrafo único. Presume-se imputada na parte disponível a liberalidade feita a descendente que, ao tempo do ato, não seria chamado à sucessãona qualidade de herdeiro necessário. Art. 2.006. A dispensa da colação pode ser outorgada pelo doador emtestamento, ou no próprio título de liberalidade.
O ascendente doador pode dispor, livremente, sobre a metade do seu patrimônio, aferida no momento da liberalidade, isto é, na data da doação, e não o patrimônio estimado no momento da abertura da sucessão do doador (STJ, Inf. 512 (fev-2013).AR 3.493-PE, Segunda Seção, Rel. Min. Massami Uyeda, julgado em 12/12/2012).
Não há irregularidade em que, nesse caso, o herdeiro necessário, contemplado com a porção disponível, receba mais do que outro, pois irá auferir além de sua cota parte da legítima, o que o ascendente lhe testar ou lhe doar em vida da parte disponível.
- Quando a doação é colacionável, o herdeiro que renunciou à herança também deve colacionar o que recebeu, em vida, do falecido?
Sim. Aquele que renunciou a herança ou dela foi excluído, deve, não obstante, conferir as doações recebidas, para o fim de repor o que exceder o disponível (CCB, art. 2.008).
- Os netos que concorrem à herança representando seus pais na herança dos avós também terão de colacionar?
Sim, o patrimônio recebido pelo genitor representado. “Quando os netos, representando os seus pais, sucederem aos avós, serão obrigados a trazer à colação, ainda que não o hajam herdado, o que os pais teriam de conferir (CCB, art. 2.009).
- Como levar em conta o que foi colacionado para igualar a legítima?
As doações colacionadas acrescentam à legítima para divisão igualitária das cotas (CCB, arts. 1.847 e 2.002).
O processo de igualação das legítimas é escalonado em seis etapas:
1º) leva-se em conta os bens e créditos da pessoa falecida, ao tempo do óbito,
2º) subtrai-se as dívidas do falecido (habilitadas no inventário), as despesas com o funeral e as despesas do espólio (com advogado, por exemplo),
3º) divide-se o valor líquido encontrado pela metade, para identificar a legítima dos herdeiros necessários concorrentes,
4º) soma-se o valor das doações colacionáveis à legítima,
5º) divide-se o valor encontrado entre os herdeiros necessários concorrentes, para achar a cota igualitária;
6º) se houver excesso, devem ser promovidas as respectivas reduções e compensações para que todos fiquem com a mesma cota igualitária.
- Como reduzir a doação excessiva?
No caso de invasão da cota igualitária dos herdeiros necessários, deve ser promovida a redução das doações feitas ao herdeiro beneficiado indevidamente, a partir da mais recente (CCB, art. 2007).
- Qual o momento máximo para a realização da colação?
As últimas declarações do processo de inventário (CCB, art. 1.996).
- Quais as consequências da não-realização da colação?
Pode ser proposta pelos herdeiros prejudicados a ação de sonegados (CCB, art. 1.994), com o propósito de promover a partilha ou sobrepartilha do patrimônio sonegado. A procedência da demanda exige má-fé na sonegação e podem ser três as sanções aplicáveis:
1) restituição do bem sonegado para ser partilhado (CBB, art. 1.995);
2) perda da participação na herança sobre o bem sonegado (CCB, art. 1.992) e
3) se o inventário ainda estiver em curso deverá haver a remoção do inventariante sonegante (CCB, art. 1993).
	Colacionar?
	Significa apresentar, levar à conferência.
	Qual o objetivo da colação?
	Igualar a proporção das cotas-parte da herança legítima (parte indisponível) dos herdeiros necessários.
	Quem precisa colacionar?
	Os descendentes e cônjuge (quando concorrer com eles) deverão apresentar o valor correspondente as doações que receberam em vida do falecido (o valor deve ser o do momento da liberalidade).
	O que ocorre se não houver colação quando esta se fazia necessária?
	Através de ação própria, poderá ser imposta a pena de sonegação: o herdeiro sonegante perderá em sua herança o valor correspondente ao bem que não foi colacionado.
	VIII. QUADRO COMPARATIVO DOS PROCEDIMENTOS:
	INVENTÁRIO:
- Cuida-se de “procedimento administrativo ou judicial tendente ao levantamento e descrição das relações jurídicas patrimoniais transmitidas pelo falecido para que, pagas as dívidas deixadas e recolhido o tributo respectivo, seja partilhado o saldo remanescente entre os sucessores” (Curso de Direito Civil. Volume VII [Sucessões]. CHAVES, Cristiano; e ROSENVALD, Nelson. São Paulo: Atlas, 2015, p. 435).
- Procedimento escalonado e bifásico: (1º) inventariança: individualização dos bens, com a respectiva avaliação, pagamento das dívidas e recolhimento fiscal; e (2º) partilha: divisão dos bens entre os beneficiários.
- Pode ser iniciado de ofício pelo juiz ou por provocação do interessado. Seguem-se as primeiras declarações, citações, impugnações, avaliação e cálculo do imposto, últimas declarações, pagamento de dívidas, partilha ou adjudicação.
- A participação do MP ocorre apenas se houver interesse de incapaz.
	INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL:
- Foi introduzido pela Lei Federal n. 11.441, de 2007, e está previsto no art. 982, do CPC-1973 e no art. 610, prg. 1º, do CPC-2015. Pressupõe:
a) capacidade civil plena de todos os herdeiros,
b) inexistência de testamento,
c) acordo entre os herdeiros,
d) assistência por advogado ou defensor público,
e) comprovação da quitação dos débitos fiscais e do ITCMD e
f) lavratura de escritura pública.
“Art. 982. Havendo testamento ou interessado incapaz, proceder-se-á ao inventário judicial; se todos forem capazes e concordes, poderá fazer-se o inventário e a partilha por escritura pública, a qual constituirá título hábil para o registro imobiliário. (Redação dada pela Lei nº 11.441, de 2007).
§ 1º  O tabelião somente lavrará a escritura pública se todas as partes interessadas estiverem assistidas por advogado comum ou advogados de cada uma delas ou por defensor público, cuja qualificação e assinatura constarão do ato notarial. (Renumerado do parágrafo único com nova redação, pela Lei nº 11.965, de 2009)
§ 2º  A escritura e demais atos notariais serão gratuitos àqueles que se declararem pobres sob as penas da lei. (Incluído pela Lei nº 11.965, de 2009)”
- É regulamentado pela Resolução n. 35, de 2007, do CNJ: http://www.cnj.jus.br/images/stories/docs_cnj/resolucao/rescnj_35.pdf
	ARROLAMENTO SUMÁRIO:
- É um procedimento simplificado regulado no art. 659, do CPC-2015.
- Pode ser adotado quando houver herdeiro único (universal) ou quando todos os herdeiros forem maiores, capazes e estiverem de acordo com a forma de partilha. Não interessa o valor dos bens do acervo hereditário. Os herdeiros apresentam o plano de partilha acompanhado da comprovação da quitação dos tributos ao juiz,

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