Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Inserir Título Aqui Inserir Título Aqui Desenvolvimento e Aprendizagem na Infância A Biografia de Piaget Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Me. Reni Rutkowski Silva Revisão Textual: Prof.ª Me. Fátima Furlan Nesta unidade, trabalharemos os seguintes tópicos: • Introdução; • Origem da Teoria. Fonte: Thinkstock/Getty Im ages Objetivos • Contextualizar primeiro a história de vida de Jean Piaget; • Mostrar como acontece o desenvolvimento infantil e suas etapas. Caro Aluno(a)! Normalmente, com a correria do dia a dia, não nos organizamos e deixamos para o úl- timo momento o acesso ao estudo, o que implicará o não aprofundamento no material trabalhado ou, ainda, a perda dos prazos para o lançamento das atividades solicitadas. Assim, organize seus estudos de maneira que entrem na sua rotina. Por exemplo, você poderá escolher um dia ao longo da semana ou um determinado horário todos ou alguns dias e determinar como o seu “momento do estudo”. No material de cada Unidade, há videoaulas e leituras indicadas, assim como sugestões de materiais complementares, elementos didáticos que ampliarão sua interpretação e auxiliarão o pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois estes ajudarão a verificar o quanto você absorveu do conteúdo, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. Bons Estudos! A Biografia de Piaget UNIDADE A Biografi a de Piaget Contextualização Leia com atenção as seguintes perguntas: • Piaget começa a construir sua teoria a partir da sua experiência e desenvolvimento de sua vida? • Para Piaget a criança é um ser em constante transformação? • A biografia de Piaget determina os aspectos essenciais de sua obra? Se sua resposta foi afirmativa para todas as perguntas significa que você está no caminho certo para compreender Piaget e iniciar uma fantástica viagem no universo do desenvolvimento da Inteligência e Aprendizagem. 6 7 Introdução Jean Piaget foi, inegavelmente, uma das figuras que mais exerceu influência no campo da educação. A concepção proposta por ele surge em função de alguns questionamentos: • Como o homem aprende? • Qual é a fonte do conhecimento? • Como se chega ao conhecimento? • Quais são as características da aprendizagem? • Quais devem ser os objetivos do ensino? • Como se configuram as relações entre educador e educando? As respostas para as questões acimas são várias, mas entre elas encontramos uma que define como fonte do conhecimento a interação entre, o sujeito que conhece e o ob- jeto de conhecimento. Assim sendo, o conhecimento é construído pela interação entre, sujeito que busca conhecer um dado objeto. Os questionamentos propostos e a busca de respostas são encontrados em Jean Pia- get, um epistemólogo suíço, que contribuiu de maneira significativa no esclarecimento da gênese do conhecimento humano. O delineamento das ideias do autor passará inicialmente pelos dados biográficos, a seguir para origem da teoria e conceitos principais, finalizando com as etapas de desen- volvimento cognitivo e suas implicações educacionais. Jean Piaget Epistemólogo Suiça Nascido naFoi um brilhante Cientista do conhecimento Que quer dizer Viveu de 1896-1980 Figura 1 – Dados Biográfi cos Fonte: Adaptado de Wikimedia Commons Jean Piaget nasceu na Suiça na cidade de Neuchâtel, em 1896. Ele foi um menino prodígio, pois aos 10 anos interessado em estudar sobre um pardal albino acaba desen- volvendo e publicando seu primeiro artigo científico. Desde muito cedo se mostrou interessado em diferentes áreas do conhecimento como filosofia, religião e ciência. Foi na área da ciência da biologia, aos 23 anos que se formou na Universidade de Neuchâtel. 7 UNIDADE A Biografi a de Piaget Após se formar, em 1918, muda-se para Zurique com o objetivo de estudar Psicologia e no ano de 1919, passa a trabalhar em Paris com Binet, o qual trabalhava na constru- ção dos primeiros testes de inteligência. Suas publicações de livro se iniciam em 1923 com o lançamento do livro “Linguagem e Pensamento da Criança”, que é o primeiro de mais de 50 livros publicados. Já nos anos 30 escreve vários trabalhos sobre o desenvolvimento infantil, baseando-se na ob- servação de seus filhos, os quais foram fontes preciosas para o desenvolvimento de suas ideias. E ainda, ocupou vários cargos de importância, entre os quais, nas universidades de seu país, assumiu a direção do Instituto Jean-Jacques Rousseau ao lado de um de seus mestres Édouard Claparède. Piaget faleceu em 1980 e até o final de sua vida trabalhou e foi honrado com diversos títulos de universidades europeias e norte-americanas. Origem da Teoria A base inicial da teoria de Piaget está apoiada nas concepções de Ontogênese e Filogênese. A ontogênese estuda a origem e desenvolvimento das espécies, desde o embrião até atingir sua forma plena, as quais passam por diferentes estágios de desen- volvimento. Já filogênese estuda como os grupos de organismos evoluíram, ou seja, as relações ancestrais entre espécies. (dicionarioportugues.org/pt/ontogene-1). As concepções apresentadas encaminham para ideia de que o homem é fruto de um processo evolutivo, e como tal, não nasce pronto, mas o apresenta de forma dinâmica e transformadora. Neste caminho de primeiro buscar a origem, e em seguida, como o ser se desenvol- ve é que Piaget encontra a relação entre os estágios de desenvolvimento do embrião até atingir sua forma plena, com os estágios de desenvolvimento para aquisição do conhecimento e, por conseguinte, desenvolvimento da inteligência. Em suma, Piaget, segundo Davis e Oliveira (2010), “dedicouse a investigar cientificamente como se forma o conhecimento” e essa preocupação de buscar a origem do conhecimento, o apresenta como quem teorizou o conceito de Epistemologia Genética, na qual o conhecimento não é algo inato dentro do sujeito, mas sim fruto da interação do indivíduo com seu meio ambiente o que reafirma sua perspectiva e visão interacionista de desenvolvimento. Fonte: www.significados.com.br/epistemologia/ A visão interacionista de desenvolvimento remonta a ideia já apresentada que há um sujeito que quer conhecer e a relação com o objeto a ser conhecido, mas tal relação demonstra que a transmissão de conhecimento é limitada, na medida em que, o conhe- cimento se apresenta por meio de descobertas e interesses da própria criança e não se pode fazer a criança aprender o que ainda não está pronta para conhecer. Assim sendo, revela que o aprendizado é construído pela criança, o que atribuí a esta Teoria o status de Corrente Construtivista, na qual o desenvolvimento é um processo contínuo de tro- cas entre o sujeito e o meio ambiente. 8 9 As concepções de Piaget fazem parte das ciências humanas que, segundo Lima (1980), “englobam a biologia, psicologia e sociologia e que a evolução dos seres vivos, o comportamento humano e a história do homem são processos dialéticos” os quais são resultantes da interação entre organismo e o meio, pois nada é inato tudo está em construção. A partir da citação de Lima (1980), observamos que três áreas estão englobadas nas concepções de Piaget e não poderíamos deixar de fazer menção à área da psicologia, haja vista, que o desenvolvimento humano e aprendizagem infantil englobam também aspectos relativos ao comportamento afetivo. Discorrer sobre comportamento afetivo, necessariamente, significa delinear algumas ideias centrais da teoria Psicanalítica de Sigmund Freud, o qual deu ênfase aos aspectos inconscientes do sujeito, enquanto Piaget deu ênfase aos aspectos cognitivos. Importante ressaltar, que apesar de ênfases diferentes dos dois teóricos, não há con- tradições, mas há sim complementariedade, pois Piaget buscou entender a relação que existe entre um sujeito que busca conhecer e por outro um objeto a ser conhecido, esta premissa aponta queo olhar de Piaget se deteve no sujeito e a busca do conhecimento. Já Freud buscou compreender a relação entre sujeito e o objeto a ser conhecido. Sigmund Freud (1856-1939) Sisgismund Freud nasceu em 6 de maio de 1856, na cidade de Freiberg, no nordeste da Moravia, próxima a Ostrau hoje Pribor, na República Theca Império Austro-húngaro e recebe o nome de Schlomo, conforme costume judaico. Aos 22 anos, escolhe uma forma mais concisa de seu nome: Sigmund. Segundo Rappaport (1986), o pai de Freud sofre uma crise financeira que o arruína, nessa fase Freud tinha 3 anos. Em função do revés fi- nanceiro, a família muda-se para Viena. Aos 17 anos, forma-se no curso secundário com mérito acadêmico e se vê obrigado escolher uma car- reira, inicialmente, decide-se por Direito, mas logo muda de ideia e volta-se para o estudo das ciências biológicas. Já no curso universitário, encontra muitas dificuldades, pois ainda apre- sentava dúvidas sobre sua carreira profissional. As dúvidas persistem por longo 6 anos e acaba trocando biologia por medicina. Em 1885, re- cebe uma bolsa de estudos por intermédio de seu professor Brucke e muda-se para Paris e começa a trabalhar em Salpêtrière onde en- tra em contato com Charcot. Estudando com Charcot, volta-se para manifestações da histe- ria: hipnose e os efeitos da sugestão. Figura 2 Fonte: Wikimedia Commons 9 UNIDADE A Biografi a de Piaget Freud permanece em Paris por um ano e, em seguida, volta para Viena e apresenta suas ideias teóricas iniciais em uma conferência, mas a comunidade acadêmica recebe com ressalvas suas ideias. Aos 30 anos (1886), casa-se com Martha Bernays, com a qual teve uma vida conjugal estável e teve 6 filhos: Mathilde; Jean Martin; Oliver Ernst, Sofhie e a última Ana, a qual segue seus passos. Até 1891, morou com a família na Theresienstrasse. Depois residiu no famoso ende- reço da Bergasse, distrito de Viena, mas em 1938 é obrigado a mudar-se para Londres refugiando-se do regime nazista. Em Londres, em 1939, falece aos 73 anos. Discorrendo brevemente sobre Freud, que estudou quais são os mecanismos motiva- cionais inconscientes que levam o sujeito a fazer escolhas objetais, ou melhor, as relações afetivas entre sujeito e objeto, é preciso esclarecer que essas relações são estabelecidas ao longo do desenvolvimento humano em suas diferentes idades. A teoria de Freud apresenta dois aspectos importantes do desenvolvimento infantil: um é sobre a formação da personalidade e o outro sobre o desenvolvimento da sexuali- dade, os quais se encontram intimamente ligados. Para iniciarmos sobre a Formação da Personalidade, precisamos apresentar o concei- to de Libido, que é primordial para entender essa teoria. Freud denomina a Libido como fonte de Energia Psíquica, ou seja, ela é a mola propulsora do desenvolvimento, pois empresta energia, força e direção para o sujeito encontrar o objeto. A Libido é definida como uma energia somática, localizada na região do corpo onde nasce a excitação. Além disso, essa energia tem sempre como objetivo a busca, ou melhor, existe sempre um “impulso”, uma direção, que será sempre buscar o objeto de sua satisfação. Assim sendo, a Libido sempre é guiada pelo Princípio do Prazer, sempre evitando situações de Desprazer. Em suma, essa busca contínua pelo Prazer mostra que há princípios nor- teadores de nossas ações, e estes são: o princípio do prazer que para evitar o desprazer favorece o desenvolvimento do “princípio realidade”. Resumindo, somos levados a duas situações, uma é o viver, outra, o desenvolver. Mas, essas duas situações não são vivenciadas de forma harmoniosa, pois o objetivo sempre é o equilíbrio, o qual dependerá da forma como o sujeito resolve os seus conflitos ao longo de sua vida, ou melhor, ao longo das diferentes etapas de vida que são marca- das pelas diferentes idades do sujeito. As diferentes idades vão apresentando diferentes estruturas da personalidade. A pri- meira estrutura é o Id que é definido como reservatório de impulsos primitivos e que se caracteriza pela busca de gratificação imediata de suas necessidades e desejos. Essa estrutura se manifesta basicamente no início da vida, por exemplo, um bebê não con- segue ter tolerância às frustações. A segunda estrutura é o Ego, que está relacionado ao início do processo de consciência, ou seja, o lado da razão. Essa estrutura começa a surgir após o primeiro ano de vida da criança, pois os primeiros conflitos começam a surgir, na medida, em que há impulsos do Id exigindo ser atendidos e o Ego busca atender a estes por caminhos possíveis e aceitáveis socialmente, caracterizando que a 10 11 criança começa aprender o que pode e o que não pode fazer, ou ainda, a Razão está presente. Há uma “briga eterna entre Id e Ego” o Id quer agora e o Ego tenta conciliar e resolver estas imposições do Id. A última estrutura da personalidade é o Superego, que aparece no início do proces- so de escolarização. Essa estrutura está relacionada ao aparecimento da Moral, pois a criança começa a introjetar os padrões vigentes na sociedade, ou melhor, o que é aceitá- vel socialmente e rejeitado socialmente, aprende o que é errado e aprende o que é certo. Passaremos a apresentar a Teoria de desenvolvimento da Sexualidade, a qual é ca- racterizada por busca de satisfação dos desejos sexuais, ou melhor, a busca pelo prazer físico. O princípio do Prazer acompanha o sujeito desde o início de sua vida e cada um tem modos peculiares e únicos de viver e sentir esse processo de desenvolvimento. No entanto, existe uma semelhança entre os sujeitos, que diz respeito às sequências de eta- pas de desenvolvimento, ou seja, há etapas específicas para cada idade que o sujeito se encontra e essas são semelhantes, no que diz respeito, a qual parte do corpo está sendo mobilizada sua zona erógena. Encontramos situadas no corpo cinco zonas erógenas: 1. Fase Oral – (0 até 1 ano e meio), a Libido tem como principal característica todo e qualquer prazer experimentado oralmente, ou seja, o mundo é percebido pela boca. Além disso, há manifestações iniciais das estruturas do EGO, do qual faz parte a Consciência. A Consciência nos equipa para trabalhar com a realidade, e ainda, devemos ressaltar que em termos educacionais, significa a possibilidade de incorporar ativamente os conhecimentos. 2. Fase Anal – (após 1 ano e meio a 3 anos), a Libido está situada na região anal. A principal característica é que todo e qualquer prazer é experimentado de forma anal, ou seja, o mundo é percebido e sentido pela via anal. Aqui, a noção de produto é adquirida, pois o primeiro produto que a criança percebe como seu é o cocô. O ambiente tem papel relevante, pois a forma como esse “produto” é recebido irá favorecer ou não o desenvolvimento de: segurança, frustação, acei- tação, autonomia e outros. 3. Fase Fálica – ( após 3 anos a 5 anos), a Libido está situada na região genital. A principal característica é que todo e qualquer prazer são experimentados pelos órgãos sexuais/genitais. Nesta fase, é que o Complexo Edipiano aparece, pois há o início das fantasias e pensamentos sexuais, isto não significa o ato em si, mas a fantasia sobre este. Este complexo é manifestado no menino projetando na figura materna a fantasia de estar no “lugar do pai”, já na menina é o inverso, a fantasia é projetada na figura paterna e fantasia de estar no “lugar da mãe”. A partir da forma de como são trabalhadas essas manifestações, teremos ou não a resolução desse complexo, que dependerá o início da terceira estrutura de personalidade o Superego, do qual depende nossa atuação moral na sociedade, além de mobilizar a curiosidade. 4. Fase de Latência – (após 5 anos até 12 anos), a Libido não possui nenhuma fixação o que caracteriza uma fase de tranquilidade, pois as questões relativas ao prazer ficam em estado de latência, ou seja, não há nenhuma zona erógena 11 UNIDADE A Biografi a de Piaget evidenciada. A adaptação social e desenvolvimento cognitivosão importantes características que devem ser trabalhadas. 5. Fase Genital – (após 12 anos até o final da adolescência) a Libido irá se ma- nifestar e a principal característica são as questões relativas à preocupação e busca de um parceiro para satisfação do prazer relacionado à prática sexual. A Identificação Social é a essência desta fase, na qual o sujeito aprende o amor referenciado na troca, na felicidade mútua do Eu e do Outro. A Identidade é ela- borada e demonstra que todas as outras fases foram resolvidas e a Personalidade já está formada. O desenvolvimento da sexualidade é acompanhado por sentimentos, emoções e ma- nifestações afetivas que são determinadas pelo nível de atendimento das necessidades básicas de cada fase, isto significa que para cada fase há exigências mínimas, sem as quais pode elevar o nível de frustação do sujeito, levando-o a se fixar em dada fase, im- pedindo seu processo natural de desenvolvimento. Você já deve ter dito ou pensado: Se eu não tivesse sido repreendida daquela forma pelo meu pai ou mãe hoje eu não estaria me sentido assim... Quem não viveu frustações profundas, as quais os acompanham até os dias de hoje. A épo- ca de Natal é um bom exemplo, pois muitos pais e mães se impõem, sem ter condições financeiras, presentear seus filhos com todos os brinquedos solicitados por eles. Vejam! Mesmo não podendo, eles precisam fazer isto, alegando que não querem que seus filhos vivenciem o que eles passaram na sua infância, ou seja, a “falta de brinquedos”. Mas o que realmente está em pauta não é a falta do brinquedo, mas a experiência da falta do afeto. O exemplo demonstra que a forma como o sujeito vivencia o mundo e o faz por meio de suas relações objetais é que determinará a adequação ou não de sua adaptação e desenvolvimento. Caminhamos com Freud para complementar as ideias de Piaget. Em Freud, enten- demos o desenvolvimento afetivo e em Piaget, o desenvolvimento da inteligência e pen- samento, ou seja, o sujeito de Piaget que quer conhecer está intimamente relacionado com o objeto que quer ser conhecido, objeto este buscado e compreendido por Freud que apresenta em sua teoria o desenvolvimento da Personalidade e o desenvolvimento da Sexualidade. Interessante notar que Piaget ao construir sua teoria, assim como Freud, a dividiu em fases que correspondem à idade que a criança está vivendo. Embora as teorias tra- tem de temas diferentes, se unem em alguns aspectos o que demonstra que apesar dos diferentes olhares sobre o sujeito, todos de certa forma, auxiliam e contribuem para a sua Construção. A ciência psicológica apresentada por Freud contribuiu de forma importante e im- prescindível para entender o desenvolvimento da criança de Piaget. Ao traçarmos essa trajetória de Freud, encontramos algumas reflexões que chegam até Piaget, pois a dimensão psicológica está imbricada com as questões do conhecimen- 12 13 to e aprendizagem, as quais são apontadas por Lanjonquiere(2002). Iniciaremos por Freud, que discute o desejo de saber, o qual faz parte da vida do sujeito e é compelido pelo Complexo Edipiano, na medida, em que a criança na Fase Edipiana vive certas angústias relacionadas ao amor nutrido por um dos pais (menina pelo pai e menino pela mãe). A forma de resolução deste conflito é buscar o Conhecimento como forma de su- peração e aqui estaria a base do conhecimento que é o ponto chave da teoria de Piaget. E ainda, o processo de conhecimento está relacionado intimamente com o processo de aprendizagem, o qual inclui variações, ora acertos, ora erros e a criança ao se de- frontar com essas variações necessita tolerar frustações. Para clarear esta questão, pre- cisamos retomar a ideia de Piaget sobre a Equilibração Majorante e seus mecanismos compostos por assimilação que significa incorporar elementos novos a estruturas já existentes e acomodação que significa modificar esquemas de assimilação. Es- ses mecanismos mobilizam o processo de Equilibração, o qual é alcançado por meio da construção do conhecimento. Tal caminho sempre se apresenta de forma Conflitiva, ou melhor, situações ou provocações levam a “Conflitos Cognitivos”. Atentem para outra situação que diz respeito à Aprendizagem, a qual é gerada pelos Conflitos Cognitivos. As situações acima apresentadas nos levam às seguintes ideias de Freud relacionadas com Piaget, que são: Os conflitos Cognitivos se apresentam quando o Sujeito quer Co- nhecer o objeto, mas para isso ele precisa superar os conflitos, ou melhor, ele necessita segundo Freud superar o conflito entre as Pulsões do ID e do EGO. Esse conflito entre essas Pulsões quando superadas apresentam um Sujeito que Conhece o objeto desejado, o que caracteriza a aquisição do Conhecimento, por meio inicialmente, de uma contra- dição psicológica. Piaget parte da mesma premissa de Freud, ou seja, o Conhecimen- to é construído vias contradições que provocam perturbações que impulsionam o “Sistema Cognitivo”. Os desequilíbrios que Piaget se refere são causados pelo que Freud como resistência aos objetos exteriores, os quais são obstáculos inerentes da vida. Em geral, o sujeito busca sempre superar os obstáculos, mas nem sempre isto é possível, e a não superação compele ao ERRO. Em geral, o Erro determina a qualidade e permanência dos erros, o que apontará as características de cada sujeito e suas aprendizagens. Dando continuidade às ideias, encontramos a Definição de Inteligência: A Inteligên- cia é um conjunto de operações estruturadas que carregam consigo o poder de sua pró- pria autoconservação, e esta é acionada quando há o indício de comprometimento de seu sistema, imediatamente, este poder se coloca em movimento, desta forma, ocorre o que Freud designa como Compensação. Para Piaget, aprender é tomar Consciência por meio de Equilibração Majorante. Há dois tipos de consciência: • uma é denominada consciência elementar, que está ligada a um dado imediato, ou seja, o que vejo do objeto; • a outra é denominada tomada de consciência, que significa uma reconstrução de conceitos por mei o da lógica que surge frente à ação. 13 UNIDADE A Biografi a de Piaget Os dois tipos de consciência estão também ligados às concepções freudianas, ou seja, a Consciência surge no final do Período Sensório Motor de Piaget quando há resquícios do aparecimento do EGO. Em síntese, o Sujeito de Piaget é também o Sujeito de Freud, e assim sendo, O Su- jeito não é só desejo (Freud), ou só conhecimento (Piaget), ele é a soma do todo para sua Integração. Essas correlações que buscamos mostrar entre Piaget e Freud demonstra que o Su- jeito de Piaget não é só conhecimento, mas também um Sujeito que sente, ou melhor, O Sujeito é a soma de vários olhares e proposições. Entre as proposições, vocês podem estar se perguntando onde encontramos a ci- ência sociológica na teoria de Piaget? A resposta à pergunta está no próprio Piaget quando aponta que o Sujeito é Construído por intermédio da relação sujeito e objeto, ou melhor, a interação social entre o organismo e o meio e que paulatinamente vai adaptando, delineando e transformando o sujeito que quer conhecer e também os ob- jetos a serem conhecidos. Em suma, na medida em que vivemos, há desenvolvimento, ocorrem mudanças de olhares, mudanças de percepção, mudanças afetivas, mudanças cognitivas, mudanças nas estruturas de pensamento e também nas estruturas e níveis de inteligência. Efetivamente, na concepção de Piaget há um lugar para interação social que segundo La Taille(1992), “Piaget escreve: O homem normal não é social da mesma maneira aos seis meses ou aos vinte anos de idade, e, por conseguinte, sua individualidade não pode ser da mesma qualidade nesses dois diferentes níveis”. A afirmação denota que a criança não nasce um ser social, mas paulatinamente, vai se construindo como tal, por meio das relações sociais e trocas que se configuram nessas relações. Segundo Davis C. (2010), “As interações sociais recebem influência de fatores exter- nos e internos,os quais se inter-relacionam de forma contínua, formando uma complexa combinação de influências”. Agora, podemos ressaltar a importância da ciência biológica na obra de Piaget, o qual principia suas reflexões instigadas pela teoria revolucionária de um naturalista in- glês Charles Darwin (1809-1882) que tratou da origem das espécies. A influência de Darwin encaminhou algumas ideias importantes para Piaget, como segue: • A vida das espécies tem um padrão organizado de desenvolvimento; • A inteligência tem uma base biológica. O desenvolvimento da inteligência se forma por esquemas que apresentam condições de evolução, os quais partem progressivamente de esquemas simples para esquemas mais complexos. Essas condições nos levam a refletir sobre a ampla possibilidade que o homem tem de crescer e se transformar ao longo de sua vida, e ainda, a cada etapa vivida o homem se reconstrói, ou seja, SER é um estado permanente de CONSTRU- ÇÃO. A imagem a seguir resume as ideias centrais de Darwin as quais guiaram Piaget: ADAPTAÇÃO E MUDANÇA. 14 15 As ideias de Darwin seguidas por Piaget nos mostram que o processo de crescimento depende de nossas possibilidades de nos adap- tar ao novo que nos leva a transformações. O princípio do desenvolvimento da criança é regido pelo conceito de Equilíbrio, ou tam- bém chamado de Equilibração Majorante, o qual a auxilia na progressão da organização interna e adaptação ao meio. Esse conceito encontra-se atrelado à ideia que todo ser sem- pre busca um estado de equilíbrio, o qual au- xilia na adaptação do sujeito ao meio, ou seja, qualquer situação que traga inseguranças e perturbações, o sujeito irá buscar formas de superá-las para que seu equilíbrio possa ser retomado. No entanto, é necessário ressaltar que viver é um processo contínuo de desequilíbrios e equilibrações, sendo que o desenvolvimento cognitivo também se encontra submetido a esta lógica. No entanto, quando há superação dos desequilíbrios novas possibilidades se apresentam e geram uma harmonização entre o sujeito e o meio. O processo de Equilíbrio/Equilibração é contínuo da vida e está intimamente rela- cionado a dois mecanismos, os quais são mobilizados quando se faz necessário trazer um novo estado de equilíbrio. Eles são denominados assimilação e acomodação. A assimilação se apresenta como ações que o sujeito desenvolve no sentido de buscar significados para situações novas a partir de experiências anteriores, ou ainda, incorpo- rar novas situações ou objetos do mundo exterior aos esquemas mentais já existentes. A acomodação é outro mecanismo que faz o sujeito se modificar frente ao novo para se adaptar às novas exigências que se apresentam pelo ambiente. Os dois mecanismos são diferentes, mas em dada situação eles podem ocorrer de forma concomitante. Por exemplo: a criança utiliza sua boneca de diferentes formas: a boneca como sua amiga, a boneca como meio para bater em alguém, a boneca pode ser jogada para cima como uma bola e assim agindo mostra que a boneca adquire diferentes significados dependen- do do momento e forma que a criança olha para um dado objeto. A imagem a seguir ilustra os mecanismos citados. Adaptação Ajuste cognitivo a alteração ambiental Assimilação Observações de novas informações e incorporação das mesmas às estruturas cognitivas já existentes Acomodação Ajuste das reações atuais do indivíduo para atender às exigências especí�cas de um objeto ou ação Figura 4 Fonte:Adaptado de educacaofisicanaveia.com.br Figura 3 Fonte: Adaptado de Wikimedia Commons 15 UNIDADE A Biografi a de Piaget Você é do tipo de pessoa que frente ao novo recua ou busca soluções? Se a sua alternativa foi recua significa que buscou informações em experiências ante- riores e para tal se utilizou de assimilação. Mas, se não fizesse esse caminho provavel- mente encontraria dificuldades de encontrar soluções, pois estar no mundo é continua- mente incorporar o novo (assimilação) para se ajustar as exigências do meio (assimilação). Importante ressaltar que os mecanismos apresentados podem aparecer também nos adultos. Por exemplo: o significado que um automóvel pode ter para cada uma das pes- soas que se utilizam dele, ou seja, para alguns, o automóvel pode se apresentar como um objeto que o conduz para diferentes lugares, mas também pode se tornar em dado momento um objeto de ostentação social, como também uma “arma” quando utilizado no excesso de velocidade. Portanto, os adultos também caminham com diferentes sig- nificados em diferentes situações, mas diferentemente da criança, os significados aqui são utilizados de formas inadequadas, haja vista, que esperamos coerência e sensatez de pessoas adultas. Agora que sabemos que o desenvolvimento é um processo de equilibrações contínu- as e que se utiliza dos mecanismos de assimilação e acomodação para manterem seu estado de repouso, necessitamos compreender que o desenvolvimento é caracterizado por diferentes etapas; períodos; fases ou também chamados estádio ou estágios. Essas diferentes nomenclaturas estão relacionadas com diferentes pontos de vista dos estudio- sos de Piaget. Figura 5 Fonte: Thinkstock/Getty Images Como já apontamos, o desenvolvimento é um processo dinâmico e contínuo e é mais intenso na criança, na medida, em que estamos frente a um ser em formação. A criança se desenvolve em etapas, as quais, em geral são determinadas pelo momento etário de cada uma, não significando que necessariamente, cada criança irá viver exatamente igual às outras, ou seja, cada sujeito se apresenta com peculiaridades próprias e únicas que são guiadas por etapas que variam conforme a idade da criança. 16 17 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Livros Piaget para Principiantes Piaget muda o Paradigma das Ciências do Homem, escrito por Lauro de Oliveira Lima. Piaget para Principiantes. O material apresenta a formação de noções de Força (Estu- dos sobre Epistemologia Genética). Vídeos Charles Darwin – A voz da Evolução Charles Darwin inspirou as principais ideias de Piaget sobre as etapas de desenvolvimento. http://youtu.be/pnNCFrWsivM 17 UNIDADE A Biografi a de Piaget Referências BOCK, A. M. B, FURTADO, O. e TEIXEIRA, M. L. T. Psicologia do desenvolvimento. In: BOCK, FURTADO E TEIXEIRA. A psicologia do desenvolvimento. São Paulo: Saraiva, 2001. DAVIS, C. e OLIVEIRA, Z. A concepção interacionista: Piaget e Vygotsky. In. DAVIS, C. E OLIVEIRA, Z. Psicologia na Educação. 3.ed. São Paulo: Cortez, 2010,p:42-46 KAIL, Robert V. A perspectiva psicodinâmica. In. Kail, Robert V. A criança. Tradução Claudia Sant Ana- São Paulo: Prentice Hall, 2004. KAMIL, C.; DEVRIES, R. Jogos em grupo na educação infantil: Implicações da teo- ria de Piaget. São Paulo: Trajetória Cultural, 1991. LAJONQUIÈRE, L. De Piaget a Freud: Para Repensar as aprendizagens a (Psico) pedagogia entre conhecimento e Saber. São Paulo: Vozes,1973. LA TAILLE,Yves; OLIVEIRA,M.K e DANTAS,H. O lugar da interação social na con- cepção de Jean Piaget. In. LA TAILLE.Yves, OLIVEIRA,M e DANTAS, H. Piaget, Vygotsky,Wallon: teorias psicogenéticas em discussão- São Paulo: Summus, 1992, p: 11-21. PIAGET,J. Um biólogo que pôs a aprendizagem no microscópio. Grandes Pensado- res. Nova Escola Especial. São Paulo, Julho 2008, p. 90. 18
Compartilhar