Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Sociologia da educação - Unidade 2 - Escola e reprodução social Sociologia da educação Unidade 2 - Escola e reprodução social Autor: Fátima Modesto de Oliveira Revisor técnico: André Luís Dolencsko Sociologia da educação - Unidade 2 - Escola e reprodução social Introdução Na Unidade 1, discutimos sobre o objetivo da disciplina Sociologia da Educação, e percebemos que um ponto fundamental é observar a existência de uma conexão entre educação, escola e sociedade. Por isso, as Ciências Sociais possuem uma relação com a educação e com os assuntos relacionados ao processo de escolarização, nas sociedades contemporâneas. É por essa razão que tivemos a oportunidade, na Unidade 1, de refletir sobre a função social da educação, no contexto das sociedades modernas, por meio das análises das contribuições dos principais teóricos, que se debruçaram sobre os objetos de estudo da sociologia da educação. Nesta Unidade, iremos compreender a escola, enquanto uma instituição que realiza uma reprodução social. Para isso, inicialmente, faremos um mergulho no passado para entendermos como surge a escola nas sociedades modernas. Isso facilitará o entendimento do conceito de Escola, para depois, pensarmos em outras dimensões, que envolvem a escola, como é o caso do processo de ensinar e de aprender, presente nas diferentes tendências educacionais. A história da educação e a história da cultura são instrumentos apropriados para entendermos, tanto o passado, quanto o contemporâneo, no âmbito educacional, assim, fica bem fácil percebermos como a educação ao longo do tempo, dialoga com visões de mundo da sociedade mais ampla. Mas nunca podemos deixar a história da educação separada da história geral, assim, podemos de fato entender as configurações. Diante dessas considerações, ao dirigirmos o olhar para a História da Educação, podemos observar que as radicais transformações ocorridas, a partir do século XVIII, que levaram a Burguesia ao poder (em caráter internacional), com das Revoluções, Francesa e Industrial (ambas possuidoras de naturezas econômicas, sociais e políticas), que impulsionaram o surgimento das escolas. Lino de Macedo (1999) nos diz que o ideal sempre foi que a escola de fato fosse para todos e que nela, os alunos pudessem formar valores, normas e atitudes, favoráveis à sua cidadania, além de obterem as competências e habilidades necessárias para o universo do trabalho e da vida social, em seu sentido mais amplo. Sociologia da educação - Unidade 2 - Escola e reprodução social Porém, ele nos explica que, nem sempre, a escola foi aberta para todos. Ele ressalta que algumas escolas, consideradas de excelência, podem selecionar, orientar, ensinar e certificar apenas as pessoas que conseguem realizar tarefas e, que apresentam uma conduta condizente com o alto nível exigido por elas. Esse aspecto possui uma relação com a chamada “teoria da reprodução”, de Pierre Bourdieu. Para este autor, o âmbito escolar, através da sua função de reprodução cultural, pode contribuir, em alguns momentos, para a produção, a reprodução e a normatização das desigualdades. Nesse caso, percebemos que a “Escola para todos”, nem sempre, conseguiu uma democratização das estruturas sociais. Em outras palavras, o universo escolar, visto nessa perspectiva, não consegue diminuir as fronteiras entre as classes sociais favorecidas e as desfavorecidas. Analisaremos os entrelaçamentos dessas desigualdades presentes no universo escolar, tendo em vista que a escola, embora seja uma instituição privilegiada na vida das pessoas, não realiza de forma solitária o enfrentamento dessas desigualdades. Além do que, como veremos com o pensamento de Pierre Bourdieu, as desigualdades escolares são produzidas pelas desigualdades sociais. Por fim, podemos pensar no conceito de escola, enquanto uma reprodução social, sem deixar de levar em conta o papel das instituições educativas e sociais (família, escola, igreja). Além disso, observamos a presença de conflitos (violências silenciosas ou não), que ocorrem no âmbito escolar, enquanto representação da sociedade, já que a escola não está isolada da estrutura social, sendo ela, na verdade, possuidora de uma extensão, que extrapola os seus muros. Temas atuais, como Bullyng e Cyberbullying, permeiam questões sobre vulnerabilidades e violência escolar. Espera-se que, com essa incursão nessas temáticas, você, estudante, possa refletir sobre a postura do próprio docente, diante de tais questões, sempre, proporcionando uma educação autônoma aos seus estudantes, levando-os a encontrar seu próprio sentido existencial de forma harmoniosa e acolhedora das semelhanças e das diferenças. Sociologia da educação - Unidade 2 - Escola e reprodução social 1. Gênese e desenvolvimento da escola Inés Dussel e Marcelo Caruso (2003) nos explicam que, foi na Prússia (Alemanha), que houve a institucionalização da educação obrigatória, ainda na primeira metade do século XVIII. Deste modo, atrelado à uma “razão de Estado”, o modelo escolar prussiano predominou, de forma internacionalizada, ao longo do século XIX, mesmo período em que as discussões sobre a laicização (retirar componentes religiosos) da escola, adquiriram uma predominância. Nesse momento histórico, houve um controle escolar, por parte do Estado no que diz respeito aos conteúdos de aprendizagem, permitindo a implementação da escolarização obrigatória. Podemos concluir que, as origens da escola prussiana, possuem conexões com o surgimento da escola moderna. Inés Dussel e Marcelo Caruso (2003), explicam que a Prússia trouxe, em seu projeto, as principais sínteses desse processo, marcado, sobretudo, pela busca de uma escola pública, estatal e obrigatória. O avanço da industrialização, após a revolução industrial, necessitou de uma mão de obra qualificada, e esse foi o impulso primordial, para requisitar de escolas, em vários países da Europa, um projeto de instrução pública, que tivesse como princípio o progresso intelectual, moral e material dos homens. Inés Dussel e Marcelo Caruso (2003) retratam a genealogia das formas de ensinar, traçando o papel da igreja, do governo e da sociedade, na educação até o final do século XX, e nos explicam que no século XVII, a Prússia programou um modelo de escolarização, baseado em financiamento público-estatal. Veja, abaixo, o decreto assinado, em 1717, por Frederico Guilherme I (Friedrich Wilhelm I), rei da Prússia, ao instituir a obrigatoriedade do ensino primário, em seu país: Sociologia da educação - Unidade 2 - Escola e reprodução social Figura 1 - Decreto Escola Prussiana. Fonte: Jornal GGN, 2020. Figura 1: Decreto Escola Prussiana. Fonte: Jornal GGN, 2020. 1.1 Escola: uma instituição de reprodução social Na “teoria da reprodução”, de Pierre Bourdieu, percebe-se que a democratização do ensino, proposta fundamental do modelo de escolarização, nascido na Prússia, não levou a sociedade mais ampla a uma democratização das estruturas sociais. Isto significa dizer que, a escolarização não havia diminuído as diferenças entre as classes sociais. Pelo contrário, segundo Bourdieu, a escolarização pode até reforçar uma determinada manutenção das desigualdades sociais. Para este pensador, o campo educacional contribui para a produção, reprodução e legitimação das desigualdades sociais, possuindo funções que envolvem inculcação e reprodução de papéis culturais, presentes nas estruturas sociais. Sociologia da educação - Unidade 2 - Escola e reprodução social Deste modo, a teoria de Pierre Bourdieu analisa os efeitos sociais do capital cultural, no sistema de ensino. Entendendo sistema de ensino, como uns lócus de reprodução social. A razão pela qual Pierre Bourdieu considera o sistema de ensino como um lugar de reprodução social, está no fato dele ser um local privilegiado, para adquirir os conhecimentos que a sociedade consideracomo relevantes e socialmente valorizados. As classes favorecidas já adquirem, desde o berço, no convívio familiar cotidiano, tais conhecimentos. Portanto, o capital cultural está presente nas experiências fora da escola, numa espécie de cultura livre, que envolve a vida social entrelaçada às artes, à leitura, e à uma série de outras especificidades, que é desigualmente distribuída, entre as diferentes classes e origens sociais e familiares. O trabalho de Bourdieu dirige um olhar antropológico para as trocas simbólicas e as práticas que podem existir, nas instituições das sociedades contemporâneas, como é o caso da escola e da família. Bourdieu deixa claro que o sistema educacional é um dos fatores mais eficazes de conservação social, já que fornece uma aparência de legitimidade às desigualdades sociais e, ao mesmo tempo, ratifica a herança cultural e a ideia de “dom natural”. Quanto mais amplo for o conhecimento dos estudantes (sobre cinema, música, artes em geral), mais elevada é a sua origem social, ou seja, sua classe social. As atitudes da família, em relação à escola, refletem, pois, a posição social, que esta ocupa na sociedade. Desta maneira, quanto mais elevada for sua posição social, maiores suas expectativas de escolarização, e quanto mais desfavorecida for a família, mais limitadas suas aspirações, em relação ao futuro. A legitimação está presente, na reprodução das hierarquias sociais que, no ambiente educacional, pode ter um papel de capital social e cultural institucionalizados pela sociedade. Isso se dá, por meio de uma violência simbólica e imposição de formas culturais, adotadas como formatos ideais e naturalizadas no comportamento social. Sociologia da educação - Unidade 2 - Escola e reprodução social Mas que, porém, são possuidoras de diferenças, resultantes de padrões comportamentais instituídos, pela classe social dominante, ou seja, a classe social com maior poder aquisitivo. Isso é o que é conhecido como conservação social. Em outras palavras, na visão de Bourdieu, a escola pode ser percebida como um mecanismo seletivo, que funciona por meio de uma transmissão cultural, que o aluno adquire, no seio familiar. Essa herança cultural é o que o autor chama de capital cultural. A posse deste capital cultural irá determinar percursos escolares, diferenciados para as classes sociais, na sociedade mais ampla. Tais percursos podem ser trajetórias que envolvem distinções legitimadas, pela escola, por meio da herança ou patrimônio familiar, trazido pelo aluno, que nem sempre terá como acompanhar ou competir com heranças culturais oriundas das classes mais favorecidas. Deste modo, é possível desvendar, por meio de mecanismos de seleção consagrados pela escola, o quanto ela pode não perceber, em termos cognitivos, as desigualdades culturais entre os alunos. A influência deste capital é percebida, pela relação entre o nível cultural global da família e o êxito escolar da criança. A proposta primordial, de Pierre Bourdieu, é a de apontar para os mecanismos que provocam uma intensa aderência, por parte dos agentes sociais a um conjunto de juízos que a sociedade elabora, em um determinado momento histórico, fazendo com que os atores suponham tratar-se de uma evidência “natural”. Ou seja, trata-se de uma adesão por parte dos agentes sociais à ordem estabelecida, uma espécie de cumplicidade, sem reflexão, incorporada como uma "segunda natureza". Algo que é internalizado e que, atua como um poder invisível, que só se exerce enquanto poder, tendo a cumplicidade daqueles que, não querem saber ou nem se quer imaginam, que estão submetidos a ele. Segundo Bourdieu, os sistemas simbólicos exercem um poder estruturante, na medida em que, são também estruturados. E a estruturação decorre da função Sociologia da educação - Unidade 2 - Escola e reprodução social que os sistemas simbólicos possuem uma espécie de integração social, dentro de um determinado consenso. Deste modo, existem mecanismos objetivos que determinam a eliminação contínua de crianças desfavorecidas, no sistema educacional. Nesse sentido, as observações de Bourdieu apontam dificuldades adicionais e também soluções para os educadores, que se propõem a tarefa de evitar a repetição da barbárie, em populações vulneráveis ou a de impedir ou frear os mecanismos de uma ordem social, que pode causar a existência de uma violência silenciosa e simbólica, no meio educacional. Você quer ler No acesso a seguir, você poderá saber mais a respeito do que pensa Lino de Macedo (Professor Emérito do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo - USP), sobre o Lugar da Escola. Para acessar utilize o endereço a seguir: <https://www1.folha.uol.com.br/fsp/especial/fj070812.htm>. 2. Sociedade, cultura e psicologia: família, indivíduo e escola Analisar a escola, como um espaço sociocultural, faz parte do trabalho de Lino de Macedo (2005). O autor estabelece uma reflexão crítica, em relação à escola, ao ser constituída, por uma cultura de semelhanças, esquecendo-se, muitas vezes, das diferenças. Para ele, a atenção dada à cultura das diferenças é uma forma apropriada, para que a escola seja um ambiente, que receba todas as crianças, desprendendo- se das semelhanças, que apenas buscam encaixar e classificar os alunos. Ou seja, o autor percebe que esse mecanismo, o qual envolve “encaixes”, opera por uma lógica, que, quando está diante de algo particular, diferente ou novo, https://www1.folha.uol.com.br/fsp/especial/fj070812.htm Sociologia da educação - Unidade 2 - Escola e reprodução social busca classificar, conceituar e colocar o que é singular, dentro de um lugar de exclusão. Por isso, Lino de Macedo (2005) nos explica, cuidadosamente e de forma didática, os mecanismos dessa exclusão, mostrando-nos os percursos dessa escolha (consciente ou inconsciente), pelo que é semelhante. Em um primeiro movimento, trata-se de uma redução do particular ao geral. Esse é o mecanismo primordial, que leva à exclusão. Ele explica que as vantagens, que o indivíduo percebe ao realizar essa operação são, de um lado, poder atribuir a um particular, tudo aquilo que sabemos e conhecemos como geral, e de outro, reduzir o que poderia nos ameaçar (por ser desconhecido) a um rótulo ou um conceito, para com isso, nos dar a sensação de “conforto”, por não ter que conviver com o diferente. Em resumo, Lino de Macedo (2005) aponta para um mecanismo existente nas pessoas, em que, o comum, o regular e o equivalente são organizados na lógica de semelhanças, como um dispositivo de segurança e conforto. Por meio das semelhanças, o indivíduo se sentirá mais seguro, diante do desconhecido, existente na sociedade. Assim, o desconhecido funciona como uma ameaça, por isso, a necessidade de se proteger, buscando aproximar-se do que é semelhante. Essa é a lógica da exclusão analisada por Lino de Macedo. Portanto, a segurança e a sensação de controle que se tem ao lidar com dimensões conhecidas, levam a exclusão ou negação daquilo ou daqueles, que não se encaixam nesse universo familiar (conhecido, semelhante). Na perspectiva de Lino de Macedo, a diferença tem a ver com singularidade e ao mesmo tempo, com diversidade e ele nos lembra, que identidade é resultante de um jogo, entre semelhanças e diferenças. Este aspecto é importante, para entendermos uma evidência presente no pensamento sociológico, ao analisar a cultura. Essa evidência é a de que todo indivíduo nasce em uma sociedade que instaurou uma cultura, voluntariamente ou inconscientemente. Sociologia da educação - Unidade 2 - Escola e reprodução social Desta maneira, o indivíduo não pode tornar-se humano fora do campo social. Por isso, a descoberta da alteridade (quando uma cultura não tem como objetivo extinguir ou excluir a outra) é a descoberta de uma relação, não de uma barreira, pois, coloca-se em questão a ideia que fazemos de nós mesmos e denossa própria cultura, e será, justamente, a descoberta da alteridade, que nos faz sair do círculo restrito dos nossos semelhantes. Em outras palavras, ao nos abrirmos para conhecer o outro, podemos conhecer um pouco mais de nós mesmos. Lino de Macedo nos explica que um dos caminhos, para se conviver com as diferenças, é o respeito. E ele também pode ter a função de cimentar o caminho para a inclusão. Portanto, “na inclusão, semelhanças e diferenças relacionam-se de modo interdependente, indissociável” (Macedo, 2005: 15). Deste modo, se existe respeito pelas diferenças, somos desafiados a desenvolver ações mais responsáveis ou comprometidas com a inclusão. Por isso, Lino de Macedo enfatiza que a cultura da diferença supõe a cultura da fraternidade, em que diversidade, singularidades, diferenças e semelhanças podem conviver com uma inclusão. Por meio dessas considerações sobre a inclusão e a exclusão, Lino de Macedo nos auxilia a estabelecer uma reflexão, sobre os desafios que envolvem a ação de colocar em prática uma escola para todos. O primeiro passo é compreender as diferenças e a lógica da inclusão que é definida pela compreensão. Para isso, torna-se importante não nos esquecermos de que uma relação é “uma forma de interagir, de organizar o conhecimento ou de pensar o que quer que seja na perspectiva do outro” (Macedo, 2005: 20). 2.1 Família, escola e socialização Ao pensarmos sobre como conceituar a educação, em seu caráter formal ou informal, podemos concluir, por meio dos autores mencionados, nessa Unidade, que a formalidade da educação está presente no âmbito escolar, dentro dos muros da escola. Sociologia da educação - Unidade 2 - Escola e reprodução social Afinal, um dos papéis da escola é o de transmitir um pensamento abstrato sobre os conhecimentos técnicos, históricos, científicos e filosóficos. Ou seja, desenvolver no aluno a capacidade de abstração filosófica e de autonomia de pensamento. Por outro lado, a educação informal é aquela que é apreendida, por meio do convívio com a família, com o universo dos amigos, das relações culturais e artísticas, presentes na vida social. Ou seja, a educação informal relaciona-se com o processo de socialização. De acordo com Libâneo (2001), a escola cumpre o seu papel de mediadora entre o individual e o social, ao desempenhar uma articulação entre a transmissão de conteúdos, por parte do educador e, a absorção, por parte dos alunos. Esse processo resulta em um conhecimento crítico e reelaborado, que vai além da mera absorção de conteúdo. Ele é um procedimento que engendra uma significação humana e social, que pode e deve ecoar na vida e no autoconhecimento do aluno, já que a educação é uma atividade intermediária, entre a prática social e a qualidade existencial. Nery (2013), explica que a educação possui um caráter múltiplo, na medida em que envolve uma soma de conhecimentos diferentes, que variam de indivíduo para indivíduo, considerando-se o contexto social. Ela ainda nos lembra que a escola, enquanto instituição social reflete os elementos presentes na sociedade e o processo de ensino aprendizagem é o processo, que também, permite e estabelece formas de regulação social, adequando indivíduos e grupos à própria estrutura da sociedade. Deve-se verificar que a instituição do Estado é reguladora da ordem social, estabelecendo-se a ordem, no contexto das sociedades complexas. A educação, na medida em que é uma das funções do Estado, também é reguladora da moral vigente na sociedade. Assim, de acordo com Nery (2013), a educação, enquanto instituição social, reflete elementos da sociedade, na qual se encontram contidos indivíduos e grupos. Desta maneira, opostamente, a pedagogia tradicional, a pedagogia nova, possui um aspecto fundamental, que é o fato de que o indivíduo deve saber das Sociologia da educação - Unidade 2 - Escola e reprodução social formas e métodos que permitam chegar às informações produzidas e acumuladas pela civilização humana. Em outras palavras, Nery (2013) nos explica que nesta vertente pedagógica o objetivo primordial diz respeito ao ato de ensinar ao aluno a produzir conhecimento e não a simplesmente transmiti-lo. Com isso, se o objetivo não é transmitir conhecimento, mas ensinar o aluno a produzi-lo, então, a figura do aluno deve ser tão importante quanto à do professor. E desta maneira, tão importantes, quanto à exposição do professor, são os trabalhos em grupo, as dinâmicas, e os debates, pois todas essas técnicas levam à valorização da experiência, da prática, enfim, do aprender fazendo. Conclui-se que, de acordo com o que é enfatizado por Nery (2013), encontramos aqui uma forma mais dinâmica do próprio processo de ensino- aprendizagem, na medida em que o aluno acaba por possuir um papel mais ativo de sua aprendizagem sob a orientação do professor. Por isso, deve haver um reconhecimento do papel ativo do aluno, na absorção das formas e métodos que lhe permita chegar às informações. Você sabia Por meio dessas duas imagens, você poderá ver como os modelos de uniformes escolares mudaram, ao longo da história, ao mesmo tempo, em que os padrões comportamentais também são alterados na sociedade mais ampla. Sociologia da educação - Unidade 2 - Escola e reprodução social Figura 2 – Alunos, em 1910, utilizando uniformes da época (paletó, chapéu de palha e gravata), em passeio pelo Parque Jabaquara. Fonte: UOL, 2020. Figura 3 - Aula de Ginástica - Colégio Pedro II (1909). Fonte: UOL, 2020. . Sociologia da educação - Unidade 2 - Escola e reprodução social 3. Escola como instituição social Nery (2013) ressalta que a escola é, antes de tudo, uma instituição social que não é imune ao que se encontra presente, no contexto social mais amplo. Assim, compreende-se que a desigualdade, presente na estrutura social, perpassa os espaços da escola, pois a classe que detém o poder econômico, no contexto das sociedades, detém também o poder ideológico, jurídico e político desta mesma sociedade. Neste sentido, deve-se levar em conta a relação entre infra e superestrutura social. A autora nos explica que a escola, sendo superestrutural, reproduz as relações presentes no contexto da infraestrutura, e exerce também o papel de legitimadora destas mesmas relações. Tais relações são desiguais, todavia, a autora enfatiza, que todo sistema, origina em si, sua força contrária, sendo este um aspecto dialético presente na própria vida. Nesta perspectiva, defendida por Nery (2013), tudo está pleno de seu contrário e, assim podem-se construir concepções e visões de mundo de caráter mais progressista, dentro do próprio ambiente escolar e no contexto das relações cotidianas. Assim, a escola pode ser uma instância dinâmica, que possibilita uma análise crítica da realidade social, vivenciada por indivíduos e grupos, percorrendo caminhos, que possibilitem transformações nos processos de desigualdades sociais, presentes na sociedade, sobretudo, através do processo de conscientização do aluno de sua própria realidade social vivenciada. A autora conclui que, a escola não pode resumir-se a um papel meramente reprodutor da ordem vigente, tendo em vista que ela exerce o papel de uma força motriz que agrega concepções e visões do processo de ensino-aprendizagem progressistas, que podem levar a transformação da sociedade e, consequentemente, da própria escola. Portanto, na escola enquanto instituição social, que reproduz as contradições presentes no contexto da sociedade mais ampla, encontra-se também forças progressistas. Sociologia da educação - Unidade 2 - Escola e reprodução social Contudo, podemos entender que o processo educativo pode ter um caráter conservador ou inovador, dependendo do contexto histórico e social, no qual se encontra contido. Segundo Nery (2013), a educação, como processo social, deve ser aberta e democrática, para preparar os indivíduospara um aperfeiçoamento progressivo e, também para a construção de um mundo melhor. 3.1 Escola: vulnerabilidades e conflitos Nunes (2011) situa sua reflexão sobre os processos de mediação e resolução de conflitos, no interior da escola, com o objetivo de colocar em evidência os aspectos presentes no cotidiano escolar, para que, assim, possamos pensar em ações pedagógicas, que possam contribuir, para a superação de ações repressoras ou excludentes, em relação ao aluno, envolvido em agressões ou em manifestações de violência. Deste modo, o autor nos traz importantes considerações sobre a educação, e sobre como podemos perceber como educadores, as diferentes formas de expressão da violência, que desembocam no ambiente educacional, carregadas de influências do imaginário social e cultural, daqueles que compõem o cotidiano escolar. Nunes (2011) nos diz que a estrutura familiar explica, ao menos parcialmente, os casos de violência, cada vez mais, recorrentes dentro e fora da escola. Em outras palavras, para ele, a escola é o reflexo da família e da sociedade. Por isso, em seu trabalho, Nunes (2011) elucida que, por meio dos conflitos, será possível aprender a respeitar os direitos e a promover a cidadania, sem necessidade do uso da repressão. Desta maneira, ele aborda os principais problemas relacionados à convivência escolar, estabelecendo uma reflexão sobre os conflitos de forma geral, como, por exemplo, a violência na escola, a indisciplina e o bullying. Ele explica que muitas são as definições para a palavra “conflito”, todas sempre ligadas à ideia de desentendimento, de enfrentamento, de crise, de batalha ou de guerra. Sociologia da educação - Unidade 2 - Escola e reprodução social Em suma, tais definições envolvem violência ou algo indesejável. Mas, pouco se fala do conflito, enquanto algo intrínseco à condição humana ou enquanto alguma coisa que pode trazer uma oportunidade para a construção de diálogos e cooperações entre pessoas e grupos. Por isso, a importância do trabalho, desenvolvido por Nunes (2011), está em nos mostrar que conflitos podem significar algo além de aspectos negativos, que comumente são usados para defini-lo. Ele pode ter um sentido que envolve oportunidades com novas opções e possibilidades para que os indivíduos solucionem, de forma criativa problemas cotidianos. Em outras palavras, o autor consegue nos fazer entender que o conflito faz parte das relações humanas e ocorre em nível intrapessoal e interpessoal, sendo eles, necessários para o aprimoramento das relações sociais. 4. Bullying e cyberbullying: depressão, suicídio e violência simbólica e silenciosa A prevenção ao suicídio, relacionado à prática de Bullying e cyberbullying, no âmbito escolar e social surge, a partir da observação de estudos, nos quais revelam dados que apontam que a prática do bullying é frequente em escolas particulares, estaduais e municipais. Sendo que meninos e meninas são vítimas igualmente. O bullying é encarado como uma forma de diversão pelos agressores. Essa prática carrega consigo uma intensa violência simbólica e psicológica. Essas violências não são tão visíveis, quanto à física e, isso faz com que a identificação e o combate ao bullying se tornem mais complicados. No bullying, também é possível existir agressões físicas, além das verbais, morais ou psicológicas, presentes no universo escolar, e será a partir dessas dinâmicas de manifestações, que a mediação irá se apresentar, como um potencial para a resolução dos conflitos. Na concepção de Nunes (2011), os processos de mediação extraídos das práticas jurídicas são formas de restaurar a cultura da paz, no âmbito educacional. Esta é a contribuição desse autor, trazendo-nos o olhar das inovações jurídicas, em relação aos conflitos de ordens sociais e culturais, que irão desembocar na escola, e que podem ocasionar inquietações nos educadores, que buscam restabelecer o apaziguamento, em relação a esses conflitos. Sociologia da educação - Unidade 2 - Escola e reprodução social Por isso, a técnica da Justiça Restaurativa, ressaltada por Nunes (2011), possibilita minimizar as relações competitivas, e as rivalidades, que podem ser as causas de tais conflitos. Você quer ver Jovens estudantes de medicina e enfermagem, da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) pesquisam o cyberbullying, sob a coordenação da professora Sara Bottino. Depois de coletar e discutir informações, eles visitam escolas públicas da capital paulista, para fazer um trabalho de prevenção. Para acessar, utilize o endereço a seguir: https://www.youtube.com/watch?v=i4ugDAMWD1s Síntese Espera-se que, nesta unidade, o aluno tenha compreendido, por meio desta incursão em mais uma fatia do amplo universo da Sociologia da Educação, o momento histórico que envolve a gênese e o desenvolvimento da escola. Também é esperado que, esse mergulho no passado, por meio da História da Educação, tenha facilitado o entendimento do conceito de Escola, possibilitando que o aluno analise outras dimensões, que possam envolver a instituição educacional, como é o caso dos conflitos existentes na escola, enquanto representação da sociedade. Nesse sentido, compreender o valor de evitar racionalmente condutas que fomentem a prática e a colaboração do Bullying e do cyberbullying, no âmbito escolar e na sociedade, em geral, pode ser um aspecto bastante relevante para educadores, que percebam a importância de desenvolver, no aluno e em si mesmos, a capacidade de observação, em relação à violência simbólica, evitando com isso uma participação colaborativa, em relação à prática do Bullying e do cyberbullying. Nesta unidade, você viu: https://www.youtube.com/watch?v=i4ugDAMWD1s Sociologia da educação - Unidade 2 - Escola e reprodução social ● Os padrões familiares de diferentes sociedades, em um mesmo período histórico; ● Identificou como fatores culturais e econômicos influenciam as relações familiares e escolares; ● Entendeu a escola, como instituição social e como reprodução cultural; ● Compreender os conflitos existentes na escola, como representação da sociedade; ● Observou a existência de uma violência escolar; ● E analisou os tipos de violência, que podem se manifestar nas escolas. Bibliografia BORDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998. DE MACEDO, Lino. Competências e habilidades: elementos para uma reflexão pedagógica. 2005. DUSSEL, Inês; CARUSO, Marcelo. A invenção da sala de aula: uma genealogia das formas de ensinar. São Paulo: Moderna, 2003. FREITAG, Bárbara. Escola, Estado e Sociedade. 6ª edição. São Paulo: Editora Moraes, 1986. LEVSKY, David Léo (org.). Adolescência pelos caminhos da violência. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2010. LIBÂNEO, José Carlos. Democratização da escola pública. Edições Loyola, 2001. MACEDO, Lino. Ensaios Pedagógicos. São Paulo: Artmed, 2005. MACEDO, Lino de. Competências e habilidades: elementos para uma reflexão pedagógica. 1999. Disponível em: <http://upd.cefetsp.br/~eso/competenciashabilidades.html>. Acesso em 13 de Fevereiro de 2020. NERY, Maria Clara Ramos. A especificidade da Sociologia da Educação. In: Sociologia da Educação. Curitiba: INTERSABERES, 2013. http://upd.cefetsp.br/%7Eeso/competenciashabilidades.html Sociologia da educação - Unidade 2 - Escola e reprodução social NUNES, Antônio Ozório. Como restaurar a paz nas escolas. São Paulo: Contexto, 2011. Referências Imagéticas: Figura 1 - Decreto assinado em 1717 por Frederico Guilherme I (Friedrich Wilhelm I), rei da Prússia ao instituir a obrigatoriedade do ensino primário em seu país: Disponível em: <https://jornalggn.com.br/politicas-sociais/a-historia-do-nascimento- da-educacao-publica/ > Acesso em 14 de Fev. de 2020. Figura 2 - Alunos do Liceu em 1910-Uniformes: Disponível em: <https://educacao.uol.com.br/album/mobile/2014/02/08/veja-como-eram-os- uniformes-escolares-no-seculo-passado.htm#fotoNav=3>Acesso em 14 de Fev. de 2020. Figura 3- Lição de Ginástica Sueca em 1909: Disponível em: <https://educacao.uol.com.br/album/mobile/2014/02/08/veja-como-eram-os- uniformes-escolares-no-seculo-passado.htm#fotoNav=3> Acesso em 14 de Fev. de 2020. https://jornalggn.com.br/politicas-sociais/a-historia-do-nascimento-da-educacao-publica/ https://jornalggn.com.br/politicas-sociais/a-historia-do-nascimento-da-educacao-publica/ https://educacao.uol.com.br/album/mobile/2014/02/08/veja-como-eram-os-uniformes-escolares-no-seculo-passado.htm#fotoNav=3 https://educacao.uol.com.br/album/mobile/2014/02/08/veja-como-eram-os-uniformes-escolares-no-seculo-passado.htm#fotoNav=3 https://educacao.uol.com.br/album/mobile/2014/02/08/veja-como-eram-os-uniformes-escolares-no-seculo-passado.htm#fotoNav=3 https://educacao.uol.com.br/album/mobile/2014/02/08/veja-como-eram-os-uniformes-escolares-no-seculo-passado.htm#fotoNav=3
Compartilhar