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Escola e Reprodução Social na Sociologia da Educação

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Sociologia da educação - Unidade 2 - Escola e reprodução social 
 
 
 
Sociologia da 
educação 
 
 
Unidade 2 - Escola e reprodução social 
 
 
 
Autor: Fátima Modesto de Oliveira 
Revisor técnico: André Luís Dolencsko 
 
 
Sociologia da educação - Unidade 2 - Escola e reprodução social 
 
Introdução 
 Na Unidade 1, discutimos sobre o objetivo da disciplina Sociologia da 
Educação, e percebemos que um ponto fundamental é observar a existência de uma 
conexão entre educação, escola e sociedade. Por isso, as Ciências Sociais possuem 
uma relação com a educação e com os assuntos relacionados ao processo de 
escolarização, nas sociedades contemporâneas. 
É por essa razão que tivemos a oportunidade, na Unidade 1, de refletir sobre 
a função social da educação, no contexto das sociedades modernas, por meio das 
análises das contribuições dos principais teóricos, que se debruçaram sobre os 
objetos de estudo da sociologia da educação. 
Nesta Unidade, iremos compreender a escola, enquanto uma instituição que 
realiza uma reprodução social. 
Para isso, inicialmente, faremos um mergulho no passado para entendermos 
como surge a escola nas sociedades modernas. Isso facilitará o entendimento do 
conceito de Escola, para depois, pensarmos em outras dimensões, que envolvem a 
escola, como é o caso do processo de ensinar e de aprender, presente nas diferentes 
tendências educacionais. 
A história da educação e a história da cultura são instrumentos apropriados 
para entendermos, tanto o passado, quanto o contemporâneo, no âmbito 
educacional, assim, fica bem fácil percebermos como a educação ao longo do tempo, 
dialoga com visões de mundo da sociedade mais ampla. Mas nunca podemos deixar 
a história da educação separada da história geral, assim, podemos de fato entender 
as configurações. 
Diante dessas considerações, ao dirigirmos o olhar para a História da 
Educação, podemos observar que as radicais transformações ocorridas, a partir do 
século XVIII, que levaram a Burguesia ao poder (em caráter internacional), com das 
Revoluções, Francesa e Industrial (ambas possuidoras de naturezas econômicas, 
sociais e políticas), que impulsionaram o surgimento das escolas. 
Lino de Macedo (1999) nos diz que o ideal sempre foi que a escola de fato 
fosse para todos e que nela, os alunos pudessem formar valores, normas e atitudes, 
favoráveis à sua cidadania, além de obterem as competências e habilidades 
necessárias para o universo do trabalho e da vida social, em seu sentido mais amplo. 
Sociologia da educação - Unidade 2 - Escola e reprodução social 
 
Porém, ele nos explica que, nem sempre, a escola foi aberta para todos. 
 Ele ressalta que algumas escolas, consideradas de excelência, podem 
selecionar, orientar, ensinar e certificar apenas as pessoas que conseguem realizar 
tarefas e, que apresentam uma conduta condizente com o alto nível exigido por elas. 
Esse aspecto possui uma relação com a chamada “teoria da reprodução”, de 
Pierre Bourdieu. Para este autor, o âmbito escolar, através da sua função de 
reprodução cultural, pode contribuir, em alguns momentos, para a produção, a 
reprodução e a normatização das desigualdades. 
Nesse caso, percebemos que a “Escola para todos”, nem sempre, conseguiu 
uma democratização das estruturas sociais. Em outras palavras, o universo escolar, 
visto nessa perspectiva, não consegue diminuir as fronteiras entre as classes sociais 
favorecidas e as desfavorecidas. 
Analisaremos os entrelaçamentos dessas desigualdades presentes no 
universo escolar, tendo em vista que a escola, embora seja uma instituição 
privilegiada na vida das pessoas, não realiza de forma solitária o enfrentamento 
dessas desigualdades. Além do que, como veremos com o pensamento de Pierre 
Bourdieu, as desigualdades escolares são produzidas pelas desigualdades sociais. 
Por fim, podemos pensar no conceito de escola, enquanto uma reprodução 
social, sem deixar de levar em conta o papel das instituições educativas e sociais 
(família, escola, igreja). 
Além disso, observamos a presença de conflitos (violências silenciosas ou não), 
que ocorrem no âmbito escolar, enquanto representação da sociedade, já que a 
escola não está isolada da estrutura social, sendo ela, na verdade, possuidora de 
uma extensão, que extrapola os seus muros. Temas atuais, como Bullyng e 
Cyberbullying, permeiam questões sobre vulnerabilidades e violência escolar. 
Espera-se que, com essa incursão nessas temáticas, você, estudante, possa 
refletir sobre a postura do próprio docente, diante de tais questões, sempre, 
proporcionando uma educação autônoma aos seus estudantes, levando-os a 
encontrar seu próprio sentido existencial de forma harmoniosa e acolhedora das 
semelhanças e das diferenças. 
 
Sociologia da educação - Unidade 2 - Escola e reprodução social 
 
1. Gênese e desenvolvimento da escola 
Inés Dussel e Marcelo Caruso (2003) nos explicam que, foi na Prússia 
(Alemanha), que houve a institucionalização da educação obrigatória, ainda na 
primeira metade do século XVIII. 
Deste modo, atrelado à uma “razão de Estado”, o modelo escolar prussiano 
predominou, de forma internacionalizada, ao longo do século XIX, mesmo período 
em que as discussões sobre a laicização (retirar componentes religiosos) da escola, 
adquiriram uma predominância. 
Nesse momento histórico, houve um controle escolar, por parte do Estado no 
que diz respeito aos conteúdos de aprendizagem, permitindo a implementação da 
escolarização obrigatória. 
Podemos concluir que, as origens da escola prussiana, possuem conexões 
com o surgimento da escola moderna. Inés Dussel e Marcelo Caruso (2003), explicam 
que a Prússia trouxe, em seu projeto, as principais sínteses desse processo, 
marcado, sobretudo, pela busca de uma escola pública, estatal e obrigatória. 
O avanço da industrialização, após a revolução industrial, necessitou de uma 
mão de obra qualificada, e esse foi o impulso primordial, para requisitar de escolas, 
em vários países da Europa, um projeto de instrução pública, que tivesse como 
princípio o progresso intelectual, moral e material dos homens. 
 Inés Dussel e Marcelo Caruso (2003) retratam a genealogia das formas de 
ensinar, traçando o papel da igreja, do governo e da sociedade, na educação até o 
final do século XX, e nos explicam que no século XVII, a Prússia programou um 
modelo de escolarização, baseado em financiamento público-estatal. 
Veja, abaixo, o decreto assinado, em 1717, por Frederico Guilherme I (Friedrich 
Wilhelm I), rei da Prússia, ao instituir a obrigatoriedade do ensino primário, em seu 
país: 
Sociologia da educação - Unidade 2 - Escola e reprodução social 
 
 
Figura 1 - Decreto Escola Prussiana. Fonte: Jornal GGN, 2020. 
Figura 1: Decreto Escola Prussiana. Fonte: Jornal GGN, 2020. 
 1.1 Escola: uma instituição de reprodução social 
Na “teoria da reprodução”, de Pierre Bourdieu, percebe-se que a 
democratização do ensino, proposta fundamental do modelo de escolarização, 
nascido na Prússia, não levou a sociedade mais ampla a uma democratização das 
estruturas sociais. 
Isto significa dizer que, a escolarização não havia diminuído as diferenças entre 
as classes sociais. Pelo contrário, segundo Bourdieu, a escolarização pode até 
reforçar uma determinada manutenção das desigualdades sociais. 
Para este pensador, o campo educacional contribui para a produção, 
reprodução e legitimação das desigualdades sociais, possuindo funções que 
envolvem inculcação e reprodução de papéis culturais, presentes nas estruturas 
sociais. 
Sociologia da educação - Unidade 2 - Escola e reprodução social 
 
 Deste modo, a teoria de Pierre Bourdieu analisa os efeitos sociais do capital 
cultural, no sistema de ensino. Entendendo sistema de ensino, como uns lócus de 
reprodução social. 
A razão pela qual Pierre Bourdieu considera o sistema de ensino como um 
lugar de reprodução social, está no fato dele ser um local privilegiado, para adquirir 
os conhecimentos que a sociedade consideracomo relevantes e socialmente 
valorizados. 
 As classes favorecidas já adquirem, desde o berço, no convívio familiar 
cotidiano, tais conhecimentos. Portanto, o capital cultural está presente nas 
experiências fora da escola, numa espécie de cultura livre, que envolve a vida social 
entrelaçada às artes, à leitura, e à uma série de outras especificidades, que é 
desigualmente distribuída, entre as diferentes classes e origens sociais e familiares. 
O trabalho de Bourdieu dirige um olhar antropológico para as trocas 
simbólicas e as práticas que podem existir, nas instituições das sociedades 
contemporâneas, como é o caso da escola e da família. 
Bourdieu deixa claro que o sistema educacional é um dos fatores mais 
eficazes de conservação social, já que fornece uma aparência de legitimidade às 
desigualdades sociais e, ao mesmo tempo, ratifica a herança cultural e a ideia de 
“dom natural”. 
Quanto mais amplo for o conhecimento dos estudantes (sobre cinema, 
música, artes em geral), mais elevada é a sua origem social, ou seja, sua classe social. 
As atitudes da família, em relação à escola, refletem, pois, a posição social, que 
esta ocupa na sociedade. Desta maneira, quanto mais elevada for sua posição social, 
maiores suas expectativas de escolarização, e quanto mais desfavorecida for a 
família, mais limitadas suas aspirações, em relação ao futuro. 
A legitimação está presente, na reprodução das hierarquias sociais que, no 
ambiente educacional, pode ter um papel de capital social e cultural 
institucionalizados pela sociedade. Isso se dá, por meio de uma violência simbólica e 
imposição de formas culturais, adotadas como formatos ideais e naturalizadas no 
comportamento social. 
Sociologia da educação - Unidade 2 - Escola e reprodução social 
 
Mas que, porém, são possuidoras de diferenças, resultantes de padrões 
comportamentais instituídos, pela classe social dominante, ou seja, a classe social 
com maior poder aquisitivo. 
 Isso é o que é conhecido como conservação social. 
Em outras palavras, na visão de Bourdieu, a escola pode ser percebida como 
um mecanismo seletivo, que funciona por meio de uma transmissão cultural, que o 
aluno adquire, no seio familiar. Essa herança cultural é o que o autor chama de 
capital cultural. 
A posse deste capital cultural irá determinar percursos escolares, 
diferenciados para as classes sociais, na sociedade mais ampla. 
Tais percursos podem ser trajetórias que envolvem distinções legitimadas, 
pela escola, por meio da herança ou patrimônio familiar, trazido pelo aluno, que nem 
sempre terá como acompanhar ou competir com heranças culturais oriundas das 
classes mais favorecidas. 
Deste modo, é possível desvendar, por meio de mecanismos de seleção 
consagrados pela escola, o quanto ela pode não perceber, em termos cognitivos, as 
desigualdades culturais entre os alunos. A influência deste capital é percebida, pela 
relação entre o nível cultural global da família e o êxito escolar da criança. 
A proposta primordial, de Pierre Bourdieu, é a de apontar para os mecanismos 
que provocam uma intensa aderência, por parte dos agentes sociais a um conjunto 
de juízos que a sociedade elabora, em um determinado momento histórico, fazendo 
com que os atores suponham tratar-se de uma evidência “natural”. 
 Ou seja, trata-se de uma adesão por parte dos agentes sociais à ordem 
estabelecida, uma espécie de cumplicidade, sem reflexão, incorporada como uma 
"segunda natureza". 
 Algo que é internalizado e que, atua como um poder invisível, que só se exerce 
enquanto poder, tendo a cumplicidade daqueles que, não querem saber ou nem se 
quer imaginam, que estão submetidos a ele. 
 Segundo Bourdieu, os sistemas simbólicos exercem um poder estruturante, 
na medida em que, são também estruturados. E a estruturação decorre da função 
Sociologia da educação - Unidade 2 - Escola e reprodução social 
 
que os sistemas simbólicos possuem uma espécie de integração social, dentro de 
um determinado consenso. 
 Deste modo, existem mecanismos objetivos que determinam a eliminação 
contínua de crianças desfavorecidas, no sistema educacional. 
Nesse sentido, as observações de Bourdieu apontam dificuldades adicionais 
e também soluções para os educadores, que se propõem a tarefa de evitar a 
repetição da barbárie, em populações vulneráveis ou a de impedir ou frear os 
mecanismos de uma ordem social, que pode causar a existência de uma violência 
silenciosa e simbólica, no meio educacional. 
 
Você quer ler 
No acesso a seguir, você poderá saber mais a respeito do que pensa Lino de Macedo 
(Professor Emérito do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo - USP), 
sobre o Lugar da Escola. Para acessar utilize o endereço a seguir: 
<https://www1.folha.uol.com.br/fsp/especial/fj070812.htm>. 
 
2. Sociedade, cultura e psicologia: família, indivíduo e 
escola 
Analisar a escola, como um espaço sociocultural, faz parte do trabalho de Lino 
de Macedo (2005). O autor estabelece uma reflexão crítica, em relação à escola, ao 
ser constituída, por uma cultura de semelhanças, esquecendo-se, muitas vezes, das 
diferenças. 
Para ele, a atenção dada à cultura das diferenças é uma forma apropriada, 
para que a escola seja um ambiente, que receba todas as crianças, desprendendo-
se das semelhanças, que apenas buscam encaixar e classificar os alunos. 
Ou seja, o autor percebe que esse mecanismo, o qual envolve “encaixes”, 
opera por uma lógica, que, quando está diante de algo particular, diferente ou novo, 
https://www1.folha.uol.com.br/fsp/especial/fj070812.htm
Sociologia da educação - Unidade 2 - Escola e reprodução social 
 
busca classificar, conceituar e colocar o que é singular, dentro de um lugar de 
exclusão. 
Por isso, Lino de Macedo (2005) nos explica, cuidadosamente e de forma 
didática, os mecanismos dessa exclusão, mostrando-nos os percursos dessa escolha 
(consciente ou inconsciente), pelo que é semelhante. 
Em um primeiro movimento, trata-se de uma redução do particular ao geral. 
Esse é o mecanismo primordial, que leva à exclusão. 
 Ele explica que as vantagens, que o indivíduo percebe ao realizar essa 
operação são, de um lado, poder atribuir a um particular, tudo aquilo que sabemos 
e conhecemos como geral, e de outro, reduzir o que poderia nos ameaçar (por ser 
desconhecido) a um rótulo ou um conceito, para com isso, nos dar a sensação de 
“conforto”, por não ter que conviver com o diferente. 
Em resumo, Lino de Macedo (2005) aponta para um mecanismo existente nas 
pessoas, em que, o comum, o regular e o equivalente são organizados na lógica de 
semelhanças, como um dispositivo de segurança e conforto. 
Por meio das semelhanças, o indivíduo se sentirá mais seguro, diante do 
desconhecido, existente na sociedade. Assim, o desconhecido funciona como uma 
ameaça, por isso, a necessidade de se proteger, buscando aproximar-se do que é 
semelhante. 
Essa é a lógica da exclusão analisada por Lino de Macedo. 
Portanto, a segurança e a sensação de controle que se tem ao lidar com 
dimensões conhecidas, levam a exclusão ou negação daquilo ou daqueles, que não 
se encaixam nesse universo familiar (conhecido, semelhante). 
Na perspectiva de Lino de Macedo, a diferença tem a ver com singularidade e 
ao mesmo tempo, com diversidade e ele nos lembra, que identidade é resultante de 
um jogo, entre semelhanças e diferenças. 
Este aspecto é importante, para entendermos uma evidência presente no 
pensamento sociológico, ao analisar a cultura. Essa evidência é a de que todo 
indivíduo nasce em uma sociedade que instaurou uma cultura, voluntariamente ou 
inconscientemente. 
Sociologia da educação - Unidade 2 - Escola e reprodução social 
 
Desta maneira, o indivíduo não pode tornar-se humano fora do campo social. 
Por isso, a descoberta da alteridade (quando uma cultura não tem como 
objetivo extinguir ou excluir a outra) é a descoberta de uma relação, não de uma 
barreira, pois, coloca-se em questão a ideia que fazemos de nós mesmos e denossa 
própria cultura, e será, justamente, a descoberta da alteridade, que nos faz sair do 
círculo restrito dos nossos semelhantes. 
Em outras palavras, ao nos abrirmos para conhecer o outro, podemos 
conhecer um pouco mais de nós mesmos. 
Lino de Macedo nos explica que um dos caminhos, para se conviver com as 
diferenças, é o respeito. E ele também pode ter a função de cimentar o caminho para 
a inclusão. 
Portanto, “na inclusão, semelhanças e diferenças relacionam-se de modo 
interdependente, indissociável” (Macedo, 2005: 15). Deste modo, se existe respeito 
pelas diferenças, somos desafiados a desenvolver ações mais responsáveis ou 
comprometidas com a inclusão. 
Por isso, Lino de Macedo enfatiza que a cultura da diferença supõe a cultura 
da fraternidade, em que diversidade, singularidades, diferenças e semelhanças 
podem conviver com uma inclusão. 
Por meio dessas considerações sobre a inclusão e a exclusão, Lino de Macedo 
nos auxilia a estabelecer uma reflexão, sobre os desafios que envolvem a ação de 
colocar em prática uma escola para todos. 
O primeiro passo é compreender as diferenças e a lógica da inclusão que é 
definida pela compreensão. 
Para isso, torna-se importante não nos esquecermos de que uma relação é 
“uma forma de interagir, de organizar o conhecimento ou de pensar o que quer que 
seja na perspectiva do outro” (Macedo, 2005: 20). 
2.1 Família, escola e socialização 
Ao pensarmos sobre como conceituar a educação, em seu caráter formal ou 
informal, podemos concluir, por meio dos autores mencionados, nessa Unidade, que 
a formalidade da educação está presente no âmbito escolar, dentro dos muros da 
escola. 
Sociologia da educação - Unidade 2 - Escola e reprodução social 
 
Afinal, um dos papéis da escola é o de transmitir um pensamento abstrato 
sobre os conhecimentos técnicos, históricos, científicos e filosóficos. Ou seja, 
desenvolver no aluno a capacidade de abstração filosófica e de autonomia de 
pensamento. 
Por outro lado, a educação informal é aquela que é apreendida, por meio do 
convívio com a família, com o universo dos amigos, das relações culturais e artísticas, 
presentes na vida social. Ou seja, a educação informal relaciona-se com o processo 
de socialização. 
De acordo com Libâneo (2001), a escola cumpre o seu papel de mediadora 
entre o individual e o social, ao desempenhar uma articulação entre a transmissão 
de conteúdos, por parte do educador e, a absorção, por parte dos alunos. 
 Esse processo resulta em um conhecimento crítico e reelaborado, que vai 
além da mera absorção de conteúdo. Ele é um procedimento que engendra uma 
significação humana e social, que pode e deve ecoar na vida e no autoconhecimento 
do aluno, já que a educação é uma atividade intermediária, entre a prática social e a 
qualidade existencial. 
Nery (2013), explica que a educação possui um caráter múltiplo, na medida 
em que envolve uma soma de conhecimentos diferentes, que variam de indivíduo 
para indivíduo, considerando-se o contexto social. 
 Ela ainda nos lembra que a escola, enquanto instituição social reflete os 
elementos presentes na sociedade e o processo de ensino aprendizagem é o 
processo, que também, permite e estabelece formas de regulação social, adequando 
indivíduos e grupos à própria estrutura da sociedade. 
Deve-se verificar que a instituição do Estado é reguladora da ordem social, 
estabelecendo-se a ordem, no contexto das sociedades complexas. A educação, na 
medida em que é uma das funções do Estado, também é reguladora da moral 
vigente na sociedade. 
Assim, de acordo com Nery (2013), a educação, enquanto instituição social, 
reflete elementos da sociedade, na qual se encontram contidos indivíduos e grupos. 
 Desta maneira, opostamente, a pedagogia tradicional, a pedagogia nova, 
possui um aspecto fundamental, que é o fato de que o indivíduo deve saber das 
Sociologia da educação - Unidade 2 - Escola e reprodução social 
 
formas e métodos que permitam chegar às informações produzidas e acumuladas 
pela civilização humana. 
Em outras palavras, Nery (2013) nos explica que nesta vertente pedagógica o 
objetivo primordial diz respeito ao ato de ensinar ao aluno a produzir conhecimento 
e não a simplesmente transmiti-lo. 
Com isso, se o objetivo não é transmitir conhecimento, mas ensinar o aluno a 
produzi-lo, então, a figura do aluno deve ser tão importante quanto à do professor. 
E desta maneira, tão importantes, quanto à exposição do professor, são os 
trabalhos em grupo, as dinâmicas, e os debates, pois todas essas técnicas levam à 
valorização da experiência, da prática, enfim, do aprender fazendo. 
 Conclui-se que, de acordo com o que é enfatizado por Nery (2013), 
encontramos aqui uma forma mais dinâmica do próprio processo de ensino-
aprendizagem, na medida em que o aluno acaba por possuir um papel mais ativo de 
sua aprendizagem sob a orientação do professor. Por isso, deve haver um 
reconhecimento do papel ativo do aluno, na absorção das formas e métodos que lhe 
permita chegar às informações. 
 
Você sabia 
Por meio dessas duas imagens, você poderá ver como os modelos de uniformes 
escolares mudaram, ao longo da história, ao mesmo tempo, em que os padrões 
comportamentais também são alterados na sociedade mais ampla. 
Sociologia da educação - Unidade 2 - Escola e reprodução social 
 
 
Figura 2 – Alunos, em 1910, utilizando uniformes da época (paletó, chapéu de palha e gravata), em passeio 
pelo Parque Jabaquara. Fonte: UOL, 2020. 
 
Figura 3 - Aula de Ginástica - Colégio Pedro II (1909). Fonte: UOL, 2020. 
. 
 
 
Sociologia da educação - Unidade 2 - Escola e reprodução social 
 
3. Escola como instituição social 
Nery (2013) ressalta que a escola é, antes de tudo, uma instituição social que 
não é imune ao que se encontra presente, no contexto social mais amplo. 
Assim, compreende-se que a desigualdade, presente na estrutura social, 
perpassa os espaços da escola, pois a classe que detém o poder econômico, no 
contexto das sociedades, detém também o poder ideológico, jurídico e político desta 
mesma sociedade. 
 Neste sentido, deve-se levar em conta a relação entre infra e superestrutura 
social. A autora nos explica que a escola, sendo superestrutural, reproduz as relações 
presentes no contexto da infraestrutura, e exerce também o papel de legitimadora 
destas mesmas relações. 
Tais relações são desiguais, todavia, a autora enfatiza, que todo sistema, 
origina em si, sua força contrária, sendo este um aspecto dialético presente na 
própria vida. 
 Nesta perspectiva, defendida por Nery (2013), tudo está pleno de seu 
contrário e, assim podem-se construir concepções e visões de mundo de caráter 
mais progressista, dentro do próprio ambiente escolar e no contexto das relações 
cotidianas. 
Assim, a escola pode ser uma instância dinâmica, que possibilita uma análise 
crítica da realidade social, vivenciada por indivíduos e grupos, percorrendo caminhos, 
que possibilitem transformações nos processos de desigualdades sociais, presentes 
na sociedade, sobretudo, através do processo de conscientização do aluno de sua 
própria realidade social vivenciada. 
 A autora conclui que, a escola não pode resumir-se a um papel meramente 
reprodutor da ordem vigente, tendo em vista que ela exerce o papel de uma força 
motriz que agrega concepções e visões do processo de ensino-aprendizagem 
progressistas, que podem levar a transformação da sociedade e, consequentemente, 
da própria escola. 
Portanto, na escola enquanto instituição social, que reproduz as contradições 
presentes no contexto da sociedade mais ampla, encontra-se também forças 
progressistas. 
Sociologia da educação - Unidade 2 - Escola e reprodução social 
 
Contudo, podemos entender que o processo educativo pode ter um caráter 
conservador ou inovador, dependendo do contexto histórico e social, no qual se 
encontra contido. 
Segundo Nery (2013), a educação, como processo social, deve ser aberta e 
democrática, para preparar os indivíduospara um aperfeiçoamento progressivo e, 
também para a construção de um mundo melhor. 
3.1 Escola: vulnerabilidades e conflitos 
Nunes (2011) situa sua reflexão sobre os processos de mediação e resolução 
de conflitos, no interior da escola, com o objetivo de colocar em evidência os 
aspectos presentes no cotidiano escolar, para que, assim, possamos pensar em 
ações pedagógicas, que possam contribuir, para a superação de ações repressoras 
ou excludentes, em relação ao aluno, envolvido em agressões ou em manifestações 
de violência. 
Deste modo, o autor nos traz importantes considerações sobre a educação, e 
sobre como podemos perceber como educadores, as diferentes formas de 
expressão da violência, que desembocam no ambiente educacional, carregadas de 
influências do imaginário social e cultural, daqueles que compõem o cotidiano 
escolar. 
Nunes (2011) nos diz que a estrutura familiar explica, ao menos parcialmente, 
os casos de violência, cada vez mais, recorrentes dentro e fora da escola. Em outras 
palavras, para ele, a escola é o reflexo da família e da sociedade. 
 Por isso, em seu trabalho, Nunes (2011) elucida que, por meio dos conflitos, 
será possível aprender a respeitar os direitos e a promover a cidadania, sem 
necessidade do uso da repressão. 
Desta maneira, ele aborda os principais problemas relacionados à convivência 
escolar, estabelecendo uma reflexão sobre os conflitos de forma geral, como, por 
exemplo, a violência na escola, a indisciplina e o bullying. 
Ele explica que muitas são as definições para a palavra “conflito”, todas sempre 
ligadas à ideia de desentendimento, de enfrentamento, de crise, de batalha ou de 
guerra. 
Sociologia da educação - Unidade 2 - Escola e reprodução social 
 
Em suma, tais definições envolvem violência ou algo indesejável. Mas, pouco 
se fala do conflito, enquanto algo intrínseco à condição humana ou enquanto alguma 
coisa que pode trazer uma oportunidade para a construção de diálogos e 
cooperações entre pessoas e grupos. 
Por isso, a importância do trabalho, desenvolvido por Nunes (2011), está em 
nos mostrar que conflitos podem significar algo além de aspectos negativos, que 
comumente são usados para defini-lo. Ele pode ter um sentido que envolve 
oportunidades com novas opções e possibilidades para que os indivíduos 
solucionem, de forma criativa problemas cotidianos. 
Em outras palavras, o autor consegue nos fazer entender que o conflito faz 
parte das relações humanas e ocorre em nível intrapessoal e interpessoal, sendo 
eles, necessários para o aprimoramento das relações sociais. 
4. Bullying e cyberbullying: depressão, suicídio e violência simbólica e 
silenciosa 
A prevenção ao suicídio, relacionado à prática de Bullying e cyberbullying, no 
âmbito escolar e social surge, a partir da observação de estudos, nos quais revelam 
dados que apontam que a prática do bullying é frequente em escolas particulares, 
estaduais e municipais. Sendo que meninos e meninas são vítimas igualmente. 
O bullying é encarado como uma forma de diversão pelos agressores. Essa 
prática carrega consigo uma intensa violência simbólica e psicológica. Essas 
violências não são tão visíveis, quanto à física e, isso faz com que a identificação e o 
combate ao bullying se tornem mais complicados. 
No bullying, também é possível existir agressões físicas, além das verbais, 
morais ou psicológicas, presentes no universo escolar, e será a partir dessas 
dinâmicas de manifestações, que a mediação irá se apresentar, como um potencial 
para a resolução dos conflitos. Na concepção de Nunes (2011), os processos de 
mediação extraídos das práticas jurídicas são formas de restaurar a cultura da paz, 
no âmbito educacional. 
Esta é a contribuição desse autor, trazendo-nos o olhar das inovações 
jurídicas, em relação aos conflitos de ordens sociais e culturais, que irão desembocar 
na escola, e que podem ocasionar inquietações nos educadores, que buscam 
restabelecer o apaziguamento, em relação a esses conflitos. 
Sociologia da educação - Unidade 2 - Escola e reprodução social 
 
 Por isso, a técnica da Justiça Restaurativa, ressaltada por Nunes (2011), 
possibilita minimizar as relações competitivas, e as rivalidades, que podem ser as 
causas de tais conflitos. 
 
Você quer ver 
Jovens estudantes de medicina e enfermagem, da Universidade Federal de São Paulo 
(UNIFESP) pesquisam o cyberbullying, sob a coordenação da professora Sara Bottino. 
Depois de coletar e discutir informações, eles visitam escolas públicas da capital 
paulista, para fazer um trabalho de prevenção. Para acessar, utilize o endereço a 
seguir: https://www.youtube.com/watch?v=i4ugDAMWD1s 
 
 
Síntese 
Espera-se que, nesta unidade, o aluno tenha compreendido, por meio desta incursão 
em mais uma fatia do amplo universo da Sociologia da Educação, o momento 
histórico que envolve a gênese e o desenvolvimento da escola. 
Também é esperado que, esse mergulho no passado, por meio da História da 
Educação, tenha facilitado o entendimento do conceito de Escola, possibilitando que 
o aluno analise outras dimensões, que possam envolver a instituição educacional, 
como é o caso dos conflitos existentes na escola, enquanto representação da 
sociedade. 
Nesse sentido, compreender o valor de evitar racionalmente condutas que 
fomentem a prática e a colaboração do Bullying e do cyberbullying, no âmbito escolar 
e na sociedade, em geral, pode ser um aspecto bastante relevante para educadores, 
que percebam a importância de desenvolver, no aluno e em si mesmos, a capacidade 
de observação, em relação à violência simbólica, evitando com isso uma participação 
colaborativa, em relação à prática do Bullying e do cyberbullying. 
Nesta unidade, você viu: 
https://www.youtube.com/watch?v=i4ugDAMWD1s
Sociologia da educação - Unidade 2 - Escola e reprodução social 
 
● Os padrões familiares de diferentes sociedades, em um mesmo período 
histórico; 
● Identificou como fatores culturais e econômicos influenciam as relações 
familiares e escolares; 
● Entendeu a escola, como instituição social e como reprodução cultural; 
● Compreender os conflitos existentes na escola, como representação da 
sociedade; 
● Observou a existência de uma violência escolar; 
● E analisou os tipos de violência, que podem se manifestar nas escolas. 
 
Bibliografia 
BORDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998. 
DE MACEDO, Lino. Competências e habilidades: elementos para uma reflexão 
pedagógica. 2005. 
DUSSEL, Inês; CARUSO, Marcelo. A invenção da sala de aula: uma genealogia das 
formas de ensinar. São Paulo: Moderna, 2003. 
FREITAG, Bárbara. Escola, Estado e Sociedade. 6ª edição. São Paulo: Editora Moraes, 
1986. 
LEVSKY, David Léo (org.). Adolescência pelos caminhos da violência. São Paulo: Casa 
do Psicólogo, 2010. 
LIBÂNEO, José Carlos. Democratização da escola pública. Edições Loyola, 2001. 
MACEDO, Lino. Ensaios Pedagógicos. São Paulo: Artmed, 2005. 
MACEDO, Lino de. Competências e habilidades: elementos para uma reflexão 
pedagógica. 1999. Disponível em: 
<http://upd.cefetsp.br/~eso/competenciashabilidades.html>. Acesso em 13 de 
Fevereiro de 2020. 
NERY, Maria Clara Ramos. A especificidade da Sociologia da Educação. In: Sociologia 
da Educação. Curitiba: INTERSABERES, 2013. 
http://upd.cefetsp.br/%7Eeso/competenciashabilidades.html
Sociologia da educação - Unidade 2 - Escola e reprodução social 
 
NUNES, Antônio Ozório. Como restaurar a paz nas escolas. São Paulo: Contexto, 
2011. 
Referências Imagéticas: 
Figura 1 - Decreto assinado em 1717 por Frederico Guilherme I (Friedrich Wilhelm I), 
rei da Prússia ao instituir a obrigatoriedade do ensino primário em seu país: 
Disponível em: <https://jornalggn.com.br/politicas-sociais/a-historia-do-nascimento-
da-educacao-publica/ > Acesso em 14 de Fev. de 2020. 
Figura 2 - Alunos do Liceu em 1910-Uniformes: Disponível em: 
<https://educacao.uol.com.br/album/mobile/2014/02/08/veja-como-eram-os-
uniformes-escolares-no-seculo-passado.htm#fotoNav=3>Acesso em 14 de Fev. de 
2020. 
Figura 3- Lição de Ginástica Sueca em 1909: Disponível em: 
<https://educacao.uol.com.br/album/mobile/2014/02/08/veja-como-eram-os-
uniformes-escolares-no-seculo-passado.htm#fotoNav=3> Acesso em 14 de Fev. de 
2020. 
https://jornalggn.com.br/politicas-sociais/a-historia-do-nascimento-da-educacao-publica/
https://jornalggn.com.br/politicas-sociais/a-historia-do-nascimento-da-educacao-publica/
https://educacao.uol.com.br/album/mobile/2014/02/08/veja-como-eram-os-uniformes-escolares-no-seculo-passado.htm#fotoNav=3
https://educacao.uol.com.br/album/mobile/2014/02/08/veja-como-eram-os-uniformes-escolares-no-seculo-passado.htm#fotoNav=3
https://educacao.uol.com.br/album/mobile/2014/02/08/veja-como-eram-os-uniformes-escolares-no-seculo-passado.htm#fotoNav=3
https://educacao.uol.com.br/album/mobile/2014/02/08/veja-como-eram-os-uniformes-escolares-no-seculo-passado.htm#fotoNav=3

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