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DIREITOS REAIS SOBRE COISAALHEIA Luis Antonio P. Lima 1 INTRODUÇÃO. O presente trabalho propõe uma reflexão acerca dos institutos jurídicos de garantias reais regulados pelos artigos 1.419 a 1.510 do Código Civil de 2002, a saber: penhor, hipoteca e anticrese. Conforme PAMPLONA FILHO e GANGLIANO, 2017, trata-se de uma regulamentação exaustiva, grande parte autoexplicativa, que nem sempre tem grande aplicação social, a exemplo do que se dá com a anticrese. Para Nery Junior e Andrade Nery 2012, garantia real, assim se denomina a garantia que permite ao credor excutir uma coisa certa do patrimônio do devedor, para o resgate de uma obrigação. “Há uma categoria inteira de direitos reais que tem o caráter de acessórios de uma obrigação, as garantias reais: a hypotheca, o penhor e a anticrese”.(Paulo de Lacerda- Fulgêncio apud, Nery Junior e Nery 2012,pag.1.256) 2. DIREITOS REAIS DE GARANTIA Os Direitos Reais de Garantia regulados pelo Código Civil de 2002 fundamentam-se em princípios comuns, especialização e registro, distintos dos demais Direitos Reais Sobre Coisas Alheias. O Princípio da Especialização trata da eficácia do contrato que instituiu a garantia real de penhor, hipoteca e anticrese. Este princípio consiste na vinculação de bens determinados do devedor ou de terceiro para garantir a obrigação principal. Enquanto ao Princípio do Registro determina o nascimento do direito real e torna público a sua existência. Nesse sentido os doutrinadores Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald escrevem: Assim como todo direito real imobiliário só se constitui inter vivos pelo registro imobiliário, não poderia ser diferente na hipoteca e na anticrese. O ônus real apenas é oponível em caráter geral, quando aperfeiçoado pelo registro, servindo igualmente para conceder publicidade e sequela (FARIAS e ROSENVALD,2008, PAG.605). Trilhando pela linha de pensamento dos doutrinadores supracitados entende-se o registro como o instrumento que determina o nascimento do direito real além de firmar a sua publicidade também concede àquele que registrar previamente o seu título de propriedade em 1 Graduando do Curso de direito da Uninassau Lauro de Freitas-Ba. Email:laplima@bol.com.br relação a outros credores no que diz respeito ao recebimento do crédito. O parágrafo único do artigo 1493 do Código civil de 2002 salienta que “o número de ordem determina a prioridade a esta a preferência entre as hipotecas”, o mesmo se aplica ao penhor. Grifo nosso. Conforme a doutrina, a função dos direitos reais de garantia é de oferecer ao credor maiores condições para recebimento de uma dívida, vinculada a um determinado bem, onerado para esse fim. Decorre daí o direito de sequela e de preferência, confirmando a natureza jurídica real do direito material. O vinculo permanece impregnado sobre o bem gravado, ainda que haja transmissão de titularidade. Ademais o credor terá sempre o direito de preferencia para recebimento do crédito, satisfazendo-o antes dos demais credores. (PUGLIESE, 205,pg.704). Nessa perspectiva assevera o art. 1422 do código civil de 2002: O Credor hipotecário e o credor pignoratício tem o direito de excutir a coisa hipotecada ou empenhada, e preferir, no pagamento, a outros credores, observada quanto a hipoteca, a prioridade de registro. 3. DIFERENÇAS ENTRE DIREITOS PESSOAIS E DIREITOS REAIS Conforme os Doutrinadores Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald, 2008, a garantia real contrapõe-se à pessoal. Em comum ambas gravitam em torno de um débito. Porém enquanto esta resulta de uma caução obrigacional restrita às partes contratantes (v. g, aval, fiança) aquela afeta um bem garantido em caráter absoluto, vinculando o objeto a seu titular com a faculdade de oponibilidade erga omnes. Conforme a doutrina, direito pessoal ou obrigacional é aquele onde há um sujeito ativo (credor), um sujeito passivo (devedor) e uma prestação (objeto da relação jurídica). A prestação é a obrigação do devedor, que deve ser realizada em favor do credor mediante uma contraprestação. Já o direito real é a relação do titular com a coisa, que é exclusiva e contra todos. Desta forma, as principais diferenças entre eles são: a) Enquanto o direito pessoal é oponível a apenas um sujeito passivo determinado, o direito real é oponível erga omines; b) O titular do direito real possui direito de sequela, atributo que não há nos direitos pessoais; c) No direito real a coisa deve existir no momento do negócio, ao passo que o direito pessoal admite como objeto uma coisa futura; d) O objeto do direito real é sempre determinado, e do direito pessoal pode ser determinável; e) O direito real pode ser adquirido pelo instituto da usucapião, o direito pessoal não. 4. PENHOR 4.1. Natureza Jurídica. Conceito. O Mestre Darcy Bessone, apud Chaves de Farias e Rosenvald, 2008, ensina que antes da Lei Poetelia (326 a.C.), a obrigação encontrava garantia na pessoa do próprio devedor. Não se recorria às coisas para garantia de direitos. “Porém, compreendeu-se que o patrimônio do devedor podia fornecer elementos para garantia dos créditos, solução que embora menos enérgica, considerava mais a dignidade do devedor como pessoa humana”. Assim, a obrigação, antes vínculo físico, adquiriu caráter de vínculo jurídico, passando a encontrar garantia em elementos exteriores. No direito romano, o Pingus originava a transmissão da posse da coisa, vinculada à obrigação, ao credor, para que este a conservasse, até ser pago o débito. Posteriormente, o pignus passou a possibilitar também a alienação da coisa empenhada. Conforme a entendimento doutrinário o penhor é a entrega da coisa a título de garantia, mas sem a transferência da propriedade que permanece na titularidade do devedor. Nesse sentido Chaves de Farias e Rosenvald, 2008 escrevem que “o penhor constitui-se pela transferência efetiva ao credor da posse de uma coisa móvel que objetiva garantir o pagamento de um débito”. De igual forma afirma Flávio Tartuce apud Gagliano e Pamplona Filho “o penhor é constituído sobre bens móveis (em regra), ocorrendo a transferência efetiva da posse ao credor (também em regra) . Diz-se duplamente em regra, pois, no penhor rural, industrial, mercantil e de veículos, as coisas empenhadas continuam em poder do devedor que as deve guardar e conservar”. Contudo nem sempre o penhor recairá sobre a coisa móvel é o que preceitua a artigo 1.431 do Código Civil de 2002. Art. 1.431- constitui-se penhor pela transferência efetiva da posse que, em garantia do débito ao credor ou a quem o represente, faz o devedor, ou alguém por ele, de uma coisa móvel suscetível de alienação. Parágrafo único. O Penhor rural, industrial, mercantil e de veículos, as coisas empenhadas continuam em poder do devedor que as deve guardar e conservar. Segundo os doutrinadores Chaves de Farias e Rosenvald, 2008, os protagonistas deste modelo jurídico são credor pignoratício, credor da obrigação principal que recebe o bem empenhado como garantia; o devedor pignoratício geralmente, o próprio devedor da obrigação principal. Nada impede, porém, que o bem empenhado seja de propriedade de terceiro garantidor do devedor. Em qualquer caso, é indispensável que o devedor ou o terceiro seja titular do objeto, sendo este de livre disposição. 4.2. Características. Conforme a doutrina uma das características do penhor é a condição jurídica de ser considerado um Direito Real de Garantia, pois o direito do credor pignoratício recai sobre a coisa dada em garantia, operando efeito erga omnes, uma vez registrado o penhor comum no Cartório de Títulos e Documentos, seu titular será munido de ação real com direito de sequela e preferência. Art. 1432 – o instrumento do penhor deverá ser levado a registro por qualquer dos contratantes;o do penhor comum será registrado no Cartório de Títulos e documentos. Segundo Pugliese, 2005, o penhor como de resto os demais Direitos de Reais de Garantia, caracteriza-se como um direito acessório. Que tem como resultado prático a possibilidade de vir a ser constituído através de instrumento isolado, celebrado em data outra, ou em conjunto com aquele que estatuiu a obrigação principal. De outro modo como nos demais direito dessa natureza, contemporaneamente não se lhe autoriza, o pacto comissório, sendo vedado ao credor apropriar-se do bem que lhe é dado em garantia. Nesse sentido o direito, ora aqui discutido apresenta outra característica muito importante, a indivisibilidade, alienabilidade, temporariedade. Exige ainda que o objeto da garantia seja de propriedade da pessoa que empenhou em favor do devedor. O contrato de outra parte é necessariamente registrado, para que o direito venha se formalizar. Além das características apresentadas, a tradição é um instituto que admite em casos especiais, exceções expressamente previstas na legislação, dispensando desta obrigatoriedade singular para sua formação. O art. 1.431- do CC 2002 assevera: “constitui-se penhor pela transferência efetiva da posse que, em garantia do débito ao credor ou a quem o represente, faz o devedor, ou alguém por ele, de uma coisa móvel suscetível de alienação”. A partir da leitura do artigo acima fica entendido que o penhor não é simples acordo entre as partes, porque só se concretiza com entrega real da coisa, e a posse do objeto pelo credor. 4.3. Direitos do Credor pignoratício. O artigo 1.433 do Código Civil de 2002 apresenta o rol de direitos do credor pignoratício. Art. 1.433. O credor pignoratício tem direito: I - à posse da coisa empenhada; II - à retenção dela, até que o indenizem das despesas devidamente justificadas, que tiver feito, não sendo ocasionadas por culpa sua; III - ao ressarcimento do prejuízo que houver sofrido por vício da coisa empenhada; IV - a promover a execução judicial, ou a venda amigável, se lhe permitir expressamente o contrato, ou lhe autorizar o devedor mediante procuração; V - a apropriar-se dos frutos da coisa empenhada que se encontra em seu poder; VI - a promover a venda antecipada, mediante prévia autorização judicial, sempre que haja receio fundado de que a coisa empenhada se perca ou deteriore, devendo o preço ser depositado. O dono da coisa empenhada pode impedir a venda antecipada, substituindo-a, ou oferecendo outra garantia real idônea. A doutrina acrescenta também que o credor pignoratício poderá impedir que qualquer pessoa possa prejudicar a garantia empenhada. Pode, pois valer-se de interditos possessórios contra terceiros e demais medidas de proteção à posse e a propriedade. Tem preferencia em receber o produto arrecado com alienação judicial. Pode quando for o caso exigir reforço de garantia quando a coisa empenhada não se prestar à necessária garantia creditícia ou for insuficiente o seu valor. Também o direito de receber o valor do seguro ou da indenização correspondente ao preço da desapropriação da coisa empenhada ou deteriorada. Nas lições de Pontes de Miranda, apud Nery Júnior e Nery, 2012, o direito de retenção se justifica, em favor do credor pignoratício, se ele demonstrar que tem direito à indenização por despesas que necessariamente teve com a coisa empenhada, desde que essas despesas não tenham sido ocasionadas por culpa sua, ou seja, se teve que fazer despesas justificadas, sem que fossem causadas por culpa sua, tem pretensão em havê-las do empenhante, ou seu sucessor, e pode exercer direito de retenção. Art. 1.434. O credor não pode ser constrangido a devolver a coisa empenhada, ou uma parte dela, antes de ser integralmente pago, podendo o juiz, a requerimento do proprietário, determinar que seja vendida apenas uma das coisas, ou parte da coisa empenhada, suficiente para o pagamento do credor. (CC 2002). 4.4. Obrigações do credor pignoratício Conforme a doutrina a maior parte dos deveres impostos ao credor Pignoratício decorre da sua condição de possuidor a título de depositário. Nesse sentido o inciso I do artigo 435 do CC 2002, pelo fato de assumir a posse imediata da coisa, terá o credor a custódia do bem móvel. Sobre ele exercerá os cuidados de bônus pater familiae, protegendo a coisa com toda diligência possível até o momento do adimplemento, no qual se dará a devolução do objeto. Ainda no mesmo instituto jurídico o credor por força do inciso II manejará os interditos possessórios em face de terceiros que hostilizem a posse da coisa empenhada, cabendo-lhe comunicar ao proprietário a existência de agressões à posse ao devedor. Obriga-se ainda após o recebimento integral do crédito, devolver a coisa penhorada, acompanhada de frutos e acessões que pertencem ao proprietário. “Desta maneira, o contrato pode estipular que os frutos servirão para amortizar ou abater a dívida”(VENOSA 2003 apud PUGLIESE, 2005, pag.790) Art. 1.435. O credor pignoratício é obrigado: I - à custódia da coisa, como depositário, e a ressarcir ao dono a perda ou deterioração de que for culpado, podendo ser compensada na dívida, até a concorrente quantia, a importância da responsabilidade; II - à defesa da posse da coisa empenhada e a dar ciência, ao dono dela, das circunstâncias que tornarem necessário o exercício de ação possessória; III - a imputar o valor dos frutos, de que se apropriar (art. 1.433, inciso V) nas despesas de guarda e conservação, nos juros e no capital da obrigação garantida, sucessivamente; IV - a restituí-la, com os respectivos frutos e acessões, uma vez paga a dívida; V - a entregar o que sobeje do preço, quando a dívida for paga, no caso do inciso IV do art. 1.433. 4.5. Direitos e obrigações do devedor pignoratício. Nas lições de Maria Helena Diniz, apud Roberto J. Pugliese, 2005, são direitos do devedor, conservar a posse indireta do bem empenhado, e a posse direta excepcionalmente, nos casos que o bem não é entregue ao credor; exigir deste o ressarcimento os prejuízos causados com a perda ou má administração do bem empenhado, desde que por sua culpa; receber o remanescente do preço da alienação do bem após o pagamento principal e despesas acessórias; reaver o bem após a quitação do débito, podendo valer-se de meios judiciais para reintegrar-se na posse direta da coisa. De outro lado, se obriga ao credor, com o penhor, a pagar todas as despesas feitas com a guarda conservação e proteção do bem, indenizando-o dos prejuízos que os vícios ocultos existentes na coisa empenhada provocarem; reforçar a garantia nos casos que a lei assim determina e exibir a coisa, quando mantiver em seu poder, sempre que solicitado pelo credor ou pela autoridade judiciária competente. O devedor, embora tenha a coisa de sua propriedade empenhada, não perde a propriedade da mesma, porém não pode aliená-la sem autorização do credor. Enfim, a partir da análise das exposições doutrinarias acima, observa-se que os direitos do devedor e do credor se completam como duas faces da mesma moeda, de modo a impedir o exercício pelos contratantes, de direitos incompatíveis. 4.6. Vencimento ou extinção da obrigação. Conforme o Código Civil de 2002 existem diversas formas de extinção do penhor. O artigo 1.436 relaciona os diversos modos de extinção da obrigação: Art. 1.436. Extingue-se o penhor: I - extinguindo-se a obrigação; II - perecendo a coisa; III - renunciando o credor; IV - confundindo-se na mesma pessoa as qualidades de credor e de dono da coisa; V - dando-se a adjudicação judicial, a remissão ou a venda da coisa empenhada, feita pelo credor ou por ele autorizada. § 1º Presume-se a renúncia do credor quando consentir na venda particular do penhor sem reserva de preço, quando restituir a sua posse ao devedor, ou quando anuir à sua substituição poroutra garantia. § 2º Operando-se a confusão tão-somente quanto a parte da dívida pignoratícia, subsistirá inteiro o penhor quanto ao resto. Pela extinção da obrigação. Farias e Rosenvald, 2008, lecionam que a forma tradicional de extinção do penhor é como decorrência da extinção da própria relação obrigacional que lhe serve de esteio, ou seja, satisfeito o débito por adimplemento (art.304, CC), por outras modalidades de pagamento indireto (consignação, sub-rogação) ou mesmo pela prescrição, não mais existe a obrigação acessória, pois perde a sua função exclusiva de garantia, inciso I do artigo acima citado. Há também entendimento doutrinário que o penhor também se extingue com o reconhecimento da nulidade da obrigação assegurada (...). Isso significa que o direito real torna-se nulo, faltando o dever jurídico a que se atrelava, simplesmente deixa de ter função e desaparece. Pelo perecimento do objeto, que de modo geral é uma situação configuradora de extinção de penhor inciso II do artigo 1.436 combinado com o artigo 104, II, do CC de 2002. Pois perecendo o objeto, perece o direito. Pela renúncia do credor à garantia. Trata-se de um ato abdicativo unilateral e expresso, formalizado por meio de averbação do ato de renúncia no cartório de títulos e documentos. A renúncia da garantia não provoca a extinção do crédito, mas somente a perda da garantia real é o que diz o inciso III art. 1.436 do CC 2002, mas se a renúncia for do próprio crédito, aplica-se o Inciso I do mesmo artigo. Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald, 2008, chamam atenção que não se deve confundir renúncia com remissão. Ao contrário daquela, a remissão não é ato abdicativo unilateral, mas sim um negócio jurídico bilateral extintivo da obrigação pelo qual o credor e o devedor consentem em finalizar o débito nos termos do artigo 385 do CC de 2002. Por isso o artigo 387 do mesmo arcabouço jurídico assevera: “A restituição voluntária do objeto empenhado prova a renúncia do credor à garantia real, não a extinção da dívida”. Esta norma está conectada ao parágrafo primeiro do artigo 1.436 que prevê inusitada renúncia tácita. “Presume-se a renúncia do credor quando consentir na venda particular do penhor sem reserva de preço, quando restituir a sua posse ao devedor, ou quando anuir à sua substituição por outra garantia”. Essa espécie de renúncia ainda será possível quando simplesmente quando o credor restituir o bem ao devedor, sem demandar qualquer garantia em substituição. No entendimento dos doutrinadores Farias e Rosenvald se outra garantia substituir a originária não há de se cogitar extinção do penhor, mas de sub-rogação real. Conforme a Lei 10.406 de 10 de janeiro de 2002 o penhor também poderá se extinguir pela confusão ( art. 1.436, IV). Ninguém pode ser credor de si próprio. Se por ventura o credor pignoratício adquire a propriedade da coisa que antes lhe foi empenhada – inter vivos ou por herança - deixa de ser mero possuidor direto, convertendo –se em verdadeiro titular. Daí inútil garantia sobre coisa própria. Quando na mesma pessoa se confunde as qualidades de credor e devedor da obrigação garantida por penhor, esta desaparece conforme disposição do inciso I do artigo 1.436 da lei aqui discutida. Aplicando p princípio da indivisibilidade de garantia real (art. 1.421 do CC – 2002), o parágrafo 2º do artigo 1.436 mesmo arcabouço jurídico indica que a confusão parcial não propicia extinção do penhor, subsistindo a garantia sobre os bens móveis que não forem adquiridos pelo credor pignoratício. Portanto a garantia real será preservada se a identificação entre os sujeitos é apenas parcial. Por fim, a extinção do penhor por inadimplemento, ou seja, pelo descumprimento da obrigação principal que ensejará e excussão do bem dado em garantia: por alienação judicial ou extrajudicial do bem empenhado conforme preconiza o inciso IV do artigo 1.433 do Código civil de 2002; por adjudicação do próprio credor, com arrematação o bem ou da própria remissão do débito pelo devedor, satisfaz-se o valor garantido propiciando o término da relação obrigacional com fundamento no inciso V do art. 1436 do CC de 2002. O artig1.437 caput do CC 2002 assevera que: “produz efeitos a extinção do penhor depois de averbado o cancelamento do registro, à vista da respectiva prova”. Nesse sentido Farias e Rosenvald, 2008, escrevem que a necessidade do cancelamento do penhor tem como finalidade desconstituir a direito real que havia formado com idêntica publicidade. Desta forma quando ocorre o adimplemento da obrigação principal, ou a excussão da coisa em razão do inadimplemento, indiferente o ato de averbação do cancelamento do registro que terá apenas a finalidade de adequar os dados cartoriais com a realidade dos fatos. Todavia, em se tratando de renúncia abdicativa do credor à garantia, sem registro do ato não há de se falar em extinção de garantia. 4.7. Tipos de penhor. Existem vários exemplos possíveis de penhor. Cada um deles refere-se a uma categoria e público específico. As classes são: Rural; Industrial e Mercantil; Joias; Veículos; Títulos de Crédito. 4.7.1. Penhor Rural O penhor rural abrange as modalidades agrícola e pecuária. Podem ser objetos de penhor agrícola: colheitas, pendentes ou em formação, frutos armazenados, madeiras de corte, lenha ou carvão vegetal e máquinas ou instrumentos de produção. Essa categoria tem prazo máximo de dois anos, prorrogáveis por mais dois. Já na pecuária, os animais usados em atividade pastoril, agrícola ou de laticínios podem ser oferecidos como garantia. No contrato deve-se indicar a localização de cada cabeça de gado, bem como as características de cada uma. Os animais da mesma espécie, comprado para substituir os mortos, são trocados no contrato de penhor. O devedor não pode vender qualquer um dos animais empenhados sem consentimento por escrito do credor. Se houver tal ameaça, o credor pode pedir que os animais sejam postos sob a guarda de um terceiro. 4.7.2. Penhor industrial e mercantil Instrumentos industriais podem ser objetos de penhor. Máquinas, aparelhos, instalados ou não, animais utilizados na indústria, sal e bens de exploração de salinas, dentre outros itens são passíveis de empenho. O credor tem o direito de verificar as coisas empenhadas, em relação ao seu estado. E o devedor não pode alienar, por espontânea vontade e sem consentimento, os bens que estejam atrelados ao acordo. Ficará sob pena de repor outros bens de mesma natureza ao contrato. 4.7.3. Penhor de joias Esta modalidade é feita única e exclusivamente pela Caixa Econômica federal e é conhecida como Penhor Caixa. Nesse caso, o penhor não é somente executado por conta de uma dívida, mas na maioria das vezes, como forma de obter um empréstimo. Objetos como joias, pedras preciosas, canetas de valor e relógios são bens colocados em garantia. Em troca, o cliente recebe crédito com juros baixos. Inclusive, existem episódios de pessoas que utilizam a agência como um cofre para guardar os bens e pagam os juros como se fosse uma espécie de manutenção do serviço. 4.7.4. Penhor de direitos e títulos de crédito Direitos sobre coisas móveis podem ser objetos de penhor. No entanto, o devedor precisa ser notificado sobre essa ação para que seja válida, declarando-se ciente da existência do penhor. Para constituir esse processo, é necessário registrar no Registro de Título e Documentos. 4.7.5. Penhor de veículos Podem ser empenhados veículos de qualquer espécie. O automóvel colocado em garantia deve ser previamente segurado contra furtos, avarias e danos causados a terceiros. O credor tem direito a verificar o estado em que se encontra o veículo a ser empenhado. E a mudança do bem colocado em penhor sem comunicação prévia, resulta na expiração antecipada do crédito. 4.8. Diferença entre penhor e penhora O penhoré um instituto referente a direito material que pode ser usado para oferecer um bem como garantia de pagamento de uma dívida. Já a penhora é um instituto de direito processual. Esta exige um processo e configura a junção de um ou vários bens para uma garantia de execução e uma futura alienação em juízo. O valor do penhor vai depender da avaliação do bem. Portanto, nem sempre será possível conseguir o dinheiro solicitado. 5. HIPOTECA 5.1. Conceito Hipoteca é um direito real de garantia, onde o devedor (que pode ser pessoa física ou jurídica) contrai uma dívida ou bem através de uma oferta e dispõe de um bem imóvel como garantia ao credor. Na bibliografia de Nelson Nery Júnior e Rosa Maria de Andrade, que segue em destaque “hipoteca garantia mais que perfeita”. Onde após a consagração do contrato hipotecário, o credor passa a ter plenos poderes sobre o imóvel caso o devedor não consiga honrar com a dívida, sendo assim, o credor poderá converter o imóvel em valores correspondente a dívida contratual, contudo a hipoteca é um elo entre o imóvel à execução de cumprimento de uma obrigação. 5.2. Objeto. O objeto da relação hipotecária se encontra no artigo 1.473 CC/02, onde são elencados todos os tipos de bens para a conformidade dessa relação jurídica, onde o bem imóvel e seus acessórios conjuntamente com eles, além de aeronaves e navio se constituem como uma segurança para o credor. A hipoteca de navios e aeronaves dispõe o parágrafo primeiro do artigo 1473, reger-se-á por Lei especial. Lei 7.565/1986 (Código Brasileiro de Aeronaves) e a Lei 7.652/1988 dispõe sobre registro de propriedade marítima. A hipoteca para ser consagrada precisa-se de um registro legal e através do registro identifica- se o credor, o devedor (quem é o titular do imóvel),e terceiros se no caso houver coparticipação e também como foi adquirido a posse desde o momento da constituição do bem. Todo procedimento em relação a hipoteca, está a luz dos artigos 1.473 à 1.505 do código civil de 2002, e consolidando todos os procedimentos em relação do registro público da lei 6.015/73. 5.3. Pluralidade da hipoteca. A pluralidade de hipoteca está disciplina pelo art. 1.476 do CC/02 “O dono do imóvel hipotecado pode constituir outra hipoteca sobre ele, mediante novo título, em favor do mesmo ou de outro credor” .O credor primitivo não fica prejudicado, porque goza do direito de preferência. O devedor hipotecário deve revelar, ao constituir nova hipoteca, a existência da anterior, sob pena de, silenciando, cometer crime de estelionato nos termos do art.171, § 2º, II do CP. A segunda hipoteca sobre o mesmo imóvel recebe o nome de sub-hipoteca, esta pode ser efetivada ainda que o valor do imóvel não a comporte. A lei assegura a prerrogativa de remir a hipoteca anterior, a fim de evitar execução devastadora, que não deixe sobra para o pagamento de seu crédito. 5.4. Remissão dos bens Refere-se ao perdão da dívida pelo credor. Caso haja mais credores referente a mesma hipoteca , o perdão da dívida jamais poderá prejudicar os demais credores, sendo assim, a hipoteca não será extinta só pelo fato que um dos credores remiu a dívida, dando assim continuidade no processo e após a venda do imóvel hipoteca, os credores iram restituir a parte remida ao devedor. 5.5. Efeitos da hipoteca Abrange a uma cadeia de integrantes que envolve credor, devedor, os mandamentos jurídicos ( a lei ), a terceiros e aos bens envolvidos no processo. Temos como exemplo a hipoteca judiciária onde a (re) descoberta do instituto diante da Súmula nº 375 do STJ: Execução efetiva e atualidade da hipoteca judiciária, 2015 “ A hipoteca judiciária é plus – cria vínculo real, de modo que , execução imediata ou mediata, está o vencedor munido de direito de sequela , que não tinha. Daí resulta que os bens gravados por ela podem ser executados como se a dívida fosse a coisa certa, ainda assim, em poder de terceiros que os haja adquirido sem fraude à execução. Não há boa-fé em tal aquisição porque a hipoteca judiciária opera como qualquer outra hipoteca (...). O exequente tem o direito de prosseguir na execução da sentença conta os adquirentes dos bens condenados”. (Pontes de Miranda). 5.6. Tipos de hipoteca Existem três tipos de hipoteca, a convencional, a legal e a judicial. 5.6.1. Hipoteca convencional Surge do acordo de vontade entre aquele que pretende oferecer e aquele que pretende receber a hipoteca. Pode ser convencionada por instrumento particular assinado por duas testemunhas, mas dependendo do valor do imóvel, a forma deve ser a prescrita no artigo 108 do Código Cívil, ou seja, através da escritura pública, conforme (DINIZ, 2009 pág 566). È a forma mais comum de hipoteca. Com efeito, são suscetíveis de ônus real todas as obrigações de caráter econômico, sejam elas de dar, fazer ou não fazer. Na obrigação de dar a hipoteca assegura a entrega do objeto da prestação; nas de fazer ou de não fazer, pode garantir o pagamento de indenização por perdas e danos. Têm as partes, assim, a faculdade de reforçar as aludidas obrigações, estipulando a garantia hipotecária. Para constituir-se validamente, deve preencher os requisitos objetivo, subjetivo e formal. 5.6.2. Hipoteca legal É exigida em certas situações e de algumas pessoas com finalidade de prevenir ou acautelar possíveis prejuízos, a exemplo do artigo 1.489 do Código Civil : Art. 1489. A lei confere hipoteca: I - às pessoas de direito público interno (art. 41) sobre os imóveis pertencentes aos encarregados da cobrança, guarda ou administração dos respectivos fundos e rendas; II - aos filhos, sobre os imóveis do pai ou da mãe que passar a outras núpcias, antes de fazer o inventário do casal anterior; III - ao ofendido, ou aos seus herdeiros, sobre os imóveis do delinquente, para satisfação do dano causado pelo delito e pagamento das despesas judiciais; IV - ao co-herdeiro, para garantia do seu quinhão ou torna da partilha, sobre o imóvel adjudicado ao herdeiro reponente; V - ao credor sobre o imóvel arrematado, para garantia do pagamento do restante do preço da arrematação. No caso da hipoteca legal não existe título, tampouco vontade das partes, dada sua origem legislativa. A especialização da hipoteca legal é feita em juízo, " O pedido para especialização de hipoteca legal declarará a estimativa da responsabilidade e será instruído com a prova do domínio dos bens, livres de ônus, dados em garantia. Não dependerá de intervenção judicial a especialização de hipoteca legal sempre que o interessado, capaz de contratar, a convencionar, por escritura pública, com o responsável". O registro e a especialização das hipotecas legais incumbem a quem está obrigado a prestar a garantia, mas os interessados podem promover a inscrição delas, ou solicitar ao Ministério Público que o faça. As pessoas, às quais incumbir o registro e a especialização das hipotecas legais, estão sujeitas a perdas e danos pela omissão. A hipoteca legal é aquela que a lei confere a certos credores, que, por se encontrarem em determinada situação e pelo fato de que seus bens são confiados à administração alheia, devem ter uma proteção especial. 5.6.3. Hipoteca judicial Consiste em existir uma sentença judicial que a determine, conferindo ao exequente direito de prosseguir na execução, inclusive, contra os adquirentes do bem. De acordo com Marinoni e Mitidiero (2008 pag.442), a constituição de hipoteca judicial independente de requerimento e mesmo que exista uma condenação genérica será procedente ainda que não resolvido o arresto de bens do devedor ou quando o credor promover a execução provisória. Dos tipos hipotecários existentes, a hipoteca convencional possui o maior número de ligações com outros institutos jurídicos, além de ser a mais utilizada, inclusive se comparada a hipoteca legal.Quanto à hipoteca judicial, é certo que sua aplicação será mais restrita a cada dia diante dos remédios processuais existentes, dentre os quais se destacam os empregados por meio eletrônico, ainda que visem ao bloqueio de outros tipos de bens. O disposto no art. 2.043 do Código Civil, continua em vigor o nosso Código de Processo Civil, que, no art. 466 a parágrafo único, expressamente a ela se refere ao prescrever: "a sentença que condenar o réu no pagamento de uma prestação, consistente em dinheiro ou em coisa, valerá como título constitutivo de hipoteca judiciária, cuja inscrição será ordenada pelo juiz na forma prescrita na Lei de Registros Públicos." A sentença condenatória produz a hipoteca judiciária: I -embora a condenação seja genérica; II -pendente arresto de bens do devedor; III -ainda quando o credor possa promover a execução provisória da sentença". Quando a sentença judicial condenar o réu a entregar determinada quantia ou a pagar indenização de perdas a danos, o autor tem direito de garantia real sobre os bens do vencido, para vendê-los a obter o quantum necessário para a satisfação da obrigação. Só que não terá direito de preferência, se, com a insolvência do devedor, instaurar-se concurso de credores. O exequente concorrerá em igualdade de condições com os demais credores do réu, mas terá o direito de sequela, uma vez que tal hipoteca também requer especialização a inscrição no registro imobiliário, sendo, portanto, oponível erga omnes. E como se trata de garantia outorgada pela lei ao credor, a hipoteca judicial não incide sobre todos os bens do patrimônio do devedor, mas apenas sobre aqueles que forem bastante para cobrir o montante da condenação imposta pelo magistrado. Por isso, diz alguns autores, que se trata de uma hipoteca anômala, porque deixa de reunir os dois efeitos característicos da hipoteca, reconhecendo apenas a sequela, sem a preferência. (meia hipoteca). 5.7. Execução de hipoteca ..”Art. 1.419. Nas dívidas garantidas por penhor, anticrese ou hipoteca, o bem dado em garantia fica sujeito, por vínculo real, ao cumprimento da obrigação...” A hipoteca foi e é uma garantia real imobiliária de grande utilidade, e já faz parte de nosso ordenamento há muito tempo, nosso código de 1917, já tratava do assunto. A hipoteca é um direito real onde o devedor repassa ao credor, a possibilidade de que um bem imóvel de sua propriedade ou de outrem, venha a responder pela quitação de uma dívida contraída com o credor. O que garante a dívida é um imóvel, ainda que proprietário continue na posse. Em não pagando a divida o credor poderá executar judicialmente a divida logo o imóvel que garante a dívida será objeto de leilão, após todos os tramites judiciais. Para iniciar a execução, nos termos do art. 580 do CPC, é necessário que haja o inadimplemento de uma obrigação líquida, certa e exigível e a existência de um título executivo. Para o ajuizamento da execução pelo CPC, os títulos executivos são aqueles indicados no art. 585 do Código Processual. O título executivo de uma execução hipotecária é o contrato de financiamento imobiliário. No que se refere à execução hipotecária, o principal diferencial em relação à execução pelo CPC, está disposto no art. 2º, IV, onde se vê que devem ser remetidas 2 notificações aos mutuários ou devedores (Avisos de Cobrança), os quais necessitam ser remetidos ao endereço do imóvel hipotecado, sendo que, segundo o STJ, não é necessária a comprovação do recebimento de tais avisos pelos mutuários. Tais notificações, em número mínimo de 2 (duas) para cada Executado devem ser elaboradas contendo o período em atraso e o valor reclamado. Por medida de segurança, sempre que possível, envia-se outros 2 avisos para outro endereço do mutuário e que seja conhecido. Após a emissão do 1º aviso de cobrança para cada devedor, tem-se o prazo de 30 dias para a emissão do segundo, o qual dispõe de um prazo de 20 dias para pagamento. Se o débito não for saldado durante esses 20 dias após o 2º aviso, no 21º dia, após o 2º aviso, está autorizado o ajuizamento da execução especial hipotecária. Comprova-se o envio dos avisos com a juntada de AR’s (Avisos de Recebimento) ou com o comprovante emitido pelo correio, quando enviados por Carta Registrada, que é modo mais célere de envio e menos custoso e amplamente utilizado na esfera legal. Salienta-se que a emissão de tais avisos de cobrança é exigência da Lei 5.741/71, não sendo necessário o envio de tais notificações ao ajuizar execução pelo CPC. Os demais documentos que devem ser anexados à petição inicial, no momento de propositura da execução e que estão elencados no art. 2º da Lei, são aqueles já previstos no CPC. 5.8. Registro de hipoteca As hipotecas serão registradas no cartório do lugar do imóvel, ou no de cada um deles, se o título se referir a mais de um. Compete aos interessados, exibido o título, requerer o registro da hipoteca. Tais registros estão dispostos no Código Civil - artigos 1.492 a 1.498. Os registros e averbações seguirão a ordem em que forem requeridas, verificando-se ela pela da sua numeração sucessiva no protocolo. O número de ordem determina a prioridade e esta a preferência entre as hipotecas. Não se registrarão no mesmo dia duas hipotecas, ou uma hipoteca e outro direito real, sobre o mesmo imóvel, em favor de pessoas diversas, salvo se as escrituras, do mesmo dia, indicarem a hora em que foram lavradas. Quando se apresentar ao oficial do registro título de hipoteca que mencione a constituição de anterior, não registrada, sobrestará ele na inscrição da nova, depois de a prenotar, até trinta dias, aguardando que o interessado inscreva a precedente; esgotado o prazo, sem que se requeira a inscrição desta, a hipoteca ulterior será registrada e obterá preferência. Se tiver dúvida sobre a legalidade do registro requerido, o oficial fará, ainda assim, a prenotação do pedido. Se a dúvida, dentro em noventa dias, for julgada improcedente, o registro efetuar-se-á com o mesmo número que teria na data da prenotação; no caso contrário, cancelada esta, receberá o registro o número correspondente à data em que se tornar a requerer. As hipotecas legais, de qualquer natureza, deverão ser registradas e especializadas. O registro e a especialização das hipotecas legais incumbem a quem está obrigado a prestar a garantia, mas os interessados podem promover a inscrição delas, ou solicitar ao Ministério Público que o faça. As pessoas, às quais incumbir o registro e a especialização das hipotecas legais, estão sujeitas a perdas e danos pela omissão. Vale o registro da hipoteca, enquanto a obrigação perdurar; mas a especialização, em completando vinte anos, deve ser renovada. 5.9. Extinção de hipoteca O artigo 1.499 do Código Civil dispõe: I – pela extinção da obrigação principal; II – pelo perecimento da coisa; III – pela resolução da propriedade; IV – pela renúncia do credor; V – pela remição; VI – pela arrematação ou adjudicação. No entanto, a doutrina e a jurisprudência entendem que esse rol é exemplificativo, ou seja, não exauri todas as possíveis formas de extinção, uma vez que a sociedade é dinâmica e casos concretos podem ensejar novas formas de extinção do instituto. Na prática, a forma de extinção indicada no inciso I do artigo 1.499 do Código Civil é o percurso mais comum, posto que se dá com o cumprimento integral da obrigação principal, qual seja, o pagamento da dívida. O inciso II do mesmo diploma, disciplina que a extinção poderá se dar pelo perecimento da coisa. Tal perecimento deve ser total, pois a relação hipotecária subsiste caso haja apenas a perda parcial ou desvalorização do bem, permitindo ao credor “chamar” outros bens para reforço da hipoteca. O inciso III esclarece que a extinção poderá se dar pela resolução da propriedade. E o que é resolução da propriedadeou propriedade resolúvel, como é comumente conhecida? Ocorre quando a aquisição de uma propriedade, com todas as suas prerrogativas e obrigações está condicionada a conclusão de uma situação ou advento do termo. Desta feita, extingue-se a hipoteca devido ao implemento da condição resolutiva ou do termo ajustado. O inciso IV determina que a extinção também seja possível pela renúncia do credor. Tal forma de extinção é unilateral por parte do credor e somente é possível nos casos de hipoteca convencional, quando há discricionariedade entre as parte, o que não ocorre na hipoteca legal. Importante compreender que quando o credor renúncia o ônus real, está renunciando o direito sobre determinado bem, contudo, permanece credor, no entanto na qualidade de credor hipotecário quirografário, o que significa dizer que não mais possui direito de preferência sobre os demais credores. Depreende-se, portanto, que ele não deixa de ser credor, somente renúncia seu direito de garantia real sobre determinado bem. Diferente ocorre quando há a renúncia do débito, quando se extingue por completa a obrigação de pagar do devedor e o direito de receber do credor. Essas são algumas formas elencadas no Código Civil, porém, reitera-se, é um rol exemplificativo que norteia as demais formas de extinção que se afiguram em casos concretos. 6. ANTICRESE 6.1. Conceito e natureza jurídica A anticrese, assim como os institutos do penhor e da hipoteca, é um direito real de garantia clássico. Porém, no penhor típico se transfere a posse da coisa ao credor, somente de bens móveis, que dela não pode se utilizar, e na hipoteca o bem continua na posse do devedor. Na anticrese, por sua vez, o credor assume necessariamente a posse do bem para usufruir seus frutos, a fim de amortizar a divida ou receber juros. Dessa forma, anticrese é um direito real derivado de um contrato pelo qual um devedor autoriza ao seu credor a posse de um imóvel, tendo este o direito de retê-lo até o complemento da sua dívida, podendo perceber os frutos e os rendimentos que servirão para o pagamento dos juros e do capital, ou seja, a percepção dos frutos e rendimentos serve como compensação da dívida conforme art.1.506. Conceitua Limongi França: Anticrese é a limitação da garantia, à propriedade de um bem imóvel de determinado devedor, ou de outrem para ele, limitação essa que se caracteriza pela transferência da posse do mesmo bem ao credor, com o escopo de este lhe auferir frutos e rendimentos, para levá-los à conta de obrigação principal e dos juros, ou apenas dos juros. Por sua vez, Maria Helena Diniz, no mesmo sentido, diz que, a anticrese é o direito real sobre imóvel alheio, em virtude do qual o credor obtém a posse da coisa, a fim de perceber-lhe os frutos (rendimentos) e imputá-los no pagamento da dívida, juros e capital, sendo, porém, permitido estipular que os frutos sejam, na sua totalidade, percebidos à conta de juros. 6.2. Constituição e Objeto. Nos termos do Código Civil de 2002 (art. 1.506), o objeto da anticrese é sempre um imóvel, um bem de raiz. Admite-se a coexistência entre a anticrese e a hipoteca, dadas às circunstâncias limitadoras da primeira, assim, o imóvel gravado pela anticrese pode ser hipotecado, e vice-versa. Assevera Washington de Barros Monteiro, que nada impede que o devedor hipotecário dê o imóvel hipotecado em anticrese ao credor hipotecário, a fim de, com os rendimentos, amortizar a dívida e que o devedor anticrético hipoteque o imóvel anticrético ao credor anticrético. O instituto da anticrese somente se estabelece por meio de contrato escrito, é celebrado por escritura pública e deve ser levado o registro público - por ser um direito real de garantia que se exerce sobre coisa alheia. No contrato deve constar o total da dívida, o prazo fixado para o pagamento, a taxa de juros e as especificações da coisa dada em garantia. Neste teor, entende-se que a tradição do imóvel por si só não completa a constituição do direito real, que somente com o registro se última. É o que dispõe o art. 1506 do Código Civil: “Pode o devedor ou outrem por ele, com a entrega do imóvel ao credor, ceder-lhe o direito de perceber, em compensação da dívida, os frutos e rendimentos.” Já em seu parágrafo 1° é permitido estipular que os frutos e rendimentos sejam percebidos pelo credor à conta de juros, porém se seu valor ultrapassar a taxa máxima permitida em lei, o restante será imputado ao capital. Com a criação do Código Civil de 1916, a anticrese passou a ser um direito autônomo, com natureza real de garantia e características específicas, e o credor tem para si, até a satisfação total de seu crédito, o jus fruendi e o jus utendi. Em relação às partes é conferida a oponibilidade erga omnes; adere ao imóvel para percepção de suas utilidades pelo credor e é indivisível, assim, atendendo ao princípio que rege os direitos reais. 6.3 Efeitos da Anticrese Os efeitos da anticrese estão previstos no ordenamento jurídico no art. 1.508, do Código Civil que estabelece que por se tratar de um direito real, ao receber a coisa alheia o credor assume, a um tempo, a condição de possuidor e mandatário. O credor, então, tem o dever de zelar pela coisa como se fosse dele, responsabilizando-se pela deteriorações que o imóvel sofrer por sua culpa. Incube também ao credor fruir do imóvel, seja de forma direta ou por meio de arrendamento feito a terceiro, porém, independente da forma, a exploração do prédio deve ser adequada. Ou seja, não pode o credor sacrificar a substância da coisa para obter renda excessiva, pois, caracterizaria um procedimento abusivo. No entanto, não pode permitir o contrário - permitir, por negligência sua, que a renda caia abaixo do normal. Outro efeito é a prestação de contas por parte do credor anticrético, somente através desse procedimento que se verifica, em um dado momento, o montante da dívida, pelo cálculo da renda recebida, que foi imputada no principal e nos juros, ou só nestes. A prestação de contas pode ser exigida a qualquer tempo pelo devedor, se não predeterminadas, mas é suscetível de abuso se o móvel for apenas o de criar embaraço ao credor. 6.4. Hipótese de cumulação A legislação civil prevê no art. 1.506, § 2º, que o imóvel hipotecado pode ser dado em anticrese ao credor hipotecário, e o imóvel sujeito a anticrese pode ser hipotecado ao credor anticrético. Deste modo, em conformidade com tal dispositivo, apenas ao beneficiário de um direito real de garantia seria permitido admitir aumento de garantia, mediante comunicação de outro direito de natureza análoga. Assim, outorgando-se hipoteca ao credor anticrético, acrescentaria o direito de excutir a garantia e de eleger outros credores no produto em praça. Já, quando se concede anticrese ao credor hipotecário, proporciona-se a possibilidade de explorar a coisa e pela proveniência dos frutos, pagar-se de seu crédito, sem necessidade de excussão. Desta forma, podia-se entender que existiria a impossibilidade de ser oferecido em hipoteca, a terceiros, o bem onerado por anticrese. Esse entendimento, porém, não se fundamenta, pois pela parte final do art. 1.509, do Código Civil, que admite a existência de credores hipotecários posteriores ao registro da anticrese. Todavia como a anticrese tem duração mais longa que a hipoteca e como é escolha do credor anticrético se opor à excussão hipotecária, dificilmente haverá quem aceite imóvel onerado com anticrese. 6.5 Direitos e deveres do devedor anticrético Para Sílvio de Salvo Venosa, dentre as obrigações do devedor, a principal é a da tradição (entrega) do imóvel ao credor, permanecendo essa posse até o saldamento da dívida. Observar o prazo do contrato, resguardando-se de turbar ou esbulhar o imóvel, de forma que o credor possa exercer plenamente sua capacidade de gerar os rendimentos para pagar-se, também é uma obrigaçãodo devedor. Como direito, o de, a qualquer tempo, resgatar a anticrese (desoneração do gravame e devolução do bem), por meio de pagamento da dívida. Também é um direito do devedor permanecer com a propriedade do bem, podendo inclusive aliená-lo, embora, na prática, se considerado quase que um imóvel fora do comércio, porquanto dificilmente alguém irá comprá-lo com o gravame e restrições de uso que tem, às vezes por longo tempo. O devedor tem o direito de exigir do credor o uso para a finalidade prevista, a conservação, cabendo ressarcimento pelos danos causados pelo credor, com culpa. Deve ainda, pedir contas ao credor, para acompanhamento da evolução do saldamento da dívida. Temos como direitos do credor anticrético: a) Exercer a posse do bem dado em garantia; b) Administrar os bens objetos da anticrese, e fruir frutos e utilidades (art. 1.507); c) Reter o imóvel em seu poder, até efetuar-se o pagamento da divida. (art. 1.423); d) Arrendar os bens à terceiro, se não o impedir cláusula contratual, o que não afasta a retenção, segundo o parágrafo segundo do art. 1.507; e) Reclamar seus direitos contra o terceiro que adquira o imóvel. Conhecido como direito de sequela, este garantido no art. 1.509. De outra banda, são obrigações do credor: a) Guardar ou manter a coisa como se sua fosse; b) Apresentar anualmente balanço, exato e fiel, de sua administração, com a discriminação dos frutos e utilidades usufruídos, o correspondente ao pagamento da dívida, o saldo remanescente, nos termos do art. 1.507; c) Responder pelas deteriorações que o imóvel sofre por culpa sua, e pelos frutos e rendimentos não percebidos por negligencia, conforme art. 1.508; d) Prestar contas dos frutos ou rendimentos havidos, com o consequente abatimento da divida que for sendo satisfeita; e) Um vez cumprida a obrigação, devolver a coisa. Por sua vez, cabem ao devedor as seguintes obrigações: a) Entregar a coisa ao credor, que com ela deverá permanecer até a extinção do débito; b) Pagar a dívida se não cumprir o uso do imóvel com esta finalidade; Como direitos, o devedor tem a seu favor: a) Impor a conservação do imóvel, mantendo-se no estado em que foi recebido, sem modificações que sejam prejudiciais; b) Reclamar a devolução e acessórios quando vencido o prazo, ou satisfeita a divida; c) Pedir contas do imóvel, de frutos e rendimentos, sempre que entender necessário; d) Postular a indenização dos frutos perdidos ou deteriorados por culpa do credor; e) Alienar o imóvel, porém a garantia perdurará com o adquirente. 6.6. Extinção da Anticrese Extingue-se a anticrese pelo pagamento integral da dívida, inclusive antecipada (remição), sendo que a posse do bem por parte do credor passa a ser injusta após o desaparecimento da obrigação. Também se extingue pela renúncia, a transmissão da posse do bem ao devedor implica em renúncia tática, pois não há anticrese sem que a posse esteja com o credor. Pelo instituto da decadência, passados 15 anos do registro da anticrese no respectivo cartório de imóveis (art. 1.423, CC) caducando a mesma. Há que se ressalvar, porém, que na pendência da garantia anticrética não há curso de prescrição da dívida, podendo esta ser cobrada a qualquer momento, pelas ações pertinentes, iniciando-se o prazo prescritivo para a dívida somente quando o credor deixa de ter a posse do bem. Igualmente nos casos de desapropriação ou perecimento do imóvel (art. 1.509 ,§ 2º, CC), extingue-se a anticrese, permanecendo, porém a dívida na íntegra (computando-se , no caso, os frutos já percebidos até o momento). Poderá, ainda, ser extinta a anticrese, se o credor não opuser seu direito de retenção diante de outros credores (embargos de terceiro). Ademais, a legislação brasileira prevê que as transações envolvendo imóveis acima de trinta vezes o valor do salário mínimo (art. 108, CC), devam ser operadas por meio de escritura pública. Por sua vez, o artigo 107 do Código Civil diz que: “Art. 107. A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão quando a lei expressamente a exigir.”. Assim, para que o contrato de anticrese seja válido, deverá observar esses preceitos legais, razão pela qual a apelação em comento careceu do “direito de ação”, conforme previsto. Por sua vez, o art. 129, CC, diz que: “Art. 129. Reputa-se verificada, quanto aos efeitos jurídicos, a condição cujo implemento for maliciosamente obstado pela parte a quem desfavorecer, considerando-se, ao contrário, não verificada a condição maliciosamente levada a efeito por aquele a quem aproveita o seu implemento.” Destaca-se ainda que, no Código de Processo Civil, somente é legítimo para propor ação aquele que é titular do direito (art. 267, III). Julgados dos tribunais conforme acórdão à folha 14 retro, a decisão havida no caso em concreto seguiu as linhas da doutrina e aplicando a legislação vigente. 7. CONSIDERAÇÕES O trabalho aqui apresentado buscou-se uma análise acerca dos direitos de garantias reais sobre coisa alheia, mais especificamente o penhor, hipoteca e anticrese. A partir de uma discussão dos seus fundamentos jurídicos na visão da doutrina e da jurisprudência em uma análise pormenorizada dos tipos e modalidades de cada um dos aludido institutos de garantia real. Desse modo foram apresentados seus conceitos, objetos, sua natureza jurídica, direitos e deveres de credores e devedores, bem como sua formação e extinção na visão dos legisladores e na análise doutrinário. Por fim fica entendido que os direitos reais de garantias sobre coisa alheia, nada mais é do uma forma legal de limitação sobre o exercício dos direitos inerentes à propriedade, ou seja, o titular do domínio passa a ter temporariamente limitados seus direitos, em seu lugar, o terceiro, titular do Direito Real sobre coisa alheia, é quem exercitará os poderes inerentes ao domínio que lhes fora transferido juridicamente válida. 8. REFERÊNCIAS FARIAS, Cristiano Chaves de. e ROSENVALDI, Nelson. Direitos Reais 5ª edição. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008. MARTINS, Fran. Títulos de Crédito – Letra de Câmbio e Nota Promissória. Vol 1. Rio de Janeiro: Forense, 2000. NERY JÚNIOR, Nelson. e NERY, Maria de Andrade. Código Civil Comentado 9ª edição. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2012. PAMPLONA FILHO, Rodolpho. e GALIANO, Pablo Stolze. Manual de Direito Civil vol. Único. São Paulo Saraiva, 2017 PUGLIESE, Roberto J. Direito das Coisas- São Paulo: Livraria e Editora Universitária de Direito, 2005. RIZZARDO, Arnaldo. Direitos das Coisas. 5ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011. Vade Mecum Juspodivm- 7ª Ed. Ver. Atualiz. E ampliada. Salvador: Jus Podivm 2020. https://jus.com.br/artigos/44020/direitos-reais-de-garantia-breve-analise-sobre-penhor- hipoteca-e-anticrese/3 https://www.passeidireto.com/arquivo/62210342/dos-tipos-de-hipoteca https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10639217/paragrafo-1-artigo-1422-da-lei-n-10406-de- 10-de-janeiro-de-2002 https://jus.com.br/artigos/77499/temas-sobre-execucao-envolvendo-imovel-hipotecado
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