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CASO CONCRETO - PRÁTICA V

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Danielle Bandeira Feijó de Lima – Matrícula 201301424196 
 
MM. JUÍZO FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DE 
(...) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 MARIA SOUZA, nacionalidade, estado civil, professora, portador 
da carteira de identidade nº (número), inscrito no CPF sob o nº (número), 
domiciliado e residente na rua (nome da rua), (número), (bairro), (cidade), (UF), 
(CEP), (endereço eletrônico), vem por seu advogado ( instrumento de mandado 
anexo) ,com endereço profissional (endereço completo), (endereço eletrônico), 
onde recebe intimações (art. 77, V, CPC/15), vem à presença vossa 
excelência, com fundamento no artigo 5º, inciso, LXIX, da Constituição Federal, 
e lei no 12.016/09, impetrar 
 
MANDADO DE SEGURANÇA 
 
 Contra ato do Relator que, exerce suas funções na... com endereço na 
UNIVERSIADADE FEDERAL DO ESTADO..., à rua..., número..., bairro..., 
cidade..., cep..., estado...,endereço eletrônico..., pelos motivos de fato e de 
direito que passa a expor. 
 
 
 
II - DOS FATOS 
 
 A Autora, Maria Souza, foi atacada em sala de aula por um dos 
seus alunos, Marcos Silva, que, com um canivete em punho e, em meio a 
ameaças, exigiu que ela modificasse sua nota que lhe foi atribuída em uma 
disciplina do curso de graduação. Nesse instante, com o propósito de repelir a 
iminente agressão, a professora conseguiu desarmar e derrubar o aluno, que, 
na queda, quebrou um braço. Diante do ocorrido, foi instaurado Processo 
Administrativo Disciplinar (PAD), para apurar eventual responsabilidade da 
professora. Ao mesmo tempo, ela foi denunciada pelo crime de lesão corporal. 
Na esfera criminal, ela foi absolvida, vez que restou provado ter agido em 
legítima defesa, em decisão que transitou em julgado. 
 O processo administrativo, entretanto, prosseguiu, sem a citação da 
servidora, pois a Comissão nomeada entendeu que ela já tomara ciência da 
instauração do procedimento por meio da imprensa e de outros servidores. Ao 
final, a Comissão apresentou relatório pugnando pela condenação da servidora 
à pena de demissão. o fundamento de vinculação ao parecer emitido pela 
Comissão, aplicou a pena de demissão à servidora, afirmando, ainda, que a 
esfera administrativa é autônoma em relação à criminal. Em 11/01/2017, ela foi 
cientificada de sua demissão, por meio de publicação em Diário Oficial, ocasião 
em que foi afastada de suas funções, e, em 22/02/2017, procurou seu escritório 
para tomar as medidas judiciais cabíveis, informando, ainda, que, desde o 
afastamento, está com sérias dificuldades financeiras, que a impedem, 
inclusive, de suportar os custos do ajuizamento de uma demanda. 
 
III - DOS FUNDAMENTOS 
 
III.I - DA CONCESSÃO DE MEDIDA LIMINAR 
 
 Presentes os requisitos legais, conforme artigo 5º LXIX, o Mandado 
de Segurança será concedido para proteger direito líquido e certo, sempre que 
haja ilegalidade ou com abuso de poder por parte de autoridade. Verifica-se 
presente o “fumus boni iuris” ante a incontestável necessidade de notificação 
da autora para defesa em Processo Administrativo Judicial, em virtude do 
cumprimento do preceito Constitucional contido no artigo 5º LV e artigo 22 da 
Lei 8.112/90. Corroborada com o fato da autora já ter sido absolvida em esfera 
criminal, em virtude da excludente de ilicitude em razão da legítima defesa, o 
que também afasta a demissão em PAD, por força do artigo 132 VII da lei 
8.112/90. Já o “periculum in mora”, resta demonstrado uma vez que a 
Autora não está percebendo proventos em razão da sua demissão e, por conta 
disso, passa por dificuldades financeiras. 
Deste modo: 
“Assim, se na esfera administrativa, o servidor foi demitido pelo mesmo fato 
discutido na esfera penal, a sentença absolutória penal que tenha como 
fundamento a negativa de autoria ou a inexistência do fato acarretará a 
reintegração dele, pois terá sido cabalmente afirmado, na esfera penal, que 
não foi ele o autor do fato que acarretou a sua demissão administrativa, ou que 
esse fato nem mesmo existiu.” (ALEXANDRINO; PAULO, 2012, p. 807). 
 
IV - DA TUTELA DE URGÊNCIA 
 
 O artigo 300 do Novo Código de Processo Civil define como requisitos 
para antecipação de tutela a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o 
risco ao resultado útil do processo. O perigo ou receio de dano irreparável 
(periculum in mora) resta demonstrado uma vez que a Autora não está 
percebendo proventos em razão da sua demissão e, por conta disso, passa por 
dificuldades financeiras. A probabilidade do direito/verossimilhança das 
alegações (fumus boni iuris) está consubstanciada na nulidade do PAD por 
ausência de citação, com flagrante violação aos princípios do devido processo 
legal, do contraditório e da ampla defesa, capitulados no Art. 5º, LIV e LV da 
CRB/88 c/c Art. 143 da Lei nº 8.112/90, bem como pela inobservância do fato 
de que a sentença penal absolutória transitada em julgado necessariamente 
vinculará o conteúdo da decisão administrativa, nos termos do Art. 125 e 126 
da Lei nº 8.112/90 c/c o Art. 65 do CPP. Logo, em razão dos vícios do PAD, ora 
apresentados, e do prejuízo/lesão sofrido pela Autora em decorrência de sua 
demissão, imperiosa é a concessão da presente tutela de urgência, com a 
determinação da reintegração da Autora ao cargo público, sem prejuízo do 
direito ao pagamento dos salários atrasados e de todas as vantagens do 
cargo.] 
 
Com extrema felicidade Miguel Reale Júnior deixou grafado a 
administrativização do Direito Penal, para quem, verbis: 
 
“A administrativização do Direito Penal torna a lei penal um regulamento, 
sancionando a inobservância a regras de conveniência da Administração 
Pública, matérias antes de cunho disciplinar. No seu substrato está a 
concepção pela qual a lei penal visa antes a ‘organizar’ do que a proteger, 
sendo, portanto, destituída da finalidade de consagrar valores e tutelá-los. 
 
Diversamente, em um Estado de Direito Democrático, a configuração penal – 
por se constituir na forma mais gravosa de interferência, com custos elevados 
ao infrator e também à sociedade – deve se ater aos fatos que atinjam valores 
por via de uma conduta efetivamente lesiva destes valores. 
 
 
A intervenção penal deve ser aquela necessária, como único meio, forte, mas 
imprescindível, para a afirmação do valor violado, e para a sua proteção, 
visando à manutenção da paz social.” 
Tem-se, pois, que a punição do agente público que sucumbe ao ilícito criminal 
deverá ser exemplar, guardando sintonia com a gradação da pena estipulada 
pela lei. 
 
Todavia, se a sua conduta for ilibada, com a mesma intensidade que se 
pretende punir o criminoso, o Estado deverá ter o mesmo rigor para que fique 
nítido o reflexo positivo para o inocente, que poderia estar no lugar e na hora 
errada, mas não sucumbiu ao delito, cometendo conduta proba. 
Corroborando com este pensamento: 
“RMS – Administrativo – Funcionário Público – Demissão – Jurisdições penal e 
Administrativa – As jurisdições intercomunicam-se, prevalece a jurisdição 
penal; esta projeta sempre a verdade real. não se admitem presunções , como 
na jurisdição civil. negado o fato, ou a autoria, repercute de modo absoluto em 
todas as areas jurídicas. absolvição por outro fundamento não afeta o resíduo 
administrativo. pode, pois, ocorrer a demissão do funcionário publico.” 
STJ, Rel. Min. Luiz Vicente Cernicchiaro, ROMS nº 4561/SP, 6ª T., DJ de 
23/9/1996, p. 35 152. 
 
 
V - DO MÉRITO 
 
 Primeiramente, o Art. 5º, inciso LIV e LV da CRFB/88 garante o 
direito ao devido processo legal, ao contraditório e a ampla defesa. Vejamos: 
 
LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido 
processo legal; LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos 
acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os 
meios e recursos a ela inerentes; 
 
No mesmo sentido, o Art. 143 c/c 161, §1º da Lei 8.112/90 estabelece que 
qualquer procedimento administrativodestinado à apuração de eventual ato 
ilícito cometido pelo servidor público, seja sindicância ou PAD, deve assegurar 
ao acusado a ampla defesa. Vejamos: 
Art. 143. A autoridade que tiver ciência de irregularidade no serviço público é 
obrigada a promover a sua apuração imediata, mediante sindicância ou 
processo administrativo disciplinar, assegurada ao acusado ampla defesa. Art. 
161. Tipificada a infração disciplinar, será formulada a indiciação do servidor, 
com a especificação dos fatos a ele imputados e das respectivas provas. § 1 O 
indiciado será citado por mandado o expedido pelo presidente da comissão 
para apresentar defesa escrita, no prazo de 10 (dez) dias, assegurando-se-lhe 
vista do processo na repartição. 
 Na situação apresentada, a Autora só foi cientificada, por meio de 
publicação em Diário Oficial, após a sua demissão. Tal ato do Poder Público 
viola os princípios do devido processo legal, do contraditório e da ampla 
defesa. 
 Outrossim, na hipótese de absolvição penal com fundamento em 
excludente de ilicitude, como a legítima defesa, não há espaço para aplicação 
do resíduo administrativo (falta residual), vez que constitui uma das hipóteses 
de mitigação ao princípio da independência entre as instâncias, capitulado no 
Art. 2º da CF/88. 
 Ademais, a decisão proferida na esfera penal necessariamente 
vinculará o conteúdo da decisão administrativa, nos termos do Art. 125 e 126 
da Lei nº 8.112/90 c/c o Art. 65 do CPP. Assim, ante aos vícios do PAD, ora 
apresentados, imperioso é a anulação do ato demissional, bem como a 
determinação da reintegração da servidora ao cargo público, sem prejuízo do 
direito ao pagamento retroativo de todas as verbas e vantagens do cargo 
desde a suspensão da sua remuneração, em razão da lesão patrimonial sofrida 
pelo não recebimento dos vencimentos, na forma do Art. 28 da Lei nº 
8.112/1990. 
 
VII - DOS PEDIDOS 
 
Diante do exposto, requer-se: 
 
a) a concessão da justiça gratuita em razão das dificuldades financeira 
enfrentadas pela parte Autora, na forma da Lei nº 1.050/1960; 
b) a concessão da tutela de urgência para garantir a reintegração da servidora 
aos quadros funcionais da autarquia federal, até a decisão final, com fulcro no 
Art. 9º c/c Art. 701 do NCPC; 
 
c) a citação do réu para que, querendo, contestar o feito no prazo de lei; 
 
d) a confirmação da tutela de urgência com a anulação do ato que resultou na 
demissão da servidora e a condenação do Réu à reintegração da servidora aos 
quadros funcionais da autarquia federal, bem como ao pagamento retroativo de 
todas as verbas e vantagens do cargo a que a autora faria jus se em exercício 
estivesse. 
 
e) a produção de provas por todos os meios admitidos em direito e necessários 
a solução da controvérsia, inclusive a juntada dos documentos anexos; 
 
f) a condenação do Réu ao pagamento das custas processuais e aos 
honorários advocatícios. 
 
 
 
Dá-se à causa o valor de R$ 1.000,00. ( para efeitos fiscais) 
 
 
 
Termos em que pede deferimento. 
 
Local e data... 
 
Advogado... 
 
OAB/UF...

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