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Agravo em execução - falta grave

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CASO:
 JOÃO DA SILVA, brasileiro, solteiro foi definitivamente condenado à pena privativa de liberdade de 08 anos de reclusão, como incurso nas sanções do Art. 121 caput do Código Penal, estando recolhido na cadeia pública da Comarca de Varginha-MG, local onde tramitou o processo. 
 Acontece que no decorrer do cumprimento de sentença aportou aos autos em 08/05/2020 notícia de que o mesmo foi acusado de ter se envolvido em tumulto no interior da cela onde estava. 
 O fato é que o próprio Procedimento Administrativo Disciplinar relata que o tumulto na cela teria ocorrido em razão da briga do detento JOSÉ com o sentenciado TÍCIO, não tendo JOÃO DA SILVA sido mencionado como envolvido na briga. Ademais, nenhum sentenciado envolvido na suposta briga teve sua conduta faltosa descrita e todos estão respondendo em processos separados por fatos não específicos.
 O Ministério Público alega que JOÃO DA SILVA incorreu no art. 50, I, da Lei de Execuções Penais. 
 A seu turno, JOÃO DA SILVA, em 01/06/2020 requereu que fosse a suposta falta atribuída relevada, sustentando que não praticou qualquer ato de subversão a ordem ou a disciplina.
 Na decisão proferida, o juízo da execução não acolheu o pleito defensivo e reconheceu a falta grave.
 Contratado por JOÃO DA SILVA, elabore a petição de interposição do recurso cabível, bem como as razões recursais com o devido e completo encaminhamento.
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DE EXECUÇÃO CRIMINAL DA COMARCA DE VARGINHA/MG.
Processo nº…
JOÃO DA SILVA, já qualificado nos autos em epígrafe, vem por seu advogado (procuração anexa), perante Vossa Excelência interpor AGRAVO EM EXECUÇÃO, com fulcro no artigo 197 da Lei de Execução Penal nº 7.210/84.
Assim, requer que seja recebido o presente recurso e exercido o juízo de retratação. Contudo, caso assim não se entenda, requer o processamento e envio das presentes Razões de Recurso ao Egrégio Tribunal.
Termos em que, Pede deferimento.
Local e data.
Advogado...
OAB... nº...
Endereço
RAZÕES DE AGRAVO
AGRAVANTE: JOÃO DA SILVA
AGRAVADO: JUSTIÇA PÚBLICA
Nº do processo...
Egrégio Tribunal 
Colenda Câmara Criminal
DOS FATOS
 O agravante encontra-se cumprindo pena em regime fechado.
 Ocorre que aportou aos autos em 08/05/2020 notícia de que o agravante foi acusado ter se envolvido em tumulto no interior da cela onde estava. O fato é que o próprio Procedimento Administrativo Disciplinar relata que o tumulto na cela teria ocorrido em razão da briga do detento JOSÉ com o sentenciado TÍCIO, não tendo o agravante JOÃO DA SILVA sido mencionado como envolvido na briga. A seu turno, o agravante JOÃO DA SILVA apresentou versão verossímil no sentido de que não praticou qualquer ato de subversão. Ademais, nenhum sentenciado envolvido na suposta briga teve sua conduta faltosa descrita e todos estão respondendo em processos separados por fatos não específicos.
 O Ministério Público alega que o agravante incorreu no art. 50, I, da Lei de Execuções Penais. A defesa técnica requereu que fosse a falta relevada. Na decisão proferida, o juízo da execução não acolheu o pleito defensivo e reconheceu a falta grave.
DO DIREITO 
 Não decidiu com acerto o juiz a quo ao não acolher o pedido de não aplicação da falta. 
 O agravante foi acusado de ter subvertido a ordem interna da unidade penitenciária, mas desde já há de ser destacado que a briga que culminou com a intervenção dos agentes penitenciários ocorreu entre JOSÉ com o sentenciado TÍCIO, não tendo JOÃO DA SILVA, ora agravante, se envolvido na briga.
 No caso, o agravante sequer respondeu a Processo Administrativo Disciplinar em questão.
 Na hipótese, alega o Ministério Público que o agravante incorreu na norma prevista no art. 50, I, da Lei de Execuções Penais, a qual estabelece que:
 “Art. 50. Comete falta grave o condenado à pena privativa de liberdade que:
I - incitar ou participar de movimento para subverter a ordem ou a disciplina(...)”
 
 Há de ser destacado que não há uma adequada tipicidade entre a conduta praticada e a norma cujo descumprimento tenta se atribuir ao agravante.
 Diante da ausência de conduta relevante do agravante e mesmo de sua individualização, verifica-se que a pretensão ministerial se embasa em interpretação manifestamente extensiva e abstrata da Lei de Execuções Penais, sendo descabido aplicar, ao caso concreto, a falta grave pleiteada.
	Desde já, há de ser relembrado que todos os ramos do Direito Penal, entre eles a Execução Penal, devem obediência aos princípios basilares das ciências criminais. Dentre os princípios informativos do Direito Penal estão os princípios da fragmentariedade, subsidiariedade, estrita legalidade e ultima ratio.
	Percebe-se que as alegações invocadas pelo Ministério Público não se mostram aptas a ensejar a aplicação da falta grave pleiteada, pois são vagas, extremamente abertas e imprecisas, imprestáveis, portanto, para serem aplicadas em desfavor de qualquer acusado.
	Nota-se que os conceitos de obediência e execução das ordens obedecidas não refletem a certeza e a taxatividade necessárias para aplicação de uma sanção, ainda que administrativa em face do agravante. 
 Vale lembrar que, dadas as consequências da aplicação de uma falta grave, há, ainda, uma maior necessidade de observância dos princípios aqui defendidos, pois, em verdade, a aplicação da medida pleiteada pelo Ministério Público resultará em uma modificação quantitativa ou da forma de execução da pena privativa de liberdade imposta em face do agravante, o que poderá resultar em injusto prejuízo a este. 
	Ainda que se admitisse a aplicação de normas vagas e imprecisas, no presente caso concreto, não restou demonstrado pelo Ministério Público que houve afronta à ordem do estabelecimento prisional.
	Como se não fosse o bastante, o agravante apresentou versão verossímil no sentido de que não praticou qualquer ato de subversão.
	Eventual reconhecimento de falta resultaria em verdadeira sanção coletiva aplicada individualmente, já que nenhum sentenciado teve sua conduta faltosa descrita e todos estão respondendo em processos separados por fatos não específicos. 
 Como se pode perceber, não estamos diante de conduta passível de ser enquadrada como falta grave, bem como não estamos diante de conduta que somente pode ser sancionada através de tão drástica medida.
	Assim sendo, a necessidade de reforma da decisão encontra embasamento em mais de uma circunstância, sendo medida de direito o afastamento da aplicação da falta grave.
DOS PEDIDOS
Diante do exposto, requer a Vossas Excelências o recebimento, processamento e provimento do presente recurso, para que reforme a r. decisão a fim afastar o reconhecimento da falta grave.
Termos em que, Pede deferimento.
Local e data.
Advogado...
OAB... n°… Endereço...

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