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POLÍTICAS E O PROCESSO ENSINO/ APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA Professora Me. Waléria Henrique dos Santos Leonel GRADUAÇÃO Unicesumar C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; LEONEL, Waléria Henrique dos Santos. Políticas e o Processo Ensino/Aprendizagem na Educação Inclusiva. Waléria Henrique dos Santos Leonel. Reimpresso em 2019. Maringá-Pr.: UniCesumar, 2015. 228 p. “Graduação - EaD”. 1. Políticas. 2. Processo. 3. Ensino Aprendizagem. 4. Educação. 5. Inclusiva. 6. EaD. I.Título. ISBN 978-85-8084-344-6 CDD - 22 ed. 371.9 CIP - NBR 12899 - AACR/2 Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828 Impresso por: Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi NEAD - Núcleo de Educação a Distância Diretoria Executiva Chrystiano Minco� James Prestes Tiago Stachon Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia Coelho Diretoria de Permanência Leonardo Spaine Diretoria de Design Educacional Débora Leite Head de Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho Head de Curadoria e Inovação Jorge Luiz Vargas Prudencio de Barros Pires Gerência de Produção de Conteúdo Diogo Ribeiro Garcia Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey Gerência de Processos Acadêmicos Taessa Penha Shiraishi Vieira Gerência de Curadoria Giovana Costa Alfredo Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila Toledo Supervisão Operacional de Ensino Luiz Arthur Sanglard Coordenador de conteúdo Marcia Maria Previato de Souza Qualidade Editorial e Textual Daniel F. Hey, Hellyery Agda Design Educacional Rossana Costa Giani Iconografia Amanda Peçanha dos Santos Ana Carolina Martins Prado Projeto Gráfico Jaime de Marchi Junior José Jhonny Coelho Arte Capa Arthur Cantareli Silva Editoração André Morais de Freitas Aline Morais Revisão Textual Yara Martins Dias Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos com princípios éticos e profissionalismo, não so- mente para oferecer uma educação de qualidade, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão in- tegral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emocional e espiritual. Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares por ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos educacionais do Brasil. A rapidez do mundo moderno exige dos educa- dores soluções inteligentes para as necessidades de todos. Para continuar relevante, a instituição de educação precisa ter pelo menos três virtudes: inovação, coragem e compromisso com a quali- dade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia, metodologias ativas, as quais visam reunir o melhor do ensino presencial e a distância. Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária. Vamos juntos! Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quando investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequentemente, transformamos também a sociedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportu- nidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica e encontram-se integrados à proposta pedagógica, con- tribuindo no processo educacional, complementando sua formação profissional, desenvolvendo competên- cias e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessá- rios para a sua formação pessoal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de cresci- mento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das dis- cussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranqui- lidade e segurança sua trajetória acadêmica. Professora Me. Waléria Henrique dos Santos Leonel Possui graduação em Psicologia pelo Centro Universitário de Maringá (2003). Tem experiência na área de Psicologia, com ênfase em Psicologia Clínica, Psicologia da Aprendizagem, Psicologia Escolar e Psicologia do Desenvolvimento. Pós- graduada em nível de Mestrado em Psicologia pela Universidade Estadual de Maringá.Especialização em Trabalho Pedagógico em Educação Infantil (UEL). Pós- graduação em Docência para o Ensino Superior (Centro de Ensino Superior do Paraná). Pós-graduação em Atendimento Educacional Especializado Educação Especial e Inclusiva pelo Centro Universitário de Maringá . A U TO R A SEJA BEM-VINDO(A)! Olá, caro(a) acadêmico(a)! Neste momento, você inicia mais um material de estudo, que tem como objetivo enriquecer seu aprendizado. Seja bem-vindo ao estudo sobre Po- líticas e o processo ensino/aprendizagem na educação inclusiva. Eu sou a professora Waléria Henrique dos Santos Leonel e fui a organizadora deste material, que foi espe- cialmente preparado para você. Nossa disciplina é muito importante para sua formação, diante de todas as mudanças que vêm ocorrendo na educação, assim, vou explicar a melhor maneira de estudar este material. Esse estudo contém cinco unidades, além de uma breve introdução que foi escrita por mim no início de cada unidade, com o objetivo de direcioná-lo para o tema central que irá estudar em nossa disciplina. Na unidade I, chamada: Fundamentos Históricos e Políticas de Inclusão Escolar na Atua- lidade, faço um breve resgate histórico, a fim de levá-lo a compreender a concepção de deficiência que acompanhou a sociedade e a influência dessa concepção no processo de inclusão. Eu posso afirmar que nossa disciplina é muito complexa, pois o tema educação inclusiva ainda está sendo construído e necessita do apoio de todos para sua real efetivação. Você também, como futuro(a) pedagogo(a), pode contribuir para esse movimento. Nesta primeira unidade, trouxe um pouco de história da deficiência, também a evolução da educação especial e da educação inclusiva no Brasil, busco situar sobre a compre- ensão do termo inclusão e inclusão escolar e, não podendo faltar, escrevo sobre as leis que amparam e norteiam o movimento de inclusão escolar. Vou situá-lo sobre algumas leis, como a Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional, a Constituição Federal de 1988, Estatuto da Criança e do Adolescente, a Declaração da Salamanca de 1994, den- tre outros documentos que foram tão importantes e que respaldamo movimento para educação inclusiva. Na unidade II, denominada: Educação Inclusiva e o Atendimento Educacional Especiali- zado - Implicações no papel do professor, mostro os aspectos legais em relação ao novo modelo de educação proposto pelo MEC, o qual prega que esse tipo de atendimento existe para os alunos aprenderem o que é diferente do currículo do ensino comum e que é necessário para que possam ultrapassar as barreiras impostas pela deficiência. A ideia central dessa unidade é mostrar que as mudanças educacionais são respaldadas por leis e, também, mostrar a importância de uma formação adequada e trazer algumas mudanças na ação pedagógica que vão auxiliar a sua prática. Logo eu mostro um pouco mais sobre o papel do professor, continue lendo! Pude perceber, diante da minha experiência profissional, que se discutem pouco em relação à inclusão no ensino superior, assim, incluí para você, nessa unidade, esse tema. Após concluir sua leitura, proponho um desafio, tente responder esta questão: O que é APRESENTAÇÃO POLÍTICAS E O PROCESSO ENSINO/ APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA necessário para que ocorra uma educação inclusiva? Leia com atenção e não desa- nime, irá encontrar a resposta na conclusão. Nesse momento, proponho que inicie a leitura dessa unidade e que comece a de- senvolver as reflexões sobre a importância da sua formação e da contribuição que você, pedagogo(a) pode oferecer para esse movimento. Vamos, agora, para a unidade III, denominada: Uma visão da família frente à diversi- dade. É importante que você conheça o papel da família e seu comportamento fren- te à deficiência. Muitas vezes, só conseguimos compreender o outro nos colocando em seu lugar, imagine-se como pai de uma criança deficiente, isso pode acontecer com qualquer pessoa, independente da sua experiência educacional, status familiar ou situação financeira, você verá que, entendendo mais os sentimentos que essas famílias sentem, o stress sofrido e o grau de coragem e envolvimento desses pais com seus filhos, ajudará na compreensão da necessidade do apoio externo e o leva- rá a perceber o indivíduo como um ser único com suas peculiaridades, favorecendo seu trabalho pedagógico. Retomando nosso assunto, como vou tratar sobre inclusão escolar em relação à pes- soa com necessidades especiais, não podia deixar de escrever para você sobre a pre- venção da deficiência, pois, para orientar de forma adequada, é necessário conhe- cer. Vamos aprender as formas de prevenção, visto que muitas deficiências podem ser evitadas com medidas simples. A unidade IV é muito interessante, espero que você goste. O objetivo é que você co- nheça quem são as pessoas que, segundo as mudanças na educação inclusiva, irão fazer parte do contexto de sala de aula no ensino regular. O conhecimento quebra barreiras e favorece o trabalho em toda sua plenitude. Foi pensando no trabalho que irá desenvolver com seu futuro aluno que escrevi essa unidade, por acreditar na importância do seu papel como pedagogo(a) para uma educação inclusiva de qualidade. Você deve estar pensando: eu serei pedagogo(a) e não profissional da saúde, por que preciso estudar isso? Justamente por ser pedagogo(a) e estar em contato diá- rio com o aluno, você precisa estar familiarizado com os termos. Será importante o trabalho multiprofissional, o seu conhecimento vai respaldá-lo para as percepções, possíveis intervenções e encaminhamentos necessários. Estamos chegando ao final, esta é nossa última unidade e como escrevi acima mos- tro para você o papel do professor. Nesse momento, a palavra que chama a atenção é vínculo. Sei o quanto o tema ainda gera incertezas, por isso o vínculo adequado que deve ser estabelecido com seu aluno vai contribuir para que alcance seus obje- tivos pedagógicos. Você verá isso no decorrer de sua leitura. Você vem de uma longa caminhada, então, para essa unidade quero que reflita e tente responder algumas perguntas que faço a você: APRESENTAÇÃO A inclusão vem contribuir para o avanço educacional das pessoas que apresentam necessidades educacionais especiais? As escolas atuais estão preparadas em todos os seus aspectos para receber esse público? A inclusão educacional vem mudando a visão social do deficiente? Na conclusão vamos retomar as questões, ok?! Você viu que não podemos ver a educação inclusiva apenas no nível básico, então, eu trouxe outros temas importantes em relação à pessoa com deficiência, os quais você vai conhecer no decorrer da leitura do livro. Dito isso, vemos que ainda preci- samos avançar enquanto profissionais e que o movimento para educação inclusiva vai contribuir para repensar nossa postura e ver o quanto é possível contribuir para esse momento da educação no cenário brasileiro. Ainda em nosso material de estudo, mostro que a educação vai influenciar todos os aspectos da vida da pessoa, quando abordo questões de aspectos emocionais, ao tratar temas referentes à afetividade, sexualidade e sobre o envelhecimento do deficiente. O nosso material traz conteúdos que são muito complexos. Em alguns momentos, é importante receber as informações por outros canais de aprendizagem. Existem inúmeros filmes que abordam a deficiência, trouxe algumas sugestões de belas obras que espero que aprecie. Você irá encontrar mais informações no material complementar. Então, vamos lá! Bom estudo e almejo que o material que preparei para você contri- bua de forma eficaz para sua formação. APRESENTAÇÃO SUMÁRIO 11 UNIDADE I FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E POLÍTICAS DE INCLUSÃO ESCOLAR NA ATUALIDADE 17 Introdução 18 Concepção de Deficiência ao Longo da História 25 Educação Especial e a Educação Inclusiva no Cenário Brasileiro: Contextualização do Problema 34 Política Nacional de Educação Especial na Educação Inclusiva 41 A Deficiência na Perspectiva da Teoria Histórico-Cultural 47 Considerações Finais UNIDADE II EDUCAÇÃO INCLUSIVA E O ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO: IMPLICAÇÕES NO PAPEL DO PROFESSOR 55 Introdução 56 Atendimento Educacional Especializado: Aspectos Legais 61 A Formação do Professor na Educação Inclusiva 66 Educação Inclusiva: A Ação Pedagógica Diante da Diversidade - Formação Competente no Processo de Educar 70 Inclusão do Aluno com Necessidades Especiais no Ensino Superior 77 Considerações Finais SUMÁRIO UNIDADE III UMA VISÃO DA FAMÍLIA FRENTE À DIVERSIDADE 87 Introdução 88 Concepção da Família ao Longo da História e seu Funcionamento 95 O Nascimento de uma Criança Deficiente 99 A Prevenção da Deficiência e sua Importância 105 Considerações Finais UNIDADE IV CONHECENDO AS DEFICIÊNCIAS E NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS 111 Introdução 112 Deficiências 130 Altas Habilidades/Superdotação 133 Transtornos Funcionais Específicos 140 Transtornos Específicos do Desenvolvimento (TDAH) 148 Transtornos Globais do Desenvolvimento 163 Necessidades Especiais na Sala de Aula – Condições para Inclusão 167 Considerações Finais SUMÁRIO 13 UNIDADE V DESAFIOS NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA: QUESTÕES EDUCACIONAIS E DE CIDADANIA 177 Introdução 178 O Professor Frente à Diversidade: Construindo Laços no Ambiente Escolar 182 Educação para o Trabalho: Alternativas Educacionais de Caráter Profissionalizante e Educacional 187 Diferente, mas não Desigual: Vivenciando a Afetividade, a Sexualidade e o Envelhecimento da Pessoa com Deficiência 192 Discutindo Sobre o Envelhecimento da Pessoa com Deficiência 194 Considerações Finais 201 CONCLUSÃO 209 REFERÊNCIAS U N ID A D E I Professora Me. Waléria Henrique dos Santos Leonel FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E POLÍTICAS DE INCLUSÃO ESCOLAR NA ATUALIDADE Objetivos de Aprendizagem ■ Conhecer a evolução do conceito de deficiência e analisar os antecedentes históricos das posturas segregacionistas que são observadas quanto à educação da pessoa com deficiência. ■ Entender as leis que norteiam e amparam o processo de inclusão escolar dosalunos com necessidades educativas especiais. ■ Analisar como se encontra, na atualidade, o processo de Educação inclusiva frente às Políticas Públicas de Inclusão Nacional. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ Concepção de Deficiência ao longo da história ■ Educação Especial e a Educação Inclusiva no Cenário Brasileiro: Contextualização do Problema ■ Política Nacional de Educação Especial na Educação Inclusiva INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a), nesta unidade, faremos um estudo visando entender como a sociedade enxergava a deficiência ao longo da história e como vem ocorrendo o processo de inclusão até os dias atuais. É muito importante fazermos a leitura com um olhar crítico e não nos deixar levar por uma visão simplista, de senso comum. O assunto requer reflexões, pois, antes de pensarmos na inclusão, deve- mos analisar que essa só necessita ocorrer devido ao processo de exclusão, ao qual as pessoas que fazem parte da nossa sociedade são responsáveis direta e indiretamente. O nosso estudo dará ênfase às pessoas com necessidades educa- cionais especiais, no entanto, muitos grupos vivem a realidade da exclusão. As raízes do preconceito são antigas e nos levam, muitas vezes, a não sermos capa- zes de respeitar o direito do outro que faz parte da sociedade e contribui com ela. São muitas as leis que amparam e apoiam o movimento chamado de inclu- são, e muito já se tem discutido sobre o assunto, mas nem sempre se efetivam e alcançam os resultados desejados. Pensar em educação inclusiva ainda é um desafio que envolve toda uma sociedade, para que sua prática seja bem sucedida. Dessa forma, destacamos que, de acordo com a história, a Educação Especial, no cenário brasileiro, sofreu transformações importantes. Em seu percurso, des- tacamos os movimentos para a Educação Inclusiva, que ganharam força por meio de documentos importantes nacionais e internacionais e, na atualidade, esses influenciaram e respaldaram o surgimento de leis que visam garantir o direito da pessoa com deficiência e/ou necessidades educacionais especiais. Também notamos que o movimento histórico em prol das pessoas com deficiências e a evolução da educação especial fortalecem os discursos para a inclusão, porém, ainda estamos caminhando, numa árdua jornada, em prol de atender e ofertar de fato um ensino de qualidade para todos. Nesse sentido, a unidade tem como objetivo conhecer o percurso histórico da deficiência, do deficiente e de sua escolarização, também, conhecer os docu- mentos e leis que regem esse novo modelo de educação, chamado de educação inclusiva, e, com isso, realizar uma análise do processo de inclusão das pessoas com deficiências e/ou necessidades educacionais especiais (NEEs), diante das Políticas Públicas de Inclusão Nacional. Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 1717 FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E POLÍTICAS DE INCLUSÃO ESCOLAR NA ATUALIDADE Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E18 Espero trazer conhecimentos importantes e contribuir para a sua compreen- são sobre os fundamentos históricos que interferem em nossa concepção social atual e em nossa ação frente às pessoas com algum tipo de deficiência. Bom estudo! CONCEPÇÃO DE DEFICIÊNCIA AO LONGO DA HISTÓRIA Muitos foram os eventos que influenciaram a história da deficiência e do defi- ciente no Brasil, o conceito de deficiência desenvolveu-se no decorrer dos tempos, influenciado por diversas culturas, que deram significados diferentes em sua trajetória. Segundo Santos (2002) e Manacorda (1989), em relação à forma de tratamento dos deficientes, encontramos poucos escritos, com relatos datados anteriores à Antiguidade. Dessa forma, refletindo sobre a sociedade, essa sempre foi mar- cada por classes e encontramos que, na Antiguidade, às classes dominantes cabia o pensar, enquanto às classes dominadas competiam o trabalho e as guerras, e os deficientes não se enquadravam ao pensamento da época, eram vistos pela sociedade como incapazes. Pessotti (1984) afirma que, no período da Antiguidade, os escritos de Platão (427-399 a. C.) e, depois, Aristóteles (384- 322 a.C.) demonstram que a prática do abandono à morte dos deficientes era admitida pela sociedade em nome do equilíbrio e da organização política. Os deficientes, particularmente os com comprometimento mental, como os homens do povo, eram considerados pela nobreza como sub-humanos, pois não exerciam nenhum poder político e não eram responsáveis pela sua própria sub- sistência, diante disso, aos deficientes o abandono e extermínio eram práticas aceitáveis, já que esses indivíduos não se enquadravam nos modelos estéticos da organização sociocultural e política da sociedade da época (PESSOTTI, 1984; ARANHA, 2001). Concepção de Deficiência ao Longo da História Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 1919 Resgatando a história, nota-se que o deficiente sofreu ações bem diferentes do que ocorre atualmente. Essas pessoas viveram situações desde o extremo de serem consideradas divinas e superiores, até de ameaça e consumação de morte. Patton, Payne & Beirne-Smith (1985), citado por Carvalho (2000), classifi- cam os períodos que marcaram a concepção da deficiência ao longo da história, os quais vamos descrever a vocês. Na antiguidade, até os anos de 1700, a socie- dade apresentava comportamentos e percepções variadas em relação ao deficiente, principalmente ao mental. Vemos que a percepção da sociedade por concep- ções sociopolíticas aplica-se também as demais deficiências, pois eram vistos todos como iguais. A sociedade da época compreendia os deficientes ora como demônios ora como detentores de dons, poderes ou revelações divinas. Os sentimentos eram contraditórios e as pessoas tinham medo, rejeição, respeito ou admiração. A sociedade não tinha interesse em ofertar serviços para o desenvolvimento dos deficientes, pois a condição de incapacidade fazia parte da concepção da época. Mazzotta (2011) revela que, nesse período, os serviços de atendimentos, quando havia, ocorriam em monastérios que ofereciam cuidados e amparo para as pessoas com deficiências e eram realizados por religiosos, no entanto, ainda não havia a preocupação com o desenvolvimento e o tipo de atendimento que era destinado para esse público, o que demonstra que esses eram de cará- ter assistencialista. Pessotti (1984) contribui afirmando que a Igreja não se apresentava isenta de contradições, mesmo sendo um lugar de amparo e cuidados, nesse período, por força do pensamento cristão, surge a concepção de que os deficientes tinham alma, dessa forma, esses passavam a ter responsabilidades éticas e morais que competiam aos cristãos e, por isso, a deficiência era tida como castigo de Deus por seus pecados ou pelos pecados de seus antepassados, influenciando na forma de tratamento aos deficientes. Soares (2009), Aranha (2001) e Barroco (2007) destacam em seus escritos a ambiguidade de sentimentos e de atitudes em relação a esse público, fortalecido principalmente pelo pensamento religioso. Logo, como aponta Pessotti (1984), o cristianismo marcou o conflito entre caridade e castigo, sendo a segregação FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E POLÍTICAS DE INCLUSÃO ESCOLAR NA ATUALIDADE Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E20 vista como uma forma de cuidado aos deficientes e ainda esconder dos olhos da sociedade, ficando inseridos em mosteiros ou instituições, sob os cuidados de religiosos. Santos (2002) revela que, após essa concepção, por influência de nomes como Paracelso (1493-1541), Cardamo (1501-1576), médicos da época, e depois com as contribuições de Esquirol e AlfredBinet, a deficiência começa a ser consi- derada como um problema de ordem médica, e não mais teológica, ganhando força a concepção científica da deficiência. O período de 1700 a 1860 foi marcado pelo humanismo renascentista, em que preconizava o valor das pessoas como seres humanos e seu direito a oportunidade de desenvolver o máximo suas potencialidades. Esse pensamento influenciou a mudança de atitude em relação à pessoa com deficiência. Era defendida a igual- dade de direitos e os deficientes não estavam excluídos, passando a gerar ações no sentido de dar assistência, mesmo que de forma tímida. Ainda nesse período, em relação ao ensino, apontamos a importância do pensamento de Rousseau (1712-1778), que defendia o princípio de ensinar o que os alunos são capazes de aprender, o que é de utilidade e de interesse, vindo a influenciar outros pensadores e, posteriormente, a educação para os deficientes. Por volta de 1860 a 1890, o período é marcado por uma mudança de atitude quanto à possibilidade de integração das pessoas com deficiência na comunidade. As poucas iniciativas quanto aos atendimentos voltados aos deficientes haviam tido resultados positivos, mas não chegavam às expectativas da sociedade da época, os esforços não levavam a mudanças significativas, que capacitassem as pessoas com deficiência para a integração e participação, conforme era esperado. O pensamento da época era marcado pela força da concepção de transmis- são genética da deficiência, sendo reforçado pelo movimento eugênico, também chamado de eugenia. Dessa forma, os deficientes passaram a ser considerados até mesmo perigosos para a sociedade. Esse movimento marcou o período em que traços individuais eram herdados e que a evolução humana era baseada principalmente na transmissão genética. Dessa maneira, a segregação e a este- rilização dos deficientes passaram a ser vistos como uma forma de proteção à sociedade, esse comportamento gerou um retrocesso nas conquistas ocorridas no período anterior. Concepção de Deficiência ao Longo da História Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 2121 Entre 1890 a 1925, o movimento eugênico ainda era presente, Francis Galton defende o controle genético e as descobertas de Mendel acerca das leis da heredi- tariedade reforçam o pensamento de Galton a respeito das implicações genéticas das deficiências mentais. Encontramos nos escritos que a psicologia, a partir do desenvolvimento da ciência, expandia-se, tornando público seus conhecimen- tos. Dessa forma, a psicometria desenvolvida por Alfred Binet (1857-1911) veio com grande força, porém podemos apontar que os testes de inteligência desen- volvidos na época contribuíram de forma negativa, juntamente com a avaliação psicológica, apontaria os graus da deficiência e foram utilizados para classificar as pessoas com deficiência mental, seu mau uso justificou a exclusão escolar e social de muitas pessoas (CARVALHO, 2000). Castro (2012) revela que, nesse século, a medicina já se constituía como ciên- cia e a psicologia ainda estava em busca de sua consolidação científica. Diante disso, era o diagnóstico médico que determinava a deficiência. O método psi- cológico de Binet complementava o diagnóstico médico. Assim, por meio de testes padronizados, propunha medir as diferenças e classificar os que não se enquadravam nos padrões considerados “normais” da época. De acordo com seus estudos, Binet aponta que foi na escola que vieram a aparecer os “débeis”, logo, eram necessários recursos educativos para aten- der os alunos deficientes de acordo com o grau identificado nos instrumentos (PESSOTI, 1984). O teste Wisc- III- Escala de Inteligência Weschsler para Crianças, versão bra- sileira, é um teste de inteligência de uso exclusivo do psicólogo. É um dos instrumentos utilizados para avaliação de alunos que apresentam necessi- dades educacionais especiais, garantindo, assim, que sejam atendidas as suas necessidades por meio do atendimento educacional especializado. FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E POLÍTICAS DE INCLUSÃO ESCOLAR NA ATUALIDADE Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E22 No período de 1925 a 1950, com o final da I Guerra Mundial, houve a neces- sidade de atender os soldados que retornavam com graves deficiências, surgindo os serviços de reabilitação, a partir de então desperta a necessidade de atender outras pessoas deficientes. Devido a essa visão, criou-se serviços para atender crianças deficientes e passou a ter um início de perspectiva de educação espe- cial em várias partes do mundo. As influências ambientais ganharam força na concepção da deficiência men- tal, mostrando que outros fatores etiológicos não hereditários também podiam causar a deficiência mental, como as infecções, traumatismos e problemas endó- crinos. A concepção genética como única etiologia da deficiência mental perdeu força e começaram a surgir, na década de 30, alguns movimentos de direitos humanos apoiando as pessoas com deficiência. Algumas descobertas da ciência nessa época trouxeram a compreensão de que a deficiência deveria ser objeto de interesse científico e estudo, e não de rejei- ção, refletindo na atualidade. Grunspun (1999) destaca que, além das causas hereditárias da deficiência ainda pouco compreendidas na época pela humanidade, atualmente, é sabido que causas como as pré-natais, perinatais e pós-natais, também são responsá- veis pela incidência de casos. As causas pré-natais incluem anormalidades genéticas (por exemplo, síndrome de Down, esclerose túberos); Fatores do ambiente intrauteri- no (por exemplo, desnutrição materna, toxoplasmose materna, expo- sição à irradiação); Distúrbios de disgenesia cerebral e erros inatos do metabolismo (por exemplo, fenilcetonúria, galactosemia); Etiologias perinatais incluem: Insuficiência placentária; Prematuridade; Compli- cações no trabalho de parto e na expulsão. Causas pós-natais incluem: Lesões no sistema nervoso central (SNC), que ocorrem na infância ou posteriormente, e que resultam de: Trauma; Infecções; Causas ambien- tais (Por exemplo, desnutrição, negligência, maus-tratos, exposição a toxinas); Crises epilépticas descontroladas; Transtornos neurodege- nerativos (por exemplo, lipofuscinose ceroide) (GRUNSPUN, 1999, p.24). Assim, encontramos em Fierro (2004) que a deficiência apresenta as mais varia- das etiologias e as causas da deficiência, na grande maioria das vezes, têm mais de um fator envolvido, podendo ser biológicos ou psicossociais. Concepção de Deficiência ao Longo da História Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 2323 Ainda por volta de 1950 a 1960, a história revela uma maior aceitação das pessoas com deficiência, com mais atendimentos, em alguns países desenvol- vidos, as famílias passaram a exercer uma maior pressão e os profissionais da época passaram a despertar maior interesse pelos deficiente. Os sentimentos que antes eram de medo e rejeição deram lugar a tolerância e compaixão, os serviços educacionais não eram para todos, principalmente para as deficiên- cias múltiplas ou com graves limitações. A época de 1960 a 1970 foi marcada pelo movimento dos direitos humanos nos países desenvolvidos e nos que sofriam sua influência, surgiram muitas pes- quisas multidisciplinares trazendo contribuições no âmbito do entendimento de várias deficiências. Programas de intervenção precoce realizadados nos Estados Unidos obtiveram bons resultados em relação à prevenção de efeitos adversos das deficiências e das desvantagens sociais e culturais, aumentando o otimismo de todos envolvidos. A partir da década de 1970 a 1980, as conquistas se consolidaram e o movimento dos direitos humanos ganhou força. Nos EUA, as leis garantiam o atendimento educacionalirrestritamente para as pessoas com deficiências, sobretudo os mais comprometidos. No Brasil, a sociedade da época tornava-se mais receptiva e os estados mais desenvolvidos contavam com sua própria legislação que recomendavam o atendimento educacional especializado. Porém, os alunos com deficiências múltiplas e severas não recebiam o atendimento especializado, este ocorria em instituições filantrópicas e consistia mais em cuidados pessoais e assistenciais do que em atendimento educacional. A visão das famílias, na época, baseava-se em ter um local seguro para dei- xar o filho enquanto trabalhavam, os professores não tinham expectativas e o investimento era pouco, frente às limitações dos alunos. A partir da década de 1980, o período vem sendo marcado por grandes mudanças e avanços na educação, as leis vêm apoiando e dando subsídios para os serviços de atendimento para as pessoas com deficiências. Na década de 1990, percebe-se a tentativa de democratizar o ensino no país com a perspectiva escola para todos, com a inclusão dos alunos com necessidades especiais, não havendo mais a aceitação de exclusão dos alunos com deficiências múltiplas e severas. FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E POLÍTICAS DE INCLUSÃO ESCOLAR NA ATUALIDADE Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E24 Atualmente, Fávero (2007) nos mostra que os movimentos sociais, os pais de crianças com deficiências, membros do Ministério Público e do Poder Judiciário vêm percebendo o quanto as escolas brasileiras são discriminató- rias, sendo preciso encontrar alternativas para melhoria da qualidade do ensino para todos, sem exclusão. A concepção social sobre a pessoa deficiente ou a que apresenta alguma necessidade educacional especial mudou no decorrer dos anos, como mos- tram os registros históricos. Essas pessoas estão realmente incluídas na so- ciedade, sendo inseridas e participativas em todos os contextos, em particu- lar, no contexto educacional? O que as escolas precisam mudar? Educação Especial e a Educação Inclusiva no Cenário Brasileiro: Contextualização do Problema Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 2525 EDUCAÇÃO ESPECIAL E A EDUCAÇÃO INCLUSIVA NO CENÁRIO BRASILEIRO: CONTEXTUALIZAÇÃO DO PROBLEMA A Educação especial e a inclusiva vêm se constituindo como uma construção his- tórica, amparadas por movimentos sociais que ganharam força ao longo dos anos, reafirmando os direitos das pessoas que se encontravam fora dos padrões sociais. A educação especial brasileira se constituiu fortemente marcada pela institucio- nalização, desde a época do império, que por meio das mobilizações sociais levam as ações governamentais e, com isso, as mudanças respaldadas pelas legislações. Dessa maneira, Stainback & Stainback (1999) apontam, por meio de dados históricos, que, no final do século XIX até a década de 1950, as instituições para pessoas deficientes aumentavam, ao mesmo tempo em que eram criadas e desen- volvidas as escolas comuns públicas. Entre 1842 e 1918, todos os estados legislaram o ensino obrigatório, no entanto, vários grupos de crianças foram excluídos, den- tre eles, os afro-americanos e nativos americanos, como também os alunos com deficiência visível foram segregados. FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E POLÍTICAS DE INCLUSÃO ESCOLAR NA ATUALIDADE Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E26 Nas décadas de 1950 e 1960, o uso das escolas especiais, que podemos entender como um período de integração, era o sistema preferido de prestação de servi- ços educacionais para a maior parte dos alunos deficientes. Contudo, foi nesse período que as atitudes do público com relação ao espaço físico das pessoas com deficiências nas escolas começaram a mudar (STAINBACK; STAINBACK, 1999). De acordo com Chaves (apud STAINBACK; STAINBACK, 1999), surgem também as classes especiais, como uma forma de atender as crianças “problema”, no entanto, essas “não surgiram por razões humanitárias, mas porque essas crian- ças eram indesejadas nas salas de aula da escola pública regular” (p.38). Para autores como Mantoan( 2003), Carvalho (2000) e Sassaki (2005), a integração, ou seja, a inserção de alunos deficientes em escolas e classes espe- ciais, promove a socialização da criança, mas reforça o caráter segregador, pois deposita todas as responsabilidades na própria pessoa com deficiência, sendo ela responsável por seu sucesso ou fracasso. Assim, Fernandes (2011, p. 73) traz a crítica em relação aos serviços oferta- dos, o que conhecemos por processo de integração: “as diferenças das pessoas com deficiência não são consideradas, buscando-se na sua normalização, ou seja, a tentativa de fazê-las parecer o mais próximo possível ao padrão de normali- dade imposto socialmente” (p.73). Outro momento vivenciado pelas pessoas com deficiências ou necessidades educacionais especiais é conhecido como educação inclusiva, que se iniciava, ainda distante dos moldes atuais, nos Estados Unidos, em 1975, com a Lei Pública 94.142, que estabelece a modificação dos currículos. Essa ação influenciou outros países, inclusive o Brasil, em relação à inclusão educacional. Fernandes (2011, p. 76) aponta que a educação inclusiva é apoiada “nos prin- cípios de igualdade e equiparação de oportunidades na educação, resguardam a prerrogativa de que cada sujeito tem interesses e características que necessitam ser atendidas no processo educacional”. Logo, a Educação inclusiva visa a atender a todos os alunos, independente de suas particularidades na rede comum de ensino. No decorrer da história, foram muitas as formas e as terminologias que se utilizaram para se referir ao público desse novo modelo de educação. O termo necessidades educativas espe- ciais ficou conhecido popularmente com a Declaração de Salamanca, a qual foi Educação Especial e a Educação Inclusiva no Cenário Brasileiro: Contextualização do Problema Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 2727 uma tentativa de diminuir os rótulos existentes em relação a esse público. Essa terminologia também abrange outros alunos que apresentam difi culdades de aprendizagem e não apresentam defi ciências. Assim, podemos afi rmar que todas as pessoas que apresentam alguma defi ciência têm uma necessidade especial, mas nem toda pessoa que tem uma necessidade especial tem defi ciência. Segundo Fernandes (2011), a terminologia “necessidades especiais” foi inclu- ída na LDBEN (1996), em seu art. 58, evidenciando que abrangia outros alunos, e não apenas os que apresentavam defi ciência. A Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Defi ciência, promulgada pela ONU em 2007, aprova o termo “pessoa com defi ciência”, até então era usualmente utilizada a terminologia “portador de defi ciência”, esse termo indica que o portador pode descartar algo no momento em que desejar, logo, seu uso, desde a Convenção, não é mais adequado (FERNANDES, 2011; SASSAKI, 2002). Bueno (1993) contribui dizendo que o termo ‘necessidades educativas espe- ciais’ refere-se a todas as pessoas cujas necessidades educacionais especiais se originam em função de defi ciências ou difi culdades de aprendizagem, que necessitam de serviços especializados no decorrer de seu processo escolar. É importante destacar que o termo “necessidades educativas especiais” foi substituído por “necessidades educacionais especiais (NEEs)”, pois esse melhor atende aos princípios da educação inclusiva. Segundo Leite e Martins (2012, p.42), o primeiro termo traz uma visão reducionista de ensino, pois deixa de considerar “aspectos formativos do processo educacional, na apropriação dos conhecimentos historicamente construídos”. Ainda, as autoras apontam que, seguindo aDeclaração de Salamanca, de 1994, a LDBEN de 1996 e documentos como os Parâmetros Curriculares Nacionais afi rmam que: adaptações curriculares da Secretaria da Educação Especial (SEESP/MEC) fazem uso da terminologia até o momento atual, “necessidades FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E POLÍTICAS DE INCLUSÃO ESCOLAR NA ATUALIDADE Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E28 educacionais especiais”, definindo, assim, seu público como “crianças e jovens que têm necessidades diferenciadas, por conta de suas capacidades ou dificul- dades de aprendizagem” (LEITE; MARTINS, 2012, p.42). Essa terminologia trouxe avanços para a educação desses alunos, no entanto, é importante que as mudanças propostas pela educação inclusiva se efetivem, para atender as particularidades dos alunos com deficiências e NEEs. Dessa maneira, a inclusão escolar aponta reflexões necessárias para se atingir os ideais discutidos nos documentos que buscam atender os direitos de todos, por exemplo, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948. Segundo Mazini (1999), a inclusão escolar oportuniza ao educando partici- par daquilo que o sistema educacional oferece, contribuindo com seu potencial para os projetos e programações da instituição. Mendes (2002, apud PALHARES e MARINS, 2002) reforça o pensamento dizendo que a educação inclusiva é uma proposta de aplicação prática no campo da educação de um movimento mundial chamado de Inclusão Social, em que ocorre um processo bilateral, no qual as pessoas excluídas e a sociedade buscam efetivar a oportunidade para todos. Nessa mesma perspectiva encontra-se Aranha (2001), expondo que o movi- mento pela inclusão social está ligado à construção de uma sociedade democrática, na qual todos conquistam sua cidadania e a diversidade é respeitada, havendo aceitação e reconhecimento político das diferenças. Esse movimento chamado de inclusão escolar, segundo Motta (1999), não é a simples colocação em sala de aula, significa a criação de uma escola em que as pessoas, com e sem deficiências, possam conviver e estudar em ambientes nos quais os indivíduos aprendam a lidar com a diversidade e com a diferença e, também, reconheçam e valorizem a heterogeneidade dos alunos, procurando desenvolver as suas diferentes potencialidades, por meio de uma prática de ensino flexível e diferenciada, que busca o que há de melhor em cada um. Dessa forma, Motta (1999) afirma que o movimento pela inclusão é uma ação política, cultural, social e pedagógica, desencadeada em defesa do direito de todos os alunos, visando promover uma educação de qualidade, com menos desigualdade, em busca da construção de uma sociedade democrática. Sendo assim, no decorrer da história da humanidade, as pessoas com Educação Especial e a Educação Inclusiva no Cenário Brasileiro: Contextualização do Problema Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 2929 deficiência enfrentaram muitas lutas em busca de garantia de seus direitos, até a construção da educação inclusiva que discutimos na atualidade. Nesse per- curso, a educação especial se organizou tradicionalmente como atendimento educacional especializado substitutivo ao ensino comum, evidenciando dife- rentes compreensões, terminologias e modalidades que levaram a criação de instituições especializadas, escolas especiais e classes especiais (DUTRA, 2008). Assim, para melhor compreensão, cabe realizar uma breve contextualização da educação especial, ressaltando fatos importantes da história. Na maioria dos países, a educação especial segue, de uma forma geral, um padrão semelhante em sua evolução. Primeiramente, caracteriza-se pela segregação e exclusão, num segundo momento, modifica-se o olhar e os deficientes passam a possuir capaci- dades, mesmo que limitadas, de aprendizagem, mas ainda predomina o olhar de tutela. Após esse período, surge o terceiro momento, que é marcado pelo reco- nhecimento do valor humano e de seus direitos e, desde a década de 60, esse movimento vem ganhando força (SANTOS, 1995). Pode-se dizer que a evolução na Educação Especial brasileira aconteceu em dois períodos: de 1854 a 1956, em que se destacam as iniciativas oficiais e par- ticulares isoladas, e de 1957 a 1993, em que se encontram as iniciativas oficiais de âmbito nacional. No período de 1854 a 1956, destaca-se a fundação do Imperial Instituto dos Meninos Cegos, no Rio de Janeiro, primeira medida em relação ao aten- dimento escolar especial às pessoas com necessidades especiais, concretizada por D. Pedro II, em 1854. Em 1890, já no governo republicano, passou a se cha- mar Instituto Nacional dos Cegos e, em 1891, a escola denominou-se Instituto Benjamin Constant (IBC). Foi também D. Pedro II que, três anos após a criação do Instituto Benjamin Constant, fundou, em 1857, no Rio de Janeiro, o Imperial Instituto dos Surdos-Mudos, o qual, em 1957, passou a se chamar Instituto Nacional de Educação de Surdos – INES (MAZZOTA, 2005). Januzzi (1985) aponta que foi com a criação desses Institutos (IBC e INES) que se iniciaram as discussões em relação a educação das pessoas com deficiên- cias, criando o 1º Congresso de Instrução Pública, em 1883. Esses Institutos se constituíram como marcos importantes para a Educação Especial. Em relação aos deficientes intelectuais, é fundado, no início do século XX, FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E POLÍTICAS DE INCLUSÃO ESCOLAR NA ATUALIDADE Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E30 o Instituto Pestalozzi (1926), instituição especializada no atendimento às pes- soas com deficiência mental. Em 1954, é fundada a primeira Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) e, em 1945, é criado o primeiro atendimento educacional especializado às pessoas com superdotação na Sociedade Pestalozzi, por Helena Antipoff. No período de 1957 a 1993, o governo federal voltou-se para o atendimento educacional das pessoas com necessidades especiais. A primeira delas foi a Campanha para a Educação do Surdo Brasileiro, seguida da Campanha Nacional de Educação e Reabilitação de Deficientes da Visão e, finalmente, a Campanha Nacional de Educação e Reabilitação de Deficientes Mentais. Com essas ações, a Educação Especial adquire maior atenção por parte do governo federal, com a criação de órgãos como: o Grupo-Tarefa de Educação Especial (1972), o Centro Nacional de Educação Especial - CENESP e a Secretaria de Educação Especial - SESPE (MAZZOTA, 2005). Com o movimento para inclusão iniciando em 1975, nos Estados Unidos, seguiram-se, então, uma série de encontros mundiais, como a Conferência Mundial de Jomtiem sobre Educação Para Todos (1990), esta apresenta como objetivos oferecer educação para todos até o ano 2000. Nessa conferência, des- tacou-se a necessidade de oferecer maiores oportunidades de uma educação duradoura. Os últimos documentos e mais importantes foram, dentre outros, a reu- nião da Assembleia Geral da ONU, em 1996, que elaborou as Normas sobre a Equiparação de Oportunidades para pessoas com Deficiências; o Forúm Mundial de Educação, ocorrido em 2000, em Dacar; o Seminário e Oficina Regional das Américas, em 2003, em que se elaborou a Declaração de Quito. Entretanto, é a Declaração de Salamanca, elaborada em 1994, pela Unesco, que até o momento é tomada como referência ao se tratar de inclusão (DENARI; BRAZ, 2005). A Declaração de Salamanca de 1994 retomou a discussão sobre educação especial, na tentativa de diminuir as fontes de injustiças sociais a partir do pres- suposto de “Educação para Todos”, constituindo, assim, um marco importante na história da inclusão, pois oficializou o termo inclusão no campo da educa- ção (TESSARO, 2005). Machado (2005, p. 133) mostra que na Declaração de Salamanca de 1994 o Educação Especial e a Educação Inclusiva no Cenário Brasileiro:Contextualização do Problema Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 3131 princípio fundamental da escola inclusiva: É o de que todas as crianças devem aprender juntas, sempre que pos- sível, independentemente de quaisquer dificuldades ou diferenças que elas possam ter. Escolas inclusivas devem reconhecer e responder às necessidades diversas de seus alunos, acomodando ambos os estilos e ritmos de aprendizagem e assegurando uma educação de qualidade a todos através de um currículo apropriado, arranjos organizacionais, estratégias de ensino, uso de recurso e parceria com as comunidades. Na verdade, deveria existir uma continuidade de serviços e apoio pro- porcional ao contínuo de necessidades especiais encontradas dentro da escola (p.133). Assim, a Declaração de Salamanca (1994) recomenda, também, que: ...as escolas se ajustem às necessidades dos alunos, quaisquer que se- jam suas condições físicas, sociais e lingüísticas, incluindo aquelas que vivem nas ruas, as que trabalham, as nômades, as de minorias étnicas, culturais e sociais, além das que se desenvolveram a margem da socie- dade (WERNECK, 1997, p. 50 apud TESSARO, 2005). A Declaração, afirma, ainda que: Deverão ser tomadas as medidas necessárias para conseguir a mesma política integradora de jovens e adultos com necessidades especiais, no ensino secundário e superior, assim como nos programas de formação profissional (MACHADO, 2005, p.147). Dessa forma, podemos dizer que a Educação especial só veio a consolidar-se a partir das políticas públicas e das mobilizações em favor da criação de escolas especiais para esse público e, também, em defesa dos direitos das pessoas com deficiências, que ocorreram a partir de leis, decretos e normalizações, em que podemos apresentar LDB 9394/961 (BRASIL, 1996), a Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988) e a Declaração de Salamanca de 1994 (UNESCO, 1998). Esses e outros documentos mudaram a história da deficiência, do deficiente e da Educação Especial nos aspectos legais (JANUZZI, 1985). Bergamo (2010) afirma que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996, no artigo 58, conceitua que a Educação Especial é entendida como 1 No decorrer da história, a LDB passou por várias reformulações, sendo a LDB9394/96 a lei atual que respalda a educação brasileira. FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E POLÍTICAS DE INCLUSÃO ESCOLAR NA ATUALIDADE Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E32 “modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais”. Logo, Bergamos (2010) reforça que, de acordo com os documentos do Ministério da Educação: A educação especial constitui-se, portanto, como uma proposta pe- dagógica que assegura recursos e serviços para apoiar, complementar, suplementar e/ou substituir serviços educacionais comuns. Realiza-se transversalmente em todos os níveis, etapas e modalidades de ensino para assegurar aos alunos com necessidades educacionais especiais as condições para ter acesso à escola e permanecer nela, assim como para desenvolver todas as potencialidades (BRASIL, 2004). Assim, refletindo sobre a educação inclusiva, Bergamo (2010, p.41) aponta que o documento citado a entende como: (...) um movimento que compreende a educação como um direito hu- mano fundamental e a base para uma sociedade mais justa, que se pre- ocupa em atender a todas as pessoas a despeito de suas características, desvantagens ou dificuldades e habilitar todas as escolas para o atendi- mento da sua comunidade, concentrando-se naqueles alunos que têm sido mais excluídos das oportunidades educacionais. Diante do exposto, podemos dizer que, na atualidade, a educação especial e inclusiva vem em processo de transformação, porém observamos que, mesmo com o suporte de leis e declarações que dão força ao processo de inclusão, as escolas não conseguem oferecer um sistema de ensino de qualidade a todos os alunos, respeitando suas diferenças, constituindo-se como o grande desafio da inclusão, portanto, percebe-se que a luta pela inclusão vem ocorrendo, mas de forma lenta, sendo necessário, ainda, grande investimento por parte de todos. Tessaro (2005, p. 45), coloca que: Quando se acredita na inclusão apenas sob o ponto de vista da legali- dade, desconsiderando-se o concreto, o real, restringe-se a uma prática desarticulada, descomprometida com a realidade objetiva das escolas brasileiras, gerando a segregação, o abandono e o comprometimento da autoestima das pessoas envolvidas nesse processo. Educação Especial e a Educação Inclusiva no Cenário Brasileiro: Contextualização do Problema Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 3333 Souza (2002) comenta que a inclusão escolar só tem sentido se pensarmos no ser social, no papel do homem participante e integrado na sociedade. Ainda, Tessaro (2005, p. 46) nos convida à reflexão afirmando que a “Inclusão não implica desconsiderar a diversidade/diferença, ao contrário, significa acei- tar e reconhecer diversidade na vida e na sociedade, isto é, identificar que cada indivíduo é único, com suas necessidades, desejos e peculiaridades próprias”. Mittler (2003) afirma que mesmo crianças cujas dificuldades nascem como consequências de impedimentos significativos de órgãos sensoriais ou de sis- tema nervoso central, mesmo que graves, de forma alguma esses impedimentos explicam todas as suas dificuldades, e há muitas possibilidades para interven- ções nos contextos em vários níveis: ensino, criação familiar, apoio dos colegas e amizades, atitudes positivas, relação com os vizinhos e remoção de barreiras de todos os tipos. Diante dessa afirmação, refletindo sobre o deficiente intelectual, visto esse, muitas vezes, como sendo o que promove maior desafio aos profissionais da edu- cação, Tessaro (2011, p.34) contribui afirmando que: as limitações maiores na deficiência mental não estão relacionadas com a deficiência em si, mas sim com a credibilidade e as oportunidades que são oferecidas às pessoas portadoras de deficiência mental. É notável quão limitado é o mundo dessas pessoas, quanto elas são segregadas, ou seja, privadas de interação social. Assim, compreendemos que as ações em relação à pessoa deficiente são influen- ciadas pela história e a cultura de cada sociedade. Identificamos por meio dos fatos históricos que os deficientes sempre estiveram à margem da sociedade, fortale- cendo as barreiras e o preconceito, com isso, promovendo a falta de oportunidades e de avanço. Em nossa atualidade, vemos, por meio da educação inclusiva, as tentativas em busca de igualdade de direitos, no entanto, ainda é necessário ser solidificadas (LEONEL, 2014). Logo, a inclusão escolar exige reflexões constantes, pois, conforme encontra- mos em Denari e Braz (2005), a inclusão é um processo complexo que envolve profissionais, familiares, a população em geral e o próprio sujeito da inclusão, pois se expor também é lutar contra a marginalização. Segundo Stainback & Stainback (1999, p. 44), FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E POLÍTICAS DE INCLUSÃO ESCOLAR NA ATUALIDADE Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E34 o fim gradual das práticas educacionais excludentes do passado pro- porciona a todos os alunos uma oportunidade igual para terem suas necessidades educacionais satisfeitas dentro da educação regular. O distanciamento da segregação facilita a unificação da educação regular e especial em um sistema único. Apesar dos obstáculos, a expansão do movimento da inclusão, em direção a uma reforma educacional mais ampla, é um sinal visível de que as escolas e a sociedade vão continuar caminhando rumo a práticas cada vezmais inclusivas . Torna-se, então, importante ter a noção de que não é possível ver a inclusão como um processo simples, sem pensar nas consequências que envolvem inserir um aluno deficiente no ensino regular de uma escola, é necessário pensar que a res- ponsabilidade de promover a inclusão de alunos com necessidades especiais é de toda a estrutura da escola e da sociedade. POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO ESPECIAL NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA A Educação Especial, a partir das legislações, tem como objetivo atender às necessidades educacio- nais dos alunos deficientes e garantir seus direitos. Dessa forma, no decorrer das últimas décadas, a Educação Especial vem escrevendo sua trajetó- ria. A educação especial e inclusiva brasileira vem trilhando seus caminhos conforme as leis vigen- tes. Logo, percebemos a necessidade de analisar o reflexo dessas leis na educação das pessoas defi- cientes (LEONEL, 2014). As legislações brasileiras, influenciadas por documentos nacionais e internacionais, contri- buem ao processo de inclusão, essas vêm como uma forma de garantir que sejam atendidas as Política Nacional de Educação Especial na Educação Inclusiva Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 3535 particularidades de todos, independente de suas características. Assim, as leis têm como um dos seus objetivos alcançar a ordem e o desenvolvimento de todos, porém, observamos que a sua efetivação prática nem sempre acontece como aponta E. Carvalho (2002. p.30-31). A legislação é, sem dúvida, um instrumento político e social de nature- za mandatória. Em países em desenvolvimento, como o nosso, essa ca- racterística não tem prevalecido. Não nos faltam leis ou artigos em leis que garantam os direitos das pessoas portadoras de deficiência. Nosso problema não reside na inexistência de leis. Pelo contrário, o que nos falta é garantir seu cumprimento. Podemos afirmar que conhecer as leis e buscar sua efetivação na práxis das esco- las ainda é um grande desafio para a sociedade, pois, conforme conhecemos pelos registros históricos, essa apresentou e vivenciou muitos obstáculos em lidar com a deficiência e as suas limitações. Assim, é de fundamental importância o conhecimento e, também, a luta para garantir o que pregam as legislações que regem a política pública brasileira para a educação inclusiva. Dessa maneira, revendo a história de forma breve, vemos que os direitos das pessoas deficientes à educação iniciam-se as discussões por volta de 1948, repre- sentados pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, com o objetivo de estabelecer regras entre as nações. Em seu artigo 26, traz a educação como um direito de todos os seres humanos: Toda a pessoa tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, esta baseada no mérito (ONU, 1948). A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei n°4.024/61, dá início as discussões legais, em 1961, que fundamentam o atendimento educacional às pessoas com deficiência e apontam o direito dos excepcionais à educação, pre- ferencialmente dentro do sistema geral de ensino (MAZZOTTA, 2011). Leonel (2014) aponta que a Lei n.º 4.024/61 foi substituída pela Lei 5.692/71, em 1971, em seu artigo 9º, estabelece que seja dado tratamento especial para os alunos que tenham deficiências físicas ou mentais, os que se encontrem em FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E POLÍTICAS DE INCLUSÃO ESCOLAR NA ATUALIDADE Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E36 atraso considerável quanto à idade regular de matrícula e os superdotados, os quais deverão receber tratamento especial, de acordo com as normas fixadas pelos competentes Conselhos de Educação (BRASIL, 1971). De acordo com essa lei, a educação dos “excepcionais” pode enquadrar-se no “sistema geral de educação”, ou seja, deve abranger tanto o ensino regular quanto o especial. No entanto, a lei não promove a organização de um sistema de ensino capaz de atender as necessidades educacionais especiais (MAZZOTTA, 2011. p.73). Ainda o mesmo autor revela que os direitos à educação dos deficientes já vinham sendo apontados em alguns artigos da Constituição Federal de 1967. O Título IV, Da Família, da Educação e da Cultura, define que uma “lei espe- cial disporá sobre a educação de excepcionais; a educação é direito de todos e dever do Estado, devendo ser dada no lar e na escola; obrigatoriamente, cada sistema de ensino terá serviços de assistência educacional que assegurem, aos alunos necessitados, condições de eficiência escolar” (MAZZOTTA, 2011. p.75). Segundo A. M. Silva (2010), é a partir da década de 1970, devido ao inte- resse de alguns grupos e as mobilizações que vinham ocorrendo na tentativa de alcançar benefício para os deficientes, e com a organização política da Educação especial brasileira, começavam as políticas públicas a apresentar consistência na área educacional. Dessa maneira, é importante destacar alguns fatos interna- cionais que influenciaram as decisões no âmbito educacional brasileiro, como a Resolução da ONU nº 2.542/75, a Declaração Mundial de Educação para Todos, de 1990, e a Declaração de Salamanca, de 1994. Podemos dizer que as políticas públicas internacionais contribuíram para estruturar a legislação brasileira, em que citamos a LDB e o Estatuto da Criança e do Adolescente, revelando a impor- tância da discussão no âmbito da Educação Especial. Segundo Osório (2007), em 1973, é criado, no MEC, o Centro Nacional de Educação Especial (CENESP), que impulsionou ações educacionais voltadas às pessoas com superdotação, ainda configuradas por campanhas assistenciais e ações isoladas do Estado. Ainda não se efetiva uma política pública de acesso universal à educação de alunos com deficiência, permanecendo a concepção de “políticas especiais”, não é organizado um atendimento especializado que con- sidere as singularidades de aprendizagem desses alunos. Política Nacional de Educação Especial na Educação Inclusiva Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 3737 Segundo Mendonça (2012), com a elaboração da Constituição Federal de 1988, inicia-se o processo de definição da estrutura educacional, apresentando avanços em relação à educação dos deficientes. O Título VIII, Da Ordem Social, Capítulo III, Da Educação, da Cultura e do Desporto, seção I, Da Educação aponta: Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (BRASIL, 1988). A Constituição Federal de 1988 traz como um dos seus objetivos fundamentais “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”, em seu art. 3°, inciso IV. Mazzotta (2011) exibe o artigo 208, da Constituição Federal de 1988, que dispõe: Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante garantia de: I- educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezesse- te) anos de idade, assegurada, inclusive, sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria; II- progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade no ensino mé- dio; III- atendimento educacional especializado aos portadores de defici- ências, preferencialmente na rede regular de ensino (BRASIL, 1988). Ainda destacamos, na legislação brasileira, o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n.º 8.069 de 1990), que apresenta artigos que influenciam as leis e a educa- ção, referentes aos deficientes.No que diz respeito à educação, o Capítulo IV Do Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer, o Estatuto, no art. 53, esta- belece que a criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e quali- ficação para o trabalho, assegurando-lhes: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - direito de ser respeitado por seus educadores (BRASIL, 2008, p.19). FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E POLÍTICAS DE INCLUSÃO ESCOLAR NA ATUALIDADE Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E38 O artigo 54 do ECA aponta determinações em relação ao ensino, com base no que estabelece o art. 208 da Constituição Federal de 1988: Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente: I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria; II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio; III - atendimento educacional especializado aos portadores de defi- ciência, preferencialmente na rede regular de ensino (BRASIL, 2008, p.20). Também apresentamos documentos como a Declaração Mundial de Educação para Todos (1990) e a Declaração de Salamanca (1994), que passam a influen- ciar a formulação das políticas públicas da educação inclusiva. A atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei n° 9.394/96 preconiza “(...) oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as carac- terísticas do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames” (art. 37). As Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, reso- lução CNE/CEB n° 2/2001, no artigo 2°, determinam que: os sistemas de ensino devem matricular todos os alunos, cabendo às es- colas organizar-se para o atendimento aos educando com necessidades educacionais especiais, assegurando as condições necessárias para uma educação de qualidade para todos (MEC/SEESP, 2001). A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, aprovada pela ONU em 2006, da qual o Brasil é signatário, estabelece que os Estados Parte devam assegurar um sistema de educação inclusiva em todos os níveis de ensino, em ambientes que maximizem o desenvolvimento acadêmico e social compatível com a meta de inclusão plena (OSÓRIO, 2007). O Decreto n 6.094/2007 estabelece, dentre as diretrizes do Compromisso Todos pela Educação, a garantia do acesso e permanência no ensino regular e o atendimento às necessidades educacionais especiais dos alunos, fortalecendo a inclusão educacional nas escolas públicas. Política Nacional de Educação Especial na Educação Inclusiva Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 3939 Dessa forma, na perspectiva da Educação inclusiva, pautado nos documen- tos, em particular na Declaração de Salamanca de 1994, que oficializa o termo inclusão na educação, Bergamo (2010, p.43) afirma que: As escolas devem acolher todas as crianças, independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas ou outras. Devem acolher crianças com deficiência e crianças bem dota- das; crianças que vivem nas ruas e que trabalham; crianças de popula- ções distantes ou nômades; crianças de minorias Linguísticas, étnicas ou culturais e crianças de outros grupos ou zonas desfavorecidas ou marginalizadas (DECLARAÇÃO DE SALAMANCA, 1994, p.17-18). Assim, concluímos que diante das leis citadas que apoiam a educação inclusiva que a Política Nacional de Educação Especial tem como objetivo assegurar a inclusão escolar de alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvi- mento e altas habilidades/superdotação, orientando os sistemas de ensino para garantir aos alunos: acesso ao ensino regular, com participação, aprendizagem e continui- dade nos níveis mais elevados do ensino; transversalidade da moda- lidade de educação especial desde a educação infantil até a educação superior; oferta do atendimento educacional especializado; formação de professores para o atendimento educacional especializado e demais profissionais da educação para a inclusão; participação da família e da comunidade; acessibilidade arquitetônica, nos transportes, nos mobi- liários, nas comunicações e informação; e articulação intersetorial na implementação da políticas públicas (OSÓRIO, 2007). Nesse cenário inclusivo, é importante ressaltar que as pessoas se modificam continuamente, transformando o contexto no qual se inserem. Esse dinamismo exige uma atuação pedagógica voltada para alterar a situação de exclusão, enfati- zando a importância de ambientes heterogêneos que promovam a aprendizagem de todos os alunos. Diante disso, a educação de todos, discutida por meio da inclusão, implica em ir muito além da inserção nas escolas, mas ofertar um ensino de qualidade que atenda, de fato, a todos, independe de suas dificuldades, e que esse processo se estenda em todos os níveis de ensino. FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E POLÍTICAS DE INCLUSÃO ESCOLAR NA ATUALIDADE Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E40 Em 1975, a Organização das Nações Unidas aprovou a Declaração dos Di- reitos das Pessoas Deficientes (Resolução ONU n.º 2.542/1975), o qual visa assegurar os direitos das pessoas com deficiência. As pessoas deficientes têm o direito inerente de respeito por sua dignidade humana. As pessoas deficientes, qualquer que seja a origem, natureza e gravidade de suas deficiências, têm os mesmos direitos fundamentais que seus concidadãos da mesma idade, o que implica, antes de tudo, o direito de des- frutar de uma vida decente, tão normal e plena quanto possí- vel (Resolução ONU n 2.542/1975 art 3º). A LEI N.º 10.436, de 24 de abril de 2002 - Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – Libras, sendo esta essencial para a comunicação, aprendizado e desenvolvimento do surdo. A Deficiência na Perspectiva da Teoria Histórico-Cultural Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 4141 A DEFICIÊNCIA NA PERSPECTIVA DA TEORIA HISTÓRICO-CULTURAL Caro(a) aluno(a), trazemos para você, nesse momento, a compreensão acerca do desenvolvimento e da deficiência na perspectiva da Teoria Histórico-Cultural, destacamos que essa teoria tem como seu maior representante Lev. S. Vygotsky (1896-1934), o qual dedicou muito de seus estudos na compreensão da defec- tologia, como chama os estudos sobre a deficiência. Vygotsky, ao longo de seus trabalhos, contou com a contribuição de grandes nomes, como Alexander Romanovich Luria (1902- 1977), Alexei Nicolaevich Leontiev (1903-1979), con- tribuindo, assim, para a compreensão do desenvolvimento psíquico do homem. A teoria exige maiores aprofundamentos, porém, diante de sua importância para a educação e da presença marcante dentro dos contextos escolares, justificamos a necessidade de apresentarmos algumas de suas principais discussões. Segundo essa perspectiva teórica, o homem só irá desenvolver o seu inte- lecto, diferenciando-se do animal, quando esse domina a natureza, por meio da atividade, que vai impulsionar o desenvolvimento do seu pensamento, e, com as necessidades coletivas, surge a evolução cultural do homem (TULESKI , 2008). Para os autores que defendem essa abordagem teórica, o psiquismo é algo mutável e construído de acordo com as relações que o homem estabelece com sua realidade social, transformando-se qualitativamente em todo o seu processo de desenvolvimento ontogênico (social). Dessa forma, o homem possui em seu código genético as características comuns à sua espécie, necessárias ao seu desenvol- vimento ao longo da história evolutiva de sua espécie; no entanto, é só a partir do momento quehá a interação com o mundo e com a cultura que esse homem irá avançar em seu desenvolvimento (CARVALHO, 2007; ROSSATO, 2010). Logo, nessa perspectiva, a inte- ração com o mundo é essencial para o FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E POLÍTICAS DE INCLUSÃO ESCOLAR NA ATUALIDADE Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E42 desenvolvimento da criança desde os primeiros momentos de vida, pois ela promove a incorporação das características culturais, transformando-se em um ser social e diferenciando-se dos animais (LURIA, 2006). Assim, é importante apontarmos que o desenvolvimento psíquico se dá a par- tir da atividade social, da mediação, dos instrumentos e dos sistemas de signos, pelos quais o homem tem condições de transmitir suas atividades ao longo da história, conceitos esses tão importantes nessa perspectiva teórica (FACCI, 2004) . Segundo Carvalho (2007, p.52), as relações humanas estabelecidas a par- tir das atividades e das mediações promovem a construção do homem, além do aspecto biológico, ou seja, a construção em um ser cultural, dessa forma, é importante destacar que, Conceber o psiquismo humano como tendo uma gênese social não sig- nifica negar seu substrato biológico, nem atribuir poder incondicional ao social, mas entender, que é no processo de interação com o mundo que esse substrato se desenvolve, e os processos psíquicos elementares, de origem natural, se transformam em superiores, de origem cultural. Assim, por meio dos signos e instrumentos criados pelo homem, este se cons- titui e avança em seu desenvolvimento histórico-social e vai se humanizando. Esclarecendo sobre conceitos importantes na teoria, Vygotsky (1989, p. 62) afirma que: Instrumentos é um condutor da influência humana sobre o objeto da atividade. “(...) constitui um meio pelo qual a atividade humana ex- terna é dirigida para o controle e domínio da natureza”. Em relação aos signos aponta que estes “constitui um meio da atividade interna dirigida para o controle do próprio indivíduo, o signo é orientado in- ternamente”. Ainda, Leontiev (2004, p.88) contribui dizendo que “O instrumento é, portanto, um objeto com o qual se realiza uma ação de trabalho, operações de trabalho”. Desse modo, “o instrumento é um objeto social, o produto de uma prática indi- vidual” (p.90). Isso nos leva a entender que o homem se desenvolve pela cultura, pela atividade e relações, ampliando seu conhecimento e, a partir desse, inter- fere no mundo. Dessa forma, a teoria apresenta que a humanização do homem é promo- vida pela mediação e por instrumentos e ocorre pela herança cultural passada A Deficiência na Perspectiva da Teoria Histórico-Cultural Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 4343 entre as gerações. Podemos dizer que o desenvolvimento humano é provocado pela qualidade das mediações entre a criança e o adulto, numa relação dialé- tica, favorecendo as trocas entre os objetos do mundo circundante e as pessoas de seu convívio e transformando suas estruturas primárias em funções psico- lógicas superiores, o que ocorre por meio dos signos, evoluindo socialmente (SHUARE, 1990). Podemos citar como um signo necessário e de grande importância para o desenvolvimento humano: a linguagem. A produção da linguagem, como da consciência, e do pensamento, está diretamente misturada na origem, à atividade produtiva, à comu- nicação material dos homens. A linguagem não desempenha apenas um papel de meio de comunicação entre os homens, ela é também um meio, uma forma da consciência e do pensamento humanos, não desta- cado ainda da produção material (LEONTIEV, 2004, p. 94). Vygotsky (1989) esclarece que a linguagem é essencial ao desenvolvimento da criança, a partir da fala ela controla o ambiente, produzindo novas relações e, com isso, organiza novos comportamentos, originando o intelecto. Com o desen- volvimento da criança, esta avança da fala egocêntrica e passa a fazer uso da fala social para a solução de problemas. Portanto, de acordo com Vygotsky (1989), a linguagem é de fundamental importância para o desenvolvimento infantil. Afirma o autor: Desde os primeiros dias do desenvolvimento da criança, suas ativida- des adquirem um significado próprio num sistema de comportamento social e, sendo dirigidas a objetivos definidos, são refratadas através do prisma do ambiente da criança. O caminho do objeto até a criança e desta até o objeto passa através de outra pessoa. Essa estrutura humana complexa é o produto de um processo de desenvolvimento profunda- mente enraizado nas ligações entre história individual e história social (VYGOTSKY, 1989, p.33). Vygotsky (1983) dedicou-se muito para a psicologia, apresentando importan- tes estudos no campo do desenvolvimento humano e da deficiência. Destaca-se, em seus estudos, a obra “Fundamentos da defectologia”, na qual discorre sobre a pessoa deficiente e sua educação. De acordo com os estudos de Barroco (2011), encontramos que Vygotski, defendia a educação dos deficientes até o limite do aprendizado. Logo, as pessoas FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E POLÍTICAS DE INCLUSÃO ESCOLAR NA ATUALIDADE Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E44 deficientes também são capazes de desenvolver-se e constituir-se enquanto homens culturais. Destacamos que o que irá provocar avanços qualitativos no desenvolvi- mento psíquico dos alunos deficientes são a qualidade das mediações, o acesso à cultura e a novos conhecimentos e as relações sociais que lhes forem oportu- nizadas (ROSSATO, 2010). Barroco (2011), pautada na teoria vigotskiana, afirma que o “desenvolvimento do deficiente e do não deficiente no que é central ocorre da mesma forma, pois suas mentes são formadas socialmente” (p.155). Portanto, segundo o pensamento de Vygotsky (1983) sobre o desenvolvi- mento da criança, independentemente de esta ter ou não deficiência, é possível sua educação. Para o autor “o estudo dinâmico da criança deficiente não pode limitar-se a determinar o nível e gravidade da insuficiência, sim incluem obri- gatoriamente a consideração dos processos compensatórios” (p. 14). Segundo Vygotsky (1983, p.14): Todo defeito cria um estímulo para elaborar uma compensação. Por- tanto, os estudos em relação à criança deficiente não podem se limitar a determinar o nível e a gravidade, mas deve incluir obrigatoriamente a consideração dos processos compensatórios (...). Para a defectologia, o objeto não é a insuficiência em si, mas a criança que é desacredita- da pela falha (...). Assim, a reação do organismo na personalidade da criança em relação ao defeito é o eixo central e básico, a única realidade que opera a defectologia” ( tradução nossa )2. Quanto ao desenvolvimento ontogenético do homem, vemos que a apropriação dos conhecimentos é um processo que lhe permite tornar seus os conhecimentos formados historicamente. Esse processo consiste em transmitir ao indivíduo as aquisições do desenvolvimento das espécies e se transformar enquanto homem social (LEONTIEV, 1978). 2 Todo defecto crea lós estímulos para elaborar una compensación. Por ello el estudio dinámico del niño deficiente no puede limitarse a determinar el nivel y gravedad de la insuficiencia, sino que incluye obligatoriamente la consideración de los procesos compensatorios.( )para la defectología el objeto no lo constituye la insuficiencia en sí, sino el niño agobiado por la insuficiencia. ( ) Así, la reacción Del organismo y de La personalidad del niño al defecto es el hecho central y básico, la única realidad con que opera a defetologia. A Deficiência na Perspectiva da Teoria Histórico-Cultural Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 4545 Dessa forma, pautados na teoria,
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