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Emília Ferreiro-Reflexões sobre alfabetização- p 09-41

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Colcção 
QUESTÕES DA NOSSA ÉPOCA 
Volume 14 
9l 
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) 
Ferreiro, Emíl ia. 
F445r Ref lexões sobre alfabetização / Emíl ia 
Ferreiro : Tradução Horácio Gonzales (et. al. j , 
24. ed . atual izada - São Paulo : Cortez, 2 0 0 1 . -
(Coleção Questões da Nossa Época; v. 14). 
Bibliografia 
ISBN 978-85-249-0147-8 
1. Al fabet ização 2. Alfabetização - Métodos 
3. Leitura. I. Título. 
17. CDD-372.019 
85-1654 18. CDD-372.414 
índices para catálogo sistemático: 
1. Al fabet ização : Métodos e técnicas : Ensino de 
1 o grau 372.41 (17.) 372.414 (18.) 
2. Al fabet ização : Processos : Ensino de 
1 o grau 372.41 (17.) 372.414 (18.) 
3. Aprendizagem de leitura : Métodos e técnicas : 
Ensino de 1 o grau 372.41 (17.) 372.414 (18.) 
4. Metodologia : Alfabetização : Ensino de 
1 o grau 372.41 (17.) 372.414 (18.) 
LIA FERREIRO 
REFLEXÕES SOBRE 
ALFABETIZAÇÃO 
24-edição atualizada 
1 3 a reimpressão 
APRESENTAÇÃO 
Neste v o l u m e estão reun idos quatro t raba lhos 
p roduz idos e m m o m e n t o s d i ferentes, p o r é m den-
t ro da m e s m a l inha de p reocupação : contr ibuir 
pa ra u m a ref lexão sobre a in tervenção educat iva 
a l fabe t izadora a part i r dos novos dados or iundos 
d a s inves t igações sobre a ps icogênese da escr i ta 
na c r iança . Es tas invest igações (que há dez 
anos v i m o s real izando in interruptamente) evi-
d e n c i a m q u e o p rocesso de a l fabet ização nada 
t e m de mecân ico , do ponto de vista d a cr iança 
que ap rende . 
Essa c r iança , se co loca prob lemas, constrói 
s i s temas in terpretat ivos, pensa , raciocina e in-
ven ta , b u s c a n d o c o m p r e e n d e r esse objeto social 
par t i cu la rmente comp lexo que é a escr i ta , tal 
c o m o e la ex is te e m soc iedade. 
Os dados a q u e nos refer imos nestes quatro 
t raba lhos p rovêm de invest igações real izadas 
e m cas te lhano (com cr ianças da Argent ina e 
do Méx ico) . O s dados co lh idos recentemente 
no Brasi l por T e l m a Weisz (São Paulo), Esther 
Pilar Gross i (Por to Alegre) , Terez inha Nunes 
Car raher e Lúc ia Browne Rego (Recife), mos-
t r a m que os p rocessos de concei tual ização da 
escr i ta s e g u e m uma l inha evolut iva similar em 
por tuguês . 
Espe ramos , no entanto, que novas pesquisas 
brasi le i ras con t r i buam para precisar melhor os 
aspec tos espec í f i cos de por tuguês, aspectos es-
ses re levantes para compreender o que ocorre 
q u a n d o se inicia o per íodo de fonet ização d a 
escr i ta . 
Julho, 1985 
Este l ivro, até sua 22- ed ição, cont inha quatro 
t raba lhos . U m de les int i tu lava-se "Deve-se ou 
não se d e ve ens inar a ler e escrever na pré-
esco la? U m p rob lema mal co locado" . 
Esse tex to , escr i to em 1982, ex ig ia ser re-
v i sado , e m função dos múlt ip los comentár ios 
q u e recebi de educadoras durante esses anos. 
E m m a r ç o de 1994, a ped ido da Un idad de 
Pub l i cac iones d a Secre tar ia de Educac ión Pú-
b l ica do Méx ico , procedi a es ta nova versão, 
q u e a g o r a passa a denominar -se "O e s p a ç o da 
le i tura e d a escr i ta na educação pré-escolar" . 
Emitia Ferreiro 
México, março de 1994. 
A REPRESENTAÇÃO DA LINGUAGEM 
E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO* 
É r e c e n t e a t o m a d a de consc iênc ia sobre a 
i m p o r t â n c i a da a l fabe t ização in ic ia l c o m o a úni-
ca so lução real para o p r o b l e m a da a l fabet iza-
ção r e m e d i a t i v a (de ado lescen tes e adu l tos ) . 
T r a d i c i o n a l m e n t e , a a l fabet ização in ic ia l é 
cons ide rada em função da re lação en t re o mé-
t o d o u t i l i zado e o es tado de " m a t u r i d a d e " ou de 
" p r o n t i d ã o " da c r iança . Os do is pó los do pro-
cesso de ap rend izagem (quem ens ina e quem 
aprende) t ê m s i d o carac te r i zados s e m que se 
leve em con ta o t e r c e i r o e l e m e n t o da re lação: 
a natureza do o b j e t o de c o n h e c i m e n t o envo lven-
do esta a p r e n d i z a g e m . Ten ta remos d e m o n s t r a r 
de que mane i ra es te ob je to de c o n h e c i m e n t o in-
t e r v é m no p r o c e s s o , não c o m o uma ent idade 
ún ica , mas c o m o uma t r í ade : t e m o s , por um 
lado, o s i s t e m a de rep resen tação a l fabé t i ca da 
l i n g u a g e m , c o m suas ca rac te r í s t i cas espec í f i -
c a s ; 1 por o u t r o lado, as concepções que tanto 
os que a p r e n d e m (as c r ianças) como os que en-
s i n a m (os p r o f e s s o r e s ) t ê m sobre este ob je to 
* T e x t o p u b l i c a d o no C a d e r n o de Pesqu isa (52) 
7-17, fev . 1985. T radução de H o r á c i o Gonza les . 
1. T r a t a r e m o s aqui e x c l u s i v a m e n t e do s i s t e m a alfa-
b é t i c o de e s c r i t a . 
1 . A ESCRITA C O M O SISTEMA DE 
REPRESENTAÇÃO 
A e s c r i t a pode ser conceb ida de duas for-
m a s m u i t o d i f e r e n t e s e c o n f o r m e o modo de 
cons ide rá - la as consequênc ias pedagógicas mu-
d a m d r a s t i c a m e n t e . A esc r i t a pode ser cons i -
de rada c o m o uma rep resen tação da l inguagem 
ou c o m o u m cód igo de t ransc r i ção grá f ica das 
un idades sono ras . T ra temos de p rec isa r em que 
c o n s i s t e m as d i f e r e n ç a s . 
A c o n s t r u ç ã o de qua lquer s i s t e m a de repre-
sen tação e n v o l v e u m p rocesso de d i fe renc iação 
d o s e l e m e n t o s e re lações reconhec idas no obje-
t o a s e r a p resen tado e uma se leção daqueles 
e l e m e n t o s e re lações que serão re t idos na re-
p r e s e n t a ç ã o . Uma rep resen tação X não é igual à 
rea l idade R que r e p r e s e n t a (se ass im for , não 
se r i a u m a rep resen tação mas uma o u t r a instân-
c ia de R). Por tan to , se um s i s t e m a X é uma re-
p r e s e n t a ç ã o adequada de c e r t a rea l idade R, reú-
ne duas c o n d i ç õ e s a p a r e n t e m e n t e c o n t r a d i t ó r i a s ; 
a) X p o s s u i a lgumas das p rop r iedades e rela-
ções p r ó p r i a s a R; 
b) X e x c l u i a l gumas das p rop r iedades e re lações 
p r ó p r i a s a R. 
O v í n c u l o e n t r e X e R pode ser de t i po ana-
lóg ico o u t o t a l m e n t e a rb i t rá r i o . Por e x e m p l o , se 
o s e l e m e n t o s de R são f o r m a s , d i s tânc ias e co-
res , X p o d e conse rva r essas p rop r iedades e re-
p r e s e n t a r f o r m a s por f o r m a s , d i s tânc ias por d is-
t â n c i a s e co res por c o r e s . É o que acon tece no 
caso d o s mapas m o d e r n o s : a cos ta não é uma 
1 0 
l i nha , mas a l inha do mapa conse rva as re lações 
de p r o x i m i d a d e e n t r e do is pon tos qua isquer , s i -
tuados nessa c o s t a ; as d i f e renças de a l tu ra do 
re levo não se e x p r i m e m n e c e s s a r i a m e n t e por 
d i f e r e n ç a s de co lo ração e m R, mas p o d e m se 
e x p r i m i r por d i f e r e n ç a s de cores e m X, e tc . 
Embora u m mapa se ja bas i camen te u m s i s t e m a 
de r e p r e s e n t a ç ã o ana lóg ico , c o n t é m t a m b é m ele-
m e n t o s a r b i t r á r i o s ; as f r o n t e i r a s po l í t i cas podem 
ser ind icadas por uma sé r ie de pon tos , por uma 
l inha c o n t í n u a ou por qua lquer ou t ro recu rso ; 
as c idades não são fo rmas c i r cu la res n e m qua-
dradas e. no e n t a n t o , são es tas duas f o r m a s geo-
m é t r i c a s as que h a b i t u a l m e n t e r e p r e s e n t a m — 
na esca la do mapa de um país — as cida-
d e s ; 2 e t c . 
A c o n s t r u ç ã o de um s i s t e m a de representa-
ção X adequado a R é um p rob lema comp le ta -
m e n t e d i f e r e n t e da c o n s t r u ç ã o de s i s t e m a s alter-
na t i vos de rep resen tação ( X i , X-, X.< . . . ) cons-
t ru ídos a par t i r de um X o r i g i n a l . Reservamos a 
exp ressão c o d i f i c a r para a cons t rução desses 
s i s t e m a s a l t e r n a t i v o s . A t ransc r i ção das letras 
do a l fabe to em cód igo t el e g r á f i c o , a t ransc r i ção 
dos d í g i t o s e m cód igo b inár io c o m p u t a c i o n a l , a 
p rodução de cód igos s e c r e t o s para uso mi l i ta r , 
e t c , são todos e x e m p l o s de cons t rução de códi-
gos de t r a n s c r i ç ã o a l te rna t i va baseados e m uma 
2. A s d i f e r e n ç a s e m n ú m e r o s de h a b i t a n t e s das 
p o p u l a ç õ e s , ou na i m p o r t â n c i a po l í t i ca das m e s m a s , pode 
se e x p r i m i r por d i f e r e n ç a s de f o r m a ta is c o m o quadrados 
v e r s u s c í r c u l o s , ou s e n ã o por va r iações de t a m a n h o d e n t r o 
da m e s m a f o r m a . N e s t e caso se res tabe lece o ana lóg ico 
no i n t e r i o r do a r b i t r á r i o . 
11 
r e p r e s e n t a ç ã o já c o n s t i t u í d a (o s i s t e m a alfabé-
t i c o para a l i nguagem ou o s i s t e m a ideográ f ico 
para os n ú m e r o s ) . 
A d i f e r e n ç a essenc ia l é a segu in te : no caso 
da c o d i f i c a ç ã o , tan to os e l e m e n t o s c o m o as re-
lações j á es tão p r e d e t e r m i n a d o s ; o novo cód igo 
não faz senão encon t ra r u m a represen tação d i -
f e r e n t e para os m e s m o s e l e m e n t o s e as mesmas 
r e l a ç õ e s . No caso da c r iação de uma represen-
tação , n e m o s e l e m e n t o s n e m as re lações estão 
p r e d e t e r m i n a d o s . Por e x e m p l o , na t ransc r i ção da 
e s c r i t a e m cód igo Morse todas as con f igu rações 
g rá f i cas que ca rac te r i zam as le t ras se conver-
t e m e m s e q u ê n c i a s de pon tos e t raços , mas a 
cada le t ra do p r i m e i r o s i s t e m a co r responde uma 
c o n f i g u r a ç ã o d i f e r e n t e de pon tos e t r a ç o s , em 
c o r r e s p o n d ê n c i a b iun ívoca . Não aparecem " le -
t ras n o v a s " n e m se o m i t e m d i s t i n ç õ e s anter io-
res . A o c o n t r á r i o , a c o n s t r u ç ã o de uma p r ime i ra 
f o r m a de r e p r e s e n t a ç ã o adequada c o s t u m a ser 
um longo p r o c e s s o h i s t ó r i c o , até se ob te r uma 
f o r m a f i na l de uso c o l e t i v o . 
A i n ve n çã o da esc r i ta fo i um p rocesso his-
t ó r i c o de c o n s t r u ç ã o de um s i s t e m a de repre-
sen tação , não um p r o c e s s o de cod i f i cação . Uma 
vez c o n s t r u í d o , poder-se- ia pensar que o s i s t e m a 
de r e p r e s e n t a ç ã o é ap rend ido pe los novos usuá-
r ios c o m o u m s i s t e m a de cod i f i cação . Entretan-
t o , não é a s s i m . No caso dos do is s i s temas en-
vo l v idos no in íc io da esco lar ização (o s i s t e m a 
de r e p r e s e n t a ç ã o dos n ú m e r o s e o s i s t e m a de 
r e p r e s e n t a ç ã o da l i nguagem) as d i f i cu ldades 
que as c r i a n ça s e n f r e n t a m são d i f i cu ldades con-
12 
ce i tua is s e m e l h a n t e s às da c o n s t r u ç ã o do s is te-
ma e por i sso pode-se d izer , e m ambos os casos, 
que a c r i ança r e i n v e n t a esses s i s t e m a s . Bem 
e n t e n d i d o : não se t ra ta de que as c r ianças rein-
v e n t e m as le t ras nem os n ú m e r o s mas que , para 
p o d e r e m se s e r v i r desses e l e m e n t o s c o m o ele-
m e n t o s de u m s i s t e m a , d e v e m c o m p r e e n d e r seu 
p r o c e s s o de c o n s t r u ç ã o e suas regras de pro-
dução , o que co loca o p r o b l e m a e p i s t e m o l ó g i c o 
f u n d a m e n t a l : qual é a natureza da re lação ent re 
o rea l e a sua rep resen tação? 
No caso pa r t i cu la r da l i nguagem e s c r i t a , a 
natureza c o m p l e x a do s igno l i ngu ís t i co to rna 
d i f í c i l a esco lha dos p a r â m e t r o s p r i v i l eg iados na 
r e p r e s e n t a ç ã o . A pa r t i r dos t raba lhos de f in ido res 
de Ferd inand de Saussure e s t a m o s habi tuados a 
concebe r o s i gno l i ngu í s t i co c o m o a união indis-
s o l ú v e l de u m s i g n i f i c a n t e c o m um s ign i f i cado , 
mas não ava l i amos s u f i c i e n t e m e n t e o que is to 
p r e s s u p õ e para a c o n s t r u ç ã o da escr i ta como 
s i s t e m a de rep resen tação . É o caráter b i fás ico 
do s igno l i n g u í s t i c o , a natureza complexa que ele 
t e m e a re lação de re fe rênc ia o que es tá em 
jogo . Porque, o que a esc r i ta rea lmente repre-
senta? Por acaso rep resen ta d i fe renças nos sig-
n i f i cados? Ou d i f e renças nos s ign i f i cados c o m 
re lação à p rop r i edade dos re fe ren tes? Represen-
ta por acaso d i f e r e n ç a s en t re s ign i f i can tes? Ou 
d i f e r e n ç a s en t re os s ign i f i can tes com re lação 
aos s i g n i f i c a d o s ? 
A s e s c r i t a s de t i po a l fabé t i co ( tanto quanto 
as esc r i t as s i láb icas) poder iam ser caracter iza-
das c o m o s i s t e m a s de representação cu jo in tu i -
1 o 
t o o r i g ina l — e p r i m o r d i a l — é represen ta r as 
d i f e r e n ç a s en t re os s i g n i f i c a n t e s . A o con t rá r io , 
as e s c r i t a s de t i po ideográ f i co poder iam ser 
ca rac te r i zadas c o m o s i s t e m a s de representação 
cu ja i n t e n ç ã o p r i m e i r a — ou p r imord ia l — é re-
p r e s e n t a r d i f e r e n ç a s nos s ign i f i cados . No en-
t a n t o , t a m b é m se pode a f i rmar que nenhum 
s i s t e m a de esc r i ta consegu iu represen ta r de 
m a n e i r a equ i l i b rada a natureza b i fás ica do s igno 
l i n g u í s t i c o . A p e s a r de que a lguns de les (como o 
s i s t e m a a l fabé t i co ) p r i v i l e g i a m a represen tação 
de d i f e r e n ç a s en t re os s i g n i f i c a n t e s , e que 
o u t r o s ( c o m o os ideográ f i cos ) p r i v i l e g i a m a re-
p r e s e n t a ç ã o de d i f e renças nos s ign i f i cados , ne-
n h u m de les é " p u r o " : os s i s t e m a s a l fabé t i cos 
i n c l u e m — a t ravés da u t i l i zação de recu rsos or to-
g r á f i c o s — c o m p o n e n t e s i deográ f i cos (Blanche-
B e n v e n i s t e e C h e r v e l . 1974), t an to quanto os 
s i s t e m a s i deog rá f i cos (ou logográ f i cos ) i nc luem 
c o m p o n e n t e s f o n é t i c o s (Cohen , 1958 e Gelb. 
1976). 
A d i s t i nção que es tabe lecemos en t re siste-
ma de cod i f i cação e s i s t e m a de representação 
não é apenas t e r m i n o l ó g i c a . Suas consequênc ias 
para a açáo a l fabet izadora marcam uma ní t ida 
l inha d i v i s ó r i a . A o c o n c e b e r m o s a esc r i ta como 
um cód igo de t ransc r i ção que conver te as uni-
dades sonoras em unidades g rá f i cas , coloca-se 
em p r i m e i r o plano a d i s c r i m i n a ç ã o percep t i va 
nas moda l idades envo lv idas (v isual e aud i t iva) . 
Os p ro g ra ma s de preparação para a le i tu ra e a 
esc r i ta que de r i vam des ta concepção cent ram-
-se, a s s i m , na exe rc i tação da d i s c r i m i n a ç ã o , sem 
se q u e s t i o n a r e m j a m a i s sobre a natureza das 
un idades u t i l i zadas . A l i nguagem, c o m o t a l . é 
co locada de ce r ta f o r m a " e n t r e p a r ê n t e s e s " , ou 
m e l h o r , r e d u z i d a a u m a sé r ie de sons ( c o n t r a s -
tes s o n o r o s a n íve l do s i g n i f i c a n t e ) . O p r o b l e m a 
é q u e , ao d i ssoc ia r o s ign i f i can te sonoro do s ig-
n i f i cado d e s t r u í m o s o s igno l i ngu ís t i co . O pres-
s u p o s t o que e x i s t e por de t rás destas prá t icas 
é quase que t r a n s p a r e n t e : se não há d i f i cu lda-
des para d i s c r i m i n a r e n t r e duas fo rmas v isuais 
p r ó x i m a s , n e m e n t r e duas f o r m a s aud i t i vas pró-
x i m a s , nem t a m b é m para desenhá- las , não deve-
r ia e x i s t i r d i f i c u l d a d e para aprender a ler , já que 
se t ra ta de uma s i m p l e s t ransc r i ção do sonoro 
para um cód igo v i s u a l . 
Mas se se concebe a aprend izagem da l íngua 
esc r i t a c o m o a c o m p r e e n s ã o do modo de cons-
t rução de um s i s t e m a de represen tação , o pro-
b lema se co loca em t e r m o s c o m p l e t am e n t e di fe-
r e n t e s . Embora se sa iba fa lar adequadamente , e 
se façam todas as d i s c r i m i n a ç õ e s percep t i vas 
a p a r e n t e m e n t e necessár ias , i sso não reso lve o 
p r o b l e m a c e n t r a l : c o m p r e e n d e r a natureza desse 
s i s t e m a de rep resen tação . Is to s ign i f i ca , por 
e x e m p l o , c o m p r e e n d e r por que a lguns e lemen tos 
essenc ia i s da l íngua oral (a entonação, en t re 
o u t r o s ) não são re t i dos na rep resen tação ; por 
que todas as pa lavras são t ra tadas c o m o equi-
va len tes na rep resen tação , apesar de per tence-
r e m a " c l a s s e s " d i f e r e n t e s ; por que se ignoram 
as seme lhanças no s i g n i f i c a d o e se p r i v i l e g i a m 
as seme lhanças sono ras ; por que se in t roduzem 
15 
d i fe renças na rep resen tação por conta das seme-
lhanças c o n c e i t u a i s , e tc . 
A c o n s e q u ê n c i a ú l t i m a d e s t a d i c o t o m i a se 
e x p r i m e e m t e r m o s ainda mais d r a m á t i c o s : se a 
e sc r i t a é conceb ida c o m o um cód igo de t ransc r i -
ção , sua ap rend izagem é conceb ida c o m o a aqui-
s ição de uma t é c n i c a ; se a e s c r i t a é conceb ida 
c o m o um s i s t e m a de rep resen tação , sua aprendi -
zagem se c o n v e r t e na apropr iação de u m novo 
o b je to de c o n h e c i m e n t o , ou se ja , em uma apren-
d izagem c o n c e i t u a i . 
2. AS CONCEPÇÕES DAS C R I A N Ç A S 
A RESPEITO D O SISTEMA DE ESCRITA 
Os in d i ca d o res mais c la ros das exp lo rações 
que as c r i a n ças rea l izam para c o m p r e e n d e r a 
natureza da e s c r i t a são suas p r o d u ç õ e s espon-
tâneas , e n t e n d e n d o c o m o ta l as que não são o 
resu l tado de uma cóp ia ( imed ia ta ou p o s t e r i o r ) . 3 
Quando uma c r iança esc reve ta l c o m o ac red i ta 
que poder ia ou deve r ia e s c r e v e r ce r to con jun to 
de pa lav ras , 4 es tá nos o f e r e c e n d o um va l i os í ss i -
3. M e n c i o n a r e m o s aqui apenas os p r o c e s s o s de 
p r o d u ç ã o de t e x t o ( e s c r i t a ) . Em razão da l i m i t a ç ã o do 
e s p a ç o , não i r e m o s nos ocupar dos p r o c e s s o s de inter-
p r e t a ç ã o de t e x t o s ( l e i t u r a ) , e m b o r a a m b o s se e n c o n t r e m 
p e r f e i t a m e n t e r e l a c i o n a d o s (o que não s i g n i f i c a parale-
l i s m o c o m p l e t o ) . 
4 . É i m p o r t a n t e sub l i nha r " c o n j u n t o de p a l a v r a s " . 
U m a e s c r i t a i so lada é g e r a l m e n t e i m p o s s í v e l de se inter-
p r e t a r . É p r e c i s o t e r u m c o n j u n t o de e x p r e s s õ e s e s c r i t a s 
para p o d e r ava l ia r os c o n t r a s t e s a se levar e m c o n t a na 
c o n s t r u ç ã o da r e p r e s e n t a ç ã o . 
16 
m o d o c u m e n t o que n e c e s s i t a ser in te rp re tado 
para poder s e r ava l iado . Essas escr i tas in fan t is 
t ê m s i d o c o n s i d e r a d a s , d i s p l i c e n t e m e n t e , como 
ga ra tu jas , " p u r o j o g o " , o resu l tado de fazer 
" c o m o s e " s o u b e s s e e s c r e v e r . A p r e n d e r a lê-
las — j s to é , a in te rp re tá - las — é u m longo 
aprend izado que requer u m a a t i tude t e ó r i c a de-
f i n i d a . Se p e n s a r m o s que a c r iança aprende só 
quando é s u b m e t i d a a u m ens ino s i s t e m á t i c o , e 
que a sua i gno rânc ia es tá garant ida até que 
receba ta l t i p o de e n s i n o , nada p o d e r e m o s en-
xe rgar . M a s se p e n s a r m o s que as c r ianças são 
s e r e s que i g n o r a m que d e v e m pedi r pe rmissão 
para c o m e ç a r a ap render , ta lvez c o m e c e m o s a 
ace i tar que p o d e m saber , e m b o r a não tenha sido 
dada a e las a au to r i zação ins t i tuc iona l para tan-
t o . Saber a lgo a r e s p e i t o de cer to ob je to não 
quer d izer , n e c e s s a r i a m e n t e , saber algo socia l -
m e n t e a c e i t o c o m o " c o n h e c i m e n t o " . " S a b e r " 
quer d izer t e r c o n s t r u í d o a lguma concepção que 
exp l i ca c e r t o c o n j u n t o de fenómenos ou de 
o b j e t o s da rea l idade . Que esse " s a b e r " co inc ida 
c o m o " s a b e r " s o c i a l m e n t e vá l ido é u m out ro 
p r o b l e m a ( e m b o r a se ja esse , p rec i samen te , o 
p r o b l e m a do " s a b e r " e s c o l a r m e n t e reconhec ido) . 
U m a c r i a n ç a pode conhece r o nome (ou o valor 
sono ro c o n v e n c i o n a l ) das le t ras , e não compreen-
der e x a u s t i v a m e n t e o s i s t e m a de e s c r i t a . Inver-
s a m e n t e , o u t r a s c r ianças rea l izam avanços subs-
tanc ia i s no que diz respe i to à compreensão do 
s i s t e m a , s e m t e r receb ido in fo rmação sobre a 
d e n o m i n a ç ã o de le t ras pa r t i cu la res . A q u i men-
c i o n a r e m o s b r e v e m e n t e a lguns aspec tos funda-
m e n t a i s d e s t a evo lução p s i c o g e n é t i c a , que t e m 
s ido a p r e s e n t a d a e d i scu t ida c o m maior deta-
lhe e m ou t ras p u b l i c a ç õ e s . 5 
A s p r i m e i r a s esc r i tas in fan t i s a p a r e c e m , do 
pon to de v i s t a g rá f i co , c o m o l inhas onduladas 
ou quebradas (z iguezague) , con t ínuas ou f rag-
m e n t a d a s , ou en tão c o m o uma sér ie de ele-
m e n t o s d i s c r e t o s repe t idos (sér ies de l inhas 
v e r t i c a i s , ou de bo l inhas) . A aparênc ia g rá f ica 
não é ga ran t i a de esc r i t a , a m e n o s que se co-
nheçam as c o n d i ç õ e s de p rodução . 
O m o d o t rad i c iona l de se cons idera r a es-
c r i ta in fan t i l c o n s i s t e em se pres ta r a tenção 
apenas nos a s p e c t o s g rá f i cos dessas p roduções , 
ignorando os aspec tos c o n s t r u t i v o s . Os aspec tos 
g r á f i c o s t ê m a ver c o m a qua l idade do t raço , 
a d i s t r i b u i ç ã o espac ia l das f o r m a s , a o r ien tação 
p r e d o m i n a n t e (da esquerda para a d i r e i t a , de 
c i m a para ba ixo ) , a o r ien tação dos ca rac te res 
ind iv idua is ( i n v e r s õ e s , ro tações , e t c ) . Os aspec-
t o s c o n s t r u t i v o s t ê m a ver c o m o que se quis 
r e p r e s e n t a r e os me ios u t i l i zados para criar 
d i f e r e n c i a ç õ e s en t re as rep resen tações . 
Do p o n t o de v i s t a c o n s t r u t i v o , a esc r i ta 
in fan t i l segue uma l inha de evo lução su rp reen-
5. C o n f o r m e : E. F e r r e i r o e A . T e b e r o s k y ( 1 9 7 9 e 
1 9 8 1 ) ; E. F e r r e i r o ( 1 9 8 2 ) ; E. F e r r e i r o et a l i i ( 1 9 8 2 ) ; E. Fer-
re i ro ( 1 9 8 3 ) ; E. F e r r e i r o ( n o p r e l o ) . 
d e n t e m e n t e regu la r , a t ravés de d i ve rsos meios 
c u l t u r a i s , de d i ve rsas s i t u a ç õ e s educa t i vas e 
de d i ve rsas l í nguas . A í , p o d e m ser d i s t i ngu idos 
t rês g randes pe r íodos no in te r io r dos quais ca-
bem m ú l t i p l a s s u b d i v i s õ e s : 
• d i s t i nção e n t r e o modo de representação 
icôn ico e o não- icôn ico ; 
• a c o n s t r u ç ã o de f o r m a s de d i fe renc iação (con-
t ro le p r o g r e s s i v o das va r iações sobre os e ixos 
qua l i t a t i vo e q u a n t i t a t i v o ) ; 
• a fone t i zação da esc r i t a (que se in ic ia c o m 
um per íodo s i láb ico e cu lm ina no per íodo 
a l f a b é t i c o ) . 
No p r i m e i r o per íodo se c o n s e g u e m as duas 
d i s t i n ç õ e s bás icas que sus ten ta rão as cons t ru -
ções s u b s e q u e n t e s : a d i fe renc iação en t r9 as 
marcas g rá f i cas f i gu ra t i vas e as não- f igurat ivas, 
por um lado, e a c o n s t i t u i ç ã o da esc r i t a como 
ob je to s u b s t i t u t o , por o u t r o . 6 A d is t inção ent re 
" d e s e n h a r " e " e s c r e v e r " é de fundamenta l im-
po r tânc ia (qua isquer que s e j a m os vocábulos 
c o m que se d e s i g n a m e s p e c i f i c a m e n t e essas 
ações). A o desenhar se es tá no d o m í n i o do 
i côn ico ; as f o r m a s dos g r a f i s m o s impor tam 
porque r e p r o d u z e m a f o r m a dos ob je tos . A o es-
c reve r se es tá fo ra do i côn ico : as f o rmas dos 
g r a f i s m o s não rep roduzem a fo rma dos ob je tos , 
nem sua o rdenação espacia l reproduz o con torno 
6. P a r a c o m p r e e n d e r a p a s s a g e m das l e t r a s c o m o 
o b j e t o s e m s i à s l e t r a s c o m o o b j e t o s s u b s t i t u t o s , ver 
E. Fe r re i ro ( 1 9 8 2 ) . 
1P 
dos m e s m o s . Por i sso , t an to a a rb i t ra r iedade 
das f o r m a s u t i l i zadas c o m o a ordenação l inear 
das m e s m a s são as p r i m e i r a s ca rac te r í s t i cas 
m a n i f e s t a s da esc r i t a pré-esco lar . A rb i t ra r ie -
dade não s i g n i f i c a n e c e s s a r i a m e n t e convenc io-
na l idade. No en tan to , t a m b é m as fo rmas conven-
c iona is c o s t u m a m fazer a sua apar ição c o m mui-
ta p r e c o c i d a d e . A s c r ianças não e m p r e g a m seus 
e s f o r ç o s i n t e l e c t u a i s para inventar le t ras novas: 
r e c e b e m a f o r m a das le t ras da soc iedade e as 
a d o ta m ta l e qua l . 
Por o u t r o lado as c r ianças ded icam um 
grande e s f o r ç o in te lec tua l na cons t rução de 
fo rma s de d i f e r e n c i a ç ã o en t re as esc r i tas e é 
isso que ca rac te r i za o pe r íodo segu in te . Esses 
c r i t é r i o s de d i f e renc iação são, i n i c i a lmen te , in-
t r a f i g u r a i s e c o n s i s t e m no e s t a b e l e c i m e n t o das 
p r o p r i e d a d e s que um tex to e s c r i t o deve possu i r 
para poder ser i n te rp re táve l (ou se ja , para 
que se ja poss í ve l a t r ibu i r - lhe uma s ign i f i cação) . 
Esses c r i t é r i o s i n t ra f i gu ra i s se e x p r e s s a m , sobre 
o e ixo q u a n t i t a t i v o , c o m o a quan t idade m ín ima 
de le t ras — g e r a l m e n t e t rês - que uma escr i ta 
deve ter para que "d iga a l g o " e. sobre o e ixo 
q u a l i t a t i v o , c o m o a var iação in terna necessár ia 
para que uma sé r ie de g ra f ias possa ser in-
t e r p r e t a d a (se o e s c r i t o t e m " o t e m p o todo a 
m e s m a l e t r a " , não se pode ler , ou se ja , não é 
i n t e r p r e t á v e l ) . 
I L U S T R A Ç Ã O 1a 
Esc r i ta s e m d i f e r e n c i a ç õ e s i n t e r f i g u r a i s ( A d r i a n a , 4 . 5) . 
O q u e v o c ê d e s e n h o u ? 
U m b o n e c o . 
P o n h a o n o m e 
( R a b i s c o ) ( a ) 
O q u e v o c ê p ô s ? 
A l e ( s e u i r m ã o ) 
D e s e n h e u m a c a s i n h a 
( D e s e n h a . ) 
O q u e é i s s o ? 
U m a c a s i n h a . 
P o n h a o n o m e 
( R a b i s c o . ) ( b ) 
O q u e v o c ê p ó s ? 
C a s i n h a 
V o c ê s a b e c o l o c a r o s e u n o m e ? 
( O u a t r o r a b i s c o s s e p a r a d o s ; 
— O q u e é i s s o ' 
— A d r i a n a 
— O n d e d iz A d r i a n a 7 
( A s s i n a l a g l o b a l m e n t e ) 
— P o r q u e t e m q u a t r o p e d a c m ^ c s 1 
— . . . . p o r q u e s i m 
— O q u e d iz a q u i 7 (1 ° ) 
— A d r i a n a 
— E a q u i ? ( 2 o ) 
— A l b e r t o ( - s e u p a i ) 
— E a q u i ? (3 ° ) 
— A l e ( = s e u i r m ã o ) 
— E a q u i ? ( 4 . ° ) 
— T ia P i c h a 
I L U S T R A Ç Ã O 1b 
E s c r i t a c o m l e t r a s c o n v e n c i o n a i s m a s s e m d i f e r e n c i a ç õ e s 
i n t e r f i g u r a i s ( D o m i n g o , 6 a n o s ) . 
A 
A 
S 5 (D 
* F (2) 
A S E (3) (5) 
S £ (4) 
(6) 
(1 ) p e i x e 
(2) o g a t o b e b e l e i t e 
(3) ga l i nha 
(4) f r a n g u i n h o 
(5) pa to 
(6) pa tos 
I L U S T R A Ç Ã O 2 
E s c r i t a c o m d i f e r e n c i a ç õ e s i n t e r f i g u r a i s ( C a r m e l o , 6 ;2 ) . 
(1) C a r m e l o Enr ique C a s t i l l o A v e l l a n o (uma l e t r a para 
cada n o m e ) . 
(2) vaca . 
(3) m o s c a . 
(4) b o r b o l e t a . 
(5) cava lo . 
(6) m a m ã e c o m e t a c o s ( c o m i d a t í p i c a m e x i c a n a ) . 
97 
O passo s e g u i n t e se carac ter iza pela busca 
de d i f e r e n c i a ç õ e s en t re as esc r i tas produz idas , 
p r e c i s a m e n t e para "d i ze r co isas d i f e r e n t e s " . Co-
m e ç a en tão uma busca d i f í c i l e mu i to e laborada 
de m o d o s de d i f e renc iação , que resu l tam ser 
i n t e r f i g u r a i s ; as cond ições de leg ib i l idade intra-
f i gu ra i s se m a n t ê m , mas agora é necessár io 
c r ia r m o d o s s i s t e m á t i c o s de d i fe renc iação en t re 
uma e s c r i t a e a segu in te , p r e c i s a m e n t e para 
ga ran t i r a d i f e r e n ç a de in te rp re tação que será 
a t r i b u í d a . A s c r ianças exp lo ram então c r i t é r i os 
que lhes p e r m i t e m , às vezes, var iações sobre o 
e ixo q u a n t i t a t i v o (var iar a quant idade de letras 
de uma e sc r i t a para ou t ra , para ob te r esc r i tas 
d i f e r e n t e s ) , e, às vezes , sob re o e ixo qua l i ta t i vo 
(var iar o r e p e r t ó r i o de le t ras que se ut i l iza de 
uma e s c r i t a para o u t r a ; var ia r a pos ição das 
m e s m a s le t ras s e m mod i f i ca r a quant idade) . A 
c o o r d e n a ç ã o dos do is modos de d i fe renc iação 
( q u a n t i t a t i v o s e qua l i t a t i vos ) é tão d i f í c i l aqui 
c o m o em qua lquer ou t ro d o m i n i o da a t iv idade 
c o g n i t i v a . 
N e s t e s do is p r i m e i r o s pe r íodos , o escr i to 
não es tá regu lado por d i fe renças ou semelhan-
ças e n t r e os s i g n i f i c a n t e s sono ros . É a a tenção 
às p r o p r i e d a d e s sonoras do s ign i f i can te que 
marca o i n g r e s s o no t e r c e i r o grande per íodo 
des ta e v o l u ç ã o . A c r iança c o m e ç a por descobr i r 
que as par tes da esc r i ta (suas le t ras) podem 
c o r r e s p o n d e r a ou t ras tan tas par tes da palavra 
e sc r i t a (suas s í l abas ) . Sobre o e ixo quan t i t a t i vo . 
i s to se e x p r i m e na d e s c o b e r t a de que a quant i -
dade de le t ras c o m que se vai esc reve r uma 
palavra pode t e r c o r r e s p o n d ê n c i a c o m a quant i -
dade de pa r tes que se reconhece na emissão 
o r a l . Essas " p a r t e s " da pa lavra são i n i c ia lmen te 
as suas s í l abas . In ic ia-se a s s i m o p e r í o d o si lá-
b ico , que evo lu i até chegar a uma ex igênc ia 
r i g o r o s a : uma s í laba por l e t r a , s e m o m i t i r s í labas 
e sem r e p e t i r l e t ras . Esta h ipó tese s i láb ica é 
da ma io r i m p o r t â n c i a , por duas razões: pe rm i te 
ob te r u m c r i t é r i o gera l para regu lar as var iações 
na quan t idade de le t ras que d e v e m ser esc r i tas , 
e cen t ra a a tenção da c r i ança nas va r iações so-
noras e n t r e as pa lavras . No en tan to , a h ipó tese 
s i láb ica c r ia suas p rópr ias cond ições de contra-
d ição , c o n t r a d i ç ã o en t re o con t ro le s i láb ico e a 
quan t idade m í n i m a d6 le t ras que uma escr i ta 
deve p o s s u i r para ser " i n t e r p r e t á v e l " (por exem-
p lo , o m o n o s s í l a b o dever ia se escrever c o m uma 
única l e t r a , mas se se co loca uma let ra só , o es-
c r i t o "não se pode l e r " , ou se j a , não é in terpre-
t á v e l ) ; a lém d i sso , con t rad ição entre a in terpre-
tação s i l áb i ca e as esc r i tas produz idas pelos 
adu l tos (que s e m p r e te rão mais letras do que 
as que a h i p ó t e s e s i láb ica p e r m i t e an tec ipa r ] . 
No m e s m o per íodo — embora não necessa-
r i a m e n t e ao m e s m o t e m p o — as le t ras podem 
começar a adqu i r i r va lores sonoros (s i láb icos) 
r e l a t i v a m e n t e es táve i s , o que leva a se esta-
be lecer c o r r e s p o n d ê n c i a c o m o e ixo qua l i t a t i vo : 
as par tes sonoras seme lhan tes ent re as palavras 
25 
I L U S T R A Ç Ã O 3a 
Esc r i ta s i l á b i c a ( l e t r a s de f o r m ac o n v e n c i o n a l mas 
u t i l i zadas s e m s e u v a l o r s o n o r o c o n v e n c i o n a l ) : cada le t ra 
va le p o r u m a s í l a b a ( Jo rge , 6 a n o s ) . 
4 
x y$ o , 
A ( 5 , 
( D g a - t o 
(2) m a - r i - p o - s a 
(3) c a - b a - l l o 
(4) pez 
(5) mar 
(6) e l - ga - t o - be - be - le - che 
(ga to ) 
( b o r b o l e t a ) 
( cava lo ) 
(pe i xe ) 
(mar ) 
(o ga to bebe le i te ) 
( A s p a l a v r a s f o r a m m a n t i d a s no o r i g i n a ! e s p a n h o l para 
que o p r o c e s s o aqu i i l u s t r a d o faça sen t ido . ) 
26 
c o m e ç a m a se e x p r i m i r por le t ras s e m e l h a n t e s . 
E is to t a m b é m gera suas fo rmas par t i cu la res 
de c o n f l i t o . 
Os c o n f l i t o s antes menc ionados (aos que 
se a c r e s c e n t a às vezes a ação educa t i va , con 
f o r m e a idade que tenha a cr iança nesse mo-
m e n t o ) , vão deses tab i l i zando p rog ress i vamen te 
a h ipó tese s i l áb i ca , até que a cr iança t e m cora 
gem s u f i c i e n t e para se c o m p r o m e t e r em um 
novo p r o c e s s o de c o n s t r u ç ã o . 7 O pe r íodo si labi-
co-a l fabé t ico marca a t rans ição en t re os esque-
mas p r é v i o s e m v ia de s e r e m abandonados e os 
esquemas f u t u r o s em vias de se rem cons t ru ídos . 
Quando a c r iança descobre que a s í laba não pode 
ser cons ide rada c o m o uma un idade, mas que ela 
é, por sua vez, reana l isáve l e m e l e m e n t o s meno-
res , i ng ressa no ú l t i m o passo da compreensão do 
s i s t e m a s o c i a l m e n t e es tabe lec ido . E, a par t i r daí. 
d e s c o b r e novos p r o b l e m a s : pe lo lado quant i ta-
t i v o , que se por um lado não basta uma letra 
por s í l aba , t a m b é m não se pode es tabe lecer 
nenhuma regu la r idade dup l i cando a quant idade 
de le t ras por s í laba (já que há s í labas que se 
e s c r e v e m c o m u m a , duas, t r ês ou mais le t ras) ; 
pe lo lado q u a l i t a t i v o , en f ren ta rá os p rob lemas 
o r t o g r á f i c o s (a ident idade de s o m não garante 
iden t idade de le t ras , nem a iden t idade de letras 
a de s o n s ) . 
7. U t i l i z a m o s aqui o m o d e l o p iage t iano da equi l i -
b ração (P iaget , 1975). 
2 7 
I L U S T R A Ç Ã O 3b 
E s c r i t a s i l á b i c a ( v o g a i s c o m v a l o r s o n o r o c o n v e n c i o n a l ) : 
c a d a l e t r a va le p o r u m a s í laba ( F r a n c i s c o , 6 a n o s ) . 
/ \ O A ( 2 ) 
A O A(3) 
(\ O (4) 
A O £ ( 5 ) 
B Í gm 
8 Q e>(B) 
(1) F r a n - c i s - c o 
(2) m a - r i - p o - s a 
(3) p a - l o - m a 
(4) p a - j a - r o 
(5) g a - t o 
(6) pa - t o 
(7) pez 
(8) pez ( 2 . a t e n t a t i v a ) 
(F ranc i sco ) 
( b o r b o l e t a ) 
( p o m b a ) 
(pássa ro ) 
( g a t o ) 
( p a t o ) 
( p e i x e ) 
( p e i x e 2 . a t e n t a t i v a ) 
2KÓ 
I L U S T R A Ç Ã O 4 
Esc r i ta s i l á b i c o - a l f a b é t i c a (Ju l io Cesa r . 6 a n o s ) . 
( D gato (ga to ) 
(2) m a r i p o s a (bo rbo le ta ) 
(3) caba l lo (cava lo ) 
(4) pez ( p e i x e ) 
(5 ) el g a t o b e b e l e c h e (o ga to bebe l e i t e ) 
( A s pa lav ras f o r a m m a n t i d a s no o r ig ina l espanho l para 
q u e o p r o c e s s o aqu i i l u s t r a d o faça sen t ido . ) 
3 AS CONCEPÇÕES SOBRE A L ÍNGUA 
SUBJACENTES À PRÁTICA DOCENTE 
T r a d i c i o n a l m e n t e , as d i scussões sobre a 
p rá t i ca a l fabe t i zadora t ê m se cen t rado na polé-
m i c a sobre os m é t o d o s u t i l i zados : m é t o d o s ana-
l í t i cos v e r s u s m é t o d o s s i n t é t i c o s ; f oné t i co ver-
sus g loba l , e t c . Nenhuma dessas d i scussões 
levou e m c o n t a o que agora c o n h e c e m o s : as 
c o n c e p ç õ e s das c r ianças sob re o s i s t e m a de es-
c r i t a . Daí a necess idade imper iosa de reco locar 
a d i scussão sobre novas bases . Se ace i ta rmos 
que a c r iança não é uma tábua rasa onde se 
i n s c r e v e m as le t ras e as pa lavras segundo deter-
minado m é t o d o ; s e ace i ta rmos que o " f á c i l " e 
o " d i f í c i l " não p o d e m ser de f i n idos a par t i r da 
p e r s p e c t i v a do adu l to mas da de q u e m aprende; 
se a c e i t a r m o s que qua lquer i n fo rmação deve ser 
a s s i m i l a d a (e po r tan to t rans fo rmada) para ser 
o p e r a n t e , en tão d e v e r í a m o s t a m b é m ace i ta r que 
os m é t o d o s ( c o m o sequênc ia de passos ordena-
dos para chegar a u m f i m ) não o f e r e c e m mais 
do que s u g e s t õ e s , i nc i tações , quando não prá-
t i c a s r i t u a i s ou c o n j u n t o de p ro ib i ções . O mé-
t o d o não pode c r ia r c o n h e c i m e n t o . 
A nossa c o m p r e e n s ã o dos p rob lemas tal 
c o m o as c r ianças os c o l o c a m , e da sequênc ia 
de s o l u ç õ e s que e las c o n s i d e r a m ace i táve is (e 
que dão o r i g e m a novos p r o b l e m a s ) , é, s e m 
d ú v i d a , essenc ia l para poder ao menos imaginar 
u m t i p o de i n te rvenção adequada à natureza do 
p r o c e s s o real de ap rend i zagem. M a s reduzi r 
es ta i n t e r v e n ç ã o ao que t r a d i c i o n a l m e n t e deno-
minou-se " o m é t o d o u t i l i z a d o " é l im i ta r demais 
nossa indagação. 
É ú t i l se pe rgun ta r a t ravés de que t ipo de 
p r á t i c a s a c r iança é in t roduz ida na l íngua esc r i t a , 
e c o m o se ap resen ta es te ob je to no c o n t e x t o 
esco la r . 8 Há p rá t i cas que levam a c r iança à con-
v icção de que o c o n h e c i m e n t o é a lgo que os 
o u t r o s p o s s u e m e que só se pode ob te r da boca 
dos o u t r o s , s e m nunca ser pa r t i c i pan te na cons-
t rução do c o n h e c i m e n t o . Há p rá t i cas que levam 
a pensar que " o que ex is te para se c o n h e c e r " 
8. U m e s t u d o de u m a d e s t a s p rá t i cas — o d i t a d o 
— e n c o n t r a - s e e m E. F e r r e i r o (1984). 
7 0 
j á fo i e s t a b e l e c i d o , c o m o u m c o n j u n t o de coisas 
fechado , sag rado , imu táve l e não-modi f i cáve l . 
Há p rá t i cas que levam a que o s u j e i t o (a cr iança 
neste caso) f i q u e de " f o r a " do conhec imen to , 
c o m o e s p e c t a d o r pass ivo ou recep to r mecân ico , 
s e m nunca e n c o n t r a r respos tas aos " p o r q u ê s " 
e aos " p a r a q u ê s " que já n e m sequer se at reve 
a f o r m u l a r e m voz a l ta . 
N e n h u m a p rá t i ca pedagóg ica é neu t ra . Todas 
es tão apo iadas e m ce r to modo de conceber o 
p rocesso de ap rend izagem e o ob je to dessa 
a p r e n d i z a g e m . São p r o v a v e l m e n t e essas prát icas 
(mais do que os m é t o d o s e m s i ) que t ê m e fe i tos 
mais d u r á v e i s a longo prazo, no d o m í n i o da 
l íngua e s c r i t a c o m o em todos os o u t r o s . Confor-
me se co loque a re lação en t re o su je i t o e o 
ob je to de c o n h e c i m e n t o , e c o n f o r m e se caracte-
r ize a a m b o s , c e r t a s p rá t i cas aparecerão como 
" n o r m a i s " ou c o m o " a b e r r a n t e s " . É aqui que a 
re f lexão ps i copedagóg ica necess i ta se apoiar 
e m uma r e f l e x ã o e p i s t e m o l ó g i c a . 
Em d i f e r e n t e s exper iênc ias que t i vemos 
c o m p r o f i s s i o n a i s de e n s i n o 9 apareceram t rês 
d i f i cu ldades p r i nc ipa i s que p rec i sam ser in ic ia l -
9. Vár ias a ç õ e s de capac i tação de p r o f e s s o r e s da 
1. ' sé r ie do 1.° g rau e da p ré -esco la no M é x i c o (Secre ta r ia 
de Educação Púb l i ca ) . Exper iênc ias s e m e l h a n t e s fo ram 
rea l izadas por A n a T e b e r o s k y e m Barce lona , por Dé l ia Ler-
ner e m C a r a c a s , po r L i l iana To lch insky e m Te lav i ve , pela 
a u t o r a d e s t e a r t i g o ( c o m l o g o p e d i s t a s ) na Su íça , ass im 
c o m o t a m b é m por vá r ias pessoas que t r a b a l h a m nes tes 
t e m a s e m Buenos A i r e s e noM é x i c o . 
m e n t e co lo ca das : e m p r i m e i r o lugar, a v isão 
que u m a d u l t o , j á a l fabe t izado, t e m do s i s t e m a 
de e s c r i t a ; e m s e g u n d o lugar, a con fusão ent re 
e s c r e v e r e d e s e n h a r l e t ras ; f i n a l m e n t e , a redu-
ção do c o n h e c i m e n t o do le i to r ao conhec imen to 
das le t ras e seu va lo r sonoro convenc iona l . 
M e n c i o n a r e m o s b r e v e m e n t e as duas pr ime i -
ras , e i r e m o s nos d e t e r ma is na t e r c e i r a . 
Não há f o r m a de recupera r por in t rospecção 
a v isão do s i s t e m a de esc r i t a que t i v e m o s quan-
do é r a m o s ana l fabe tos (porque todos f o m o s anal-
fabe tos e m a l g u m m o m e n t o ) . Somen te o conhe-
m e n t o da evo lução ps i cogené t i ca pode nos 
obr iga r a abandonar uma v i são adu l tocên t r i ca 
do p r o c e s s o . 
Por o u t r o lado, a con fusão en t re esc rever e 
desenhar le t ras (Fer re i ro e Teberosky , 1979, cap. 
VII I) é r e l a t i v a m e n t e d i f í c i l de se esc la recer , 
po rque se apoia e m uma v i são do p rocesso de 
ap rend izagem segundo a qual a cópia e a repet i -
ção dos m o d e l o s ap resen tados são os proced i -
m e n t o s p r i n c i p a i s para se o b t e r bons resu l tados . 
A aná l ise de ta lhada de a lgumas das mui tas 
c r ianças que são " c o p i s t a s " e x p e r i e n t e s mas que 
não c o m p r e e n d e m o modo de c o n s t r u ç ã o do que 
c o p i a m é o m e l h o r recu rso para p rob lemat izar 
a o r i g e m des ta con fusão e n t r e esc reve r e de-
senhar le t ras . 
Os adu l tos já a l fabe t izados t ê m tendênc ia 
a reduz i r o c o n h e c i m e n t o do le i to r ao conhec i -
m e n t o das le t ras e seu va lo r sonoro convenc io -
nal . Para p rob lemat i za r ta l redução u t i l i zamos . 
3 2 
re i t e radas vezes , uma s i tuação que favorece 
u m a t o m a d a de c o n s c i ê n c i a quase que imed ia ta : 
f o r m a m o s pequenos g rupos (por vo l ta de c inco 
pessoas e m cada um) e en t regamos mater ia is 
i m p r e s s o s e m e s c r i t a s desconhec idas para e les 
(árabe, hebra ico , ch inês , etc. ) com a or ientação 
de t ra ta r de lê- los . A p r i m e i r a reação — obvia-
m e n t e — é de r e j e i ç ã o : c o m o ler se não conhe-
c e m essas le t ras? I n s i s t i m o s em que t ra tassem 
de ler . Quando a f ina l d e c i d e m exp lorar os mate-
r ia is i m p r e s s o s c o m e ç a m , de imed ia to , os inter-
c â m b i o s nos g r u p o s . P r ime i ro , a respe i to da 
ca tegor i zação do o b j e t o que t ê m ent re as mãos: 
i sso é u m l i v ro (de que t i po? ) , um jo rna l , uma 
rev i s ta , um f o l h e t o , e tc . C o n f o r m e a categor i -
zação c o m b i n a d a , apresenta-se de imedia to a 
an tec ipação sob re a organização do seu conteú-
d o : se é um j o r n a l , t e m de te r seções (po l í t i ca , 
e s p o r t e s , e t c ) ; se é um l i v ro t e m de te r o t í tu lo 
no i n í c io , o nome do autor , a ed i to ra , o índice 
no in íc io ou no f i n a l , e tc . Em todos os casos 
se supõe que as páginas es tão numeradas, o 
que p e r m i t e encon t ra r a d i fe rença g rá f i ca entre 
n ú m e r o s e l e t ras . Em a lguns casos, a or ien tação 
da esc r i t a não es tá c lara (vai da esquerda à di-
re i ta ou da d i r e i t a à esquerda?) e se buscam 
ind icadores para poder dec id i r (por e x e m p l o , ver 
aonde acaba u m parágra fo e começa o seguin-
te ) . Supõe-se que haja le t ras ma iúscu las e mi-
núscu las e s ina is de pontuação. Supõe-se que 
no j o rna l apareça a data comp le ta (d ia . mês e 
a n o ) , enquan to que e m u m l i v ro se busca apenas 
o ano de i m p r e s s ã o . Se há fo tog ra f ias ou dese-
n h o s , an tec ipa-se que o t e x t o mais p r ó x i m o t e m 
a ver c o m o desenhado ou fo tog ra fado e, em 
se t r a t a n d o de uma p e r s o n a g e m púb l ica ( h o m e m 
p o l í t i c o , a to r . e s p o r t i s t a , e t c ) , p ressupõe-se que 
se u nome es te ja e s c r i t o . Se a m e s m a perso-
n a g e m aparece e m duas fo tog ra f ias procura-se 
de i m e d i a t o , nos t e x t o s que se s u p õ e m ser 
legendas das f o t o g r a f i a s , a lguma par te e m co-
m u m : caso se ja encon t rada , se supõe que aí 
e s t á e s c r i t o o n o m e da p e r s o n a g e m em ques tão . 
E a s s i m se p r o s s e g u e . No f ina l de ce r to t e m p o 
de e xp lo ra çã o (uma hora a p r o x i m a d a m e n t e ) os 
g r u p o s c o n f r o n t a m suas c o n c l u s õ e s . Todos con-
s e g u i r a m chegar a conc lusões do t i po "aqu i 
d e ve d i ze r . . . " , " p e n s a m o s que aqui d i z . . por-
q u e . . . . . " . O s que ma is avançaram nas suas ten-
t a t i v a s de i n t e r p r e t a ç ã o são os que e n c o n t r a r a m 
f o t o s , d e s e n h o s ou d iag ramas sobre os quais 
apo iar a i n t e r p r e t a ç ã o dos t e x t o s . Foi exp l i cado 
a e les que as c r ianças pequenas fazem a m e s m a 
c o i s a . Todos se s e n t i r a m m u i t o desor ien tados 
ao exp lo ra r e sses c a r a c t e r e s d e s c o n h e c i d o s , e, 
e m pa r t i cu la r , d e s c o b r i r a m c o m o pode ser d i f í c i l 
e n c o n t r a r do is c a r a c t e r e s iguais quando não se 
c o n h e c e qua is são as va r iações i r re levan tes e 
qua is as va r i ações i m p o r t a n t e s . Exp l i camos a 
e l e s , en tão , que as c r ianças t a m b é m se s e n t e m 
a s s i m no i n í c i o da ap rend izagem. M a s todos 
p u d e r a m fazer an tec ipação sobre o s ign i f i cado 
p o r q u e s a b e m o que é u m l i v ro , c o m o es tá orga-
n izado e que t i p o de co isa pode estar e s c r i t o 
ne le (o m e s m o va le para os j o rna i s , r e v i s t a s , 
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e t c ) . Esse t i p o de c o n h e c i m e n t o g e r a l m e n t e as 
c r ianças não t ê m . D e s c o b r i r a m que cons t ru i r 
an tec ipações s o b r e o s i g n i f i c a d o e t ra ta r depo is 
de e n c o n t r a r i nd icações que p e r m i t a m j u s t i f i c a r 
ou re je i ta r a an tec ipação é uma a t i v idade inte-
lec tua l c o m p l e x a , b e m d i f e r e n t e da pura adiv i -
nhação ou da imag inação não con t ro lada . A s s i m 
d e s c o b r e m que o c o n h e c i m e n t o da l íngua escr i ta 
que e les p o s s u e m , por s e r e m le i to res , não se 
reduz ao c o n h e c i m e n t o das le t ras . 
U m a vez esc la rec idas estas d i f i cu ldades 
c o n c e i t u a i s in i c ia i s , é poss í ve l anal isar a prát ica 
d o c e n t e em t e r m o s d i f e r e n t e s do me todo lóg i co . 
A t í t u l o de e x e m p l o rea l i za remos a segu i r a 
aná l i se das c o n c e p ç õ e s sobre a l íngua escr i ta 
sub jacen tes a a lgumas dessas prá t icas . 
A ) Exis te uma po lém ica t rad ic iona l sobre 
a o r d e m em que d e v e m ser in t roduz idas as 
a t i v idades de le i tu ra e as de esc r i t a . Na t rad i -
ção pedagóg ica nor te -amer icana , a le i tu ra pre-
cede r e g u l a r m e n t e a e s c r i t a . Na A m é r i c a Latine 
a t rad ição tende a u t i l i zar uma in t rodução con-
j un ta das duas a t i v idades (e por isso t e m se 
i m p o s t o a exp ressão l ec to -esc r i t u ra ) . 1 0 No en-
tan to , espera-se hab i t ua lmen te que a cr iança 
possa ler antes de saber esc rever por s i m e s m a 
(sem cop ia r ) . A inqu ie tação dos p ro fessores 
s u b s i s t e : es ta é uma das perguntas que fo rmu-
lam f r e q u e n t e m e n t e (as c r ianças devem ler an-
tes de e s c r e v e r ? ) . Se pensa rmos que o ens ino 
da l íngua esc r i t a t e m por ob je t i vo o aprendiza-
10. L e c t o - e s c r i t u r a , e m c a s t e l h a n o : le i tu ra-e -escr i ta 
(N d o T . ) . 
35 
do de u m c ó d i g o de t r a n s c r i ç ã o , é poss íve l dis-
soc ia r o ens ino da le i tu ra e da esc r i ta enquanto 
a p r e n d i z a g e m de duast é c n i c a s d i f e r e n t e s , em-
bora c o m p l e m e n t a r e s . M a s es ta d i fe renc iação 
ca rece t o t a l m e n t e de s e n t i d o quando sabemos 
que . para a c r i a n ç a , t ra ta-se de compreender a 
e s t r u t u r a do s i s t e m a de e s c r i t a , e que, para con-
s e g u i r c o m p r e e n d e r o nosso s i s t e m a , real iza 
t a n t o a t i v i d a d e s de i n te rp re tação c o m o de pro-
dução . A p r ó p r i a ide ia da poss ib i l i dade de dis-
soc ia r as duas a t i v idades é ine ren te à v isão do 
e n s i n o da e sc r i t a c o m o o ens ino de técn ica de 
t r a n s c r i ç ã o . 
B) Nas d e c i s õ e s m e t o d o l ó g i c a s a f o r m a de 
se a p r e s e n t a r as le t ras ind iv idua is ocupa um 
lugar i m p o r t a n t e (é p rec i so dar o nome ou o 
s o m ? ) , b e m c o m o a o r d e m de apresentação tan-
to de le t ras quan to de pa lav ras , o que impl ica 
uma s e q u ê n c i a do " f á c i l " ao " d i f í c i l " . Não vamos 
c o n s i d e r a r aqui a ques tão da de f in i ção de " f á c i l " 
ou " d i f í c i l " que se es tá u t i l i zando , a inda que seja 
u m p r o b l e m a f u n d a m e n t a l , 1 1 f on te dos p r i m e i r o s 
1 1 . Em vá r ias p u b l i c a ç õ e s a n t e r i o r e s en fa t i ze i que 
nada p o d e d e f i n i r - s e e m si c o m o f á c i l ou d i f í c i l . Que a lgo 
é fác i l q u a n d o c o r r e s p o n d e aos e s q u e m a s a s s i m i l a d o r e s 
d i s p o n í v e i s e d i f í c i l q u a n d o o b r i g a a m o d i f i c a r t a i s esque-
m a s . Por i s s o há c o i s a s que são f á c e i s e m u m m o m e n t o 
e d i f í c e i s p o u c o s m e s e s d e p o i s . Por e x e m p l o , o reconhe-
c i m e n t o de c e r t a l e t r a c o m o a in ic ia l do p r ó p r i o n o m e 
é fác i l q u a n d o e la é i n t e r p r e t a d a c o m o " a m i n h a l e t r a " 
ou " a l e t r a do R a m o n " . M a s no m o m e n t o e m que se 
c o n s t r ó i a h i p ó t e s e s i l áb ica e se c o m e ç a a dar a essa 
l e t r a i n i c i a l o v a l o r da p r i m e i r a s í l aba do n o m e , a p a r e c e m 
novos p r o b l e m a s : R a m o n , po r e x e m p l o , i n t e r p r e t a r á a 
p r i m e i r a l e t r a do s e u n o m e (R) c o m o " o r a " e e n t ã o 
não c o m p r e e n d e por que sua c o l e g a Rosa usa a m e s m a 
le t ra in ic ia l q u a n d o d e v e r i a usar " o r o " . 
36 
f racassos na c o m u n i c a ç ã o en t re aquele que e n -
s ina e aque le que aprende. M e p e r m i t o reprodu-
z i r aqui uma i l us t ração que s in te t i za marav i lho-
s a m e n t e es ta rup tu ra in ic ia l da comun icação ? 2 
( t raduza-se a d i f e r e n ç a en t re os an ima is como 
d i f e r e n ç a e n t r e os " s i s t e m a s " d i spon íve is para 
ambos e a re lação de dominação que essa dife-
rença e n c e r r a ) . V a m o s cons iderar un i camen te as 
supos i ções no que diz respe i to à in fo rmação dis-
p o n í v e l . A l íngua esc r i t a é um ob je to de uso so-
c ia l , c o m uma ex i s tênc ia soc ia l (e não apenas 
esco la r ) . Quando as cr ianças v i v e m em um am-
b ien te u rbano , e n c o n t r a m esc r i tas por toda parte 
( l e t r e i r o s da rua , vas i l hames c o m e r c i a i s , propa-
gandas, anúnc ios da t e v ê , e t c ) . No mundo cir-
cundan te es tão todas as le t ras , não em uma or-
d e m p r e e s t a b e l e c i d a , mas c o m a f requênc ia que 
cada uma delas t e m na escr i ta da l íngua. Todas 
12. Trata-se de u m a propaganda que c i r c u l o u ha 
m u i t o s anos na Europa , c o m o par te de u m a p r o m o ç ã o 
de c u r s o s de l í nguas e s t r a n g e i r a s . 
37 
as le t ras e m u m a grande ^quantidade de es t i l os 
e t i p o s g r á f i c o s . N i n g u é m pode imped i r a c r ian-
ça de vê- las e se ocupar de las . C o m o t a m b é m 
n i n g u é m pode h o n e s t a m e n t e ped i r à c r iança que 
apenas peça i n f o r m a ç ã o à sua p ro fesso ra , s e m 
j a m a i s ped i r i n fo rmação a ou t ras pessoas al fa-
be t izadas que possa te r à sua vo l ta ( i rmãos , ami-
gos , t i o s . . . ) . 
Quando no â m b i t o esco la r se t o m a a lguma 
d e c i s ã o sobre o m o d o de apresen tação das le-
t ras cos tuma-se ten ta r — s i m u l t a n e a m e n t e — 
c o n t r o l a r o c o m p o r t a m e n t o dos pais a respe i to 
d i s s o (os c láss i cos ped idos de co laboração dos 
pa is e m t e r m o s de p r o i b i ç õ e s , c o m autor ização 
e x p r e s s a de fazer e x c l u s i v a m e n t e o m e s m o que 
se faz na esco la , de modo a não cr iar c o n f l i t o s 
no p r o c e s s o de a p r e n d i z a g e m ) . Pode-se ta lvez 
c o n t r o l a r os pa is , mas é i l usó r io p re tende r con-
t r o l a r a condu ta de todos os i n f o r m a n t e s em 
p o t e n c i a l ( i r m ã o s , a m i g o s , t i o s , a v ó s . . . ) , e é to-
t a l m e n t e i m p o s s í v e l con t ro la r a p resença do 
m a t e r i a l e s c r i t o no a m b i e n t e urbano 
M u i t a s vezes t e m se enfa t izado a necess i -
dade de abr i r a esco la para a comun idade cir-
c u n d a n t e . C u r i o s a m e n t e , no caso onde é mais 
fác i l abr i - ia é onde a f e c h a m o s . A c r iança vê 
ma is le t ras fo ra do que d e n t r o da esco la : a 
c r i a n ç a pode p roduz i r t e x t o s fo ra da esco la en-
quan to na esco la só é au tor izada a cop iar , mas 
nunca a p roduz i r de f o r m a pessoa l . A cr iança 
recebe i n f o r m a ç ã o den t ro mas t a m b é m fo ra da 
e s c o l a , e essa i n f o r m a ç ã o ex t ra -esco la r se pa-
rece à i n f o r m a ç ã o l i ngu í s t i ca gera l que u t i l i zou 
quando ap rendeu a fa lar . É in fo rmação var iada, 
a p a r e n t e m e n t e d e s o r d e n a d a , às vezes con t rad i -
t ó r i a , mas é i n f o r m a ç ã o sobre a l íngua esc r i ta 
e m c o n t e x t o s soc ia i s de uso , enquanto que a 
i n fo rmação e s c o l a r é f r e q u e n t e m e n t e in fo rmação 
d e s c o n t e x t u a l i z a d a . 
Por t rás das d i s c u s s õ e s sobre a o r d e m de 
ap resen tação das le t ras e das sequênc ias de le-
t ras reaparece a concepção da esc r i ta c o m o 
técn i ca de t r a n s c r i ç ã o de sons , mas t a m b é m algo 
ma is sé r io e ca r regado de c o n s e q u ê n c i a s : a 
t r a n s f o r m a ç ã o da esc r i ta e m u m ob je to esco lar 
e, por c o n s e q u ê n c i a , a conversão do p ro fessor 
no ún ico i n f o r m a n t e au to r izado. 
Poder íamos con t inua r des ta mane i ra c o m a 
anál ise de ou t ras p rá t i cas , que são reve ladoras 
da concepção que os que ens inam t ê m acerca 
do ob je to e do p r o c e s s o de ap rend izagem. A 
t r a n s f o r m a ç ã o des tas p rá t icas é que é rea lmen te 
d i f í c i l , já que o b r i g a a rede f in i r o papel do pro-
f e s s o r e a d i n â m i c a das re lações soc ia is dent ro 
e fo ra da sa la de aula. É impor tan te ind icar que 
de mane i ra a l g u m a podemos conc lu i r do que foi 
d i to a n t e r i o r m e n t e que o p ro fessor dever ia se 
l im i ta r a ser s i m p l e s espec tador de um proces-
so espon tâneo . Foi Ana Teberosky , em Barcelo-
na, a p r i m e i r a a se a t rever a fazer uma exper iên -
c ia pedagóg ica baseada, a meu ver , em t rês 
ide ias s i m p l e s mas f u n d a m e n t a i s : a) de ixar en-
t ra r e sa i r para buscar in fo rmação ext ra-escolar 
d i s p o n í v e l , c o m todas as consequênc ias d isso ; 
b) o p ro fesso r não é mais o ún ico que sabe ler 
e esc rever na sala de au la ; todos podem ler e 
e s c r e v e r , cada um ao seu n í v e i ; 1 3 c) as c r ianças 
que a inda não es tão a l fabet izadas p o d e m con-
t r i b u i r c o m p r o v e i t o na própr ia a l fabet ização e 
na dos s e u s c o m p a n h e i r o s , quando a d iscussão 
a r e s p e i t o da rep resen tação esc r i ta da l i nguagem 
se t o r n a p rá t i ca esco la r .1 4 
C O N C L U S Õ E S 
Do que fo i d i t o f i ca c la ro , do nosso ponto 
de v i s t a , que as mudanças necessár ias para en-
f r e n t a r s o b r e bases novas a a l fabet ização in ic ia l 
não se r e s o l v e m c o m um novo m é t o d o de ensi -
no, n e m c o m novos tes tes de p ron t idão n e m 
c o m novos m a t e r i a i s d idá t i cos (pa r t i cu la rmen te 
novos l i v ros de le i tu ra ) . 
É p r e c i s o mudar os pon tos por onde nós 
f a z e m o s passar o e ixo cen t ra l das nossas 
d i s c u s s õ e s . Temos uma i m a g e m empobrec ida da 
l íngua e s c r i t a : é p rec i so re in t roduz i r , quando 
c o n s i d e r a m o s a a l fabe t ização, a esc r i t a como 
s i s t e m a de rep resen tação da l i nguagem. Temos 
u m a i m a g e m e m p o b r e c i d a da cr iança que apren-
de : a r e d u z i m o s a um par de o lhos , um par de 
o u v i d o s , uma mão que pega um i n s t r u m e n t o para 
m a r c a r e u m apare lho fonador que e m i t e s o n s . 1 5 
13 Is to é m u i t o d i f e r e n t e do que a c o n t e c e c o m 
a l g u m a s p r o p o s t a s nas qua is o p r o f e s s o r se to rna " o 
e s c r i b a da t u r m a " , mas c o n t i n u a s e n d o o ú n i c o que pode 
e s c r e v e r . 
14. Cf . s o b r e e s t e ú l t i m o p o n t o . A. T e b e r o s k y (1982) 
15. Fa lando da l e i t u r a , os G o o d m a n d i s s e r a m c o m 
p a r t i c u l a r ê n f a s e : " S e c o m p r e e n d e m o s que o c é r e b r o é o 
ó r g ã o h u m a n o do p r o c e s s a m e n t o de i n f o r m a ç ã o , que o 
c é r e b r o não é p r i s i o n e i r o dos s e n t i d o s mas que c o n t r o i a 
4 0 
A t r á s d i s s o há u m su je i to c o g n o s c e n t e , a lguém 
que pensa , que c o n s t r ó i i n t e r p r e t a ç õ e s , que age 
sob re o real para fazê-lo s e u . 
U m novo m é t o d o não reso lve os proble-
mas . É p r e c i s o reana l isar as p rá t icas de in t ro-
dução da l íngua e s c r i t a , t r a tando de ver os pres-
s u p o s t o s s u b j a c e n t e s a e las , e até que ponto 
f u n c i o n a m c o m o f i l t r o s de t r a n s f o r m a ç ã o sele-
t i va e d e f o r m a n t e de qua lquer p ropos ta inova-
d o r a . Os t e s t e s de p ron t idão t a m b é m não são 
n e u t r o s . A aná l ise de suas p r e s s u p o s i ç õ e s me-
recer ia um es tudo em par t i cu la r , que escapa 
aos l i m i t e s des te t raba lho . É s u f i c i e n t e apontar 
que a " p r o n t i d ã o " que ta is t e s t e s d izem aval iar 
é uma noção tão pouco c i e n t í f i c a c o m o a " in te-
l i g ê n c i a " que ou t ros p r e t e n d e m m e d i r . 1 6 
Em a lguns m o m e n t o s da h is tó r ia faz fa l ta 
uma revo lução c o n c e i t u a i . A c r e d i t a m o s ter che-
gado o m o m e n t o de fazê-la a respe i to da alfa-
be t ização. 
os ó rgãos s e n s o r i a i s e u t i l i za s e l e t i v a m e n t e o inpu t que 
de les r e c e b e , e n t ã o não pode nos s u r p r e e n d e r que o 
que a boca diz na l e i t u ra e m voz a l ta não é o que o 
o lho e n x e r g o u mas o que o c é r e b r o p roduz iu para que 
a boca d i s s e s s e " (K. G o o d m a n e Y. G o o d m a n . 1977). 
16. Em u m a d i s c u s s ã o s o b r e es te t e m a , H e r m i n e 
S inc la i r e m p r e g o u u m a fel iz e x p r e s s ã o para nos a ler tar 
c o n t r a os p e r i g o s da noção de " p r o n t i d ã o para a l e i t u r a " 
( read ing r e a d i n e s s ) : " U m a das co i sas que t r a t a m o s de 
d izer n e s t a c o n f e r ê n c i a é que não e s t a m o s (c ien t i f i ca -
m e n t e ) p r e p a r a d o s para fa la r da p ron t i dão para a le i tu ra , 
e. a té q u e i sso a c o n t e ç a , se r ia m e l h o r supor q u e todas 
as c r i anças q u e t e m o s na sa la es tão m a d u r a s para a 
l e i t u ra , ao i nvés de s u p o r que p o d e m o s c lass i f i ca r aque les 
que não t ê m o que s u p o m o s que s a b e m o s que d e v e m t e r " 
( i n : E. F e r r e i r o e M. Gomez Palacio ( O r g s ) . 1982. p. 349) 
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