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FARMACOLOGIA 1ª PARTE: FARMACOLOGIA GERAL CAPÍTULO 1 - GENERALIDADES. Objectivos: 1. Estabelecer o conceito de Farmacologia, Farmacologia Clínica, Toxicologia, Terapêutica, fármaco, tóxico, medicamento, manipulação galénica. 2. Eficácia, efectividade, segurança, conveniência e custo dum medicamento. 3. Caracterizar o nome genérico e o medicamento "genérico". 4. Informar sobre as estruturas que regulamentam os medicamentos em Portugal e na União Europeia. 5. Significado de Formulários, Farmacopeias, Simpósio Terapêutico, Índice Nacional Terapêutico, Prontuário Terapêutico. 6. Definir diferentes tipos de medicamentos - MSRM e MNSRM, especialidades farmacêuticas, medicamentos oficinais e magistrais. FARMACOLOGIA é a ciência que estuda os fármacos. Este estudo é feito desde o computador (por exemplo, modulação da substância química e seu comportamento perante os seus locais de ligação e acção), até aos estudos físico- químicos in vitro e aos estudos in vivo. Assim, a Farmacologia estuda as acções e os efeitos das substâncias químicas em membranas, organelos, células, tecidos, orgãos e aparelhos ou sistemas, quer se tratem de substâncias nocivas ou benéficas. Como estas acções e efeitos pressupõem que o fármaco chegue ao seu local de acção (chamado de biofase), a Farmacologia também estuda o trajecto dos fármacos no organismo (ou seja, a Farmacocinética). Em suma, a Farmacologia estuda geralmente o trajecto e as acções e efeitos de substâncias (fármacos) em materiais biológicos. Como se deduz desta definição o seu campo de acção é muito vasto e engloba conhecimentos de quase todas as ciências. Desdobrou-se em outras ciências, como a Toxicologia. Da definição de Farmacologia deduz-se o conceito de fármaco: é uma substância química, seja maioritariamente nociva (tóxico) ou benéfica (medicamento) para um organismo vivo. No entanto, é de realçar que um medicamento não tem apenas aspectos positivos, havendo de considerar por vezes o surgimento de efeitos que não pretendemos e que podem prejudicar o tratamento. Para qualquer medicamento é necessário pensar sempre na eficácia e na segurança, ou seja na relação benefício / risco. Assim, tóxico é uma substância que tem sempre uma relação benefício/risco desfavorável,enquanto que medicamento tem esta relação favorável. Para além destes aspectos o medicamento também tem de ser avaliado em termos de conveniência (por exemplo, a um doente com diarreia não se deve prescrever um supositório e quando se administra um medicamento devemos ter em conta as possíveis interacções) e de custo (seja para o Estado, para a Sociedade ou para o doente). Um aspecto relacionado com a eficácia é a efectividade. Enquanto que a eficácia é avaliada em condições experimentais protocoladas (por exemplo, com um ensaio clínico aleatorizado e controlado), a efectividade é testada nas condições da prática clínica (com doentes com várias patologias e eventualmente polimedicados); os ensaios clínicos que avaliam a efectividade chama-se de pregmáticos. A Farmacologia estuda os fármacos nos animais e no homem. Neste último caso chama-se Farmacologia Clínica, que nos últimos anos se desenvolveu e constituiu em especialidade médica. Não se deve confundir com Terapêutica, a qual estuda o modo de tratar as doenças, quer usando substâncias medicamentosas ou não medicamentosas (agentes físicos, exercício, dietas, etc). Terapêutica é a arte de tratar um indivíduo com uma determinada doença. Quanto a este último aspecto, o tratamento dum doente pode beneficiar muito da relação do doente com a equipa de saúde, desde o médico (a relação médico / doente é fundamental!), o enfermeiro e mesmo o pessoal administrativo. Um fármaco começa por ser testado em fragmentos de células, células, tecidos, órgãos e animais inteiros (Farmacologia pré-clínica) e se fôr considerado útil para um determinado fim será então estudado na espécie humana. Este último estudo, que constitui o objectivo da Farmacologia Clínica, é feito em quatro fases: 1ª Fase ou Fase I: Estudo do fármaco num número restrito de voluntários. Procura-se sabera farmacocinética e as acções e efeitos do fármaco na nossa espécie. É a primeira vez que o fármaco entra em contacto com a espécie humana. Geralmente é feita em voluntários saudáveis, procurando-se estudar a influência do organismo sobre o fármaco e do fármaco sobre as funções biológicas. Em alguns casos, quando o fármaco tem um mecanismo de acção que previsivelmente pode prejudicar um indivíduo são, o fármaco também pode ser estudado nesta fase num número restrito de doentes (e.g., um fármaco citotóxico com a indicação clínica de tratamento de um tumor maligno). 2ª Fase ou Fase II: O fármaco já será estudado num número pequeno de doentes (poucas dezenas) que apresentem a doença para a qual o fármaco estará indicado. Procura-se estabelecer eficácia e segurança, para além da farmacocinética na população doente de interesse. Define-se a dose a utilizar em clínica, ou pelo menos nos ensaios clínicos, a partir de ensaios clínicos com doses crescentes (estudos de dose-resposta). Nesta segunda fase o fármaco é testado num único centro clínico que está preparado para isso. Se o fármaco evidenciar uma relação eficácia/segurança favorável passa à 3ª fase. 3ª Fase ou Fase III: O medicamento será estudado num número alargado de doentes (que pode chegar a alguns milhares), de modo a se estabelecer com maior significado a eficácia e a segurança (de notar que as reacções adversas menos frequentes só surgem quando o número de doentes estudados é elevado). São geralmente ensaios multicêntricos. Após a conclusão dos estudos ou ensaios clínicos de fase III, se houver uma relação benefício / risco favorável o promotor pode apresentar a documentação dos estudos feitos (químicos ou farmacêuticos, fármaco-toxicológicos (ou pré-clínicos) e clínicos) à entidade ou agência regulamentar, que os avalia no sentido de conceder uma A.I.M. (autorização de introdução no mercado). Se tal acontecer, o medicamento passa à fase seguinte ou fase IV. 4ª Fase ou Fase IV: O medicamento já foi introduzido no mercado e, por isso, nesta fase realizam-se estudos de segurança e de efectividade (estudos pragmáticos, por exemplo), para além de se quantificarem outros aspectos relacionados com o medicamento como, por exemplo, a sua influência na qualidade de vida (para se fazerem, por exemplo, estudos de custo / utilidade). De notar que qualquer medicamento no mercado deve continuar a ser observado de modo a se detectarem as reacções adversas menos frequentes ou a se quantificarem correctamente as já descritas. Ou seja, qualquer medicamento no mercado deve estar sujeito à Farmacovigilância (ver à frente). Quando um fármaco é usado em doses terapêuticas, além do seu efeito medicamentoso desejável ou clinicamente indicado (efeito principal), tem efeitos que não se pretendem (reacções adversas). Estes últimos podem resultar do próprio mecanismo de acção do fármaco (efeitos previsíveis) ou serem imprevisíveis (efeitos idiossincrásicos ou alérgicos). Algumas vezes também se chamam às reacções adversas efeitos secundários, embora em sentido estricto estes serão os efeitos laterais. No entanto, ao longo deste texto tomaremos como sinónimo efeitos secundários e reacções adversas. Evidentemente que nem todos os doentes serão vítimas de reacções adversas e a sua aceitação depende da gravidade da doença a tratar, ou seja, haverá sempre de se fazer um balanço entre os benefícios e os riscos da utilização dum fármaco (por exemplo, um fármaco para tratar uma hipertensão arterial ligeira terá de evidenciar muito poucas reacçõesadversas, ao contrário dum fármaco para tratar uma afecção rapidamente letal). A este propósito, mesmo um placebo (substância sem acções farmacológicas, inerte) poderá desencadear reacções adversas, na maioria das vezes por efeitos psicológicos (efeito nocebo). Também convém distinguir entre efeito adverso e reacção adversa: o primeiro surge durante ou após a administração do medicamento e não pressupõe a obrigatoriedade causal com o medicamento, enquanto que a reacção adversa tem relação com a administração do medicamento (embora possa ter uma relação causal de possível a certa ou definitiva). A ciência que estuda os efeitos tóxicos dos medicamentos (em doses supraterapêuticas) e os tóxicos (substâncias nocivas ou com relação benefício/risco desfavorável) é a Toxicologia. Num sentido mais amplo, não consensual, a Toxicologia também pode abranger o estudo das reacções adversas. Uma ciência bastante relacionada com a Farmacologia é a Farmácia. O seu objectivo será estudar o fármaco, principalmente nas suas vertentes de preparação e armazenamento. No entanto, também estuda os outros aspectos do fármaco, como as suas propriedades farmacocinéticas e farmacodinâmicas, sendo actualmente as suas fronteiras pouco nítidas. Em sentido restrito pode-se afirmar que estuda a qualidade dos medicamentos. Para que um fármaco exerça os seus efeitos é necessário que seja fabricado, armazenado e administrado ao doente. Na maioria das vezes o fármaco constitui uma pequena parte da forma farmacêutica (aspecto do medicamento quando se dá ao doente - comprimido, supositório, suspensão, creme, etc) e são necessárias outras substâncias (adjuvantes, emolientes, edulcorantes, corantes, conservantes e, principalmente, excipientes) para dar forma e consistência ao medicamento. A ciência que estuda as formas farmacêuticas é a Farmácia Galénica. Constitui uma etapa fundamental para o êxito dum tratamento, já que uma forma farmacêutica tem de se desagregar em condições óptimas no seu local de absorção - por exemplo, se um comprimido for muito duro será defecado na sua maior percentagem. Outro exemplo da importância da manipulação galénica é a obtenção de formas farmacêuticas com absorção prolongada, controlada ou “retardada” ("retard"). Neste caso, juntam-se determinados adjuvantes e/ou excipientes, ou inclui-se o fármaco numa matriz ou forma, que tornam a absorção constante e demorada. Após a absorção, o fármaco é distribuído pelo sangue aos tecidos, onde é metabolizado e transformado numa substância mais hidrossolúvel com o objectivo de ser eliminado, geralmente por via renal. De notar que durante a absorção (por exemplo, na parede do tubo digestivo) ou a distribuição (por exemplo, no sangue) o fármaco já pode ser metabolizado. O estudo da absorção, distribuição, metabolização e eliminação (sistema ADME) dum fármaco constitui a Farmacocinética. Ou seja, estuda o trajecto do fármaco no organismo ou como este actua sobre o fármaco. O estudo destas propriedades (farmacocinética) tem por objectivo a obtenção de concentrações eficazes dum fármaco no seu local de acção (biofase). O estudo das acções e efeitos dum fármaco, ou o que o fármaco faz ao organismo, constitui a Farmacodinamia. NOMES DOS FÁRMACOS. "GENÉRICOS". Um fármaco tem um nome químico, que identifica correctamente a substância do ponto de vista químico. Por exemplo, 7-cloro-1,3-dihidro-1-metil-5-fenil-2H-1,4- benzodiazepina-2-ona. É um nome demasiado complexo e, por isso, a comunidade científica simplifica-o, tornando-a facilmente transmissível como mensagem. Esta simplificação é feita utilizando apenas algumas letras e/ou sílabas do nome químico. No exemplo acima citado essa escolha resultou no nome "diazepan" (ou escrito em português: "diazepam") (7-cloro-1,3-dihidro-1-metil-5-fenil-2H-1,4-benzodiazepina-2- ona). A este nome simplificado chamamos nome comum ou genérico, que, sendo reconhecido pela Organização Mundial de Saúde, é o nome conhecido em qualquer país (passa a designar-se “Denominação Comum Internacional” ou DCI). No entanto, a maioria dos medicamentos que conhecemos tem outro nome que é o nome de fantasia escolhido pelo laboratório que comercializa o medicamento: nome comercial. Este último fica registado como propriedade industrial ou comercial e não pode ser usado por mais nenhum laboratório. No exemplo, acima citado um dos nomes comerciais é "Valium". Habitualmente escreve-se o nome comercial seguido dum asterisco ou ®: Valium* ou Valium®. Todavia, para o diazepam existem outros nomes comerciais - Bialzepam®, Metamidol®, Stesolid®, Unisedil®. Como o fármaco original é o diazepam da Roche (Valium®), chamamos a estes últimos similares ou cópias. Actualmente não existe limite para a introdução de similares no mercado - alguns fármacos chegam a ter 71 similares! Os medicamentos fabricados de um modo industrial por laboratórios da indústria farmacêutica chamam-se especialidades farmacêuticas: os cinco nomes citados para o diazepam são cinco especialidades farmacêuticas. Em Portugal, à semelhança do que acontece no resto do mundo, um fármaco tem uma protecção da sua patente como produto industrial durante bastante anos (15 – 20 anos, dependendo da duração até à sua introdução no mercado), findo os quais qualquer laboratório com capacidade para isso poderá fazer esse mesmo fármaco, que será comercializado com o nome comum ou genérico (ou DCI). Devido a este último facto estes fármacos chamam-se genéricos. Um "genérico" poderá ser fabricado e comercializado por várias empresas, podendo diferir no aspecto que o medicamento tem. Daqui resulta como aconselhável que se deve fornecer sempre o genérico da mesma empresa farmacêutica para não confundir o doente (ou até a Sociedade se habituar à possibilidade de troca de especialidades farmacêuticas). Como não precisam da experimentação necessária à introdução dos novos fármacos (estudos fármaco- toxicológicos e clínicos), os "genéricos" têm um preço mais baixo, o que é bastante útil, desde que se tenha a certeza da sua qualidade. Esta qualidade deve ser entendida em duas vertentes: qualidade farmacêutica (propriedades físico-químicas do medicamento, desde a sua composição em princípios activos e excipientes, estabilidade, desagragação, dissolução, etc) e qualidade biofarmacêutica ou bioequivalência. A este propósito, actualmente a lei portuguesa pode obrigar o proprietário dum genérico a fazer estudos de bioequivalência (ver adiante o que significa), o que não acontece com os medicamentos similares ou cópias! De um modo sistemático o INFARMED tem exigido estudos de bioequivalência para os genéricos (têm de demonstrar que a extensão e a velocidade de absorção são iguais às do produto de referência, que é o medicamento original ou inovador). Um genérico tem sempre uma empresa responsável pela sua produção e distribuição, sendo ainda responsável pela eficácia e segurança do seu produto. Um genérico deve ser prescrito pela DCI, não sendo obrigatória a menção do nome do laboratório farmacêutico. De notar que a partir de 1996 Portugal passou a reconhecer as patentes de existência dos medicamentos (até aí apenas reconhecia as patentes de fabrico), o que significa que os medicamentos novos autorizados a partir daquele ano só podem ter os similares ou cópias que o laboratório farmacêutico autorizar (neste caso são co- comercializações). ESTRUTURAS QUE REGULAMENTAM OS MEDICAMENTOS. Em Portugal a estrutura que regulamenta aintrodução e a manutenção dos medicamentos no mercado português é o Instituto Nacional da Farmácia e do Medicamento (INFARMED), localizado em Lisboa, no Parque de Saúde. A nível da União Europeia a estrutura que regulamenta os medicamentos é a Agência Europeia do Medicamento (EMEA), localizada em Londres. Evidentemente que esta agência está em contacto permanente com as estruturas dos países membros, incluindo peritos dos diversos países (das agências nacionais do medicamento). A EMEA está subdividida em diversas secções, uma das quais autoriza as especialidades farmacêuticas novas (CPMP – “Committee for Proprietary Medicinal Products”). Num futuro próximo esta agência poderá introduzir todos os novos medicamentos a nível da União Europeia. Um medicamento novo para ser introduzido no mercado tem de apresentar na Agência Regulamentar (INFARMED ou EMEA) um pedido de Autorização de Introdução no Mercado (A.I.M.), que reúne toda a documentação sobre o medicamento (partes farmacêutica, farmacotoxicológica e clínica). Estes documentos incluem um resumo de todas as características do medicamento (Resumo das Características o Medicamento - RCM), que deverá ser apresentado ao médico ou ao farmacêutico quando o medicamento fôr lançado no mercado e em todas as ocasiões em que apresenta o seu medicamento a estes profissionais de saúde. Acresce que cada embalagem de medicamento deve ser acompanhada de um folheto informativo (FI), antigamente chamado de "bula", que serve para informar o doente das características fundamentais do medicamento. Também o contentor e a caixa devem estar bem caracterizados. As partes que devem constituir o RCM, o FI, a cartonagem e a rotulagem estão publicadas em legislação própria. A AIM que citámos é a necessária para os medicamentos novos (originais). Para as cópias ou similares dos medicamentos que já existem basta apresentar a documentação farmacêutica e fazer um processo bibliográfico (com citações da literatura); para os genéricos o processo é ligeiramente diferente, já que a comissão de avaliação de medicamentos (CAM) do INFARMED pode julgar necessário exigir estudos de bioequivalência (ver à frente). De notar, que a partir de 1996 Portugal reconhece a patente do registo do medicamento (até então só reconhecia a patente de fabrico), o que significa que a partir desse ano só poderão existir as cópias que o laboratório da indústria farmacêutica deixar (se forem lançadas ao mesmo tempo serão AIMs de co-comercialização). Para completar estas referências aos diversos tipos de AIM, existem ainda os processos centralizados (estudados e reconhecidos a nível da EMEA e que tornam a sua aprovação extensível e obrigatória em todos os países membros da União Europeia) e os processos por reconhecimento mútuo (RM) (após o medicamento ter sido aprovado num país membro da União Europeia - país de referência em que o medicamento foi aprovado por processo nacional - o laboratório requerente apresenta na EMEA os estudos e o requerimento para os países membros da União Europeia em que pretende ver aprovada a AIM, sempre com o controlo da EMEA; o país de referência deve elaborar um relatório sobre o medicamento, tendo por base a documentação entregue. No processo de RM um país da União Europeia pode recusar conceder a AIM, apresentado as suas razões; se o requerente insistir na obtenção de AIM para este país terá de haver arbitragem das estruturas de governo em Bruxelas. Os medicamentos têm ainda de renovar a sua licença de 5 em 5 anos (renovação de AIM). Todavia, se acontecer alguma reacção adversa grave, em qualidade ou quantidade, o medicamento também poderá ser suspenso do mercado pelo INFARMED (sob a supervisão da EMEA). Nem todos os medicamentos estão sujeitos à obrigatoriedade da receita médica para serem vendidos na farmácia (em Portugal os medicamentos só podem ser vendidos na farmácia). Os medicamentos mais seguros e que se destinem à automedicação poderão ser autorizados pelo INFARMED a serem vendidos sem receita médica (medicamento não sujeito a receita médica - MNSRM -, antigamente chamado de medicamento de venda livre - MVL - ou de medicamento OTC ("over-the-counter") nos países anglo-saxónicos). Os detentores destes medicamentos podem fazer publicidade ao público - cumprindo as regras publicadas em lei -, o que já não acontece com os medicamentos sujeitos a receita médica (MSRM), que só podem fazer publicidade directa junto do médico e farmacêutico. Infelizmente, têm surgido diversos modos de publicidade indirecta, o que serve para "pressionar" o médico... As situações clínicas passíveis de automedicação são as reconhecidas pelas associações internacionais de médicos. Quadro 1. Tipos de Autorização de Introdução no Mercado (AIM) Processo Nacional Completo (com documentação sobre estudos farmacêuticos, fármaco- toxicológicos e clínicos) Bibliográfico (com documentação farmacêutica e relatório de perito com referências da literatura) Para “Genéricos” (com documentação farmacêutica, relatório e estudo de bioequivalência) Processo por Reconhecimento Mútuo Processo nacional è reconhecido por outros países da União Europeia. Pode ser extensível a qualquer medicamento, incluindo os genéricos. Processo Centralizado Análise dos estudos por peritos designados pela EMEA e aprovado na EMEA. Se aprovado, este medicamento é obrigatoriamente introduzido em todos os países da União Europeia (RCM, FI, embalagem e rótulo aprovados por processo centralizado) Questões para estudo: - Qual é o âmbito da Farmacologia, da Terapêutica e da Toxicologia? Os efeitos secundários são previsíveis? Qual é a diferença entre o efeito dum tóxico e o efeito tóxico dum medicamento? Quais são as vantagens e desvantagens do uso do nome genérico? Quais são as diferenças entre farmacocinética e farmacodinamia? Qual a sua importância para a utilização clínica dum fármaco? O INFARMED é dependente da Agência Europeia do Medicamento? Os medicamentos não sujeitos a receita médica têm a mesma relação benefício/risco dos medicamentos sujeitos a receita médica? Quais são as vantagens e desvantagens dum formulário? E da Farmacopeia? Os “genéricos” têm mais inconvenientes do que os medicamentos de marca? Temporalmente a Farmacocinética é antes ou depois da Farmacodinamia? Qual é a diferença entre efeito farmacológico e efeito terapêutico? Conceitos a reter: Um medicamento caracteriza-se pela eficácia, segurança, conveniência e custo. A efectividade é a eficácia nas condições da prática clínica. A indicação clínica constitui o efeito principal que pode ser efeito secundário se o medicamento for usado noutra indicação clínica. As reacções adversas podem ser previsíveis (do tipo A). Os estudos de Fase III ainda são limitados para o conhecimento do medicamento. Os medicamentos têm um nome químico, genérico (DCI) e comercial. Os “genéricos” são medicamentos geralmente com estudos de bioequivalência. Os medicamentos podem ter AIM por processo nacional, de reconhecimento mútuo ou centralizado. O MNSRM pode ter publicidade regulamentada junto do público. CAPÍTULO 2 - FARMACOCINÉTICA. Para que um medicamento actue é necessário que atinja concentrações eficazes no seu local de acção, que, de um modo geral, é longe do ponto de aplicação do fármaco, ou seja, tem de ser absorvido e distribuído pelo sangue aos tecidos onde vai actuar. Entretanto, vai sendo metabolizado e eliminado. À absorção, distribuição, metabolização e eliminação (sistema ADME) dos fármacos chama-se farmacocinética. Assim, um fármaco tem de possuir características farmacocinéticas adequadaspara que tenha efeitos terapêuticos. I - Absorção. Objectivos: 1. Caracterizar a absorção de fármacos. 2. Conhecer as Farmacopeias, os Formulários de Medicamentos, o Prontuário Terapêutico, o Simpósio Terapêutico, o Índice Nacional Terapêutico, o Guia dos Genéricos, o Guia dos Preços de Referência. 3. Identificar as diversas formas farmacêuticas. 4. Descrever as vias de administração de medicamentos, com as vantagens e desvantagens de cada uma, bem como as formas farmacêuticas que se podem aplicar em cada uma. A absorção é função das características físico-químicas do fármaco e da forma farmacêutica, incluindo nesta o excipiente e os adjuvantes. O local mais utilizado para a absorção é a mucosa intestinal, mas outras mucosas e a pele também podem ser usadas. Se aplicarmos o medicamento na própria corrente sanguínea a absorção é total (100%). Quando o fármaco tem de atravessar uma membrana, que é uma bicamada lipídica com proteínas "semeadas", tem de obedecer a determinadas condicionantes: se o fármaco fôr lipossolúvel, atravessa-a facilmente, embebendo-se nos próprios lípidos (porém, se for demasiado lipossolúvel não sai da membrana...); se o fármaco for hidrossolúvel, tem de utilizar as proteínas da membrana (transportadores, enzimas ou bombas, e canais). Daqui resulta três tipos fundamentais de transporte através de membranas: Transportador Consumo de Saturável Dum local de ou outra energia menor para um de proteina* (ATP, p.ex.) maior conc. da subst. transportada -------------------------------------------------------------------------------------------------------- Transporte activo SIM SIM SIM SIM Difusão facilitada SIM NÃO SIM NÃO Difusão simples NÃO NÃO NÃO NÃO * Os canais para iões na difusão simples são constituídos por proteínas. Quando se utiliza uma proteína para transporte há selectividade desse transportador ou “carrier” para a substância a transportar (na difusão facilitada e no transporte activo). O transporte activo pode ainda ser primário (com consumo directo de ATP, como, por exemplo na bomba de Na+ e K+, na bomba de protões e na bomba de Ca++) ou secundário (aproveitando o gradiente electroquímico do Na+, que, assim, necessita de sair da célula pela bomba de Na+ e K+ que consome ATP). Os fármacos são transportados principalmente por difusão simples, através dos lípidos da membrana (são moléculas pequenas e lipossolúveis). Um número reduzido de fármacos, hidrossolúveis, são transportados por difusão facilitada e transporte activo. As substâncias não ionizadas são lipossolúveis (as ionizadas são hidrossolúveis). A ionização depende do pKa da substância e do pH do meio (por exemplo, uma base ioniza no meio ácido do estômago, tal não acontecendo com os ácidos). Existem ainda outros tipos de absorção, como a filtração (devido á diferença de pressão de um e do outro lado da membrana), a osmose (passagem de moléculas através de uma membrana semipermeável, de modo a igualar o número de moléculas de um e do outro lado da emembrana) e a pinocitose (a pinocitose e a fagocitose representam a endocitose, enquanto que o “despejar” do conteúdo de vesículas para o meio extracelular define a exocitose), mas que são bastante menos importantes. No entanto, a pinocitose é praticamente o único mecanismo para transporte de proteínas através duma membrana. Consiste na abertura de uma concavidade na membrana que engloba a substância a transportar. Esta, incluída em vesículas, pode então atravessar a célula, ou ser digerida pela célula desde que entre em contacto com as enzimas dos lisossomas ou peroxissomas. A absorção depende ainda do estado fisiológico da pele e das mucosas (íntegras ou lesadas) e da presença de outros elementos (por exemplo, os alimentos podem interferir na absorção gastrointestinal de alguns fármacos). Relacionado com esta fase farmacocinética iremos abordar as formas farmacêuticas e as vias de administração de medicamentos, já que as duas se condicionam mutuamente. FORMAS FARMACÊUTICAS. Para que um fármaco actue é necessário que atinja os locais de acção e para isso é preciso que seja absorvido, o que está dependente da forma farmacêutica e das suas propriedades galénicas. O que é então uma forma farmacêutica? É o aspecto ou forma que o medicamento tem quando se dispensa ao doente (comprimido, supositório, suspensão, creme, pomada, etc). Podem ter fabrico industrial, chamando-se especialidades farmacêuticas e identificando-se por um nome comercial que é propriedade da firma que as produz, ou serem feitas na farmácia ("oficina"), seguindo as instruções da Farmacopeia Portuguesa (livro "oficial", elaborado por uma comissão de peritos, onde para os medicamentos elaborados numa determinada área - neste caso Portugal - consta a composição e a natureza ou origem, o modo de fabrico e conservação) - formas oficinais - , ou seguindo as instruções do médico que prescreveu o medicamento. Neste último caso chamam-se formas magistrais (feitas segundo receita do tipo magistral, ou do médico ou "magister"). Não existe apenas uma Farmacopeia; determinadas associações de países - como a União Europeia - possuem a sua Farmacopeia, e até a Organização Mundial de Saúde possui a sua, de modo a permitir a países pobres ou menos evoluídos o seu uso. Cada farmácia portuguesa deve por lei possuir um exemplar da Farmacopeia Portuguesa - está em vigor a edição actualizada de 1988. Não se pode confundir Farmacopeia com Formulário. Este é um livro onde constam os medicamentos considerados úteis para uma determinada população por uma comissão de personalidades conhecidas, sendo actualizado com bastante frequência. Pode ainda incluir conceitos sumários sobre terapêutica e/ou normas de tratamento. De notar que qualquer médico deve ir formando o seu próprio formulário, corregindo-o consoante as circunstâncias e as oportunidades. Em Portugal existe publicado o Formulário Nacional Hospitalar, com actualizações periódicas, o que obriga os médicos hospitalares a prescreverem os medicamentos aí descritos, Quando o não fazem - prescrições extraformulário - têm de justificar cientificamente o seu procedimento. Tenta-se actualmente fazer um formulário para a Medicina Familiar / Clínica Geral, com funções apenas orientadoras (já existe o chamado Formulário Europeu). Outro livro bastante usado pelos médicos é o Simpósio Terapêutico, com actualizações anuais. Nele constam as descrições das especialidades farmacêuticas (composição, indicações, posologia, contraindicações, precauções, reacções adversas, formas de apresentação), que estão citadas por ordem alfabética. Também produzido por uma empresa comercial (tal como o simpósio) existe ainda o Índice Nacional Terapêutico, que tem as especialidades farmacêuticas por grupos farmacoterapêuticos, havendo a descrição mais detalhada (como no simpósio) apenas para algumas especialidades farmacêuticas. O Índice é fornecido gratuitamente. Existem actualmente edições electrónicas do Simpósio e do Índice. Existe ainda o chamado Prontuário Terapêutico, que é um livro em que estão descritas as especialidades farmacêuticas e onde se tecem considerações acerca das suas características e utilidade clínica. É feito por uma comissão de peritos, convidados pelo INFARMED, e sujeito a revisões periódicas. É actualmente um dos meios mais úteis para se avaliar da relevância clínica dos medicamentos existentes no nosso mercado. Existe também em edição electrónica e num futuro próximo estará disponível na Internet. As formas farmacêuticas destinam-se a uso tópico(quando não se tem por objectivo um efeito que implique a sua absorção) ou a uso sistémico (quando o medicamento é absorvido e distribuído pelo sangue aos seus locais de acção). No entanto, é necessário chamar a atenção para o facto de, apesar de muitos medicamentos se destinarem a uso tópico, uma determinada percentagem poderá ser absorvida e provocar reacções adversas, principalmente quando se aplicam em pele ou mucosas lesadas (exemplo do anestésico local lidocaína que aplicado sobre a pele queimada pode ser absorvido e provocar depressão cardio-vascular, nomeadamente em crianças) ou quando se utilizam determinados excipientes ou se faz penso oclusivo (por exemplo, um fármaco aplicado nas nádegas duma criança a que se veste depois uma “calça plástica” pode ser absorvido, já que a pele não liberta normalmente o seu transpirado e a tensão de vapor como que "afasta" as células, ajudando o fármaco a penetrar). A manipulação galénica (modo de preparar as formas farmacêuticas) é uma etapa fundamental para o êxito dum tratamento: consoante o fármaco e a via de administração escolhe-se a forma farmacêutica, e, consequentemente, o tipo de excipiente (e de adjuvantes, aglutinantes, correctivos, corantes, etc.). Tudo isto, bem como o tipo de compressão dos componentes, influi decisivamente no grau de dispersão e absorção do fármaco. Estão neste caso as chamadas formas de absorção prolongada ou retardada (ou formas "retard"), que resultam da adição de determinados excipientes ou da inclusão do fármaco numa certa matriz, o que demora a absorção, mantendo-se níveis sanguíneos eficazes de fármaco durante mais tempo. As formas farmacêuticas classificam-se habitualmente, segundo o seu estado físico, em formas sólidas, semi-sólidas, líquidas e gasosas. Formas farmacêuticas sólidas. Pó - São micropartículas com dispersão homogénea, para uso interno (como um antiácido para as úlceras gastrointestinais) ou externo (como o vulgar "talco"); Granulado - São partículas grosseiras, grandes, que resultam muitas vezes da incorporação de açucar, aglutinando as partículas; o granulado destina-se apenas a uso interno. Grânulos - São partículas esféricas, para uso interno. Comprimidos - Resultam da compressão de pó ou granulado. Geralmente têm forma discóide e são homogéneos, sem revestimento. Se possuirem ranhuras, significa que se podem dividir, tendo em cada parte uma quantidade igual de fármaco. Os comprimidos destinam-se a variadas vias de administração, tanto para fim tópico como sistémico, uso interno ou externo. Os comprimidos podem ser rotulados consoante a via de administração: comprimidos bucais (uso tópico), sublinguais (uso sistémico), vaginais (uso tópico), etc. Cápsulas - Cápsula significa "pequena caixa" e designa formas farmacêuticas constituidas por um invólucro (ou "caixa") que contém pó, granulado, grânulos, líquidos ou semi-sólidos. Podem ser constituídas por dois opérculos que encaixam um no outro (cápsulas operculadas) ou serem inteiriças (cápsulas inteiras); no primeiro caso contêm substâncias sólidas (daí que também se designem por cápsulas duras, já que têm também um invólucro duro), enquanto que no segundo caso contêm substâncias semi- sólidas ou líquidas (daí que também se chamem cápsulas moles). Outro modo de designar as cápsulas é pela natureza do revestimento: se fôr de amido, serão cápsulas amiláceas; se fôr de gelatina, serão cápsulas gelatinosas. A capsulização destina-se principalmente a evitar o cheiro ou sabor desagradável dos medicamentos. Se as cápsulas forem "drageificadas", poderão evitar a acção corrosiva dos sucos gástricos ou evitar lesar o estômago. As cápsulas esféricas e grandes designam-se por glóbulos, enquanto que as pequenas e esféricas chamam-se pérolas. Drageias (grageias, grageas ou drageas) - São comprimidos revestidos. Este revestimento tem por objectivo evitar o cheiro ou sabor desagradável dos medicamentos, melhorar a sua conservação, evitar o contacto com o estômago (para evitar lesá-lo ou para proteger o fármaco dos sucos gástricos) ou tornar o medicamento mais atraente. O processo de drageificação pode-se aplicar a outras formas farmacêuticas, como às cápsulas como já foi referido. Destinam-se a usar pela via oral. Pílulas - São comprimidos esféricos: são feitas não por compressão mas por rolamento. Destinam-se também à via oral. De notar que a vulgar pílula (anticoncepcional) é constituída por comprimidos ou drageias. Ficou com este nome devido à forma farmacêutica (pílula) dos primeiros medicamentos anovulatórios (anticoncepcionais). Quando a pílula é drageificada chama-se confeito. Supositórios - São formas farmacêuticas com o formato de "balas", que se destinam à via rectal. Há supositórios para adultos (com cerca de 2,5-3 g de peso) e outros, mais pequenos, para crianças (cerca de 1,5 g de peso). São constituídos por um excipiente que amolece próximo da temperatura corporal, o que significa que no tempo muito quente devem ser conservados no frigorífico. Existem supositórios para uso tópico, embora a maioria se destine a um fim sistémico. De notar que muitas vezes os supositórios têm a designação lactente, infantil, júnior, adulto, consoante a quantidade de princípio activo e não devido ao seu peso ou forma. Pastilhas - São formas farmacêuticas que resultam da moldagem duma substância que muitas vezes contém gomas, destinando-se a uso tópico na via bucal. Existem outras formas farmacêuticas sólidas, mas com menor importância. Formas farmacêuticas líquidas. São representadas fundamentalmente pelas soluções, suspensões ou emulsões, a partir das quais se definem outras formas farmacêuticas líquidas. Soluções - Onde as partículas estão completamente dissolvidas na fase líquida ou dispersante (solvente). São homogéneas e estáveis. Podem ser aquosas ou oleosas, consoante o excipiente seja água ou óleo (as soluções hidroalcoólicas estarão incluídas nas aquosas). Podem ser administradas por qualquer via, directa ou indirecta. Todavia, apenas as soluções aquosas poderão ser usadas numa via sanguínea (endovenosa, intra- arterial, intra-cardíaca). As soluções oleosas provocariam embolização. Suspensões - Onde as partículas (fase dispersa) são insolúveis no excipiente (fase dispersante). Com o repouso e a acção da gravidade sedimentam, o que implica a agitação da embalagem antes do uso. Estas formas farmacêuticas não podem ser usadas numa via sanguínea, pelo perigo da formação de êmbolos. Por vezes obstruem o lúmen das agulhas. Emulsões - Resultam da mistura de dois líquidos não miscíveis entre si, como o azeite e a água. Podem ficar homogéneas desde que se junte um estabilizador da emulsão. Não devem ser aplicadas numa via sanguínea, devido à formação de êmbolos. Xaropes - São soluções saturadas de açúcar. Podem ser simples (água com açucar) ou compostos (água com açúcar e fármaco). Estas formas farmacêuticas destinam-se à via oral (absorção gastro-intestinal). Uma vez a embalagem aberta deve ser consumida dentro do prazo indicado - nunca superior a algumas semanas. Tinturas - São soluções alcoólicas de minerais ou extractos de plantas ou animais. Aplicam-se interna (às gotas) ou externamente (por exemplo, tintura de iodo). Poções - São soluções açucaradas e aromatizadas que se destinam à via oral e são preparadas segundo receita. Geralmente resultam da junção dum xarope (correctivo) a uma solução aquosa na proporção de 1/5 a 1/6 do peso total final da forma farmacêutica. Cozimentos ou cozeduras resultam da preparação em água fervente, durantepelo menos vinte minutos, duma substância orgânica, geralmente um vegetal fresco. Já a infusão resulta da adição de água fervente a plantas secas (geralmente folhas; por exemplo, o chá preto). Antes de serem usados devem ser clarificados por decantação ou por filtração. São soluções. Uma forma de soluções aquosas são os soros laboratoriais. São de grande volume (100 ml, 250 ml, 500 ml, 1.000 ml). Aplicam-se quase sempre por via endovenosa. Têm de ser isentos de micro-organismos. São de composição variada, a usar conforme a situação clínica. Podem ser isotónicos (com osmolaridade próxima do sangue: 300 mOsm/l), hipotónicos (< 300 mOsm/l) ou hipertónicos (> 300 mOsm/l). Podem conter glicose (soro glicosado hipo, iso ou hipertónico) ou dextrose ou NaCl (a 0,9% ou 9 ‰ chama-se soro fisiológico) ou outros sais, ou mesmo lípidos ou proteínas (para a chamada "alimentação parenteral"). As formas farmacêuticas líquidas administram-se às gotas (20 gotas de água destilada pura, a 4oC, equivalem a 1 ml) ou às colheres (uma colher de chá tem 5 ml de volume, enquanto que uma de sobremesa ou de sopa tem 10 ou 15 ml de capacidade, respectivamente). Notem que um ml de água pura, a 4oC, pesa uma grama. Formas farmacêuticas semi-sólidas. São representadas principalmente pelos cremes, pomadas, pastas e geles. Cremes - São fluidos, geralmente de pouca consistência. São parecidos com emulsões (óleo em água). Aplicam-se quando existem lesões cutâneas exsudativas. Porém, também se aplicam noutras vias além da percutânea (vaginal, rectal, ocular, nasal, auricular ...). Espalham-se perfeitamente pela superfície cutânea. Pomadas - São mais consistentes, tendo como excipiente uma gordura. Após a sua aplicação a pele fica brilhante, luzidia. Também se usam noutras vias de administração (ocular, rectal, vaginal, etc).. Pastas - Têm a consistência de pó bastante molhado (por ex., "pasta de dentes"), já que resultam da incorporação de pó em grande percentagem. Destinam-se a afecções "secas", não exsudativas, como os eczemas crónicos. Têm uma acção abrasiva. Geles - Têm uma consistência do tipo da gelatina (aparência "trémula"). São constituídos por polímeros. Espalham-se perfeitamente pela pele e ajudam o fármaco a penetrar (os fármacos em gel quando absorvidos, são-no rapidamente; nos cremes e nas pomadas são-nos de modo mais lento porque o óleo/gordura constituem um depósito a partir do qual o fármaco se vai libertando com maior dificuldade para penetrar na pele). Todavia, há geles para outras vias de administração (oral, bucal, ocular, nasal, rectal, vaginal, etc.). Os unguentos são formas farmacêuticas semi-sólidas que contêm resinas (por ex., bálsamo do Canadá). Nos esparadrapos o medicamento está apoiado num suporte, que pode ser tela, gaze, pelica, papel (por ex., "emplastro Leão"). Os emplastros são formas que amolecem à temperatura corporal. Quando essa forma é constituida por farinhas ou polpas chamam-se cataplasmas; se fôr de farinha de mostarda designar-se-á por sinapismo. Formas farmacêuticas gasosas. Os gases precisam de aparelhos apropriados para serem administrados. Destinam-se quase sempre à via respiratória. Os aerossóis e os sprays não são formas gasosas porque são suspensões de micropartículas num gas (aerossóis) ou a mistura de dois líquidos e do vapor de um deles (sprays). Também as nebulizações são dispersões de gotas para aplicação na via respiratória e as errinas são gotas para aplicação no ouvido externo. As formas farmacêuticas estão intimamente associadas às vias de administração, condicionando-se mutuamente. Na próxima secção iremos estudar os locais do organismo onde podemos aplicar os medicamentos. VIAS DE ADMINISTRAÇÃO DOS MEDICAMENTOS. Para que um fármaco actue é necessário que atinja o local de acção e, para isso, terá de ser introduzido no organismo ou aplicado superficialmente. À porta de entrada no organismo, ou local onde se aplica o medicamento, chamamos via de administração. As vias de administração são escolhidas em função da rapidez, intensidade e duração da resposta pretendida, bem como em função do efeito tópico, regional ou sistémico a alcançar. As formas farmacêuticas também determinam a utilização de uma determinada via, mas é necessário ter em linha de conta que as formas farmacêuticas já são feitas tendo em atenção o tipo de efeito pretendido. Podem-se classificar as vias de administração de medicamentos do seguinte modo: A - INDIRECTAS 1 - ATRAVÉS DA PELE Via percutânea Via auricular 2 - ATRAVÉS DE MUCOSAS Digestiva Via bucal Via perlingual Via oral (gastrointestinal) Via rectal Respiratória Via rinofaríngea (nasal) Via traqueobrônquica Via alveolar ou pulmonar Outras Via ocular ou conjuntival Via genitourinária . via uretral via vaginal B - DIRECTAS Via subcutânea* Via intramuscular* Via intravenosa* Via intra-arterial Via intracardíaca Via intrarraquídea Via intramedular (óssea) Via intra-articular Via intraperitoneal Via intrapleural * As mais usadas VIAS INDIRECTAS A sua utilização não implica nenhum traumatismo ou "picada". O fármaco é absorvido através da pele ou das mucosas, ou aplicado nestas estruturas. Via percutânea - A pele é constituída pela epiderme e a derme. A epiderme possui várias camadas de células (córnea, estratos lúcido, granuloso, espinhoso e basal), além de ter uma camada de gordura na sua superfície, o que dificulta a passagem de substâncias (a córnea é o factor mais limitante). A derme, pelo contrário, possui bastantes capilares. Um fármaco para penetrar através da pele tem de ser lipossolúvel e possuir ainda um veículo ou excipiente adequado (há fármacos que penetram mal mas adicionados a determinados excipientes já ultrapassam aquelas barreiras). Todavia, é necessário ter em atenção que uma pele lesada, que perdeu algumas das suas camadas, como num queimado, já pode deixar passar fármacos. Nesta via de administração aplicam-se fármacos para fins tópicos e, menos vezes, para fins sistémicos. Algumas vezes, porém, fármacos que não se destinam a ser absorvidos, são-no, podendo provocar efeitos adversos. Já dissemos que juntando determinados veículos, como o dimetilsulfóxido ou o propilenoglicol, podemos aumentar o poder de penetração do fármaco, mas também existem determinadas manobras mecânicas que o podem fazer: fricções intensas e o chamado penso oclusivo (aplicação de um material impermeável - como plástico - sobre a zona de aplicação do fármaco); estas duas manobras estão presentes quando se coloca o medicamento em determinadas zonas do organismo como nas axilas, pregas cutâneas, etc. As formas farmacêuticas que se aplicam nesta via são: - Semi-sólidas (cremes, pomadas, geles ou geleias, pastas, unguentos, emplastros ...) - Líquidas (soluções, emulsões, suspensões) - Algumas sólidas, como o pó (por exemplo, talco) e as esponjas. Algumas formas líquidas e sólidas podem ainda ser usadas na forma de aerossóis (dispersões finas de um líquido ou sólido num gás que se aplica na forma de "nevoeiro") ou de "sprays" (sistema a 3 fases: dois líquidos não miscíveis ou emulsionáveis e um vapor, normalmente de um dos líquidos). A via cutânea oferece vantagens, como a possibilidade de acção directa sobre superfícies externas e, por vezes, extensas, e grande simplicidade técnica, mas tem também desvantagens, como uma penetração pobre, a maior capacidade alergizante dos fármacos quando aplicados nesta via e a possibilidade de efeitos tóxicos após absorção; a irritação da pele é outra possibilidade. Via auricular - Destina-se à aplicação no pavilhão auricular e/ou no canal auditivo externo de solutos previamente aquecidos até à temperaturacorporal, ou próximo dela, ou de formas semi-sólidas. Pretende-se, geralmente, um efeito calmante, antisséptico ou de amolecimento do cerúmen. Via bucal - O medicamento é aplicado directamente na boca, para aí ter a sua acção. Não deve ser deglutido. Pretende-se um efeito tópico. Aplicam-se antissépticos, como as soluções de azul de metileno e de eosina, calmantes (anestésicos locais nas gengivas), correctores de mau hálito (ex., pastilhas com mentol). Via sublingual - O medicamento, geralmente na forma de comprimidos sublinguais, aplica-se sob a língua, de modo a contactar com o pavimento da boca e a face inferior da língua. É uma mucosa bastante fina, húmida e vascularizada, o que significa que o fármaco é rapidamente absorvido. Por outro lado, evita na primeira passagem a acção metabolizadora do fígado, já que vai à veia cava superior e depois ao coração. É uma via usada em situações de urgência para medicamentos potentes - como nitroglicerina para a angina de peito. Se o que foi dito constitue vantagens, o facto de só se poderem administrar alguns medicamentos - potentes - e o seu sabor desagradável constituem desvantagens. Via oral - É a via mais usada. Os medicamentos destinam-se à mucosa gastrointestinal. Oferece uma administração cómoda, feita pelo próprio doente, sem necessidade de cuidados especiais de antissepsia. Usa-se para fins tópicos (por exemplo, os antiácidos para neutralizar o ácido clorídrico no lúmen gástrico) e, principalmente, para fins sistémicos. Neste último caso os medicamentos são absorvidos e pelo sistema venoso porta chegam ao fígado onde grande parte é metabolizada em maior ou menor grau, consoante o fármaco e o estado do fígado: efeito de primeira passagem. De notar que, apesar desta designação se aplicar sobretudo à metabolização hepática após a absorção, de um modo lato deve-se entendê-la como referindo a metabolização por um órgão logo após a absorção do fármaco (por exemplo, metabolização pela pele e tecido celular subcutâneo de certos fármacos após a sua aplicação cutânea). De referir ainda que alguns fármacos começam a ser metabolizados na parede gastrointestinal, o que também é efeito de primeira passagem. Os medicamentos que lesem a mucosa gástrica devem ser ingeridos no meio ou no fim das refeições - de um modo geral, a absorção será mais retardada e o pico (ou Cmax) atingido menor, mas a quantidade absorvida não sofre alteração. O intestino é o local apropriado para a absorção de alimentos e, por isso, também de medicamentos. Tem mecanismos próprios de absorção - transporte activo, facilitado, difusão simples, osmose e pinocitose - uma enorme superfície, vascularização, motilidade e secreções apropriadas (que também podem ser uma desvantagem ao degradarem o medicamento). A via oral (ou per os: p.o.) oferece vantagens (possibilidade de administração pelo próprio doente; não é necessária antissepsia; a absorção é mais ou menos segura) mas também tem desvantagens (degradação do fármaco (fármacos de natureza proteica); efeito de primeira passagem; irritação (por vezes) gástrica e/ou intestinal; não absorção de alguns fármacos; impossibilidade do seu uso quando existem vómitos, má- absorção, perda de consistência, recusa do doente ou dificuldades na deglutição). As formas farmacêuticas que se podem usar são as sólidas (pó, granulados, comprimidos, drageias, pílulas, cápsulas), as líquidas (solutos, suspensões e emulsões, que podem ter a forma de gotas, xaropes, poções, tinturas, ampolas bebíveis, cápsulas - com líquido!) e as semi-sólidas, como as geleias ou geles. As formas líquidas podem ainda ser administradas às colheres: de sopa (volume = 15 ml), de sobremesa (volume = 10 ml), de chá (volume = 5 ml), de café (volume = 2,5 ml). Via rectal - Os fármacos são administrados no recto, através do ânus, de modo a atingirem a sua mucosa. Por vezes pretende-se apenas atingir a região anal para um efeito tópico ou regional. Pode-se pretender um efeito tópico - anestésico local, calmante, adstringente, antisséptico, laxante - ou sistémico - analgésicos antipiréticos e/ou anti-inflamatórios, anticonvulsivantes, etc. Administram-se supositórios, clisteres ou enemas (com soluções, suspensões, emulsões ou geleias), cremes, geles, pomadas (anti-hemorroidárias, por exemplo). As formas líquidas podem ainda ser administradas doutros modos: "banhos de assento", com cânulas ou outros aplicadores. As formas líquidas devem ser aquecidas à temperatura corporal, principalmente se são de grande volume. São vantagens da via rectal: - Absorção mais rápida que por via oral. - Parte significativa do fármaco escapa à primeira acção metabolizadora do fígado (evitamento parcial do efeito de primeira passagem). - Facilidade de administração (evitando muitas vezes a recusa de alguns doentes à utilização da via oral: crianças, por exemplo). - Evita a irritação gástrica por alguns fármacos ou a acção degradante das secreções gastrointestinais sobre fármacos. - Evita o sabor e cheiro desagradáveis de alguns medicamentos. - Pode-se usar em doentes com vómitos ou inconscientes. No entanto, apresenta também algumas desvantagens: - Absorção irregular (e, por vezes, mesmo nula). - Incomodidade para algumas pessoas. - Possibilidade de irritação da mucosa. - Não deve ser usada quando existe diarreia ou lesões anais. Via nasal - Os medicamentos aplicam-se na mucosa do nariz, geralmente com fins tópicos: gotas de vasoconstritores na constipação, por exemplo. Existem, porém, alguns medicamentos e drogas que se usam com fins sistémicos: "spray" de hormonas para descongestão mamária nas mulheres que amamentam ou pó de cocaína (uso ilícito), respectivamente. É necessário ter em conta que os fármacos que se aplicam topicamente são absorvidos em maior ou menor quantidade e, por isso, podem provocar efeitos laterais (para além do principal). Os medicamentos não devem ser aplicados durante tempo excessivo nesta via - é aqui que se situa o sentido do cheiro e o epitélio é adaptado com pêlos, de modo a filtrar e aquecer o ar que se respira - porque poderão causar atrofia da mucosa (rinite atrófica). Aplicam-se pós, cremes, pomadas, geles, sprays ou aerossóis, solutos e suspensões (quando se aplicam em dispersões de gotas com invólucros plásticos chamam-se nebulizações) e emulsões. Via traqueobrônquica - Os medicamentos têm de ser constituidos por partículas de dimensões muito pequenas (entre 3 e 20 m) para aí chegarem. As de maiores dimensões depositam-se na boca, orofaringe ou laringe, enquanto que as de menores dimensões já atingem os alvéolos pulmonares. Os medicamentos têm de ser aplicados com aparelhos especiais: aerossóis, sprays e insufladores (aparelho que provoca uma dispersão muito fina de pó, sem a ajuda de qualquer veículo). Para o uso dos aerossóis e sprays é necessário seguir uma técnica rigorosa para se obterem resultados terapêuticos: a embalagem deve estar uns 10 cm afastada dos lábios (excepto se já tem um tubo extensor), com o local do "disparo" voltado para cima, e após o "disparo" é necessário fazer ums inspiração prolongada (± 10 seg). Esta coordenação e inspiração sustida é difícil de cumprir neste tipo de doentes e mesmo impossível nas crianças. Deste modo, surgiram os insufladores (o pó é inalado quando se faz apenas a inspiração) e aparelhos que "disparam" pelo acto de inspirar; também os tubos extensores servem para aumentar a duração da inspiração do fármaco. Os fármacos aplicados nesta via destinam-se a um efeito tópico, fundamentalmente sobre os brônquios, sendo a asma a afecção mais vezes a tratar e, menos vezes, a bronquite crónica. Pela enorme incidência destas afecções na nossa população, esta via émuito utilizada: se os fármacos fossem usados pela via oral teriam muitos efeitos secundários ou seriam mal absorvidos, o que acontece muito pouco quando se inalam (apenas uma percentagem muito pequena é absorvida). Via alveolar (ou pulmonar) - O epitélio alveolar é extenso, muito fino e está em contacto estreito com os capilares. Ou seja, desde que o fármaco atinja os pulmões pode ser facilmente absorvido (quase instantaneamente). Usam-se gases, vapores ou dispersões de partículas muito finas (com menos de 3 m). É uma via muito usada em anestesia (administração de gases e vapores de anestésicos gerais) e, infelizmente, pelos fumadores! Via ocular ou conjuntival - As soluções aplicadas têm de ser neutras, isotónicas com as lágrimas e isentas de microorganismos. Podem-se usar ainda soluções oleosas, suspensões e emulsões, assim como cremes, pomadas e geles. As formas líquidas chamam-se colírios (embora alguns autores chamem colírio a toda a forma aplicada nesta via - os pós seriam colírios secos -, a noção que prevalece é a de designarem apenas as formas líquidas aplicadas em gotas). Pretende-se um efeito tópico ou regional (nesta última situação o fármaco tem de ser absorvido até aos planos internos dos olhos), mas a mucosa conjuntival absorve fármacos que, por isso, podem manifestar reacções adversas. Via genitourinária - A mucosa vesical comporta-se de modo algo semelhante à pele e os fármacos dificilmente podem ser absorvidos. Usa-se para aplicação tópica: desinfecções e lavagens, aplicação de fármacos em dose elevada para afecções locais (citostáticos...). Evidentemente que o fármaco tem de ser aplicado com instrumentos especiais e na forma líquida. As mucosas uretral e vaginal podem absorver determinados fármacos que, apesar de se pretender um efeito tópico, podem exercer reacções sistémicas adversas. A via uretral é pouco usada e apenas na sua parte terminal (velas - forma farmacêutica com o formato dum lápis ou "vela" pequenos -, cremes, geles, pomadas, formas líquidas), mas a via vaginal já tem ampla utilização para substâncias cicatrizantes, antissépticos, antibióticos, substâncias com fins anticoncepcionais, calmantes. Os medicamentos não devem irritar a mucosa e respeitar o ecossistema (meio ácido da vagina, criado pela acção dos lactobacilos aí existentes). Usam-se comprimidos ("comprimidos vaginais", administrados com aplicador), óvulos, soluções, suspensões, emulsões, cremes, geles, pomadas e espumas vaginais). Também se podem aplicar na via vaginal determinados dispositivos (como os pessários ou o preservativo feminino). VIAS DIRECTAS DE ADMINISTRAÇÃO DE MEDICAMENTOS. Designam-se vias directas de administração de medicamentos aquelas que fazem uso de agulhas para penetrar nos tecidos. Também se chamam vias parentéricas porque são alternativas à via oral (com a respectiva absorção entérica de medicamentos). A administração parenteral tem por objectivo geral a obtenção de efeitos mais rápidos, uma absorção mais completa e ultrapassar dificuldades na utilização da via oral (destruição do fármaco no tubo digestivo, vómitos, má-absorção, insconsciência, falta de cooperação do indivíduo a quam se administra o medicamento). No entanto, tem alguns inconvenientes: dor, necessidade de outra pessoa para administrar o medicamento (nem sempre) e assepsia. Deve-se usar material "descartável" e evitar sempre o contacto da nossa pele com material biológico (sangue, saliva ...) doutra pessoa. As vias directas que são utilizadas com mais frequência são as vias intra ou endovenosa (e.v.), intramuscular (i.m.) e subcutânea (s.c.). Via venosa, endovenosa ou intravenosa - O fármaco é introduzido na corrente sanguínea, ou seja, há "absorção" total e instantânea. Esta via permite obter efeitos rápidos, quase imediatos (é a via de utilização nas urgências!), controlar rigorosamente as doses, administrar substâncias irritantes para os tecidos sem causar dor ou irritação tecidular (no entanto, podem surgir tromboflebites) e administrar grandes quantidades de soluções aquosas - os chamados soros laboratoriais. Apresenta, no entanto, alguns perigos: não há possibilidade de retirar o fármaco após a sua administração; se a injecção fôr demasiado rápida pode surgir respiração superficial, queda da tensão arterial e paragem cardíaca; podem-se formar embolias (com soluções oleosas, emulsões, suspensões); lesões da parede da veia (tromboflebites); possibilidade de extravasão de um líquido irritante para os tecidos perivasculares, provocando necrose; infecções. Os locais utilizados para injecção intravenosa são as veias da "região do sangradouro" (flexura do cotovelo), nomeadamente na veia mediana cefálica, as veias do dorso das mãos ou dos pés, a veia jugular, a veia femural. Depois da desinfecção local, aplica-se um garrote (nos sítios onde é possível) e, após as veias se tornarem túrgidas, punciona-se a veia (primeiro pica-se a pele num trajecto paralelo à veia e só depois é que se perfura a parede da veia). Após aspiração, para verificar se a agulha está no lúmen da veia, retira-se o garrote e injecta-se lentamente o medicamento (salvo raras excepções). Para tornar as veias mais salientes às vezes é útil aplicar calor local sobre elas, ou dar pequenas palmadas sobre a região a utilizar ou fazer movimentos de flexão/extensão dos dedos (para as veias da flexura, já que os movimentos musculares "chamam" sangue que depois não sai devido ao garrote - aplicado com uma tensão situada entre a tensão arterial máxima e mínima). Na via endovenosa administram-se apenas soluções alcoólicas, hidroalcoólicas e, principalmente, soluções aquosas. Com as duas primeiras é necessário estar atento a eventuais reacções adversas, sobretudo pela depressão cardiovascular provocada pela injecção rápida. Via muscular ou intramuscular - A absorção é rápida (o medicamento facilmente penetra nos capilares do tecido muscular) e a injecção causa menos dor que pela via subcutânea (mas mais que pela via endovenosa). Utilizam-se os seguintes locais de injecção: região deltoideia, face anterolateral da coxa e quadrantes superiores e externos das nádegas (para evitar traumatizar o nervo ciático). Podem-se injectar soluções (aquosas, oleosas, alcoólicas), emulsões e suspensões, em volumes que não ultrapassam os 10 ml (variáveis consoante o volume da massa muscular). Uma boa técnica de administração aconselha: 1º - aspirar após a picada; 2º - injectar uma pequena quantidade de líquido; 3º - aspirar novamente (a agulha pode estar obstruída e, apesar de não surgir sangue na primeira aspiração, estar dentro dum vaso); 4ª - injectar o medicamento. Podem surgir alguns acidentes na utilização da via intramuscular: picada de vasos ou nervos, infecções, irritação e necrose de tecidos, embolias (má técnica!). Via subcutânea - O medicamento (solução aquosa, oleosa ou alcoólica, suspensão, emulsão) é injectado debaixo da derme, ficando na vizinhança dos capilares sanguíneos e linfáticos, que terá de atravessar para ser absorvido. É uma via mais dolorosa que a endovenosa ou intramuscular. Apesar disso, é muito utilizada pelos diabéticos para administrarem insulina. A velocidade de absorção é menor que pelas outras duas vias. Há algumas técnicas que aumentam a velocidade de absorção: - A massagem - O exercício físico - A aplicação local de calor Evidentemente que a aplicação local de frio, a adição de vaso-constrictores ou a aplicação dum garrote (quando possível) retardam a absorção. Os locais de injecção possíveis são a parede abdominal anterior, a região deltoideia, a face externa da coxa, os antebraços e o quadrante superoexternoda nádega. Os acidentes possíveis são a picada de vasos e nervos, infecções, irritação e necrose de tecidos (as soluções deveriam ser neutras e isotónicas para não causar irritação ou dor). Para usar esta via deve-se fazer uma prega com a pele e picar na base da prega (a agulha como que fica "solta" dentro da pele). Existem ainda outras vias directas de administração de fármacos que são usados com fins específicos, de diagnóstico ou tratamento: Via arterial ou intra-arterial - Utiliza-se para a injecção de substâncias opacas aos raios X, para visualizar o trajecto de artérias (arteriografias), de modo a diagnosticar uma trombose dum vaso, por exemplo. Também se usa para a terapêutica regional (como na administração dum vasodilatador para tratamento da isquémia dum membro - se se administrasse por via endovenosa faria uma vasodilatação geral). Via cardíaca ou intracardíaca - Pretende-se introduzir o medicamento directamente no coração, injectando-o através do tórax, junto ao apêndice. É utilizada em situações de paragem cardíaca. Via intrarraquídea, raquídea ou intratecal - A sua utilização destina-se à administração de substâncias que devem actuar no sistema nervoso central mas que não atravessam a barreira hematoencefálica (ou barreira formada pelas células endoteliais dos vasos do sistema nervoso central que ficam tão unidas que não podem ser atravessadas pelos fármacos), ou para a injecção de anestésicos locais (raquianestesia), ou substâncias de contraste (mielografia), ou para retirar líquido cefalorraquidiano para análise (para confirmar a existência duma meningite, por exemplo). É uma via utilizada em situações especiais e por pessoal especializado, já que envolve o risco de lesar o tecido nervoso. O local mais utilizado para atingir o espaço subaracnoideo (com líquido cefalorraquidiano) é abaixo da 3ª vértebra lombar (nos espaços entre a 3ª e a 4ª, ou, mais frequentemente, entre a 4ª e a 5ª vértebras lombares, ou entre a 5ª lombar e o osso sagrado). Via óssea ou medular - Pode ser usada nas crianças (tíbia e fémur) e adultos (esterno) como alternativa à via endovenosa. Podem administrar-se grandes volumes de soluções. Muitas vezes é usada para fins de diagnóstico de doenças hematológicas. Via articular ou intra-articular - É usada sobretudo em reumatologia, para administração de corticóides (infiltrações). Pretende-se introduzir o fármaco no espaço articular ou junto a tendões inflamados. Pelos problemas que causa (deterioração da articulação) deve ser utilizada com fins precisos e com precaução. Via peritoneal ou intraperitoneal - Nesta via a superfície de absorção é grande, fina e bem irrigada, pelo que os fármacos são rapidamente absorvidos - velocidade semelhante à da via endovenosa. Há o perigo de perfurar ansas intestinais, provocar aderências e sindromas suboclusivos ou oclusivos, ou infecção da cavidade peritoneal (peritonite). É usada para fazer diálise (peritoneal), para retirar líquido (de ascite) para diagnóstico, para descomprimir um abdomen ascítico que provoca dispneia (falta de ar), para injectar fármacos (principalmente em Farmacologia Experimental). O local utlizado para atingir a cavidade peritoneal situa-se cerca do ponto médio duma linha que une o umbigo à espinha ilíaca antero-superior, no lado esquerdo. Via pleural ou intrapleural - É usada para retirar ar da cavidade pleural, de modo a tratar o pneumotórax, ou líquido (por ex., a tuberculose da pleura num jovem provoca um derrame pleural). Também é usada para injectar fármacos na cavidade pleural, de modo a atingirem aí concentrações elevadas (citostáticos no mesotelioma, por exemplo), que doutro modo seria impossível atingir. Via intradérmica - Injecta-se o medicamento na espessura da própria pele (na derme). Para isto "estica-se" a pele e com uma agulha fina, quase paralela à pele, pica-se esta. Se a administração fôr bem feita, a injecção do líquido deve fazer uma pápula. Nesta via injectam-se décimas do mL. Após a descrição mais detalhada da absorção, incluindo o estudo das formas farmacêuticas e das vias de administração, abordaremos as outras fases da farmacocinética. II - Distribuição. Objectivos: Compreensão do significado de fármaco livre (ou não ligado) e fármaco ligado às proteínas, semivida de distribuição e de eliminação, compartimento, VD, Cmáx ou concentração de pico, Cmín ou concentração de vale, Tmáx, janela terapêutica, biodisponibilidade absoluta ou relativa, bioequivalência. Após a absorção o fármaco é distribuído pelo sangue aos tecidos. No sangue o fármaco liga-se aos elementos físicos que aí circulam, principalmente à albumina, que serve assim da proteína de transporte. Todavia, o fármaco ligado à albumina não actua nem é metabolizado e eliminado. Só a fracção livre ou não ligada é que pode actuar, ser matabolizada e eliminada. No entanto, há um equilíbrio constante entre as duas fracções (ligada e livre) e se existe uma doença que dificulte a fracção ligada (como a baixa da concentração de albumina no sangue (hipoalbuminémia)) ou outro fármaco que compita para a mesma ligação à proteina de transporte, aumenta a quantidade de forma livre, podendo aparecer sinais de toxicidade. O equilíbrio entre as duas fracções significa que a percentagem de ligada ou livre é constante; por exemplo, a difenilhidantoina tem uma ligação de 90% às proteinas plasmáticas de transporte, o que para uma concentração total de 20 mg/l significa que 18 mg/l estão na forma ligada e 2 mg/l na forma livre. À medida que o fármaco vai sendo metabolizado e eliminado, diminui a quantidade na forma livre e solta-se também fármaco da forma ligada, de forma a manter o equilíbrio ou percentagem constante; assim, para uma concentração de 2 mg/l, 1,8 mg/l estarão na forma ligada e 0,2 mg/l na forma livre. O fármaco vai desaparecendo progressivamente do sangue, por metabolização e eliminação. Ao tempo que o fármaco leva para reduzir para metade a sua concentração sanguínea chama-se semivida (t/2 ou t1/2). É uma característica fundamental dum fármaco: quanto maior for, mais tempo permanece no organismo. Não se deve confundir semi-vida com a duração de acção ou efeito do fármaco, que é o tempo de duração de efeito, podendo ser de várias semi-vidas. Um fármaco pode distribuir-se pelo sangue e por outros tecidos, atingindo neles uma cinética uniforme - por exemplo, a mesma concentração. Ao espaço por onde o fármaco se distribui de modo homogéneo chama-se compartimento. Se a substância tiver dois comportamentos cinéticos diferentes em dois espaços do organismo, dizemos que o fármaco se distribui por dois compartimentos. Às cinéticas diferentes corresponderão diferentes compartimentos. Em cada compartimento diferente o fármaco, por definição, tem uma cinética diferente; ou seja, em cada um tem uma semi- vida diferente, por exemplo. Ao compartimento para onde o fármaco é absorvido, por onde é rapidamente distribuido e de onde sai para ser metabolizado e eliminado, chamamos compartimento central (ou compartimento 1 ou alfa); o compartimento periférico (compartimento 2 ou beta) é representado pelos tecidos para onde o fármaco vai a partir do sangue ou líquido intersticial, desde que neles tenha um comportamento cinético diferente. Este último modelo a dois compartimentos representa o que se passa com a maioria dos fármacos (Figura 1). Entre cada compartimento o fármaco passa segundo constantes que definem a transferência desse fármaco (K12 e K21). A partir do compartimento central o fármaco é eliminado a uma determinada velocidade, segundo a constante Ke (ver adiante na secção Eliminação). FIG. 1. Modelo farmacocinético a dois compartimentos (V1 = volume de distribuiçãodo compartimento central ou compartimento 1 ou α; V2 = volume de distribuição do compartimento periférico ou compartimento 2 ou β). VD = V1 + V2 O volume do compartimento (modelo mono-compartimental), que mede o espaço por onde o fármaco se distribui de modo homogéneo, chama-se volume de distribuição, ou VD. Num modelo a dois compartimentos o V é a soma dos volumes de distribuição em cada compartimento (VD = V1 + V2). Um fármaco que tenha um VD de 5 L (ou 0,07 L.Kg-1 para uma pessoa de 70 Kg) não sai do sangue, já que este é o volume sanguíneo normal. Outro fármaco que tenha um VD de 140 L (ou 2 L.Kg-1 para uma pessoa de 70 Kg) distribui-se muito bem por todos os tecidos, atingindo mesmo locais de difícil acesso. De notar que neste último exemplo a pessoa tem 70 Kg de peso e um volume de distribuição de 140 L, o que significa que estes conceitos são obtidos a partir de raciocínios matemáticos, tendo em conta as condições em que se administra o fármaco, o que algumas vezes não tem tradução fisiológica linear [por exemplo, o VD é obtido dividindo a quantidade de fármaco no organismo no tempo t (Qt) pela sua concentração sanguínea nesse tempo t (Ct) (VD=Qt/Ct)]. Quando um fármaco é absorvido para a corrente sanguínea, distribui-se e começa a ser metabolizado e eliminado. Como a quantidade que chega inicialmente ao sangue é maior do que a que sai do mesmo, um fármaco atinge neste período uma concentração máxima (Cmax) ou pico de concentração (fig. 2); o tempo que demora a Ka K12 K21 Ke V1 V2 atingir o Cmax após a sua administração, ou tempo de latência para o Cmax, designa-se por Tmax (Fig. 2). Antes de nova administração de fármaco ao doente a concentração sanguínea desse fármaco atinge o valor mais baixo (concentração de vale ou Cmín). Este último conceito apenas é válido quando o fármaco de administra duma forma repetida – Fig 2. Fig. 2 Conc. Cmax plasmática (mg/l) Cmín (conc. de vale) Tmax Tempo (h) Administr do fárm. Nova administr. de fárm. Com o decorrer do tempo um fármaco distribui-se no sangue de duas maneiras distintas: numa primeira fase de modo rápido e numa segunda de modo lento (Figura 3). A primeira corresponde à distribuição pelo compartimento central ou compartimento 1 ou alfa; a segunda correlaciona-se com o compartimento periférico ou compartimento 2 ou beta. Em cada um a semi-vida do fármaco designa-se por T/2α e T/2β, respectivamente, e o volume de distribuição por V1 (ou VDα) e V2 (ou VDβ), respectivamente (ver figura 1). Quando não se faz menção ao tipo de volume de distribuição, subentende-se que é o VD total. Fase alfaConc. Plasmática (mg/l) Fase beta Fig. 3. Curva de concentrações plasmáticas ao longo do tempo após administração endovenosa dum fármaco. Ao longo do tempo a concentração sanguínea do fármaco vai diminuindo, tornando-se necessário para manter o efeito farmacológico administrar novamente o fármaco. Antes desta nova administração, a determinação das concentrações sanguíneas da maioria dos fármacos, quando estes são administrados de modo correcto, indica-nos se a quantidade prescrita de medicamento está correcta. Para isto comparamos o nível sanguíneo obtido com os existentes em tabelas que mostram os níveis sanguíneos que controlam a maioria dos doentes com a afecção em causa. Por exemplo, para a difenilhidantoína as concentrações sanguíneas situam-se entre 10 e 20 mg/L. No entanto, é fundamental que o doente tome os medicamentos conforme o prescrito e que a colheita de sangue seja feita correctamente. Este último aspecto é muitas vezes negligenciado, apesar de se compreender claramente que quando se colhe o sangue demasiado tarde, antes do doente tomar o medicamento, o nível sanguíneo será baixo, e que quando se colhe o sangue após a tomada do medicamento o seu nível sanguíneo será elevado. O não respeito por estes conceitos pode ter consequências sérias. Por exemplo, um doente toma 300 mg por dia de difenilhidantoina, ao pequeno-almoço, às 8 horas da manhã. Pedido o doseamente sanguíneo, o enfermeiro colheu sangue às 11 horas, não tendo o doente tomado ainda a difenilhidantoina. Neste sangue havia uma concentração de fármaco de 6 mg/l. Perante este resultado, e havendo ainda história de convulsões (a difenilhidantona é um antiepiléptico), o médico aumenta a dose diária, intoxicando então o doente. Outro exemplo com o doente anterior: o sangue também foi colhido às 11 horas mas o doente tomou os 300 mg de fármaco às 9 horas. Como havia um nível sanguíneo de 23 mg/l, o médico baixou a dose de difenilhidantoina, o que, como consequência, aumentou a frequência das crises convulsivas e surgiu nistagmo. Para um fármaco, ao intervalo entre a concentração mínima e máxima eficazes, ou conjunto de concentrações terapêuticas que controlam a maioria dos doentes sem Tempo (h) reacções adversas inaceitáveis, chama-se margem terapêutica ou janela terapêutica. Para muitos fármacos existem publicadas as suas margens terapêuticas, obtidas após cuidados estudos de Farmacologia Clínica. De certo modo relacionado com estes conceitos existe a biodisponibilidade absoluta dum fármaco, que traduz a razão entre as quantidades desse fármaco existentes no sangue após a sua absorção por uma determinada via de administração e a quantidade de fármaco existente no sangue após a sua administração endovenosa (100 % de absorção). Deste conceito inferem-se dois factos: primeiro, têm de se realizar colheitas de sangue ao longo do tempo para aí se dosear o fármaco em questão; segundo, o fármaco tem de ser hidrossolúvel para se administrar por via endovenosa. Esta última necessidade tem como consequência que para alguns fármacos não se pode ter uma informação correcta da sua biodisponibilidade absoluta. A quantidade de fármaco no sangue é traduzida pela área sob a curva (Area Under Curve: AUC) das concentrações sanguíneas versus o tempo durante o qual se fizeram as colheitas de sangue. Deste modo, a biodisponibilidade absoluta (ou "F") é a razão de AUC(após admin. por certa via) / AUC(após admin. e.v.), o que significa também a percentagem de absorção do fármaco (se aquela razão é multiplicada por 100) (Fig. 4). Fig. 4. Curvas das concentrações plasmáticas versus tempo para o mesmo fármaco administrado por via oral (B) ou por via endovenosa (A). Biodisponibilidade absoluta = AUCA / AUCB Conc. sanguínea (mg/l) T (h) B A Outro tipo de biodisponibilidade é a biodisponibilidade relativa ou bioequivalência. Significa que as quantidades no sangue dum fármaco proveniente de laboratórios diversos da indústria farmacêutica (por exemplo, duas especialidades farmacêuticas similares), e administrado nas mesmas condições (a mesma dose, a mesma forma farmacêutica, à mesma hora do dia...) a indivíduos com as mesmas características, não diferem de um modo estatisticamente significativo. Este conceito define a bioequivalência, já que existe também a equivalência farmacêutica (nas duas especialidades farmacêuticas existe o mesmo fármaco e nas mesmas doses) e a equivalência terapêutica (as duas especialidades farmacêuticas administradas nas mesmas condições a grupos de doentes com as mesmas características originaram efeitos terapêuticos estatisticamente similares). Esta última é testada através de ensaios clínicos. Para se dizer que duas especialidades farmacêuticas são bioequivalentes não poderá haver diferença estatisticamente significativa entre as suas AUCs e Cmax (já poderá haver maior variação para o Tmax). A EMEA e a FDA consideram que os intervalos de confiança a 90% para as razões dos valores
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