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Farmacologia Geral I

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FARMACOLOGIA
1ª PARTE: FARMACOLOGIA GERAL
 CAPÍTULO 1 - GENERALIDADES. 
Objectivos: 1. Estabelecer o conceito de Farmacologia, Farmacologia Clínica, Toxicologia, 
Terapêutica, fármaco, tóxico, medicamento, manipulação galénica. 2. Eficácia, efectividade, segurança, 
conveniência e custo dum medicamento. 3. Caracterizar o nome genérico e o medicamento "genérico". 4. 
Informar sobre as estruturas que regulamentam os medicamentos em Portugal e na União Europeia. 5. 
Significado de Formulários, Farmacopeias, Simpósio Terapêutico, Índice Nacional Terapêutico, 
Prontuário Terapêutico. 6. Definir diferentes tipos de medicamentos - MSRM e MNSRM, especialidades 
farmacêuticas, medicamentos oficinais e magistrais.
FARMACOLOGIA é a ciência que estuda os fármacos. Este estudo é feito 
desde o computador (por exemplo, modulação da substância química e seu 
comportamento perante os seus locais de ligação e acção), até aos estudos físico-
químicos in vitro e aos estudos in vivo. Assim, a Farmacologia estuda as acções e os 
efeitos das substâncias químicas em membranas, organelos, células, tecidos, orgãos e 
aparelhos ou sistemas, quer se tratem de substâncias nocivas ou benéficas. Como estas 
acções e efeitos pressupõem que o fármaco chegue ao seu local de acção (chamado de 
biofase), a Farmacologia também estuda o trajecto dos fármacos no organismo (ou seja, 
a Farmacocinética). Em suma, a Farmacologia estuda geralmente o trajecto e as acções 
e efeitos de substâncias (fármacos) em materiais biológicos. Como se deduz desta 
definição o seu campo de acção é muito vasto e engloba conhecimentos de quase todas 
as ciências. Desdobrou-se em outras ciências, como a Toxicologia. 
Da definição de Farmacologia deduz-se o conceito de fármaco: é uma 
substância química, seja maioritariamente nociva (tóxico) ou benéfica (medicamento) 
para um organismo vivo. No entanto, é de realçar que um medicamento não tem apenas 
aspectos positivos, havendo de considerar por vezes o surgimento de efeitos que não 
pretendemos e que podem prejudicar o tratamento. Para qualquer medicamento é 
necessário pensar sempre na eficácia e na segurança, ou seja na relação benefício / 
risco. Assim, tóxico é uma substância que tem sempre uma relação benefício/risco 
desfavorável,enquanto que medicamento tem esta relação favorável. Para além destes 
aspectos o medicamento também tem de ser avaliado em termos de conveniência (por 
exemplo, a um doente com diarreia não se deve prescrever um supositório e quando se 
administra um medicamento devemos ter em conta as possíveis interacções) e de custo 
(seja para o Estado, para a Sociedade ou para o doente). Um aspecto relacionado com a 
eficácia é a efectividade. Enquanto que a eficácia é avaliada em condições 
experimentais protocoladas (por exemplo, com um ensaio clínico aleatorizado e 
controlado), a efectividade é testada nas condições da prática clínica (com doentes com 
várias patologias e eventualmente polimedicados); os ensaios clínicos que avaliam a 
efectividade chama-se de pregmáticos.
A Farmacologia estuda os fármacos nos animais e no homem. Neste último caso 
chama-se Farmacologia Clínica, que nos últimos anos se desenvolveu e constituiu em 
especialidade médica. Não se deve confundir com Terapêutica, a qual estuda o modo 
de tratar as doenças, quer usando substâncias medicamentosas ou não medicamentosas 
(agentes físicos, exercício, dietas, etc). Terapêutica é a arte de tratar um indivíduo com 
uma determinada doença. Quanto a este último aspecto, o tratamento dum doente pode 
beneficiar muito da relação do doente com a equipa de saúde, desde o médico (a relação 
médico / doente é fundamental!), o enfermeiro e mesmo o pessoal administrativo.
Um fármaco começa por ser testado em fragmentos de células, células, tecidos, 
órgãos e animais inteiros (Farmacologia pré-clínica) e se fôr considerado útil para um 
determinado fim será então estudado na espécie humana. Este último estudo, que 
constitui o objectivo da Farmacologia Clínica, é feito em quatro fases:
1ª Fase ou Fase I: Estudo do fármaco num número restrito de voluntários. 
Procura-se sabera farmacocinética e as acções e efeitos do fármaco na nossa espécie. É 
a primeira vez que o fármaco entra em contacto com a espécie humana. Geralmente é 
feita em voluntários saudáveis, procurando-se estudar a influência do organismo sobre o 
fármaco e do fármaco sobre as funções biológicas. Em alguns casos, quando o fármaco 
tem um mecanismo de acção que previsivelmente pode prejudicar um indivíduo são, o 
fármaco também pode ser estudado nesta fase num número restrito de doentes (e.g., um 
fármaco citotóxico com a indicação clínica de tratamento de um tumor maligno). 
2ª Fase ou Fase II: O fármaco já será estudado num número pequeno de doentes 
(poucas dezenas) que apresentem a doença para a qual o fármaco estará indicado. 
Procura-se estabelecer eficácia e segurança, para além da farmacocinética na população 
doente de interesse. Define-se a dose a utilizar em clínica, ou pelo menos nos ensaios 
clínicos, a partir de ensaios clínicos com doses crescentes (estudos de dose-resposta). 
Nesta segunda fase o fármaco é testado num único centro clínico que está preparado 
para isso. Se o fármaco evidenciar uma relação eficácia/segurança favorável passa à 3ª 
fase.
3ª Fase ou Fase III: O medicamento será estudado num número alargado de 
doentes (que pode chegar a alguns milhares), de modo a se estabelecer com maior 
significado a eficácia e a segurança (de notar que as reacções adversas menos frequentes 
só surgem quando o número de doentes estudados é elevado). São geralmente ensaios 
multicêntricos. Após a conclusão dos estudos ou ensaios clínicos de fase III, se houver 
uma relação benefício / risco favorável o promotor pode apresentar a documentação dos 
estudos feitos (químicos ou farmacêuticos, fármaco-toxicológicos (ou pré-clínicos) e 
clínicos) à entidade ou agência regulamentar, que os avalia no sentido de conceder uma 
A.I.M. (autorização de introdução no mercado). Se tal acontecer, o medicamento passa à 
fase seguinte ou fase IV.
4ª Fase ou Fase IV: O medicamento já foi introduzido no mercado e, por isso, 
nesta fase realizam-se estudos de segurança e de efectividade (estudos pragmáticos, por 
exemplo), para além de se quantificarem outros aspectos relacionados com o 
medicamento como, por exemplo, a sua influência na qualidade de vida (para se 
fazerem, por exemplo, estudos de custo / utilidade). De notar que qualquer 
medicamento no mercado deve continuar a ser observado de modo a se detectarem as 
reacções adversas menos frequentes ou a se quantificarem correctamente as já descritas. 
Ou seja, qualquer medicamento no mercado deve estar sujeito à Farmacovigilância (ver 
à frente).
Quando um fármaco é usado em doses terapêuticas, além do seu efeito 
medicamentoso desejável ou clinicamente indicado (efeito principal), tem efeitos que 
não se pretendem (reacções adversas). Estes últimos podem resultar do próprio 
mecanismo de acção do fármaco (efeitos previsíveis) ou serem imprevisíveis (efeitos 
idiossincrásicos ou alérgicos). Algumas vezes também se chamam às reacções adversas 
efeitos secundários, embora em sentido estricto estes serão os efeitos laterais. No 
entanto, ao longo deste texto tomaremos como sinónimo efeitos secundários e reacções 
adversas. Evidentemente que nem todos os doentes serão vítimas de reacções adversas e 
a sua aceitação depende da gravidade da doença a tratar, ou seja, haverá sempre de se 
fazer um balanço entre os benefícios e os riscos da utilização dum fármaco (por 
exemplo, um fármaco para tratar uma hipertensão arterial ligeira terá de evidenciar 
muito poucas reacçõesadversas, ao contrário dum fármaco para tratar uma afecção 
rapidamente letal). A este propósito, mesmo um placebo (substância sem acções 
farmacológicas, inerte) poderá desencadear reacções adversas, na maioria das vezes por 
efeitos psicológicos (efeito nocebo). Também convém distinguir entre efeito adverso e 
reacção adversa: o primeiro surge durante ou após a administração do medicamento e 
não pressupõe a obrigatoriedade causal com o medicamento, enquanto que a reacção 
adversa tem relação com a administração do medicamento (embora possa ter uma 
relação causal de possível a certa ou definitiva).
A ciência que estuda os efeitos tóxicos dos medicamentos (em doses 
supraterapêuticas) e os tóxicos (substâncias nocivas ou com relação benefício/risco 
desfavorável) é a Toxicologia. Num sentido mais amplo, não consensual, a Toxicologia 
também pode abranger o estudo das reacções adversas.
Uma ciência bastante relacionada com a Farmacologia é a Farmácia. O seu 
objectivo será estudar o fármaco, principalmente nas suas vertentes de preparação e 
armazenamento. No entanto, também estuda os outros aspectos do fármaco, como as 
suas propriedades farmacocinéticas e farmacodinâmicas, sendo actualmente as suas 
fronteiras pouco nítidas. Em sentido restrito pode-se afirmar que estuda a qualidade dos 
medicamentos.
Para que um fármaco exerça os seus efeitos é necessário que seja fabricado, 
armazenado e administrado ao doente. Na maioria das vezes o fármaco constitui uma 
pequena parte da forma farmacêutica (aspecto do medicamento quando se dá ao 
doente - comprimido, supositório, suspensão, creme, etc) e são necessárias outras 
substâncias (adjuvantes, emolientes, edulcorantes, corantes, conservantes e, 
principalmente, excipientes) para dar forma e consistência ao medicamento. A ciência 
que estuda as formas farmacêuticas é a Farmácia Galénica. Constitui uma etapa 
fundamental para o êxito dum tratamento, já que uma forma farmacêutica tem de se 
desagregar em condições óptimas no seu local de absorção - por exemplo, se um 
comprimido for muito duro será defecado na sua maior percentagem. Outro exemplo da 
importância da manipulação galénica é a obtenção de formas farmacêuticas com 
absorção prolongada, controlada ou “retardada” ("retard"). Neste caso, juntam-se 
determinados adjuvantes e/ou excipientes, ou inclui-se o fármaco numa matriz ou 
forma, que tornam a absorção constante e demorada.
Após a absorção, o fármaco é distribuído pelo sangue aos tecidos, onde é 
metabolizado e transformado numa substância mais hidrossolúvel com o objectivo de 
ser eliminado, geralmente por via renal. De notar que durante a absorção (por exemplo, 
na parede do tubo digestivo) ou a distribuição (por exemplo, no sangue) o fármaco já 
pode ser metabolizado. 
O estudo da absorção, distribuição, metabolização e eliminação (sistema 
ADME) dum fármaco constitui a Farmacocinética. Ou seja, estuda o trajecto do 
fármaco no organismo ou como este actua sobre o fármaco. O estudo destas 
propriedades (farmacocinética) tem por objectivo a obtenção de concentrações eficazes 
dum fármaco no seu local de acção (biofase). O estudo das acções e efeitos dum 
fármaco, ou o que o fármaco faz ao organismo, constitui a Farmacodinamia. 
NOMES DOS FÁRMACOS. "GENÉRICOS".
Um fármaco tem um nome químico, que identifica correctamente a substância 
do ponto de vista químico. Por exemplo, 7-cloro-1,3-dihidro-1-metil-5-fenil-2H-1,4-
benzodiazepina-2-ona. É um nome demasiado complexo e, por isso, a comunidade 
científica simplifica-o, tornando-a facilmente transmissível como mensagem. Esta 
simplificação é feita utilizando apenas algumas letras e/ou sílabas do nome químico. No 
exemplo acima citado essa escolha resultou no nome "diazepan" (ou escrito em 
português: "diazepam") (7-cloro-1,3-dihidro-1-metil-5-fenil-2H-1,4-benzodiazepina-2-
ona). A este nome simplificado chamamos nome comum ou genérico, que, sendo 
reconhecido pela Organização Mundial de Saúde, é o nome conhecido em qualquer país 
(passa a designar-se “Denominação Comum Internacional” ou DCI). No entanto, a 
maioria dos medicamentos que conhecemos tem outro nome que é o nome de fantasia 
escolhido pelo laboratório que comercializa o medicamento: nome comercial. Este 
último fica registado como propriedade industrial ou comercial e não pode ser usado por 
mais nenhum laboratório. No exemplo, acima citado um dos nomes comerciais é 
"Valium". Habitualmente escreve-se o nome comercial seguido dum asterisco ou ®: 
Valium* ou Valium®. Todavia, para o diazepam existem outros nomes comerciais - 
Bialzepam®, Metamidol®, Stesolid®, Unisedil®. Como o fármaco original é o 
diazepam da Roche (Valium®), chamamos a estes últimos similares ou cópias. 
Actualmente não existe limite para a introdução de similares no mercado - alguns 
fármacos chegam a ter 71 similares! Os medicamentos fabricados de um modo 
industrial por laboratórios da indústria farmacêutica chamam-se especialidades 
farmacêuticas: os cinco nomes citados para o diazepam são cinco especialidades 
farmacêuticas.
Em Portugal, à semelhança do que acontece no resto do mundo, um fármaco tem 
uma protecção da sua patente como produto industrial durante bastante anos (15 – 20 
anos, dependendo da duração até à sua introdução no mercado), findo os quais qualquer 
laboratório com capacidade para isso poderá fazer esse mesmo fármaco, que será 
comercializado com o nome comum ou genérico (ou DCI). Devido a este último facto 
estes fármacos chamam-se genéricos. Um "genérico" poderá ser fabricado e 
comercializado por várias empresas, podendo diferir no aspecto que o medicamento 
tem. Daqui resulta como aconselhável que se deve fornecer sempre o genérico da 
mesma empresa farmacêutica para não confundir o doente (ou até a Sociedade se 
habituar à possibilidade de troca de especialidades farmacêuticas). Como não precisam 
da experimentação necessária à introdução dos novos fármacos (estudos fármaco-
toxicológicos e clínicos), os "genéricos" têm um preço mais baixo, o que é bastante útil, 
desde que se tenha a certeza da sua qualidade. Esta qualidade deve ser entendida em 
duas vertentes: qualidade farmacêutica (propriedades físico-químicas do medicamento, 
desde a sua composição em princípios activos e excipientes, estabilidade, desagragação, 
dissolução, etc) e qualidade biofarmacêutica ou bioequivalência. A este propósito, 
actualmente a lei portuguesa pode obrigar o proprietário dum genérico a fazer estudos 
de bioequivalência (ver adiante o que significa), o que não acontece com os 
medicamentos similares ou cópias! De um modo sistemático o INFARMED tem exigido 
estudos de bioequivalência para os genéricos (têm de demonstrar que a extensão e a 
velocidade de absorção são iguais às do produto de referência, que é o medicamento 
original ou inovador). 
Um genérico tem sempre uma empresa responsável pela sua produção e 
distribuição, sendo ainda responsável pela eficácia e segurança do seu produto.
Um genérico deve ser prescrito pela DCI, não sendo obrigatória a menção do 
nome do laboratório farmacêutico.
De notar que a partir de 1996 Portugal passou a reconhecer as patentes de 
existência dos medicamentos (até aí apenas reconhecia as patentes de fabrico), o que 
significa que os medicamentos novos autorizados a partir daquele ano só podem ter os 
similares ou cópias que o laboratório farmacêutico autorizar (neste caso são co-
comercializações).
ESTRUTURAS QUE REGULAMENTAM OS MEDICAMENTOS.
Em Portugal a estrutura que regulamenta aintrodução e a manutenção dos 
medicamentos no mercado português é o Instituto Nacional da Farmácia e do 
Medicamento (INFARMED), localizado em Lisboa, no Parque de Saúde. A nível da 
União Europeia a estrutura que regulamenta os medicamentos é a Agência Europeia do 
Medicamento (EMEA), localizada em Londres. Evidentemente que esta agência está em 
contacto permanente com as estruturas dos países membros, incluindo peritos dos 
diversos países (das agências nacionais do medicamento). A EMEA está subdividida em 
diversas secções, uma das quais autoriza as especialidades farmacêuticas novas (CPMP 
– “Committee for Proprietary Medicinal Products”). Num futuro próximo esta agência 
poderá introduzir todos os novos medicamentos a nível da União Europeia.
Um medicamento novo para ser introduzido no mercado tem de apresentar na 
Agência Regulamentar (INFARMED ou EMEA) um pedido de Autorização de 
Introdução no Mercado (A.I.M.), que reúne toda a documentação sobre o medicamento 
(partes farmacêutica, farmacotoxicológica e clínica). Estes documentos incluem um 
resumo de todas as características do medicamento (Resumo das Características o 
Medicamento - RCM), que deverá ser apresentado ao médico ou ao farmacêutico 
quando o medicamento fôr lançado no mercado e em todas as ocasiões em que 
apresenta o seu medicamento a estes profissionais de saúde. Acresce que cada 
embalagem de medicamento deve ser acompanhada de um folheto informativo (FI), 
antigamente chamado de "bula", que serve para informar o doente das características 
fundamentais do medicamento. Também o contentor e a caixa devem estar bem 
caracterizados. As partes que devem constituir o RCM, o FI, a cartonagem e a 
rotulagem estão publicadas em legislação própria.
A AIM que citámos é a necessária para os medicamentos novos (originais). Para 
as cópias ou similares dos medicamentos que já existem basta apresentar a 
documentação farmacêutica e fazer um processo bibliográfico (com citações da 
literatura); para os genéricos o processo é ligeiramente diferente, já que a comissão de 
avaliação de medicamentos (CAM) do INFARMED pode julgar necessário exigir 
estudos de bioequivalência (ver à frente). De notar, que a partir de 1996 Portugal 
reconhece a patente do registo do medicamento (até então só reconhecia a patente de 
fabrico), o que significa que a partir desse ano só poderão existir as cópias que o 
laboratório da indústria farmacêutica deixar (se forem lançadas ao mesmo tempo serão 
AIMs de co-comercialização). Para completar estas referências aos diversos tipos de 
AIM, existem ainda os processos centralizados (estudados e reconhecidos a nível da 
EMEA e que tornam a sua aprovação extensível e obrigatória em todos os países 
membros da União Europeia) e os processos por reconhecimento mútuo (RM) (após o 
medicamento ter sido aprovado num país membro da União Europeia - país de 
referência em que o medicamento foi aprovado por processo nacional - o laboratório 
requerente apresenta na EMEA os estudos e o requerimento para os países membros da 
União Europeia em que pretende ver aprovada a AIM, sempre com o controlo da 
EMEA; o país de referência deve elaborar um relatório sobre o medicamento, tendo por 
base a documentação entregue. No processo de RM um país da União Europeia pode 
recusar conceder a AIM, apresentado as suas razões; se o requerente insistir na obtenção 
de AIM para este país terá de haver arbitragem das estruturas de governo em Bruxelas.
Os medicamentos têm ainda de renovar a sua licença de 5 em 5 anos (renovação 
de AIM). Todavia, se acontecer alguma reacção adversa grave, em qualidade ou 
quantidade, o medicamento também poderá ser suspenso do mercado pelo INFARMED 
(sob a supervisão da EMEA).
Nem todos os medicamentos estão sujeitos à obrigatoriedade da receita médica 
para serem vendidos na farmácia (em Portugal os medicamentos só podem ser vendidos 
na farmácia). Os medicamentos mais seguros e que se destinem à automedicação 
poderão ser autorizados pelo INFARMED a serem vendidos sem receita médica 
(medicamento não sujeito a receita médica - MNSRM -, antigamente chamado de 
medicamento de venda livre - MVL - ou de medicamento OTC ("over-the-counter") nos 
países anglo-saxónicos). Os detentores destes medicamentos podem fazer publicidade 
ao público - cumprindo as regras publicadas em lei -, o que já não acontece com os 
medicamentos sujeitos a receita médica (MSRM), que só podem fazer publicidade 
directa junto do médico e farmacêutico. Infelizmente, têm surgido diversos modos de 
publicidade indirecta, o que serve para "pressionar" o médico...
As situações clínicas passíveis de automedicação são as reconhecidas pelas 
associações internacionais de médicos. 
Quadro 1. Tipos de Autorização de Introdução no Mercado (AIM)
Processo Nacional
Completo (com documentação sobre estudos farmacêuticos, fármaco-
toxicológicos e clínicos)
Bibliográfico (com documentação farmacêutica e relatório de perito com 
referências da literatura)
Para “Genéricos” (com documentação farmacêutica, relatório e estudo de 
bioequivalência)
Processo por Reconhecimento Mútuo
Processo nacional è reconhecido por outros países da União Europeia. Pode ser 
extensível a qualquer medicamento, incluindo os genéricos.
Processo Centralizado
Análise dos estudos por peritos designados pela EMEA e aprovado na EMEA. 
Se aprovado, este medicamento é obrigatoriamente introduzido em todos os países da 
União Europeia (RCM, FI, embalagem e rótulo aprovados por processo centralizado)
Questões para estudo: 
- Qual é o âmbito da Farmacologia, da Terapêutica e da Toxicologia?
Os efeitos secundários são previsíveis?
Qual é a diferença entre o efeito dum tóxico e o efeito tóxico dum medicamento?
Quais são as vantagens e desvantagens do uso do nome genérico?
Quais são as diferenças entre farmacocinética e farmacodinamia? Qual a sua importância 
para a utilização clínica dum fármaco?
O INFARMED é dependente da Agência Europeia do Medicamento?
Os medicamentos não sujeitos a receita médica têm a mesma relação benefício/risco dos 
medicamentos sujeitos a receita médica?
Quais são as vantagens e desvantagens dum formulário? E da Farmacopeia?
Os “genéricos” têm mais inconvenientes do que os medicamentos de marca?
Temporalmente a Farmacocinética é antes ou depois da Farmacodinamia?
Qual é a diferença entre efeito farmacológico e efeito terapêutico?
Conceitos a reter:
Um medicamento caracteriza-se pela eficácia, segurança, conveniência e custo.
A efectividade é a eficácia nas condições da prática clínica.
A indicação clínica constitui o efeito principal que pode ser efeito secundário se o 
medicamento for usado noutra indicação clínica.
As reacções adversas podem ser previsíveis (do tipo A).
Os estudos de Fase III ainda são limitados para o conhecimento do medicamento.
Os medicamentos têm um nome químico, genérico (DCI) e comercial.
Os “genéricos” são medicamentos geralmente com estudos de bioequivalência.
Os medicamentos podem ter AIM por processo nacional, de reconhecimento mútuo ou 
centralizado.
O MNSRM pode ter publicidade regulamentada junto do público.
 CAPÍTULO 2 - FARMACOCINÉTICA. 
Para que um medicamento actue é necessário que atinja concentrações eficazes 
no seu local de acção, que, de um modo geral, é longe do ponto de aplicação do 
fármaco, ou seja, tem de ser absorvido e distribuído pelo sangue aos tecidos onde vai 
actuar. Entretanto, vai sendo metabolizado e eliminado. À absorção, distribuição, 
metabolização e eliminação (sistema ADME) dos fármacos chama-se farmacocinética. 
Assim, um fármaco tem de possuir características farmacocinéticas adequadaspara que 
tenha efeitos terapêuticos.
I - Absorção.
Objectivos: 1. Caracterizar a absorção de fármacos. 2. Conhecer as Farmacopeias, os Formulários de 
Medicamentos, o Prontuário Terapêutico, o Simpósio Terapêutico, o Índice Nacional Terapêutico, o Guia 
dos Genéricos, o Guia dos Preços de Referência. 3. Identificar as diversas formas farmacêuticas. 4. 
Descrever as vias de administração de medicamentos, com as vantagens e desvantagens de cada uma, 
bem como as formas farmacêuticas que se podem aplicar em cada uma.
A absorção é função das características físico-químicas do fármaco e da forma 
farmacêutica, incluindo nesta o excipiente e os adjuvantes. O local mais utilizado para a 
absorção é a mucosa intestinal, mas outras mucosas e a pele também podem ser usadas. 
Se aplicarmos o medicamento na própria corrente sanguínea a absorção é total (100%). 
Quando o fármaco tem de atravessar uma membrana, que é uma bicamada 
lipídica com proteínas "semeadas", tem de obedecer a determinadas condicionantes: se 
o fármaco fôr lipossolúvel, atravessa-a facilmente, embebendo-se nos próprios lípidos 
(porém, se for demasiado lipossolúvel não sai da membrana...); se o fármaco for 
hidrossolúvel, tem de utilizar as proteínas da membrana (transportadores, enzimas ou 
bombas, e canais). Daqui resulta três tipos fundamentais de transporte através de 
membranas:
Transportador Consumo de Saturável Dum local de 
ou outra energia menor para um de 
proteina* (ATP, p.ex.) maior conc. da 
subst. transportada
--------------------------------------------------------------------------------------------------------
Transporte activo SIM SIM SIM SIM
Difusão facilitada SIM NÃO SIM NÃO
Difusão simples NÃO NÃO NÃO NÃO
* Os canais para iões na difusão simples são constituídos por proteínas.
 Quando se utiliza uma proteína para transporte há selectividade desse 
transportador ou “carrier” para a substância a transportar (na difusão facilitada e no 
transporte activo). O transporte activo pode ainda ser primário (com consumo directo de 
ATP, como, por exemplo na bomba de Na+ e K+, na bomba de protões e na bomba de 
Ca++) ou secundário (aproveitando o gradiente electroquímico do Na+, que, assim, 
necessita de sair da célula pela bomba de Na+ e K+ que consome ATP).
 Os fármacos são transportados principalmente por difusão simples, através dos 
lípidos da membrana (são moléculas pequenas e lipossolúveis). Um número reduzido de 
fármacos, hidrossolúveis, são transportados por difusão facilitada e transporte activo.
As substâncias não ionizadas são lipossolúveis (as ionizadas são hidrossolúveis). 
A ionização depende do pKa da substância e do pH do meio (por exemplo, uma base 
ioniza no meio ácido do estômago, tal não acontecendo com os ácidos).
Existem ainda outros tipos de absorção, como a filtração (devido á diferença de 
pressão de um e do outro lado da membrana), a osmose (passagem de moléculas através 
de uma membrana semipermeável, de modo a igualar o número de moléculas de um e 
do outro lado da emembrana) e a pinocitose (a pinocitose e a fagocitose representam a 
endocitose, enquanto que o “despejar” do conteúdo de vesículas para o meio 
extracelular define a exocitose), mas que são bastante menos importantes. No entanto, a 
pinocitose é praticamente o único mecanismo para transporte de proteínas através duma 
membrana. Consiste na abertura de uma concavidade na membrana que engloba a 
substância a transportar. Esta, incluída em vesículas, pode então atravessar a célula, ou 
ser digerida pela célula desde que entre em contacto com as enzimas dos lisossomas ou 
peroxissomas.
A absorção depende ainda do estado fisiológico da pele e das mucosas (íntegras 
ou lesadas) e da presença de outros elementos (por exemplo, os alimentos podem 
interferir na absorção gastrointestinal de alguns fármacos).
Relacionado com esta fase farmacocinética iremos abordar as formas 
farmacêuticas e as vias de administração de medicamentos, já que as duas se 
condicionam mutuamente.
FORMAS FARMACÊUTICAS.
Para que um fármaco actue é necessário que atinja os locais de acção e para isso 
é preciso que seja absorvido, o que está dependente da forma farmacêutica e das suas 
propriedades galénicas. O que é então uma forma farmacêutica? É o aspecto ou forma 
que o medicamento tem quando se dispensa ao doente (comprimido, supositório, 
suspensão, creme, pomada, etc).
Podem ter fabrico industrial, chamando-se especialidades farmacêuticas e 
identificando-se por um nome comercial que é propriedade da firma que as produz, ou 
serem feitas na farmácia ("oficina"), seguindo as instruções da Farmacopeia 
Portuguesa (livro "oficial", elaborado por uma comissão de peritos, onde para os 
medicamentos elaborados numa determinada área - neste caso Portugal - consta a 
composição e a natureza ou origem, o modo de fabrico e conservação) - formas 
oficinais - , ou seguindo as instruções do médico que prescreveu o medicamento. Neste 
último caso chamam-se formas magistrais (feitas segundo receita do tipo magistral, ou 
do médico ou "magister"). Não existe apenas uma Farmacopeia; determinadas 
associações de países - como a União Europeia - possuem a sua Farmacopeia, e até a 
Organização Mundial de Saúde possui a sua, de modo a permitir a países pobres ou 
menos evoluídos o seu uso. Cada farmácia portuguesa deve por lei possuir um exemplar 
da Farmacopeia Portuguesa - está em vigor a edição actualizada de 1988.
Não se pode confundir Farmacopeia com Formulário. Este é um livro onde 
constam os medicamentos considerados úteis para uma determinada população por uma 
comissão de personalidades conhecidas, sendo actualizado com bastante frequência. 
Pode ainda incluir conceitos sumários sobre terapêutica e/ou normas de tratamento. De 
notar que qualquer médico deve ir formando o seu próprio formulário, corregindo-o 
consoante as circunstâncias e as oportunidades. Em Portugal existe publicado o 
Formulário Nacional Hospitalar, com actualizações periódicas, o que obriga os médicos 
hospitalares a prescreverem os medicamentos aí descritos, Quando o não fazem - 
prescrições extraformulário - têm de justificar cientificamente o seu procedimento. 
Tenta-se actualmente fazer um formulário para a Medicina Familiar / Clínica Geral, 
com funções apenas orientadoras (já existe o chamado Formulário Europeu). Outro 
livro bastante usado pelos médicos é o Simpósio Terapêutico, com actualizações 
anuais. Nele constam as descrições das especialidades farmacêuticas (composição, 
indicações, posologia, contraindicações, precauções, reacções adversas, formas de 
apresentação), que estão citadas por ordem alfabética. Também produzido por uma 
empresa comercial (tal como o simpósio) existe ainda o Índice Nacional Terapêutico, 
que tem as especialidades farmacêuticas por grupos farmacoterapêuticos, havendo a 
descrição mais detalhada (como no simpósio) apenas para algumas especialidades 
farmacêuticas. O Índice é fornecido gratuitamente. Existem actualmente edições 
electrónicas do Simpósio e do Índice.
Existe ainda o chamado Prontuário Terapêutico, que é um livro em que estão 
descritas as especialidades farmacêuticas e onde se tecem considerações acerca das suas 
características e utilidade clínica. É feito por uma comissão de peritos, convidados pelo 
INFARMED, e sujeito a revisões periódicas. É actualmente um dos meios mais úteis 
para se avaliar da relevância clínica dos medicamentos existentes no nosso mercado. 
Existe também em edição electrónica e num futuro próximo estará disponível na 
Internet.
As formas farmacêuticas destinam-se a uso tópico(quando não se tem por 
objectivo um efeito que implique a sua absorção) ou a uso sistémico (quando o 
medicamento é absorvido e distribuído pelo sangue aos seus locais de acção). No 
entanto, é necessário chamar a atenção para o facto de, apesar de muitos medicamentos 
se destinarem a uso tópico, uma determinada percentagem poderá ser absorvida e 
provocar reacções adversas, principalmente quando se aplicam em pele ou mucosas 
lesadas (exemplo do anestésico local lidocaína que aplicado sobre a pele queimada pode 
ser absorvido e provocar depressão cardio-vascular, nomeadamente em crianças) ou 
quando se utilizam determinados excipientes ou se faz penso oclusivo (por exemplo, um 
fármaco aplicado nas nádegas duma criança a que se veste depois uma “calça plástica” 
pode ser absorvido, já que a pele não liberta normalmente o seu transpirado e a tensão 
de vapor como que "afasta" as células, ajudando o fármaco a penetrar).
A manipulação galénica (modo de preparar as formas farmacêuticas) é uma 
etapa fundamental para o êxito dum tratamento: consoante o fármaco e a via de 
administração escolhe-se a forma farmacêutica, e, consequentemente, o tipo de 
excipiente (e de adjuvantes, aglutinantes, correctivos, corantes, etc.). Tudo isto, bem 
como o tipo de compressão dos componentes, influi decisivamente no grau de dispersão 
e absorção do fármaco. Estão neste caso as chamadas formas de absorção prolongada ou 
retardada (ou formas "retard"), que resultam da adição de determinados excipientes ou 
da inclusão do fármaco numa certa matriz, o que demora a absorção, mantendo-se 
níveis sanguíneos eficazes de fármaco durante mais tempo.
As formas farmacêuticas classificam-se habitualmente, segundo o seu estado 
físico, em formas sólidas, semi-sólidas, líquidas e gasosas.
Formas farmacêuticas sólidas.
Pó - São micropartículas com dispersão homogénea, para uso interno (como um 
antiácido para as úlceras gastrointestinais) ou externo (como o vulgar "talco");
Granulado - São partículas grosseiras, grandes, que resultam muitas vezes da 
incorporação de açucar, aglutinando as partículas; o granulado destina-se apenas a uso 
interno. 
Grânulos - São partículas esféricas, para uso interno.
Comprimidos - Resultam da compressão de pó ou granulado. Geralmente têm forma 
discóide e são homogéneos, sem revestimento. Se possuirem ranhuras, significa que se 
podem dividir, tendo em cada parte uma quantidade igual de fármaco. Os comprimidos 
destinam-se a variadas vias de administração, tanto para fim tópico como sistémico, 
uso interno ou externo. Os comprimidos podem ser rotulados consoante a via de 
administração: comprimidos bucais (uso tópico), sublinguais (uso sistémico), vaginais 
(uso tópico), etc.
Cápsulas - Cápsula significa "pequena caixa" e designa formas farmacêuticas 
constituidas por um invólucro (ou "caixa") que contém pó, granulado, grânulos, líquidos 
ou semi-sólidos. Podem ser constituídas por dois opérculos que encaixam um no outro 
(cápsulas operculadas) ou serem inteiriças (cápsulas inteiras); no primeiro caso contêm 
substâncias sólidas (daí que também se designem por cápsulas duras, já que têm 
também um invólucro duro), enquanto que no segundo caso contêm substâncias semi-
sólidas ou líquidas (daí que também se chamem cápsulas moles). Outro modo de 
designar as cápsulas é pela natureza do revestimento: se fôr de amido, serão cápsulas 
amiláceas; se fôr de gelatina, serão cápsulas gelatinosas. A capsulização destina-se 
principalmente a evitar o cheiro ou sabor desagradável dos medicamentos. Se as 
cápsulas forem "drageificadas", poderão evitar a acção corrosiva dos sucos gástricos ou 
evitar lesar o estômago.
As cápsulas esféricas e grandes designam-se por glóbulos, enquanto que as 
pequenas e esféricas chamam-se pérolas.
Drageias (grageias, grageas ou drageas) - São comprimidos revestidos. Este 
revestimento tem por objectivo evitar o cheiro ou sabor desagradável dos 
medicamentos, melhorar a sua conservação, evitar o contacto com o estômago (para 
evitar lesá-lo ou para proteger o fármaco dos sucos gástricos) ou tornar o medicamento 
mais atraente. O processo de drageificação pode-se aplicar a outras formas 
farmacêuticas, como às cápsulas como já foi referido. Destinam-se a usar pela via oral.
Pílulas - São comprimidos esféricos: são feitas não por compressão mas por rolamento. 
Destinam-se também à via oral. De notar que a vulgar pílula (anticoncepcional) é 
constituída por comprimidos ou drageias. Ficou com este nome devido à forma 
farmacêutica (pílula) dos primeiros medicamentos anovulatórios (anticoncepcionais). 
Quando a pílula é drageificada chama-se confeito.
Supositórios - São formas farmacêuticas com o formato de "balas", que se destinam à 
via rectal. Há supositórios para adultos (com cerca de 2,5-3 g de peso) e outros, mais 
pequenos, para crianças (cerca de 1,5 g de peso). São constituídos por um excipiente 
que amolece próximo da temperatura corporal, o que significa que no tempo muito 
quente devem ser conservados no frigorífico. Existem supositórios para uso tópico, 
embora a maioria se destine a um fim sistémico. De notar que muitas vezes os 
supositórios têm a designação lactente, infantil, júnior, adulto, consoante a quantidade 
de princípio activo e não devido ao seu peso ou forma.
Pastilhas - São formas farmacêuticas que resultam da moldagem duma substância que 
muitas vezes contém gomas, destinando-se a uso tópico na via bucal.
Existem outras formas farmacêuticas sólidas, mas com menor importância.
Formas farmacêuticas líquidas.
São representadas fundamentalmente pelas soluções, suspensões ou emulsões, a 
partir das quais se definem outras formas farmacêuticas líquidas.
Soluções - Onde as partículas estão completamente dissolvidas na fase líquida ou 
dispersante (solvente). São homogéneas e estáveis. Podem ser aquosas ou oleosas, 
consoante o excipiente seja água ou óleo (as soluções hidroalcoólicas estarão incluídas 
nas aquosas). Podem ser administradas por qualquer via, directa ou indirecta. Todavia, 
apenas as soluções aquosas poderão ser usadas numa via sanguínea (endovenosa, intra-
arterial, intra-cardíaca). As soluções oleosas provocariam embolização.
Suspensões - Onde as partículas (fase dispersa) são insolúveis no excipiente (fase 
dispersante). Com o repouso e a acção da gravidade sedimentam, o que implica a 
agitação da embalagem antes do uso. Estas formas farmacêuticas não podem ser usadas 
numa via sanguínea, pelo perigo da formação de êmbolos. Por vezes obstruem o lúmen 
das agulhas.
Emulsões - Resultam da mistura de dois líquidos não miscíveis entre si, como o azeite e 
a água. Podem ficar homogéneas desde que se junte um estabilizador da emulsão. Não 
devem ser aplicadas numa via sanguínea, devido à formação de êmbolos.
Xaropes - São soluções saturadas de açúcar. Podem ser simples (água com açucar) ou 
compostos (água com açúcar e fármaco). Estas formas farmacêuticas destinam-se à via 
oral (absorção gastro-intestinal). Uma vez a embalagem aberta deve ser consumida 
dentro do prazo indicado - nunca superior a algumas semanas.
Tinturas - São soluções alcoólicas de minerais ou extractos de plantas ou animais. 
Aplicam-se interna (às gotas) ou externamente (por exemplo, tintura de iodo).
Poções - São soluções açucaradas e aromatizadas que se destinam à via oral e são 
preparadas segundo receita. Geralmente resultam da junção dum xarope (correctivo) a 
uma solução aquosa na proporção de 1/5 a 1/6 do peso total final da forma 
farmacêutica.
Cozimentos ou cozeduras resultam da preparação em água fervente, durantepelo 
menos vinte minutos, duma substância orgânica, geralmente um vegetal fresco. Já a 
infusão resulta da adição de água fervente a plantas secas (geralmente folhas; por 
exemplo, o chá preto). Antes de serem usados devem ser clarificados por decantação ou 
por filtração. São soluções.
Uma forma de soluções aquosas são os soros laboratoriais. São de grande 
volume (100 ml, 250 ml, 500 ml, 1.000 ml). Aplicam-se quase sempre por via 
endovenosa. Têm de ser isentos de micro-organismos. São de composição variada, a 
usar conforme a situação clínica. Podem ser isotónicos (com osmolaridade próxima do 
sangue: 300 mOsm/l), hipotónicos (< 300 mOsm/l) ou hipertónicos (> 300 mOsm/l). 
Podem conter glicose (soro glicosado hipo, iso ou hipertónico) ou dextrose ou NaCl (a 
0,9% ou 9 ‰ chama-se soro fisiológico) ou outros sais, ou mesmo lípidos ou proteínas 
(para a chamada "alimentação parenteral").
As formas farmacêuticas líquidas administram-se às gotas (20 gotas de água 
destilada pura, a 4oC, equivalem a 1 ml) ou às colheres (uma colher de chá tem 5 ml de 
volume, enquanto que uma de sobremesa ou de sopa tem 10 ou 15 ml de capacidade, 
respectivamente). Notem que um ml de água pura, a 4oC, pesa uma grama.
Formas farmacêuticas semi-sólidas.
São representadas principalmente pelos cremes, pomadas, pastas e geles.
Cremes - São fluidos, geralmente de pouca consistência. São parecidos com emulsões 
(óleo em água). Aplicam-se quando existem lesões cutâneas exsudativas. Porém, 
também se aplicam noutras vias além da percutânea (vaginal, rectal, ocular, nasal, 
auricular ...). Espalham-se perfeitamente pela superfície cutânea.
Pomadas - São mais consistentes, tendo como excipiente uma gordura. Após a sua 
aplicação a pele fica brilhante, luzidia. Também se usam noutras vias de administração 
(ocular, rectal, vaginal, etc)..
Pastas - Têm a consistência de pó bastante molhado (por ex., "pasta de dentes"), já que 
resultam da incorporação de pó em grande percentagem. Destinam-se a afecções 
"secas", não exsudativas, como os eczemas crónicos. Têm uma acção abrasiva.
Geles - Têm uma consistência do tipo da gelatina (aparência "trémula"). São 
constituídos por polímeros. Espalham-se perfeitamente pela pele e ajudam o fármaco a 
penetrar (os fármacos em gel quando absorvidos, são-no rapidamente; nos cremes e nas 
pomadas são-nos de modo mais lento porque o óleo/gordura constituem um depósito a 
partir do qual o fármaco se vai libertando com maior dificuldade para penetrar na pele). 
Todavia, há geles para outras vias de administração (oral, bucal, ocular, nasal, rectal, 
vaginal, etc.). 
Os unguentos são formas farmacêuticas semi-sólidas que contêm resinas (por ex., 
bálsamo do Canadá). 
Nos esparadrapos o medicamento está apoiado num suporte, que pode ser tela, gaze, 
pelica, papel (por ex., "emplastro Leão").
Os emplastros são formas que amolecem à temperatura corporal. Quando essa forma é 
constituida por farinhas ou polpas chamam-se cataplasmas; se fôr de farinha de 
mostarda designar-se-á por sinapismo.
Formas farmacêuticas gasosas.
Os gases precisam de aparelhos apropriados para serem administrados. 
Destinam-se quase sempre à via respiratória. Os aerossóis e os sprays não são formas 
gasosas porque são suspensões de micropartículas num gas (aerossóis) ou a mistura de 
dois líquidos e do vapor de um deles (sprays). Também as nebulizações são dispersões 
de gotas para aplicação na via respiratória e as errinas são gotas para aplicação no 
ouvido externo.
As formas farmacêuticas estão intimamente associadas às vias de administração, 
condicionando-se mutuamente. Na próxima secção iremos estudar os locais do 
organismo onde podemos aplicar os medicamentos.
VIAS DE ADMINISTRAÇÃO DOS MEDICAMENTOS.
Para que um fármaco actue é necessário que atinja o local de acção e, para isso, 
terá de ser introduzido no organismo ou aplicado superficialmente. À porta de entrada 
no organismo, ou local onde se aplica o medicamento, chamamos via de administração.
As vias de administração são escolhidas em função da rapidez, intensidade e 
duração da resposta pretendida, bem como em função do efeito tópico, regional ou 
sistémico a alcançar. As formas farmacêuticas também determinam a utilização de uma 
determinada via, mas é necessário ter em linha de conta que as formas farmacêuticas já 
são feitas tendo em atenção o tipo de efeito pretendido.
Podem-se classificar as vias de administração de medicamentos do seguinte 
modo:
A - INDIRECTAS
 1 - ATRAVÉS DA PELE Via percutânea
Via auricular
 2 - ATRAVÉS DE MUCOSAS
Digestiva Via bucal
Via perlingual
Via oral (gastrointestinal)
Via rectal
Respiratória Via rinofaríngea (nasal)
Via traqueobrônquica
Via alveolar ou pulmonar
Outras Via ocular ou conjuntival
Via genitourinária .
via uretral
via vaginal
B - DIRECTAS
Via subcutânea*
Via intramuscular* 
Via intravenosa*
Via intra-arterial
Via intracardíaca
Via intrarraquídea
Via intramedular (óssea)
Via intra-articular
Via intraperitoneal
Via intrapleural
* As mais usadas
VIAS INDIRECTAS
A sua utilização não implica nenhum traumatismo ou "picada". O fármaco é 
absorvido através da pele ou das mucosas, ou aplicado nestas estruturas. 
Via percutânea - A pele é constituída pela epiderme e a derme. A epiderme possui 
várias camadas de células (córnea, estratos lúcido, granuloso, espinhoso e basal), além 
de ter uma camada de gordura na sua superfície, o que dificulta a passagem de 
substâncias (a córnea é o factor mais limitante). A derme, pelo contrário, possui 
bastantes capilares. Um fármaco para penetrar através da pele tem de ser lipossolúvel e 
possuir ainda um veículo ou excipiente adequado (há fármacos que penetram mal mas 
adicionados a determinados excipientes já ultrapassam aquelas barreiras). Todavia, é 
necessário ter em atenção que uma pele lesada, que perdeu algumas das suas camadas, 
como num queimado, já pode deixar passar fármacos.
Nesta via de administração aplicam-se fármacos para fins tópicos e, menos 
vezes, para fins sistémicos. Algumas vezes, porém, fármacos que não se destinam a ser 
absorvidos, são-no, podendo provocar efeitos adversos.
Já dissemos que juntando determinados veículos, como o dimetilsulfóxido ou o 
propilenoglicol, podemos aumentar o poder de penetração do fármaco, mas também 
existem determinadas manobras mecânicas que o podem fazer: fricções intensas e o 
chamado penso oclusivo (aplicação de um material impermeável - como plástico - sobre 
a zona de aplicação do fármaco); estas duas manobras estão presentes quando se coloca 
o medicamento em determinadas zonas do organismo como nas axilas, pregas cutâneas, 
etc.
As formas farmacêuticas que se aplicam nesta via são:
- Semi-sólidas (cremes, pomadas, geles ou geleias, pastas, unguentos, emplastros ...) 
- Líquidas (soluções, emulsões, suspensões)
- Algumas sólidas, como o pó (por exemplo, talco) e as esponjas.
Algumas formas líquidas e sólidas podem ainda ser usadas na forma de 
aerossóis (dispersões finas de um líquido ou sólido num gás que se aplica na forma de 
"nevoeiro") ou de "sprays" (sistema a 3 fases: dois líquidos não miscíveis ou 
emulsionáveis e um vapor, normalmente de um dos líquidos).
A via cutânea oferece vantagens, como a possibilidade de acção directa sobre 
superfícies externas e, por vezes, extensas, e grande simplicidade técnica, mas tem 
também desvantagens, como uma penetração pobre, a maior capacidade alergizante dos 
fármacos quando aplicados nesta via e a possibilidade de efeitos tóxicos após absorção; 
a irritação da pele é outra possibilidade.
Via auricular - Destina-se à aplicação no pavilhão auricular e/ou no canal auditivo 
externo de solutos previamente aquecidos até à temperaturacorporal, ou próximo dela, 
ou de formas semi-sólidas. Pretende-se, geralmente, um efeito calmante, antisséptico ou 
de amolecimento do cerúmen.
Via bucal - O medicamento é aplicado directamente na boca, para aí ter a sua acção. 
Não deve ser deglutido. Pretende-se um efeito tópico. Aplicam-se antissépticos, como 
as soluções de azul de metileno e de eosina, calmantes (anestésicos locais nas gengivas), 
correctores de mau hálito (ex., pastilhas com mentol).
Via sublingual - O medicamento, geralmente na forma de comprimidos sublinguais, 
aplica-se sob a língua, de modo a contactar com o pavimento da boca e a face inferior 
da língua. É uma mucosa bastante fina, húmida e vascularizada, o que significa que o 
fármaco é rapidamente absorvido. Por outro lado, evita na primeira passagem a acção 
metabolizadora do fígado, já que vai à veia cava superior e depois ao coração. É uma 
via usada em situações de urgência para medicamentos potentes - como nitroglicerina 
para a angina de peito. Se o que foi dito constitue vantagens, o facto de só se poderem 
administrar alguns medicamentos - potentes - e o seu sabor desagradável constituem 
desvantagens.
Via oral - É a via mais usada. Os medicamentos destinam-se à mucosa gastrointestinal. 
Oferece uma administração cómoda, feita pelo próprio doente, sem necessidade de 
cuidados especiais de antissepsia. Usa-se para fins tópicos (por exemplo, os antiácidos 
para neutralizar o ácido clorídrico no lúmen gástrico) e, principalmente, para fins 
sistémicos. Neste último caso os medicamentos são absorvidos e pelo sistema venoso 
porta chegam ao fígado onde grande parte é metabolizada em maior ou menor grau, 
consoante o fármaco e o estado do fígado: efeito de primeira passagem. De notar que, 
apesar desta designação se aplicar sobretudo à metabolização hepática após a absorção, 
de um modo lato deve-se entendê-la como referindo a metabolização por um órgão logo 
após a absorção do fármaco (por exemplo, metabolização pela pele e tecido celular 
subcutâneo de certos fármacos após a sua aplicação cutânea). De referir ainda que 
alguns fármacos começam a ser metabolizados na parede gastrointestinal, o que também 
é efeito de primeira passagem.
Os medicamentos que lesem a mucosa gástrica devem ser ingeridos no meio ou 
no fim das refeições - de um modo geral, a absorção será mais retardada e o pico (ou 
Cmax) atingido menor, mas a quantidade absorvida não sofre alteração.
O intestino é o local apropriado para a absorção de alimentos e, por isso, 
também de medicamentos. Tem mecanismos próprios de absorção - transporte activo, 
facilitado, difusão simples, osmose e pinocitose - uma enorme superfície, 
vascularização, motilidade e secreções apropriadas (que também podem ser uma 
desvantagem ao degradarem o medicamento).
A via oral (ou per os: p.o.) oferece vantagens (possibilidade de administração 
pelo próprio doente; não é necessária antissepsia; a absorção é mais ou menos segura) 
mas também tem desvantagens (degradação do fármaco (fármacos de natureza 
proteica); efeito de primeira passagem; irritação (por vezes) gástrica e/ou intestinal; não 
absorção de alguns fármacos; impossibilidade do seu uso quando existem vómitos, má-
absorção, perda de consistência, recusa do doente ou dificuldades na deglutição).
As formas farmacêuticas que se podem usar são as sólidas (pó, granulados, 
comprimidos, drageias, pílulas, cápsulas), as líquidas (solutos, suspensões e emulsões, 
que podem ter a forma de gotas, xaropes, poções, tinturas, ampolas bebíveis, cápsulas - 
com líquido!) e as semi-sólidas, como as geleias ou geles. As formas líquidas podem 
ainda ser administradas às colheres: de sopa (volume = 15 ml), de sobremesa (volume = 
10 ml), de chá (volume = 5 ml), de café (volume = 2,5 ml).
Via rectal - Os fármacos são administrados no recto, através do ânus, de modo a 
atingirem a sua mucosa. Por vezes pretende-se apenas atingir a região anal para um 
efeito tópico ou regional. Pode-se pretender um efeito tópico - anestésico local, 
calmante, adstringente, antisséptico, laxante - ou sistémico - analgésicos antipiréticos 
e/ou anti-inflamatórios, anticonvulsivantes, etc. Administram-se supositórios, clisteres 
ou enemas (com soluções, suspensões, emulsões ou geleias), cremes, geles, pomadas 
(anti-hemorroidárias, por exemplo). As formas líquidas podem ainda ser administradas 
doutros modos: "banhos de assento", com cânulas ou outros aplicadores. As formas 
líquidas devem ser aquecidas à temperatura corporal, principalmente se são de grande 
volume. 
São vantagens da via rectal: 
- Absorção mais rápida que por via oral. 
- Parte significativa do fármaco escapa à primeira acção metabolizadora do fígado 
(evitamento parcial do efeito de primeira passagem).
- Facilidade de administração (evitando muitas vezes a recusa de alguns doentes à 
utilização da via oral: crianças, por exemplo).
- Evita a irritação gástrica por alguns fármacos ou a acção degradante das secreções 
gastrointestinais sobre fármacos.
- Evita o sabor e cheiro desagradáveis de alguns medicamentos.
- Pode-se usar em doentes com vómitos ou inconscientes. 
No entanto, apresenta também algumas desvantagens: 
- Absorção irregular (e, por vezes, mesmo nula).
- Incomodidade para algumas pessoas.
- Possibilidade de irritação da mucosa.
- Não deve ser usada quando existe diarreia ou lesões anais.
Via nasal - Os medicamentos aplicam-se na mucosa do nariz, geralmente com fins 
tópicos: gotas de vasoconstritores na constipação, por exemplo. Existem, porém, alguns 
medicamentos e drogas que se usam com fins sistémicos: "spray" de hormonas para 
descongestão mamária nas mulheres que amamentam ou pó de cocaína (uso ilícito), 
respectivamente. É necessário ter em conta que os fármacos que se aplicam topicamente 
são absorvidos em maior ou menor quantidade e, por isso, podem provocar efeitos 
laterais (para além do principal). Os medicamentos não devem ser aplicados durante 
tempo excessivo nesta via - é aqui que se situa o sentido do cheiro e o epitélio é 
adaptado com pêlos, de modo a filtrar e aquecer o ar que se respira - porque poderão 
causar atrofia da mucosa (rinite atrófica). Aplicam-se pós, cremes, pomadas, geles, 
sprays ou aerossóis, solutos e suspensões (quando se aplicam em dispersões de gotas 
com invólucros plásticos chamam-se nebulizações) e emulsões.
Via traqueobrônquica - Os medicamentos têm de ser constituidos por partículas de 
dimensões muito pequenas (entre 3 e 20 m) para aí chegarem. As de maiores dimensões 
depositam-se na boca, orofaringe ou laringe, enquanto que as de menores dimensões já 
atingem os alvéolos pulmonares. Os medicamentos têm de ser aplicados com aparelhos 
especiais: aerossóis, sprays e insufladores (aparelho que provoca uma dispersão muito 
fina de pó, sem a ajuda de qualquer veículo). Para o uso dos aerossóis e sprays é 
necessário seguir uma técnica rigorosa para se obterem resultados terapêuticos: a 
embalagem deve estar uns 10 cm afastada dos lábios (excepto se já tem um tubo 
extensor), com o local do "disparo" voltado para cima, e após o "disparo" é necessário 
fazer ums inspiração prolongada (± 10 seg). Esta coordenação e inspiração sustida é 
difícil de cumprir neste tipo de doentes e mesmo impossível nas crianças. Deste modo, 
surgiram os insufladores (o pó é inalado quando se faz apenas a inspiração) e aparelhos 
que "disparam" pelo acto de inspirar; também os tubos extensores servem para aumentar 
a duração da inspiração do fármaco. Os fármacos aplicados nesta via destinam-se a um 
efeito tópico, fundamentalmente sobre os brônquios, sendo a asma a afecção mais vezes 
a tratar e, menos vezes, a bronquite crónica. Pela enorme incidência destas afecções na 
nossa população, esta via émuito utilizada: se os fármacos fossem usados pela via oral 
teriam muitos efeitos secundários ou seriam mal absorvidos, o que acontece muito 
pouco quando se inalam (apenas uma percentagem muito pequena é absorvida).
Via alveolar (ou pulmonar) - O epitélio alveolar é extenso, muito fino e está em 
contacto estreito com os capilares. Ou seja, desde que o fármaco atinja os pulmões pode 
ser facilmente absorvido (quase instantaneamente). Usam-se gases, vapores ou 
dispersões de partículas muito finas (com menos de 3 m). É uma via muito usada em 
anestesia (administração de gases e vapores de anestésicos gerais) e, infelizmente, pelos 
fumadores!
Via ocular ou conjuntival - As soluções aplicadas têm de ser neutras, isotónicas com as 
lágrimas e isentas de microorganismos. Podem-se usar ainda soluções oleosas, 
suspensões e emulsões, assim como cremes, pomadas e geles. As formas líquidas 
chamam-se colírios (embora alguns autores chamem colírio a toda a forma aplicada 
nesta via - os pós seriam colírios secos -, a noção que prevalece é a de designarem 
apenas as formas líquidas aplicadas em gotas). Pretende-se um efeito tópico ou regional 
(nesta última situação o fármaco tem de ser absorvido até aos planos internos dos 
olhos), mas a mucosa conjuntival absorve fármacos que, por isso, podem manifestar 
reacções adversas.
Via genitourinária - A mucosa vesical comporta-se de modo algo semelhante à pele e 
os fármacos dificilmente podem ser absorvidos. Usa-se para aplicação tópica: 
desinfecções e lavagens, aplicação de fármacos em dose elevada para afecções locais 
(citostáticos...). Evidentemente que o fármaco tem de ser aplicado com instrumentos 
especiais e na forma líquida. 
As mucosas uretral e vaginal podem absorver determinados fármacos que, 
apesar de se pretender um efeito tópico, podem exercer reacções sistémicas adversas. 
A via uretral é pouco usada e apenas na sua parte terminal (velas - forma 
farmacêutica com o formato dum lápis ou "vela" pequenos -, cremes, geles, pomadas, 
formas líquidas), mas a via vaginal já tem ampla utilização para substâncias 
cicatrizantes, antissépticos, antibióticos, substâncias com fins anticoncepcionais, 
calmantes. Os medicamentos não devem irritar a mucosa e respeitar o ecossistema 
(meio ácido da vagina, criado pela acção dos lactobacilos aí existentes). Usam-se 
comprimidos ("comprimidos vaginais", administrados com aplicador), óvulos, soluções, 
suspensões, emulsões, cremes, geles, pomadas e espumas vaginais). Também se podem 
aplicar na via vaginal determinados dispositivos (como os pessários ou o preservativo 
feminino).
VIAS DIRECTAS DE ADMINISTRAÇÃO DE MEDICAMENTOS.
Designam-se vias directas de administração de medicamentos aquelas que fazem 
uso de agulhas para penetrar nos tecidos. Também se chamam vias parentéricas porque 
são alternativas à via oral (com a respectiva absorção entérica de medicamentos).
A administração parenteral tem por objectivo geral a obtenção de efeitos mais 
rápidos, uma absorção mais completa e ultrapassar dificuldades na utilização da via oral 
(destruição do fármaco no tubo digestivo, vómitos, má-absorção, insconsciência, falta 
de cooperação do indivíduo a quam se administra o medicamento). No entanto, tem 
alguns inconvenientes: dor, necessidade de outra pessoa para administrar o 
medicamento (nem sempre) e assepsia.
Deve-se usar material "descartável" e evitar sempre o contacto da nossa pele 
com material biológico (sangue, saliva ...) doutra pessoa.
As vias directas que são utilizadas com mais frequência são as vias intra ou 
endovenosa (e.v.), intramuscular (i.m.) e subcutânea (s.c.).
Via venosa, endovenosa ou intravenosa - O fármaco é introduzido na corrente 
sanguínea, ou seja, há "absorção" total e instantânea. 
Esta via permite obter efeitos rápidos, quase imediatos (é a via de utilização nas 
urgências!), controlar rigorosamente as doses, administrar substâncias irritantes para os 
tecidos sem causar dor ou irritação tecidular (no entanto, podem surgir tromboflebites) e 
administrar grandes quantidades de soluções aquosas - os chamados soros laboratoriais. 
Apresenta, no entanto, alguns perigos: não há possibilidade de retirar o fármaco após a 
sua administração; se a injecção fôr demasiado rápida pode surgir respiração superficial, 
queda da tensão arterial e paragem cardíaca; podem-se formar embolias (com soluções 
oleosas, emulsões, suspensões); lesões da parede da veia (tromboflebites); possibilidade 
de extravasão de um líquido irritante para os tecidos perivasculares, provocando 
necrose; infecções. 
Os locais utilizados para injecção intravenosa são as veias da "região do 
sangradouro" (flexura do cotovelo), nomeadamente na veia mediana cefálica, as veias 
do dorso das mãos ou dos pés, a veia jugular, a veia femural. 
Depois da desinfecção local, aplica-se um garrote (nos sítios onde é possível) e, 
após as veias se tornarem túrgidas, punciona-se a veia (primeiro pica-se a pele num 
trajecto paralelo à veia e só depois é que se perfura a parede da veia). Após aspiração, 
para verificar se a agulha está no lúmen da veia, retira-se o garrote e injecta-se 
lentamente o medicamento (salvo raras excepções). Para tornar as veias mais salientes 
às vezes é útil aplicar calor local sobre elas, ou dar pequenas palmadas sobre a região a 
utilizar ou fazer movimentos de flexão/extensão dos dedos (para as veias da flexura, já 
que os movimentos musculares "chamam" sangue que depois não sai devido ao garrote 
- aplicado com uma tensão situada entre a tensão arterial máxima e mínima).
Na via endovenosa administram-se apenas soluções alcoólicas, hidroalcoólicas 
e, principalmente, soluções aquosas. Com as duas primeiras é necessário estar atento a 
eventuais reacções adversas, sobretudo pela depressão cardiovascular provocada pela 
injecção rápida.
Via muscular ou intramuscular - A absorção é rápida (o medicamento facilmente 
penetra nos capilares do tecido muscular) e a injecção causa menos dor que pela via 
subcutânea (mas mais que pela via endovenosa). 
Utilizam-se os seguintes locais de injecção: região deltoideia, face anterolateral 
da coxa e quadrantes superiores e externos das nádegas (para evitar traumatizar o nervo 
ciático). 
Podem-se injectar soluções (aquosas, oleosas, alcoólicas), emulsões e 
suspensões, em volumes que não ultrapassam os 10 ml (variáveis consoante o volume 
da massa muscular). Uma boa técnica de administração aconselha: 1º - aspirar após a 
picada; 2º - injectar uma pequena quantidade de líquido; 3º - aspirar novamente (a 
agulha pode estar obstruída e, apesar de não surgir sangue na primeira aspiração, estar 
dentro dum vaso); 4ª - injectar o medicamento.
Podem surgir alguns acidentes na utilização da via intramuscular: picada de 
vasos ou nervos, infecções, irritação e necrose de tecidos, embolias (má técnica!).
Via subcutânea - O medicamento (solução aquosa, oleosa ou alcoólica, suspensão, 
emulsão) é injectado debaixo da derme, ficando na vizinhança dos capilares sanguíneos 
e linfáticos, que terá de atravessar para ser absorvido. É uma via mais dolorosa que a 
endovenosa ou intramuscular. Apesar disso, é muito utilizada pelos diabéticos para 
administrarem insulina.
A velocidade de absorção é menor que pelas outras duas vias. Há algumas 
técnicas que aumentam a velocidade de absorção:
- A massagem
- O exercício físico
- A aplicação local de calor
Evidentemente que a aplicação local de frio, a adição de vaso-constrictores ou a 
aplicação dum garrote (quando possível) retardam a absorção.
Os locais de injecção possíveis são a parede abdominal anterior, a região 
deltoideia, a face externa da coxa, os antebraços e o quadrante superoexternoda nádega. 
Os acidentes possíveis são a picada de vasos e nervos, infecções, irritação e 
necrose de tecidos (as soluções deveriam ser neutras e isotónicas para não causar 
irritação ou dor). 
Para usar esta via deve-se fazer uma prega com a pele e picar na base da prega (a 
agulha como que fica "solta" dentro da pele).
Existem ainda outras vias directas de administração de fármacos que são usados 
com fins específicos, de diagnóstico ou tratamento:
Via arterial ou intra-arterial - Utiliza-se para a injecção de substâncias opacas aos 
raios X, para visualizar o trajecto de artérias (arteriografias), de modo a diagnosticar 
uma trombose dum vaso, por exemplo. Também se usa para a terapêutica regional 
(como na administração dum vasodilatador para tratamento da isquémia dum membro - 
se se administrasse por via endovenosa faria uma vasodilatação geral). 
Via cardíaca ou intracardíaca - Pretende-se introduzir o medicamento directamente 
no coração, injectando-o através do tórax, junto ao apêndice. É utilizada em situações 
de paragem cardíaca.
Via intrarraquídea, raquídea ou intratecal - A sua utilização destina-se à 
administração de substâncias que devem actuar no sistema nervoso central mas que não 
atravessam a barreira hematoencefálica (ou barreira formada pelas células endoteliais 
dos vasos do sistema nervoso central que ficam tão unidas que não podem ser 
atravessadas pelos fármacos), ou para a injecção de anestésicos locais (raquianestesia), 
ou substâncias de contraste (mielografia), ou para retirar líquido cefalorraquidiano para 
análise (para confirmar a existência duma meningite, por exemplo). É uma via utilizada 
em situações especiais e por pessoal especializado, já que envolve o risco de lesar o 
tecido nervoso. O local mais utilizado para atingir o espaço subaracnoideo (com líquido 
cefalorraquidiano) é abaixo da 3ª vértebra lombar (nos espaços entre a 3ª e a 4ª, ou, mais 
frequentemente, entre a 4ª e a 5ª vértebras lombares, ou entre a 5ª lombar e o osso 
sagrado).
Via óssea ou medular - Pode ser usada nas crianças (tíbia e fémur) e adultos (esterno) 
como alternativa à via endovenosa. Podem administrar-se grandes volumes de soluções. 
Muitas vezes é usada para fins de diagnóstico de doenças hematológicas.
Via articular ou intra-articular - É usada sobretudo em reumatologia, para 
administração de corticóides (infiltrações). Pretende-se introduzir o fármaco no espaço 
articular ou junto a tendões inflamados. Pelos problemas que causa (deterioração da 
articulação) deve ser utilizada com fins precisos e com precaução.
Via peritoneal ou intraperitoneal - Nesta via a superfície de absorção é grande, fina e 
bem irrigada, pelo que os fármacos são rapidamente absorvidos - velocidade semelhante 
à da via endovenosa. Há o perigo de perfurar ansas intestinais, provocar aderências e 
sindromas suboclusivos ou oclusivos, ou infecção da cavidade peritoneal (peritonite). É 
usada para fazer diálise (peritoneal), para retirar líquido (de ascite) para diagnóstico, 
para descomprimir um abdomen ascítico que provoca dispneia (falta de ar), para injectar 
fármacos (principalmente em Farmacologia Experimental). O local utlizado para atingir 
a cavidade peritoneal situa-se cerca do ponto médio duma linha que une o umbigo à 
espinha ilíaca antero-superior, no lado esquerdo.
Via pleural ou intrapleural - É usada para retirar ar da cavidade pleural, de modo a 
tratar o pneumotórax, ou líquido (por ex., a tuberculose da pleura num jovem provoca 
um derrame pleural). Também é usada para injectar fármacos na cavidade pleural, de 
modo a atingirem aí concentrações elevadas (citostáticos no mesotelioma, por 
exemplo), que doutro modo seria impossível atingir.
Via intradérmica - Injecta-se o medicamento na espessura da própria pele (na derme). 
Para isto "estica-se" a pele e com uma agulha fina, quase paralela à pele, pica-se esta. Se 
a administração fôr bem feita, a injecção do líquido deve fazer uma pápula. Nesta via 
injectam-se décimas do mL.
Após a descrição mais detalhada da absorção, incluindo o estudo das formas 
farmacêuticas e das vias de administração, abordaremos as outras fases da 
farmacocinética.
II - Distribuição.
Objectivos: Compreensão do significado de fármaco livre (ou não ligado) e fármaco ligado às 
proteínas, semivida de distribuição e de eliminação, compartimento, VD, Cmáx ou concentração de pico, 
Cmín ou concentração de vale, Tmáx, janela terapêutica, biodisponibilidade absoluta ou relativa, 
bioequivalência.
Após a absorção o fármaco é distribuído pelo sangue aos tecidos. No sangue o 
fármaco liga-se aos elementos físicos que aí circulam, principalmente à albumina, que 
serve assim da proteína de transporte. Todavia, o fármaco ligado à albumina não actua 
nem é metabolizado e eliminado. Só a fracção livre ou não ligada é que pode actuar, 
ser matabolizada e eliminada. No entanto, há um equilíbrio constante entre as duas 
fracções (ligada e livre) e se existe uma doença que dificulte a fracção ligada (como a 
baixa da concentração de albumina no sangue (hipoalbuminémia)) ou outro fármaco que 
compita para a mesma ligação à proteina de transporte, aumenta a quantidade de forma 
livre, podendo aparecer sinais de toxicidade. O equilíbrio entre as duas fracções 
significa que a percentagem de ligada ou livre é constante; por exemplo, a 
difenilhidantoina tem uma ligação de 90% às proteinas plasmáticas de transporte, o que 
para uma concentração total de 20 mg/l significa que 18 mg/l estão na forma ligada e 2 
mg/l na forma livre. À medida que o fármaco vai sendo metabolizado e eliminado, 
diminui a quantidade na forma livre e solta-se também fármaco da forma ligada, de 
forma a manter o equilíbrio ou percentagem constante; assim, para uma concentração de 
2 mg/l, 1,8 mg/l estarão na forma ligada e 0,2 mg/l na forma livre.
O fármaco vai desaparecendo progressivamente do sangue, por metabolização e 
eliminação. Ao tempo que o fármaco leva para reduzir para metade a sua concentração 
sanguínea chama-se semivida (t/2 ou t1/2). É uma característica fundamental dum 
fármaco: quanto maior for, mais tempo permanece no organismo. Não se deve confundir 
semi-vida com a duração de acção ou efeito do fármaco, que é o tempo de duração de 
efeito, podendo ser de várias semi-vidas.
Um fármaco pode distribuir-se pelo sangue e por outros tecidos, atingindo neles 
uma cinética uniforme - por exemplo, a mesma concentração. Ao espaço por onde o 
fármaco se distribui de modo homogéneo chama-se compartimento. Se a substância 
tiver dois comportamentos cinéticos diferentes em dois espaços do organismo, dizemos 
que o fármaco se distribui por dois compartimentos. Às cinéticas diferentes 
corresponderão diferentes compartimentos. Em cada compartimento diferente o 
fármaco, por definição, tem uma cinética diferente; ou seja, em cada um tem uma semi-
vida diferente, por exemplo. Ao compartimento para onde o fármaco é absorvido, por 
onde é rapidamente distribuido e de onde sai para ser metabolizado e eliminado, 
chamamos compartimento central (ou compartimento 1 ou alfa); o compartimento 
periférico (compartimento 2 ou beta) é representado pelos tecidos para onde o fármaco 
vai a partir do sangue ou líquido intersticial, desde que neles tenha um comportamento 
cinético diferente. Este último modelo a dois compartimentos representa o que se passa 
com a maioria dos fármacos (Figura 1). Entre cada compartimento o fármaco passa 
segundo constantes que definem a transferência desse fármaco (K12 e K21). A partir do 
compartimento central o fármaco é eliminado a uma determinada velocidade, segundo a 
constante Ke (ver adiante na secção Eliminação).
FIG. 1. Modelo farmacocinético a dois compartimentos (V1 = volume de 
distribuiçãodo compartimento central ou compartimento 1 ou α; V2 = volume de 
distribuição do compartimento periférico ou compartimento 2 ou β).
VD = V1 + V2
O volume do compartimento (modelo mono-compartimental), que mede o 
espaço por onde o fármaco se distribui de modo homogéneo, chama-se volume de 
distribuição, ou VD. Num modelo a dois compartimentos o V é a soma dos volumes 
de distribuição em cada compartimento (VD = V1 + V2). Um fármaco que tenha um VD 
de 5 L (ou 0,07 L.Kg-1 para uma pessoa de 70 Kg) não sai do sangue, já que este é o 
volume sanguíneo normal. Outro fármaco que tenha um VD de 140 L (ou 2 L.Kg-1 para 
uma pessoa de 70 Kg) distribui-se muito bem por todos os tecidos, atingindo mesmo 
locais de difícil acesso. De notar que neste último exemplo a pessoa tem 70 Kg de peso 
e um volume de distribuição de 140 L, o que significa que estes conceitos são obtidos a 
partir de raciocínios matemáticos, tendo em conta as condições em que se administra o 
fármaco, o que algumas vezes não tem tradução fisiológica linear [por exemplo, o VD é 
obtido dividindo a quantidade de fármaco no organismo no tempo t (Qt) pela sua 
concentração sanguínea nesse tempo t (Ct) (VD=Qt/Ct)].
Quando um fármaco é absorvido para a corrente sanguínea, distribui-se e 
começa a ser metabolizado e eliminado. Como a quantidade que chega inicialmente ao 
sangue é maior do que a que sai do mesmo, um fármaco atinge neste período uma 
concentração máxima (Cmax) ou pico de concentração (fig. 2); o tempo que demora a 
Ka
K12
K21
Ke
V1
V2
atingir o Cmax após a sua administração, ou tempo de latência para o Cmax, designa-se 
por Tmax (Fig. 2). Antes de nova administração de fármaco ao doente a concentração 
sanguínea desse fármaco atinge o valor mais baixo (concentração de vale ou Cmín). 
Este último conceito apenas é válido quando o fármaco de administra duma forma 
repetida – Fig 2.
Fig. 2
 Conc. Cmax
plasmática
(mg/l)
Cmín (conc. de vale)
Tmax
 Tempo (h)
 Administr do fárm. Nova administr. de fárm.
Com o decorrer do tempo um fármaco distribui-se no sangue de duas maneiras 
distintas: numa primeira fase de modo rápido e numa segunda de modo lento (Figura 3). 
A primeira corresponde à distribuição pelo compartimento central ou compartimento 1 
ou alfa; a segunda correlaciona-se com o compartimento periférico ou compartimento 2 
ou beta. Em cada um a semi-vida do fármaco designa-se por T/2α e T/2β, 
respectivamente, e o volume de distribuição por V1 (ou VDα) e V2 (ou VDβ), 
respectivamente (ver figura 1). Quando não se faz menção ao tipo de volume de 
distribuição, subentende-se que é o VD total.
 
 Fase alfaConc.
Plasmática
(mg/l)
 Fase beta
Fig. 3. Curva de concentrações plasmáticas ao longo do tempo após administração 
endovenosa dum fármaco.
Ao longo do tempo a concentração sanguínea do fármaco vai diminuindo, 
tornando-se necessário para manter o efeito farmacológico administrar novamente o 
fármaco. Antes desta nova administração, a determinação das concentrações sanguíneas 
da maioria dos fármacos, quando estes são administrados de modo correcto, indica-nos 
se a quantidade prescrita de medicamento está correcta. Para isto comparamos o nível 
sanguíneo obtido com os existentes em tabelas que mostram os níveis sanguíneos que 
controlam a maioria dos doentes com a afecção em causa. Por exemplo, para a 
difenilhidantoína as concentrações sanguíneas situam-se entre 10 e 20 mg/L. No 
entanto, é fundamental que o doente tome os medicamentos conforme o prescrito e que 
a colheita de sangue seja feita correctamente. Este último aspecto é muitas vezes 
negligenciado, apesar de se compreender claramente que quando se colhe o sangue 
demasiado tarde, antes do doente tomar o medicamento, o nível sanguíneo será baixo, e 
que quando se colhe o sangue após a tomada do medicamento o seu nível sanguíneo 
será elevado. O não respeito por estes conceitos pode ter consequências sérias. Por 
exemplo, um doente toma 300 mg por dia de difenilhidantoina, ao pequeno-almoço, às 
8 horas da manhã. Pedido o doseamente sanguíneo, o enfermeiro colheu sangue às 11 
horas, não tendo o doente tomado ainda a difenilhidantoina. Neste sangue havia uma 
concentração de fármaco de 6 mg/l. Perante este resultado, e havendo ainda história de 
convulsões (a difenilhidantona é um antiepiléptico), o médico aumenta a dose diária, 
intoxicando então o doente. Outro exemplo com o doente anterior: o sangue também foi 
colhido às 11 horas mas o doente tomou os 300 mg de fármaco às 9 horas. Como havia 
um nível sanguíneo de 23 mg/l, o médico baixou a dose de difenilhidantoina, o que, 
como consequência, aumentou a frequência das crises convulsivas e surgiu nistagmo.
Para um fármaco, ao intervalo entre a concentração mínima e máxima eficazes, 
ou conjunto de concentrações terapêuticas que controlam a maioria dos doentes sem 
Tempo (h)
reacções adversas inaceitáveis, chama-se margem terapêutica ou janela terapêutica. 
Para muitos fármacos existem publicadas as suas margens terapêuticas, obtidas após 
cuidados estudos de Farmacologia Clínica.
De certo modo relacionado com estes conceitos existe a biodisponibilidade 
absoluta dum fármaco, que traduz a razão entre as quantidades desse fármaco 
existentes no sangue após a sua absorção por uma determinada via de administração e a 
quantidade de fármaco existente no sangue após a sua administração endovenosa (100 
% de absorção). Deste conceito inferem-se dois factos: primeiro, têm de se realizar 
colheitas de sangue ao longo do tempo para aí se dosear o fármaco em questão; 
segundo, o fármaco tem de ser hidrossolúvel para se administrar por via endovenosa. 
Esta última necessidade tem como consequência que para alguns fármacos não se pode 
ter uma informação correcta da sua biodisponibilidade absoluta. A quantidade de 
fármaco no sangue é traduzida pela área sob a curva (Area Under Curve: AUC) das 
concentrações sanguíneas versus o tempo durante o qual se fizeram as colheitas de 
sangue. Deste modo, a biodisponibilidade absoluta (ou "F") é a razão de AUC(após 
admin. por certa via) / AUC(após admin. e.v.), o que significa também a percentagem de 
absorção do fármaco (se aquela razão é multiplicada por 100) (Fig. 4).
Fig. 4. Curvas das concentrações plasmáticas versus tempo para o mesmo fármaco administrado por via oral (B) ou por via 
endovenosa (A).
 Biodisponibilidade absoluta = AUCA / AUCB
Conc. 
sanguínea
(mg/l)
T (h)
 B 
A
Outro tipo de biodisponibilidade é a biodisponibilidade relativa ou 
bioequivalência. Significa que as quantidades no sangue dum fármaco proveniente de 
laboratórios diversos da indústria farmacêutica (por exemplo, duas especialidades 
farmacêuticas similares), e administrado nas mesmas condições (a mesma dose, a 
mesma forma farmacêutica, à mesma hora do dia...) a indivíduos com as mesmas 
características, não diferem de um modo estatisticamente significativo. Este conceito 
define a bioequivalência, já que existe também a equivalência farmacêutica (nas duas 
especialidades farmacêuticas existe o mesmo fármaco e nas mesmas doses) e a 
equivalência terapêutica (as duas especialidades farmacêuticas administradas nas 
mesmas condições a grupos de doentes com as mesmas características originaram 
efeitos terapêuticos estatisticamente similares). Esta última é testada através de ensaios 
clínicos.
Para se dizer que duas especialidades farmacêuticas são bioequivalentes não 
poderá haver diferença estatisticamente significativa entre as suas AUCs e Cmax (já 
poderá haver maior variação para o Tmax). A EMEA e a FDA consideram que os 
intervalos de confiança a 90% para as razões dos valores

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