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1 DIVERSIDADE, MEIO AMBIENTE 2 SUMÁRIO O SUJEITO ECOLÓGICO .................................................................................................................... 4 1. O SUJEITO ECOLÓGICO: DEFINIÇÃO E PRINCÍPIOS ........................................................... 4 2. SOCIEDADE PLENAMENTE ECOLÓGICA .............................................................................. 4 3. A RECONSTRUÇÃO DOS VALORES ........................................................................................ 7 3.1. PARA RECONSTRUIR NOVOS VALORES ........................................................................ 8 4. CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO: A CONSTITUIÇÃO DE SUJEITOS ECOLÓGICOS ........... 9 4.1. EDUCAÇÃO DO SUJEITO ECOLÓGICO E SUA CONCEPÇÃO DE ENSINO E APRENDIZAGEM ............................................................................................................................. 9 4.2. A CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO ECOLÓGICO NO CONTEXTO ESCOLAR .............. 10 5. O PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM .................................................................... 11 5.1. O ENSINO: POSICIONAMENTOS CRÍTICOS E REFLEXIVOS E ATUAÇÃO CIDADÃO ........................................................................................................................................ 11 6. CONSTITUIÇÃO DE SUJEITOS ECOLÓGICOS ..................................................................... 13 6.1. CIDADANIA AMBIENTAL E CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA ......................................... 13 6.2. SUSTENTABILIDADE SOCIOAMBIENTAL .................................................................... 14 EDUCAÇÃO AMBIENTAL ............................................................................................................... 14 1. EDUCAÇÃO AMBIENTAL ....................................................................................................... 14 2. EDUCAÇÃO AMBIENTAL: PROCESSOS EVOLUTIVOS E CONCEITUAIS...................... 15 3. EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UMA NECESSIDADE EMERGENTE....................................... 17 4. ASPECTOS LEGAIS E SUAS PRÁTICAS EDUCATIVAS ..................................................... 17 A EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO PROCESSO EDUCATIVO ................................................. 21 1. O PROCESSO EDUCATIVO .......................................................................................................... 21 2. A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM ........................... 23 3. EDUCAÇÃO AMBIENTAL E CURRÍCULO ................................................................................ 31 4. CRITÉRIOS DE SELEÇÃO E ORGANIZAÇÃO DOS CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL ....................................................................................................................................... 32 A INTERDISCIPLINARIDADE METODOLÓGICA E EPISTEMOLÓGICA NA EDUCAÇÃO AMBIENTAL ....................................................................................................................................... 36 3 1. INTERDISCIPLINARIDADE METODOLÓGICA .................................................................... 36 2. EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO TEMA TRANSVERSAL ................................................ 37 3. PENSAR A SUSTENTABILIDADE ........................................................................................... 38 4. SUSTENTABILIDADE, MOVIMENTOS SOCIAIS E A EDUCAÇÃO AMBIENTAL .......... 41 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ................................................................................................ 43 4 O SUJEITO ECOLÓGICO 1. O SUJEITO ECOLÓGICO: DEFINIÇÃO E PRINCÍPIOS O sujeito ecológico designa um ideal, pessoal e social norteador das decisões e estilos de vida dos que adotam, em alguma medida, uma orientação ecológica em suas vidas. Segundo Isabel Carvalho (2008), o sujeito ecológico é um ideal de ser que condensa a utopia de uma existência ecológica plena, o que também implica uma sociedade plenamente ecológica. A palavra utopia que se encontra na definição, não deve ser vista de forma pejorativa. Entenda-se por utopia, o norte das ações do homem que nada poderia fazer se não tivesse idealizado previamente. “A utopia é aquele conjunto de projeções, de imagens, de valores, e de grandes motivações que inspiram práticas novas e conferem sentido às lutas e aos sacrifícios para aperfeiçoar a sociedade” (BOFF, 2002, p.98). O conceito de sujeito ecológico norteia para um ideal de ser, um modelo diferente de plasmar a realidade; sinaliza para uma convocação que não deve ser negligenciada, porque não é um ato de caridade, e sim, de responsabilidade. É a via que pode arrebatar a pessoa da vida vegetativa (concebida às vezes como vida normal) para o ímpeto das potencialidades da pessoa. Mas o conceito não deve se revestir de um caráter utilitário, porque não é uma ferramenta disponível, seria converter o ideal em pura técnica. Este ideal é uma invocação, e não um instrumento a ser utilizado num sistema complexo de utensílios. Mas comprometer-se com o ideal do sujeito ecológico não se resume ao ativismo ou a adoção de atitudes naturalistas, pois é preciso ir, além disso, para que exista uma sociedade plenamente ecológica. 2. SOCIEDADE PLENAMENTE ECOLÓGICA Entendemos ser fundamental para a formação do sujeito ecológico que se compreenda o valor da participação na mudança, e a necessidade da reconstrução dos valores. 5 Ser um sujeito ecológico participante não significa somente estar presente, participar nesse contexto, diz respeito à atitude cooperativa, à assunção voluntária e consciente do compromisso com o progresso, imprimindo discretamente a dignidade de sua conduta em todo lugar onde se fizer presente. Entretanto, essa dignidade não assenta na pretensão de uma perfeita moralidade, mas no reconhecimento da falibilidade humana e na luta incessante e silenciosa do homem com ele mesmo. O sujeito ecológico deve ter em mente que a cultura consiste num compartilhamento de ideias e de atitudes que se constroem umas das outras, e precisa zelar por elas. “[...] os indivíduos se fazem uns aos outros, tanto física como espiritualmente, mas não se fazem a si mesmos [...]”. (ENGELS & MARX. 1987, p.55). Parece simplório sugerir a assunção desse compromisso, visto que há muita gente vivendo em adversidade, e que pouco ou nada se importa com tal causa, já que tem coisas mais importantes para se preocupar, como assuntos relativos à própria subsistência, como: comer, vestir-se, trabalhar, cuidar da família. Outros fatores, que certamente parecem fragilizar esse propósito encontra-se ancorado na cultura da sociedade contemporânea que justifica sua postura de “sujeito não ecologicamente correto” diante dos vários obstáculos impostos pela nossa sociedade, como por exemplo, a valorização da rapidez, que pode reforçar a opção pelo transporte individual em geral mais rápido, e conflitará com opções mais ecológicas, como ir a pé, de bicicleta, ou de transporte público para o trabalho, nem sempre é possível adotar a proposta ecológica de forma integral e exclusiva. Sabemos que mudar cultura, hábitos e valores não é tarefa fácil nem impossível. Sendo assim, a busca de imprimir uma orientação ecológica à vida não nos poupa de contradições, conflitos e negociações diárias. Para alguns grupos sociais, os ideais preconizados pelo sujeito ecológico são vistos como ingênuos, anacrônicos, pouco práticos, excêntricos, ou de alguma forma reconhecidos como “valores não desejáveis”, para uma sociedade extremamente consumista e inconsequente, que não vê o meio ambiente como parte da sua própria existência e sobrevivência.6 Contudo, não se solicita a um cego que contemple uma obra de arte, ou a um mudo que cante; só se fazem requerimentos àqueles suscetíveis de correspondê-los, esses incitarão outros, e assim sucessivamente. “Uma vez que o homem resista à totalidade da sua época, que a faça deter à porta, e a obrigue a prestar contas, isso exerce forçosamente influência. [...]”. (NIETZSCHE, 2007, p.127). A falta de participação das pessoas consta mais no amor a si mesmo que na falta de condições psicológicas, ou de esclarecimento. Não há quem nunca tenha sonhado um dia em viver num mundo melhor, mas a maior parte do contingente não se dispõe a contribuir para isso. Só é oferecido de si o que lhes exige pouco esforço. O medo de aventura-se em busca do novo não os permite desvencilhar-se do atavismo que continua ecoando na história. Ficam enviscados na certeza do imediato por receio de se arriscarem nas possibilidades do futuro. Buscam avidamente por um meio de se garantirem numa realidade palpável, sem se darem conta que a perpetuação dessa mesma realidade é uma prisão sem muros, e que não os deixa menos vulneráveis aos riscos do devir. Costuma-se criticar os estadistas, as pessoas jurídicas, a elite, como se estes fossem seres heterogêneos e perversos, responsáveis por todo mal da sociedade. Não se percebe que se trata de pessoas semelhantes àquelas que constituem as massas, e apresentam nuanças quanto aos defeitos e qualidades que possuem; e mesmo se houvesse uma ditadura do proletariado como pretendia Engels e Marx (1987), as mudanças que ocorressem seriam apenas na configuração da tessitura social, mas não cessariam os conflitos porque suas raízes emergem das deficiências morais humanas. A maior dificuldade em encontrar os caminhos para mudança social, reside em as pessoas lançarem-se num ponto de vista que não as incluem, a não ser como vítimas. Para além disso, mudar demanda coragem, não só diante da incerteza quanto ao futuro, mas também perante os preconceitos sociais. É uma renúncia de si que remete ao encontro consigo. Num grupo social, geralmente, só são aceitas mudanças triviais, aquelas que não ameaçam a estabilidade dos valores instituídos e hierarquizados. Toda diferença 7 que apresente um caráter insólito constitui um risco para as mentes conservadoras. Por recearem não serem aceitos, muitas pessoas se entregam ao peso da normatividade dos costumes, e se dissolvem na heteronomia de uma vida ditada. Impressiona como as pessoas expõem mais ao risco seus próprios corpos que as representações de si. Não entendem que é impossível vencer a força imperativa de uma tendência sem propugnar, e não se sai do combate sem ferimentos. A vitória é prerrogativa dos que se lançam na batalha e na reconstrução dos valores, de ideologias, de costumes e de novas concepções de sustentabilidade. 3. A RECONSTRUÇÃO DOS VALORES Toda cultura se desenvolve sob valores e crenças, que moldam a forma de pensar daqueles que estão inseridos nela, isto é, constitui suas ideologias. Chauí (2000), define a ideologia como um corpo sistemático de representações e de normas que nos “ensinam” a conhecer e agir. Na visão de Marx a ideologia tem um sentido pejorativo, como algo que distorce a realidade e nos aprisiona na alienação. Outros pensadores como Mounier (2004) e Ricoeur (2008), a concebem de outra forma. O primeiro considerava que sempre se incorre em alguma forma de alienação, e que a única forma de se subtrair a isso seria ter conhecimento cabal do mundo e de tudo que há nele. Para o segundo, não há como eludir da ideologia, pois, mesmo o pensamento mais racional, consiste num conjunto de ideias desenvolvidas, isto é, uma ideologia. Consideremos um pouco da visão de cada um, uma vez que não poder alijar-se de qualquer forma de ideologia, e que mesmo que esta possa conduzir a uma ilusão nefasta, não condena o indivíduo ao aprisionamento num dado conjunto de ideias. Esta questão é de extrema importância, porque as pessoas dificilmente inquirem suas próprias ideias, ou buscam fundamentação lógica na origem dos valores que adotaram, mas parecem aderir cegamente a tais valores de forma que estes não se constroem sob reflexão. Chauí (2000) salienta que as ideias deveriam estar nos sujeitos e acompanhar- lhes nas suas relações, mas na ideologia (no sentido pejorativo), são os sujeitos que 8 parecem se encontrar nas ideias. É nesse sentido que a ideologia constitui uma ameaça, porque pode favorecer a cultura de massas, fazendo com que os sujeitos passem a enxergar como natural, uma realidade artificial minuciosamente planejada. 3.1. Para Reconstruir Novos Valores De acordo com Gadotti (2000), o capitalismo tem necessidade de substituir felicidades gratuitas por felicidades vendidas ou compradas. Conforme, na maioria das vezes, as pessoas tentam permutar os bens gratuitos pelas “maravilhas” da modernidade, como foi apontado por Santos (2007), no caso de algumas formas de migrações, que nem sempre tem como causa a dificuldade econômica, mas a falta de acesso ao consumo. As verticalizações, bem como os aparatos tecnológicos e as novas opções de lazer (que exclui aqueles que não dispõem de condições econômicas para usufruí- las), faz com que a maioria do contingente populacional esqueça-se das gratuidades da natureza que ainda podem ser logradas. O sentido da vida é impregnado pela lógica do mercado, onde só adquire valor aquilo que pode ser cifrado; os ideais de vida converteram-se em pura mimese da felicidade simulada nas telas do cinema e da TV; o conhecimento não tem outra finalidade a não ser conquistar um espaço no mercado de trabalho e angariar altos salários; atrela-se o valor de cada pessoa pelo status (que não é só o econômico) que está apresenta. Todos esses problemas se esteiam e perpetuam pelo fato de as pessoas insistirem em adaptar-se a essa realidade em vez de tentarem mudá-la. A soberania popular se esboroa em núcleos de reciprocidades que se tecem em continência aos ditames de uma ordem que lhes é estranha, conquanto aceita, segregando os atores sociais e esmaecendo seu poder de transformação. Santos (2007), afirma que a força da alienação advém da fragilidade dos indivíduos quando estes apenas conseguem identificar o que os separa e não o que os une. Faz-se necessário que se construam novos valores, que se busque pensar o impensado, que se partam os grilhões dessa cadeia ideológica, e que se formem mais 9 indivíduos autônomos, ao invés de autômatos. Para reconstruir novos valores, o sujeito ecológico precisa ter senso de compromisso, e este deve se firmar na incumbência que a vida delega a todos que estão nela. Dentro dos grupos sociais que se identificam com os ideais ecológicos está o Educador Ambiental, que é alguém identificado com o sujeito ecológico como ideal de ser e formador deste mesmo ideal na sua ação educativa e na constituição de sujeitos ecológicos. Vamos entender como eles se constituem no contexto escolar? 4. CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO: A CONSTITUIÇÃO DE SUJEITOS ECOLÓGICOS Retomando a questão anterior entendemos a educação como um processo de formação contínuo e permanente. Logo, é possível educar o sujeito ecológico. Parafraseando Freire, “Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda” (PAULO FREIRE, 2000 p.3). A educação é um instrumento de formação e de transformação de saberes, consciências, comportamentos, capaz de contribuir significativamente na formação de sujeitos ecológicos e muni-los de ferramentas para entender e transformar a realidade. 4.1. Educação do sujeito ecológico e sua concepção de ensino e aprendizagem A concepção de ensino de aprendizagem para a formação do sujeito ecológico consciente e comprometido com o desenvolvimento sustentável deve ser pautada na relação sócio-histórico-interacionista,que tem como pressuposto teórico metodológico as teorias de Piaget e de Vygotsky. Nutrindo a convicção de que os conhecimentos precisam ser reconstruídos em consonância com as novas demandas sociais, histórica, econômica, política e, acrescento, ambientalistas no qual as interações ocorrem, estimulando os sujeitos a refletir sobre a sua realidade e a buscar alternativas para transformá-la. Nessa perspectiva, a constituição do sujeito deve ser entendida como um processo contínuo, multidimensional, contextualizado, dinâmico, dialético que se constrói e reconstrói na interação entre sujeito e o meio social. Concomitantemente, 10 pessoas e rede de significações são continuamente e mutuamente transformadas e reestruturadas e transformadas em novo conhecimento. Desse modo, a constituição do sujeito se dá numa rede de relações, num jogo de interações em que diferentes papéis complementares são assumidos e atribuídos pelos e aos vários participantes. O que um sujeito é em cada momento está ligado às interações que ele estabelece com outros sujeitos, aos papéis que assume em relação aos outros e os outros em relação a ele. Papéis que são definidos segundo ideias e valores de determinados grupos em confronto com outros grupos. Na Concepção Piagetiana, ressaltamos os aspectos lógicos da aprendizagem, em constante interação com questões que mobilizam o pensar. O pensar produz conhecimento e a ação que produz conhecimento é a ação de resolver problemas. Assim, é necessário possibilitar que a inteligência de quem aprende aja sobre o que se quer explicar. Aprendemos a partir da interação e do aprofundamento nas exterioridades dos problemas, estabelecendo uma relação dialética que nos permite elaborar uma representação pessoal sobre um objeto da realidade, sendo que este está em interação com outros tantos objetos. Pelo prisma do construtivismo, nada está acabado e o conhecimento nunca está terminado. A questão que se coloca nesse cenário reflexivo é compreender como é possível a constituição desse sujeito ecológico no contexto escolar. 4.2. A Constituição do sujeito ecológico no contexto escolar No contexto educacional é fundamental que se reflita sobre o processo de ensino e aprendizagem na formação do sujeito ecológico diante da crise socioambiental contemporânea. Carvalho (2008) sinaliza que nos dias atuais a formação do sujeito deve ultrapassar a prática de transmissão de conteúdo e informação, pois o ensino deve promover subsídios para posicionamentos críticos e reflexivos, em que possibilite a atuação cidadã diante dos problemas ambientais. Torna-se relevante compreender quais são os valores, as atitudes e as crenças centrais que devem constituir o sujeito ecológico e como ele deverá operar em consonância com a orientação socioambiental, para expressar seu ponto de vista 11 considerando as características individuais e coletivas nos contextos histórico, social e cultural. Sendo assim, a proposta educativa poderia ser pautada na formação de um sujeito capaz de ler seu ambiente e interpretar as relações, os conflitos e os problemas aí presentes. A escola deve formar cidadãos críticos, pois diante de toda repercussão sobre as causas e consequência dos impactos ambientais na vida e organização dos seres vivos, temos sido interpelados e convidados a participar mais efetivamente dos embates envolvidos no campo ambiental, mas para tanto precisa-se de indivíduos com espírito de luta, sede de mudança e compromisso para defender um mundo sustentável em que haja responsabilidade no uso dos recursos naturais. Assim, a escola poderá contribuir neste sentido, tendo como uma de suas metas promover os primeiros passos para a constituição de sujeitos ecológicos em prol da cidadania ambiental. Assim, faz-se necessário compreender a complexidade dessa formação e como ela se efetiva no processo de ensino aprendizagem dos sujeitos ecológicos. 5. O PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM 5.1. O ensino: posicionamentos críticos e reflexivos e atuação cidadão Sendo assim, a proposta educativa poderia ser pautada na formação de um sujeito capaz de ler seu ambiente e interpretar as relações, os conflitos e os problemas aí presentes para tomar decisões embasadas no espírito crítico em que os interesses individuais e coletivos sejam ponderados. Neste sentido, Penteado (2007) pondera sobre a necessidade da participação ampla e diversificada dos cidadãos nas tomadas de decisões e recomenda a distribuição ampla do exercício do poder político entre todos os atores sociais, pois, com a participação social do exercício político, é possível ampliar a previsão e estabelecer metas para um ambiente sustentável, além de exercer com plenitude a cidadania. Ao se falar em cidadania, esta deve ser considerada como um processo histórico vivenciado pelos atores sociais sendo baseada em direitos e instituições. 12 As abordagens sobre a prática da cidadania estão relacionadas com o estabelecimento de uma sociedade democrática, considerando-se a democracia não só como um regime político, mas como uma forma de sociabilidade que se insere nos espaços sociais (BRASIL, 1997). Para Penteado (2007), o exercício da cidadania refere-se a comportamentos desenvolvidos para lidar com os direitos e deveres, sendo aprendido quando o sujeito participa de ações para a resolução de problemas que o afetam e, consequentemente, afetam também o meio ambiente. O exercício da cidadania também está diretamente relacionado com a participação ativa do cidadão em questões que remetem à luta a favor dos direitos sociais, igualdade social e econômica, qualidade da educação, saúde e moradia, portanto, com sua participação na gestão pública (BRASIL, 1997). Sendo assim, a capacidade de tomada de decisão é um fator de grande relevância na formação da cidadania. Mortimer e Santos (2001, p. 101) salientam que: A tomada de decisão em uma sociedade democrática pressupõe o debate público e a busca de uma solução que atenda ao interesse da maior parte da coletividade. Para isso o cidadão precisa desenvolver a capacidade de julgar a fim de poder participar do debate público. A formação para o exercício da cidadania deve ser propiciada nas várias dimensões do ambiente em que o cidadão se encontra inserido e deve se iniciar muito cedo. Um dos lugares onde os direitos e deveres do cidadão devem ser abordados de forma crítica, para que ele possa praticar ações e tomar decisões conscientes e favoráveis ao bem-estar individual e coletivo é a escola. Deve-se ter em mente que o processo de tomada de decisão apresenta algumas diferenças. A tomada de decisão relativa a um problema escolar, que assume uma natureza objetiva, difere bastante daquela relativa a um problema real do cotidiano em que predomina a subjetividade (MORTIMER; SANTOS, 2001, p. 102). Na escola, pode-se trabalhar com as questões ambientais voltadas para o exercício da cidadania. Segundo Layrargues (2002), a educação voltada para a gestão ambiental pode propiciar o desenvolvimento de ação coletiva dirigida ao fortalecimento da 13 cidadania e ao debate sobre os conflitos socioambientais. Ressalta, ainda que a gestão ambiental é entendida como um processo de mediação de conflitos de interesses. Além da diversidade de atores sociais envolvidos em conflitos socioambientais, existe a assimetria do poder político e econômico presente no interior da sociedade, na qual nem sempre o grupo dominante leva em consideração os interesses de terceiros nas suas decisões. Desse modo, a prática pedagógica relacionada ao ambiente, considerando tais questões, pode promover a sensibilização dos indivíduos e o engajamento coletivo nas tomadas de decisões, propiciando o exercício da cidadania ambiental e consciência ecológica. 6. CONSTITUIÇÃO DE SUJEITOS ECOLÓGICOS 6.1. Cidadania ambientale consciência ecológica Na visão se Santos (2005), a cidadania passou a ter uma dimensão ambiental e requer, com isso, responsabilidade, solidariedade e participação do cidadão em decisões ambientais que afetam a coletividade. A cidadania ambiental está relacionada com as condições de vida dos cidadãos, o que nos remete a repensar o natural e o social, o homem e o ambiente, o local e o global, o pessoal e o público, o desenvolvimento sustentável e o conhecimento sustentável, entre outras dualidades. Compreende-se, com isso, que a formação para uma atuação crítica não deve provocar a perda do sentido do trabalho com o tema ambiente ou saber ambiental, pois, juntos, coadunam conhecimentos voltados para questões não só relacionadas com os princípios da natureza, mas, também, para questões de natureza política e ética, como se pode constatar nas orientações curriculares relativas aos temas transversais, cuja abordagem ressalta as ligações entre cultura e conhecimento (MATOS, 2005). Em termos do trabalho com o tema ambiente, devem-se também levar em consideração os princípios da ética, nos quais as questões ambientais, partindo de um contexto cultural, devem ser discutidas em coletividade para a tomada de 14 decisões (também coletivas) voltadas para um projeto social e coletivas. Assim, o ensino sobre ambiente deve estar voltado para a conexão entre as relações pessoal- grupal e social-ambiental. 6.2. Sustentabilidade socioambiental Nesse sentido, passamos a vislumbrar como meta uma educação ambiental para a sustentabilidade socioambiental recuperando o significado do ecodesenvolvimento como um processo de transformação do meio natural que, por meio de técnicas apropriadas, impede desperdícios e realça as potencialidades deste meio, cuidando da satisfação das necessidades de todos os membros da sociedade, dada a diversidade dos meios naturais e dos contextos culturais. A educação ambiental entra nesse contexto orientada por uma racionalidade ambiental, transdisciplinar, pensando o meio ambiente não como sinônimo de natureza, mas uma base de interações entre o meio físico-biológico com as sociedades e a cultura produzida pelos seus membros. Leff (2001) coloca a racionalidade ambiental como produto da práxis, ou seja, seria "um conjunto de interesses e de práticas sociais que articulam ordens materiais diversas que dão sentido e organizam processos sociais através de certas regras, meios e fins socialmente construídos" (LEFF, 2001, p. 134). EDUCAÇÃO AMBIENTAL 1. EDUCAÇÃO AMBIENTAL A Educação Ambiental (EA) surge como uma das possíveis estratégias para o enfrentamento da crise civilizatória de dupla ordem, cultural e social. Do histórico de ações da EA, três vertentes podem ser identificadas: positivista, construtivista e crítica. Os positivistas buscam enfatizar informações ecológicas em detrimento dos processos de ensino-aprendizagem, buscando a mudança de comportamentos individuais. 15 Os construtivistas ampliam os espaços da educação ambiental trazendo a preocupação pedagógica e o cuidado na aprendizagem. A afetividade e a corporeidade somam-se à dimensão informativa, buscando elos sociais e ecológicos mais amplos. Educação ambiental crítica preocupam-se com a participação e o empoderamento dos grupos sociais, privilegiando a emancipação e autonomia numa perspectiva mais política, sem, contudo, negligenciar as informações ecológicas e a construção dos conhecimentos. A Educação Ambiental pode ser considerada uma práxis educativa e social que contribui para a tentativa de implementação de uma sociedade mais igualitária e que considera o “ambiente” segundo uma concepção de inclusão do ser humano em todos os processos, sendo filosoficamente indistinto do que se denomina “natural”. Sua perspectiva crítica e emancipatória visa à deflagração de processos nos quais a busca individual e coletiva por mudanças culturais e sociais estão dialeticamente indissociadas. No entanto, é comum associá-la a vertente construtivista no processo de formação do sujeito ecológico. 2. EDUCAÇÃO AMBIENTAL: PROCESSOS EVOLUTIVOS E CONCEITUAIS Em sua evolução, o conceito de educação ambiental permaneceu estritamente vinculado ao próprio conceito de meio ambiente e à maneira como este era percebido. Depois de considerar-se o meio ambiente, sobretudo em seus aspectos biológicos e físicos, passou-se a uma concepção mais ampla, na qual o essencial são seus aspectos econômicos e socioculturais, ressaltando a correlação existente entre todos esses aspectos. Até certo ponto, a educação esteve sempre associada ao meio ambiente. Nas sociedades antigas e mesmo hoje, nos grandes segmentos da população rural, a preparação do homem para a vida se dava por meio de experiências intimamente relacionadas com a natureza. 16 Os sistemas modernos de educação incorporaram, em grande escala, objetivos e conteúdos relativos ao meio ambiente em seus programas, embora abordando somente seus aspectos biofísicos. Esse foi o caso das disciplinas derivadas das “Ciências da Natureza”, para as quais se deu um tratamento isolado e carente de coordenação. Com esse padrão tradicional, esperava-se que o aluno fizesse por si mesmo a síntese dos conhecimentos adquiridos, delineasse uma perspectiva geral da realidade do meio que o rodeava e captasse as relações existentes entre seus diversos elementos. Essa educação era, geralmente, abstrata, desligada da realidade do contexto que se pretendia ensinar. Além disso, atinha-se a divulgar dados sobre a natureza, sem criar nem valorizar comportamentos de responsabilidade em relação à mesma. O próprio conceito de meio ambiente, reduzido exclusivamente aos seus aspectos naturais, não permitia analisar nem as interações entre os elementos, nem a contribuição das Ciências Sociais para a compreensão e melhoria do meio humano. Mais recentemente, e devido a preocupações de ordem econômica e ao desenvolvimento de disciplinas ecológicas, o meio ambiente começou a ser objeto de uma integração explícita no processo educativo. Não obstante, a atenção passou a se concentrar, antes de mais nada, nos problemas de conservação dos recursos naturais e de proteção da vida animal e vegetal, ou em temas semelhantes. Atualmente, como resultado das preocupações e diretrizes formuladas pela Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Humano (Estocolmo, 1972), preveem-se novos enfoques para os problemas ambientais. Se, por um lado, os aspectos biológicos e físicos constituem a base natural do meio humano, por outro lado as dimensões socioculturais e econômicas definem as diretrizes e instrumentos conceituais e técnicos com os quais o homem poderá compreender e utilizar melhor os recursos da natureza para satisfazer suas necessidades. 17 3. EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UMA NECESSIDADE EMERGENTE Os meios de comunicação social desempenham um papel importante na sensibilização do público em relação aos problemas ecológicos. Entretanto, esse tipo de informação é limitado, já que se costuma insistir em aspectos superficiais ou episódicos. Além disso, só se informa realmente a quem já está informado. Portanto, é indispensável uma educação ambiental que não somente sensibilize, mas também modifique as atitudes e proporcione novos conhecimentos e critérios. Para fazer frente aos problemas ambientais, os programas nacionais ou internacionais insistiram primeiro na formação e no treinamento de especialistas e técnicos, com o objetivo de atender às necessidades urgentes em termos de pessoal especializado. No entanto, é cada vez mais evidente que os problemas não poderão ser resolvidos unicamente pelos especialistas, por mais competentes que sejam, e que não haverá soluções viáveis sem uma transformação da educação geral, em todos os seus níveis e modalidades. As dificuldadesinerentes a essa mudança conceitual e institucional só poderão ser superadas mediante uma evolução gradual. É preciso preparar o fortalecimento de uma consciência e uma ética ecológica em escala mundial, bem como fomentar o desenvolvimento da capacidade científica e tecnológica para resolver os problemas que buscam a melhoria das condições de vida. Cabe, também, estimular a participação efetiva dos setores ativos da população, na concepção, decisão e controle das políticas inspiradas pelas novas opções do desenvolvimento. 4. ASPECTOS LEGAIS E SUAS PRÁTICAS EDUCATIVAS A atual Constituição da República Federativa do Brasil foi promulgada em cinco de outubro de 1988. Bastos e Martins (1988), afirmam que esse foi o primeiro documento na história a abordar o tema meio ambiente, dedicando a este um capítulo por inteiro (VI), o qual preceitua, em seu Art. 225, que todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial 18 à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações (BRASIL, 1988). Criada no dia 31 de agosto de 1981, a Lei 6.938, que dispõe sobre a Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA), foi um marco na história do País. Por meio dela, parte dos nossos recursos ambientais foi preservada. Essa Lei foi responsável pela inclusão do componente ambiental na gestão das políticas públicas e decisiva inspiradora do Capítulo do Meio Ambiente na Constituição de 1988. No que diz respeito à educação ambiental, a Lei 9.638/81, Art. 2º, inciso X, afirma que a educação ambiental deve ser ministrada a todos os níveis de ensino, objetivando capacitá-la para a participação ativa na defesa do meio ambiente. O nível de ensino a que se refere à Lei citada diz respeito aos níveis do ensino formal e não-formal. A Lei 9.795, de 27 de abril de 1999, que dispõe sobre a Educação Ambiental e institui a Política Nacional de educação ambiental enfatiza em seu Art. 2º que a “educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal”. De acordo com a citação acima, a educação ambiental, deve estar presente em todos os níveis e modalidades do processo educativo, seja ele formal ou não-formal. A Lei é bem clara: a educação não deve ser uma atividade pedagógica pontual ou esporádica dentro dos sistemas de ensino. A educação ambiental, segundo a Lei em questão, deve ser uma atividade educativa permanente e articulada com todos os níveis de ensino. Atualmente, a maioria das ações didáticas voltadas para a educação ambiental tem sido efetuada de forma difusa, esporádica e desarticulada entre os diferentes níveis de ensino formais. Além disso, sua abordagem em sala de aula, na maioria das vezes, é marcadamente naturalista, ou seja, concebe o meio ambiente tão somente em sua expressão biológica. Nessa visão, é reforçada a dicotomia entre Natureza e Sociedade, Natureza não-humana e Natureza humana, ecossistemas naturais e ecossistemas socioculturais. Em outras palavras, essa perspectiva não leva em consideração a interface que existe entre a natureza e sociocultural. 19 Outro aspecto significativo da Lei 9.795/99 é que a educação ambiental não deve ser implantada na instituição de ensino de níveis fundamental e médio como disciplina específica, isto, é territorializada, dentro da Geografia, das Ciências ou da Biologia. A educação ambiental necessita ser abordada na prática pedagógica de forma transversal, multidisciplinar, interdisciplinar e transdisciplinar. Somente nos cursos superiores a educação ambiental pode ser desenhada matricialmente dentro de uma disciplina curricular específica. Para que a prática pedagógica da educação ambiental consiga atingir o seu desiderato, a Lei 9.795/99, em seu Capítulo I, Art. 5º preceitua os seguintes objetivos: I - O desenvolvimento de uma compreensão integrada do meio ambiente em suas múltiplas e complexas relações, envolvendo aspectos ecológicos, psicológicos, legais, políticos, sociais, econômicos, científicos, culturais e éticos; II - A garantia de democratização das informações ambientais; III - O estímulo e o fortalecimento de uma consciência crítica sobre a problemática ambiental e social; IV - O incentivo à participação individual e coletiva, permanente e responsável, na preservação do equilíbrio do meio ambiente, entendendo-se a defesa da qualidade ambiental como um valor inseparável do exercício da cidadania; V - O estímulo à cooperação entre as diversas regiões do Educação do País, em níveis micro e macrorregionais, com vistas à construção de uma sociedade ambientalmente equilibrada, fundada nos princípios da liberdade, igualdade, solidariedade, democracia, justiça social, responsabilidade e sustentabilidade; VI - O fomento e o fortalecimento da integração com a ciência e a tecnologia; 20 VII - O fortalecimento da cidadania, autodeterminação dos povos e solidariedade como fundamentos para o futuro da humanidade. (BRASIL, 1999). Segundo a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA – Lei 9795/99), artigo primeiro, a educação ambiental é definida como processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos e habilidades, atitudes e competências voltadas para conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. A Constituição do Brasil de 1988, em seu Capítulo VI, sobre o meio ambiente, institui como competência do Poder Público a necessidade de “promover a Educação Ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente” (artigo 225, parágrafo 1º, inciso VI). A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional prevê a Educação Ambiental como uma diretriz para o currículo da Educação Fundamental. O Ministério da Educação apresentou, em sua proposta de “Parâmetros Curriculares Nacionais” (PCN), a EA como um tema transversal (Meio Ambiente) no currículo escolar. Instituiu-se em 1999, a Política Nacional de Educação Ambiental. Tudo isso demonstra que a Educação Ambiental vem rapidamente se institucionalizando, sem que, no entanto, se proceda a uma grande discussão a respeito do assunto na sociedade e entre os educadores. Essa demanda pela Educação Ambiental, não só decorrente dos aspectos legais, mas também dos problemas ambientais vivenciados por toda a sociedade, provoca a necessidade de formar profissionais aptos a trabalhar com essa nova dimensão do processo educativo. Há um reconhecimento, ainda que difuso, em segmentos diversos da sociedade a respeito da gravidade da crise ambiental, bem como uma consciência maior da necessidade de “fazer algo” para a superação do problema. Essas visões consensuais de profissionais da educação, alunos e comunidades a respeito da gravidade da crise ambiental e da necessidade de “fazer algo” geram 21 uma grande expectativa em relação às possibilidades da Educação Ambiental, que vem sendo chamada a dar conta da mudança de valores e atitudes da humanidade diante da natureza, sendo colocada como um dos pilares para a efetivação de um modelo de desenvolvimento sustentável. A EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO PROCESSO EDUCATIVO 1. O PROCESSO EDUCATIVO A educação ambiental nasce como um processo educativo que conduz a um saber ambiental materializado nos valores éticos e nas regras políticas de convívio social e de mercado, que implica a questão distributiva entre benefícios e prejuízos da apropriação e do uso da natureza. Ela deve, portanto, ser direcionada para a cidadania ativa considerando seu sentido de pertencimento e corresponsabilidadeque, por meio da ação coletiva e organizada, busca a compreensão e a superação das causas estruturais e conjunturais dos problemas ambientais. Trata-se de construir uma cultura ecológica que compreenda natureza e sociedade como dimensões intrinsecamente relacionadas e que não podem mais ser pensadas seja nas decisões governamentais, seja nas ações da sociedade civil de forma separada, independente ou autônoma (CARVALHO, 2004). Atualmente a questão ambiental se impõe perante a sociedade. A discussão sobre a relação educação-meio ambiente contextualiza-se em um cenário atual de crise nas diferentes dimensões, econômica, política, cultural, social, ética e ambiental (em seu sentido biofísico). Em particular, essa discussão passa pela percepção generalizada, em todo o mundo, sobre a gravidade da crise ambiental que se manifesta tanto local quanto globalmente. A gravidade da crise ambiental, que aponta até para a ameaça à vida humana pelas dimensões dos problemas ambientais em escala planetária (efeito estufa, destruição da camada de ozônio etc.), resultou em mobilizações internacionais para buscar soluções. Como forma de superação dessa crise, tem sido apresentado em 22 diversos fóruns, o modelo de desenvolvimento sustentável, que propõe associar desenvolvimento econômico com preservação do meio ambiente. Um dos instrumentos apresentados nesses fóruns como meio para se atingir esse tipo de desenvolvimento tem sido a Educação Ambiental (EA), na maioria das vezes, segundo uma visão idealista de educação como equalizadora de todos os problemas sociais. Desse modo, a educação ambiental é parte integrante do processo educativo. Deve girar em torno de problemas concretos e ter um caráter interdisciplinar. Sua tendência é reforçar o sentido dos valores, contribuir para o bem-estar geral e preocupar-se com a sobrevivência da espécie humana. Deve ainda aproveitar o essencial da força da iniciativa dos alunos e de seu empenho na ação, bem como inspirar-se nas preocupações tanto imediatas quanto futuras. A contribuição da educação para a indispensável melhoria da gestão deste patrimônio comum, que é a terra, tem uma importância capital. Na verdade, ela pode sensibilizar todas as camadas da população no que diz respeito aos problemas prioritários pendentes. Pode também introduzir um determinado número de conceitos e ideias de modo a perceber tais problemas e destacar os interesses e valores que intervêm em cada situação. Sobretudo, pode transmitir e desenvolver a vontade e os conhecimentos teóricos e práticos necessários à solução de uma série de problemas ambientais. Não se trata de um simples intercâmbio de informações e conhecimentos fragmentados sobre determinados problemas, tais como a proteção das espécies ameaçadas de extinção ou a poluição de áreas recreativas. Não se trata tampouco de ditar receitas para estabelecer a lista de danos existentes numa região. Ao contrário, cabe incorporar a educação ambiental aos processos educativos, introduzindo certas mudanças nos contextos educativos institucionais. Diante do que é visto, percebe-se que a Educação Ambiental se estabelece hoje como uma nova dimensão na educação, e, portanto, deve estar inserida dentro do planejamento do ensino, nas práticas escolares, projetos interdisciplinares e ações sociais e comunitárias. 23 2. A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM A instituição escolar desempenha papel significativo na formação da personalidade do ser humano, sendo determinante o processo ensino-aprendizagem como um todo, como observado nos levantamentos anteriores. Conviver com a diversidade, assim como em um ambiente onde leitura e escrita tenham significado, torna-se fator determinante para a formação do cidadão crítico. Considerando que esta instituição é um relevante instrumento para que o homem se desenvolva social e intelectualmente desde criança, observa-se que em seu papel de receptora, abriga uma grande concentração de diversidade humana, cujos anseios, perspectivas e necessidades são dos mais variados, ideias estas compartilhadas por Rocha (2002). Em razão disso, os conteúdos a serem trabalhados devem atingir o consenso, precisando ser a eles adequados e corresponder às expectativas das instituições e de seu corpo docente. Torna-se evidente que o desafio é construir uma proposta educacional no cotidiano da sala de aula, onde a possibilidade da superação da participação passiva e alienada seja substituída pela participação ativa e coletiva, despertando no aluno seu papel de cidadão, lutando contra aquilo que impede a efetivação da educação libertadora, desde as séries iniciais do Ensino Fundamental. Nesta perspectiva, a Educação Ambiental torna-se o esforço e o processo estratégico no qual considera a dimensão ambiental nas variadas esferas do cotidiano, buscando a conquista da qualidade de vida, para que o ser humano cresça consciente do seu papel de cidadão. Trabalhar com a prática da Educação Ambiental reforça a importância da abordagem, onde os bons resultados colhidos são os estimuladores desta tarefa. Por intermédio de projetos é possível refletir sobre a necessidade de práticas educacionais que valorizem os indivíduos enquanto seres atuantes, e as crianças enquanto seres em processo de formação da personalidade. É fundamental adotar a Educação Ambiental como princípio formador no currículo, centrando-se na ideia da participação de todos na gestão dos seus respectivos lugares, seja a escola, a rua, o bairro, a cidade. Desta forma, o indivíduo abandona a condição de telespectador 24 ou simples usuário do seu lugar, para tornar-se capaz de realizar escolhas, tomando decisões, realizando ações reflexivas e deliberadas no seu meio. O percurso pedagógico utilizado para tal finalidade deve ser o exercício de percepção ambiental reflexivo, acompanhado do enfrentamento das questões que emergem desta atividade. As metodologias participativas constituem técnicas que estimulam ações reflexivas e a participação ativa de todos, proporcionando um espaço para a formulação e a expressão de ideias, proposições, esclarecimentos e descobertas. Estes instrumentos ajudam os envolvidos a compreender as questões abordadas, aumentando a confiança, ampliando conhecimentos, assim como a maneira de ordenar os pensamentos. Por intermédio destas trocas, os participantes podem tomar consciência da identidade grupal, respeitando a si mesmo e aos outros mediante o falar e o ouvir. As dinâmicas de grupo, como destacado anteriormente, possibilitam o aprofundamento de conteúdos curriculares, a discussão de problemas detectados no diagnóstico, considerando suas múltiplas dimensões, suas causas, consequências e possíveis soluções, além do planejamento coletivo de ações. A questão ambiental nas séries iniciais do Ensino Fundamental centra-se, sobretudo, no desenvolvimento de valores, atitudes e posturas éticas, assim como no domínio de procedimentos e não somente na aprendizagem de conceitos, uma vez que diversos dos conceitos em que o professor se baseia para tratar dos assuntos ambientais pertencem às áreas disciplinares. A prática cotidiana tem refletido sobre a tendência de preservação do meio ambiente, onde, mesmo através de atitudes simples, estas refletem a conscientização de uma parcela cada vez maior da população, como se verifica em Martine (1996). A escola, dentro do processo, tem se mostrado significativa intermediadora, mesmo tendo ainda longo caminho a ser percorrido. Para tanto, o processo de conscientização do indivíduo precisa ter como foco inicial o microcosmo escolar, para garantir a maximização dos resultados; os alunos buscam nesta instituição o fortalecimento de valores adquiridos no seio familiar, 25 assim como enriquecer-se culturalmente e princípios de cidadania. Na dinâmica, o fortalecimentode valores como a preservação e sustentabilidade ambiental precisam fazer parte da rotina, onde aulas ou noções de cidadania não podem se embasar apenas em manuais ou currículos, constituindo-se práticas constantes e promovendo a interiorização dos papeis dos agentes sociais. As ações precisam priorizar a análise das condições locais, não perdendo de vista a dimensão global; a Educação Ambiental é uma ação educacional voltada para as populações do presente e do futuro, onde a tecnologia e o desenvolvimento aproximam cada vez mais pessoas e lugares, sendo fundamental o respeito das diferenças e privilegiando valores como integração, tolerância, cooperação, solidariedade. Além disso, é significativo que se respeite o princípio da universalidade da natureza humana, sendo expresso tanto na identidade individual e coletiva quanto nas semelhanças e diferenças apresentadas entre os povos, buscando a unidade na diversidade. A atuação dever ocorrer em uma abordagem que considera o ambiente como um sistema organizado em funcionamento; o todo e as partes compõem um conjunto, devendo comunicar-se com agilidade, de modo integrado e articulado. Quando uma das partes difere em ritmo ou apresentação, o todo se altera. Desta forma, a visão sistêmica permite efetuar as relações entre todo e partes, em uma visão de totalidade, compreendendo os acontecimentos como componentes de um mesmo processo, no qual os fatos ocorrem mediante avanços e recuos, acordos e interconexões; tanto as similaridades e afinidades quanto às contradições são elementos reais que fazem parte da dinâmica processual. Segundo Brasil (1997, p. 21) verifica-se que "a complexidade da natureza exige uma abordagem sistêmica para seu estudo, [...] com os diversos componentes vistos como um todo, [...] bem como em suas [...] interações com os [...] componentes". O documento destaca ainda que, "para se conhecer um sistema não basta observar suas partes, mas é preciso enxergar como elas se interligam e se modificam, em sua própria estrutura e sentido de ser, por causa dessas interações". 26 É interessante ressaltar que as parcerias passam a ocorrer naturalmente, com uma ampla variedade de indivíduos e instituições. Tomando consciência da sincronicidade existente entre os procedimentos dos indivíduos e as instituições, encontramos propostas que acontecem em pequena e em grande escala, ao mesmo tempo e em diversos lugares. Este modo de pensar facilita perceber que podem ocorrer simultaneamente a parceria, a sincronicidade, o conflito e a contradição, possibilitando atuar em conjunto, através da integração, da interdisciplinaridade e da busca de pontos comuns entre diferentes propostas. A visão de "cidadão do mundo" é cada vez mais necessária, para que se possa transitar entre os semelhantes, os diferentes e os muito específicos, o que não deve impressionar. Em algumas situações, devido às resistências encontradas, deve-se ir mais lentamente, negociando cada pequeno avanço, tendo de ceder em alguns pontos, para obter um sucesso posterior. Mas se compreender a dinâmica do processo, aceitando a coexistência dos contrários, pode- se atingir as finalidades. Agindo segundo os princípios da interatividade, podem-se estabelecer parcerias e associações com naturalidade, pois será possível atuar em conjunto com múltiplos parceiros e de modo ágil, sem duplicar esforços ou confundi-los, como ocorre com os que agem de modo departamental ou fragmentado. Partindo de uma visão sistêmica do meio ambiente, pode-se buscar a articulação de ações com múltiplos parceiros, atuar interativamente e considerar tanto os avanços ocorridos na defesa ambiental quanto às contradições existentes como integrantes do processo permanente de transformação. O mundo contemporâneo é marcado pela rapidez e pela transformação e requisita atualização permanente de informações e conhecimentos. A complexidade da ciência e da tecnologia atual exige a especialização técnica em todas as áreas de ação. No entanto, todas as profissões requerem, cada vez mais, uma base ética comum e esta base deve incluir, obrigatoriamente, valores, princípios e conceitos ambientais. Isso representa o cultivo e a expressão de valores universais como o respeito e a proteção a todas as formas de vida, a preservação das fontes naturais de 27 energia, a busca da harmonia homem/natureza e o desenvolvimento científico e tecnológico equilibrado com a preservação do meio ambiente (MEDINA; SANTOS, 1999). Tais valores têm como decorrências o equilíbrio dinâmico homem/natureza, a ampliação da qualidade de vida e do exercício de cidadania para todos, a reversão dos atuais quadros de miséria, a alteração de hábitos de consumo, a readequação do atual modelo econômico, a defesa da biodiversidade e de áreas de relevante importância para o equilíbrio ambiental global. O processo permanente de transformação, do qual a sociedade deve participar, necessita ser estruturado em bases éticas, que incluam valores de caráter ambiental relativos a proteção à vida, ao exercício da cidadania e à defesa do meio ambiente global. Como se verificam nos estudos de Medina; Santos (1999), trabalhar com a prática da Educação Ambiental dá a certeza da importância desta abordagem. Os bons resultados colhidos são os estimuladores maiores desta tarefa. A partir dos principais problemas socioambientais locais e regionais, suas causas, efeitos, impactos gerados e os agentes responsáveis, pode-se desenvolver um efetivo trabalho dentro do processo ensino-aprendizagem, outorgando a escola seu papel de formadora do cidadão ativo. Contudo, as atividades não devem se restringir somente a leituras teóricas e consultas aos manuais: antes devem agregar aulas práticas, passeios ecológicos, orientações quanto à coleta seletiva, além de trabalhos na rotina de sala de aula, com desenhos, redações, leituras. A vivência e o repertório do aluno sempre devem ser levados em consideração no contexto, assim como o seu convívio familiar. Esta nova realidade pedagógica vem dando bons resultados, pois muitos alunos nem sequer tinham noções básicas relacionadas às questões ambientais. É possível observar, em muitos casos, mudanças no quadro. A rotina familiar também se altera, sendo constantes os relatos de pais sobre as novas perspectivas dos filhos, a importância que estes passam a identificar, principalmente nos noticiários, da preservação ambiental. 28 A prática da educação ambiental não-formal pode ser definida como as ações educativas voltadas à sensibilização da coletividade sobre as questões ambientais, bem como a organização e a participação da sociedade na defesa da qualidade do meio ambiente. Para que a educação não-formal se consolide, o Poder Executivo deve incentivar a difusão de campanhas educativas e programas, em espaço nobre nos meios de comunicação de massa, contendo informações de temas relacionados ao Meio Ambiente A construção de uma proposta de Educação Ambiental emancipatória e comprometida com o exercício da cidadania exige a explicitação de pressupostos que devem fundamentar sua prática. Há que se reafirmar os princípios constitucionais em que o meio ambiente sadio é direito de todos, bem de uso comum e essencial à boa qualidade de vida. Compartilhando dos estudos de Cavalcanti (1995), é possível identificar que preservar e defender o meio ambiente é dever tanto do poder público como da coletividade e um compromisso ético com as presentes e futuras gerações. Isto implica no compromisso da construção de um padrão de desenvolvimento econômico socialmente justo e ambientalmente seguro e na prática de uma Gestão Ambiental democrática, fundada no princípio de que todas as espécies têm direito a viver no planeta. A partir dos principais problemas socioambientais locais e regionais, suas causas, efeitos, impactos gerados e osagentes responsáveis, pode-se desenvolver um efetivo trabalho dentro do processo ensino-aprendizagem, outorgando à escola seu papel de formadora do cidadão ativo. Para cada região, devem ser definidas estratégias e linhas de ação de projetos e atividades de educação ambiental relacionados com as atividades econômicas e o perfil da região. Desta maneira, a Educação Ambiental passa a ter um papel ativo na direção do desenvolvimento com sustentabilidade. Da relação - em diferentes épocas e lugares - dos seres humanos entre si e com o meio físico-natural emerge o que se denomina [...] de meio ambiente. Diferente dos mares, dos rios, das florestas, da atmosfera, que não necessitaram da 29 ação humana para existir, a meio ambiente precisa do trabalho dos seres humanos para ser construído e reconstruído e, portanto, para ter existência concreta. Por tudo isto, afirma-se que meio natural e meio social são faces de uma mesma moeda e assim indissociáveis. (BRASIL, 1995, p. 9). A Educação Ambiental é um valioso instrumento para a implantação de políticas de gestão ambiental nos diferentes espaços sociais e tem como um dos desafios mediar conflitos de interesses entre vários atores sociais que agem sobre os meios físico e natural. Segundo Rocha (2002, p. 2), "como um dos objetivos da Educação Ambiental é disseminar a defesa da qualidade ambiental como um valor inseparável do exercício da cidadania", torna-se "necessário que todos os setores sociais sejam envolvidos nos programas, projetos e atividades promovidas em seu nome". Tem-se plena convicção que a Educação Ambiental em escolas, é um forte recurso para a preservação da natureza, como também, um processo eficaz para a manutenção das espécies; atualmente, a aceitação deste trabalho é cada vez maior. Mediante este contexto, o processo educativo tornou-se de suma importância para o desenvolvimento de um programa prático e simples em defesa da vida. Alves (1995, p. 34) apresenta que "o diálogo caminha para uma dialética entre os diversos saberes. [...] a interdisciplinaridade está relacionada ao desenvolvimento de um processo dialógico, que deve ser compreendido no sentido dialético de confrontação que gera sínteses, novas análises e novas sínteses". A dimensão ambiental deve ser incorporada à formação dos educadores de todos os níveis e modalidades de ensino, bem como à especialização e à atualização dos educadores já em exercício. Os profissionais que atuam em atividades de gestão ambiental também devem ter capacitação pertinente ao assunto. Contudo, a Educação Ambiental não deve ser implantada como uma disciplina específica no currículo de ensino e sim ser desenvolvida como uma prática educativa integrada. O assunto deve também estar presente em atividades interdisciplinares. 30 Para se garantir que a gestão ambiental se dê por um enfoque sistêmico, é imperioso a garantia dos espaços da participação e da mobilização e a luta permanente pela ampliação destes espaços, o que permitirá a explicitação dos conflitos geradores de problemas ambientais e estruturantes da realidade socioambiental. (SANTOS; SATO, 2001, p. 193). Apesar de atual e muito difundido, é do conhecimento de todos, que a prática da Educação Ambiental não é comum em todas as escolas; não são constantes estes tipos de trabalhos, ideias estas compartilhadas por Brugger (1999). Sente-se que todos os alunos e jovens desejam conhecer as formas práticas de defesa da natureza, seguindo suas próprias pesquisas nas atividades extraclasse. Desenvolvendo a criatividade e o conhecimento da área no dia a dia, proporcionando às crianças, jovens e comunidades o conhecimento através do contato direto com a natureza, pode-se atingir os objetivos de forma mais consistente. Desenvolver um projeto prático e de linguagem fácil constitui o primeiro passo para a reversão do quadro, procurando responder todas as perguntas e tirar dúvidas sobre o assunto tratado, com a participação direta dos envolvidos. Nas atividades extraclasse o próprio aluno vai gerenciar suas curiosidades e conhecimentos. Ele deixa de ser um simples participante do meio para se tornar um indivíduo responsável e participativo. Deverá buscar apoio de todas as formas dentro e fora da escola para melhor se orientar. Na organização haverá a participação direta de todos. Programas neste sentido são de fundamental importância, sendo responsável pela reversão da degradação do meio ambiente em um contexto amplo de participação e conscientização do papel do cidadão ativo e responsável pela manutenção da sociedade que integra. Como se verifica em Peltier (1990), o contexto atual quanto às questões relacionadas ao meio ambiente, está a exigir a construção de uma racionalidade ambiental que viabilize a formação de um novo saber científico e tecnológico, onde práticas produtivas, administrações setoriais de desenvolvimento e políticas públicas 31 venham contribuir em campos de conhecimento teórico-práticos, capazes de orientar a rearticulação das relações sociedade-natureza. Nesta nova esfera, o homem passa a observar o seu contexto de maneira mais crítica, percebendo seu verdadeiro papel frente ao seio social que integra. Aliado ao processo, a instituição escolar tem se estruturado na medida em que passa a intermediar o processo, otimizando valores e potencializando ações para a reversão do quadro da degradação ambiental. As relações da sociedade civil organizada entre instituições governamentais responsáveis pela Educação Ambiental caminham juntas para a construção de uma cidadania ambiental sustentável, baseada na participação, justiça social e democracia consciente. É evidente que o aprofundamento de processos educativos ambientais se apresenta como uma condição sumária para construir uma nova racionalidade ambiental que possibilite modalidades de relações entre a sociedade e a natureza, entre o conhecimento científico e as intervenções técnicas no mundo, nas relações entre os grupos sociais diversos e entre os diferentes países em um novo modelo ético, centrado no respeito e no direito à vida em todos os aspectos. 3. EDUCAÇÃO AMBIENTAL E CURRÍCULO A educação ambiental, por não estar presa a uma grade curricular rígida, pode ampliar conhecimentos em uma diversidade de dimensões, sempre com foco na sustentabilidade ambiental local e do planeta, aprendendo com as culturas tradicionais, estudando a dimensão da ciência, abrindo janelas para a participação em políticas públicas de meio ambiente e para a produção do conhecimento no âmbito da escola. Buscamos formas abertas e inovadoras de construir juntamente com formadores, professores e alunos aquilo que Edgar Morin (2001) chama de conhecimento pertinente, que possibilita apreender os problemas globais e fundamentais para neles inserir os conhecimentos parciais e locais. Nesses dois saberes têm-se implícita a busca de um conhecimento complexo, não fragmentário e 32 que se amplia continuamente sem, entretanto, trazer um conhecimento totalizador, também limitado. O conhecimento pertinente reconhece que, em meio à complexidade do real, nunca é possível a compreensão total. É por isso, também, que a busca do conhecimento se torna um esforço infinito, mas que pode se tornar um círculo virtuoso. Por não se tratar de uma disciplina, a educação ambiental permite inovações metodológicas na direção do educere tirar de dentro por ser necessariamente motivada pela paixão, pela delícia do conhecimento e da prática voltados para a dimensão complexa da manutenção da vida. Por um lado, pensamos na diversidade de saberes e complexidade dos sistemas naturais e sociais. Por outro, a nossa "pedagogia da práxis" envolve um trabalho com a simplicidade do natural, de materiais didático-pedagógicos, do diálogo e de compartilhar experiências e conhecimentos. Para darmos contada complexidade das dinâmicas do mundo contemporâneo, optamos pela arte da simplicidade. Isso só pode ser feito se tivermos a clareza de que na sociedade moderna são confundidas complexidade e complicação, de um lado e de outro, simplicidade (a essência do complexo) e ser simplista, isto é, reduzir a biodiversidade a recursos naturais e tudo a mercadoria, portanto, algo a ser consumido. Com essa visão sistêmica e participativa, espera-se que esses processos educacionais permitam incentivar educadores e educadoras ambientais a acreditarem em sua capacidade de atuação individual e coletiva, ao se apropriarem de conceitos, readequando métodos, incrementando técnicas e melhorando suas práticas cotidianas. 4. CRITÉRIOS DE SELEÇÃO E ORGANIZAÇÃO DOS CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL Dois fatores tornam difícil a seleção de conteúdos de forma satisfatória: a complexidade da temática ambiental e a diversidade da realidade brasileira. Entretanto, além de um elenco de conteúdos, o tema Meio Ambiente propõe que se 33 garanta aos alunos aprendizagem que lhes possibilite posicionar-se em relação às questões ambientais nas suas diferentes realidades particulares e atuar na melhoria de sua qualidade. Assim sendo, a seleção dos conteúdos foi realizada com a preocupação de elencar questões amplas e também de possibilitar a valorização e a atenção às especificidades regionais. Seguindo essas preocupações, foram selecionados os conteúdos que: Contribuam com a conscientização de que os problemas ambientais dizem respeito a todos os cidadãos e só podem ser solucionados mediante uma postura participativa; Proporcionem possibilidades de sensibilização e motivação para um envolvimento afetivo; Possibilitem o desenvolvimento de atitudes e a aprendizagem de procedimentos e valores fundamentais para o exercício pleno da cidadania, ressaltando-se a participação no gerenciamento do ambiente; Contribuam para uma visão integrada da realidade, desvendando as interdependências entre a dinâmica ambiental local e a planetária, desnudando as implicações e causas dos problemas ambientais; Sejam relevantes na problemática ambiental do Brasil; Sejam compatíveis com os conteúdos trabalhados pelas áreas nesses ciclos, possibilitando a transversalização; Sejam condizentes com a expectativa de aprendizagem nesse nível de escolaridade. A partir desses critérios, foram eleitos conteúdos suficientemente abrangentes para possibilitar aos professores trabalhá-los de acordo com a especificidade local, sem perder de vista as questões globais e a ampliação de conhecimento sobre outras realidades. A realidade de uma escola em região metropolitana, por exemplo, implica exigências diferentes daquelas de uma escola da zona rural. 34 Da mesma forma, escolas inseridas em locais mais saudáveis, sob o ponto de vista ambiental, ou naqueles muito poluídos deverão priorizar objetivos e conteúdos que permitam abordar esses aspectos. Também a cultura, a história e os costumes irão determinar diferenças no trabalho com o tema Meio Ambiente em cada escola. Os conteúdos foram reunidos em três blocos: • A natureza “cíclica” da Natureza; • Sociedade e meio ambiente; • Manejo e conservação ambiental. O primeiro bloco apresenta conteúdos que possibilitam ampliar e aprofundar o conhecimento da dinâmica das interações ocorridas na natureza. Essa fundamentação dá consistência à argumentação em defesa e proteção daquilo que as pessoas amam e valorizam. O segundo bloco trata de aspectos mais abrangentes da relação sociedade/natureza, enfatizando as diferentes formas e consequências ambientais da organização dos espaços pelos seres humanos. Tendo como base as características integradas da natureza, e de como ela se altera segundo as diferentes formas de organização socioculturais, este bloco inclui desde a preocupação do mundo com as questões ecológicas até os direitos e responsabilidades dos alunos e sua comunidade com relação à qualidade do ambiente em que vivem, e as possibilidades de atuação individual e coletiva. O último bloco trata mais especificamente das possibilidades, positivas e negativas, de interferências dos seres humanos sobre o ambiente, apontando suas consequências. Busca discutir algumas formas adequadas de intervenção humana para equacionar melhor os seus impactos. Estes são três aspectos das questões ambientais: os blocos não são estanques, nem sequenciais, mas aglutinam conteúdos relativos aos diferentes aspectos que configuram a problemática ambiental. Eles possibilitam enxergar de maneira mais consistente esses determinantes dos vários ambientes, como eles se configuraram e como poderiam ser modificados. 35 Entre outros fatores, alguns dos que mais mobilizam tanto os adolescentes e jovens quanto os adultos a respeitar e conservar o meio ambiente são o vínculo afetivo, o desafio de conhecer as características, as qualidades da natureza; o perceber o quanto ela é interessante, rica e pródiga, podendo ser ao mesmo tempo muito forte e muito frágil; o perceber e valorizar, no dia-a-dia, a identificação pessoal com o ambiente local; o saber-se parte dela, como os demais seres habitantes da Terra, dependendo todos — inclusive sua descendência — da manutenção de condições que permitam a continuidade do fenômeno da vida, em toda a sua grandiosidade. Entre os conteúdos, os procedimentos merecem atenção especial. Os conteúdos dessa natureza são aprendidos em atividades práticas. São um “como fazer” que se aprende fazendo, com orientação organizada e sistemática dos professores. A atuação nessas atividades favorece tanto as construções conceituais quanto o aprendizado da participação social. Além disso, constituem situações didáticas em que o desenvolvimento de atitudes pode ser trabalhado por meio da vivência concreta e da reflexão sobre ela. Dentre esses conteúdos destacam-se: Alternativas variadas de expressão e divulgação de ideias e sistematização de informações como realização de: cartazes, jornais, boletins, revistas, fotos, filmes, dramatização; Técnicas de pesquisa em fontes variadas de informação (bibliográficas, cartográficas, memória oral etc.); Análise crítica das informações veiculadas pelos diferentes canais de comunicação (TV, jornais, revistas, vídeos, filmes comerciais etc.); Identificação das competências, no poder local, para solucionar os problemas ambientais específicos; Identificação das instituições públicas e organizações da sociedade civil em que se obtêm informações sobre a legislação ambiental (nos níveis municipal, estadual e federal) e possibilidades de ação com relação ao meio ambiente; 36 Formas de acesso aos órgãos locais e às instâncias públicas de participação, tais como Conselhos Estaduais, Conselhos Municipais, Consórcios Intermunicipais etc., onde são debatidos e deliberados os encaminhamentos das questões ambientais; Acompanhamento das atividades das ONG’s (Organizações Não- Governamentais) ou de outros tipos de organizações da sociedade que atuam ativamente no debate e encaminhamento das questões ambientais. A INTERDISCIPLINARIDADE METODOLÓGICA E EPISTEMOLÓGICA NA EDUCAÇÃO AMBIENTAL 1. INTERDISCIPLINARIDADE METODOLÓGICA Ainda enfatiza a questão da interdisciplinaridade metodológica e epistemológica da educação ambiental como "componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal" (art. 2º). Reforça a responsabilidade coletiva da sua implementação, seus princípios básicos, objetivos e estratégias. Esta lei fornece um roteiro para a prática da educação ambiental e na sua regulamentação (Decreto 4281/02) indica o Ministério da Educação e do Meio Ambiente como órgãosgestores dessa política. Assim, a educação ambiental insere-se nas políticas públicas do Estado brasileiro de ambas as formas, como crescimento horizontal (quantitativo) e vertical (qualitativo), pois enquanto no âmbito do MEC pode ser entendida como uma estratégia de incremento da educação. Para resolver os problemas ambientais, é indispensável definir, hierarquizar e articular certos imperativos de ordem política, econômica, social e ecológica em um processo de planejamento do desenvolvimento nacional. É preciso conhecer as correlações existentes entre fenômenos e situações que o enfoque disciplinar fragmenta. Ao ignorar as fronteiras que separam as disciplinas especializadas, o enfoque interdisciplinar busca dar uma perspectiva mais geral e 37 menos esquemática dos problemas. Tal enfoque não consiste em justapor as diversas disciplinas, mas em abranger o processo em sua totalidade, passando imediatamente para a análise e a solução do problema específico. Na verdade, o enfoque interdisciplinar dos problemas ambientais nos leva a considerar, primeiramente, o sistema no âmbito da realidade que delineia um problema. A partir de então, para explicar um fenômeno, será preciso estabelecer o marco de referência geral, no qual se integrarão os enfoques específicos das diversas disciplinas, ressaltando suas interdependências. A incorporação de um enfoque interdisciplinar na prática educativa é um árduo empreendimento a ser realizado gradativamente. Isso pressupõe a existência de contatos fáceis entre o corpo docente, graças à boa formação das pessoas e à organização adequada do ensino, levando em conta as afinidades teóricas e metodológicas entre as diferentes disciplinas. Na verdade, é errado pensar que o melhor meio de resolver problemas consiste em fragmentá-los cada vez mais. O isolamento do especialista não permite resolver os problemas do mundo atual. A especialização continua sendo necessária, mas ainda não é suficiente. Durante muito tempo, pensou-se que era possível assimilar o saber em pequenos fragmentos justapostos entre si para formar o que se chama de cultura. Isso deu origem às atuais instituições escolares, com sua sucessão temporal de disciplinas. As teorias modernas sobre o aprendizado demonstram que o saber não se justapõe, mas se constrói progressivamente num sistema, sendo que cada um dos elementos tem que estar em interação com todos os demais. A nova informação se incorpora ao saber, não se somando a ele, mas reorganizando o conjunto. Por conseguinte, a educação ambiental deve buscar estabelecer uma complementaridade estruturada de conhecimentos teóricos, práticos e comportamentais. 2. EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO TEMA TRANSVERSAL 38 Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) incorporam a tendência da transversalidade para “compor um conjunto articulado e aberto a novos temas, buscando um tratamento didático que contemple sua complexidade e sua dinâmica, dando-lhes a mesma importância das áreas convencionais. O currículo ganha em flexibilidade e abertura, uma vez que os temas podem ser priorizados e contextualizados de acordo com as diferentes realidades locais e regionais” (BRASIL, 1997). Os temas transversais não são uma nova disciplina ou novas áreas do currículo escolar, antes são temas que deverão ser incorporados as áreas já existentes do trabalho educativo da escola. Ou seja, deverão ser trabalhados interdisciplinarmente. Os PCN’s incorporam a tendência da transversalidade para “compor um conjunto articulado e aberto a novos temas, buscando um tratamento didático que contemple sua complexidade e sua dinâmica, dando-lhes a mesma importância das áreas convencionais. O currículo ganha em flexibilidade e abertura, uma vez que os temas podem ser priorizados e contextualizados de acordo com as diferentes realidades locais e regionais” (Brasil, p.25, 1997). Os temas transversais não são uma nova disciplina ou novas áreas do currículo escolar, antes são temas que deverão ser incorporados as áreas já existentes do trabalho educativo da escola. Ou seja, deverão ser trabalhados interdisciplinarmente. Os temas transversais podem enriquecer o currículo e até ter um cunho inovador. Em todos os níveis do processo educativo, a Educação Ambiental que não é uma matéria suplementar somada aos programas existentes, constitui tema interdisciplinar, isto é, uma cooperação entre as disciplinas tradicionais indispensáveis à percepção da complexidade dos problemas do meio ambiente e à formulação de suas soluções. 3. PENSAR A SUSTENTABILIDADE O conceito de desenvolvimento foi objeto de controvérsias, e, até recentemente, a abordagem era de ver desenvolvimento e crescimento econômico como sinônimo. O trabalho de Amartya Sen (2004), prêmio Nobel de Economia em 39 1998, representa um novo momento para a reflexão sobre desenvolvimento como o processo de ampliação da capacidade de os indivíduos terem opções, fazerem escolhas. Relativizando os fatores materiais e os indicadores econômicos, Sen insiste na ampliação do horizonte social e cultural da vida das pessoas. A base material do processo de desenvolvimento é fundamental, mas deve ser considerada como um meio e não como um fim em si. Além da capacidade produtiva, ao postular a melhoria da qualidade de vida em comum, a confiança das pessoas nos outros e no futuro da sociedade, destaca as possibilidades das pessoas levarem adiante iniciativas e inovações que lhes permitam concretizar seu potencial criativo e contribuir efetivamente para a vida coletiva. Sen (2004) resume suas ideias sobre o desenvolvimento como as possibilidades que a cooperação e a solidariedade entre os membros da sociedade trazem ao transformar o crescimento econômico de destruidor das relações sociais em processo de formação de capital social ou em "desenvolvimento como liberdade" (Sen, 2004). Para ele a expansão da liberdade é o principal fim e meio do desenvolvimento, e só há desenvolvimento quando os benefícios servem à ampliação das capacidades humanas. Destaca que isto requer que sejam superadasas principais fontes de privação de liberdade: pobreza e tirania, carência de oportunidades econômicas e destituição total e sistemática, negligência dos serviços públicos e intolerância ou interferência de Estados repressivos (SEN apud VEIGA, 2005). E como emerge a complexa relação entre desenvolvimento e meio ambiente? A incorporação do marco ecológico nas decisões econômicas e sociopolíticas tem na construção do conceito de desenvolvimento sustentável um referencial que assume visibilidade, e que coloca o desenvolvimento como uma forma de modificação da natureza e que, portanto, devem contrapor-se tanto os objetivos de atender às necessidades humanas e de outro lado, seus impactos, e dentre estes, aqueles que afetam a base ecológica. 40 A incorporação do marco ecológico nas decisões econômicas e políticas implicam reconhecer que as consequências ecológicas do modo como a população utiliza os recursos do planeta estão associadas ao modelo de desenvolvimento. Isto se explicita segundo Guimarães (2001, p. 51), pela crise que afeta o planeta, "o que configura o esgotamento de um estilo de desenvolvimento ecologicamente predador, socialmente perverso, politicamente injusto, culturalmente alienado e eticamente repulsivo". Apesar de essas premissas básicas terem bastante consenso, o "desenvolvimento sustentável" tem se convertido num conceito plural: não apenas existem diferentes concepções do desenvolvimento em jogo, mas também o que se entende por sustentabilidade. As tensões entre desenvolvimento e conservação do meio ambiente ainda persistem, e o forte viés economicista é um dos fatores de questionamento do conceito pelas organizações ambientalistas. Há definição de diferentes abordagens que apresentam uma diversidade conceitual,
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