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Antunes-27-71

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Prévia do material em texto

Parte	II
N
A	psicologia	científica	e	seu	processo	de
autonomização	no	Brasil
ovas	e	significativas	transformações	ocorreram,	a	partir	do	final	do	século	XIX,	tanto	na	sociedade
brasileira	quanto	na	Psi​cologia.
O	Brasil	 adotou	 o	modelo	 republicano,	 ao	mesmo	 tempo	 em	 que	 se	 consolidava	 e	 atingia	 pleno
desenvolvimento	 a	 economia	 de	 base	 agrário-comercial-exportadora,	 vinculada	 fundamentalmente	 à
produção	 cafeeira,	 o	 que	 contribuiu	 para	 a	 geração	 de	 condições	 que	 possibilitaram	 a	 efetivação	 do
processo	 de	 industrialização	 do	 país.	 Tais	 fatores	 concorreram	 para	 a	 expansão	 do	 processo	 de
urbanização	e	para	a	definição	do	pólo	econômico-político-cultural	do	país	na	região	Sudeste.	Assistiu-
se,	 nesse	 momento,	 à	 expansão	 do	 ideário	 liberal	 entre	 os	 intelectuais	 brasileiros,	 cuja	 participação
política	e	cultural	tornou-se	intensa,	trazendo	à	tona	a	preocupação	com	a	“questão	nacional”	e	a	busca
de	caminhos	para	o	progresso	e	a	modernidade.
A	 Psicologia,	 por	 sua	 vez,	 adquiriu	 no	 final	 do	 século	 passado	 o	 estatuto	 de	 ciência	 autônoma;
processo	esse	originado	na	Europa	e	 seguido	de	acelerada	evolução	dessa	ciência	não	apenas	em	seu
solo	original,	mas	também	nos	Estados	Unidos.	Na	virada	do	século,	ocorreu	intenso	desenvolvimento	da
ciência	 psicológica	 em	 todas	 as	 instâncias,	 quer	 no	 plano	 teórico	 –	 destacando-se	 a	 diversidade	 de
abordagens	surgidas	nessa	época	e	o	aumento	significativo	da	produção	de	pesquisas	–,	quer	no	plano
prático,	em	que	esta	ciência	penetrou	e	ampliou	seu	potencial	de	aplicação.
A	concomitância	desses	dois	conjuntos	de	fatores	e	a	possibilidade	efetiva	de	estabelecimento	de
relações	entre	eles,	em	função	da	articulação	entre	potencialidades	e	necessidades,	passíveis	de	serem
mutuamente	realizadas,	permitiram	um	avanço	sem	precedentes	na	história	da	Psicologia	no	Brasil.
Os	problemas	que	o	Brasil	enfrentava	no	século	XIX	tenderam,	com	a	virada	do	século,	a	agravar-
se	e	outros	vieram	a	eles	se	somar,	de	tal	maneira	que	o	pensamento	psicológico,	já	em	franco	processo
de	 desenvolvimento	 no	 país,	 encontrou	 terreno	 fértil	 para	 penetrar	 e	 estabelecer-se	 na	 sua	 dimensão
científica	e	caminhando	para	sua	autonomia	teórica	e	prática	em	relação	às	áreas	do	saber	no	interior	das
quais	 havia	 se	 desenvolvido	 até	 então,	 como	 a	 Medicina	 e	 a	 Educação.	 Ao	 mesmo	 tempo,	 o
desenvolvimento	 da	 ciência	 psicológica	 e	 a	 ampliação	 de	 seu	 campo	 de	 ação	 maximizavam	 as
possibilidades	 concretas	 de	 a	 Psicologia	 contribuir	 com	 possíveis	 respostas	 para	 as	 questões	 que	 se
impunham.
A	Psicologia	e	outras	áreas	de	conhecimento	foram	buscadas	no	sentido	de	contribuir	com	soluções
para	 os	 problemas	 relacionados	 à	 saúde,	 à	 educação	 e	 à	 organização	 de	 trabalho,	 no	 interior	 de	 uma
formação	social	dependente	e	atrasada,	em	busca	da	mo-dernidade	representada	pela	concretização	do
ingresso	do	Brasil	no	mundo	industrializado.
Nesse	 contexto	 e	 em	 face	 de	 tais	 problemas	 ocorreram	 importantes	 realizações	 da	Psicologia	 no
Brasil,	cujas	principais	produções	são	ainda	oriundas	das	instituições	médicas	e	educacionais.	A	partir
dessa	base	e	em	seu	interior	é	que	a	Psicologia	se	desenvolveu,	conquistando	sua	autonomia	em	relação
às	áreas	do	saber	no	interior	das	quais	evoluíra	até	então,	por	meio	da	definição	e	da	delimitação	cada
vez	mais	explícitas	de	seu	objeto	de	estudo	e	de	seu	campo	próprio	de	ação.	Tentaremos	demonstrar	que
a	produção	psicológica	no	interior	de	algumas	instituições	delineia-se	cada	vez	com	maior	clareza,	de	um
lado	pela	diferenciação	gradativa	de	outras	áreas	de	conhecimento,	como	a	Psiquiatria	por	exemplo,	e	de
outro	 lado	pela	penetração	das	 idéias	e	práticas	 já	constitutivas	da​quilo	que,	na	Europa	e	nos	Estados
Unidos,	era	considerado	como	Psicologia	científica.
As	personagens	dessa	história	são	principalmente	médicos,	educadores,	bacharéis	em	direito	e	até
engenheiros,	sendo	que	muitos	deles	acabaram	por	dedicar-se	exclusivamente	à	Psicologia	e	podem	ser
considerados	 como	 os	 primeiros	 psicólogos	 brasileiros.	 Acrescentam-se	 a	 eles	 vários	 psicólogos
estrangeiros	 que	 para	 cá	 vieram	 ministrar	 cursos,	 proferir	 palestras	 ou	 prestar	 assistências	 técnicas
específicas,	dos	quais	muitos	aqui	permaneceram	e	se	radicaram	definitivamente	no	país.
Abordaremos,	 a	 seguir,	 a	 produção	 psicológica	 na	Medicina,	 na	 Educação	 e	 na	 sua	 aplicação	 à
organização	 do	 trabalho,	 no	 período	 compreendido	 entre	 a	 última	 década	 do	 século	 XIX	 e	 as	 três
primeiras	décadas	do	século	XX.
A
Capítulo	1
A	psicologia	em
instituições	médicas
tendência	do	século	XIX	manteve-se	por	algum	tempo,	diferenciando-se	gradativamente,	sendo	que
as	 preocupações	 estritamente	 psiquiátricas	 foram	 se	 delineando	 com	maior	 clareza	 e	 delimitando
mais	 explicitamente	 suas	 fronteiras	 com	 a	 Psicologia.	 Tais	 fatos	 ocorreram	 ainda	 no	 interior	 da
Medicina,	mas	já	caracterizada	como	especialidade	psiquiátrica,	particularmente	nas	instituições	asilares
e	 em	 seu	 correlatos,	 como	 a	Medicina	 Legal	 ou	 a	Higiene	Mental.	 A	 principal	 evidência	 disso	 foi	 a
criação	 de	 laboratórios	 de	 Psicologia	 em	 diversas	 instituições	 psiquiátricas,	 cuja	 produção	 foi
principalmente	de	natureza	psicológica.	O	desenvolvimento	dos	saberes	psiquiátrico	e	psicológico	e	suas
decorrências	práticas	 foram	fatores	 fundamentais	para	que	ambas	as	áreas	adquirissem	contornos	mais
nítidos	e,	conseqüentemente,	uma	maior	delimitação	entre	si.
O	país	 encontrava-se	 ainda	na	mesma	 (e	 talvez	pior)	 situação	que	no	 século	 anterior,	 no	que	diz
respeito	 às	 precárias	 condições	 de	 saneamento	 e	 saúde	 do	 povo	 brasileiro.	 Intelectuais	 e	 políticos
reclamavam	da	Medicina	intervenções	concretas	por	meio	de	um	projeto	profilático,	com	a	finalidade	de
erradicar,	ou	pelo	menos	minimizar,	as	inúmeras	doenças	infecto-contagiosas	que	assolavam	o	país.	Esse
movimento,	no	âmbito	da	Medicina	Geral,	estava	intimamente	relacionado	à	questão	da	Higiene	que,	nos
anos	iniciais	do	século	XX,	estava	revestido	de	ampla	responsabilidade	frente	à	realidade.	É	no	bojo	de
tais	fatos	que	tanto	o	pensamento	psiquiátrico	quanto	o	psicológico	encontraram	fértil	terreno	para	seus
estudos	 e	 para	 a	 aplicação	de	 seus	 conhecimentos	por	meio	da	Higiene	Mental,	 instância	derivada	da
Higiene	 em	 sua	 expressão	 geral.	 As	 ligas	 de	 Higiene	 Mental	 foram,	 assim,	 importantes	 fontes	 de
produção	de	pesquisa	e	de	práticas	relacionadas	à	Psicologia.
Para	 expor	 essa	 linha	 de	 desenvolvimento	 histórico	 da	 Psicologia,	 abordaremos	 a	 seguir	 as
produções	 dos	 hospícios,	 incluindo	 a	 Liga	 Brasileira	 de	 Higiene	 Mental;	 as	 produções	 relativas	 às
intermediações	entre	Psiquiatria	e	Direito,	que	foi	um	importante	veio	de	desenvolvimento	da	Psicologia,
principalmente	por	meio	da	Me​dicina	Legal,	e	das	teses	de	doutoramento	das	Faculdades	de	Medicina.
1.1.	Os	hospícios	e	algumas	instituições	correlatas
O	 sustentáculo	 das	 produções	 que	 serão	 apresentadas	 a	 seguir	 foi	 o	 alienismo.	 Surgiu	 este	 na
Europa,	 como	 área	 que	 se	 auto​nomizou	 em	 relação	 à	 Medicina	 tradicional,	 estabelecendo	 como	 seu
objeto	 de	 estudo	 a	 “razão”,	 cuja	 compreensão	 não	 poderia,	 segundo	 seus	 defensores,	 situar-se	 na
Anatomia	ou	na	Fisiologia,	 pois	 teria	 aquela	uma	natureza	diversa.	Ao	alienismo	veio	 somar-se,	mais
tarde,	o	organicismo,	que	trazia	a	concepção	de	loucura	como	organicamente	determinada.
O	pensamento	psiquiátrico	brasileiro	da	época	tinha	como	principal	característica	o	ecletismo,	que
conjugava	o	alienismo	clássico,	especialmente	de	Pinel	e	Tuke,	com	o	organicismo,	em	particular	numa
de	 suas	 vertentes,	 a	 teoria	 da	 degenerescência,	 fortemente	 calcada	 na	 concepção	 da	 determinação
hereditária	da	loucura.
A	 teoria	 da	 degenerescência	 propunha	 ações	 que	 extra​polavam	 os	 muros	 asilares,	 propondoa
higienização	 e	 a	 discipli​na​rização	 da	 sociedade.	 Considerava	 ainda	 a	 existência	 de	 uma	 hierarquia
racial,	estando	no	ápice	a	raça	ariana	e	na	base	a	raça	negra;	muitos	teóricos	acreditavam	ser	os	negros
mais	propensos	à	degeneração	por	sua	inferioridade	biológica.
No	 Brasil,	 essas	 duas	 correntes	 juntam-se	 numa	 só	 experiência,	 em	 que	 a	 exclusão	 do	 “louco”
deveria	ser	compartilhada	com	a	prevenção	“social”	da	loucura.
O	 alienismo	 havia	 sido,	 no	 século	 anterior,	 expressão	 da	 Medicina	 Social,	 que	 incluía	 em	 seu
projeto	 profilático	 a	 preocupação	 com	 a	 pobreza,	 a	marginalidade	 social,	 o	 crime	 e	 a	 loucura.	Como
solução	 apresentava-se	 a	 necessidade	 de	 um	 efetivo	 controle	 sobre	 a	massa	 urbana,	 com	 vistas	 à	 sua
disciplinarização.	Nesse	contexto,	ganha	força	a	teoria	da	degenerescência.
Essas	idéias	são	incrementadas	na	virada	do	século,	com	o	agravamento	dos	problemas	urbanos,	de
tal	maneira	que	o	controle	das	massas	impunha-se	como	premente	necessidade	para	uma	sociedade	que
almejava	 ingressar	 num	 efetivo	 processo	 de	 industrialização,	 sobretudo	 no	 que	 diz	 respeito	 ao
proletariado.	 Assim,	 a	 articulação	 entre	 pensamento	 psiquiátrico	 e	 controle	 do	 processo	 produtivo
revela-se	explicitamente.
A	 preocupação	 com	 a	 “ordem”	 urbana	 e	 com	 o	 “progresso”	 baseia-se	 também	 nos	 princípios
positivistas,	 ainda	 fortemente	 arraigados	 no	 ideário	 brasileiro.	 A	 questão	 da	 “ordem”	 assume	 grande
importância	nessa	conjuntura,	devendo	o	asilo	excluir	do	convívio	social	aqueles	que	não	se	adaptassem
às	 normas	 estabelecidas,	 isto	 é,	 os	 “desordeiros”,	 estando	 incluídos	 nessa	 categoria	 os	 indivíduos
engajados	nos	movimentos	sociais	organizados.
Tais	 concepções,	 embora	majoritárias,	 não	 foram	 unânimes,	 o	 que	 demonstraremos	 adiante	 pela
experiência	 de	 Ulysses	 Pernambuco	 em	 Recife.	 Além	 desta,	 apresentaremos	 a	 seguir	 algumas
considerações	sobre	o	Hospício	do	Juquery,	o	Hospital	Nacional	de	Alienados,	a	Colônia	de	Psicopatas
do	Engenho	de	Dentro	e	as	Ligas	de	Higiene	Mental.
Hospício	do	Juquery9
Os	primórdios	do	Hospício	do	Juquery	situam-se	no	Asilo	Provisório	de	Alienados	da	Cidade	de
São	 Paulo.	 Sua	 criação	 é	 obra	 de	 Franco	 da	 Rocha,	 que	 empreendeu	 a	 reforma	 psiquiátrica	 em	 São
Paulo,	denunciando	a	precariedade	da	assistência	aos	doentes	mentais	e	defendendo	uma	nova	instituição,
baseada	em	práticas	científicas,	sobretudo	no	“asilamento	racional”.
O	 Hospício	 do	 Juquery	 foi	 construído	 fora	 da	 zona	 urbana,	 sendo	 seu	 projeto	 arquitetônico	 de
autoria	de	Ramos	de	Azevedo.	Em	1898	já	funcionavam	as	colônias	agrícolas;	e	suas	dependências	foram
várias	 vezes	 ampliadas	 ao	 longo	 do	 tempo,	 sendo	 anexados	 o	 pavilhão	 para	 “crianças	 anormais”,	 o
laboratório	histoquímico	e	o	Manicômio	Judiciário.
Franco	 da	 Rocha	 e	 seu	 sucessor,	 Pacheco	 e	 Silva,	 defendiam	 a	 centralização	 da	 assistência
psiquiátrica	 como	 forma	 de	 gerar	 condições	 para	 o	 estudo	 da	 loucura,	 com	 base	 na	 descrição,
comparação	e	classificação,	revelando	concomitantemente	a	preocupação	em	demonstrar	a	pertinência	da
teoria	da	degenerescência.
Segundo	Cunha,	a	produção	do	hospício	demonstrava	que:
“o	 interesse	 se	 desdobra	 a	 partir	 de	 quadros	 nosológicos	 já	 configurados	 e	 volta-se	 para	 a
identificação	 das	 formas	 particulares	 das	 ‘doenças’	 naquela	 sociedade	 particular,	 como
decorrência	de	uma	herança	genética	onde	amalgamavam-se	imigrantes,	escravos	e	todo	tipo	de
sangue	degenerado:	o	impacto	do	crescimento	urbano	no	crescimento	da	sífilis,	deflagradora	de
um	tipo	determinado	de	patologia	mental	(...);	a	loucura	associada	às	caracteristicas	raciais	e	o
significado	 disto	 em	 sua	 apresentação	 na	 sociedade	 miscigenada	 do	 país;	 a	 correspondência
entre	 loucura	 e	 crime;	 a	 relação	 entre	 as	 formas	 de	 doença	 mental	 e	 os	 padrões	 culturais
‘atrasados’	como	(...)	as	religiões	‘primitivas’	dos	negros	e	dos	pobres”	(1986,	p.	77).
O	Juquery	representou	em	São	Paulo	o	pensamento	psiquiátrico	hegemônico	no	Brasil,	nessa	época.
Sua	prática	articulou-se	às	necessidades	trazidas	pelo	processo	de	industrialização	que	se	acelerava	na
cidade	e	teve	uma	dimensão	política	que	era	a	de
“conferir	 legitimidade	 à	 exclusão	 de	 indivíduos	 ou	 setores	 sociais	 não	 enquadráveis	 nos
dispositivos	 penais;	 permitir	 a	 guarda	 (...)	 e	 a	 regeneração	 ou	 disciplinarização	 de	 ind/
resistentes	às	disciplinas	do	trabalho,	da	família	e	da	vida	urbana;	reforçar	papéis	socialmente
importantes	 para	 o	 resguardo	 da	 ordem	 e	 da	 disciplina,	 medicalizando	 comportamentos
desviantes	(	...)	e	permitindo	que	sua	reclusão	possa	ser	lida	como	um	ato	em	favor	do	louco,	e
não	contra	ele”	(Cunha,	1986,	p.	80).
O	hospício	vai	gradativamente	abandonando	sua	preocupação	com	a	loucura	individual	e	assumindo
tarefas	de	ordem	social,	sobretudo	no	que	diz	respeito	ao	controle	da	força	de	trabalho.
Do	 ponto	 de	 vista	 prático,	 as	 técnicas	 “científicas”	 utilizadas	 consistiam,	 por	 exemplo,	 em:
alternância	 de	 banhos	 frios	 e	 quentes,	 malarioterapia,	 traumaterapia,	 laborterapia	 e	 terapias
me​dica​mentosas.
A	 produção	 do	 Juquery	 circunscreve-se	 especificamente	 no	 âmbito	 da	 Psiquiatria,	 não	 trazendo
contribuição	direta	para	o	 conhecimento	e	 a	prática	da	Psicologia.	Entretanto,	 sua	preocupação	com	a
loucura	abarca,	sem	sombra	de	dúvidas,	o	fenômeno	psicológico,	embora	sua	maior	contribuição	seja	a
de	 demarcar	 mais	 nitidamente	 as	 fronteiras	 entre	 a	 Psicologia	 e	 a	 Psiquiatria	 e,	 conseqüen​temente,
demonstrar	nesse	caso	um	fator	relevante	para	a	compreensão	do	processo	de	autonomização	da	ciência
psico​ló​gica.
É	 necessário	 reconhecer,	 entretanto,	 que	 ambas	 as	 áreas	 tratam,	 sob	 enfoques	 e	 fundamentos
diversos,	 fenômenos	 de	 uma	 mesma	 natureza	 e	 que	 é	 inquestionável	 que,	 apesar	 das	 fronteiras,	 há
intersecções	tanto	do	ponto	de	vista	do	objeto	de	estudo	quanto	do	ponto	de	vista	prático.	Soma-se	a	isso
que	suas	produções	situam-se	numa	dada	realidade,	sendo	que	cada	uma,	a	seu	modo,	busca	responder	às
suas	demandas.
Hospital	Nacional	dos	Alienados
Após	a	proclamação	da	república,	o	Hospício	Pedro	II	passou	a	ser	chamado	Hospital	Nacional	dos
Alienados10	e	sua	administração	transferida	ao	Estado,	em	substituição	à	Santa	Casa	de	Misericórdia.	Em
1902,	 após	 a	 detecção	 de	 inúmeros	 problemas	 na	 instituição,	 foi	 nomeado	 para	 sua	 direção	 Juliano
Moreira,	cuja	prática	inaugura	“uma	psiquiatria	cujos	 fundamentos	 teóricos,	práticos	e	 institucionais
constituíram	um	sistema	psiquiátrico	coerente”	(Costa,	1976,	p.	26).	Esse	hospício	pode	ser	visto	como
o	primeiro	no	Brasil	que	tratou	a	loucura	do	ponto	de	vista	eminentemente	médico.	Nomes	consagrados
como	 Henrique	 Roxo,	 Afrânio	 Peixoto	 e	 Mauricio	 de	 Medeiros	 contribuíram	 com	 a	 constituição	 da
prática	psiquiátrica	instalada	na	instituição.
Em	1907,	sob	a	direção	de	Juliano	Moreira,	é	criado	o	provável	segundo	laboratório	de	Psicologia
no	 Brasil	 (o	 primeiro	 teria	 sido	 no	 “Pedagogium”,	 em	 1906),	 denominado	 Laboratório	 de	 Psicologia
Experimental	 da	 Clínica	 Psiquiátrica	 do	 Hospital	 Nacional	 dos	 Alienados11.	 Esse	 laboratório	 foi
chefiado	por	Maurício	de	Medeiros,	construído	sob	a	influência	de	Georges	Dumas,	com	quem	Medeiros
trabalhou	em	Paris,	no	laboratório	de	Psicologia	do	Hospital	de	Saint’Anne.
Nesse	hospício,	também	sob	a	direção	de	Juliano	Moreira,	res​ponsabilizou-se	Heitor	Carrilho	pelo
setor	que	deveria	abrigar	os	“criminosos	loucos”,	gérmen	do	Manicômio	Judiciário,	criado	em	1921.
O	 Hospital	 Nacional	 dos	 Alienados	 foi,	 como	 o	 Juquery,	 um	 asilo	 modelo	 para	 o	 pensamento
psiquiátrico	 da	 época,	 representando	 a	 tendência	 vigente	 em	 que	 o	 ecletismo	 tornou-se	 posição
praticamente	hegemônica.	Para	ele	confluíram	médicos	cariocas	e	baianos,	representando	as	orientações
deTeixeira	 Brandão	 e	 Raimundo	 Nina	 Rodrigues	 respectivamente,	 sendo	 que	 ambas	 as	 tendências
tiveram,	 apesar	 de	 suas	 particularidades,	 como	 seu	 principal	 fundamento	 a	 Medicina	 Social	 e	 seus
motivos	de	natureza	sócio-política.
Ao	 contrário	 do	 Juquery,	 no	 entanto,	 nesse	 hospício	 é	 explícito	 o	 vínculo	 com	 a	 Psicologia,
concretizado	na	existência	do	 laboratório.	Nesse	sentido,	o	Hospital	Nacional	dos	Alienados	pode	ser
visto	como	uma	instância	produtora	de	conhecimento	psicológico,	tendo	abrigado	profissionais	que,	em
seu	 laboratório	ou	fora	dele,	produziram	relevantes	obras	psicológicas,	como	Maurício	de	Me​deiros	e
Plínio	Olinto.	 Isso	 remete	 à	questão	de	que	a	Psiquiatria	no	Brasil,	 em	sua	manifestação	 institucional,
assumiu	 parcela	 da	 produção	 psicológica,	 vinda	 não	 somente	 da	 tradição	 passada,	 quando	 não	 havia
qualquer	forma	de	delimitação	entre	as	duas	áreas	de	saber,	mas	também	pelo	fato	de	que	a	Psiquiatria
necessita	do	intercâmbio	com	o	conhecimento	psicológico,	fomentando	e	sediando	sua	pesquisa.
Por	fim,	deve-se	dizer	que	a	impossibilidade	de	acesso	aos	documentos	que	registram	a	produção
do	laboratório,	pois	esses	encontram-se	perdidos,	compromete	sobremaneira	a	avaliação	mais	profunda
da	participação	desse	hospício	e	de	seu	laboratório	na	história	da	Psicologia	no	Brasil.
Colônia	de	Psicopatas	do	Engenho	de	Dentro
Fundada	no	Rio	de	Janeiro	na	década	de	10,	a	Colônia	produziu	extensa	contribuição	à	Psicologia
por	meio	de	seu	fértil	laboratório12,	criado	em	1923.
Esse	 laboratório	 foi	 transformado	 em	 Instituto	 de	 Psicologia,	 subordinado	 ao	 Ministério	 de
Educação	e	Saúde	Pública,	em	1932.	Em	1937	foi	incorporado	à	Universidade	do	Brasil,	para	contribuir,
segundo	 Penna,	 com	 as	 Faculdades	 de	 Filosofia,	 Ciências	 e	 Letras,	 de	 Educação	 e	 de	 Política	 e
Economia.
Havia	 também	 na	 Colônia	 a	 Escola	 de	 Enfermagem,	 que	 continha	 em	 seu	 currículo	 a	 disciplina
Psicologia,	ministrada	por	Gustavo	Rezende	e	Nilton	Campos.
Criado	 por	 Gustavo	 Riedel,	 diretor	 da	 Colônia,	 o	 laboratório	 foi	 patrocinado	 pela	 Fundação
Gaffrée-Guinle.	Sua	finalidade,	juntamente	com	uma	exposição	de	motivos	e	até	mesmo	uma	definição	da
função	do	psicólogo,	foi	assim	expressa	por	Osvaldo	N.	de	Souza	Guimarães:	“atualmente	todo	Instituto
destinado	ao	estudo,	cura	e	profilaxia	das	moléstias	mentais	deve	ter,	como	auxiliar	indispensável,	um
laboratório	 de	 psicologia,	 a	 cargo	 de	 um	 psicólogo	 profissional.	 Este	 torna-se,	 então,	 valioso
colaborador	do	médico,	para	eficiência	de	tal	Instituto”	(Guimarães,	apud	Penna,	1985,	p.	28).	Para	a
direção	do	laboratório	foi	chamado	o	psicólogo	polonês	Waclaw	Radecki.
O	laboratório,	que	contava	com	sofisticados	equipamentos	vindos	de	Paris	e	Leipzig,	“funcionava
como	 instituição	 auxiliar	médica;	 (2)	 como	 auxiliar	 das	 necessidades	 sociais	 e	 práticas;	 (3)	 como
núcleo	de	pesquisas	científicas;	(4)	como	centro	didático	para	formação	de	psicólogos”.	(Penna,	1985,
p.	30).
A	 extensa	 produção	 do	 laboratório	 demonstra,	 em	 relação	 aos	 asilos	 já	 estudados,	 um	 imenso
avanço	 em	 direção	 ao	 reconhecimento	 da	 autonomia	 científica	 e	 prática	 da	 Psicologia	 no	 Brasil.
Explicita-se	aí,	com	clareza,	que	a	Psicologia	é	vista	como	campo	próprio	de	conhecimento	e	ação,	ao
mesmo	tempo	em	que	é	reconhecida	sua	íntima	relação	com	a	Psiquiatria.
Do	 ponto	 de	 vista	 da	 produção	 do	 laboratório,	 além	 da	 quantidade	 de	 pesquisas	 e	 ensaios,	 três
elementos	 apresentam-se	 como	 particularmente	 significativos:	 a	 preocupação	 com	 a	 formação	 de
psicólogos	 e	 a	difusão	do	 conhecimento	psicológico;	o	 trabalho	 clínico	 e	 a	 aplicação	da	Psicologia	 a
questões	relativas	ao	trabalho.
O	laboratório	da	Colônia	contribuiu	com	uma	das	primeiras	referências,	no	Brasil,	da	perspectiva
psicoterápica,	 num	 momento	 em	 que	 tal	 campo	 de	 ação,	 quando	 existia,	 limitava-se	 à	 Psiquiatria.	 É
possível	 tomar	 como	 hipótese	 que	 esse	 tipo	 de	 trabalho,	 ainda	 que	 incipiente,	 tenha	 lançado	 algumas
bases	para,	mais	 tarde,	 tornar-se	um	dos	mais	 importantes	campos	de	atuação	da	Psicologia	no	país,	o
qual	 só	 nas	 décadas	 seguintes	 viria	 a	 ter	 contornos	 mais	 definidos	 como	 possibilidade	 de	 aplicação
psicológica.
Merece	referência	também	a	contribuição	do	laboratório	à	organização	do	trabalho,	que	se	mostra
claramente	 definida,	 particularmente	 no	 que	 se	 refere	 à	 utilização	 de	 testes	 para	 fins	 de	 seleção	 e
orientação	profissional.	Foram	realizados	estudos	e	pesquisas	sobre	fadiga	em	“trabalhadores	menores“,
seleção	 de	 candidatos	 à	 aviação	 militar,	 psicometria	 e	 questões	 profissionais	 etc.	 Além	 disso,	 é
necessário	dizer	que	o	trabalho	no	laboratório,	junto	com	outros	que	se	realizavam	em	outras	instituições,
traz	 uma	 nova	 característica	 às	 contribuições	 que	 até	 então	 as	 instituições	 psiquiátricas	 davam	 à
problemática	 do	 trabalho,	 cuja	 principal	 finalidade	 era	 exercer	 o	 controle	 e	 a	 disciplinarização	 do
proletariado	urbano	fora	dos	muros	da	fábrica.	A	partir	daí,	a	Psicologia	penetra	no	interior	do	processo
produtivo,	com	um	caráter	estritamente	técnico-científico,	por	meio	da	intervenção	direta	nos	processos
seletivos	e	no	estabelecimento	de	contingências	e	normas	nas	relações	de	produção,	com	base	no	saber
psicológico.
Um	destaque	especial	deve	ser	dado	à	importância	da	presença	de	Radecki	nesse	laboratório	e,	por
decorrência,	na	história	da	Psicologia	no	Brasil.	Foi	ele	o	autor	de	grande	parte	dos	trabalhos	produzidos
no	 laboratório,	 quando	 não	 colaborador	 ou	 orientador.	 Foi	 ele	 quem	 ministrou	 inúmeros	 cursos	 e
conferências,	 com	 influência	 significativa	 na	 divulgação	 e	 difusão	 da	 Psicologia	 no	 país.	 Suas
realizações	 constituem-se	 na	 quase	 totalidade	 da	 produção	 do	 laboratório,	 devendo-se	 a	 ele	 também,
provavelmente,	a	marcante	cultura	psicológica	presente	nos	trabalhos	produzidos,	em	que	são	freqüentes
citações	e	referências	a:	Ribot,	Claparède,	William	James,	Janet,	Forel,	Babinski,	Bernheim,	Kräepelin,
Bleuler,	 Minkowski	 e	 Kretschemer,	 dentre	 outros,	 devendo-se	 salientar	 a	 significativa	 presença	 da
Psicanálise.
Finalmente,	deve-se	reafirmar	que	a	Colônia	de	Psicopatas	do	Engenho	de	Dentro	foi	uma	das	mais
importantes	instituições	que	geraram	condições	para	o	estabelecimento	da	Psicologia	no	Brasil,	quer	pela
consolidação	desta	área	do	 saber	como	ciência,	quer	em	 relação	ao	 reconhecimento	de	 sua	autonomia
teórica	e	prática.
Liga	Brasileira	de	Higiene	Mental	e	instituições	correlatas
A	 Liga	 Brasileira	 de	 Higiene	Mental	 foi	 fundada	 em	 1923,	 por	 Gustavo	 Riedel,	 tendo	 em	 seus
quadros	os	mais	eminentes	psiquiatras	e	intelectuais	da	época.	Segundo	Jurandir	Freire	Costa,	o	objetivo
inicial	da	Liga	idealizada	por	Riedel	era	a	melhoria	da	assistência	ao	doente	mental.
A	 partir	 de	 1926,	 porém,	 esse	 objetivo	 foi	 cedendo	 lugar	 ao	 ideal	 eugênico13,	 à	 profilaxia	 e	 à
educação	dos	indivíduos.	A	preocupação	transferiu-se	do	indivíduo	“doente”	para	o	“normal”,	da	cura
para	 a	 prevenção,	 ampliando	 seu	 raio	 de	 ação	 para	 a	 sociedade	 como	 um	 todo,	 definindo	 a	 ação
psiquiátrica	como	prática	higiênica,	apoiada	na	noção	de	eugenia.
Essa	 concepção	 contribuiu	 para	 uma	 interpretação	 racista	 da	 sociedade	 brasileira,	 que	 tendia	 a
atribuir	 os	 problemas	 sócio-econômicos	 às	 questões	 raciais,	 especialmente	 à	 presença	 de	 “raças
inferiores”,	numa	explícita	referência	aos	negros	que,	junto	com	o	clima	quente,	eram	responsabilizados
pelo	atraso	do	país.	Essas	idéias	desembocaram	na	defesa	do	“embran​queci​mento	da	raça	brasileira”	e,
posteriormente,	na	busca	da	“pureza	racial”.
No	 bojo	 dessa	 discussão,	 a	 problemática	 educacional	 ocupou	 lugar	 privilegiado,	 sendo	 que	 a
ignorância	 era	vista	 como	uma	das	mais	graves	doenças	 sociais.	 Juntamente	 com	essa	questão	 e	 a	 ela
relacionadaintegra-se	 a	 problemática	 das	 relações	 de	 trabalho;	 temas	 que	 estiveram	 diretamente
articulados	ao	pensamento	da	Liga	e	constituíram-se	em	objetos	de	estudo	e	alvos	de	ação.
A	Liga	reconhecia	a	Psicologia	como	ciência	afim	à	Psiquiatria	e	estimulava	sua	produção.	Nesse
sentido,	foi	criado	um	laboratório	de	Psicologia,	cuja	direção	foi	inicialmente	confiada	ao	francês	Alfred
Fessard	e	posteriormente	a	Plínio	Olinto,	que	foi	sucedido	por	Brasília	Leme	Lopes.	Além	disso,	a	Liga
propôs	em	1932,	ao	Mi​nistério	da	Educação	e	Saúde	Pública,	a	presença	obrigatória	de	“gabinetes	de
Psicologia”	 junto	 às	 clínicas	 psiquiátricas,	 sendo	 a	 proposta	 acolhida	 em	 instruções	 do	 referido
ministério.	 Anualmente	 a	 Liga	 realizava	 as	 “Jornadas	 Brasileiras	 de	 Psicologia”,	 cujo	 objetivo	 era
difundir	pesquisas	puras	e	aplicadas	nessa	área	do	conhecimento.
Preocupação	com	a	Psicologia	teve	também	a	Liga	Paulista	de	Higiene	Mental,	fundada	em	1926,
por	 Pacheco	 e	 Silva,	 funcionando	 em	 moldes	 semelhantes	 à	 sua	 correspondente	 nacional.	 Na	 Liga
Paulista,	 a	 Psicologia	 aparecia	 explicitamente	 articulad4a	 às	 questões	 relativas	 à	 organização	 do
trabalho,	como	instrumento	de	obtenção	de	conhecimento	a	respeito	das	funções	psicológicas	presentes
no	 exercício	 profissional,	 tais	 como:	 funções	 psicomotoras,	 memória,	 atenção	 e	 julgamento;	 tais
elementos	 articulavam-se,	 na	 prática,	 à	 aplicação	 da	 Psicologia	 à	 seleção	 e	 orientação	 profissional.
Como	ilustração,	vale	a	pena	citar	um	trecho	de	Bonifácio	Castro	Filho14:
“A	higiene	mental	nas	oficinas	e	nas	profissões	em	geral	é	um	fator	de	grande	prosperidade	para
a	 indústria,	 porque	 assegura	 um	 melhor	 rendimento.	 Ela	 pode	 ser	 realizada	 pela	 orientação
profissional	e	pela	seleção	psicológica	dos	operários,	tendo	por	efeito:
1º)	 a	 eliminação	nas	oficinas	de	 certas	 classes	de	profissionais	 psicopatas	que	 constituem	um
peso	morto	e	um	grave	prejuízo	para	a	coletividade;
2º)	colocar	os	indivíduos	em	seus	devidos	lugares,	de	acordo	com	as	aptidões	mentais,	condições
que	favorecem	o	êxito	do	trabalho”	(Castro	Filho,	apud	Cunha,	1986,	p.	189).
Essas	idéias	buscavam	na	Psicologia	não	apenas	fundamentação	teórica	e	corpo	de	técnicas	úteis	às
suas	finalidades	de	higienização	social	do	trabalho	e	da	família,	como	também	prenunciavam	um	outro
tipo	 de	 prática	 que	 se	 aproximava	 da	 prática	 clínica	 da	 Psicologia	 no	 momento	 subseqüente,	 pelas
denominadas	“clínicas	de	higiene	mental”,	cuja	finalidade	era	de	origem	profilática	e,	portanto,	voltada
para	o	indivíduo	“normal”.
A	isso	deve-se	acrescentar	o	papel	desempenhado	pelo	Instituto	de	Higiene	de	São	Paulo,	cuja	ação
foi	semelhante	à	da	Liga	Brasileira	de	Higiene	Mental.	Esse	instituto	foi	dirigido,	a	partir	de	1926,	por
Geraldo	Paula	Sousa,	que	organizou	um	grupo	de	estudos	de	Psicologia	Aplicada,	do	qual	participaram
médicos,	educadores	e	engenheiros;	os	estudos	aí	realizados	versaram	sobre	a	Psicologia	do	Trabalho	e
deram	também	origem	ao	“Serviço	de	Inspeção	Médico-Escolar”,	no	qual	foi	criada	uma	escola	especial
para	crianças	com	deficiência	mental	e,	em	1938,	uma	clínica	de	orientação	infantil,	provavelmente	uma
das	primeiras	no	país,	chefiada	por	Durval	Marcondes.
A	 concepção	 psiquiátrica	 das	 Ligas	 de	 Higiene	Mental,	 embora	 fortemente	 arraigada	 nas	 idéias
correntes	na	Psiquiatria	brasileira,	não	era	contudo	unânime.	Segundo	Freire	Costa,
“na	 mesma	 época,	 Odilon	 Galotti,	 no	 Rio,	 James	 Ferraz	 Alvim,	 em	 São	 Paulo,	 e	 Ulisses
Pernambucano	 em	 Recife	 (...)	 orientavam	 suas	 pesquisas	 numa	 direção	 totalmente	 oposta	 à
higiene	social	da	raça.	Para	esses	psiquiatras,	que	mantinham	também	ligações	com	a	L.B.H.M.,
a	higiene	mental	continuava	a	ser	aquilo	que	Riedel	havia	desejado	que	fosse:	melhoramento	e
humanização	da	assistência	psiquiátrica	aos	doentes	mentais”	(1976,	p.	63).
O	 pensamento	 e	 a	 ação	 das	 ligas	 são	 expressões	 de	 uma	 concepção	 autoritária	 de	 mundo,
representada	na	Psiquiatria	principalmente	pelo	pensamento	alemão,	nas	 figuras	de	Rudin,	Hoffmann	e
Meggen​dorfer,	continuadores	do	organicismo	de	Kräepelin.	Pretendia-se,	em	nome	da	ciência,	abarcar	o
controle	da	 sociedade	 e,	 para	 tal,	 defendia-se	 e	 estimulava-se	 a	 pesquisa	 e	 a	 aplicação	da	Psicologia
como	meio	 auxiliar	 para	 seus	 fins.	 É	 interessante	 notar	 que	 a	 Psicologia	 encontra-se,	 nesse	 contexto,
como	detentora	de	um	saber	 e	de	um	corpo	de	 técnicas,	particularmente	 a	psicometria,	 rela​cionada	às
práticas	especificamente	psicológicas,	numa	versão	bastante	próxima	das	atuais.
O	Movimento	Psiquiátrico	de	Recife
Esse	 movimento	 erigiu-se	 sobre	 o	 alicerce	 representado	 pelas	 idéias	 e	 ações	 de	 Ulysses
Pernambucano,	caminhando	na	contramão	do	pensamento	psiquiátrico	corrente	na	época	e	contribuindo
significativamente	para	a	Educação	(que	será	especificamente	abordada	no	próximo	capítulo).
Formado	 na	 Faculdade	 de	Medicina	 do	 Rio	 de	 Janeiro,	 Pernambucano	 foi	 discípulo	 de	 Juliano
Moreira;	 porém,	 sua	 prática	 distanciou-se	 da	 Psiquiatria	 organicista	 preponderante	 nos	 meios
acadêmicos	e	 institucionais	de	então.	Nomeado,	em	1924,	diretor	do	Hospital	de	Doenças	Nervosas	e
Mentais	 de	 Recife,	 aboliu	 os	 calabouços	 e	 as	 camisas-de-força,	 implantou	 a	 praxiterapia,	 criou	 o
Pavilhão	de	Observações,	o	Laboratório	de	Análises	e	o	Pavilhão	de	Hidroterapia,	tendo	também	criado
o	sistema	de	“internato	acadêmico”	para	os	jovens	médicos	estagiarem.
Teve	 Pernambucano	 participação	 fundamental	 na	 implantação	 da	 “Assistência	 a	 Psicopatas	 de
Pernambuco”,	assim	composta:	serviços	para	doentes	mentais	não	alienados,	com	ambulatório	e	hospital
aberto;	 serviços	 para	 doentes	 mentais	 alienados,	 com	 hospital	 para	 doentes	 agudos	 e	 colônia	 para
doentes	 crônicos;	Manicômio	 Judiciário;	 Serviço	 de	 Higiene	Mental,	 com	 Serviço	 de	 Prevenção	 das
Doenças	Mentais	e	Instituto	de	Psicologia.	Sobre	o	Serviço	de	Higiene	Mental,	afirma	João	Marques	de
Sá15:
“Creio	 mesmo	 que	 o	 Serviço	 de	 Higiene	 Mental	 foi	 o	 responsável	 pela	 suspensão	 da
interferência	da	polícia	sobre	os	cultos	afro-brasileiros.	As	seitas	africanas	tiveram	em	Ulysses	e
no	 mestre	 Gilberto	 Freyre	 os	 mais	 ardentes	 defensores,	 passando	 a	 receber	 certo	 grau	 de
controle	científico	do	serviço	de	Higiene	Mental”	(1978,	p.	20).
A	referência	acima	a	“controle	científico”	relaciona-se	prova​velmente	aos	estudos	realizados	por
Pernambucano	 sobre	 os	 africanos	 no	 Brasil	 e	 que	 o	 fez	 conhecido	 também	 como	 antropólogo.	 Esses
estudos	 foram	 inicialmente	 influenciados	 por	 Nina	 Rodrigues,	 cujo	 teor	 era	 marcadamente	 racista,
considerando	as	manifestações	culturais	negras	como	sintomas	da	degenerescência	mental,	em	função	da
inferioridade	 racial.	 Ulysses	 Pernambucano,	 entretanto,	 distanciou-se	 dessa	 concepção,	 passando	 a
repudiá-la	e	dirigindo	seus	estudos	para	caminhos	opostos	ao	pensamento	de	Raimundo	Nina	Rodrigues.
Pernambucano	 fundou	 a	Liga	 de	Higiene	Mental	 de	 Pernam​buco	 que,	 segundo	Freire	Costa,	 teve
caráter	 bastante	 diferente	 das	 demais	 ligas,	 sendo	 essa	 fiel	 aos	 objetivos	 inicialmente	 propostos	 por
Riedel	para	a	Liga	Brasileira	de	Higiene	Mental,	ou	seja,	a	busca	de	melhoria	na	assistência	aos	doentes
mentais.	Na	Liga,	Pernambucano	criou	uma	“Escola	para	Anormais”	que,	em	1964,	passou	a	ser	dirigida
pela	APAE.	Em	1936,	ele	criou	o	Sanatório	de	Recife,	no	qual	foi	também	instalada	uma	“Escola	para
Anormais”.
Preocupou-se	 também	 Pernambucano	 com	 a	 formação	 de	 profissionais	 da	 área	 de	 saúde	mental,
tendo	 realizado	vários	 cursos	 intensivos	de	 especialização,	 com	a	 finalidade	de	promover	 a	 formação
prática	 de	 “monitores	 de	 saúde	mental”	 e	 “auxiliares	 psicólogos”,	 sendo	 essa	 última	 função	 ocupada
principalmente	 por	 professoras	 diplomadas	 pela	 Escola	 Normal.	 Acrescenta-se	 a	 isso	 o	 serviço	 de
estágioque	levou	inúmeros	discípulos	de	Ulysses	à	atuação	na	área	de	saúde	mental.
Pernambucano	 pode	 ser	 considerado	 como	 pioneiro	 do	 movi​mento	 que	 mais	 tarde	 veio	 a	 ser
conhecido	como	Anti-Psiquiatria,	muito	embora	a	pouca	divulgação	sobre	seu	pensamento	e	obra,	em	seu
próprio	país,	não	tenha	permitido	que	tal	movimento	pudesse	reconhecê-lo.
A	 doença	 mental	 era	 por	 ele	 concebida	 como	 situação	 existencial,	 resultante	 da	 dinâmica	 do
processo	psicológico,	considerando	o	sujeito	como	agente	desse	processo	e	admitindo	os	fatores	sociais
como	co-determinantes.	Opunha-se	 esta	 visão	 ao	orga​nicismo,	 que	via	 a	 doença	mental	 como	causada
pela	 constituição	 orgânico-genética	 do	 sujeito,	 e	 que	 era	 antes	 determinante	 que	 determinada	 pelas
condições	 sociais.	Essa	 concepção	 justifica	 a	 denominação	 de	 “Psiquiatria	Humanista”,	 conferida	 por
Jamesson	Freire	Lima	ao	trabalho	de	Pernambucano.
Do	ponto	de	vista	da	produção	especificamente	psicológica,	o	movimento	de	Recife	veio	contribuir
em	particular	com	seu	Instituto	de	Psicologia,	mais	tarde	denominado	Instituto	de	Seleção	e	Orientação
Profissional.	Do	que	foi	aqui	exposto,	é	possível	apontar	elementos	que	se	ligam	direta	ou	indiretamente
à	 Psicologia	 propriamente	 dita,	 devendo	 destacar-se	 a	 preocupação	 de	 Ulysses	 Pernambuco	 com	 a
formação	 de	 profissionais	 na	 área	 psicológica	 que,	 inclusive,	 teve	 relação	 com	 seus	 propósitos
educacionais.	Acrescenta-se	a	 isso	a	preocupação	educacional	em	geral	e	psicológica	em	especial	que
teve	com	crianças	com	deficiência	mental.
De	forma	geral,	podemos	dizer	que	esse	psiquiatra	adotou	em	seu	trabalho	uma	perspectiva	muito
próxima	à	Psicologia	na	sua	maneira	de	conceber	e	atuar	sobre	a	doença	mental.
Seus	 estudos	 sobre	 a	 cultura	 afro-brasileira	 foram	não	 apenas	 contribuições	 à	Antropologia,	mas
podem	 ser	 também	admitidos	 como	Psicologia	Social,	 na	medida	 em	que	buscaram	articular	 cultura	 e
psiquismo.
1.2.	Medicina	Legal,	Psiquiatria	Forense	e	Criminologia
A	concepção	psiquiátrica	vigente	na	época,	como	já	visto,	pretendia	abarcar	as	questões	sociais	e
sobre	 elas	 exercer	 seu	 controle,	 com	 vistas	 ao	 estabelecimento	 da	 ordem	 no	 espaço	 urbano,
costumeiramente	 palco	 de	 conflitos,	 o	 que	 implicava	 na	 eliminação	 da	 “desordem”	 que,	 por	 sua	 vez,
significava	identificar	e	envidar	meios	efetivos	de	controle	sobre	os	elementos	“desordeiros”.	É	por	esse
motivo	 que	 o	 combate	 ao	 alcoolismo,	 jogo,	 prostituição	 e	 crime	 ganharam	 terreno	 no	 interior	 da
Psiquiatria,	 que	 procurou	 articular	 doença	 mental	 e	 criminalidade,	 com	 base	 na	 teoria	 da
dege​ne​rescência.
Assim,	Psiquiatria	e	Direito	integraram-se	por	meio	da	Medicina	Legal,	da	Psiquiatria	Forense	e	da
Criminologia,	 sob	 a	 influência	 do	 organicismo,	 além	 das	 idéias	 de	 Spencer,	 Darwin,	 Galton,	 Comte,
Wundt	e,	especialmente,	de	Lombroso.
Médicos	 como	Oscar	 Freire,	 Afrânio	 Peixoto,	 Artur	 Ramos	 e	 o	 jurista	 Evaristo	 de	Moraes	 são
alguns	 daqueles	 que	 dedicaram	 grande	 parte	 de	 seus	 trabalhos	 à	 Medicina	 Legal,	 com	 significativa
produção	bibliográfica.	Deve-se	destacar	o	papel	de	Heitor	Carrilho,	cuja	contribuição	foi	não	apenas
teórica,	mas	fundamentalmente	no	campo	da	prática	institucional	da	Psiquiatria	Forense.
Carrilho	iniciou	seu	trabalho	como	psiquiatra	no	Hospital	Nacional	dos	Alienados,	encarregando-se
da	Seção	Lombroso,	que	abrigava	os	“criminosos	loucos”.	Por	seu	esforço,	foi	criado	em	1921,	no	Rio
de	Janeiro,	o	Manicômio	Judiciário,	do	qual	foi	diretor;	além	disso,	contribuiu	com	a	criação	de	outras
instituições	semelhantes	em	vários	pontos	do	país.	Foi	ainda	membro	do	Conselho	Penitenciário,	diretor
do	Serviço	Nacional	de	Doenças	Mentais,	presidente	da	Sociedade	Brasileira	de	Neurologia,	Psiquiatria
e	Medicina	Legal	e	catedrático	de	Clínica	Psiquiátrica	na	Faculdade	Flu​mi​nense	de	Medicina.
Heitor	Carrilho	foi	contundente	crítico	do	Direito	Clássico	e	grande	defensor	do	Direito	Positivo16,
que	procurava	 enfocar	o	 crime	 sob	o	 foco	da	determinação	 individual	 e	não	 social.	Dessa	maneira,	 o
Direito	Positivo	acabava,	em	última	instância,	psicologi-zando	ou	individualizando	o	ato	criminoso	e	sua
interpretação.	Nas	palavras	de	Carrilho:
“Não	é	possível	 fazer	direito	penal	sem	o	concurso	dos	médicos	e	dos	psychiatras	que,	com	os
seus	conhecimentos	de	bio-anthropologia	e	de	psychologia,	podem	penetrar	toda	a	personalidade
dos	 delinqüentes,	 exhaminando-lhes	 as	 differentes	 taras,	 definindo-lhes	 o	 feito	 mental,
mostrando	a	 fatalidade	biológica	que	os	 levou	à	prática	de	reações	anti-sociais,	desvendando-
lhe	a	constituição,	o	temperamento	e	o	caracter,	para	a	obra	admiravel	da	regeneração	de	que
lhes	carecem,	em	benefício	próprio	e	no	da	collectividade”	(Carrilho,	apud	Fry,	1985,	p.	123).
Essa	 interpretação	 psicologizada	 do	 crime	 articulava-se	 às	 idéias	 correntes,	 imputando	 ao
criminoso	 a	 etiologia	 da	 criminalidade	 e	 isentando	 de	 responsabilidade	 as	 condições	 sociais;	 a
sociedade	era	vista	como	vítima	do	indivíduo	criminoso,	com	isso	referendando	a	noção	de	saneamento
da	sociedade	pela	exclusão	dos	“desordeiros”	e	pela	regeneração	dos	indivíduos.
Carrilho	desenvolveu	em	seus	artigos	uma	série	de	elementos	necessários	para	a	prática	do	Direito
Positivo,	 particularmente	 no	 que	 diz	 respeito	 à	 interpretação	 psicológica	 e	 psiquiátrica	 do	 crime,	 tais
como:	taxonomias,	categorias	e	classificações	das	doenças	mentais,	com	base	na	idéia	de	que	cada	caso
é	 singular	 e	 único,	 devendo	 assim	 ser	 individualmente	 estudado	 e,	 da	 mesma	 maneira,	 decidida	 sua
penalidade.	Defendia	ele	a	elaboração	de	um	“psychobio​gramma”,	isto	é,	uma	ficha	de	informações	bio-
psíquicas,	para	cada	preso;	indo	mais	longe,	defendeu	a	idéia	de	que	todo	cidadão	deveria	ter	essa	ficha,
justificando	 a	 medida	 como	 meio	 de	 prevenção	 da	 criminalidade,	 sendo	 que	 esta,	 junto	 com	 a	 ficha
datiloscópica,	poderia	servir	como	elemento	de	identificação	do	indivíduo	criminoso.
Carrilho	 contribuiu	 também	 no	 exame	 e	 no	 relatório	 que	 fundamentaram	 o	 primeiro	 caso	 de
inimputabilidade	de	um	criminoso,	Febrônio	Índio	do	Brasil,	por	ter	sido	este	considerado	“louco”.
Grande	 contribuição	 a	 essas	 áreas	 do	 saber	 veio	 também	 de	 Afrânio	 Peixoto.	 Sua	 tese	 de
doutoramento	 já	 apontava	para	 essa	 temática:	 “Epilepsia	 e	Crime”,	orientada	por	Nina	Rodrigues.	Do
vasto	 e	 amplo	 conjunto	 de	 obras	 de	 Peixoto,	 destacam-se:	 “Elementos	 de	 Medicina	 Legal”	 (1910);
“Psicopatologia	Forense”	(1916);	“Sexologia	Forense”	(1934)	e	“Novos	Rumos	da	Medicina	Legal”	e
“Criminologia”,	ambos	sem	referência	precisa	de	data.
Pode-se	 dizer,	 em	 termos	 gerais,	 que	 a	Medicina	 Legal,	 a	 Psiquiatria	 Forense	 e	 a	 Criminologia
demonstram	 a	 importância	 da	 Psicologia	 como	 uma	 de	 suas	 ciências	 auxiliares	 e,	 nesse	 sentido,
contribuíram	para	seu	desenvolvimento.	Entretanto,	apesar	do	reconhecimento,	a	Psicologia	permanecia
como	instância	pertinente	à	Psiquiatria;	pode-se	dizer	que,	se	de	um	lado,	a	Psicologia	desenvolveu-se	no
interior	dessas	áreas,	por	outro	lado,	só	indiretamente	essas	aplicações	contribuíram	para	o	processo	de
auto-nomização	da	prática	psicológica,	 tanto	que	 só	 recentemente	a	Psicologia	e	o	psicólogo	 têm	sido
reconhecidos	no	âmbito	do	poder	judiciário.
1.3.	Teses	de	Doutoramento	das	Faculdades	de	Medicina
Muitas	 teses	 vistas	 na	 parte	 I	 deste	 trabalho,	 as	 quais	 tratavam	 de	 temas	 psicológicos,	 foram
gradativamente	aumentando	em	número	com	a	aproximação	do	final	do	século.	Nelas,	salientam-se	temas
como:	inteligência,	emoção	e	psicofisiologia.
Esse	aumento	no	número	de	teses	que	tratavam	de	questões	psicológicas	ocorreu	principalmente	a
partir	 de	 1890,	 quando	 já	 se	 percebem	 claramente	 delineadas	 as	 tendências	 da	 Psicologia	 da	 época,
nesse	momento	já	considerada	ciência	autônoma.
Em	 1890,	 foi	 apresentada	 a	 tese“Psicofisiologia	 da	 percepção	 e	 das	 representações”,	 por	 José
Estelita	Tapajós,	em	que	a	tendência	psicofisiológica	da	época	aparece	evidenciada.
Pelo	 menos	 três	 teses	 são	 apresentadas	 com	 a	 denominação	 “Das	 Emoções”,	 apresentadas	 por
Veríssimo	 Dias	 de	 Castro	 (1890),	 Manuel	 Pereira	 de	 Melo	 Morais	 (1891)	 e	 Adolfo	 Porchat	 Assis
(1892).	Segundo	Pessotti17,	 a	 primeira	 delas	 destaca-se	 por	 tratar	mais	 objetivamente	 os	 dados	 e	 por
utilizar-se	de	uma	linguagem	mais	rigorosa	que	as	demais.
A	 tese	 de	Odilon	Goulart,	 “Estudo	 psicoclínico	 da	 afasia”,	 de	 1891,	 é	 talvez	 o	 primeiro	 estudo
relacionado	à	Psicologia	Clínica,	segundo	Pessotti.
De	 Alberto	 Seabra,	 a	 tese	 “A	 memória	 e	 a	 personalidade”,	 de	 1894,	 constituiu-se	 num	 estudo
pioneiro	sobre	a	memória,	anunciando	a	preocupação	com	uma	temática	que	seria	largamente	pesquisada
nos	anos	subseqüentes,	particularmente	pelos	laboratórios	de	Psicologia.
Nesse	 contexto,	 não	 se	 pode	 deixar	 de	 fazer	 referência	 à	 figura	 de	 Raimundo	 Nina	 Rodrigues,
médico	baiano,	professor	da	Faculdade	de	Medicina	da	Bahia	e	grande	produtor	de	pesquisas,	que	fez
com	que	essa	faculdade	fosse	considerada,	na	época,	como	um	dos	mais	importantes	centros	de	pesquisa
do	país.	Exerceu	ele	forte	influência	sobre	toda	uma	geração	de	médicos,	os	quais,	de	uma	maneira	ou	de
outra,	contribuíram	para	o	desenvolvimento	da	Psiquiatria	e	Psicologia	no	Brasil,	dentre	eles:	Afrânio
Peixoto,	 Juliano	 Moreira,	 Oscar	 Freire	 de	 Carvalho,	 Flamínio	 Fávero	 e	 Artur	 Ramos.	 Foi	 Nina
Rodrigues	 um	 dos	 mais	 importantes	 e	 veementes	 defensores	 da	 teoria	 da	 degenerescência,	 tendo
produzido	 uma	 vasta	 obra	 em	 que	 procurava	 demonstrar	 as	 articulações	 entre	 inferioridade	 racial	 e
degeneração	psíquica,	abordando,	dentre	uma	grande	amplitude	de	temas,	as	manifestações	religiosas	de
base	afro-brasileira,	que	eram	vistas	como	manifestação	de	primitivismo,	inferioridade	e	degeneração.
Nessa	 linha,	 e	 orientada	 por	 Nina	 Rodrigues,	 encontra-se	 a	 tese	 de	 Oscar	 Freire,	 defendida	 em
1902,	denominada	“Etiologia	das	formas	concretas	da	religiosidade	do	norte	do	Brasil”.
A	 tese	 de	Henrique	Roxo,	 “Duração	 dos	 atos	 psíquicos	 elementares”,	 de	 1900,	 traz	 a	 defesa	 da
Psicologia	como	propedêutica	da	Psiquiatria,	o	que	mostra	o	reconhecimento	da	autonomia	entre	as	duas
áreas	de	conhecimento,	além	de	estabelecer	um	parâmetro	definidor	das	relações	entre	elas.	Essa	idéia
justifica	a	presença	de	laboratórios	de	Psicologia	nos	hospícios,	o	que	viria	a	ocorrer	logo	depois.
Defendida	 em	 1907,	 a	 tese	 de	 Maurício	 Campos	 de	 Medeiros,	 “Métodos	 em	 Psicologia”,	 veio
demonstrar	a	penetração	da	Psicologia	científica	no	país	e	a	preocupação	metodológica	com	a	produção
de	conhecimento	nos	patamares	do	rigor	científico.
A	 tese	 de	 Plínio	 Olinto,	 de	 1911,	 denominada	 “Associação	 de	 idéias”,	 é	 demonstrativa	 da	 já
indubitável	produção	científica	da	Psicologia	no	Brasil.
Em	1931	findou	a	obrigatoriedade	da	defesa	de	teses	de	dou​to​ramento	em	Medicina,	sendo	que	do
início	 do	 século	 até	 essa	 data,	 foram	 apresentadas	 pelo	 menos	 vinte	 e	 duas	 teses	 referentes	 a	 temas
psicológicos	só	na	Faculdade	de	Medicina	do	Rio	de	Janeiro.
Deve-se	também	destacar,	dentre	essas	teses,	o	primeiro	trabalho	fundamentado	na	Psicanálise,	que
foi	a	tese	“Da	Psicanálise:	a	sexualidade	nas	neuroses”,	de	Genserico	Aragão	de	Sousa	Pinto,	defendida
em	1914.
Essas	 teses,	 particularmente	 após	 1890,	 constituem-se	 numa	 das	mais	 importantes	 evidências	 da
conquista	 gradativa	 de	 autonomia	 da	 produção	 psicológica	 no	 Brasil,	 assim	 como	 explicita	 o	 caráter
científico	de	que	são	revestidas.	Embora	produzidas	como	teses	em	Medicina,	pode-se	dizer	que	muitas
delas	constituíram-se	em	estudo	de	natureza	estritamente	psicológica,	diferenciadas	da	psiquiatria	e,	mais
que	 isso,	contribuindo	para	a	defesa	da	Psicologia	e	para	o	esforço	de	demonstrar	sua	especificidade,
estabelecendo	os	meios	para	produzi-la.
Muitos	dos	autores	dessas	teses,	como	Maurício	Campos	de	Medeiros	e	Plínio	Olinto,	tornaram-se,
posteriormente,	 reconhecidos	 pela	 vasta	 contribuição	 teórica	 e	 prática	 para	 o	 estabelecimento	 da
Psicologia	como	ciência	e	profissão	no	Brasil.
1.4.	À	Guisa	de	Síntese
Do	ponto	de	vista	global,	é	possível	dizer	que	a	Medicina	veio	a	ser,	nesse	período,	um	importante
substrato	 para	 o	 desenvolvimento	 da	 Psicologia	 no	Brasil,	mantendo	 uma	 tradição	 iniciada	 no	 fim	 do
período	colonial	e	ao	mesmo	tempo	a	superando.	A	evolução	do	pensamento	psicológico	no	interior	da
Medicina	 até	 o	 século	XIX	 preparou	 o	 terreno	 para	 que	 o	 conhecimento	 e	 a	 prática	 da	 Psicologia	 se
desenvolvessem	 a	 tal	 ponto	 que	 fizeram	 delinear-se	 com	 maior	 clareza	 seus	 contornos,	 tendo	 assim
contribuído	 para	 a	 penetração	 da	 Psicologia	 científica	 e	 sua	 definição	 como	 campo	 autônomo	 de
conhecimento	e	ação,	o	que	veio	a	se	concretizar	nas	décadas	iniciais	do	século	XX.
A	criação	de	laboratórios	de	Psicologia	nos	hospícios	é	uma	das	mais	importantes	evidências	desse
processo,	 sendo	 que	 estes,	 na	 condição	 de	 instâncias	 auxiliares	 à	 Psiquiatria,	 vieram	 a	 ser	 relevantes
produtores	 de	 estudos	 e	 pesquisas	 eminentemente	 psicológicos.	 Esse	 fato	 demonstra	 que	 a	Medicina,
produzindo	conhecimento	psicológico	em	seu	interior,	veio	contribuir	para	que	a	Psicologia	construísse
seu	próprio	espaço.
À	produção	dos	hospícios	somam-se	as	teses	de	douto​ramento	das	Faculdades	de	Medicina,	muitas
das	 quais	 foram	 de	 autoria	 de	 médicos	 que	 se	 dedicaram,	 mais	 tarde,	 à	 pesquisa	 psicológica	 nos
referidos	 laboratórios.	 A	 contribuição	 trazida	 pelas	 teses	 foi,	 com	 efeito,	 muito	 semelhante	 à	 dos
hospícios,	 na	 medida	 em	 que,	 por	 dentro	 da	 Medicina,	 trabalhos	 cada	 vez	 mais	 característicos	 da
Psicologia	 foram	 produzidos.	 Isso	 se	 revela,	 por	 exemplo,	 pelas	 preocupações	 específicas	 com	 as
condições	que	definiram	a	autonomia	científica	da	Psicologia,	dentre	elas,	a	questão	metodológica.
Por	outro	lado,	percebe-se	a	importância	dada	ao	conhecimento	psicológico	como	instrumental	para
a	Medicina	Legal,	a	Psiquiatria	Forense	e	a	Criminologia.	Entretanto,	se	aí	a	Psicologia	foi	considerada
por	sua	contribuição,	não	se	a	vê,	contudo,	como	área	autônoma	em	relação	à	Medicina,	particularmente
na	sua	dimensão	prática.
Podemos	dizer,	portanto,	que	a	Psicologia	produzida	no	interior	da	Medicina	o	foi	essencialmente
sob	 o	 enfoque	 de	 ciência	 auxiliar	 à	 Psiquiatria;	 todavia,	 nesse	 contexto,	 já	 ficava	 reconhecida,	 pelo
menos	em	tese,	sua	condição	de	ciência	e,	conseqüentemente,	sua	autonomia.	Não	se	pode	afirmar	que	a
conquista	de	autonomia	da	Psicologia	em	relação	à	Medicina	tenha	ocorrido	por	um	projeto	estabelecido
“a	 priori”;	 antes,	 foi	 seu	 próprio	 desenvolvimento	 e	 sua	 adequação	 às	 necessidades	 geradas	 pelos
problemas	sociais	brasileiros	que	estabeleceram	as	condições	para	que	tal	ocorresse.
9	Sobre	o	Hospício	do	Juquery,	sugere-se	a	leitura	do	valioso	estudo	constante	do	livro:	CUNHA,	M.	C.	P.	O	espelho	do	mundo:	Juquery,	a
história	de	um	asilo.	Rio	de	Janeiro,	Paz	e	Terra,	1986.
10	Sugere-se	a	leitura	de:	COSTA,	J.	F.	História	da	Psiquiatria	no	Brasil.	Rio	de	Janeiro,	Documentário,	1976.
11	 Sobre	 isso,	 ver:	 PENNA,	A.	 G.	Apontamentos	 sobre	 as	 fontes	 e	 sobre	 algumas	 das	 figuras	 mais	 expressivas	 da	 Psicologia	 na
cidade	do	Rio	de	Janeiro.	Rio	de	Janeiro,	FGV,	1986.
12	Sobre	esse	laboratório,	ver:	PENNA,	A.	G.	Sobre	a	produção	científica	do	Laboratório	de	Psicologia	da	Colônia	de	Psicopatas,	no	Engenho
de	Dentro,	in:	História	da	Psicologia,	nº	1,	Rio	de	Janeiro,	FGV,	1985.
13	Eugenia,	conceito	criado	por	Galton,	significa	o	estudo	dos	fatores	responsáveis	pela	elevação	ou	rebaixamento	das	características	raciais,
do	ponto	de	vista	físico	e	mental.
14	CASTRO	FILHO,	B.	Higiene	Mentalnas	fábricas,	apud	CUNHA,	M.	C.	P.,	obra	citada.
15	 SÁ,	 J.	 M.	 Abertura	 do	 Ciclo	 de	 Estudos	 Ulysses	 Pernambucano,	 in:	Ciclo	 de	 Estudos	 Ulysses	 Pernambucano.	 Recife,	 Academia
Pernambucana	de	Medicina,	1978.
16	 Sobre	 isso,	 ver:	 FRY,	 P.	 Direito	 Positivo	 Direito	 Clássico:	 a	 psicologização	 do	 crime	 no	 Brasil	 no	 pensamento	 de	 Heitor	 Carrilho,	 in:
FIGUEIRA,	S.	A.	(org.)	Cultura	da	Psicanálise.	São	Paulo,	Brasiliense,	1985.
17	PESSOTTI,	I.	Dados	para	uma	História	a	Psicologia	no	Brasil,	in:	Psicologia,	ano	1,	nº	1,	maio	de	1975.	Sobre	esse	assunto,	ver	também:
LOURENÇO	FILHO,	M.	B.	A	Psicologia	no	Brasil,	in:	Arquivos	Brasileiros	de	Psicologia	Aplicada,	v.	23,	nº	3,	setembro	de	1971.
A
Capítulo	2
A	Psicologia	em	Instituições	Educacionais
conquista	 de	 autonomia	 pela	 Psicologia	 no	 Brasil	 teve	 na	 Educação	 um	 dos	 mais	 importantes
substratos	para	sua	realização.	As	transformações	históricas	da	sociedade	brasileira	impuseram	uma
maior	preocupação	com	as	questões	educacionais	e,	conseqüentemente,	com	a	problemática	pedagógica.
Nesse	âmbito,	a	Psicologia	tornou-se	necessária	como	ciência	básica	e	instrumental	para	a	Pedagogia,	o
que	acarretou	seu	desenvolvimento,	quer	no	plano	teórico,	quer	no	plano	prático.	Esse	desenvolvimento
foi	 de	 tal	maneira	 relevante	 que,	 da	 Educação,	 ampliou-se	 para	 outras	 áreas,	 como	 a	 organização	 do
trabalho	e	o	atendimento	clínico	nos	Serviços	de	Orientação	Infantil.
Desde	o	final	do	século	passado	a	preocupação	com	o	sistema	educacional	do	país	ocupou	vários
setores	 da	 sociedade.	 Tal	 preocupação	 não	 foi	 homogênea	 e	 seus	 motivos	 guardavam	 diferenças
fundamentais,	articulando-se	a	interesses	diversos	e	diferentes	concepções	sobre	a	sociedade	brasileira	e
seus	rumos.
Nos	 anos	 iniciais	 da	 república	 permaneceu	 grande	 a	 influência	 das	 idéias	 positivistas	 e	 liberais
sobre	 o	 pensamento	 brasileiro	 em	 geral	 e	 sobre	 o	 pensamento	 educacional	 em	 especial.	 Essas	 idéias
fizeram-se	 presentes	 no	 plano	 educacional,	 sucessivamente	 no	 cientificismo	 e	 no	 humanismo,	 tendo
penetrado	largamente	nos	fundamentos	e	na	organização	escolar.
Os	 defensores	 do	 positivismo	 tinham	 como	 objetivo	 difundir	 suas	 idéias	 por	 meio	 da	 educação
escolarizada,	 que	 deveria	 organizar-se	 segundo	 seus	 princípios.	 Assim,	 foi	 realizada,	 em	 1890,	 a
Reforma	 Benjamim	 Constant,	 que	 levou	 o	 nome	 do	 titular	 do	 então	 Ministério	 da	 Instrução	 Pública,
Correios	e	Telégrafos.	Essa	reforma	propunha	a	liberdade,	a	laicidade	e	a	gratuidade	do	ensino	primário,
em	 consonância	 com	 a	 orientação	 constitucional.	 Sua	 tônica	 foi	 a	 substituição	 da	 tendência	 humanista
clássica	 pela	 tendência	 cientificista,	 que	 introduziu	 disciplinas	 de	 natureza	 científica	 na	 seqüência
determinada	 pela	 orientação	 positivista.	 Merece	 destaque	 nessa	 reforma	 a	 substituição	 da	 disciplina
Filosofia	pelas	disciplinas	Psicologia	e	Lógica.
A	essa	reforma	seguiram-se	outras	que	se	caracterizaram	pela	oscilação	entre	a	tendência	humanista
clássica	 e	 a	 tendência	 cien​tificista,	 fundamentadas	 em	 idéias	 européias	 e	 norte-americanas,
fre​qüentemente	divorciadas	das	necessidades	concretas	da	realidade	brasileira,	caracterizando-se	como
meros	transplantes	culturais18.
Os	 grandes	 problemas	 educacionais,	 no	 entanto,	 permaneceram:	 o	 índice	 de	 analfabetismo	 não
sofreu	 alterações	percentuais	 e	 aumentou	 em	número	 absoluto;	 dois	 terços	da	população	brasileira	 em
idade	 escolar	 permaneciam	 fora	 da	 escola	 primária;	 a	 ampliação	 do	 ensino	 secundário	 deu-se
basicamente	na	rede	particular,	mantendo	seu	caráter	propedêutico	e	sua	vocação	aristocrática,	da	mesma
maneira	que	o	ensino	superior,	cujo	crescimento	ocorreu	também	apenas	na	rede	privada,	sendo	que	em
1900	havia	apenas	0,05%	de	matrículas	nesse	grau	de	ensino,	em	relação	à	população	do	país	(Ribeiro,
1979).
Todavia,	 as	 primeiras	 décadas	 do	 século	 XX	 foram	 marcadas	 por	 um	 maior	 desenvolvimento
urbano-industrial,	 que	 se	 constituiu	na	base	para	o	 incremento	da	 industrialização	massiva	que	viria	 a
seguir	e	que	teve,	mais	tarde,	a	finalidade	de	substituir	importações.	Tais	condições	exigiam	indivíduos
capacitados	nas	técnicas	escolares	mínimas:	ler,	escrever	e	contar.
Nesse	 contexto,	 emergiu	 uma	 veemente	 defesa	 da	 instrução,	 que	 reivindicava	 a	 ampliação	 do
número	 de	 escolas	 elementares	 e	 o	 combate	 ao	 analfabetismo;	 posteriormente	 surgiram	 os	 primeiros
“profissionais	da	educação”,	 ligados	principalmente	ao	 ideário	escolanovista.	Ocorreu,	nesse	período,
uma	ampla	e	rica	profusão	de	idéias,	que	objetivavam	a	solução	dos	problemas	educacionais	brasileiros
e	 até,	 por	 essa	 via,	 a	 solução	 de	 todos	 os	 problemas	 nacionais.	 Foi	 nessa	 época	 que	 as	 teorias
pedagógicas,	 preocupadas	 com	 o	 processo	 ensino-aprendizagem,	 sobretudo	 o	 escolanovismo,	 tiveram
uma	penetração	sistemática	no	Brasil	e,	 junto	com	elas,	as	teorias	e	técnicas	da	Psicologia,	produzidas
nos	centros	europeus	e	norte-americanos	de	pesquisa	e	aplicação.
É	 possível	 destacar,	 nesse	 período,	 dois	 grandes	 movimentos	 educacionais:	 o	 movimento	 pela
difusão	da	educação	e	a	influência	escolanovista	no	pensamento	pedagógico.
O	movimento	em	defesa	da	difusão	da	educação	teve	em	Manoel	Bonfim	seu	provável	precursor,	de
um	lado	pelo	fato	de	suas	idéias	terem	sido	anteriores	ao	momento	em	que	esse	movimento	eclodiu	com
força	e,	por	outro	lado,	por	terem	sido	elas	incorporadas	pelos	seus	mais	eminentes	representantes.
Bomfim19,	 num	 esforço	 de	 análise	 sobre	 a	 sociedade	 brasileira,	 adotou	 uma	 perspectiva	 em	 que
procurava	 demonstrar	 que	 os	 problemas	 enfrentados	 pelo	 país	 deveriam	 ser	 buscados	 em	 suas	 raízes
históricas,	 particularmente	 na	 sua	 formação	 colonial,	 baseada	 na	 exploração	 imposta	 rudemente	 pela
metrópole.	Em	sua	análise,	considera	que	uma	das	mais	nefastas	conseqüências	da	exploração	sobre	a
colônia	 incidiu	 sobre	 a	 cultura	 e	 aponta	 nessa	 direção	 a	 possibilidade	 de	 superação	 dos	 problemas
nacionais;	 para	 o	 autor,	 um	 dos	 principais	 determinantes	 do	 atraso	 do	 país	 era	 a	 ignorância
historicamente	 imposta	pelas	classes	dominantes	ao	povo	brasileiro,	estando	na	difusão	da	educação	a
solução	 para	 os	 problemas,	 não	 apenas	 como	 remédio	 para	 o	 atraso	 econômico	mas,	 principalmente,
como	meio	de	conquista	da	liberdade	pelo	povo	brasileiro,	caminhando	de	fato	para	a	democratização	da
sociedade.	 Em	outras	 palavras,	 a	 educação	 deveria	 ser	 antes	 um	 instrumento	 contra	 a	 opressão	 e	 não
simplesmente	meio	para	superar	o	atraso	econômico	em	relação	aos	outros	países,	o	que	seria	defendido
alguns	anos	depois	por	outros	intelectuais.
Paralelamente,	 deve-se	 acrescentar	 que,	 para	 alguns	 intelectuais,	 o	 atraso	 do	 país	 devia-se	 à
diversidade	de	raças,	sobretudo	à	presença	da	raça	negra,	considerada	inferior,	porque,	segundo	eles,	ela
trazia	 em	 si	 os	 germes	 da	 apatia,	 da	 indolência	 e	 da	 preguiça,	 além	 de	 sua	 propensão	 à	 degeneração
psíquica	 e,	 assim	 sendo,	 constituía-se	 como	 entrave	 ao	 progresso.	 Diametralmente	 oposta	 era	 a
concepção	de	Bomfim,	para	quem	essas	idéias	eram	equivocadas	e,	ao	contrário	de	contribuírem	para	a
solução	dos	problemas	do	país,	tendiam	a	perpetuá-los.
A	defesa	da	 educação	 foi	 compartilhada	por	muitos	 intelectuais	 e	 políticos,	 sustentada	 entretanto
por	 outras	 idéias	 e	 vinculadas	 a	 interesses	 diferentes.	 Salientam-se	 nesse	 movimento	 figuras	 como
Miguel	Couto	e	Mário	Pinto	Serva,	que	identificavam	a	ignorância	como	causa	do	atraso	do	Brasil	e	o
analfabetismo	como	vergonha	nacional.	Buscava-se	a	formação	de	uma	nação	forte,	baseada	num	“povo
forte	mental	e	fisicamente”,	o	que	se	aproxima	dos	ideais	eugênicos	e	do	pensamento	psiquiátrico	vigente
em	 busca	 da	 higienização	 da	 raça.	 Tais	 idéias	 articulavam-se	 à	 pregação	 nacionalista,à	 defesa	 do
fortalecimento	militar	e	ao	anticomunismo.	Havia	também	o	interesse	em	tornar	o	analfabeto	eleitor,	com
finalidade	de	reverter	o	quadro	político	a	favor	dos	grupos	alijados	do	poder	e	que	almejavam	tomá-lo
das	mãos	da	oligarquia	cafeeira;	projeto	este	que	só	mais	tarde	e	por	outros	meios	viria	a	se	realizar.
Antonio	Carneiro	Leão	defendia	a	idéia	de	que	não	deveria	ser	difundida	qualquer	instrução	e	sim	a
instrução	profissional	ligada	ao	comércio	e	à	indústria,	cujo	desenvolvimento	poderia	elevar	o	Brasil	ao
mesmo	patamar	das	nações	prósperas.	A	mera	alfabetização,	segundo	ele,	poderia	até	ser	perigosa,	pois
aqueles	que	até	então	estavam	conformados	com	suas	condições	de	vida,	alfabetizados,	poderiam	almejar
melhor	situação	e	gerar	problemas	sociais.
Sampaio	 Dória	 partilhava	 dessa	 idéia,	 defendendo	 a	 instrução	 técnica	 do	 operariado	 juntamente
com	 a	 organização	 científica	 do	 trabalho.	 Isso	 se	 relaciona	 à	 sua	 preocupação	 com	 a	 Psicologia,
sobretudo	na	ênfase	dada	às	 relações	entre	processo	produtivo	e	diferenças	 individuais,	assim	como	a
Higiene,	 que	 deveria	 preservar	 a	 saúde	 e	 o	 vigor	 físico	 do	 operariado,	 que	 se	 vinculava	 ao	 ideal	 de
melhoria	da	raça,	incluindo	a	preservação	do	caráter	e	da	capacidade	mental.
É	explícita	a	articulação	entre	a	defesa	da	instrução	e	as	forças	industriais	emergentes,	sobretudo	no
pensamento	de	Carneiro	Leão	e	Sampaio	Dória,	para	quem	a	instrução	deveria	ser	um	meio	para	suprir	a
indústria	com	uma	força	de	trabalho	preparada	e	racionalizada,	com	vistas	à	produtividade,	sendo	Taylor
freqüentemente	 citado.	 O	 tripé	 Educação-Trabalho-Psicologia	 fazia-se	 necessário	 para	 o	 processo	 de
industrialização	massiva	que	se	planejava	para	a	sociedade	brasileira,	sob	a	égide	da	modernidade	que
se	almejava	para	o	país.
Nesse	 quadro,	 um	 outro	 movimento	 educacional,	 em	 verdade	 um	 movimento	 mais	 propriamente
pedagógico,	 ganhou	 força	 e	 estabeleceu-se	 como	 pensamento	 hegemônico:	 o	 escolanovismo.	 Essa
concepção	não	se	contrapunha	à	defesa	da	difusão	da	instrução,	mas	vinha	dar-lhe	sustentação	teórico-
prática.	O	escolanovismo	fazia	parte	de	um	projeto	de	sociedade,	baseado	nas	 idéias	de	modernidade,
em	que	se	fazia	necessário	um	“homem	novo”,	esculpido	pela	educação.	Soma-se	a	isso	o	fato	de	que,	no
esco​lan​o​vismo,	a	Psicologia	constituía-se	como	uma	das	mais	importantes	ciências	que	fundamentavam
sua	pretensão	de	ser	Pedagogia	Científica.
Nesse	 panorama,	 mudanças	 substantivas	 ocorreram	 na	 organização	 escolar	 brasileira,
principalmente	 por	meio	 das	 reformas	 estaduais	 do	 ensino	 realizadas	 na	 década	 de	 20,	 em	 que	 foi	 o
es​co​lanovismo	 o	 principal	 substrato	 pedagógico.	 Surgiram	 os	 primeiros	 profissionais	 voltados
especialmente	para	a	Educação,	como	Lourenço	Filho,	Fernando	de	Azevedo,	Anísio	Teixeira	e	outros.
Não	por	acaso,	Lourenço	Filho	pode	também	ser	considerado	um	dos	primeiros	psicólogos	brasileiros	e
um	 dos	 mais	 importantes	 protagonistas	 do	 processo	 que	 levou	 ao	 estabelecimento	 definitivo	 da
Psicologia	científica	e	da	profissão	de	psicólogo	no	Brasil.
A	 Psicologia	 tornou-se,	 então,	 exigência	 vital	 para	 a	 Educação,	 principalmente	 na	 vertente
escolanovista,	pois	esta	ciência	deveria	ser	capaz	de	fornecer	muitos	dos	subsídios	teóricos	e	todo	um
arsenal	técnico	para	instrumentalizar	a	ação	educativa.	É	possível	afirmar	que	a	Psicologia	foi	o	pilar	de
sustentação	 científica	 para	 essa	 concepção	 pedagógica,	 pois	 era	 ela	 que	 cuidava	 do	 indivíduo	 e	 das
diferenças	 individuais	 (representada	 pela	 Psicologia	 Diferencial	 e	 suas	 técnicas,	 principalmente	 a
psicometria),	 do	 processo	 de	 desenvolvimento	 psíquico,	 da	 aprendizagem,	 da	 dinâmica	 das	 relações
inter​pessoais,	da	personalidade,	das	vocações,	aptidões,	motivações	etc.
Nesse	 quadro	 da	Educação	 brasileira,	 a	 Psicologia	 ganhou	 seu	mais	 importante	 alicerce	 para	 se
estabelecer	 na	 condição	 de	 ciência,	 explicitar-se	 como	 área	 específica	 de	 saber	 e	 de	 prática	 e,
conseqüentemente,	definir-se	como	campo	profissional	específico.
Procuraremos	demonstrar	tais	fatos,	expondo	brevemente	a	produção	psicológica	no	“Pedagogium”,
no	Instituto	de	Psicologia	de	Pernambuco,	na	Escola	de	Aperfeiçoamento	Pedagógico	de	Belo	Horizonte,
nas	Escolas	Normais	e	nos	conteúdos	de	algumas	obras	editadas	no	período.
2.1.	Algumas	instituições	educacionais
“Pedagogium”
O	“Pedagogium”	foi	constituído	inicialmente	como	Museu	Pedagógico,	cuja	idéia	inicial	partiu	de
Rui	Barbosa.	Criado	em	1890,	sua	finalidade	seria	a	de	funcionar	como	“centro	propulsor	das	reformas	e
melhoramentos	de	que	carecesse	a	educação	nacional”	(Penna,	1986,	p.	7)20.
Em	1897,	Medeiros	e	Albuquerque	foi	nomeado	diretor	da	Instrução	Pública	do	Distrito	Federal,
promovendo	 uma	 mudança	 na	 natureza	 do	 “Pedagogium”,	 passando	 este	 a	 ser	 um	 “centro	 de	 cultura
superior	 aberto	 ao	 público”.	 Foi	 nessa	 condição	 que,	 em	 1906,	 foi	 aí	 criado	 um	 Laboratório	 de
Psicologia	Experimental,	muito	provavelmente	o	primeiro	laboratório	de	psicologia	no	país.	Planejado
por	Alfred	Binet	e	Manoel	Bomfim,	em	Paris,	o	laboratório	foi	organizado	e	dirigido	por	este	último,	que
aí	permaneceu	por	doze	anos.
Os	mais	importantes	dados	a	respeito	da	produção	do	Laboratório	provêm	das	obras	de	Bomfim21,
que	não	os	apresenta	sistematicamente,	mas	são	antes	elementos	que	o	autor	 insere	em	suas	discussões
sobre	a	Psicologia.	Nessas	obras	fica	demonstrada	a	singularidade	desse	autor,	incluída	a	crítica	que	faz
às	pesquisas	 realizadas	em	laboratórios,	 sobretudo	quando	se	estuda	o	pensamento.	Sobre	 isso,	afirma
Bomfim:	“Durante	12	anos,	tive	a	minha	disposição	um	laboratório	de	psychologia;	nas	pastas,	ainda
estão	acumuladas	anotações,	traçados,	fileiras	de	cifras	(...)	e	nunca	tive	coragem	para	organisar	uma
parte	 qualquer	 desses	 dados,	 e	 de	 os	 publicar,	 porque	 nunca	 obtive	 uma	 elucidação	 satisfactória”
(1923,	p.	27).
Encontra-se	nessa	citação	a	discussão	sobre	as	possibilidades	de	um	laboratório	ser	capaz	de	dar
conta	 do	 estudo	 dos	 fenômenos	 psicológicos.	 O	 longo	 texto	 do	 autor,	 a	 seguir,	 demonstra	 suas
inquietações:
“A	 dynamica	 do	 pensamento	 humano	 não	 poderia	 conter-se	 na	 estreiteza	 do	 laboratorio;
deforma-se,	 annula-se.	 Mesmo	 as	 simples	 associações	 de	 ideias:	 melhor	 as	 conhecemos	 na
analyse	 de	 uma	 obra	 qualquer,	 naturalmente	 pensada	 e	 escripta,	 do	 que	 nos	 milhares	 de
pesquizas	que,	para	esse	fim,	se	fizeram.	Tomem	do	albatroz,	ou	mesmo	do	tico-tico,	atem-n’o,	já
encerrado	numa	gaiola,	e,	agora,	tentem	estudar-lhe	a	dynamica	do	vôo!	(...)	Pois,	foi	mil	vezes
mais	insensata	a	pretensão	de	conhecer	o	conjuncto	do	espirito,	pelo	que	se	obtem	nas	simples
pesquizas	a	lapis	e	apparelhos.	(...)	o	mais	complexo	a	que	se	pode	dedicar	a	mente	humana,	tem
de	 ser	 apurado	 à	 luz	 de	 todos	 os	 methodos,	 com	 a	 contribuição	 de	 todos	 os	 recursos;	 mas
evidentemente,	 dos	 methodos	 possiveis	 e	 applicaveis,	 o	 mais	 insufficiente	 será	 sempre	 este:
tomar	um	 individuo,	 consideral-o	 isoladamente,	 impor-lhe	as	 condições	 restrictas	 e	artificiaes
do	 laboratorio,	 para	 inferir	 da	 sua	 cons​ciencia	 deturpada	 o	 regimen	 normal	 no	 commum	 das
consciencias	(...)	o	espirito	humano,	complexo,	essencialmente	activo	e	instavel	como	é,	tem	de
ser	estudado	e	comprehendido	nas	formas	normaes	e	completas	da	sua	realização	natural.	Elle
existe,	 e	 produz,	 e	 se	 manifesta,	 como	 actividade	 conjuncta	 e	 collectiva;	 assim	 tem	 de	 ser
comprehendido	 e	 estudado.	A	 introspecção,	 somente,	 pura	 observação	 individual,	 que	 seja,	 ou
não,	trabalho	de	laboratorio,	nunca	poderia	dar	a	base	completa	das	leis	do	espirito”	(1923,	pp.
26	e	27).
Essa	 concepção	 de	 Bomfim	 diferenciava-se	 radicalmente	 da	 concepção	 de	 pesquisa	 de	 outros
brasileiros,	 que	 defendiam	 o	 laboratório	 como	 expressão	 máxima	 de	 produção	 de	 conhecimentopsicológico.	Em	Manoel	Bomfim,	menos	que	o	êxtase	provocado	pela	possibilidade	de	controle	e	rigor
científico	que	o	laboratório	representava,	pareciam	mais	importantes	os	limites	impostos	por	este	tipo	de
pesquisa.	 Buscava	 ele	 compreender	 determinados	 fenômenos	 em	 outras	 bases,	 considerando	 a
importância	 da	 natureza	 social	 do	 psiquismo	 em	 sua	 complexidade	 e	 concreticidade.	 Posteriormente,
vários	 estudiosos	 da	 Psicologia	 empreenderam	 críticas	 semelhantes	 às	 de	 Bomfim,	 assim	 como
elaboraram	concepções	de	Psicologia	e	de	fenômeno	psíquico	muito	próximas	daquelas	que	esse	autor
brasileiro	formulou	pioneiramente.
O	laboratório	do	“Pedagogium”,	embora	não	tenha	registros	sistemáticos	de	sua	produção,	pode	ser
considerado	um	celeiro	riquíssimo	de	reflexões	sobre	a	Psicologia,	por	meio	das	obras	publicadas	por
seu	genial	diretor.
O	“Pedagogium”	funcionou	até	1919,	quando	foi	extinto	por	decreto	municipal.	Segundo	Penna,	essa
instituição	perpetuou-se	com	a	criação	em	1938,	do	Instituto	Nacional	de	Estudos	Pedagógicos	—	INEP.
Instituto	de	Psicologia	de	Pernambuco
Essa	 instituição	 foi	 criada	 em	1925,	 por	Ulysses	Pernambucano,	 como	diretor	 da	Escola	Normal
Oficial	 de	 Pernambuco.	 Foi	 transferido,	 em	 1929,	 para	 o	 Setor	 de	 Educação,	 anexo	 à	 Secretaria	 de
Justiça	e	Instrução	de	Pernambuco,	passando	a	chamar-se	Instituto	de	Seleção	e	Orientação	Profissional	–
ISOP.	Em	1931,	 era	Per​nam​​​bu​​cano	o	diretor	do	Hospital	 de	Alienados	de	Recife,	 quando	o	 ISOP	 foi
anexado	ao	Serviço	de	Higiene	Mental	do	referido	hospital.
Muitos	 estudos	 foram	 aí	 realizados,	 devendo	 ser	 ressaltadas	 as	 produções	 referentes	 a:	 testes
psicológicos	de	nível	mental,	aptidão	e	outros,	assim	como	sua	padronização	para	a	realidade	brasileira;
vocabulário	das	crianças	das	escolas	primárias	de	Recife;	elaboração	de	testes	pedagógicos;	revisão	da
escola	 Binet-Simon	 para	 aplicação	 em	Recife;	 técnicas	 projetivas;	 padronização	 do	 teste	 coletivo	 de
inteligência	de	Ballard,	para	utilização	na	Escola	Normal	com	finalidade	de	seleção	de	alunos,	além	de
muitas	pesquisas	experimentais	 e	de	 iniciação	à	pesquisa	com	o	objetivo	de	 formar	pesquisadores	em
Psicologia.
Sob	 a	 orientação	 de	 Pernambucano,	 muitos	 pesquisadores	 se	 formaram,	 sendo	 que	 muitos	 deles
tornaram-se	 eminentes	 em	 seus	 campos	 de	 atuação,	 como	 Nelson	 Pires,	 Anita	 Paes	 Barreto,	 Silvio
Rabello	e	vários	outros.
A	esse	trabalho	devem	ser	somadas	as	realizações	de	Ulysses	Pernambucano	no	campo	da	educação
para	 crianças	 com	 deficiência	mental,	 cujo	 pioneirismo	 é	 inconteste,	 sendo	 reconhecido	 pela	 própria
Helena	 Antipoff,	 a	 quem	 muitos	 atribuíam	 as	 ações	 pioneiras	 nessa	 área.	 Criou	 ele	 a	 “Escola	 para
Anormais”,	 anexa	 ao	Curso	de	Aplicação	da	Escola	Normal,	 na	qual	 surgiram	as	primeiras	pesquisas
com	 testes	 de	 aptidão,	 pedagógicos	 e	 mentais,	 implantação	 de	 processos	 pedagógicos	 com	 base	 na
Psicologia	e	formação	de	professores	e	pesquisadores.	Além	dessa	escola,	Ulysses	Pernambucano	criou
várias	 outras	 instituições	 de	 ensino	 para	 crianças	 com	 deficiência	 mental.	 Uma	 das	 finalidades	 do
Instituto	era	subsidiar	o	trabalho	nessas	escolas	e	formar	pessoal	especializado	para	elas.
O	Instituto	contribuiu	também	para	o	serviço	psiquiátrico	de	Recife,	em	especial	no	que	se	refere	ao
emprego	 de	 técnicas	 psicológicas	 em	 questões	 de	 psicopatologia	 clínica	 que,	 segundo	 Anita	 Paes
Barreto,	acabou	por	tornar-se	tal	prática	uma	das	marcas	da	“Escola	Psiquiátrica	do	Recife”.
Do	 ponto	 de	 vista	 teórico	 da	 Psicologia,	 Ulysses	 Pernam-bucano	 foi	 assim	 retratado	 por	 José
Lucena22:
“a	 psicologia	 que	 adotava,	 buscava	 predominantemente	 modelos	 objetivos.	 Embora	 houvesse
manifestado	simpatia	pela	reflexologia	estrita	de	Pavlov	e	Bechterew,	não	se	 filiou	a	qualquer
behaviorismo,	 preferindo	 antes	 a	 psicologia	 do	 comportamento,	 como	 a	 entendia	H.	Pierón,	 e
sobretudo	 a	 orientação	 dita	 funcionalista	 que	 representavam	 então	 (...)	 Claparède,	 James,
Dewey,	etc.	e	a	produção	dos	experimentadores	rigorosos	que	punham	em	marcha	o	movimento
dos	testes	mentais:	Binet,	Terman,	Yerkes,	Burt	e	outros”	(1978,	p.	156).
Embora	fique	patente	a	forte	presença	da	psicometria	na	produção	do	Instituto,	é	de	se	notar	também
que	sua	finalidade	vinculava-se	à	educação	de	“deficientes	mentais”,	ao	subsídio	à	ação	psiquiátrica,	às
questões	 escolares	 e	 à	 formação	 de	 professores,	 o	 que	 contrastava	 com	 o	 que	 ocorria	 em	 outros
laboratórios	de	instituições	psiquiátricas.
A	 tudo	 isso	deve-se	 acrescentar	que	Ulysses	Pernambucano	 sofreu	muitas	perseguições	políticas,
tendo	sido	preso	várias	vezes,	sob	a	acusação	de	subversão,	por	sua	luta	por	melhorias	nas	condições	de
assistência	 ao	 doente	 mental.	 Em	 1935,	 com	 Gilberto	 Freyre,	 Olivio	 Montenegro	 e	 Sílvio	 Rabelo,
assinou	um	manifesto	que	solicitava	um	inquérito	social	 sobre	as	condições	de	vida	dos	 trabalhadores
brasileiros,	sobretudo	aqueles	do	campo.
Escola	de	Aperfeiçoamento	Pedagógico	de	Belo	Horizonte23
Embora	 já	 no	 limite	 do	 período	 em	 estudo,	 a	 apresentação	 da	 produção	 dessa	 instituição	 é
importante	por	demonstrar	a	conquista	da	autonomia	da	Psicologia	no	Brasil.	Fundada	no	final	da	década
de	20,	tornou-se	ela	referência	para	a	caracterização	dos	rumos	que	a	Psicologia	tomou	posteriormente.
A	Escola	de	Aperfeiçoamento	foi	uma	realização	pertinente	à	Reforma	do	Ensino	de	Minas	Gerais,
empreendida	por	Francisco	Campos.	Nessa	reforma,	a	Psicologia	assumiu	papel	de	destaque,	em	que	a
Escola	 de	 Aperfeiçoamento	 deveria	 tornar-se	 o	 principal	 núcleo	 difusor	 das	 bases	 pedagógicas	 que
deveriam	ser	implementadas	no	estado.
Antes	de	sua	criação,	 já	a	preocupação	com	a	Psicologia	e	suas	 técnicas	 faziam-se	presentes	nos
meios	 educacionais	 de	 Belo	 Horizonte.	 Cursos	 ministrados	 por	 C.	 A.	 Baker,	 Iago	 Pimentel,	 Alberto
Álvares	e	Alexandre	Drummond	abordavam	assuntos	como	Psicologia	Educacional	e	testes,	temas	estes
também	presentes	em	artigos	da	“Revista	do	Ensino”.
A	 Escola	 de	 Aperfeiçoamento	 promoveu	 vários	 cursos,	 para	 os	 quais	 foram	 chamados	 como
docentes	 personalidades	 eminentes	 da	 Psicologia	 na	 época,	 como	 Th.	 Simon	 (colaborador	 de	 Binet),
Léon	Walther	e	Helena	Antipoff	(assistente	de	Claparède).	Helena	Antipoff	permaneceu	no	Brasil	e	aqui
realizou	extensa	obra	em	Educação	e	Psicologia,	abrangendo	pesquisa,	ensino	e	prática	educa​cional.
Sob	 a	 responsabilidade	 de	 Antipoff,	 foi	 criado	 um	 Laboratório	 de	 Psicologia	 para	 subsidiar	 os
rumos	educacionais	de	Minas	Gerais,	fundamentalmente	pela	formação	docente.
Esse	 laboratório	 produziu	 um	 extenso	 rol	 de	 pesquisas,	 abordando	 uma	 ampla	 variedade	 de
assuntos:	 inteligência;	 relações	 entre	 produção	 escolar	 e	 meio	 social	 da	 criança;	 relações	 entre
inteligência	 e	 vocabulário;	 seleção	 e	 orientação	 profissional;	 homo​ge​neização	 de	 classes	 escolares;
personalidade	 e	 tipos	 de	 crianças;	 memória,	 aprendizagem	 e	 testemunho;	 motricidade	 e	 fadiga;
julgamento	moral	e	social,	além	de	revisão	e	adaptação	de	testes	de	inteligência	e	aptidão	e	preparação
de	testes	originais	para	medida	psicológica	e	verificação	do	rendimento	escolar.
A	perspicácia	da	análise	de	Antipoff	sobre	os	 resultados	que	obtinha	nas	pesquisas	 lançou	novas
luzes	sobre	a	realidade	social	brasileira	e	sua	relação	com	os	fenômenos	de	natureza	psicológica,	como
por	 exemplo,	 a	 relação	 entre	 condições	 de	 vida	 e	 desenvolvimento	 psicológico.	 Vale	 dizer	 que	 suas
concepções	guardam	evidente	atualidade.
É	interessante	notar,	pela	descrição	de	Regina	Helena	de	Freitas	Campos	(1980),	que	as	pesquisas
realizadas	por	Antipoff	 foram	 fundamentalmente	pesquisas	de	campo,	 cujos	dados	 foram	coletados	em
situação	 ordinária	 de	 sala	 de	 aula;	 além	 disso,	 grande	 importância	 era	 dada	 à	 consideração	 do	meio
social	doqual	provinham	as	crianças.	Para	caracterizar	 seu	 trabalho,	Campos	bem	o	qualifica	quando
denomina	um	item	de	sua	dissertação	assim:	“O	Laboratório	de	Psicologia	vai	conhecer	as	crianças	de
Belo	Horizonte”.
Anexa	 à	 Escola	 de	 Aperfeiçoamento	 foi	 criada	 uma	 classe	 especial	 para	 “deficientes	 mentais”,
germe	de	várias	escolas	desse	tipo	e	da	Sociedade	Pestalozzi	de	Minas	Gerais.	Helena	Antipoff	prestou	a
esse	campo	de	atuação	uma	das	maiores	contribuições	realizadas	no	Brasil,	não	apenas	participando	da
criação	 de	 várias	 instituições,	 mas	 também	 lutando	 pela	 melhoria	 do	 atendimento	 a	 essa	 população.
Propôs	ela	a	denominação	“indivíduo	excepcional”	em	lugar	de	“deficiente	mental”,	por	considerar	esta
última	expressão	inadequada.
Partindo	 dos	 resultados	 das	 pesquisas	 que	 realizou,	 Helena	 Antipoff	 propôs	 o	 conceito	 de
“inteligência	civilizada”,	pois	considerava	a	 inteligência	como	algo	mais	complexo	do	que	aquilo	que
aparecia	 nas	 definições	 correntes;	 a	 inteligência	 seria	 multi​de​ter​minada	 e,	 junto	 com	 disposições
intelectuais	inatas	e	maturidade	bio​lógica,	também	os	fatores	sociais	e	culturais	presentes	no	ambiente	em
que	a	criança	se	desenvolve	e	a	ação	pedagógica	seriam	fatores	determinantes.
Assim	 como	 o	 Instituto	 de	 Psicologia	 de	 Recife,	 o	 Laboratório	 da	 Escola	 de	 Aperfeiçoamento
trabalhou	 com	 testes	 mentais,	 pedagógicos	 e	 de	 aptidão,	 além	 de	 outra	 semelhança:	 a	 preocupação
educacional	com	o	sujeito	com	deficiência	mental.	A	psicometria	foi	aí	estudada	em	contraste	com	o	que
ocorria	no	resto	do	país.	Em	Belo	Horizonte,	foi	utilizada	como	um	instrumento	para	coleta	de	dados	nas
pesquisas,	 sendo	 seus	 resultados	 relacionados	 com	 outros	 provenientes	 das	 condições	 de	 vida	 dos
sujeitos,	o	que	permitiu	uma	visão	mais	totalizadora	das	funções	psicológicas	estudadas.	É	possível	até
dizer	 que	Antipoff	 avançou	 a	partir	 do	ponto	 em	que	Pernambucano	parou,	 dando	 continuidade	 a	 suas
preocupações.
Na	década	de	40,	a	Escola	de	Aperfeiçoamento	de	Belo	Horizonte	fundiu-se	com	a	Escola	Normal,
gerando	o	Instituto	de	Educação,	ao	qual	foi	incorporado	também	o	Laboratório	de	Psicologia.
Escolas	Normais
A	 produção	 das	 Escolas	 Normais	 consistiu,	 provavelmente,	 numa	 das	 mais	 importantes
contribuições	para	o	estabelecimento	da	Psicologia	científica	no	Brasil,	quer	no	âmbito	teórico,	quer	no
âmbito	da	aplicação	prática	de	seus	conhecimentos.	Sua	importância	reside	também	no	fato	de	muitos	dos
primeiros	 profissionais	 da	 Psicologia	 terem	 iniciado	 sua	 formação	 nessas	 escolas	 e	 terem	 sido	 elas
incentivadoras	da	publicação	das	primeiras	obras	específicas	de	Psicologia	no	país.
Para	Annita	Cabral24:
“Foi	nestas	que	se	formaram	os	primeiros	núcleos	de	estudiosos	das	teorias	gerais	e	aplicadas,
que	 os	 primeiros	 ‘laboratórios’	 de	 psicologia	 se	 fundaram	 e	 que	 professores	 nacionais
receberam	 de	 Th.	 Simon,	 Ed.	 Claparède,	 Hélène	 Antipoff,	 H.	 Piéron,	 Fauconnet,	 L.	 Walther,
Köhler	 e	outros	estrangeiros,	 curtos	mas	estimulantes	 cursos	de	conferências.	A	 formação	dos
mais	 destacados	 psicólogos	 educacionais	 brasileiros	 da	 atualidade	 [1950]	 tem	 suas	 raízes
naquelas	escolas	normais”	(1950,	p.	31).
As	primeiras	Escolas	Normais	 surgiram	no	Brasil	 na	primeira	me​tade	do	 século	XIX,	 sendo	que
somente	no	século	XX	a	disciplina	Psicologia	apareceu	de	maneira	mais	sistemática	em	seus	currículos,
com	o	desdobramento	da	disciplina	Pedagogia	em	Pedagogia	e	Psicologia.	Esse	desdobramento	não	foi,
porém,	generalizado,	nem	definitivamente	incorporado;	sendo	certo,	no	entanto,	que	a	Escola	Normal	de
São	Paulo	o	adotou	em	1912,	e	que	o	mesmo	ocorreu	no	Rio	de	Janeiro,	mas	de	forma	descontínua.
Em	 1928,	 por	 decreto,	 a	 disciplina	 Psicologia	 foi	 inserida	 no	 currículo	 das	 Escolas	 Normais,
juntamente	com	Pedagogia,	História	da	Educação,	Didática,	Sociologia,	Higiene	e	Puericultura.	Podemos
com	isso	afirmar,	sem	sombra	de	dúvidas,	que	o	ensino	sistemático	da	Psicologia	ocorreu	originalmente
nas	Escolas	Normais.
Essas	 escolas	 contribuíram	 também	 com	 a	 produção	 de	 conhecimento,	 por	 meio	 de	 pesquisas	 e
estudos	realizados	em	seus	 laboratórios,	e	com	as	experiências	postas	em	prática	nas	salas	de	aula.	A
isso	somam-se	as	obras	psicológicas	publicadas	para	uso	da	disciplina,	no	início	em	geral	compêndios	e
traduções	de	clássicos	estrangeiros	e,	mais	tarde,	obras	sobre	assuntos	específicos	da	Psi​cologia.
Das	Escolas	Normais	brasileiras	merecem	destaque	as	de	Belo	Horizonte,	Recife,	Salvador,	Rio	de
Janeiro,	Fortaleza	e	São	Paulo,	pela	significativa	acolhida	às	questões	psicológicas.
As	 Escolas	 Normais	 de	 Belo	 Horizonte	 e	 Recife	 tiveram	 grande	 relevância	 pela	 articulação,
respectivamente,	com	a	Escola	de	Aperfeiçoamento	Pedagógico	e	com	o	Instituto	de	Psicologia	já	vistos
anteriormente.
A	Escola	Normal	 de	 Salvador	 teve	 em	 Isaias	Alves	 um	 dos	mais	 expressivos	 representantes	 da
Psicologia	 na	 época;	 foi	 ele	 um	 dos	 pioneiros	 na	 difusão,	 aplicação,	 revisão	 e	 adaptação	 de	 testes
pedagógicos	 e	 psicológicos	 no	 Brasil,	 sendo	 um	 dos	 principais	 difusores	 da	 nova	 técnica,	 quer	 pela
publicação	de	livros	ou	realização	de	cursos	sobre	esse	tema.
Da	mesma	maneira,	a	Escola	Normal	do	Rio	de	Janeiro	teve	sua	produção	psicológica	intimamente
ligada	a	seu	professor	de	Pedagogia	e	Psicologia,	Manoel	Bomfim,	cujas	idéias	e,	conseqüentemente,	os
conteúdos	abordados	em	seus	cursos,	encontram-se	registrados	em	seus	livros:	“Lições	de	Pedagogia”	e
“Noções	de	Psychologia”,	especialmente	elaborados	para	uso	de	seus	alunos	nor​malistas,	além	de	outras
obras	 por	 ele	 publicadas,	 dentre	 as	 quais	 a	 já	 mencionada	 “Pensar	 e	 Dizer:	 estudo	 do	 symbolo	 no
pensamento	e	na	linguagem”.	Vale	ressaltar	que	muitos	elementos	apresentados	pelo	autor	nessas	obras
guardam	surpreendente	atualidade.
A	Escola	Normal	de	Fortaleza	trouxe	uma	contribuição	especial	à	Psicologia	por	sua	participação
no	contexto	da	Reforma	do	Ensino	do	Ceará,	empreendida	por	Lourenço	Filho,	entre	os	anos	de	1922	e
1923,	quando	essa	escola	assumiu	 importante	 tarefa	e	nela	 foi	criado	um	 laboratório	de	Psicologia.	A
Escola	Normal	deveria	cuidar	da	formação	dos	professores,	que	seriam	os	principais	protagonistas	das
transformações	que	Lourenço	Filho	idealizara	para	o	cotidiano	das	salas	de	aula.	A	Psicologia	exerceu
função	 central	 nessa	 reforma	 que	 pode	 ser	 considerada	 como	 a	 primeira	 realização	 de	 vulto	 do
escolanovismo	no	país;	nesse	sentido,	podemos	afirmar	que,	em	busca	de	 implementar	a	Escola	Nova,
baseada	numa	Pedagogia	científica,	a	Psicologia	assumiu	papel	 fundamental,	pois	seu	domínio	deveria
ser	o	principal	instrumental	do	professor	em	sala	de	aula.	Lourenço	Filho	procurou	dar	continuidade	no
Ceará	ao	seu	trabalho	na	Escola	Normal	de	Piracicaba,	em	que	era	catedrático	de	Psicologia,	 tendo	aí
pesquisado	atenção,	maturidade	para	a	leitura	e	a	escrita	e	emprego	de	testes.	Retornando	a	São	Paulo,
continuou	sua	atuação	na	Escola	Normal	dessa	cidade,	vindo	a	assumir	aí	a	cátedra	de	Psicologia	e	a
direção	de	seu	laboratório	que,	por	sua	importância,	serão,	a	seguir,	especialmente	tratados.
A	Escola	Normal	de	São	Paulo
As	 principais	 contribuições	 dessa	 escola	 sustentam-se	 no	 ensino	 –	 pela	 cátedra	 de	 Pedagogia	 e
Psicologia	e	pelos	cursos	ministrados	por	especialistas	estrangeiros	–	e	na	produção	de	seu	laboratório.
Segundo	Pessotti,	em	1932	a	 responsabilidade	sobre	o	 laboratório	e	a	cátedra	passa	a	Noemi	Silveira
Rudolfer,	 assistente	 de	 Lourenço	 Filho;	 dois	 anos	 depois,	 o	 laboratório	 foi	 incorporado	 à	 cátedra	 de
Psicologia	da	então	criada	Universidade	de	São	Paulo;	em	1936,	Rudolfer	 foi	nomeada	catedrática	de
Psicologia	Educacional	da	referida	universidade.
No	que	diz	respeito	ao	ensino	de	Psicologia,	a	Escola	Normal	foi	responsável	pela	divulgação	das
teorias	 psicológicas	 em	 voga	 na	 Europa	 e	 nos	 Estados	Unidos

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