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INTRODUÇÃO Bem-vindos ao curso de Estratégia Empresarial. Nos nossos cinco encontros, vamos apresentar os principais conceitos e ferramentas de Estratégia Empresarial. Cada aula do curso está baseada no conteúdo desta apostila, que apresenta um conteúdo mais denso que as aulas. Assim, você poderá aprofundar-se nos conceitos da estratégia durante o nosso curso. Recomendamos que a leitura seja realizada antes da aula, para facilitar a compreensão e alavancar o aprendizado. Michael Porter, um dos mais conceituados professores de estratégia, sugere quatro conceitos fundamentais que devem ser aprendidos em um curso de estratégia. Porém, gostaríamos de adicionar um quinto conceito à lista do Porter. Se Porter fosse um estudante de MBA: Todo aluno de MBA deve aprender os seguintes conceitos fundamentais: 1. O objetivo de uma empresa não é ser grande nem crescer, mas obter bom retorno sobre o investimento. Isso é sinal de que se está criando valor real para os clientes e para os acionistas. 2. Quando se tenta competir, a estrutura do setor importa. Você tem de aprender sobre o setor em que está competindo, não pode pensar só na própria posição. A estrutura do setor tem grande impacto sobre a lucratividade da empresa. 3. A questão fundamental da estratégia não é fazer a mesma coisa melhor, que é o que chamamos de “eficiência operacional”, e sim desenvolver uma espécie de posição estratégica única no mercado. Muito do que se fala sobre estratégia é, na verdade, melhoria operacional; são boas práticas. A estratégia está relacionada com buscar posição única e competitiva no mercado. 4. Quando se procura essa posição, é importante decidir o que não se vai fazer. Estratégia é escolher o que focar, o que não fazer, a que clientes atender, que mercados não servir. Toda empresa que não entender esses princípios não terá sucesso em estratégia. (Michael Porter) A estratégia é contingente à estrutura, à tecnologia e às pessoas de uma determinada organização. Cada organização vai definir a sua estratégia a partir dessas contingências, endereçando as oportunidades externas com as diferentes competências internas. Os módulos estão divididos em dois grandes blocos: conceitos e caixa de ferramentas. O bloco conceitos apresenta os principais conceitos do tema e exemplifica alguns conceitos a partir de casos reais. O bloco caixa de ferramentas oferece metodologias para a aplicação dos conceitos. Cada módulo tem um tema principal: � Módulo 1 – A estratégia e os seus principais elementos. � Módulo 2 – Vantagem competitiva no ambiente externo. � Módulo 3 – Vantagem competitiva no ambiente interno. � Módulo 4 – Níveis de estratégia. � Módulo 5 – Acompanhamento e controle da estratégia e novas formas de se pensar a estratégia. SUMÁRIO MÓDULO I – A ESTRATÉGIA E OS SEUS PRINCIPAIS ELEMENTOS ..................................................... 9 O QUE É ESTRATÉGIA? ....................................................................................................................... 9 HISTÓRIA DA ESTRATÉGIA NA ADMINISTRAÇÃO ......................................................................... 11 Comparando o modelo de organização industrial com a abordagem dos recursos da firma .......................................................................................................................................... 14 ELEMENTOS DA ESTRATÉGIA .......................................................................................................... 15 Visão .......................................................................................................................................... 15 Missão ....................................................................................................................................... 16 Componentes da missão ................................................................................................... 16 Valores ....................................................................................................................................... 17 Formação de valores .......................................................................................................... 19 Estratégia e planejamento estratégico: existe diferença? .................................................. 20 Caixa de ferramentas: a análise Swot ................................................................................... 20 Como implementar uma análise Swot .................................................................................. 21 Passo 1: auditoria externa ................................................................................................. 22 Passo 2: auditoria interna ................................................................................................. 23 Passo 3: priorize os fatores listados ................................................................................ 24 Passo 4: construa o mapa da Swot e faça a sua análise ............................................... 24 Passo 5: sintetize o mapa da Swot e apresente algumas estratégias que combinem forças e oportunidades ..................................................................................................... 26 MÓDULO II – VANTAGEM COMPETITIVA NO AMBIENTE EXTERNO ................................................ 29 AMBIENTE GENÉRICO ...................................................................................................................... 31 Variáveis ou dimensões políticas ........................................................................................... 31 Variáveis ou dimensões econômicas .................................................................................... 31 Variáveis ou dimensões legais ............................................................................................... 32 Variáveis ou dimensões sociais e culturais .......................................................................... 33 Dimensão tecnológica ............................................................................................................. 33 Dimensão global ...................................................................................................................... 34 Dimensão ambiental ............................................................................................................... 35 ANÁLISE DE RAMO: INDUSTRY ANALYSIS ........................................................................................ 35 Modelo de organização industrial ......................................................................................... 35 Como analisar um ramo?........................................................................................................ 37 Tamanho .............................................................................................................................. 39 Forma de organização ....................................................................................................... 39 Características do ramo ..................................................................................................... 39 Cadeia produtiva do ramo ................................................................................................ 40 Barreiras de entrada e saída do ramo ............................................................................. 41 PORTER E O MODELO DAS CINCO FORÇAS .................................................................................. 43 A sexta força: os governos ...................................................................................................... 44 ESTRATÉGIAS GENÉRICAS: CUSTO, DIFERENCIAÇÃO E FOCO .................................................... 44 Estratégia de liderança de custo ............................................................................................45 Estratégia de diferenciação .................................................................................................... 46 Estratégias de foco no custo ou na diferenciação ............................................................... 48 CAIXA DE FERRAMENTAS: O BUSINESS MODEL CANVAS ............................................................ 49 LEITURA COMPLEMENTAR: ENTREVISTA MICHAEL PORTER ...................................................... 51 MÓDULO III – VANTAGEM COMPETITIVA NO AMBIENTE INTERNO ............................................... 57 CADEIA DE VALOR: VALUE CHAIN .................................................................................................... 59 Atividades primárias ................................................................................................................ 59 Logística interna (de fora para dentro) ............................................................................ 59 Operações ........................................................................................................................... 60 Logística externa (de dentro para fora) ........................................................................... 60 Marketing e vendas ............................................................................................................ 60 Serviços ................................................................................................................................ 60 Atividades de suporte ou apoio ............................................................................................. 60 Suprimentos de serviços e materiais ............................................................................... 60 Desenvolvimento tecnológico .......................................................................................... 61 Administração de recursos humanos .............................................................................. 61 Infraestrutura da empresa ................................................................................................ 61 Geração de valor: outros fatores que impactam o desenvolvimento de competências .............................................................................................................................................. 61 RECURSOS E COMPETÊNCIAS DA EMPRESA ................................................................................. 61 Recursos tangíveis e intangíveis ............................................................................................ 64 Itinerário em direção às competências centrais ou essenciais ......................................... 65 Características das competências essenciais ................................................................. 66 Recursos internos, terceirizações e foco estratégico: core business ................................. 68 NOTA SOBRE CULTURA ORGANIZACIONAL E ESTRATÉGIA ........................................................ 71 COMPATIBILIZAÇÃO ENTRE ESTRATÉGIA, ESTRUTURA ORGANIZACIONAL E PROCESSOS ADMINISTRATIVOS ............................................................................................................................ 72 Estruturação da empresa ....................................................................................................... 73 Estrutura funcional ............................................................................................................. 73 Estrutura divisional e multidivisional ............................................................................... 74 Estrutura matricial .............................................................................................................. 76 CAIXA DE FERRAMENTAS: MODELO 7-S DA MCKINSEY .............................................................. 77 LEITURA COMPLEMENTAR: ENTREVISTA BARNEY ....................................................................... 80 MÓDULO IV – NÍVEIS DE ESTRATÉGIA ................................................................................................ 85 NÍVEIS DA GESTÃO ESTRATÉGICA .................................................................................................. 86 Gestão da estratégia operacional .......................................................................................... 87 Gestão da estratégia do negócio ou da unidade de negócio ............................................ 87 Gestão estratégica da corporação ......................................................................................... 88 EXPANSÃO OU DIVERSIFICAÇÃO: MOTIVOS E ESTRATÉGIAS PARA O SURGIMENTO DAS CORPORAÇÕES ................................................................................................................................. 89 O desafio da diversificação: verticalização ou diversificação para outros ramos .......... 91 Diversificação relacionada aproveitando sinergias ....................................................... 92 Diversificação não relacionada ......................................................................................... 93 Diversificação dispersa, chegando à conglomeração.................................................... 94 Reflexões finais sobre diversificação ............................................................................... 95 DEPENDÊNCIA DE RECURSOS: FUSÕES, AQUISIÇÕES, JOINT VENTURES, ALIANÇAS ESTRATÉGICAS E FRANQUIAS ......................................................................................................... 95 Alianças estratégicas: joint ventures e participação acionária ............................................ 98 Outras alianças estratégicas .................................................................................................. 98 Alianças estratégicas por meio de contratos de longo termo: franquias ........................ 99 Fusões e aquisições .............................................................................................................. 100 MÓDULO V – ACOMPANHAMENTO E CONTROLE DA ESTRATÉGIA E NOVAS FORMAS DE SE PENSAR A ESTRATÉGIA ...................................................................................................................... 103 CONTROLE ESTRATÉGICO ............................................................................................................ 106 BALANCED SCORECARD .................................................................................................................. 109 BSC como ferramenta de gestão estratégica .................................................................... 112 Descrição da estratégia: mapa estratégico do Balanced Scorecard................................ 113 Perspectiva financeira ..................................................................................................... 113 Perspectiva do cliente ..................................................................................................... 114 Perspectiva dos processos internos ............................................................................. 115 Perspectiva de aprendizagem e crescimento .............................................................. 115 Objetivos do mapa estratégico ........................................................................................... 116 NOVAS ABORDAGENS NA ÁREA DE ESTRATÉGIA ...................................................................... 121 Matriz de Avaliação de Valor ou a Estratégia do Oceano Azul ....................................... 121 Lean startup ........................................................................................................................... 123 CAIXA DE FERRAMENTAS: PONTOS PARA REFLEXÃO NO PROCESSO DE PLANEJAMENTO . 126 LEITURA COMPLEMENTAR: COMO TRANSFORMAR O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO EM AÇÃO ...............................................................................................................................................128 ANEXOS .............................................................................................................................................. 131 ANEXO 1: COMO IMPLANTAR UMA ESTRATÉGIA — EXEMPLO NATURA ................................... 131 ANEXO 2: TEXTO PARA APROFUNDAR A DISCUSSÃO — ANÁLISE DE CLUSTERS ................... 142 ANEXO 3: NOTA SOBRE O CONCORRENTE ................................................................................ 144 BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................................... 148 PROFESSOR-AUTOR ........................................................................................................................... 150 Por que algumas organizações são bem-sucedidas enquanto outras quebram? Por que empresas, atuando no mesmo setor, com o mesmo mercado e produtos similares, têm resultados diferentes? Em virtude de situações, valores, oportunidades, recursos e objetivos, entre outros fatores, as empresas desenvolvem estratégias para se adaptarem às mudanças atuais dos seus ambientes e para buscarem oportunidades futuras. Porém, a palavra estratégia é utilizada de várias formas. Portanto, antes de continuarmos, vale a pena entender os diferentes significados de estratégia! O que é estratégia? Que tal analisar os seguintes trechos de matérias de jornais e revistas de negócios? 1. “Quando Abilio Diniz e Jorge Paulo Lemann, dois empresários brasileiros acostumados a fechar negócios bilionários, compraram, em agosto de 2015 a Benjamin Abrahão, uma pequena rede de padarias paulistana, ninguém entendeu direito o que estava por trás desse investimento. Agora, a estratégia ficou mais clara. E não contradiz o estilo ambicioso da dupla. Os homens que construíram o Pão de Açúcar e a Ambev querem criar a primeira grande cadeia de padarias de alcance nacional. [...] A portuguesa Rita de Cássia Sousa Coutinho, que também é sócia da empresa, por meio da Ocean, vai presidir a rede. Sob nova administração, o negócio — rebatizado Benjamin — deve dobrar de tamanho ainda em 2016. Para pavimentar o caminho rumo ao objetivo, Rita acreditava que era preciso garantir ao projeto uma habilidade que nenhum dos três possuía: a capacidade de produzir pães e bolos de qualidade. Por isso, decidiram comprar um negócio já em funcionamento.” (Disponível em: <http://epocanegocios.globo.com>). MÓDULO I – A ESTRATÉGIA E OS SEUS PRINCIPAIS ELEMENTOS 10 2. “Duas belas mulheres atraem atenção em qualquer lugar que estejam. Se forem descoladas, simpáticas e tchecas, aí concentram mais holofotes ainda. Acrescente a isso a vontade delas de conhecer o Brasil e o fato de terem criado um blog dizendo que amam o País. Dá até para fazer um roteiro sobre esta história. Foi isso que o Pânico na TV! pensou e pôs em prática, mesmo sem saber que Dominika e Michaela ‘eram de mentirinha’: apenas protagonizavam uma inusitada estratégia [...]. Há meses, as tchecas estreitam, via redes sociais, as relações com brasileiros e alimentam o blog We Luv Brazil. Ao conhecerem Sabrina Sato, ganharam um ‘reality show’ que as acompanhou por Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, Fortaleza e Salvador. Mas o último episódio da série, previsto para ir ao ar nesse domingo, revelaria uma surpresa: o programa, que se gaba de tirar sarro dos entrevistados, deu-se conta de que caíra numa pegadinha e enfrentara uma saia justa. Dominika e Michaela estavam lá para lançar a cerveja ‘Proibida’, marca que chega ao Brasil pelas mãos da CBBP — Companhia Brasileira de Bebidas Premium. O problema é que a rival Skol é patrocinadora do programa.” (Disponível em: <www.exame.abril.com.br>). 3. “Desde sua fundação, a principal estratégia do Grupo L’ORÉAL tem sido investir em pesquisas científicas. O desempenho, a segurança e a qualidade de seus produtos se baseiam na busca contínua por inovações científicas. A empresa destina cerca de 3% de suas vendas anuais (aproximadamente € 800 milhões) ao setor de Pesquisa e Desenvolvimento, que atualmente tem sua equipe composta por 55% de profissionais mulheres.” (Disponível em: <http://mundodasmarcas.blogspot.com.br>). 4. “Apesar do tamanho e dinamismo do mercado interno brasileiro, poucas são as marcas que se aventuram internacionalmente. E menos ainda as que alcançam sucesso. Depois de 67 anos de Brasil e um amplo domínio do mercado nacional, a Bauducco resolveu, em 2005, investir no mercado americano. A empresa demonstra que, com planejamento e foco adequado isso é possível, e vem se tornando um caso de sucesso de internacionalização de uma empresa brasileira de alimentos no maior mercado consumidor do mundo. Conversamos com o diretor de marketing da Bauducco Foods USA, Erik Volavicius sobre esse projeto. [...] Já tínhamos uma presença muito forte no mercado brasileiro, e na América Latina, além de outros mercados internacionais, através de um modelo baseado na exportação de produtos quando a diretoria da Bauducco decidiu que era hora de apostar forte no mercado americano, e estabelecer presença com uma equipe própria, armazém e escritório locais. [...] Como o panetone era um produto quase desconhecido, tivemos que adaptá-lo ao gosto americano. [...] Através de pesquisas de mercado fomos entendendo melhor o cliente americano e ajustando nossa estratégia.” (Disponível em: <www.exame.abril.com.br>). 11 Mintzberg (2001) apresentou cinco definições diferentes para o que é estratégia, conhecidas como os Cinco Ps da Estratégia. É importante observar que os Cinco Ps são empregados isoladamente ou em conjunto: � Estratégia como PLANO (plan) — quando a organização define um conjunto de diretrizes, desenvolvidas deliberadamente em um plano. Esse plano pode estar ou não explicitado em um documento formal, porém sinaliza como a organização pretende alcançar os seus objetivos. Geralmente, no Plano existem os outros Quatro Ps. � Estratégia como PRETEXTO (ploy) — quando uma organização realiza uma manobra intencional, para enganar um concorrente. � Estratégia como PADRÃO (pattern) — quando uma organização apresenta um comportamento constante em um determinado período de tempo e esse comportamento acaba se tornando uma estratégia. � Estratégia como POSIÇÃO (positioning) — como a organização se posiciona em relação ao seu ambiente externo (os seus fornecedores, clientes, concorrentes, etc.). � Estratégia como PERSPECTIVA (perspective) — como a organização se posiciona para o seu público interno, por meio dos seus valores, normas, intenções e comportamentos compartilhados. Ao reler as notícias e compará-las com essas cinco definições, é possível observar, na prática, os diferentes usos da palavra estratégia! (1. PLANO; 2. PRETEXTO; 3. PADRÃO; 4. POSIÇÃO). A palavra estratégia não tem uma origem econômica ou administrativa, é oriunda da terminologia militar. Estratégia, em grego antigo, significa a arte ou as competências de um general ou aquilo que um general sabe e deve fazer para o bom desempenho das suas funções. Ainda não é inteiramente claro, como e por que o termo estratégia passou para a área da economia e da administração. O termo estratégia começa a ser usado na economia em meados do século XIX e, na área da administração, apenas no século XX. História da estratégia na administração Na administração, o surgimento da estratégia está relacionado ao aumento da competitividade no mercado americano, na segunda metade do século XX. Logo após a Segunda Guerra Mundial (1940-1950), o mercado consumidor estava em plena ebulição. A partir da década de 1960, há um aumento da rivalidade e das disputas entre empresas, criando espaço para o conceito de estratégia. O primeiro livro-texto a ter Estratégia Empresarial como título foi publicado em 1965: Corporate strategy, de Igor Ansoff. Nesse livro,é apresentada a Matriz Produto/Mercado, também conhecida como Matriz de Ansoff, que considera, por um lado, o mercado em que a empresa atua, e, por outro, os tipos de Adriano M. j Adriano M. j Adriano M. j Adriano M. j Adriano M. j Adriano M. j Adriano M. j Adriano M. j Adriano M. j 12 produtos e serviços oferecidos. Partindo dessas duas dimensões, é possível formular quatro estratégias: penetração de mercado, desenvolvimento de mercado, desenvolvimento de produtos/serviços e diversificação. Quadro 1 – Matriz de produto/mercado ou matriz de Ansoff produtos atuais novos m e rc a d o s a tu a is penetração de mercado � Vender mais dos produtos/serviços existentes no mesmo mercado. � Consolidar o mercado atual, tornando clientes ocasionais em clientes regulares, e clientes regulares em usuários intensivos. desenvolvimento de produtos � Vender novos produtos/serviços no mercado atual, para a mesma base de clientes. n o vo s desenvolvimento de mercado � Oferecer os produtos/serviços atuais para novos segmentos ou territórios. � Buscar novos usos para os produtos/serviços atuais. diversificação � Vender novos produtos/serviços para novos mercados. � Dividida em: � diversificação relacionada — quando a organização permanece na mesma indústria. � diversificação não relacionada — quando a organização entra em uma nova indústria, não conhecida. Na década de 1960, Kenneth Andrews apresentou uma ferramenta de formulação de estratégia que é utilizada até hoje: a análise Swot, que propõe a avaliação dos pontos fortes (strenghts) e dos pontos fracos da organização (weaknesses), à luz das oportunidades (opportunities) e das ameaças (threats) no seu ambiente. Essa ferramenta será mais bem detalhada na próxima unidade. Adriano M. j Adriano M. j 13 As décadas de 1960 e 1970 foram marcadas pela predominância das empresas de consultoria no campo da estratégia. São desse período a Matriz de Crescimento e Participação (matriz BCG) e a Curva de Experiência, da Boston Consulting Group e a Matriz Multifatorial, da McKinsey1. Na década de 1970, a análise estratégica focava o resultado financeiro da empresa, em função da ascensão dos diferentes modelos de diagnóstico empresarial das consultorias e das grandes empresas com estruturas verticalizadas e multidivisionais, conhecidas como as M-forms. Nessa década, difundiu-se o planejamento estratégico empresarial, a partir da divulgação do livro Corporate Strategy, de H. Igor Ansoff (1965). O planejamento estratégico propunha que a estratégia resulta de um processo de planejamento formal, consciente, racional e analítico. Esse processo se inicia com análise da situação, por meio de ferramentas analíticas, seguido de definição de metas e desenvolvimento de alternativas. A escolha entre as alternativas deve ser realizada a partir de técnicas analíticas. Na década de 1980, os modelos de estratégia passam a ser questionados, em função da hipercompetição no mercado americano. Nessa década, um dos grandes pensadores da estratégia, Michael Porter, publica o seu primeiro livro Estratégia competitiva. Porter propõe que, a partir da análise das forças competitivas do ramo — industry, em inglês — (Análise das Cinco Forças), a empresa deverá escolher uma estratégia competitiva genérica para garantir um desempenho acima da média no ramo. Em 1985, no livro Vantagem competitiva, Porter introduz o conceito de Cadeia de Valor, uma ferramenta de análise das atividades da organização, visando a compreender a contribuição de cada atividade para a criação de valor e geração de margem pela empresa. A abordagem de Porter é conhecida como o Modelo da Organização Industrial e será detalhado nos módulos 2 e 3. Nessa mesma década, surgem as primeiras publicações relacionadas à Visão Baseada nos Recursos, amplamente divulgada a partir da década de 1990, com as publicações de Hamel e Prahalad (1990, 1994) e Barney (1991). Os autores da Visão Baseada nos Recursos defendem que uma posição competitiva favorável no mercado é alcançada a partir do desenvolvimento de um conjunto de recursos internos pelas empresas. A Abordagem dos Recursos da Firma será detalhada no módulo 3. Os debates sobre o tema estratégia se ampliam na década de 1990. As mudanças socioeconômicas, tecnológicas e globais apresentam novos desafios para as empresas, alterando as bases da competição entre empresas. Conceitos como setor, posicionamento competitivo e estrutura multidivisional passam a ser questionados, e novas formas organizacionais vêm emergindo. Temas como redes de cooperação, coopetição e cocriação surgem como novas formas de criação de valor e exigem também das organizações novas formas de pensar as suas estratégias. Essas novas formas serão abordadas no módulo 5. 1 Para saber mais sobre a história da estratégia, SCHNEIDER, Luis Carlos. Pensamento estratégico organizacional: origens, evolução e principais influências. Disponível em: <http://www.anpad.org.br/diversos/trabalhos/3Es/3es_2013/ 2013_3Es214.pdf>. Adriano M. j Adriano M. j Adriano M. j 14 Comparando o modelo de organização industrial com a abordagem dos recursos da firma O Modelo de Organização Industrial considera o ambiente externo como dinâmico e em permanente alteração. O sucesso do administrador seria demonstrado pela sua capacidade de ir adequando a empresa às mudanças que ocorrem no ambiente. Dessa forma, uma boa estratégia poderia ser entendida como uma sequência bem-sucedida de manobras adaptativas, alinhando permanentemente a empresa com um ambiente em constante mudança. Isso implica pensar estratégia, necessariamente, a partir do ambiente externo. Já a Abordagem dos Recursos da Firma dirá que estratégia consiste em fazer uso dos recursos empresariais — humanos, tecnológicos, financeiros e físicos —, gerindo e combinando-os, adequadamente, para transformá-los, se possível, em competências empresariais, capazes de constituir a base a partir da qual produtos e serviços surgiriam. Essa segunda abordagem inverte o foco. Em vez de olhar primeira e predominantemente para o ambiente de negócios, olha-se para a própria empresa, fazendo dela a fonte da estratégia. Figura 1 – Perspectivas teóricas de abordagens da estratégia Fonte: Porter (1985); Prahalad e Hamel (1990); Barney (1991). Ambas as perspectivas da estratégia empresarial têm os seus defensores e oponentes, principalmente na academia. Contudo, na gestão das organizações são complementares. 15 Elementos da estratégia A estratégia — pelas suas características de generalidade, busca da integração e capacidade de agregar negócios e funções — pode ser vista como responsável e necessária ao direcionamento da ação empresarial. Alguns dos conceitos fundamentais do campo da estratégia são os conceitos de visão, missão e valores. Visão A visão está ligada ao que se deseja ver realizado em uma empresa. Isso implica pensar qual o projeto da empresa, em não estar satisfeito, necessariamente, com o que a empresa é no momento atual. Por exemplo, quando o falecido Victor Civita chegou ao Brasil, no início da década de 1950, e disse desejar abrir, neste País, uma empresa que se tornasse um marco no ramo editorial e gráfico, estava enunciando a sua visão. O resultado foi o conjunto de empresas hoje conhecido como Grupo Abril. Quando Bill Gates decidiu entrar no negócio de informática, criando uma empresa para produzir única e exclusivamente softwares, não se dedicando à produção de hardware — visto então como o centro do negócio de tecnologia da informação —, tratava-se de uma percepção diferente daquela que possuíam as pessoas envolvidas com o ramo na sua época. Era a percepção de que novos e, incrivelmente, ricos horizontes se abririama partir do desenvolvimento de softwares. A visão geralmente é traduzida em uma declaração que visa a orientar a empresa no médio e longo prazo. Geralmente, a declaração da visão perdura por um período de tempo, porém, em função de grandes mudanças de mercado, ela pode mudar. Um bom exemplo é a visão da Apple. No início, há três décadas, a visão do Steve Jobs era desenvolver “um computador para o resto de nós”. Essa visão estava relacionada à tendência do mercado de Tecnologia de Informação da época, dominado pelos mainframes da IBM. Em 2001, em função das mudanças do mercado, Jobs redefiniu a missão: “ser um hub digital para o nosso modo de vida digital emergente” (digital hub for our emerging digital lifestyle). Em 2017, a visão da Apple mudou novamente e pode ser resumida na seguinte frase novo CEO da empresa, Tim Cook: “Nós acreditamos que estamos na face da terra para criar produtos incríveis”. Alguns exemplos de visão: � Promon Logicalis — “Ser a melhor empresa de serviços e soluções de TIC na América Latina, por meio da inovação, qualidade e comprometimento dos seus profissionais com seus clientes, acionistas e sociedade”. � Gol — “Ser a melhor companhia aérea para viajar, trabalhar e investir". Adriano M. j Adriano M. j 16 Missão A missão é uma declaração de um conjunto de ações e atitudes que uma empresa adota — ou gostaria de adotar —, a fim de realizar uma visão. Enquanto a visão define o que a empresa quer para o seu futuro e aonde ela quer chegar, a missão está relacionada à razão de existir da empresa. Mas como realizar essa visão? A resposta é encontrada na proposta da empresa, ao longo das décadas: oferecer aos consumidores as melhores soluções possíveis, por meio do espírito empreendedor dos seus funcionários. A missão da Boeing Corporation, em 1950, traduzia esse objetivo: “Tornar-se o ator dominante no mercado de aviões comerciais e trazer o mundo para a era do jato” (Become the dominant player in commercial aircraft and bring the world into the jet age). Dessa forma, o primeiro passo foi a construção de um avião a jato intercontinental, o 707, o primeiro na sua espécie. Outras empresas imitaram a Boeing, mas esta manteve a liderança por ter entrado no mercado em primeiro lugar. Depois, tivemos o 737, que foi o primeiro passo para a construção dos chamados aviões wide body, ao qual se seguiu o 747, chamado, durante muito tempo, de jumbo ket pelas suas dimensões e pelo seu alcance de voo. Dessa forma, os vários projetos, dos quais tomamos alguns como exemplos, traduzem a missão da empresa, ou seja, as ações que a empresa se propôs a realizar e realizou, a fim de concretizar a sua visão. Se analisarmos a visão da Boeing para 2016, temos: “pessoas trabalhando juntas como uma empresa global para a liderança aeroespacial”. O anúncio da assinatura do acordo de intenções para formar uma nova empresa na área de aviação comercial da Embraer, em julho de 2018, é uma forma da Boing de alcançar a sua visão. Componentes da missão A declaração da missão pode ter os seguintes componentes, ou uma combinação deles: � mercado consumidor; � produto e serviço; � domínio geográfico; � tecnologia; � preocupação com a sobrevivência; � filosofia; � conceito próprio e � preocupação com a imagem pública. 17 Como exemplos de missão, podemos citar: � Google — “A missão do Google é organizar as informações do mundo e torná-las mundialmente acessíveis e úteis”. � Promon Logicalis — “A Logicalis Latin America tem como missão ser um agente transformador da sociedade latino-americana a partir da aplicação da tecnologia da informação e das comunicações no dia a dia de empresas e pessoas. Acreditamos que as soluções tecnológicas têm o poder de trazer mais qualidade de vida, reduzir impactos ambientais e melhorar relações humanas, seja nos negócios ou na vida pessoal”. � Ambev — “Criar vínculos fortes e duradouros com os consumidores e clientes, fornecendo-lhes as melhores marcas, produtos e serviços”. � Gol — “Aproximar pessoas com segurança e inteligência”. � Instituto Ayrton Senna — “Tendo como fundamento a vida e os ideais de Ayrton Senna, interferir positivamente nas realidades de crianças e adolescentes brasileiros, dando-lhes condições e oportunidades para o desenvolvimento pleno como pessoas, cidadãos e futuros profissionais”. Valores Valores são, hoje, frequentemente referidos como elementos importantes em diversos aspectos da administração. Mas, afinal, o que são valores? Valores são costumes, posturas e ideias que direcionam o comportamento das pessoas. Os valores podem ser explicitados em poucas palavras e expressam os pressupostos básicos que são próprios das pessoas ou dos grupos. Podem ser individuais, coletivos ou organizacionais. Inconscientemente, temos posicionamentos em relação à natureza dos indivíduos, relacionamentos interpessoais, tempo e espaço. Tais posicionamentos são tomados como certos e incorporados à nossa forma de pensar e de agir. A nossa forma de pensar e agir é partilhada por outras pessoas, ou seja, existem valores coletivos que nos auxiliam a entender e lidar com diferentes situações. Ao fazer parte de um determinado grupo, geralmente concordamos e adotamos os valores desse grupo. É interessante observar que, nas organizações, podemos falar de valores culturais e valores estratégicos. Enquanto os valores culturais estão relacionados ao que um determinado grupo acredita, os valores estratégicos buscam definir como as pessoas que trabalham em uma determinada organização devem agir, como elas devem relacionar-se com os seus stakeholders. Os valores estratégicos geralmente são apresentados formalmente e auxiliam os funcionários da organização nos processos de escolha e de tomada de decisão. 18 Figura 2 – Valores do Grupo Votorantim Fonte: adaptado de Grupo Votorantim. Por exemplo, o Grupo Votorantim resume os seus valores na sigla Sereu: solidez, ética, respeito, empreendedorismo e união. Cada uma dessas palavras traduz as atitudes e os sentimentos que a empresa espera dos seus funcionários. Valores marcam as nossas ações, exatamente porque possuem um apelo mais envolvente e captam as nossas emoções e paixões, nos entusiasmam e motivam. Cabe observar que os valores estratégicos podem ou não estar alinhados aos valores culturais. Quando estão, o apelo para agir conforme a estratégia é maior. Quando isso não ocorre, temos situações em que os valores estratégicos, muitas vezes divulgados publicamente, são totalmente divergentes do cotidiano da empresa. 19 Como exemplos de valores, podemos citar: � Promon Logicalis: � Ética — Temos uma cultura baseada na honestidade, justiça, integridade e transparência em todos os nossos relacionamentos. � Equidade — Percebemo-nos como uma organização multicultural, parte de um todo. Combatemos qualquer tipo de discriminação, incluindo as originadas por preconceito de raça, credo, gênero e orientação sexual. � Excelência — Prezamos pelo profissionalismo em todos os nossos negócios e somos dedicados a alcançar e manter os mais altos padrões de qualidade. � Bom humor — Trabalhamos com leveza e alegria, procurando superar os desafios do dia a dia com criatividade e entusiasmo. � Pluralidade — Reconhecemos na diversidade de ideias um elemento fundamental da nossa geração de valor. Atuamos de forma colegiada, buscando envolver os nossos profissionais no processo de tomada de decisão de forma a capturar conhecimento, experiência e ideias. � Gol: � Segurança; � Baixo custo; � Time de águias; � Inteligência e � Servir. Formação de valores Os valores estratégicos de uma organização resultam das próprias experiências e do aprendizado organizacional. Podem, também, ser muito influenciados por pessoas. Geralmente, afirma-se que um empreendedor,um chefe executivo ou um determinado grupo de pessoas, pode exercer papel decisivo na formação dos valores de uma organização. Em organizações pequenas, onde o(a) empreendedor(a) está no centro do negócio, os valores pessoais dele(a) influenciam e, em algumas situações, determinam os valores estratégicos. À medida que a empresa cresce, essa influência vai sendo dividida com outros executivos e grupos de pessoas. Muitas estratégias têm vigor e são implementadas, despertando entusiasmo e comprometimento de bom número dos membros da organização, porque nascem dos valores da organização e não colidem nem contrariam esses mesmos valores. 20 Estratégia e planejamento estratégico: existe diferença? Frequentemente, usa-se Planejamento Estratégico como sinônimo de Estratégia Empresarial. No entanto, seguindo essa ideia, estaríamos fazendo confusão e tomando a parte pelo todo. Planejamento Estratégico não é Estratégia. Já vimos que a palavra estratégia pode ser entendida como plano, posição, padrão, pretexto e perspectiva. Retomando o conceito de Mintzberg, a estratégia como Plano, que pode envolver os outros quatro Os, é uma forma de enunciar ou de formular estratégias, ou seja, uma maneira de formalizar — ou de colocar no papel por escrito — a estratégia de uma empresa. Geralmente, essa estratégia é resultante de um processo formal de formulação da estratégia. Os Planos Estratégicos simulam o que a empresa pretende ser nos próximos anos. Em ramos mais estáveis, esses planos utilizam técnicas projetivas e assumem um futuro relativamente previsível, pressupondo, quase sempre, o crescimento da atividade econômica e empresarial. Porém, em ramos instáveis ou em ambientes turbulentos e imprevisíveis, os planos estratégicos passam a ser questionados. Buscando maior flexibilidade, a formulação dos planos estratégicos foi alterada, evitando a rigidez e buscando apresentar alternativas de curso. Em vez de um único caminho, são apresentados vários cenários, possibilitando várias alternativas, que corresponderiam às necessidades de correção de curso ao longo da própria execução da estratégia. Os documentos resultantes dessa nova abordagem são mais flexíveis, sujeitos a revisões frequentes ao longo dos anos, sempre contingencializando os objetivos. Ou seja, se as coisas se alteram, se o ambiente de negócios sofre alterações que não eram previstas, os planos também podem ser alterados. Caixa de ferramentas: a análise Swot Alguns dos conceitos apresentados são também ferramentas de mapeamento do negócio, para auxiliar no processo de formulação da estratégia. Nesta unidade, vamos explicar como realizar uma análise Swot. A análise tipo Swot é um esforço para incorporar os elementos internos e externos da formulação de estratégia, ou seja, de um lado, o meio ambiente; de outro, os recursos da empresa. Adriano M. j Adriano M. j 21 A análise de tipo Swot manteve o significado das palavras na língua inglesa. Dessa forma, temos: Figura 3 – Análise Swot A análise se resume na busca de oportunidades e na defesa contra as ameaças colocadas no meio ambiente, além da conscientização de quais são as nossas forças e fraquezas. Embora a análise pareça simples — conceitualmente, ela representa uma grande simplificação da realidade estratégica das empresas —, executá-la em uma empresa está longe de ser fácil. É aconselhável que a análise Swot seja realizada por equipes de trabalho responsáveis por formulação e revisão de estratégias. Um dos principais desafios enfrentados em uma análise Swot é a dificuldade de avaliar as fraquezas. No fim da análise Swot, pretende-se definir as relações existentes entre os pontos fortes e os fracos, com as tendências mais importantes que se verificam no ambiente da empresa, em nível de mercados: global e específico; das conjunturas: tecnológica, social, demográfica ou econômica; bem como das imposições legais. A análise Swot de uma determinada empresa pode ser enriquecida pela comparação com as análises Swot dos principais concorrentes. Como implementar uma análise Swot A análise Swot, apesar de ser uma ferramenta extremamente simples, apresenta vários desafios na sua utilização. 22 Passo 1: auditoria externa Reunir os fatores externos de influência para o negócio Esta etapa deve ser realizada por sessões de brainstorming internas, com pessoas-chave da organização que conheçam detalhadamente o ambiente em que ela está. A lista de fatores externos deve ter as seguintes fontes: informações sobre o ambiente externo, o mercado, a concorrência e os clientes/consumidores. Quadro 2 – Fatores do ambiente externo fatores ambientais (ambiente geral/genérico) fatores dos competidores (ambiente competitivo/específico/ramo) � demográficos � econômicos � políticos/jurídicos � sociológicos � ambientais � tecnológicos � culturais � capacitação � recursos � propriedade � novos participantes � segmentos de mercado � produtos � preços � promoção � distribuição � produtos substitutos � clientes � fornecedores � ciclo de vida dos produtos � risco e custo de violação da propriedade intelectual do seu produto Mercado Relativamente ao mercado, é importante reunir e sintetizar informações relativas a dois aspectos-chave: � Características genéricas do mercado — Pretende-se aqui determinar a dimensão total do mercado e caracterizar a cadeia de suprimentos e os canais de distribuição. � Decomposição do mercado em segmentos — Normalmente, cada mercado é constituído por vários segmentos. Ao dividir o mercado por segmentos, é possível detectar novos segmentos, constituindo uma boa oportunidade para a sua empresa. 23 Concorrência Existem várias questões que necessitam ser consideradas na análise da concorrência: a situação em que ela se encontra, os produtos comercializados, o posicionamento mercadológico, a estratégia tecnológica, etc. Clientes/consumidores Procure entender cada segmento do mercado por meio da identificação das características dos clientes/consumidores, dos hábitos de compra, das preferências, das rejeições, etc. Para auxiliar nesse mapeamento, é interessante convidar a equipe comercial, que tem contato direto com os clientes; e a equipe de marketing, que pesquisa os consumidores. Depois de identificar os principais fatores relacionados ao ambiente geral, ao mercado, à concorrência e aos clientes/consumidores, procure priorizar os fatores essenciais para uma empresa no seu setor e selecione 10 itens. Distinga as ameaças das oportunidades Depois de listar os principais fatores externos que podem influenciar o seu negócio, classifique-os como ameaças, isto é, aspectos negativos do ambiente externo com impacto significativo no negócio da empresa, ou oportunidades, quer dizer, aspectos positivos do ambiente externo com impacto significativo no negócio da sua empresa. Passo 2: auditoria interna Reunir todos os fatores internos de influência para o negócio Para melhor entender os fatores que podem gerar vantagem competitiva para o negócio, é necessário, nesta fase, ampliar a análise e identificar os fatores que realmente conferem uma vantagem para qualquer empresa que atue no setor de atividade da empresa analisada. Quanto mais fundamentado, com estudos e benchmarking, mais crível se torna a análise, uma vez que os gestores têm uma tendência a valorizar aqueles pontos já existentes na empresa. Para realizar essa análise interna, deve-se ter em consideração as atividades das diferentes áreas funcionais e considerar quais são as competências centrais que uma empresa deve ter. Tal como se fez na análise externa, é necessário priorizar os fatores e selecionar, por ordem crescente de importância, um máximo de 10 itens. Distinga os pontos fortes dos pontos fracos Depois delistar os principais fatores internos que podem influenciar o seu negócio, classifique-os como pontos fracos, isto é, desvantagens internas da empresa em relação aos seus principais concorrentes, ou pontos fortes, quer dizer, vantagens internas da empresa em relação aos seus principais concorrentes. 24 Passo 3: priorize os fatores listados Identifique e analise os principais pontos fortes, pontos fracos, oportunidades e ameaças, separadamente. Identifique o impacto que esses fatores têm no seu negócio Nem todos os fatores têm o mesmo peso e a mesma influência para o negócio da empresa. Portanto, para cada fator, é necessário identificar o grau de impacto: elevado, médio ou fraco. Identifique a tendência futura que esses fatores têm no seu negócio Uma vez que o ambiente é dinâmico, o impacto dos fatores no negócio pode vir a aumentar ou diminuir no curto/médio prazo. Depois de classificar o impacto atual de cada fator, procure identificar determinantes que podem alterar o grau de impacto do fator: tendência a aumentar, tendência a manter-se ou tendência a diminuir. Passo 4: construa o mapa da Swot e faça a sua análise Resuma a informação trabalhada nas etapas anteriores em um mapa único do seguinte tipo: Quadro 3 – Mapa da Swot pontos fortes impacto no negócio tendências E M F � = � pontos fracos impacto no negócio tendências E M F � = � 25 E — elevado M — médio F — fraco � melhorar = manter � piorar oportunidades impacto no negócio tendências E M F � = � ameaças impacto no negócio tendências E M F � = � 26 Passo 5: sintetize o mapa da Swot e apresente algumas estratégias que combinem forças e oportunidades Reorganize as informações coletadas: os cinco itens mais importantes de cada quadro. Apresente estratégias priorizando aquelas que envolvem a combinação dos pontos fortes com as oportunidades e, em segundo lugar, aquelas que envolvem a combinação dos pontos fracos com as ameaças. análise interna análise externa pontos fortes oportunidades pontos fracos ameaças 27 Estratégias que combinam pontos fortes com oportunidades Estratégias que combinam pontos fracos com ameaças Estratégias que combinam pontos fortes com ameaças Estratégias que combinam pontos fracos com oportunidades “Poucas empresas brasileiras têm uma cultura corporativa tão forte quanto a fabricante de cosméticos Natura. Em 44 anos de história, a empresa se dedicou a construir uma imagem de respeito ao meio ambiente, aos fornecedores e aos funcionários. [...] Mas, nos últimos anos, o modelo que deu tão certo por tanto tempo começou a apresentar suas primeiras rachaduras. A empresa passou a flertar, timidamente, com mudanças em sua estratégia. Pois, agora, os controladores da Natura decidiram que a fórmula que trouxe a empresa até aqui terá de mudar. Discretamente — bem a seu estilo, portanto —, está em curso a maior transformação da história da Natura. [...] O principal pilar dessa nova fase é a internet. Há nove anos, a Natura oferece seus produtos pela rede, numa loja em parceria com o Submarino. Mas a iniciativa nunca foi prioridade para a companhia — os clientes não recebem na loja o mesmo desconto oferecido pelos consultores (de até 30%). Com isso, as vendas on-line são irrisórias: nem sequer aparecem no balanço da empresa. Agora, a Natura quer transformar a internet em um canal de vendas relevante.” (Disponível em: <www.exame.com>). “À primeira vista, fica difícil encontrar alguma coisa em comum entre uma empresa de tecnologia financeira e uma fabricante de papel e celulose. Mas se olharmos bem, no detalhe, Cielo e Suzano têm lá suas semelhanças. Ambas são representantes de um grupo diminuto: setores nos quais o Brasil é uma potência mundial. Ambas buscam na tecnologia a forma de se diferenciar dos concorrentes. E ambas estão crescendo na crise. Mas por MÓDULO II – VANTAGEM COMPETITIVA NO AMBIENTE EXTERNO 30 razões distintas. Uma, valendo-se do câmbio e de uma profunda reestruturação, que pode torná-la uma das mais produtivas do seu setor. É a Suzano. Outra, expandindo sua atuação por meio de investimentos pesados em Big Data, aquisições de startups e aposta em novos serviços. Esta é a Cielo.” (Disponível em: <www.epocanegocios.globo.com>). A estratégia empresarial é a adequação — em inglês fit, ou encaixe — entre a organização e o ambiente de negócios no qual a organização se encontra. Como vimos na unidade 1.6 — a caixa de ferramentas do módulo 1 — a análise do ambiente de uma empresa deve englobar tanto a análise do seu ambiente interno quanto a análise do seu ambiente externo. Neste módulo, vamos abordar a análise do ambiente externo e, no módulo 3, a análise do ambiente interno. O ambiente externo das organizações geralmente é dividido, para melhor compreensão das variáveis ambientais, em ambiente genérico e ambiente competitivo. Enquanto no ambiente genérico são analisadas todas as forças de ação indireta, que influenciam todas as organizações; no ambiente competitivo, o foco recai sobre o ramo de atividade da organização e as variáveis relacionadas diretamente ao negócio da empresa. No exemplo da Natura, a internet pode ser considerada uma variável do ambiente genérico. Os clientes, que para a Natura são as consultoras, podem ser considerados um exemplo de uma variável do ambiente competitivo. Na figura a seguir, as variáveis do ambiente genérico estão em azul escuro, enquanto as do ambiente competitivo, em azul mais claro. Figura 4 – Ambiente externo: ambiente genérico e ambiente competitivo Adriano M. j 31 Ambiente genérico O ambiente genérico é composto das variáveis ou dimensões que influenciam e impactam todos os ramos e as empresas de um determinado ambiente. Em função das características do ramo, uma variável pode influenciar em maior ou menor grau a sua dinâmica competitiva. Por exemplo, uma recessão econômica impacta todos os ramos, porém o ramo de alimentação básica sofre menos impactos do que o ramo de entretenimento. Variáveis ou dimensões políticas A análise da dimensão política busca compreender tanto o comportamento político, ou seja, aquilo que governantes fazem e como se posicionam, quanto o contexto institucional. É importante entender se o sistema político cria e mantém instituições favoráveis às organizações que atuam no ambiente. Por exemplo, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), que atualmente é uma entidade privada sem fins lucrativos, tem origem no Centro Brasileiro de Apoio à Pequena e Média Empresa (Cebrae), uma entidade vinculada ao Governo Federal. Há países onde o papel do Estado é fundamental para os negócios. Entre os emergentes atuais, China e Índia são bons exemplos de pesada presença estatal na economia. Já, na Suíça, a importância da política sobre a economia é bem menor. Pode-se dizer que nem se cogita o papel do governo como elemento que possa ter importância para os negócios. A influência que a análise política pode assumir dependerá muito do grau de intervenção do governo e da presença do Estado na economia, seja regulamentando, seja atuando nela diretamente como investidor, empreendedor, etc. Algumas variáveis políticas que afetam a estratégia da empresa são: � filosofia de regulamentação; � relações entre os diferentes níveis de governo (federal, estadual, municipal, distrital, etc.); � diretrizes de atuação do Estado na economia; � políticas públicas de incentivo a setoresespecíficos e � políticas e filosofias educacionais. Variáveis ou dimensões econômicas No Brasil, a análise das variáveis econômicas é o aspecto mais frequentemente analisado e lembrado. As perspectivas de crescimento, estagnação ou recessão, inflação, taxas de juros, etc. influenciam as decisões de investimento e desinvestimento e impactam a estratégia da organização. Adriano M. j 32 Na análise econômica, alguns indicadores que devem ser observados na análise do ambiente externo são: � taxas de crescimento; � taxas de juros; � balança comercial; � orçamento; � taxa de poupança; � Produto Interno Bruto (PIB) e � taxas de investimento. É conveniente lembrar que o administrador ou empresário deve olhar para a conjuntura econômica buscando compreender em que medida esta afeta o seu ramo de atividade e a sua empresa. Variáveis ou dimensões legais Nas sociedades modernas, as relações sociais são formalmente reguladas por documentos escritos sob a forma de leis, decretos, portarias, instruções normativas, etc. Ao analisar o contexto legal, é necessário considerar tanto o sistema legal quanto a administração da justiça. Há países em que a administração da justiça ou, mais precisamente, a aplicação da lei, é feita de maneira mais eficaz do que em outros. No nosso País, todos concordam que a aplicação da lei esbarra em dificuldades do Poder Executivo e também na ineficiência do Poder Judiciário. Em uma pesquisa realizada sobre a eficiência do Poder Judiciário pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em 2010, a avaliação dos brasileiros foi péssima. Em uma escala de zero a 10, a avaliação da Justiça atingiu nota 4,55 (IPEA, 2011, p. 3). Uma vez que a empresa é uma pessoa jurídica, ela é obrigada a ser constituída na forma da lei e a ela submetida. Decisões estratégicas que podem levar à abertura e ao fechamento de empresas, a fusões e aquisições, deverão sempre ser formalizadas por meio da produção de contratos e registros em instâncias públicas. Se olharmos o Brasil no momento atual, veremos que pairam algumas dúvidas que levam à cautela de investidores por causa de um contexto legal que não é percebido pela comunidade de negócios como atendendo aos melhores interesses das empresas. Tomemos o caso das agências reguladoras e do seu papel no atual Governo Federal, para podermos exemplificar o que está aqui sendo mencionado. No caso da eletricidade, as mudanças recentes na legislação parecem não ter contribuído para atrair investimentos para um setor vital e que pode levar à repetição de riscos de abastecimento, como já tivemos em um passado não muito distante. 33 As principais variáveis legais que afetam a estratégia da empresa são: � leis antitruste; � leis fiscais; � leis trabalhistas e � leis contratuais. Variáveis ou dimensões sociais e culturais As sociedades são diferentes entre si. Diferem na maneira como são estruturadas, no comportamento das diversas classes sociais, na maneira como poder, status e riqueza se distribuem, e em como cada sociedade lida com essas realidades. Cada sociedade lida com a realidade dos negócios de uma determinada forma. Algumas sociedades são reconhecidamente mais empreendedoras do que outras. É mais fácil encontrar pessoas com inclinação para negócios e treinadas para o trabalho administrativo em algumas sociedades do que em outras. Para o administrador que contemple operações em diversas culturas, é fundamental que esteja atento a essas diferenças. Na verdade, o que é bom, conveniente e eficaz em uma sociedade não o é necessariamente em outras. Além disso, a história dos negócios está repleta de tentativas de transferir produtos, serviços, procedimentos e comportamentos gerenciais de uma cultura para outra, com resultados que podem ser negativos. Nenhuma empresa deve, por meio da sua ação, agredir ou desrespeitar uma cultura. É conveniente adequar-se a ela. Nada pode ser mais fatal a uma empresa do que perder a confiança e a boa vontade da sociedade em que está inserida. As principais tendências que devem ser observadas no sistema sociocultural são: � hábitos de consumo; � diversidade da força de trabalho; � qualidade de vida; � questões geracionais; � questões ambientais; � preferências por carreira e � preferências do mercado. Dimensão tecnológica A dimensão tecnológica está relacionada às tecnologias disponíveis no mercado — as tecnologias às quais as organizações que atuam em um determinado ramo podem acessar. A tecnologia é um fator de aumento de produtividade, de inovação em produtos e serviços, pode decidir sobre vantagem competitiva e, até mesmo, sobre a sobrevivência de uma empresa. Assim, o ambiente, nos seus aspectos tecnológicos, não pode deixar de ser cuidadosamente considerado pelo gestor estratégico. 34 Ao pensar a questão da tecnologia, é importante considerarmos a rapidez das mudanças tecnológicas. O infográfico abaixo ilustra bem essa questão, ao analisar o que acontece na internet em 60 segundos nos anos de 2014, 2015 e 2016. Figura 5 – Velocidade da internet Fonte: adaptado de Smart Insights. Disponível em: < https://www.smartinsights.com/wp-content/uploads/2016/08/What- happens-online-in-60-seconds.png >. Acesso em: jul. 2018. Dimensão global O mundo hoje é mais integrado, interdependente e complexo, e as mudanças nas dimensões tecnológicas alavancaram muito a globalização. Porém, para os negócios, mundo global significa um mundo em que as barreiras que, historicamente, dividiram e separaram a humanidade, deixem de existir. A globalização no mundo organizacional propõe o livre trânsito de capitais, mercadorias, mão de obra e tecnologias, bem como a abertura e a integração de mercados. Realizá-la não é uma tarefa fácil. Tomemos casos como o da União Europeia (EU). Para chegar onde estão hoje, os países da Europa Ocidental deram os primeiros passos há quase 50 anos. A UE é apresentada como um processo longo de integração regional que levou tempo para consolidar-se. Porém, os impactos do plebiscito que aprovou a saída da Grã-Bretanha — Brexit — da UE sinalizam que o processo de integração sofreu um forte abalo. Outro exemplo que mostra dificuldades não superadas, e longe está de poder ser apresentado como caso de sucesso, foi a tentativa de criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). A proposta foi feita, há quase 20 anos, pelo presidente George Bush (pai) e acabou atolada em tantas dificuldades que o projeto acabou sendo abandonado. Atuar em um mundo que se globaliza, ou que tende à globalização, cria para o gestor uma realidade bem mais complexa. Adriano M. j 35 Dimensão ambiental A questão ambiental tem-se tornado cada vez mais presente nas decisões estratégicas das empresas. O recente acordo de Paris (2015), assinado inicialmente por 195 países, busca limitar o aumento do aquecimento global em 1,5°C em relação à média pré-industrial, até 2100. Outro movimento global considerando a questão da sustentabilidade e da economia verde está relacionado aos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). Várias grandes empresas já se mobilizaram para alinhar as suas estratégias aos ODS — em uma pesquisa da PwC,2 71% das empresas entrevistadas afirmaram que já estão pensando como vão alinhar-se com os ODS, e 41% afirmaram que vão incorporar os ODS à estratégia nos próximos cinco anos. O Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (WBCSD) é uma associação mundial de cerca de 200 empresas com o único objetivo de endereçar os esforços relacionados aos SDGs. Empresas como Unilever, Santander, Toshiba, Infosys, JPMorgan Chase, Royal Dutch Shell, entre outras, fazem parte do WBCSD. Por exemplo, uma ação divulgada pelo WBCSD está relacionada à redução do lixo dos oceanos (SDG 14), uma vez que 8 milhõesde toneladas de plástico são jogados anualmente nos oceanos. Temas como reciclagem, gases de efeito estufa, carbono zero, economia circular, eficiência no uso de recursos naturais e redução de desigualdades estão sendo incorporados aos processos de planejamento estratégico. Análise de ramo: industry analysis Conforme mencionado no módulo 1, Porter e outros autores da década de 1980, oriundos da economia, propuseram o Modelo de Organização Industrial, que propunha estudar como um determinado ramo se comporta e, a partir da dinâmica desse ramo, formular a estratégia da organização. Cabe observar que a tradução mais precisa da palavra industry é ramo. Além disso, para aumentar a confusão, no dia a dia, ramo é muitas vezes chamado de setor. Modelo de organização industrial Na análise do ambiente específico, temos, em sequência, o mercado como um todo, os setores e o ramo. O mercado, cujo resultado é medido pelo PIB, é a somatória de todos os bens e serviços produzidos por um sistema econômico. No Brasil, predomina o setor terciário — serviços correspondem a 71% do PIB brasileiro. 2 PwC. Make it your business: engaging with the sustainable development goals. Disponível em: <https://www.pwc.com/gx/ en/sustainability/SDG/SDG%20Research_FINAL.pdf>. Acesso em: 7 ago. 2018. 36 Em seguida, temos os setores da economia: � Primário — relacionado à produção de matérias-primas. É composto de agricultura, pecuária e extrativismo (vegetal, animal e mineral). � Secundário — relacionado ao sistema industrial, processa os produtos do setor primário. É composto de produção de máquinas e equipamentos, bens de consumo, construção civil, geração de energia e distribuição dos produtos em forma de atacado. � Terciário — relacionado à prestação de serviços em geral. É composto de comércio varejista, educação, transporte, etc. Gráfico 1 – Participação dos setores no PIB (em %) – 1947 a 2015 O ramo, que, em inglês, designa-se por industry e muitas vezes é chamado de indústria ou setor, é uma classificação razoavelmente padronizada em quase todos os países do mundo, graças aos esforços da Organização das Nações Unidas (ONU) e dos seus diversos órgãos. A Classificação Nacional de Atividades Econômicas (Cnae) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) se baseia nas recomendações da ONU. Um exemplo da classificação da Cnae é o ramo de educação, que é dividido nos seguintes grupos: � educação infantil e ensino fundamental; � ensino médio; � educação superior; � educação profissional de nível técnico e tecnológico; � atividades de apoio à educação e � outras atividades de ensino. 37 Ao abrir o grupo educação superior, têm-se três classes: � educação superior — graduação; � educação superior — graduação e pós-graduação e � educação superior — pós-graduação e extensão. A Cnae é muito importante para se entender o peso econômico de um determinado ramo, porém, para a análise estratégia, é necessário entender a dinâmica da divisão dos grupos e, em alguns negócios, analisar mais de um ramo. Como analisar um ramo? A análise do ramo deve adotar algumas variáveis, sintetizadas no quadro a seguir e explicadas nas próximas páginas. Quadro 4 – Análise do ramo variável elementos exemplo na imprensa tamanho � faturamento � posição no PIB � número de empregados � etc. “Em junho de 2015, havia 136.929 trabalhadores na indústria automotiva.” “O setor atacadista/distribuidor, que abastece o autosserviço com até quatro check-outs (saídas de caixas), além de mercearias, bares e padarias, registrou 11% de crescimento real em 2009.” forma de organização � monopólio � duopólio � oligopólio � ramos fragmentados “A intervenção do BNDES no setor frigorífico formou um oligopólio no País que exige vigilância redobrada no que se refere à concorrência, avalia o professor John Wilkinson, da UFRRJ. Apesar disso, o acadêmico defende a concentração e diz que a criação das chamadas ‘campeãs nacionais’ trouxe benefícios à cadeia produtiva, transformando empresas em multinacionais e garantindo a qualidade da carne brasileira.” 38 variável elementos exemplo na imprensa características do ramo � principais empresas � produtos e serviços � tecnologias utilizadas “Ipiranga, distribuidora de combustíveis controlada pelo grupo Ultrapar, anunciou na tarde deste domingo que assinou contrato de compra do controle total da concorrente Alesat Combustíveis. [...] A Ale é a uma distribuidora de combustíveis com 20 anos de atuação, resultado da união da Ale Combustíveis com a Satélite Distribuidora de Petróleo. Distribui combustíveis no Brasil por meio de uma rede de aproximadamente 2 mil postos e 260 lojas de conveniência, tendo 10 bases logísticas.” cadeia produtiva � fornecedores � distribuidores � clientes � consumidores “A Agropalma responde por 75% da produção brasileira de óleo de dendê, que vende para as indústrias alimentícia, cosmética e química. O óleo de palma, como também é conhecido, tem as mais variadas aplicações: é base de hidratantes e óleos corporais, utilizado no processo de fritura de batata e na fabricação de massa de biscoitos. Cerca de 15% dos volumes produzidos nas cinco unidades de extração no Pará são exportados para países europeus e para os Estados Unidos.” barreiras de entrada e saída do ramo � restrições legais � escala � certificações � investimento “Há tempos o setor automotivo anuncia a entrada na era do carro elétrico mas, pelo menos no Brasil, o avanço da tecnologia ainda é lento. [...] Eude Oliveira, especialista em eletrificação veicular, afirma que uma das barreiras aos modelos está na homologação. ‘Que tipo de testes devemos utilizar? Não há normas definidas para estes veículos’, aponta.” 39 Tamanho Pode ser avaliado em termos de faturamento, posição que ocupa no PIB, número de empregados, volume de ativos controlado, etc. Há medidas de tamanho que podem ser específicas de ramos. O varejo fala em número de check-outs (caixas), bancos falam em tamanho da rede física, número de contas ou volume de depósitos ou aplicações. Forma de organização Entender como um ramo se organiza é fundamental para que possamos compreender como ele atua e o comportamento das diversas empresas no interior de um ramo. Monopólio — Um ramo pode organizar-se em forma de monopólio, quando apenas uma empresa está atuando no ramo. É o caso de algumas empresas que operam serviços de utilidade pública, como gás canalizado, eletricidade e, até pouco tempo, no nosso País, a Petrobras, que detinha o monopólio no negócio petrolífero. Duopólio — Pode ainda ser um duopólio quando apenas duas empresas disputam o mercado ou a maior parte dele. O duopólio mais conhecido mundialmente é a disputa entre a Pepsi e a Coca-Cola no mercado das colas. Outro duopólio famoso é a disputa entre a Apple e a Microsoft, e um duopólio emergente é a disputa entre a Apple e o Google. Oligopólio — Temos ainda o oligopólio, que é a forma mais comum de organização atualmente. Se olharmos a maioria dos ramos, constataremos que se apresentam como oligopolizados, ou seja, há a competição entre um pequeno número de grandes empresas. Dessa forma, a indústria de cimento, os bancos de varejo, as fábricas de automóveis, as fábricas de bebidas, etc. organizam-se sob a forma de oligopólios. Ramos fragmentados — Temos, finalmente, os ramos que tendem ao que os economistas chamam de concorrência perfeita, que é um grande número de pequenas empresas. A esse tipo de organização chamamos de ramos fragmentados. Muitas atividades estão organizadas dessa maneira, especialmente, nos ramos de serviços. Restaurantes, padarias (mais de 60.000 no Brasil), lavanderias,o pequeno varejo, congregando um grande número de lojas, confecções, etc. são fragmentadas. Características do ramo A análise das estratégias das principais empresas de um ramo é de grande importância quando há concentração, ou seja, grandes empresas, ou uma grande empresa, têm um papel predominante no ramo. Isso tende a acontecer quando os ramos se organizam de forma oligopolizada e, mais especialmente, em forma de monopólio. Seria impossível proceder a uma análise do ramo de supermercados no Brasil hoje sem levar em conta a atuação do Carrefour, do Pão de Açúcar e do Walmart. Igualmente, não poderíamos 40 saber o que acontece no ramo de bancos se não se considerasse a atuação de bancos como o Banco do Brasil, o Bradesco, o Itaú e o Santander. O entendimento de um ramo e a sua análise incluem, igualmente, o conhecimento das tecnologias usadas pelo ramo. Um ramo pode usar diversas tecnologias para operar, produzir, prestar serviços e também para inovar e desenvolver novos produtos e serviços. Por exemplo, no ramo supermercadista, a tecnologia da informação permitiu, na última década, maior eficiência na gestão de estoques e gestão logística. O Walmart, um dos maiores players desse ramo, gerencia todas as suas lojas, no mundo todo, a partir da sua matriz, em Bentonville, Arkansas. Investindo desde 1977 em sistemas integrados de gestão, o Walmart é considerado uma empresa referência no uso da tecnologia para apoiar a gestão. Cadeia produtiva do ramo Um ramo se relaciona com outros ramos, seja por meio da aquisição de insumos, equipamentos, matérias-primas, produtos acabados, etc., seja pela venda e distribuição dos produtos e serviços. Algumas empresas integram várias atividades nas suas operações, enquanto outras atuam focadas na atividade principal do ramo. Figura 6 – Cadeia produtiva do ramo Por exemplo, no setor agropecuário, no ramo pecuarista, a cadeia produtiva envolve as seguintes atividades: cria, recria, engorda e abate. Existem empresas que só realizam a engorda, enquanto outras atuam na engorda e no abate do gado. 41 Outro exemplo é a cadeia do ramo farmacêutico (indústria farmacêutica), ilustrada na figura a seguir. Figura 7 – Cadeia de suprimentos farmacêutica Fonte: ABDI (2013). Barreiras de entrada e saída do ramo A entrada em um ramo pode ter barreiras maiores ou menores, de diferentes tipos. Quando o montante a ser investido para entrar no ramo é muito alto, diz-se que há barreiras de entrada elevadas. O ramo de celulose pode ser visto como tendo altas barreiras sob a forma de necessidades de investimento. Outro exemplo seria o de um banco de varejo ou de uma grande rede de varejo. Pode haver barreiras tecnológicas, que se tornam especialmente altas quando a tecnologia necessária desfruta de proteção sob a forma de patentes ou de direitos autorais. Ou pode haver ainda barreiras de natureza legal à entrada em um determinado ramo. Pode haver também barreiras de natureza alfandegária, inviabilizando o ingresso em determinados mercados. Essas barreiras são destinadas a proteger empresas de determinados países ou regiões. 42 Quando as barreiras são elevadas, o ramo tende a permanecer relativamente concentrado, sob a forma de um oligopólio. Quando as barreiras baixam, a tendência é a fragmentação, desde que o ramo se mantenha atraente. A redução das barreiras fará com que outras empresas procurem entrar no ramo. Barreiras de saída do ramo estão relacionadas às dificuldades de se deixar um ramo. Quanto mais elevadas as barreiras de saída, dificultando o abandono, maior será a competição entre as empresas do ramo. Tomemos o caso de uma empresa automobilística e a comparemos com uma administradora de cartões de crédito. Estamos diante de duas situações opostas. Fica difícil encerrar uma operação de produção de veículos. Há uma pesada inércia sob a forma de compromissos com fornecedores, cadeia de revendedores autorizados, firmas e bancos de financiamento, e, no limite, com o mercado em termos de serviços de assistência técnica — after market. O mesmo não aconteceria com a administradora de cartões de crédito. Bastaria comunicar aos portadores de cartões e às empresas associadas, e nomear-se uma equipe temporária para proceder à liquidação. Não há investimentos em ativos, a não ser um mínimo, e a flexibilidade seria muito grande. As barreiras de saída elevadas tornam a competição muito acirrada entre as empresas e também fazem com que as empresas tendam a permanecer no ramo até o limite da sua rentabilidade. 43 Porter e o Modelo das Cinco Forças O modelo das cinco forças foi desenvolvido nos anos 1980 por Michael Porter e constitui, juntamente com o Swot, um dos mais conhecidos para a análise de ramo, incorporando também elementos de análise do ambiente externo de negócios. O objetivo do modelo é explicar a dinâmica da competição no ramo, a partir da análise das forças que influenciam o ramo. Figura 8 – Modelo das cinco forças de Porter Nessa análise, é importante compreender cinco forças: � As empresas que estão competindo por participação no mercado. � Os entrantes potenciais que são as empresas que não estão no ramo, mas, se nele entrarem, poderão afetar a sua dinâmica e as relações entre os players. Novos entrantes impactam em maior ou menor grau a dinâmica do ramo. Em ramos concentrados, podem alterar drasticamente a competição, enquanto em ramos fragmentados uma nova empresa pode ser irrelevante. Por exemplo, o ramo farmacêutico é bastante fragmentado — são mais de 350 empresas, controladas por 45 grandes laboratórios, um novo laboratório não afeta tanto a competição como a entrada da Azul, em 2008, no ramo de transporte aéreo até então dominado pelo duopólio Tam e Gol. Em 2018, a Azul comemorou os seus 1o anos com um terço do mercado de transporte aéreo de passageiros. Adriano M. j 44 � Influência e poder dos fornecedores em relação às empresas do setor. Se controlar insumos raros e de difícil substituição, por exemplo, o microprocessador da Intel no ramo de computadores, o fornecedor (Intel) se torna peça estrategicamente importante. Se o insumo não for raro ou se existirem vários fornecedores no mercado, a influência do fornecedor é baixa. � Influência e poder de consumidores/clientes em relação às empresas do ramo, sinalizado pelo poder relativo de cada parte. Em ramos organizados como monopólio ou duopólio, o poder do cliente/consumidor é muito pequeno. Geralmente, nesses ramos agências reguladoras podem interferir para evitar abusos. Por exemplo, serviços de transportes urbanos. Em ramos fragmentados ou mercados perfeitos, ou seja, com um grande número de competidores, o cliente/consumidor terá várias opções, ou seja, terá poder de barganha. Nesses casos, as empresas do setor desenvolvem esforços de segmentação de mercado, com o objetivo de lidar, de maneira adequada, com o universo dos clientes/consumidores. � Ameaça de produtos/serviços substitutos, ou seja, da entrada em um ramo de produtos ou serviços que não vêm daquele ramo, ou seja, não são produzidos pela concorrência interna ao próprio ramo, mas vêm de empresas situadas em outros. Um exemplo interessante de ameaça de produtos substituto é a entrada da Netflix no ramo de rádio e televisão. A sexta força: os governos Em mercados em que se observa uma forte influência do governo, é possível inserir uma sexta força na análise da dinâmica competitiva do setor. No Brasil, a análise dessa força é fundamental para melhor entender os desafios do ramo, pois o governo atua, em maior ou menor grau, em todos os setores da economia. Estratégias genéricas: custo, diferenciação e foco Retomando as propostas de Porter (1979, 1984, 1989), os gestores precisam entender três conceitos básicos para realizar a análise
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