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Artigo - Tribunal multiportas na justiça brasieira - Jeferson Isidoro Mafra

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1 
 
 
 
TRIBUNAL MULTIPORTAS NA JUSTIÇA BRASILEIRA1 
Jeferson Isidoro Mafra2 
Resumo 
O presente texto tem como tema de pesquisa a teoria do tribunal multiportas. Identificar o 
objetivo desta teoria e relacioná-la com o sistema de administração da justiça brasileira 
envolvem os questionamentos da pesquisa. As hipóteses que se apresentam e que respondem 
os problemas apontam que a teoria do tribunal multiportas tem como escopo criar um sistema 
onde os vários métodos de solução de conflitos sejam disponibilizados, permitindo que os 
interessados, com auxílio de profissionais capacitados, selecionem e utilizem o método mais 
adequado às peculiaridades do seu conflito. De outro lado, o sistema de administração da justiça 
brasileira disponibiliza mecanismos jurídicos à utilização da teoria do tribunal multiportas, 
porquanto integrante de políticas públicas de tratamento adequado dos conflitos de interesses, 
voltadas à concretização do acesso à justiça. O conflito pode ser examinado de várias formas, 
da mesma maneira que vários são os mecanismos destinados à sua solução. A decisão 
imprimida por um juiz não é única forma à finalização de uma disputa. Pautando-se nas 
peculiaridades do conflito, é possível identificar qual o método mais adequado ao seu desfecho. 
Neste atual momento histórico, especialmente a partir da concretude do amplo acesso à justiça, 
como garantia constitucional, a centralização da solução pelo Poder Judiciário é um paradigma 
a ser modificado. Desde 2010, com a edição da Resolução n. 125/2010 pelo Conselho Nacional 
de Justiça, a ampliação do uso dos métodos consensuais encontra-se entre as políticas públicas 
de tratamento dos conflitos de interesses. E o estímulo à consensualidade na solução das 
controvérsias foi consagrado como um dos pilares do Código de Processo Civil de 2015. Estes 
atos normativos, entre outros editados a partir da Constituição Federal de 1998, permitem 
afirmar que o sistema de administração da justiça brasileira busca inspiração no modelo do 
tribunal multiportas. 
 
Palavras chaves: Tribunal multiportas. Métodos adequados de solução de conflitos. Acesso à 
justiça. 
 
 
1 Texto desenvolvido como atividade integrante da disciplina “Formas Adequadas de Resolução de Conflitos e 
Acesso à Justiça”, do Curso de Mestrado Profissional em Direito, na área de concentração Direito e Acesso à 
Justiça, da UFSC. 
2 Mestrando no Curso de Mestrado Profissional em Direito, na área de concentração Direito e Acesso à Justiça, 
da UFSC. Professor do Curso de Direito da FURB. Juiz de Direito do TJSC. 
2 
 
 
 
Abstract 
 
The present paper has as a research theme the theory of multiport courts. Identifying the purpose 
of this theory and relating it to the Brazilian justice system involves the research questions. The 
hypotheses that present themselves and that respond to the problems point out that the theory 
of the multiport courts has as its scope to create a system where the various methods of conflict 
resolution are made available, allowing the interested parties, with the help of trained 
professionals, to select and use the method more appropriate to the peculiarities of their conflict. 
On the other hand, the Brazilian judicial administration system provides legal mechanisms for 
the use of multiport court theory, as it is part of public policies for the adequate treatment of 
conflicts of interest, aimed at achieving access to justice. Conflict can be examined in a number 
of ways, just as there are several mechanisms for its solution. The decision issued by a judge is 
not the only way to finalize a dispute. Drawing on the peculiarities of the conflict, it is possible 
to identify which method is most appropriate to its outcome. In this current historical moment, 
especially from the concreteness of broad access to justice, as a constitutional guarantee, the 
centralization of the solution by the Judiciary is a paradigm to be modified. Since 2010, with 
the edition of Resolution n. 125/2010 by the National Council of Justice, the expansion of the 
use of consensual methods is among the public policies for the treatment of conflicts of interest. 
And the stimulus to consensuality in the solution of the controversies was established as one of 
the pillars of the Code of Civil Procedure of 2015. These normative acts, among others edited 
from the Federal Constitution of 1998, allow to affirm that the system of administration of the 
Brazilian justice seeks inspiration in the multiport court model. 
 
Keywords: Multiport courts. Appropriate methods of conflict resolution. Access to justice. 
 
Sumário: 1. Introdução. 2. Tribunal multiportas: a teoria de Frank Sander. 3. Tribunal 
multiportas no sistema de administração da justiça brasileira. 4. Considerações finais. 
1. Introdução 
A solução exclusivamente técnica dos conflitos sociais, via sentença judicial, 
demonstrou não atingir os anseios da sociedade, pois a crise do processo e, por conseguinte, a 
crise na forma de sua administração são reconhecidas por todos que dele participam. Há, como 
afirma José Renato Nalini, uma disfuncionalidade da Justiça.3 Os últimos dados estatísticos do 
 
3 NALINI, José Renato. Desafios do processo contemporâneo. In: LAMY, Eduardo (Org.). Processo Civil em 
3 
 
 
 
sistema de justiça, divulgados pelo Conselho Nacional de Justiça no relatório Justiça em 
Números de 2018, apontam para o estado de crise, diante do expressivo número de processos 
que tramitam no Poder Judiciário e que aguardam solução adequada e tempestiva. Conforme 
consta no relatório, “o estoque manteve-se praticamente constante, e chegou ao final do ano de 
2017 com 80,1 milhões de processos em tramitação aguardando alguma solução definitiva”. 4 
Este cenário de extrema litigiosidade e da perda da eficácia do sistema de justiça 
tradicional impôs, nas últimas décadas, principalmente a partir da concretização do acesso à 
justiça na Constituição Federal de 1988, mudanças na forma de elaborar, aplicar e interpretar o 
processo civil brasileiro, culminando com a constitucionalização dos Juizados Especiais Cíveis, 
reformas legislativas substanciais que estimulam métodos consensuais e a promulgação de um 
novo Código de Processo Civil em 2015. A postura clássica de administrar os conflitos somente 
via processo está superada pelas novas vertentes e exige dos profissionais uma mudança de 
comportamento, um novo paradigma técnico e ético. 
Entre as novas premissas contemporâneas da administração da justiça encontra-se o 
sistema multiportas, inserido na política pública de acesso à justiça pelo Conselho Nacional de 
Justiça, através da Resolução 125, de 29/11/2010, e consolidado no Código de Processo Civil 
de 2015. Por esse sistema, os interessados podem (empoderamento no tratamento do conflito) 
optar pelo meio mais adequado, preferencialmente não adversarial, à solução do conflito que 
lhes toca. De outro lado, a partir do sistema multiportas, os profissionais do direito têm o dever 
funcional e ético de estimular a autocomposição, inclusive antes da judicialização do conflito, 
nos termos do art. 3º, §3º, do Código de Processo Civil. 
Não obstante a implantação do sistema multiportas e da ampla disciplina normativa 
dos meios não adversariais de resolução de conflitos, como mediação, arbitragem e conciliação, 
os profissionais do direito nem sempre discutem e abordam a solução via sistema conciliativo, 
pois a cultura que predomina é a da técnica, do litígio, da disputa adversarial e da busca pela 
vitória: a cultura do processo. 
Diante deste quadro, ganha importância a análise do funcionamento do sistema 
multiportas e sua relação com a administração da justiça brasileira, visando ampliar a sua 
utilização. 
 
2. O tribunal multiportas: a teoria de Frank SanderMovimento. Diretrizes para o Novo CPC. Florianópolis: Conceito Editorial, 2013, p. 93. 
4 Justiça em números 2018: ano-base 2017/Conselho Nacional de Justiça - Brasília: CNJ, 2018, p. 73. 
4 
 
 
 
 
O sistema multiportas tem como fundamento a teoria desenvolvida pelo professor 
Frank Sander. Em conferência realizada em 1976, a Pound Conference, e a convite do então 
presidente da Suprema Corte dos Estados Unidos, Warren Burger, o professor de Direito de 
Harvard questionou a atuação do Poder Judiciário, defendendo a necessidade do uso consciente 
de outras formas de solução de conflitos. A conferência foi divulgada no periódico da American 
Bar Association com o título “multi-door courthouse”, surgindo, a partir de então, a 
denominação tribunal multiportas. 
A teoria proposta por Sander parte de duas constatações: (i) o Poder Judiciário não 
atende de forma adequada todos os conflitos e (ii) os conflitos não devem ser solucionados, 
necessariamente, pelo Poder Judiciário. 
Nesta linha, a teoria do sistema multiportas afirma que há diversas formas (portas) para 
solução de conflitos, e a solução via Poder Judiciário não é a única porta, ou seja, não é a única 
solução e muitas vezes não é a melhor. O objetivo é criar um sistema onde os vários métodos 
de solução de conflitos (como negociação, conciliação, mediação, arbitragem e processo) sejam 
disponibilizados, permitindo que os interessados, com auxílio de profissionais capacitados 
(facilitadores do diálogo), selecionem e utilizem o método mais adequado às peculiaridades do 
seu conflito. 
A partir dessas premissas, cria-se um centro de justiça, o tribunal multiportas: 
estruturação de um centro pelo Poder Judiciário ou entidade civil, com ampla atuação de vários 
profissionais, para recebimento dos interessados, triagem de seus casos e encaminhamento para 
o método mais adequado. 
Em um diálogo com a professora Mariana Hernandez Crespo, o professor Frank 
Sander apresentou o seguinte conceito do tribunal multiportas: 
 
Agora, gostaria de dar uma breve explicação sobre o conceito, seja qual for o 
nome dado. A ideia inicial é examinar as diferentes formas de resolução de 
conflitos: mediação, arbitragem, negociação e “med-arb” (combinação de 
mediação e arbitragem). Procurei observar cada um dos diferentes processos, 
para ver se poderíamos encontrar algum tipo de taxonomia para aplicar aos 
conflitos, e que portas seriam adequadas a quais conflitos. Venho trabalhando 
nessa questão desde 1976, porque na verdade o Tribunal Multiportas é uma 
simples ideia, cuja execução não é simples, porque decidir que casos devem 
ir para qual porta não é uma tarefa simples. (ALMEIDA, 2012, p. 32). 
 
Pela teoria, o Poder Judiciário é o local onde a disputa termina, e não inicia. O começo 
da disputa deve passar pela porta selecionada no tribunal multiportas (centro de justiça), de 
5 
 
 
 
acordo com as opções ofertadas e os interesses dos envolvidos. E esta triagem ou seleção do 
método, segundo levantaram Gustavo Santana Nogueira e Suzane de Almeida Pimentel, é 
pautada em alguns critérios: (a) natureza do conflito; (b) natureza da relação entre as partes 
(casual ou duradoura); (c) valor econômico do conflito; (d) custos para solução do conflito; (e) 
estimativa do tempo necessário para solução. 5 
Considerando estes critérios, os profissionais (facilitadores) apontam o método mais 
adequado ao caso, seja consensual ou não, visando obter a sua solução. 
No contexto mundial, vários são os instrumentos e mecanismos para solução de 
conflitos. No direito norte-americano, a utilização e o desenvolvimento de variadas ADR 
(alternative dispute resolution – métodos alternativos de solução de conflitos) é uma constante. 
Já no Brasil, em regra, os métodos considerados “alternativos” são vinculados à conciliação, 
mediação e arbitragem. 
Perônio Calmon classifica os vários mecanismos de resolução de controvérsias em: a) 
mecanismos para a obtenção da heterocomposição (jurisdição estatal, arbitragem, perícia 
arbitral, arbitragem baseball [ou de última oferta – final-offer], arbitragem night baseball, 
arbitragem bounded ou high-low, Court-annexed arbitration, rent a judge); b) mediação em 
conjunto com a arbitragem (mediação/arbitragem, arbitragem/mediação); c) mecanismos para 
a obtenção da autocomposição vinculados à justiça estatal (avaliação neutra de terceiro [early 
neutral evaluation], confidential listener, summary jury trial, neutral fact-finder, expert fact-
finder, joint fact-finder, special master, focused group, conciliação, courtannexed mediation); 
d) mecanismos para obtenção da autocomposição eminentemente privados (arbitragem não-
vinculante, arbitragem incentive, mini-trial, ombudsman, negociação e mediação). 6 
Não há uma hierarquia entre os métodos, já que cada um apresenta vantagens e 
desvantagens, de acordo com o caso a ser examinado. Como cada método tem suas 
especificidades e exige profissional com habilidade própria, a ideia é que cada centro de justiça, 
de acordo como perfil dos profissionais que nele atuam, disponibilize determinados métodos, 
ou seja, as portas que podem ser utilizadas pelos interessados na solução das controvérsias. 
O que se busca com essa teoria, portanto, é identificar que o processo é um entre os 
vários métodos, e não o único e, muito menos, o melhor. Trata-se, pois, de um modelo 
 
5 NOGUEIRA, Gustavo Santana. PIMENTEL, Suzane de Almeida. O sistema de múltiplas portas e o acesso à 
justiça no brasil: perspectivas a partir do novo Código de Processo Civil. Revista de Processo. vol. 276/2018. 
São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, fevereiro de 2018, p. 505 – 522. 
6 CALMON, Petronio. Fundamentos da mediação e da conciliação. 3 ed. Brasília, DF: Gazeta Jurídica, 2015, 
p. 89-102. 
6 
 
 
 
participativo e informal, pelo qual os interessados podem avaliar e explorar as variadas opções 
para maximizar a solução de conflito. 
 
3. Tribunal multiportas no sistema de administração da justiça brasileira. 
 
A amplo acesso à justiça consagrado na Constituição Federal de 1988, em seu art. 5º, 
inc. XXXV, culminou com crescente número de processos na justiça brasileira, conforme 
apontam os números divulgados em 2018 pelo Conselho Nacional de Justiça, no relatório 
Justiça em Números.7 Tal contexto exige o constante aperfeiçoamento dos métodos de solução 
dos conflitos, especialmente aquele administrado e utilizado pelo Estado: o processo. A 
promulgação de um novo Código de Processo de Civil em 2015 sustenta esta premissa. 
Ocorre que o método que mais se destaca, no cenário brasileiro, é o processo, pois o 
paradigma social é a centralização da solução pelo Poder Judiciário. A sociedade reconhece que 
a garantia constitucional de acesso à justiça imprime o dever do Estado de prestar a tutela 
jurisdicional; ela busca do Estado, via processo, a solução dos seus problemas no campo 
jurídico. 
De outro lado, o Estado estrutura sua administração da justiça de forma a outorgar a 
solução, via sentença, aos que lhe pedem. Com o passar dos anos, o número de processos que 
aguardam solução só aumenta, como divulgado anualmente pelo Conselho Nacional de Justiça 
no relatório Justiça em Números, no capítulo “Gestão Judiciária”. A crise, decorrente da 
morosidade da justiça e da falta de efetividade das decisões judiciais, é constantemente 
questionada pelos tribunais e pela doutrina. 8 
Neste contexto, pode-se afirmar que boa parte da sociedade e dos profissionais do 
direito não foi educada à solução consensual, pois a perspectiva da encontrar um resultado 
satisfatório para os seus problemas jurídicos passa, primordial e necessariamente, pelo 
processo. 
O fenômeno da judicialização dos direitos fundamentais, decorrente do amplo acesso 
à justiça, entre outros fatores, conferiu ao Poder Judiciário um status de Poder do Estado, 
permeando entre a sociedadea ideia de um poder único com a capacidade de solucionar as 
mazelas sociais e garantir a efetividade dos direitos outorgados pela Constituição. Contudo, a 
composição de um problema jurídico não é tema que toca exclusivamente ao Poder Judiciário. 
 
7 Justiça em números 2018: ano-base 2017/Conselho Nacional de Justiça - Brasília: CNJ, 2018, p. 74. 
8 CALMON, Petronio. Fundamentos da mediação e conciliação. 3 ed. Brasília, DF: Gazeta Jurídica, 2015, p. 3-8. 
7 
 
 
 
A administração da justiça é função de todos. 
De outro lado, os profissionais, diante das novas e crescentes demandas, foram 
preparados para atuação técnica no Poder Judiciário, cujo foco de aprendizado é a compreensão 
dos fenômenos e conflitos sociais pela dogmática do direito e a atuação no processo, com a 
centralização da solução pelo Poder Judiciário. Ocorre que a interação social conflituosa não é 
acontecimento da vida estudado apenas pela ciência jurídica. Outros campos do conhecimento, 
como a economia, psicologia e saúde, devem ser enfrentados para a solução adequada de um 
conflito. 
Diante deste cenário, o monopólio da justiça pelo Poder Judiciário acarretou um 
sistema burocrático, lento, despreparado e sem condições de atender de forma adequada todos 
os conflitos. Na mesma linha, alguns conflitos sociais sensíveis não encontraram tratamento 
adequado no mecanismo complexo utilizado pelo Poder Judiciário. 
O uso predatório do Poder Judiciário, com demandas frívolas, o comprometimento do 
acesso à justiça pelos litigantes habituais, e a falta de efetividade do processo em determinadas 
demandas são questões discutidas pelos tribunais, profissionais e acadêmicos. 
Tal cenário permite concluir que nem todas as demandas devem ser solucionadas pelo 
Poder Judiciário, da mesma forma que o Poder Judiciário não tem condições de atender todas 
as demandas de forma adequada. Tais constatações, justamente, foram as levantadas por Frank 
Sander ao propor a teoria multiportas. 
Buscando melhoria nos serviços judiciais, o Conselho Nacional de Justiça, órgão 
criado com a Reforma do Poder Judiciário em 2004, através da Emenda Constitucional 45, 
adotou políticas para ampliar e incentivar as práticas autocompositivas. 
 
“Uma nova contextualização do sistema de justiça para aproximar o Poder 
Judiciário da sociedade gerou um modelo no qual o Conselho Nacional de 
Justiça torna-se um órgão de fomento da própria sociedade na medida em que 
estimula o cidadão a mais bem resolver seus conflitos em razão de uma 
realizadora vivência de justiça ocorrida em conciliações e mediações 
desenvolvidas de forma técnica – e não mais intuitiva como antes era prática 
usual.” (GUNTHER, 2013, p. 242). 
 
Assim, reconhecendo a “larga e crescente escala” dos conflitos sociais, que “a 
conciliação e mediação são instrumentos efetivos de pacificação social, solução e prevenção de 
litígios”, e considerando a necessidade de “criação de Juízos de resolução alternativa de 
conflitos”, o Conselho Nacional de Justiça, através da Resolução 125 de 2010, instituiu “a 
Política Judiciária Nacional de tratamento dos conflitos de interesses, tendente a assegurar a 
todos o direito à solução dos conflitos por meios adequados à sua natureza e peculiaridade.” 
8 
 
 
 
(art. 1º). Em 2016, esta Resolução foi alterada e ampliada pela Emenda n. 2. 
As diretrizes desta política apontam para criação de Centros Judiciários (art. 8º) e 
amplo estímulo aos métodos consensuais. Há, inclusive, previsão que incumbe “aos órgãos 
judiciários, antes da solução adjudicada mediante sentença, oferecer outros mecanismos de 
solução de controvérsias” (parágrafo único, art. 1º). 
Conforme apontam José Roberto Neves Amorim, Conselheiro do Conselho Nacional 
de Justiça (2011-2013), “o elemento principal para conduzir a política de tratamento adequado 
de conflitos é o próprio condutor do processo: é ele quem estimula e motiva as partes, dando 
condições para superar eventuais conflitos”. 9 A capacitação dos articuladores dos mecanismos 
para obtenção de autocomposição merece destaque nas diretrizes fixadas pela Resolução 125. 
Para tanto, todos os atores merecem ser dotados de conhecimento acerca dos métodos 
adequados de solução conflitos, iniciando-se pelos bancos acadêmicos. 
Como exposto, o uso dos mecanismos de autocomposição, como conciliação e 
mediação, integra a política pública de tratamento adequado dos conflitos e está consolidado 
em todos os níveis normativos, desde a Constituição Federal (art. 98, I); Lei n. 9.099 de 1995, 
que dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais; Lei n. 9.307 de 1996, que disciplina 
a arbitragem; Lei n. 13.140 de 2015, que regulamenta a mediação; e a Lei n. 13.105 de 2015, 
que institui o Código de Processo Civil. 
A disseminação da cultura da pacificação social é um dos fundamentos na implantação 
da Política Judiciária Nacional do sistema conciliativo. Desde 2006, com o programa 
“Movimento pela Conciliação”, o Conselho Nacional de Justiça desenvolve projetos voltados 
à capacitação e ao estímulo à autocomposição, como as Semanas Nacionais de Conciliação. 
A criação dos Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania é uma realidade 
nacional. Conforme dados divulgados pelo Conselho Nacional de Justiça, em 2017, foram 
instalados 982 centros em todo o país. 10 
O Código de Processo Civil, em seu artigo 165, determina a criação destes centros, 
cabendo aos tribunais o “desenvolvimento de programas destinados a auxiliar, orientar e 
estimular a autocomposição”. Através destes centros são gerenciadas as sessões de conciliação, 
selecionados e capacitados conciliadores. São considerados espaços destinados à ampla 
utilização de dinâmicas voltadas, exclusivamente, à solução consensual dos conflitos. A gestão 
 
9 AMORIM, José Roberto Neves. O Conselho Nacional de Justiça e as políticas públicas em conciliação e 
mediação. In: GUNTHER, Luiz Eduardo (Coordenador). Conciliação: um caminho para paz. Curitiba: Juruá, 
2013, p. 244. 
10 Justiça em números 2018: ano-base 2017/Conselho Nacional de Justiça - Brasília: CNJ, 2018, p. 137. 
9 
 
 
 
destes centros tem como foco o sucesso do sistema conciliativo. 
Como norma fundamental, o Código de Processo Civil fixa o dever ético e funcional 
dos operadores do direito de estimular o uso dos métodos de solução consensual de conflitos, 
inclusive antes do processo judicial (art. 3º, §3º). 
Sobre este dever e a mudança que ele imprime na forma de administrar os mecanismos 
de solução de conflitos, Carlos Eduardo de Vasconcelos ensina: 
 
Os §§2º e 3º consubstanciam o cerne da mudança de paradigma do processo 
civil brasileiro. Os métodos consensuais saíram daquela situação subalterna, 
aviltada, intuitiva, estigmatizada, como eram praticados sob o paradigma 
formalista do CPC anterior, para a condição de instrumentos do princípio de 
promoção da paz, ou da pacificação, tal como lhes reservara, de forma 
implicitamente, a Constituição Federal de 1988. 
Sempre que possível, a solução será consensual. Este é um compromisso da 
cidadania e um dever dos operadores do direito e do Estado. Mas, para isto, 
será necessária uma mudança profunda no senso comum teórico e nas práticas 
dos juristas brasileiros. (VASCONCELOS, 2015, p. 87). 
 
Diante destes preceitos normativos, João Luiz Lessa Neto afirma que “o NCPC adota 
o modelo multiportas de processo civil. Cada demanda deve ser submetida à técnica ou método 
mais adequado para a sua solução e devem ser adotados todos os esforços para que as partes 
cheguem a uma solução consensual do conflito.” 11 
O uso adequado e consciente dos mecanismos consensuais, observadas as 
peculiaridades de cada caso, concretiza o ideal de acesso à justiça, porquanto o Poder Judiciário 
nem sempre conseguirá dar solução adequada para todos os conflitos. 
O professorKazuo Watanabe bem esclarece a relação entre o uso dos meios 
consensuais e a garantia de acesso à justiça: 
 
Pode-se afirmar assim, sem exagero, que os meios consensuais de solução de 
conflitos fazem parte do amplo e substancial conceito de acesso à justiça, 
como critérios mais apropriados do que a sentença, em certas situações, pela 
possibilidade de adequação da solução à peculiaridade do conflito, à sua 
natureza diferenciada, às condições e necessidades especiais das partes 
envolvidas. Trata-se, enfim, de um modo de se alcançar a justiça com maior 
equanimidade e aderência ao caso concreto. (ALMEIDA, 2012, p. 88/89) 
 
Compreender o sistema normativo dos métodos de tratamento adequado dos conflitos 
é uma premissa inerente à técnica profissional atual dos operadores do direito. Trata-se de um 
paradigma contemporâneo indissociável na administração produtiva de todo o sistema de 
 
11 Lessa Neto, João Luiz. O novo CPC adotou o sistema multiportas!!! E agora? Revista de Processo. Vol. 
244. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, junho de 2015. 
10 
 
 
 
justiça. Um paradigma que deve ser observado e aplicado por todos. 
Na clássica obra “Acesso à Justiça”, Mauro Cappelletti e Bryant Garth anunciaram que 
“os juristas precisam, agora, reconhecer que as técnicas processuais servem a funções sociais; 
que as cortes não são a única forma de solução de conflitos a ser considerada.” 12 
Muito há que se evoluir na gestão da política pública imprimida pela Resolução 125, 
mas certo é que ela rompe com o paradigma da cultura do processo e pauta-se, em parte, no 
modelo do tribunal multiportas defendido por Frank Sander, já que prescreve a utilização de 
métodos consensuais em Centros Judiciários, inclusive em sessões pré-processuais, com 
investimento na formação e capacitação dos conciliadores e mediadores, buscando a solução 
adequada dos conflitos. 
 
4. Considerações finais 
A ausência de solução dos conflitos de forma efetiva e em tempo razoável através do 
processo é, lamentavelmente, uma realidade presente no sistema de administração da justiça 
brasileira. De outro lado, a crescente conflituosidade e a complexidade de determinadas 
interações sociais indesejadas apontam que o Poder Judiciário não tem condições de atender 
todos os conflitos. Reconhecer estas limitações é a premissa para aplicação da teoria do tribunal 
multiportas. 
Os métodos consensuais devem ser amplamente utilizados, não só porque integram a 
política pública de tratamento de conflitos implantada pelo Conselho Nacional de Justiça e 
concretizada, entre outros diplomas legais, pelo Código de Processo Civil, mas, principalmente, 
pelos resultados úteis que proporcionam na vida das pessoas, como a efetiva solução do conflito 
em tempo passível de controle e a eliminação do desgaste emocional ocasionado pelo indefinido 
e imprevisível término do processo. 
Atuar de forma consciente no tribunal multiportas é tarefa indispensável do 
profissional do direito, seja por imposição legal ou ética. Compreender o conflito não somente 
pelo aspecto normativo e extrair elementos que possam identificar o método adequado é uma 
mudança de comportamento dos profissionais que atuam na administração da justiça. E não há 
como dissociar a conduta destes profissionais com o resultado produtivo do sistema multiportas. 
Difundir e aplicar as premissas do tribunal multiportas, observando a teoria 
desenvolvida por Frank Sander e os preceitos normativos que a implantaram no nosso sistema 
 
12 CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à justiça. Tradução e Revisão de Ellen Gracie Northfleet. 
Porto Alegre: Fabris, 1988, p. 12. 
 
11 
 
 
 
jurídico, é um caminho para melhor administrar a justiça. 
 
Referências 
 
ALMEIDA, Rafael Alves de (Org.). Tribunal Multiportas: investindo no capital social para 
maximizar o sistema de solução de conflitos no Brasil. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2012. 
 
BRASIL. Código de Processo Civil. Lei 13.105, de 16 de março de 2015. 
 
______. Conselho Nacional de Justiça. Resolução n. 125, de 29 de outubro de 2010. 
 
______. Conselho Nacional de Justiça. Justiça em números 2018: ano-base 2017. Brasília: CNJ, 
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