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DOENÇA RENAL CRÔNICA EM CÃES E GATOS RINS Anatomia Anatomia e fisiologia: o rim é um órgão pareado, localizado no espaço retroperitoneal, envolvido por tecido gorduroso, opostamente aos músculos sublombares e lateral à coluna vertebral. Cada rim é constituído por um polo cranial e outro caudal, com bordas mediais e laterais e superfícies dorsais e ventrais. Na borda medial do rim localiza-se o hilo, o qual se comunica com diversas estruturas, como os ureteres, a artéria renal, a veia renal, os vasos linfáticos e os nervos. Em cães e gatos, o rim é unilobar (ou unipiramidal), composto de um grupo de néfrons e recoberto de uma cápsula fibrosa; o parênquima é formado por uma região medular e outra cortical. Nos pequenos animais, a proporção corticomedular é de aproximadamente 1:2 ou 1:3. A irrigação sanguínea renal se dá pela artéria renal e esta posteriormente se ramifica no parênquima renal em artéria interlobar (a qual irá suprir o lobo renal, a junção corticomedular e a região cortical) e, por fim, em capilares glomerulares. A parede capilar é revestida por endotélio fenestrado para permitir a passagem de água e de outras moléculas de baixo peso molecular. A membrana basal glomerular (MBG) é outra estrutura que oferece resistência à filtração de macromoléculas. O terceiro componente do processo de filtração é a camada epitelial, constituída pelos podócitos. A unidade funcional do rim é o néfron, o qual é composto de glomérulo, túbulo contorcido proximal (TCP), alça de Henle, túbulo contornado distal (TCD) e ducto coletor. Cães e gatos têm cerca de 500.000 e 200.000 néfrons por rim, respectivamente. A urina é formada no interior de cada néfron em três etapas: • Filtração glomerular • Reabsorção tubular • Secreção tubular, reguladas por hormônios de origem renal e não renal. Geralmente, substâncias com peso molecular maior que 70.000 dáltons não atravessam a parede capilar glomerular. Além disso, a carga elétrica da molécula é outro fator determinante para sua passagem. Durante o processo de filtração, células sanguíneas e diversas proteínas plasmáticas são retidas no interior do capilar e prosseguem para a arteríola eferente. Ingestão e excreção urinária Ação de aldosterona, a qual aumenta a reabsorção e a excreção tubular de sódio, sob estímulo do sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA) Pressão osmótica Sistema nervoso simpático (SNS) Prostaglandinas (PG) Peptídio natriurético atrial (PNA) O equilíbrio hídrico é regulado pelos rins, por sua capacidade de concentrar ou diluir a urina, dependente da ingestão de água, da sudorese e da presença ou não de perdas gastrintestinais (êmese e diarreia). Contudo, pode haver hiper-hidratação e desidratação mesmo quando a função renal se encontra normal. Controle do equilíbrio eletrolítico Sódio Em relação ao sódio, cerca de 99% do sódio presente no filtrado glomerular são reabsorvidos pelos túbulos. O equilíbrio do sódio é dado pelos seguintes eventos: *o sódio está implicado na regulação da pressão arterial sistêmica. Potássio O potássio, assim como o sódio, é filtrado no glomérulo e cerca de 60 a 90% deste íon são reabsorvidos no túbulo proximal e, o restante, na alça de Henle. A secreção ocorre nas células do túbulo distal, e a sua difusão é de maneira passiva. Os fatores que aumentam a secreção de potássio no túbulo distal são aldosterona, glicocorticoides, supressão dos níveis de hormônio antidiurético (ADH), catecolaminas e insulina. Os rins, em condições normais, adaptam-se ao aumento da ingestão de potássio. Cálcio O cálcio é controlado, primariamente, pela glândula paratireoide e, por último, pelos rins; assim, os rins estão envolvidos também na manutenção da homeostasia do cálcio. O aumento da reabsorção tubular de cálcio pode ser desencadeado pela ação do paratormônio ou hormônio paratireóideo (PTH), por hipocalcemia, alcalose metabólica e/ou hiperfosfatemia. Entretanto, a reabsorção é menor se houver hipercalcemia, acidose metabólica, depleção de fósforo e hipermagnesemia. Fósforo Os rins desempenham importante papel na regulação do equilíbrio de fósforo, pois constituem a via primária de sua excreção, a qual é resultante da diferença da filtração glomerular e da reabsorção tubular de fósforo. Os fatores que influenciam a excreção de fósforo são anormalidades no equilíbrio acidobásico, no metabolismo de vitamina D, no hormônio do crescimento (GH) e nas alterações do volume corporal. Cloro e Magnésio O cloro, após ser filtrado, é reabsorvido passivamente nos túbulos. Sua concentração plasmática está relacionada com o nível plasmático de bicarbonato. Cerca de 80% do magnésio são filtrados, enquanto 20 a 30% são reabsorvidos pelo túbulo proximal e, principalmente, na porção ascendente da alça de Henle. Além disso, o PTH também pode interferir na absorção de magnésio. Lesão renal existente por pelo menos 3 meses, com ou sem diminuição da taxa de TFG na dependência do estágio. Com redução da TFG em mais de 50% e que seja persistente por pelo menos 3 meses, acompanhada de mecanismos compensatórios, a fim de preservar a função renal. Glomerular (glomerulopatias, amiloidose, imunomediada, doença de Cushing, diabetes mellitus e doenças infecciosas – doença periodontal, imunodeficiência felina, panleucopenia, calicivirose, ehrlichiose, leishmaniose, piometra). Tubular (nefrotoxinas, infecções – virais, como adenovírus tipo 1, bacterianas, como pielonefrite e leptospirose; síndrome de Fanconi, glicosúria renal primária, acidose tubular renal, diabetes insípido nefrogênico, processos inflamatórios e isquêmicos). Intersticial (pielonefrite, cálculo renal, leptospirose). Vascular (diabetes mellitus) Alterações bioquímicas (cistinúria) Doença renal familial Bicarbonato O rim é o principal órgão responsável pela manutenção do equilíbrio acidobásico, pois apresenta capacidade de gerar bicarbonato a fim de equilibrar o pH sanguíneo em caso de acidose metabólica, que é uma alteração frequentemente observada em cães e gatos com doença renal crônica (DRC). Todos os segmentos do néfron contribuem para a formação de íons bicarbonato, os quais são utilizados para a manutenção do equilíbrio acidobásico. Compostos nitrogenados Os compostos nitrogenados não proteicos excretados pelos rins incluem ureia, creatinina, ácido úrico, alantoína e muitas outras substâncias/aminoácidos. A ureia apresenta-se no filtrado glomerular na mesma concentração que no plasma e, ainda, alguns segmentos do néfron são permeáveis à ureia, a qual se difunde para o interstício e para a alça de Henle, porém com ADH difunde-se para o ducto coletor. Assim, quando o fluxo urinário está normal, cerca de 60% da ureia são filtrados e reabsorvidos. O aumento do fluxo urinário causa menor reabsorção e maior excreção, e como resultado pode haver diminuição na concentração sérica de ureia, sem alterar a TFG, uma vez que o aumento do fluxo urinário pode ser promovido pela administração de fluidoterapia parenteral e de diurético, que causam poliúria. Apesar de a concentração plasmática de ureia e creatinina ser equivalente à do filtrado glomerular, a creatinina não será reabsorvida nos túbulos. Os cães da raça Dálmata podem excretar ácido úrico e alantoína, sendo o produto final do metabolismo de purinas. Definição A DRC foi classificada em estágios, determinados pela International Renal Interest Society (IRIS). Assim, pode-se dizer que existe falência renal crônica (FRC) quando os mecanismos compensatórios não conseguem mais manter as funções de regulação de eletrólitos, água, homeostasia acidobásica, peptídios e síntese de hormônios. Falência renal crônica ocorre nos estágios finais da DRC, quando há perda d aproximadamente mais de três quartos ou dois terços dos néfrons de ambos os rins para os cães e gatos, respectivamente. Falência renal aguda (FRA) é resultado do declínio abrupto da função renal. A DRC pode ser definida como: Etiologia Anemia A anemia, especificamente, consequência da DRC, caracteriza-se por ser do tipo normocítico, normocrômicoe não regenerativo, sendo que, em geral, a intensidade é proporcional à perda de néfrons e ao declínio da função renal. A etiologia da anemia em DRC é multifatorial. Os mecanismos envolvidos incluem: • Diminuição do tempo de vida das hemácias, como pela presença das toxinas urêmicas, do aumento do estresse oxidativo etc. • Perda de sangue (pelo trato gastrintestinal) • Deficiência nutricional (aporte) dos elementos implicados na eritropoese • Deficiência de ferro • Atuação de substâncias que são capazes de inibir a eritropoese, a exemplo das toxinas urêmicas e possivelmente o PTH • Diminuição na síntese de eritropoetina (EPO) • Mielofibrose. Consequências gastrointestinais Em relação às consequências gastrintestinais decorrentes da uremia, sabe-se que ocorre aumento da circulação de gastrina, uma vez que os rins são responsáveis por 40% da metabolização desse hormônio, originando um quadro denominado gastropatia urêmica, em que são observadas alterações microscópicas como atrofia glandular, edema de lâmina própria, infiltração de mastócitos e arterite submucosa. As concentrações elevadas de gastrina estimulam a secreção gástrica de HCl e a liberação de histamina, a qual pode provocar ulceração gastrintestinal com posterior necrose isquêmica da mucosa. A gastropatia urêmica também pode decorrer de outros fatores: • Estresse associado à doença • Ação de bactérias urease-positivas com consequente erosão da mucosa gastrintestinal causada pela amônia • Lesões vasculares isquêmicas • Refluxo biliar por incapacidade de fechamento adequado do piloro, promovido pela ação direta da gastrina Ainda como consequências gastrintestinais, podem ser citadas a estomatite urêmica e a necrose da borda da língua para os casos em que existir descompensação ou crise da DRC por acúmulo ou aumento abrupto de toxinas urêmicas na circulação sanguínea. Diarreia (hemorrágica ou não) também é manifestação clínica secundária à enterocolite urêmica, e que se manifesta principalmente nos animais em estágios mais avançados, com uremia intensa. Entretanto, nos gatos, a diarreia é menos observada, sendo que a constipação intestinal é mais comum, pois em geral os gatos com DRC não tratados apresentam desidratação em consequência da poliúria que surge, principalmente, em estágios mais avançados da doença; assim, há absorção de água mais intensa no nível do cólon, tornando as fezes mais ressecadas; ainda, a constipação intestinal pode decorrer do uso oral de quelantes de fósforo 1,4 e 2 mg/dℓ, para cães 1,6 e 2,8 mg/dℓ, para gatos perda do apetite emagrecimento e êmese 2,1 e 5 mg/dℓ, para cães 2,9 e 5 mg/dℓ, para gatos poliúria e polidipsia (cães) apetite caprichoso discreto emagrecimento vômitos esporádicos creatinina sérica está acima de 5 mg/dℓ tanto em cães como em gatos Manifestações Clínicas As manifestações clínicas estarão na dependência do grau de comprometimento das funções dos rins, e os animais podem ser assintomáticos; a detecção de lesão renal pode ser possível somente pelos exames complementares, ou seja, pela avaliação dos marcadores de lesão renal – laboratoriais e de imagem. Há possibilidade de que, mesmo existindo disfunção renal e de acordo com sua evolução, o organismo tenha se adaptado ao aumento gradativo das toxinas urêmicas e o animal ainda não apresente manifestações clínicas evidentes. Uma vez que a DRC é resultante da redução gradual no número de néfrons funcionais, o primeiro indício do comprometimento da função renal no cão é a perda da capacidade renal em concentrar a urina; assim, poliúria e polidipsia compensatória serão as primeiras manifestações clínicas observadas nesses pacientes, sendo proporcional a magnitude do comprometimento das estruturas renais, ou seja, de dois terços do número de néfrons. Em felinos, pela característica de os néfrons apresentarem grande capacidade de concentração urinária, a poliúria é observada nos estágios mais avançados, quando já ocorreu a perda de três quartos do número de néfrons. International Renal Interest Society (IRIS) & Estágios Estágio I da DRC O animal não apresenta azotemia Estágio II da DRC Azotemia é discreta, com os valores de creatinina sérica entre No estágio II, os gatos podem ter manifestações clínicas como: Estágio III da DRC Azotemia é moderada, os valores de creatinina sérica estão entre neste estágio, a progressão da DRC costuma estar relacionada com a autoperpetuação da doença e os sintomas são inespecíficos e incluem Estágio IV da DRC refere-se à evolução final da doença, com diminuição marcante do número de néfrons, comprometendo a maioria das funções do rim. As manifestações clínicas são decorrentes do comprometimento de vários sistemas: gastrintestinal, neuromuscular, ósseo, hematopoético e cardiovascular PU/PD inapetência anorexia vômito diarreia e perda de peso desidratação encefalopatias e neuropatias devidas ao quadro de uremia letargia, fraqueza, ataxia tremores musculares HAS Diagnóstico e Exames Complementares O diagnóstico da DRC é embasado no histórico, na anamnese, nos achados do exame físico e dos exames laboratoriais. Os exames de imagem podem auxiliar na detecção da causa, tal como a presença de pielonefrite e de cálculo renal. A DRC também pode ser diagnosticada pela alteração microscópica ou macroscópica detectada por biopsia renal ou visibilização direta, ou por alterações nos marcadores de lesão renal, detectadas por exames bioquímicos séricos e de urina ou por exames de imagem e outros exames complementares que avaliem indiretamente as funções dos rins. Uréia e Creatinina As determinações das concentrações séricas de ureia e creatinina consistem em avaliação indireta, pois se pressupõe que quando há acúmulo ou aumento dos compostos nitrogenados não proteicos no sangue (toxinas urêmicas), existe também aumento sérico da ureia e da creatinina. A ureia é excretada pelos rins, mas é reabsorvida ao longo dos néfrons, além de ser influenciada por fatores extrarrenais: pré-renais, tais como a ingestão de alimentos com alto teor de proteína, desidratação/hipovolemia, que diminui o fluxo de sangue para os rins filtrarem; pós renais, por obstrução do fluxo urinário. A creatinina não é reabsorvida ou secretada em quantidade significativa ao longo dos néfrons e pode ser considerada a melhor variável para avaliar indiretamente a TFG. Entretanto, como a origem da creatinina é a creatina proveniente da massa muscular, os animais com perda muscular ou atividade muscular diferente devem ser avaliados de acordo com a massa muscular no momento da determinação de creatinina sérica. Fósforo, Cálcio total e Cálcio iônico Os rins desempenham um papel importante na excreção de fosfato/fósforo e, assim, a mensuração da concentração sérica de fósforo poderá avaliar indiretamente a função de excreção renal nos estágios da DRC. Como o fósforo está estreitamente relacionado com o metabolismo de cálcio, as determinações das concentrações séricas de cálcio total e de cálcio iônico devem fazer parte da avaliação. Potássio, Sódio e Cloreto Têm grande importância as mensurações dos eletrólitos (potássio, sódio, cloreto), pois a hipopotassemia é mais observada em felinos com DRC associada à perda urinária ou à diminuição de ingestão, como também pode indicar excesso de suplementação de potássio, ou perda da capacidade renal de excretar o potássio (oligúria), indicando mau prognóstico. Sódio sérico é importante para o monitoramento da fluidoterapia, e para os animais com poliúria; igualmente a mensuração de cloro/cloreto, para não só orientar a composição do fluido a ser administrado, mas avaliar as perdas (hipocloremia) ou acúmulo (hipercloremia) que poderão influenciar o equilíbrio acidobásico. Hemogasometria Fundamental, porque poderá determinar a presença ou não de acidose metabólica, o tipo (com aumento ou não do anion gap) e a magnitude do desequilíbrio, além de identificar as alterações mistas do equilíbrio acidobásico quando ocorrem, principalmente, manifestações clínicas concomitantes que causam perdas debicarbonato, HCl. Urinálise Atinente ao exame de urina, como a DRC se caracteriza pela perda gradativa de néfrons, haverá maior possibilidade de observarem-se apenas isostenúria e poucos elementos presentes no sedimento urinário. Bacteriúria poderá ser detectada, preconizando-se o monitoramento periódico, pois devido à isostenúria há possibilidade de instalação de infecção do trato urinário, que deve ser identificada e tratada para evitar complicações futuras, principalmente de a infecção ascender para os rins e evoluir para pielonefrite, afetando os néfrons remanescentes. Proteinúria, mas como comentado no item sobre fisiopatologia da DRC, ela deve ser investigada empregando-se os testes mais sensíveis e específicos, como as determinações da razão proteína:creatinina urinária e da razão albumina:creatinina urinária pelo método quantitativo espécie-especifico, confirmadas pela avaliação sequencial, para que medidas terapêuticas possam ser adequadamente indicadas. Hemograma Faz parte da avaliação do paciente com DRC, pois será possível estabelecer o tipo de anemia presente (por diminuição da síntese de eritropoetina ou or causas outras, multifatoriais); a série branca em geral se caracteriza pelo leucograma de estresse devido à retenção de cortisol no sangue, pois este deveria ser excretado pelos rins. Exames de imagem Trazem informações importantes acerca do tamanho dos rins, formato e parênquima, como também para a avaliação óssea do crânio nos casos de hiperparatireoidismo secundário renal. Com a doença renal crônica, dependendo do estágio, poderão ou não ocorrer alterações nos exames ultrassonográficos ou radiográficos. Com o evoluir da afecção, devido à fibrose no parênquima renal, na imagem ultrassonográfica poderá ser visibilizada pouca definição do limite corticomedular. proteinúria cilindrúria isostenúria alterações na imagem (ultrassonográfica e radiográfica) dos rins eventualmente hipertensão arterial sistêmica Tratamento A terapia da DRC será apresentada segundo os estágios da doença, mas é importante ressaltar que dentro do mesmo estágio o animal poderá apresentar variações de alterações clínicas e laboratoriais de acordo com o grau de comprometimento da função renal e das alterações sistêmicas e, portanto, a terapia deverá ser sempre individualizada. Deste modo, a magnitude do comprometimento das estruturas renais e da função renal é o que determina as variações das manifestações clínicas. A seguir, apresentam-se os principais aspectos que devem ser considerados em cada um dos estágios da doença, mas vale ressaltar, novamente, que o tratamento individualizado deve ser sempre considerado conforme o monitoramento laboratorial e o quadro clínico apresentado Tratamento Estágio 1 Podem-se observar: Proteinúria: assim, o controle da magnitude da proteinúria poderia ser benéfico, segundo estudos experimentais, sendo então justificada a administração dos inibidor da enzima conversora de angiotensina (IECA), que causaria a dilatação da arteríola eferente e, consequentemente, diminuição da pressão hidrostática glomerular e diminuição de perda de proteínas através da barreira glomerular. Tratamento Estágio 2 Dieta terapêutica com baixos teores de fósforo deve ser preconizada para o controle da concentração sérica de fósforo, que deve ser mantido entre 2,7 e 4,5 mg/dℓ. Se somente com a dieta não for possível manter os níveis de fósforo nos valores recomendados, preconiza-se o emprego de quelantes de fósforo que devem ser administrados junto com o alimento: hidróxido de alumínio seria o mais recomendado (dose 10 a 30 mg/kg, 2 ou 3 vezes/dia), por não se observar nos animais os efeitos colaterais descritos em humanos com terapia prolongada da DRC. Vitamina D ativa (calcitriol), é necessária a manipulação do fármaco, mas, pelo fato de o veículo ser oleoso, há grande dificuldade na manipulação de concentrações precisas em cada cápsula e isto tem sido um fator limitante importante para o uso na rotina. Bicarbonato com o paciente estabilizado e recebendo a dieta escolhida, caso as concentrações do bicarbonato sanguíneo estejam inferiores a 18 mEq/ℓ e 16 mEq/ℓ para cães e gatos, respectivamente, recomenda-se a administração de bicarbonato oral ou de citrato de potássio, principalmente para os felinos que já necessitam também de suplementação de potássio. É importante que haja monitoramento por hemogasometria, para que não ocorra alcalose metabólica. A dose inicial de bicarbonato para suplementação oral é de 0,5 a 1 mEq/kg/dia ou 8 a 12 mg/kg a cada 8 a 12 h; recomenda-se a administração de uma solução preparada com um litro de água e 84 g de bicarbonato em pó, que resulta em concentração de 1 mEq/mℓ, sendo a dose de 1 a 1,5 mℓ/10 kg de peso VO. A dose deve ser fracionada para evitar os efeitos gástricos do bicarbonato. Potássio O gliconato de potássio é a escolha para reposição ou suplementação oral de potássio, pois é mais palatável (1 a 2 mEq/kg/dia). O citrato de potássio também pode ser administrado (40 a 60 mg/kg/dia, divididos em duas a três administrações). Se necessária a suplementação parenteral de potássio devido a manifestação clínica grave, recomenda-se a administração de solução de cloreto de potássio, pela via subcutânea, juntamente com o fluido, a concentração máxima do potássio no fluido a ser administrado é de até 35 mEq/ℓ; em geral, observa-se hipopotassemia mais intensa nos estágios III e IV. Solução fisiológica (NaCl a 0,9%) Lactato de Ringer de sódio Solução de Ringer fibras que possam atuar como substrato para bactérias que utilizam a ureia como fonte de crescimento além de ácidos graxos (ômega-3) para reduzir inflamação Tratamento Estágio 3 fluidoterapia tem como objetivo principal repor o déficit hídrico Animais desidratados, nesses casos, além da hidratação por via oral, será necessário repor o déficit hídrico pela via parenteral, e poderá ser por via subcutânea, por ser considerada terapia de manutenção. A escolha da composição do fluido dependerá da correção do déficit de eletrólitos, como também do equilíbrio acidobásico; poderá ser O cálculo para o volume (mℓ) de reposição pode ser baseado na equação em que se considera: peso do animal (kg) × % de desidratação × 10 Na sequência, verificar, de acordo com cada caso clínico – a determinação é individual –, a administração de volume de manutenção associado ou não às perdas hídricas. Bicarbonato parenteral, nesse momento, haverá necessidade de reposição por via parenteral, mas esta deverá ser estreitamente monitorada por hemogasometria (avaliação do pH e do bicarbonato sanguíneo) em períodos frequentes. Recomenda-se a administração de bicarbonato de sódio, por via intravenosa, quando os valores de bicarbonato forem inferiores a 12 mEq/ℓ, e a dose deve ser calculada com base nos valores de bicarbonato sanguíneo; a dose inicial deverá ser a metade ou um terço da dose total do déficit calculado. Importante controlar a velocidade de infusão do fluido com o bicarbonato, e bicarbonato não deve ser adicionado às soluções de Ringer ou de Ringer com lactato, pois poderá precipitar em presença de sais de cálcio nas composições das soluções citadas. Potássio, a administração parenteral pela via subcutânea, ficando a via intravenosa reservada somente para quando o déficit causar manifestação clínica importante e for preciso correção rápida. Dieta, a dieta no estágio III da DRC, do ponto de vista da ingestão de proteína, é de grande importância pelo fato de a origem da proteína gerar ou não maior quantidade de compostos nitrogenados não proteicos, ou seja, toxinas urêmicas. Há, portanto, recomendação de redução dos teores de proteínas, mas sempre de acordo com o NRC (National Research Council on Animal Nutrition), e que sejam de alto valor biológico. A alimentação também deverá conter: Eritropoetina, indicada quando a anemia for mais intensa (hematócrito < 12 a 15%). Por ser a eritropoetina recombinante humana, esta pode causar efeitos colaterais, como formação de anticorpos, e comprometer a eritrogênese/eritropoese.Ferro, deve ser suplementado, antes e durante a terapia, para assegurar estoque de ferro; dose para cães e gatos é de 100 a 300 mg/dia e de 50 a 100 mg/dia nos estágios II e III têm expectativa de vida aproximada de 1 a 3 anos após o diagnóstico a expectativa é de 6 a 12 meses quando o diagnóstico da doença é obtido no estágio III Monitoramento do hematócrito, durante a terapia é importante para evitar policitemia, como também para diminuir a dose da eritropoetina quando alcançado o valor esperado do hematócrito (35 a 40% e 30 a 35%, para cães e gatos, respectivamente), passando a administração para 2 vezes/semana, e assim diminuindo gradativamente. Vitaminas do complexo B, sua suplementação também é indicada aos animais com poliúria pois, sendo hidrossolúveis, há perda importante dessas vitaminas pela urina. O tratamento considerado sintomático pode trazer benefícios para os pacientes urêmicos, pois há comprometimento do estado geral por náuseas, vômitos, diarreia e redução do apetite. A estes casos podem-se recomendar bloqueadores de H2 (ranitidina, famotidina), antieméticos (metoclopramida, ondansetrona, meropitant) e protetores de mucosa (sucralfato). Ainda, deve-se ater ao recálculo da dose de fármacos que são excretados pela via renal, para evitar a superdosagem. Tratamento Estágio 4 A evolução final da DRC compreende o estágio IV, quando o número de néfrons está muito reduzido e existe comprometimento de várias funções dos rins. O tratamento da desidratação (reposição e manutenção com fluidoterapia), o controle da hiperfosfatemia (manter as concentrações de fósforo < 6 mg/dℓ, tanto para cães como para gatos), da acidose metabólica, da anemia são os mesmos descritos para o estágio III. Nutrição enteral e/ou parenteral pode ser indicada, na tentativa de manter o balanço nitrogenado positivo. A hemodiálise em crise urêmica poderia ser proposta, mas com a ciência de ocorrer melhora somente temporária, pois haverá novamente acúmulo das toxinas urêmicas, uma vez que os néfrons remanescentes não são em número nem em capacidade suficientes para recuperar a função renal. Prognóstico A expectativa de vida entre as espécies é diferente em doença renal crônica. gatos: cães O diagnóstico da DRC em gatos geralmente ocorre nos estágios mais precoces (estágios I e II); em cães, quando existem manifestações clínicas mais evidentes, como poliúria, polidipsia, comprometimento do apetite, vômitos, diarreia etc., em geral estes estão presentes nos estágios mais avançados da doença, e a progressão da doença renal pode ser mais rápida levando à falência renal e a manifestações clínicas de uremia. Referências: Tratado de Medicina Interna de Cães e Gatos