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HEPATOLOGIA III Cirrose hepática e suas complicações A veia porta é formada pela VMS e veia esplênica. A VMI drena para a veia esplênica. As veias gástricas esquerda e direita recebem sangue do esôfago e também drenam para a veia porta, juntamente às veias gástricas curtas. Toda a drenagem venosa do TGI é feita para a veia porta. A veias retais possuem três andares, sendo a superior e média tributárias da VMI; a veia retal inferior drena para a VCI. O sangue que chega ao fígado e enfrenta hipertensão portal começa a buscar “atalhos” para chegar ao pulmão, utilizando-se dos vasos que drenam para a porta, “fugindo” do fígado. HIPERTENSÃO PORTA · Varizes esofagogástricas · Esplenomegalia · Varizes retais · Cabeça de medusa – eficaz para tirar sangue da porta e colocar na cava · Encefalopatia * A ascite necessita de hipertensão sinusoidal e hepática, então a pré-hepática pré-sinusoidal, não gera. CLASSIFICAÇÃO DA HIPERTENSÃO PORTAL Pré-hepática Intra-hepática Pré / sinusoidal / pós Pós-hepática Pré-Hepática Função hepática boa. Ascite não é esperada, mas pode ocorrer por outras causas associadas. Trombose da Veia Porta (+ comum da pré) Crianças (infecção de cateter umbilical), hipercoagulabilidade Trombose de Veia Esplênica (hipertensão porta segmentar) Varizes isoladas de fundo gástrico: pancreatite crônica Intra-Hepática 1) Pré-sinusoidal · Esquistossomose: parasita fica no espaço porta; uma infestação importante pode fazer uma reação granulomatosa que invade os sinusoides e provoca hipertensão sinusoidal, gerando ascite, mas não é comum, como ter varizes esofagianas 2) Sinusoidal · Cirrose → mais comum de todas! 3) Pós-sinusoidal: por oclusão da veia centrolobular (doença veno-oclusiva) · Doença Enxerto-Hospedeiro · Doença do Chá da Jamaica (Bush Tea Disease) → Chá de maria mole Pós-Hepática - Doenças cardíacas (mais comum da pós) · ICC, pericardite constritiva - Obstrução da Veia hepática/cava · Síndrome de Budd-Chiari Causas: policitemia vera + hipercoagulabilidade, ACO, neoplasia hepática Diagnóstico da Hipertensão Portal · Endoscopia Digestiva Alta (EDA): varizes esôfago-gástricas · USG com doppler: · Calibre da veia porta (n=12mm) e esplênica (n=9mm) · Fluxo hepato-fugal (“fugindo do fígado”) – por isso se faz doppler · Elastografia: > 21,1kPa · Cateterização hepática → gradiente pressórico ≥ 6 fecha diagnóstico de HP · > 6: hipertensão porta · > 10: HP com varizes · > 12: aumento do risco de ascite e de ruptura de varizes Tratamento da Hipertensão Portal Cenário 1 → nunca sangrou · Profilaxia primária: rastrear varizes com EDA · Indicar profilaxia se: · Varizes de alto risco (médio calibre > 5mm ou grosso calibre > 20mm) · Cherry-red spots no cordão varicoso A profilaxia primária deve ser feita com β-bloqueador não-seletivo (propanolol, carvedilol na maior dose possível tolerada pelo paciente) ou ligadura elástica por EDA (é a escolha). Cenário 2 → está sangrando 1) Estabilizar a hemodinâmica · Cristaloides · Prazol · Iniciar Terlipressina ou Octreotide (vasoconstrição esplâncnica) · Antibiótico até 70% dos casos pode evoluir com PBE, iniciar mesmo antes de confirmar se o sangramento é varicoso (Ceftriaxone ou Norfloxacin por 7 dias) · Transfusão de sangue: ± Hemácias (Hb < 7) ± plaquetas (se < 50 mil) · ± Plasma (se INR > 1,7) 2) Descobrir fonte e tratar · EDA em até 12h · Ligadura elástica (escolha) / escleroterapia · Se varizes gástricas: cianoacrilato · Balão: sangramento incontrolável por EDA + drogas · Sengstaken-Blakemore por 24-48h, desinsuflar a cada 12h para checar se parou o sangramento · TIPS (Shunt Portossistêmico Intra-Hepático Transjugular) · Se hemorragia refratária ou no lugar da cirurgia · Vantagem: “ponte” para transplante · Desvantagem: encefalopatia (± 30% dos casos) · Contraindicação: IC direita / doença cística · Cirurgias (urgência) · Shunts não seletivos (TL, LL, parcial) pouco utilizado hoje por conta do TIPS e inviabiliza o transplante Cenário 3: já sangrou (70% de ressangramento em 1 ano) · Profilaxia secundária: β-bloqueador + Ligadura elástica · Se não der certo: programar TIPS ou cirurgia eletiva (shunt seletivo esplenorrenal distal) · O shunt seletivo esplenorrenal distal acaba com as varizes, mas pode piorar a ascite ASCITE A paracentese deve ser feita do lado esquerdo, entre o terço distal e médio da linha entre a espinha ilíaca anterossuperior e o umbigo. Diagnóstico - Gradiente Albumina Soro – Albumina Ascite (GASA) · · GASA ≥ 1,1 → Hipertensão portal · PTN < 2,5g/dl: Cirrose · PTN > 2,5g/dl: IC, Budd-Chiari · GASA < 1,1 → Neoplasia, BK, pâncreas, síndrome nefrótica · PTN < 2,5g/dl: Síndrome nefrótica · PTN > 2,5g/dl: Neoplasia, BK, pâncreas (BK → pedir ADA) - Análise do líquido ascítico · Aspecto macroscópico · Seroso (cirrose) / Hemorrágico (acidente de punção, neoplasia) / turvo (infecção) · Citometria/citologia oncótica: PMN ≥ 250 → PBE ou PBS · Bioquímica: PTN total, glicose e LDH diferenciam PBE e PBS · Pedir triglicerídeos, pois acima de 1000 fala a favor de ascite quilosa, que ocorre com a lesão do ducto torácico · Gram e cultura: PBS é polimicrobiana Tratamento · Restrição de sódio: 2g Na (4-6g sal)/dia · Restrição hídrica: 1 a 1,5 L/dia se hiponatremia (Na < 125) · Diuréticos VO: espironolactona e furosemida → E:F 100:40 · Espironolactona: iniciar com 100, máximo 400mg/dia · Furosemida: iniciar com 40, máx 160mg/dia · Aumentar doses a cada 3-5 dias · Objetivo: ↓ 0,5kg/dia ou ↓ 1kg/dia com edema · Paracentese de alívio: indicado na ascite sintomática (tensa / dificuldade respiratória) Tratamento da Ascite Refratária – falência, recorrência precoce ou azotemia, Na < 120, K > 6 - Tratamento inicial: · Considerar suspender β-bloqueador – faz retenção hídrica e pode interferir na ação diurética · Midodrina VO 5mg 8/8h - Em caso de falha: paracenteses terapêuticas seriadas · Se paracentese de grande volume (> 5L) → repor 6-10g de albumina por litro retirado · Outras opções: TIPS, shunt peritônio-venoso, transplante hepático PERITONITE BACTERIANA ESPONTÂNEA · Possui etiologia monobacteriana (E. coli, Klebsiella). · Pode ser assintomática ou cursar com febre (70%), dor abdominal (60%), encefalopatia (55%). · Diagnóstico: pela ascite com PMN ≥ 250/mm³ e não é abdome cirúrgico! · Tratamento: excluir PBS + retirar β-bloqueador, iniciar cefotaxima 2g 8/8h por 5 dias. · Profilaxia da síndrome hepatorrenal · Albumina 1,5g/kg no 1º dia e 1g/kg no 3º dia · Se creatinina > 1 ou BT > 4 (na prática... na prova sempre fazer!) Profilaxia da PBE 1) Primária a) Aguda: no sangramento varicoso → Ceftriaxone ou norfloxacino por 7 dias b) Crônica: se PTN ascítica < 1-1,5 + creat > 1,2 ou Na ≤ 130 ou BT ≥ 3 ou CHILD ≥ 9 → Norfloxacino 400mg/dia 2) Secundária: faz até acabar a ascite · Norfloxacino 400mg/dia PERITONITE BACTERIANA SECUNDÁRIA · Etiologia polibacteriana! É abdome cirúrgico! Ocorre por patologia intestinal! · Diagnóstico: ascite com PMN ≥ 250/mm³ + 2 ou mais dos seguintes: · Proteínas > 1g/dl elevada · Glicose < 50mg/dl baixa · LDH elevado · Tratamento: cefalosporina 3ª + metronidazol · TC + cirurgia ou drenagem Outras infecções: Ascite neutrofílica: PMN > 250 mm³ sem crescimento bacteriano (cultura negativa) - PBE sem bactéria suficiente para crescer cultura, mas se dosar em dois dias, terá; tratar igual PBE Bacterascite: PMN < 250 mm³ com cultura positiva – bacteriúria assintomática; tratar quando sintomas ENCEFALOPATIA HEPÁTICA · Fisiopatologia: aumento da amônia e outras toxinas. · Precipitada por hemorragia digestiva e infecções (+ importantes!), constipação (aumenta tempo de contato com as fezes produzindo mais toxina), hipocalemia e alcalose, diurético. · Clínica: sonolência, inversão do ciclo sono-vigília (manifestação + precoce), flapping, desorientação, coma · Tratamento: · Lactulona: laxativo, deixa o pH mais ácido → NH3 vira NH4 · ATB: rifaximina (escolha), neomicina, metronidazol · Haloperidol: agitação SÍNDROME HEPATORRENAL O hepatopata tem tendência à vasodilatação,pelo aumento de NO. Ocorre naquele hepatopata quando o “rim se suicida”. A vasodilatação esplâncnica diminui a perfusão renal, e os rins fazem vasoconstrição intensa para compensar, sofrendo com isto. Em resumo, é uma vasodilatação periférica + vasoconstrição renal. É um diagnóstico de exclusão! · Hepatopata grave + HP + IRA ou Creatinina > 1,5 que não melhora com retirada do diurético / uso de albumina · Sem choque, sem droga nefrotóxica e; · USG e EAS normais Tipo 1 Rápida progressão da IRA Creatinina duplica e fica > 2,5 em < 2 semanas Tipo 2 Insidiosa, melhor prognóstico Tratamento · Albumina + Noradrenalina ou Terlipressina – albumina para manter pressão coloidosmótica para ter liquído dentro do vaso + vasoconstritor para aumento da pressão de perfusão renal com vasoconstrição periférica · ± Hemodiálise · Se não der certo: transplante hepático! SÍNDROME HEPATO-PULMONAR Cursa com vasodilatação periférica + vasodilatação pulmonar! O aumento do diâmetro do capilar impede a oxigenação adequada das hemácias distantes do alvéolo. Diagnóstico · Hepatopata grave com HP e · Platipneia (dispneia ao levantar – sangue fica apenas na parte de baixo do pulmão e não oxigena) · Ortodeóxia (dessaturação ao levantar) Tratamento: transplante hepático! Indicado quando PaO2 < 60 (hipoxemia grave)!
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