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1 1234 Discentes concluintes do Curso de Pós Graduação Ensino da Matemática - Esamaz O ENSINO DA GEOMETRIA NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA DOS DEFICIENTES VISUAIS Antônio Carlos Santos Júnior¹ Giselle das Graças P. Silva² Glayson Prata Alexandrino³ Tacio de Saulo Garcia4 Resumo: Este artigo busca não somente priorizar a história do deficiente visual, mas também nos instrui a convivermos com as divergências que a vida nos possibilita. Afinamos alguns trabalhos realizados por algumas instituições, mencionamos algumas conferências que de suma importância para a inclusão social do deficiente visual na sociedade. Neste artigo iremos tratar apenas do ensino da geometria para alunos com deficiência visual, analisando as dificuldades, a fim de expor a problematização e despertar o interesse de melhoria na educação para este público. Com base na pesquisa qualitativa, analisamos o processo de inclusão escolar e no ensino e aprendizagem de Geometria para alunos deficientes visuais. Considerando que a Geometria é um ramo da Matemática importante para o desenvolvimento do educando, esperamos trazer contribuições para o ensino de Geometria aos alunos com deficiência visual. A inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais em escolas de ensino regular se apresenta como um “novo” paradigma educacional, fundamentado na concepção de direitos humanos, e ganhou força a partir da Declaração de Salamanca (1994). A escola e os educadores precisam estar preparados para que essa inclusão aconteça de fato, pois o que se percebe no cotidiano da maioria das escolas de ensino regular é uma distância grande entre o que diz a lei e o que acontece na prática: escolas sem condições de acessibilidade, profissionais despreparados para lidar com o aluno especial e a não compreensão do que seria a adaptação curricular. Palavras-chave: Educação Inclusiva, Ensino de Geometria, Deficiente visual. Abstract This article brings a review of an ongoing research, whose assumptions arose from professional concerns. Based on the qualitative research, I analyze the process of school inclusion and teaching-learning of Geometry for visually impaired students. Considering that Geometry is a branch of Mathematics important for the development of the student, I hope to bring contributions to the teaching of Geometry to students with visual impairment1. The inclusion of students with special educational needs in regular schools is presented as a "new" educational paradigm, based on the conception of human rights, and gained strength from the Salamanca Declaration. For what is perceived in the daily life of most regular schools is a great distance between what the law says and what happens in practice: schools without conditions of accessibility, professionals unprepared to deal with the special student and the lack of understanding of what would be the curricular adaptation. Keywords: Inclusive Education, Teaching Geometry, Visual Impairment. 2 1234 Discentes concluintes do Curso de Pós Graduação Ensino da Matemática - Esamaz 1. Introdução A utilização de materiais específicos na construção de significados matemáticos e, especialmente, geométricos vem se destacando no processo de ensino e aprendizagem, conforme recomendações dos Parâmetros Curriculares Nacionais (MEC, 2016). A fim de desenvolver materiais e atividades que estimulem o raciocínio geométrico de alunos que frequentam escolas regulares e com deficiência visual, pesquisaram-se em artigos e livros didáticos maneiras adequadas de se fazê-los. O foco do trabalho foi reforçar o conteúdo sobre geometria plana e espacial visto em sala de aula durante aulas de reforço realizadas no contra turno. Utilizaram-se atividades, algumas propostas em livros didáticos, adaptadas à utilização do material e às necessidades especiais do público-alvo. A matemática foi desenvolvida pelo homem, e desde então vem sofrendo alterações de acordo com as necessidades encontradas. Hoje a mesma comporta diversos conteúdos, regras e relações, tendo uma grande importância para a sociedade. Junto com ela cresceram também as dificuldades encontradas para repassá-la em sala de aula. Isso ocorre por diversos fatores, sendo um deles a crença de que a matemática é um “bicho de sete cabeças”, deixando o indivíduo propenso a acreditar não ser capaz de compreendê-la. Sabendo das dificuldades enfrentadas por alunos e professores de escolas públicas de ensino regular, como a falta de estrutura na maioria das vezes tanto social como física da escola, é necessário que a mesma assuma um papel transformador, contribuindo na mudança da visão preconceituosa dos alunos diante da matemática. Assim será possível fazer com que a mesma renasça com um novo olhar pedagógico, sendo possível também a implantação de novos métodos e projetos de ensino, que tornem possível uma inclusão efetiva e bem sucedida. O objetivo deste artigo não é dar ênfase à deficiência do aluno e sim as suas capacidades, e como elas devem ser estimuladas, mas ainda assim são inúmeras as dificuldades. Podemos perceber a existência de uma relação bilateral entre inclusão escolar e os professores, tarefa que não se mostra fácil, e para mudar esta realidade os professores de Matemática da rede regular de ensino, devem explorar as capacidades do deficiente visual, respeitando suas especificidades. As mudanças e as adaptações serão sempre necessárias. 3 1234 Discentes concluintes do Curso de Pós Graduação Ensino da Matemática - Esamaz 2. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 Educação Inclusiva e Formação de Professores A partir de 2003, com a universalização da educação, na qual se propõe que todos tenham acesso e condições de permanência na escola, a inclusão passou a ser discutida com maior ênfase. Atualmente, a inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais em escolas de ensino regular se apresenta como um “novo” paradigma educacional, fundamentado na concepção de direitos humanos, e ganhou força a partir da Declaração de Salamanca 2 (1994). Buscando se adequar a uma realidade internacional dos movimentos de defesa da inclusão social e da educação como um direito de todos, que se intensificaram principalmente a partir da década de 60, a Constituição Federal (1988), a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB 9394/96), os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs, 1998) e outros documentos ligados à educação reconhecem a necessidade da construção de uma escola inclusiva. “Todas as crianças devem ser acolhidas pela escola, independente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais” (LDB, 1996). Porém, a escola e os educadores precisam preparar-se para que essa inclusão aconteça de fato, para que os alunos especiais tenham na escola regular a igualdade de oportunidades em relação aos demais alunos, na sua formação e construção da sua cidadania, e possam buscar o seu espaço na sociedade. Entretanto, o que se percebe no cotidiano da maioria das escolas de ensino regular é uma distância grande entre o que diz a lei e o que acontece na prática: escolas sem condições de acessibilidade, falta de recursos adequados, profissionais despreparados para lidar com o aluno especial e a não compreensão do que seria a adaptação curricular. O fato é que nós, professores do ensino regular, não somos preparados para trabalhar com o aluno “especial”. Pois, tanto os cursos de licenciaturas não atendem a essa necessidade, como os cursos de formação continuada não abarcam boa parte dos docentes da Educação Básica. Assim, não é de se estranhar que o educador sinta-se inseguro e despreparado para atender às necessidades educacionais desse aluno e, muitas vezes, tenha resistência à ideia de ter presente na sala um aluno com necessidades especiais. Outro fator que dificulta esse processo é a carga excessiva de trabalho que a maioria dos professorestem que por conta do baixo salário se vê obrigado a ocupar quase todo seu tempo, não restando o espaço necessário para estudos e orientações sobre esses novos desafios do contexto escolar. Estes fatos não justificam o tratamento dispensado aos alunos especiais na maioria das escolas de ensino regular no tocante à inclusão, mas que representam entraves para a efetivação de uma educação verdadeiramente inclusiva, alguns tendo inclusive negada a matrícula sob a 4 1234 Discentes concluintes do Curso de Pós Graduação Ensino da Matemática - Esamaz justificativa de que a escola não tem como atendê-los, contrariando assim a lei. Recentemente o governo federal anunciou nos meios de comunicação (televisão) que as escolas e os professores da rede pública estavam sendo preparados para a prática da inclusão. Como profissionais da área, percebemos que essa situação não se aplica na realidade, e se está acontecendo é em passos lentos. Alguns avanços em relação à educação inclusiva estão ocorrendo sim, não se pode negar, a exemplo da criação dos CAPs (Centros de Apoio Pedagógico) e a elaboração de programas e recursos pedagógicos pelo MEC (Ministério da Educação e Cultura), por intermédio da Secretaria de Educação Especial. Porém, estamos longe da efetivação de uma educação inclusiva que realmente assegure aos alunos especiais o que preconizam as leis. 2.3 Recursos pedagógicos que auxiliam na aprendizagem de Geometria A história da matemática pode ser utilizada como instrumento didático, portando-se como mecanismo que contextualiza, ameniza, fomenta e ajuda a padronizar conceitos. Ela é fundamental para expor como teorias e práticas matemáticas foram criadas, cada uma em determinado tempo, ela é um recurso didático que contribui para o aprimoramento e a valorização do aprendizado matemático, auxiliando a desenvolver uma motivação maior por parte dos alunos em relação ao que está sendo estudado. De acordo com Groenwald (2004): O enfoque histórico é uma proposta metodológica que permite ao aluno descobrir a gênese dos conceitos e métodos que aprenderá em aula. Em outras palavras este enfoque permitirá ao aluno fazer relação das ideias matemáticas desenvolvidas em sala de aula com suas origens. O conhecimento da história da matemática proporciona uma visão dinâmica da evolução dessa disciplina, buscando as ideias originais em toda sua essência. . Segundo Silvio (2008), a matemática sempre foi vista pelos alunos como sendo a disciplina mais difícil do currículo escolar e para alguns, chega a tornar-se um entrave na vida acadêmica. Quando se pensa em educação inclusiva, a situação fica pior, pois se o aluno “normal” em termos de canais de comunicação (visual, auditivo, etc) já sente esta rejeição, os alunos com necessidades especiais de comunicação, sofrem as intempéries da falta de preparo dos profissionais da educação para tratar deste problema específico. Apesar dos avanços da educação no tocante à educação inclusiva, ainda se observa na prática docente da maioria dos professores de matemática, uma certa insegurança para ensinar matemática e em especial a geometria a alunos com deficiência visual, 5 1234 Discentes concluintes do Curso de Pós Graduação Ensino da Matemática - Esamaz porque há necessidade de utilização que os outros recursos metodológicos que não façam da visão a principal porta de entrada da informação. Segundo Pavanello (1993, apud Silvio, 2008), o desespero desses professores, os fazem deixar de lado esse conteúdo, abrindo com isso uma grande lacuna no especializado do aluno, trazendo-lhe consequentemente grandes dificuldades. Esse desespero de deve entre outras coisas, à formação deficiente do professor no conteúdo de geometria e na abordagem dada pelos livros didáticos em capítulos finais de livros, obedecendo ao currículo escolar, o que induz os professores a não abordá-los, com a justificativa da falta de tempo. No entanto, tais obstáculos não podem servir de justificativa para o descaso com o ensino deste conteúdo, sendo necessária uma postura crítica dos docentes no sentido de uma reflexão de suas práticas com objetivo de enfrentar um novo desafio: a reformulação de sua própria postura profissional tanto na superação de suas lacunas de formação do conteúdo, como de suas lacunas no tocante às novas técnicas de abordagem dos conteúdos geométricos. Segundo Ceolin (2009), a educação inclusiva na matemática vem sendo um desafio para os professores em formação inicial e continuada da Educação Básica e Superior, pois quando pensamos em trabalhar números, cálculos e até mesmo conceitos matemáticos, logo vem a seguinte questão: e se na sala, tiver algum aluno com deficiência, o que posso fazer para trabalhar com esse estudante sem excluí-los? Algumas pesquisas já estão sendo realizadas considerando esta área do saber. De acordo com Lima (2010), cada disciplina tem uma maneira específica de ser ensinada ao deficiente visual. O professor de matemática que leciona em instituições que atendem também alunos com deficiência visual, deve se lembrar de que: os exercícios escritos no quadro devem ser lidos em voz alta; é preferível se obter um único exercício bem executado pelo aluno do princípio ao fim, devidamente corrigido pelo professor, a se ter muitos exercícios, deve-se oferecer esquema / exercícios menos densos e mais significativos; deve ajudar o aluno a treinar cálculo mental e aprender a recorrer a ele para a solução de problemas; Segundo Vieira (2008), para solucionar problemas geométricos não vale apenas ser adepto da álgebra, aritmética, ou sabedor das fórmulas que encontramos nos livros didáticos. É necessário que o aluno necessite ter noções especiais que viabilize interpretar as imagens. A pessoa com deficiência dentro do ambiente escolar, precisa não só estar na escola, este carece de premissas que ajudem o seu aprendizado, fazendo com que consigam aprender e evoluir. 6 1234 Discentes concluintes do Curso de Pós Graduação Ensino da Matemática - Esamaz Atualmente existem materiais que ajudam no trabalho docente, alguns de custo irrelevante que podem ser utilizados sem que haja a necessidade da disponibilidade de grandes investimentos. Além desses materiais, é primordial uma formação especializada para desenvolver e direcionar o aluno na busca do seu conhecimento. É necessário abraçar a causa da inclusão de fato. Os profissionais devem se comprometer, e buscando conhecer as necessidades do aluno, assim como as competências de aprendizagem. Sistema Braille O Braile é um sistema de escrita e leitura tangível para as pessoas cegas. Surgiu na França em 1825, sendo o seu criador o francês Louis Braille que ficou cego, aos três anos de idade vítima de um acidente seguido de oftalmia. Este método consta do arranjo de seis pontos em relevo, dispostos na vertical em duas colunas de três pontos cada. Os seis pontos formam o que se convencionou chamar "cela braile". O Sistema Braile é de excepcional universalidade: pode exprimir as diferentes línguas e escritas da Europa, Ásia e da África. Sua principal vantagem, todavia, reside no fato das pessoas cegas poderem facilmente escrever por esse sistema, com o auxílio da reglete e do punção. Permite uma forma de escrita eminentemente prática. A pessoa cega pode satisfazer o seu desejo de comunicação. Exceto pela fadiga, a escrita Braile pode tornar-se tão automática para o cego quanto a escrita com lápis para a pessoa de visão normal. A qualidade do ensino do braile é primordial para uma leitura destra e para a aquisição de hábitos de leitura. Se os alunos cegos, como as outras crianças, forem motivados para a prática normal e constante do seu método de leitura e escrita, a leitura será rápida e tornar-se-á também mais agradável e instrutiva, porque a atenção, menos requerida pelo trabalho de reconhecimento dos caracteres,irá mais em ajuda do pensamento. Ao acabarem de ler, as crianças e jovens cegos terão aprendido alguma coisa e estarão mentalmente dispostos a partir para novas leituras. Materiais concretos O ensino e aprendizagem da Matemática constituem um desafio de várias pesquisas acerca de maneiras de tornar as aulas mais interessantes e próximas a realidade do educando. Se este desafio já é presente na realidade educacional para os estudantes sem deficiência, o desafio maior está no atendimento especializado de qualidade para o aluno com necessidades educacionais 7 1234 Discentes concluintes do Curso de Pós Graduação Ensino da Matemática - Esamaz especiais, em especial nesse contexto, o deficiente visual. Salienta-se que muitas vezes não existem materiais adaptados específicos para o ensino da maioria dos conceitos matemáticos. É necessária uma dedicação do professor regente com o auxílio do professor do Atendimento Educacional Especializado para que reconheça o aluno com deficiência visual como um sujeito ativo e que possui condições de aprendizagem. Assim, é preciso prover a acessibilidade das aulas. A confecção de recursos didáticos para alunos cegos deve se basear em alguns critérios muito importantes para a eficiência de sua utilização. [...] O relevo deve ser facilmente percebido pelo tato e, sempre que possível, constitui-se de diferentes texturas para melhor destacar as partes componentes do todo. Contrastes do tipo liso/áspero, fino/espesso, permitem distinções adequadas (SÁ; CAMPOS; SILVA, 2007, p. 27 apud SILVA; CARVALHO; PESSOA, 2016 p. 188) O material concreto auxilia nesse processo, materiais como: material dourado, figuras geométricas em 3D, figuras em alto relevo são essenciais no processo ensino e aprendizagem dos estudantes com deficiência visual. 2.4 Geometria algumas considerações Será apresentado um pouco da história da Geometria, desde o seu surgimento até os dias de hoje. Apresentamos também a importante contribuição feita por Euclides, matemático platônico e escritor conhecido como o "Pai da Geometria", além de estudos realizados por Sérgio Lorenzato e Ana Maria Kaleff , que garantem a importância da Geometria como ferramenta necessária para o desenvolvimento da criança. Apresentamos aqui uma síntese das leituras feitas até o momento. Elas nos permitiram compreender um pouco melhor o campo no qual escolhemos adentrar, que é a Geometria. Kaleff (1994) diz que: A Geometria surgiu das necessidades dos habitantes que viviam às margens dos rios Nilo, Eufrates e Ganges. Essas sociedades precisavam medir terras devido às inundações desses rios e, também, pela necessidade de calcular os impostos referentes a essas áreas. Foi da necessidade do Homem em compreender e descrever o seu meio ambiente (físico e mental), que as imagens, representadas através de desenhos, foram lentamente conceitualizadas até adquirirem um significado matemático, na Geometria e uma forma, nas Artes (KALEFF, 1994, p. 19). A palavra Geometria, derivada do grego geometrein, significa medição da terra (geo = terra 8 1234 Discentes concluintes do Curso de Pós Graduação Ensino da Matemática - Esamaz e metrein = medida). A Geometria é o ramo da Matemática que estuda as propriedades do espaço e divide-se em Geometria Sintética, a qual é axiomática e estuda o plano e os sólidos, tema trabalhado na mais conhecida obra de Euclides: Os Elementos; e em Geometria Analítica (Geometria de coordenadas), na qual os problemas são resolvidos com métodos algébricos. Há tempos atrás, a Geometria era uma ciência que pode-se chamar de uma coleção de regras práticas para obter resultados aproximados. Apesar disso, estes conhecimentos foram utilizados nas construções das pirâmides e templos Babilônios e Egípcios (PORTELLA, 2013). Mas é sem dúvida com os geômetras gregos, começando com Tales de Mileto (624- 547a.C.), que a Geometria é estabelecida como teoria dedutiva. O trabalho de sistematização em Geometria iniciado por Tales é continuado nos séculos posteriores, nomeadamente pelos pitagóricos (PORTELLA, 2013). Não existem documentos matemáticos de produção pitagórica, nem é possível saber-se exatamente a quem atribuir as descobertas matemáticas dos pitagóricos na aritmética e na geometria (PORTELLA, 2013). De acordo com estudos, Platão interessou-se muito pela matemática, em especial pela geometria, evidenciando, ao longo do ensino, a necessidade de demonstrações rigorosas dedutivas, e não pela verificação experimental (PORTELLA, 2013). Esta concepção é exemplarmente desenvolvida pelo discípulo da escola platônica, Euclides de Alexandria (325-285 a.C.), no tratado Elementos publicado por volta de 300 a.c., em treze volumes ou livros (PORTELLA, 2013). Essa obra foi tão significante para o ensino da Geometria e para a Matemática em geral, que rendeu ao autor o título de “pai” da Geometria. Dessa forma, “a Geometria Euclidiana tornou-se o modelo descritivo do Universo físico da Antiguidade” (KALEFF, 1994, p. 20). A cada dia mais a Geometria tem sido fundamental no processo de ensino e aprendizagem, auxiliando na organização do pensamento. Por meio da visualização, o aluno interage e isso o leva ao exercício da análise e da reflexão. 2.5 A importância do estudo de Geometria A Geometria é um instrumento que permite a percepção e a visualização do espaço. Ela é importante também para desenvolver habilidades em outras áreas do conhecimento. Tem muitas 9 1234 Discentes concluintes do Curso de Pós Graduação Ensino da Matemática - Esamaz aplicações no mundo real, é rica em possibilidades para fazer explorações, representações e construções. Ela leva o aluno a investigar, descrever e perceber propriedades, pré-requisitos estes importantes no desenvolvimento da atitude científica e na elaboração de uma linguagem escrita clara e sucinta, envolvendo vários conceitos aprendidos. Mesmo tendo presente toda a grandeza da geometria como auxílio no desenvolvimento cognitivo e motor do nosso aluno, é tratada com indiferença por muitos professores. Lorenzato afirma que: Pesquisas psicológicas indicam que a aprendizagem geométrica é necessária ao desenvolvimento da criança, pois inúmeras situações escolares requerem percepção espacial, tanto em matemática (por exemplo: algoritmos, medições, valor posicional, séries, sequências...) como na leitura e escrita. Ela é uma das melhores oportunidades para aprender a matematizar a realidade, já que as descobertas feitas pelos próprios olhos e mãos são mais surpreendentes e convincentes. (LORENZATO, nº 4, 1º semestre de 1995.) Apesar de sua importância, a Geometria vem sendo, paulatinamente, desvalorizada nas escolas de Ensino Básico. Segundo Fonseca (1997), esse conteúdo tem sido trabalhado de forma restrita ou, até mesmo, extinto de algumas salas de aula. Os motivos que levam a essa situação são variados: o isolamento da Geometria, que geralmente era trabalhada no final do ano letivo; a abordagem analítica e mecânica do conteúdo; a falta de preparo por parte dos docentes; entre outros (FONSECA, 1997). Estas questões fazem com que os alunos não tenham interesse pelo estudo da Geometria, a qual poderia ser um conteúdo interessante se fosse contextualizado pelo professor. Segundo Kaleff (2002), embora o estudo da Geometria auxilie a criança a organizar o seu pensamento, pouca atenção tem sido dada ao estudo das formas geométricas nas aulas de Geometria, pois quando estas são estudadas, a ênfase é dada somente às relações métricas de cálculo de medidas de comprimento de lados ou de medidas de áreas e de volumes. O que acaba ocorrendo é que o aluno não é estimulado a observar semelhanças entre figuras ou relações de simetria numa determinada figura. Fica tão focado em gravar conceitos que não desenvolve capacidades de observação, oque é de grande importância no processo de ensino e aprendizagem. Todavia, ainda segundo Kaleff (2002), nos últimos anos, visando a motivar o aluno ao estudo das formas e relacioná-lo com a realidade à nossa volta, têm sido desenvolvidos diversos recursos didáticos, dos quais fazem parte alguns materiais concretos manipulativos, dentre os quais 10 1234 Discentes concluintes do Curso de Pós Graduação Ensino da Matemática - Esamaz se destacam jogos geométricos planos e espaciais, do tipo "quebra cabeça", jogos que utilizam espelhos, dobraduras de papel, redes gráficas, etc. Esses tipos de jogos têm sido utilizados na sala de aula como motivadores para o estabelecimento de situações que levam a criança a identificar, diferenciar, reconhecer e comparar formas; comparar distâncias; visualizar figuras; observar movimentos realizados no plano, etc. Portanto, essas situações possibilitam que a criança vivencie precocemente atividades dinâmicas que valorizem a visualização, as características e as regularidades das formas. 2.6 Ensino da Geometria para alunos com deficiência visual O ensino de Matemática tem como objetivos desenvolver o raciocínio lógico, estimular o pensamento independente, a criatividade, a capacidade de estabelecer relações entre grandezas e de resolver problemas. Sendo a Geometria um ramo da Matemática, ensinar os conteúdos geométricos aos alunos deficientes visuais é desenvolver habilidades relacionadas ao espaço e às formas, que para os alunos privados da visão fazem toda diferença no seu desenvolvimento e na sua autonomia. É fato que os deficientes visuais fazem contato com o mundo pelo uso da linguagem e exploração tátil, alternativas à ausência da visão. Porém, o professor precisa estar atento à maneira como o deficiente visual constrói conceitos, como ele internaliza informações, pois só assim poderá trabalhar com situações que favoreçam aprendizagem desses educandos. Fazer adaptação curricular é flexibilizar o currículo, fazer os ajustes necessários, utilizar recursos que facilitem o acesso as informações e até mesmo buscar elementos para melhor avaliar esse aluno. No caso do ensino de Matemática, especialmente do conteúdo de Geometria, os professores colocam que existe uma grande dificuldade, pois nem sempre eles têm o conhecimento do conteúdo para ajudar o seu aluno durante as orientações extraclasse, já que a aula, a explicação do professor, os instrumentos são todos voltados para o aluno vidente. O ensino de Geometria tem sido alvo de críticas em muitos trabalhos, pelo seu abandono ou pela maneira como o ensino desse ramo da Matemática vem sendo realizado nas escolas. Como consequência dessas críticas e da percepção do quanto esse comportamento tem afetado a qualidade da educação matemática dos nossos estudantes, os PCNs em suas orientações enfatizam a importância do ensino de Geometria. Os estudantes com deficiência visual necessitam de materiais didáticos que sejam manipuláveis, que possuam texturas, tamanhos e formas diferentes, pois é através destes que o estudante elaborará a construção do conceito matemático. Segundo Kaleff (2016, p. 31), para o 11 1234 Discentes concluintes do Curso de Pós Graduação Ensino da Matemática - Esamaz deficiente visual a manipulação de um recurso concreto é imprescindível para que, por meio do tato, perceba a forma, o tamanho, as texturas etc., que vão determinar as características do elemento matemático modelado no recurso manipulativo. Ela ainda aponta que, este estudante pode compreender um conceito matemático através da percepção tátil, pois ao manipular um material didático concreto para construção de um conceito matemático ele obtém uma imagem visual resultante desta percepção. Kaleff destaca que o professor precisa compreender que cada material didático [ ] têm uma função didática fundamental frente às habilidades que estão envolvidas no processo mental do aluno e de como essas habilidades estão interligadas com o surgimento de obstáculos cognitivos na construção dos conceitos e relações matemáticas. Ou seja, é de grande relevância que o professor saiba utilizar corretamente o material didático, a fim de levar os estudantes a superarem os obstáculos cognitivos que surgirem no decorrer do processo de ensino e aprendizagem. Sá, Campos e Silva (2007) complementam, salientando que, para os materiais didáticos alcançarem os objetivos desejados no ensino de estudantes com deficiência visual, estes devem ser introduzidos em situações cotidianas que estimulem a investigação e que propiciem o desenvolvimento pleno dos sentidos remanescentes. A diversidade, a adaptação e a qualidade dos materiais proporcionam a aquisição do conhecimento, o diálogo e a aprendizagem. Os mesmos autores apontam alguns critérios necessários para elaboração e/ou escolha de materiais didáticos para estudantes com deficiência visual: O relevo deve ser facilmente percebido pelo tato e, sempre que possível, constituir-se de diferentes texturas para melhor destacar as partes componentes do todo. Contrastes do tipo liso/áspero, fino/espesso, permitem distinções adequadas. O material não deve provocar rejeição ao manuseio e ser resistente para que não se estrague com facilidade e resista à exploração tátil e ao manuseio constante. Deve ser simples e de manuseio fácil, proporcionando uma prática utilização e não deve oferecer perigo para os alunos. (SÁ; CAMPOS; SILVA, 2007, p. 27) Deste modo, os materiais devem ser confeccionados ou adaptados conforme as necessidades apresentadas pelos estudantes, no caso da deficiência visual, eles precisam possuir tanto estímulos visuais como táteis, atendendo os estudantes com deficiência visual e os videntes, e contribuído para comunicação e interação entre eles. 12 1234 Discentes concluintes do Curso de Pós Graduação Ensino da Matemática - Esamaz 3. METODOLOGIA A pesquisa será de cunho bibliográfico e descritivo. De acordo com Gil (2002), as pesquisas descritivas possuem o objetivo de descrever as características de uma população, fenômeno ou de uma experiência. Assim como para Andrade (2013), a pesquisa descritiva preocupa-se em observar fatos, registrá-los, analisá-los, classificá-los e interpretar, e o pesquisador não interfere neles. Essa modalidade de pesquisa “trata-se do levantamento de toda a bibliografia já publicada em forma de livros, revistas, publicações avulsas e imprensa escrita. Sua finalidade é colocar o pesquisador em contato direto com tudo aquilo que foi escrito sobre determinado assunto...” (Marconi; Lakatos, 2011, p. 43-44). Será realizada uma síntese dos assuntos relacionados ao tema que já existem na literatura, proporcionando uma discussão a respeito, trazendo conclusões sobre o estudo da Geometria para deficientes visuais. Inicialmente, foi realizada a escolha temática e definido os objetivos da pesquisa. Em seguida, foi feito o levantamento de alguns artigos relativos à temática, com a finalidade de agregar estudos relevantes para consequentemente dar credibilidade a elaboração deste projeto. Para resumir todos os procedimentos trabalhados neste projeto, com vistas a potencializar a pesquisa bibliográfica, onde foram consultadas varias literaturas relacionadas ao estudo da Geometria para deficientes visuais. CONSIDERAÇÕES FINAIS Depois do fortalecimento do cristianismo, as pessoas portadoras de deficiência visual começaram a ser vista de outra maneira: significa dizer que deixaram de ser seres do mal e passaram a ser vistas como pessoas deficientes que precisavam de ajuda. A ação da Igreja foi fundamental para essas mudanças na vida desse povo, pois a igreja era o braço acolhedor do cristianismo, na qual os portadores de deficiência tinha seu refúgio. Atualmente, os portadores de deficiência visual, ao comparar com a antiguidade, eles têm uma vida tranquila e seus direitosadquiridos por lei. Ao contrário do passado, hoje, não pode-se chamar uma pessoa portadora de deficiência visual de cega, pois, isso pode caracterizar preconceito. A educação inclusiva coloca as pessoas portadoras de algum tipo de deficiência, na mesma sala de aula das pessoas consideradas normais. Para os deficientes visuais, essa mudança, foi um grande avanço, se formos olhar o passado. Além da educação inclusiva, essas pessoas portadoras de 13 1234 Discentes concluintes do Curso de Pós Graduação Ensino da Matemática - Esamaz necessidades especiais têm ajuda da informática, que tem sido um importante instrumento de aprendizagem, por meio dos seus aplicativos disponíveis na internet e gratuitos. No ensino de Geometria será necessário utilizar recursos táteis que facilitem a percepção e a construção mental das imagens geométricas pelos deficientes visuais. A oralidade do professor também tem um papel importante na abstração dos conceitos. Assim, é fundamental buscar os meios para facilitar o processo de ensino-aprendizagem da disciplina. Os profissionais da área precisam refletir sobre essas questões, e exigir dos órgãos competentes as condições necessárias para que a inclusão se efetive na prática, e investir em formação continuada para superar os desafios que se apresentam na construção de uma escola verdadeiramente inclusiva. 14 1234 Discentes concluintes do Curso de Pós Graduação Ensino da Matemática - Esamaz REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ANDRADE, Gisele Gama. A metodologia: uma reflexão. Série-Estudos-Periódico do Programa de Pós-Graduação em Educação da UCDB, n. 33, 2013. BORGES, Cecília MF. O professor da educação básica de 5ª a 8ª série e seus saberes profissionais. 2002. 2002. Tese de Doutorado. Tese (Doutorado)-Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. CEOLIN, Teila et al. 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