Buscar

sociologia_da_educacao_2020

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 187 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 187 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 187 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

(
Sociologia da Educação
) (
Solange Menezes da Silva Demeterco
)
IESDE BRASIL S/A
2018
© 2003-2018 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito da autora e do detentor dos direitos autorais.
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO
 SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ	
D449s
3. ed.
Demeterco, Solange Menezes da Silva
Sociologia da educação / Solange Menezes da Silva Demeterco. -
3. ed. - Curitiba, PR : IESDE Brasil, 2018. 182 p. : il. ; 21 cm.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-6423-6
1. Sociologia educacional. I. Inteligência Educacional e Sistemas de Ensino. II. Título.
18-47328	CDD: 306.43
CDU: 316.74:37
Capa: IESDE BRASIL S/A.
Imagem da capa: trendobjects/johavel/iStockphoto
Todos os direitos reservados.
IESDE BRASIL S/A.
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
 (
Apresentação
)
O que você espera deste livro? Quais são suas expectativas em rela- ção à sociologia? No que a sociologia se aproxima da educação? Essas e outras perguntas nortearão nossos estudos.
Mas, antes disso, é importante esclarecer algumas questões. Inicialmente, deve-se destacar que apresentamos aqui uma síntese dos temas mais relevantes da sociologia como ciência social, com foco em ten- tar explicar a vida social em seus múltiplos aspectos. Optamos por privi- legiar alguns tópicos que são considerados básicos e depois relacioná-los à educação.
O objetivo maior é conhecer e analisar a inter-relação entre o ho- mem, a sociedade e a educação, à luz de diferentes teorias sociológicas, bem como das práticas pedagógicas ratificadoras e/ou transformadoras dos contextos cultural, social, político, econômico e ecológico.
A proposta é despertá-lo para discussões futuras a partir do emba- samento teórico que essa ciência oferece e, sempre que possível, trazer o debate para a realidade educacional brasileira. Para tanto, textos de apoio, atividades para autoavaliação, indicações de leituras complementares e filmes acompanharão o texto-base e são importantes para aprofundar os temas abordados.
A obra pretende desenvolver temas que possibilitem a compreen- são da constituição da realidade social e sua relação com a educação, por meio do estudo de aspectos dos processos sociais presentes na produção e configuração do sistema educacional.
Apresentamos, assim, a discussão de alguns conceitos fundamen- tais para a reflexão aqui proposta. No capítulo intitulado Educação e famí- lia, expomos uma síntese das transformações pelas quais passou a família ao longo do tempo e sua importância quando se discute educação. Para tanto, também se faz necessário observar como a percepção de infância surge socialmente e se modifica, inclusive com o surgimento dos colégios e de novas visões em relação à infância e à juventude.
A discussão sobre a escola à luz de alguns conceitos sociológicos compõe os próximos capítulos: A escola como instituição social, A escola e o controle social e A escola e o desvio social. Em seguida, são abordados outros conceitos também importantes para a sociologia da educação: A mudança social, A estratificação social, A mobilidade social, Educação e movimentos sociais e A educação e o Estado.
Finalmente, são apresentados alguns temas mais amplos que dizem respeito à realidade do país – Educação e desenvolvimento, Educação e cotidiano no Brasil e Problemas da educação no Brasil –, da escola e do professor – A profis- são de professor –, além de chamar a atenção para questões que exigem muita reflexão por parte do docente, no sentido de avaliar sua prática pedagógica
– Perspectivas da educação no Brasil.
Vale ressaltar, enfim, que vivemos um momento privilegiado na his- tória, uma vez que a presença da sociologia colabora para uma melhor fundamentação da discussão consciente, racional e bem fundamentada do educador na realidade social.
Bom estudo!
 (
Sobre a autora
)
Solange Menezes da Silva Demeterco
Doutora e mestre em História do Brasil pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Especialista em Currículo e Prática (Tutoria a Distância) pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Graduada em Ciências Sociais pela UFPR. Professora de Ensino Médio e Superior nas áreas de Sociologia, História, Geografia e Geopolítica.
 (
A sociologia e a educação
9
1
)
O que é sociologia?	10
A sociologia da educação e alguns conceitos básicos	13
 (
2
A sociologia da educação
17
)A socialização e seus agentes	14
2.1 Os primeiros grandes sociólogos: a educação como tema e objeto de estudo	18
2.2 (
A sociologia da educação no Brasil
27
3
)As teorias sociológicas e a educação	24
3.1 Formação da sociedade brasileira: economia
agrário-exportadora e economia industrial	28
3.2 (
Educação e família
33
4
)A sociologia continua seu caminho: dos anos 1970 aos dias atuais	30
4.1 As transformações da família	34
4.2 (
Concepções de infância e juventude
41
5
)Educação e família no Brasil	38
5.1 O sentimento de infância – o trabalho de Ariès	42
5.2 (
A escola como instituição social
51
6
)O surgimento das escolas e as visões da infância	44
6.1 A escola como organização	54
6.2 (
A escola e o controle social
59
7
)Algumas possibilidades	55
7.1 Padrões sociais de comportamento	61
 (
Sumário
)
 (
6
) (
Sociologia da Educação
)
 (
Sumário
)
 (
A escola e o desvio social
67
8
)
8.1 Comportamentos desviantes	69
8.2 (
A mudança social
75
9
)Conformidade versus conformismo	70
9.1 Fatores que desencadeiam a mudança	77
9.2 (
A estratificação social
85
10
)A ação pedagógica e a mudança social	80
10.1 Formas de estratificação social	88
10.2 (
A mobilidade social
95
11
)A educação e a estratificação social	91
11.1 Tipos de mobilidade social	96
11.2 (
12
Educação e movimentos sociais
103
)Educação como fator de mobilidade social	98
12.1 As formas de luta e ação coletiva	106
12.2 (
A educação e o Estado
115
13
)Alguns tipos de movimentos sociais e educação	109
13.1 O conceito de Estado e suas funções	118
13.2 (
Educação e desenvolvimento
123
14
)Estado e educação no Brasil	119
14.1 As desigualdades sociais e o subdesenvolvimento	126
14.2 Origens históricas do subdesenvolvimento	127
14.3 (
7
)As desigualdades sociais e o papel transformador da educação	128
 (
Sociologia da Educação
)
 (
Educação e cotidiano no Brasil
131
15
)
 (
Problemas da educação no Brasil
139
16
)15.1 O difícil cotidiano dos “menos iguais”	134
16.1 O fracasso escolar: uma tentativa de explicação	143
 (
A profissão de professor
149
17
)
17.1 A questão da formação profissional	151
17.2 (
Perspectivas da educação no Brasil
159
18
)O ofício de professor e seu papel na sociedade	153
18.1 A questão da diversidade cultural – o multiculturalismo	163
18.2 A democratização da educação	164
 (
Sumário
)
 (
8
) (
Sociologia da Educação
)
 (
1
A sociologia e a educação
)
A sociologia nasceu como ciência com o objetivo de explicar as mudanças sociais produzidas em um momento histórico, que teve em seu contexto grandes transfor- mações sociais, cujos marcos principais foram a Revolução Industrial, a Revolução Francesa e a formação dos Estados Nacionais. Esse momento de mudanças radicais na sociedade e na mentalidade das pessoas, chamado de Modernidade, em decorrência do surgimento e da consolidação do capitalismo como modo de produção, trará consigo a necessidade de se pensar teoricamente os novos paradigmas da sociedade.
 (
9
)Mas por que sempre que se fala em sociologia não falta quem pergunte para que ela serve? Por que não acontece o mesmo com a maioria das outras ciências? A resposta está relacionada com a própria natureza dessa ciência que tem o homem em interação e a sociedade como objeto de estudo. As questões que se colocam de imediato são: por que isso se tornou necessário? O que teria mudado tanto na vida do homem ou da sociedade como um todo que demandaria a existência de umanova ciência para dar conta de explicar essas transformações? Assim, está feito o convite à reflexão sobre a relação existente entre sociedade e educação pela perspectiva sociológica.
 (
Sociologia da Educação
)
A sociologia da educação é uma ciência produtora de conhecimentos específicos que levam à discussão a democratização e o papel do ensino, promovendo uma reflexão sobre a sociedade e seus problemas relacionados à educação, tendo como subsídios alguns concei- tos sociológicos como processos sociais, socialização, poder, status, grupo social, ação social, mudança social e outros. Vamos procurar perceber quais são os valores sociais que definem os objetivos da educação, do ensino e seus métodos, além de tentar estabelecer as relações existentes entre a sociedade e o que se privilegia ensinar, e como isso é feito no cotidiano da escola e fora dela, por outras instituições sociais – tais como a família, por exemplo.
É fundamental entendermos que os sistemas educacionais relacionam-se com as insti- tuições sociais e com as determinantes culturais que regem a vida em sociedade.
Também é importante discutir sobre o papel do educador no atual contexto educacio- nal, bem como alguns dos vários problemas educacionais brasileiros. O saber docente tem sua especificidade a partir do princípio de que é um ofício cuja necessidade de capacitação nunca se esgota. Além disso, o papel da escola cresceu e se modificou, exigindo ainda mais de todos os atores envolvidos no processo educativo.
1.1 O que é sociologia?
Partindo do conceito de Sociologia, sabemos que os homens diferenciam-se dos animais devido a sua capacidade de se relacionar com os demais de maneiras diferentes, especial- mente pela linguagem, código que lhe possibilita a comunicação com seus semelhantes,tor- nando-o um ser social. E qual a importância disso para nós? Esse é um dado fundamental para entendermos como o homem biológico torna-se um ser social capaz de ter e produ- zir cultura – que envolve a todos e modela nossa personalidade – e como internalizam-se as regras sociais, maneiras de ser, de pensar e de agir, transmitidas através do processo de socialização. O antropólogo brasileiro Roque de Barros Laraia (1989, p. 46) nos diz que “o homem é o resultado do meio cultural em que foi socializado”.
O homem precisa compreender-se, compreender os outros e buscar respostas para as perguntas que a vida lhe coloca, participando de forma diferente de sua cultura. Ao fazer isso, está sempre produzindo e internalizando padrões e caracteres culturais. A cultura é dinâmica e opera de várias formas, condicionando a visão de mundo do homem e interferindo no plano biológico. Finalmente, é preciso destacar que a cultura é dinâmica e tem sua própria lógica (LARAIA, 1989). Tentar captar essa lógica é o começo para respeitar as diferenças e a plurali- dade cultural, como sendo algo que deveria agregar e não separar os homens.
Devemos sempre lembrar que “o modo de ver o mundo, as apreciações de ordem moral e valorativa, os diferentes comportamentos sociais e mesmo as posturas corporais são assim produtos de uma herança cultural, ou seja, o resultado da operação de uma determinada cultura”. (LARAIA, 1989, p. 70). Caso contrário, cai-se no chamado etnocentrismo que, ain- da conforme esse estudioso (1989, p 75), constitui-se na “crença de que a própria sociedade é o centro da humanidade ou mesmo a sua única expressão”, o que desencadeia a autodeter- minação de alguns povos, a intolerância e o preconceito nos mais variados graus.
 (
1
) (
A sociologia e a educação
)
 (
 
 
1
) (
A sociologia e a educação
)
 (
10
) (
Sociologia da Educação
)
 (
11
) (
Sociologia da Educação
)
Vimos, então, que a sociologia é uma ciência e, como tal, deve ter uma base teórico-metodológica que serve para estudar os fenômenos sociais, tentando explicá-los e analisando os homens em suas relações de interdependência. Utiliza-se de estratégias e téc- nica de pesquisa que lhe são próprias e que lhe garante o caráter de cientificidade.
Assim, compreender as diferentes sociedades e culturas é um dos objetivos da sociolo- gia, que irá tomar como objeto de estudo exatamente essa nova sociedade, que se configurou por meio das transformações pelas quais passou a humanidade, a partir do final do século
XVIII. Essas mudanças estão relacionadas com as revoluções burguesas que eclodem em um momento em que a ordem reinante não conseguia mais dar respostas às demandas das populações cada vez mais empobrecidas e oprimidas, em meio à nobreza, que usufruía de privilégios estabelecidos às custas do trabalho e da exploração desse povo, durante o cha- mado Antigo Regime1.
Nesse contexto, a Revolução Francesa constitui-se num dos momentos de maior expres- são na história do Ocidente – no tocante aos movimentos sociais e políticos – apresentando uma proposta baseada nas ideias de liberdade, igualdade e fraternidade. Seu poder transforma- dor se concretizou em várias regiões do mundo e repercutiu a ponto de mudar para sempre a história do homem e da sua vida em sociedade.
Sendo decisiva para a transição do feudalismo2 ao capitalismo, essa revolução aconte- ceu num período de violentos conflitos e lutas sociais, levando ao poder uma nova classe social, a burguesia, que viria a acabar com os privilégios feudais e colocar abaixo a aristocra- cia que deles usufruía. Essa elite social vivia indiferente à pobreza da maioria, especialmente as populações rurais, que se debatiam com a alta dos preços, as más colheitas, o êxodo rural em razão do avanço das atividades têxteis, o descaso e o abandono. As graves repercus- sões sociais e econômicas desse quadro foram a base que impulsionou os revolucionários. Essa revolução ultrapassou os limites da França e seus ideais se estenderam por toda a Europa, ameaçando hierarquias e privilégios.
Outros momentos de ruptura geraram transformações significativas para o mundo. A Revolução Industrial constituiu-se em outro momento importantíssimo para entender- mos o contexto do surgimento da sociologia como ciência. Trata-se de acontecimentos que mudaram a história para sempre.
A partir da instalação definitiva do capitalismo e da nova sociedade industrial, tem-se um modelo de produção pautado na industrialização, que dissocia tecnologia, natureza e homem. Ocorreu inicialmente na Inglaterra, que criou as condições políticas e econômicas que possibilitaram a implantação dos ideais burgueses. Dentre os fatores que contribuíram para esse pioneirismo, pode-se citar a superioridade tecnológica e científica, a consolidação
1 Termo que designa a organização político-institucional e a ordem social vigente na França, até a Revolução de 1789, pautada na monarquia absoluta, sociedade estamental e direitos feudais.
2 Feudalismo foi um fenômeno histórico restrito à Europa na Idade Média; tratava-se de um sistema econômico, político, social e cultural, definido pelas relações servis de produção, em que o senhor é o proprietário da terra e o servo depende dele, devendo cumprir obrigações servis, tanto da prestação de serviços gratuitos quanto na entrega de parte da produção agrícola.
da monarquia parlamentar, a disponibilidade de mão de obra, a exploração do carvão como fonte de energia e a acumulação de bens de capital.
Novas formas de organização, que de certa maneira “abalaram” a ordem social esta- belecida, trouxeram inquietações aos setores mais conservadores da sociedade europeia da época e representaram mais que uma revolução técnico-científica. A separação do homem, dos meios de produção, do local de trabalho e o processo de urbanização que cresceu in- tensamente, trazem consigo uma profunda mudança social – que transformou a vida dos homens com novas formas de trabalho, elevados custos sociais e ambientais. A exploração dos recursos naturais se realizavam em uma intensidade nunca vista e sem nenhum critério que não fosse o avanço da própria industrialização.
Além das novas formas de trabalho, o próprio significado do que era o trabalho mudou nesse momento. O trabalho,que antes era visto como um castigo divino em razão do pecado original, adquiriu novo sentido. Tornou-se uma condição básica para a salvação e, além disso, uma forma de se conseguir riqueza, prosperidade e dignidade. O trabalho passa a ser visto e vivido de outra maneira, não mais como algo humilhante, degradante ou “privilégio” dos escravos (tal como era visto na Antiguidade) ou dos servos (no mundo feudal). Adquire um caráter de atividade que dignifica e qualifica o homem, podendo gerar lucro e riqueza.
Passa a existir uma separação entre o trabalhador e o produto final do seu trabalho, uma vez que o capitalista é quem passa a exercer o controle técnico do processo de produção e a deter os chamados meios de produção (terra, ferramentas e instrumentos de trabalho). O trabalhador tem “apenas” sua força de trabalho e passa a vendê-la em troca de um salário, alienando-se do processo e perdendo a visão global da produção.
A transição do século XIX para o século XX foi marcada por movimentos operários e sindicais – que já eram fruto dos novos ideais iluministas e das revoluções que eclodiram nesse período – que abalaram ainda mais a ordem social estabelecida, exigindo ferramentas para pensar os conflitos e as contradições deles decorrentes. A sociedade de classes que aparece nesse novo contexto e que viria substituir a ordem feudal, passa a ser marcada pela divisão do trabalho que, por sua vez, traz conquistas e frustrações para todos os atores so- ciais. A sociedade industrial vive crises e conflitos, especialmente pelo rompimento entre o capital e o trabalho, que divide e agita a sociedade como um todo.
Ao lado dessas, outras mudanças aconteceram, especialmente na maneira das pes- soas viverem, morarem, trabalharem e se organizarem em sociedade. As cidades mudam e muitas delas, especialmente as industriais, transformaram-se em locais insalubres e desa- gradáveis para os operários viverem. Faltam moradias (e as existentes, em sua maioria, aco- modam muitas pessoas de forma precária); as jornadas de trabalho são longas e exaustivas; crianças, idosos, gestantes e mulheres, em geral, são empregados em péssimas condições. A noção de privacidade emerge e transforma profundamente a vida em família, a concepção de criança, juventude e as relações entre os homens. Hábitos, costumes e ideias se transfor- mam rapidamente, gerando, inclusive, uma nova mentalidade e a separação entre o público e o privado – explicitada, sobretudo, pela separação do local de trabalho e moradia.
As novas formas de organização do trabalho e da família seguiram modificações. Isso foi decisivo para a constituição da sociologia como ciência, uma vez que será a área do conhecimento que terá a “missão” de pensar essa nova sociedade que surgia.
Do que vimos até agora, podemos concluir que o homem passa a ser o grande objeto de estudo da nova ciência – num contexto que estava se tornando cada vez mais racional e científico – em detrimento às análises baseadas nas explicações e dogmas religiosos, filosó- ficos e do senso comum. Essa inquietude intelectual estimulou e instigou a reflexão sobre o homem, a vida social e a sociedade como objetos de estudo.
1.2 A sociologia da educação e alguns conceitos básicos
E assim como existem várias culturas e várias sociedades, tem-se também mais de uma sociologia. Dentre essas várias sociologias, a sociologia da educação – ciência que investiga a escola como instituição social, analisando os processos sociais envolvidos – assim como as demais áreas sociológicas, tem como base as teorias sociológicas. O que importa discutir, neste momento, é que todas aquelas transformações vividas pela sociedade trouxeram no- vos temas para discutir a educação.
Xavier Carmuro Pessoa afirma que a sociologia da educação
põe em relevo a transmissão da cultura através da educação sistemática, paras- sistemática e assistemática, bem como a mútua influência entre a educação e os grupos sociais, as instituições sociais, a estratificação social, o controle social, o desvio social, o desenvolvimento social, a mudança social etc. Enfoca, também, as relações intergeracionais e o condicionamento sociocultural da personalidade. Estuda, ademais, a escola como instituição social, como grupo social e o status e papéis na organização escolar. Apresenta, ainda, como a educação se situa nas diversas formações sociais [...]. Investiga, por fim, as perspectivas da educação. (1997, p. 15)
Partindo desse conceito, pode-se perceber como o campo de estudos da sociologia da educação pode ser amplo e diversificado, uma vez que não se pode esquecer que a educação e o processo educativo não estão descolados da sociedade na qual estão inseridos.
Tanto o educando quanto o educador, assim como todo o sistema educacional, estão inseridos nesse contexto, sendo produtores e resultados da interação que acontece durante todo o tempo, construindo social e historicamente os fatos e eventos que serão – ou não – eleitos pela sociologia para serem analisados. Deve-se frisar aqui que a sociologia pode ter um caráter conservador ou transformador, conforme a teoria que se busca para pautar as pesquisas e análises sociológicas.
É importante ressaltar que os primeiros teóricos da sociologia não analisaram diretamen- te os problemas educacionais, o que não os impediu de perceberem a ligação entre o sistema escolar e o restante da sociedade, discutindo questões relacionadas à educação, seus diferentes
atores, os projetos educacionais, a questão do poder, a questão curricular, entre outras. A escola surge como uma instituição cuja função principal é “preparar” o indivíduo para a vida em so- ciedade, além de desenvolver suas potencialidades e capacidades individuais.
1.3 A socialização e seus agentes
Podemos começar pela noção de interação social, processo por meio do qual o homem se constrói como ser social, isto é, adquire seu caráter de humanidade, diferenciando-se de outros seres vivos. Ao estar em relação com outro, o homem concebe sua identidade.
A ideia de processo social é básica para se entender a própria dinâmica da sociedade, que não é estática. Trata-se da maneira como os atores sociais se relacionam. É a comunica- ção que garante que o ser biológico se torne um ser social e sociável. Podem ser processos associativos (que tendem a aproximar) ou dissociativos (que tendem a separar), sendo que os mais comuns são o isolamento, o contato, o conflito, a competição, a interação, a coopera- ção, a adaptação, a acomodação e a assimilação. Em diferentes graus, cada um deles implica uma maior ou menor proximidade entre os indivíduos, de acordo com seus interesses, que ligam-se à classe social, ao status e aos papéis desempenhados pelos indivíduos.
O conceito de classe social, por sua vez, relaciona-se com mobilidade social, diferen- temente da noção de estamentos3, que se baseavam em hierarquia e/ou códigos de honra, muitos ligados à própria condição de nascimento. De acordo com Vieira (1996, p. 58), as classes sociais
organizam-se em camadas sociais fundadas na separação entre trabalhadores e proprietários dos meios de produção, às vezes com consciência social correspondente às suas condições de existência [...] e admitem mobilidade entre si, abrindo-se aos movimentos sociais e revelando também conflitos, principalmente quanto à distribuição do poder entre elas, na disputa sobre o domínio econômico, político e intelectual na sociedade industrial.
Já status social é definido socialmente e diz respeito ao lugar ou à posição que o indiví- duo ocupa na estrutura social, de acordo com o consenso do grupo social, podendo advir mais ou menos prestígio, conforme os elementos que o determinam e as funções a ele re- lacionadas. A partir dessa posição, ao indivíduo caberão determinados papéis, que podem ser definidos como conjuntos de imagens e expectativas que são ligadas a cada status, deter- minando como as pessoas deverão se comportar em suas relações com ocupantes de status superior e/ou inferior.
Um indivíduo desempenha também vários papéis na sociedade,por exemplo, o pro- fessor que em determinadas sociedades faz parte de uma categoria social de certo prestígio, além de desempenhar também outros papéis, como de marido, pai, membro de um clube etc. Na verdade, o que está em jogo aqui é uma relação de poder, visto que o comportamento
3 Estamento é uma camada social semelhante à casta, porém, mais aberta. Numa sociedade esta- mental, a possibilidade de ascensão social é difícil, mas não impossível como na sociedade de castas. A sociedade feudal é um exemplo de sociedade estamental (OLIVEIRA, 2003, p. 240).
dos indivíduos está ligado aos papéis que desempenham e ao seu status na sociedade, o que, por outro lado, implica em normas e sanções que compõem esses papéis. A superioridade de um indivíduo advém do poder, isto é, da força, do prestígio e do reconhecimento que o grupo vê nele, com base em sua posição social.
Mas o que vem a ser socialização, fundamental para se entender o processo social e tam- bém o processo educativo? A criança quando internaliza valores e regras aprendidos com a família, principal grupo de socialização, está se “capacitando” para a vida em sociedade, garantindo inclusive a perpetuação do próprio grupo social (entendido como coletividade) e a formação da sua personalidade. A família é vista como um órgão de controle social e agente da socialização na medida em que norteia e regula comportamentos (LENHARD, 1985, p. 115).
A socialização é importante para a formação da consciência humana e social, e interna- lização da cultura, que acontece ao longo da vida inteira. A difusão dos valores comuns que compõem a cultura de um grupo social se dá de várias formas, especialmente na atualidade, quando os diversos meios de comunicação, como as redes sociais, colocam-se ao lado da família e da escola como agentes da socialização. Como existem várias culturas e várias sociedades, pode-se deduzir que a socialização deve respeitar e considerar essa pluralidade cultural. E a educação exerce um papel fundamental nesse processo.
Conhecer os aspectos culturais de seu grupo possibilita a transformação de um indiví- duo em um ser social. A socialização começa na infância e segue pela vida toda, sempre que se interiorizam aspectos da cultura.
O processo educativo adquire cada vez mais importância ao longo da vida, uma vez que é pela ação educativa e no contexto da aprendizagem que se aprendem os papéis que se deve representar. Sempre que houver um processo educativo, haverá socialização.
 (
Dicas de estudo
)
Filmes:
· GERMINAL. Direção: Claude, Berri, França, 1996, 170 min.
Mostra a realidade dos operários franceses nas minas de carvão, no final do século XIX, convivendo com a fome, a miséria e as más condições de trabalho, que acabam gerando conflitos e manifestações contra os patrões. O que acontece nessa mina é um retrato do que acontecia nas fábricas em geral, nos primórdios da Revolução Industrial. Sem o amparo de uma rede de proteção social, os trabalhadores eram expostos a todo tipo de exploração, em nome do alto lucro dos capitalistas. Observe as mudanças que já acon- teceram na realidade das fábricas até os dias atuais.
· SOCIEDADE dos poetas mortos. Direção: Peter Weir. EUA, Abril Vídeo, 1989, 128 min.
A história se passa num internato masculino, em meados de 1959, e apresenta um mo- delo de escola de ensino tradicional, em que tudo acontece com base em concepções de tempo e espaço predeterminados, num modelo dominador de ensino. Por meio da
prática de um professor que passa a atuar na instituição, tem-se a ideia do que seria um profissional representante de um novo ideal pedagógico e a discussão de vários dos conceitos apresentados neste capítulo. Procure analisar o filme sob o ponto de vista dos conceitos apresentados, tais como poder, status, papel social, ação educativa e socializa- ção. De que forma eles aparecem?
Leituras:
Todas as obras a seguir são introdutórias aos temas discutidos ao longo do capítulo e fornecem mais elementos sobre os fatos/eventos decisivos para se entender as profundas mudanças que se verificaram no mundo, do final do século XVIII ao final do século XIX, e que contribuíram para o surgimento da sociologia.
· CATANI, Afrânio Mendes. O que é capitalismo? Ed. rev. e amp. São Paulo: Brasiliense, 2011. (Coleção Primeiros Passos).
· LALLEMENT, Michel. História das ideias sociológicas. Das origens a Max Weber e de Parsons aos contemporâneos. Petrópolis: Vozes, 2004. 2 v.
· MARTINS, Carlos Benedito. O que é sociologia. São Paulo: Brasiliense, 2001.
· SANTOS, José Luiz dos. O que é cultura? São Paulo: Brasiliense, 2006. (Coleção Primeiros Passos).
 (
Atividades
)
1. Procure escrever, com base no que estudamos até o momento, o que é a sociologia, destacando qual seria seu objetivo maior.
2. A partir do século XVIII, a humanidade passou por muitas transformações e espe- cialmente dois fatos históricos estão entre os principais geradores dessas mudanças. Quais foram eles? Como isso se relaciona com o surgimento da sociologia?
3. Pense na sua família e procure perceber como ela exerceu sua ação socializadora com você. Faça um pequeno comentário explicando como isso aconteceu.
 (
2
A sociologia da educação
)
As teorias sociológicas fornecem alguns conceitos que servem de embasamento teórico também para a sociologia da educação. Mas é interessante lembrar que os gran- des sociólogos não fizeram da educação o seu objeto de estudo prioritário, o que não impede de buscar em suas obras algumas referências, e até mesmo algumas análises, que tenham feito sobre alguma questão que colabore para a compreensão dos proble- mas educacionais.
 (
17
)O desenvolvimento da sociologia como ciência não foi linear ou sem embates entre os teóricos, pelo contrário, em toda ciência os confrontos aconteceram e em alguns momentos o que parecia ser uma “lei” foi questionado, repensado e isso acabou gerando novas referências teórico-metodológicas.
 (
Sociologia da Educação
)
É muito importante lembrar sempre que a
sociologia é uma disciplina potencialmente humanista porquanto pode aumen- tar a área de escolha que os homens têm sobre suas ações. Ela lhes permite lo- calizar as fontes a que devem recorrer se quiserem mudar as coisas, e os meios necessários, dando ao homem, dessa forma, uma base científica potencial para ação, reforçando-o, em vez de constrangê-lo numa camisa de força do determi- nismo. (COULSON; RIDDELL, 1979, p. 123)
Assim, fica evidente o caráter questionador e, de acordo com o embasamento teórico que se adote, potencialmente transformador da sociologia. Pensar sociologicamente é pen- sar de forma crítica e, segundo o sociólogo Cláudio Souto (1987, p. 5), “a atitude sociológica é uma atitude de conhecimento”. Portanto, é preciso conhecer a sociedade para melhor com- preendê-la e transformá-la.
Novas formas de pensamento, como era de se esperar, visto que nenhuma ciência está descolada de seu tempo, vão tomar conta dos pensadores da época à medida que novos pro- blemas se apresentam para análise. E é nesse momento que os primeiros teóricos começam a tentar dar à nova ciência um caráter de cientificidade, dotando-a de um corpo conceitual e de um método próprio para estudar os fenômenos sociais.
2.1 Os primeiros grandes sociólogos: a educação como tema e objeto de estudo
Entende-se educação como um caminho para propiciar o pleno desenvolvimento da per- sonalidade, das aptidões e das potencialidades, tendo como objetivo final o exercício pleno da cidadania. Trabalha-se com a ideia de que se deve lutar para combater qualquer visão de que a educação não seria mais do que mera instrução. De acordo com o professor Juan Carlos Tedesco (2004, p. 34), educação
é mais do que apenas a transmissão de conhecimentos e a aquisição de competên- cias valorizadas no mercado. Envolve valores, forja o caráter, oferece orientações, cria um horizonte de sentidos compartilhados, em suma, introduz as pessoas numa ordem moral. Por isso mesmo, também deve dar conta das transformações que experimenta o contexto culturalimediato em que se desenvolvem as tarefas formativas, ou seja, o contexto de sentidos e significados que permite que os sis- temas educacionais funcionem como meio de transmissão e integração culturais.
Assim, mudanças culturais, valores e sentimentos que são partilhados por grupos sociais acabam definindo novos padrões que, invariavelmente, refletirão no processo educativo. A sociologia da educação surge pensando nesses termos e buscando contri- buir para levantar questões relacionadas às demandas impostas pela própria sociedade. Dessa forma, de acordo com a socióloga Eva Maria Lakatos (1999, p. 25), a sociologia da educação “examina o campo, a estrutura e o funcionamento da escola como instituição social e analisa os processos sociológicos envolvidos na instituição educacional”. Essa
 (
2
) (
A sociologia da educação
)
 (
 
 
2
) (
A sociologia da educação
)
 (
18
) (
Sociologia da Educação
)
 (
19
) (
Sociologia da Educação
)
definição dá conta de explicar o que é pensar sociologicamente a educação. Mas, até chegar a isso, muito se avançou.
Auguste Comte (1798-1857) deu o primeiro passo e a quem é atribuído o uso, pela pri- meira vez, da palavra sociologia1. É de Comte também a preocupação de dotar a sociologia de um método, preferencialmente alguma coisa bem parecida com os métodos usados pelas ciências naturais, para que não restassem dúvidas sobre o fato de ser ela uma ciência – a físi- ca social, como ele a definia inicialmente.
Acreditava ser necessário que fossem elaboradas leis do desenvolvimento social, isto é, leis que deveriam ser seguidas para que a vida em sociedade fosse possível. Essa maneira de ver a sociedade (como alguma coisa que poderia ser controlada apenas por normas, regras e leis) e a sociologia (como a ciência que se encarregaria de fornecer os instrumentos para isso), se dá no contexto do Positivismo.
Comte priorizou a noção de consenso, que se apoiaria em ideias e crenças comuns, se não a todos, ao menos à maioria da sociedade, e na supremacia do todo sobre as partes. Entretanto, não problematizou o consenso, ou seja, não viu o consenso social como algo que não acontece por si só, mas quando os indivíduos estabelecem relações entre si, durante a socialização. Também desconsiderou o caráter problemático do consenso, já que o homem é um ser sociável, apesar de nem sempre essa socialização se dar de forma tranquila ou pací- fica, existindo os confrontos, as divergências e os conflitos. Finalmente, deve-se lembrar que a sociedade é dinâmica e não pode ser controlada apenas por um conjunto de leis.
Vamos apontar alguns aspectos centrais das obras dos três grandes sociólogos – Durkheim, Marx e Weber –, lembrando que muitos outros deram sua contribuição para a discussão dos fenômenos sociais ligados à educação.
Émile Durkheim (1858-1917), baseado nas contribuições de Comte, publicou os pri- meiros trabalhos de pesquisa2 na sociologia e mostrou os limites das concepções anteriores, porque acreditava que, à medida que a sociedade cresce, inclusive em termos numéricos, aumentam os papéis a serem desempenhados pelos atores sociais, o que acarreta mudanças nas regras e normas da sociedade.
Durkheim analisou as estruturas e instituições sociais, bem como as relações entre o indivíduo e a sociedade, considerando as novas relações de poder que se configuravam na Europa da sua época. A sociedade consumista que surgia e o crescente individualismo preo- cupavam o autor, que via aí uma forte possibilidade de desagregação social.
Ele via a educação como um processo contínuo e como um caminho em direção à or- dem e à estabilidade, conforme determinados valores éticos fossem passados. Refletir, co- nhecer e tentar explicar os processos da ação educativa, sempre considerando sua evolução histórica, possibilitaria a tomada de decisões que pudessem levar à transformação social.
Em suas obras, Durkheim afirma que a educação é uma parte da sociedade, uma ins- tituição social, um produto histórico, um reflexo da sociedade na qual se insere, em que a coletividade se impõe sobre o indivíduo. Ela deve procurar restabelecer o consenso, a
1 Palavra como radical latino socio (sociedade) e o radical grego sofia (saber, conhecimento).
2 Intitulados A divisão do trabalho social, As regras do método sociológico e O suicídio.
manutenção e a continuidade do grupo social, transformando o homem em um ser social, interiorizando os valores e as maneiras de ser, pensar e agir do seu grupo. Isso tudo serviria para se criar e manter mecanismos de regulação social, valorizando, então, a disciplina, a obediência e o respeito à autoridade. Dizia também que a sociedade é mais do que a soma de seus membros e que, portanto, deveriam ser analisadas as suas interações e o sistema que delas se origina. Enfatiza em sua obra que o comportamento dos grupos sociais não pode ser reduzido ao comportamento dos indivíduos que fazem parte desse grupo.
Parte da noção de fato social, isto é, da maneira de pensar, agir e sentir de um grupo social, entendendo a sociedade como um conjunto de fatos sociais que só poderiam ser estudados se fossem tratados como coisas. Caracterizou o fato social como sendo comum a todos os membros da sociedade ou à sua maioria (princípio da generalidade); externo ao in- divíduo, ou seja, que existe independentemente da sua vontade (princípio da exterioridade); e coercitivo, uma vez que pressiona os indivíduos para que sigam o comportamento espe- rado, estabelecido como sendo o padrão (princípio da coercitividade). Daí a possibilidade concreta que Durkheim percebeu de tratar o fato social como coisa.
Distingue dois tipos de sociedades, pautadas no que chamou de solidariedade mecânica e solidariedade orgânica, dependendo da intensidade dos laços que unem os indivíduos. Para esse sociólogo,
as sociedades antigas apresentavam a divisão do trabalho fundamentada na so- lidariedade mecânica. Nesta, cada indivíduo conseguia realizar um conjunto de atividades [...] onde havia um pequeno número de habitantes e certa semelhança de funções [...] permitindo a um indivíduo ou a outro executar tais ou quais tare- fas devido à aproximação entre elas. (VIEIRA, 1996, p. 53)
Esse novo quadro estimula o desenvolvimento tecnológico e uma maior divisão do trabalho, criando uma distinção importante entre as tarefas e levando à solidariedade orgânica, “que significa que cada tarefa é uma função relacionada com as outras funções que representam outras tarefas, não ocorrendo fragmentação, e sim, vinculação organiza- da das atividades na sociedade” (VIEIRA, 1996, p. 54). Assim, toda e qualquer atividade teria um objetivo social e isso levaria ao consenso e ao equilíbrio social, ideia de certa forma bastante conservadora, uma vez que não contempla a mudança social. Acredita que as desigualdades seriam entendidas por meio do estudo do poder e da dominação. Estuda a religião, por exemplo, com base na premissa de que ela, assim como a educação, é um fenômeno universal de integração social.
Para Durkheim, os conflitos sociais de sua época seriam transitórios e poderiam ser resolvidos a partir do momento em que os indivíduos aceitassem ocupar sua função e seu lugar na sociedade. Acreditava que na regulação realizada no campo social poderia conter excessos e/ou desvios que percebia na sociedade do seu tempo.
Sua preocupação com a ordem e com a integração social é que o leva a se interessar pe- los problemas da educação. Segundo a pedagoga e socióloga Maria de Lourdes R. Tura, para Durkheim, a educação “estava assim envolvida em um espírito de missão (...) [Seria] preciso criar novos mecanismos de regulação social e a educação moral tinha aí um papel funda- mental a cumprir, internalizando os valores da coletividade, a importância da disciplina,
do atendimento à autoridade e do controle da violência” (2002, p. 59). Segundo a autora, a sociologia orientaria a ação educativa, atribuindo-lhe significado (p. 60). Uma vez que as práticas educativas são, como os fatos sociais, parte de um todo, se integram para a reali- zação deum fim comum que, para Durkheim, seria a forma pela qual o indivíduo tomaria consciência da coletividade e da melhor maneira para agir em comunhão com os demais membros dessa sociedade.
Outro teórico que muito contribuiu para o desenvolvimento da sociologia e das teo- rias sociológicas foi Karl Marx (1818-1883), que vê a sociedade como um todo composto de várias partes, como a economia, a política e as ideias (a cultura). Mas, para ele, a economia seria a base de toda a organização social e as explicações para os fenômenos sociais viriam do aprofundamento da análise econômica.
Marx pensou de forma crítica sobre o Estado, que de alguma forma legitimaria a apro- priação por uma minoria dos meios de produção, com o objetivo de explorar a força de trabalho do proletariado, classe que para Marx seria revolucionária. Mas, para tanto, deve- ria conhecer a si mesma em termos teóricos, ao mesmo tempo em que implementaria uma prática social que seria reflexo dessas escolhas conscientes.
Ele parte da premissa de que é em torno da produção que a sociedade se organiza, sendo o homem o sujeito de sua própria história, pelo trabalho e pelas atividades criativas que desenvolve. É pelo trabalho, segundo Marx, que o homem se constrói e é em torno da produção que toda a sociedade se organiza – as condições de trabalho são determinantes. Entretanto, para que a transformação se realize, com base na atuação do proletariado, é preciso que a prática seja orientada pela teoria. Daí a importância da sociologia para Marx.
De acordo com a socióloga Maria Cristina C. Costa (2005, p. 125),
a ideia de uma sociedade “doente” ou “normal”, preocupação dos cientistas so- ciais positivistas, desaparece em Marx. Para ele, a sociedade é constituída de relações de conflito e é de sua dinâmica que surge a mudança social. Fenômenos como luta, contradição, revolução e exploração são constituintes dos diversos momentos históricos e não disfunções sociais.
A noção de classe social é fundamental na análise que Marx faz dos problemas oriun- dos, a seu ver, da nova ordem instaurada pelo capitalismo, pautada, segundo ele, na explo- ração da força de trabalho (classe dominante sobre classe dominada – a burguesia sobre o proletariado). Para ele, a mudança social estaria relacionada com a luta de classes e os estu- dos sociológicos deveriam ter como objetivo a transformação social, que só aconteceria com a destruição do capitalismo e sua substituição pelo socialismo.
A questão da divisão social do trabalho, a luta de classes e o papel desempenhado pela ideologia das classes dominantes poderiam ter seus efeitos diminuídos com a construção do conhecimento como forma de superação do que chamou de alienação, conceito extremamen- te importante para a teoria marxista que, segundo Costa (2005, p. 113), torna-se
uma peça-chave de sua teoria para a compreensão da exploração econômica exercida sobre o trabalhador no capitalismo. Indústria, a propriedade privada e o assalariamento alienavam ou separavam o operário dos ‘meios de produção’
– ferramentas, matéria-prima, terra e máquina – e do fruto de seu trabalho, que se tornaram propriedade privada do empresário capitalista.
Politicamente, também o homem se tornou alienado, pois o princípio da represen- tatividade, base do liberalismo, criou a ideia de Estado como um órgão político im- parcial, capaz de representar toda a sociedade e dirigi-la pelo poder delegado pelos indivíduos. Marx mostrou, entretanto, que na sociedade de classes, esse Estado representa apenas a classe dominante e age conforme o interesse desta.
Assim, superar a prática da alienação dependeria diretamente da prática que o homem, visto como sujeito histórico, empreendesse no sentido de transformar a sociedade. E, para dar conta de entender não só o capitalismo, mas também a própria natureza da organiza- ção econômica do homem, é que Marx cria uma teoria cujos princípios fundamentais são explicitados no materialismo-dialético, seu método de análise por excelência, que propõe exatamente perceber que de um embate, de um conflito, sempre surge alguma coisa nova e diferente daquelas que o originaram. A maneira como as forças produtivas e as relações de trabalho estão organizadas é o que mostraria como a sociedade se estrutura, uma vez que as forças produtivas compõem o que ele chamou de condições materiais de existência, constituin- do-se nas mais importantes formas de relações humanas.
A luta de classes e a valorização da mercadoria, guiadas por uma ideologia da classe dominante, segundo Marx, só pode ser superada com uma prática consciente, em que se busque a construção do conhecimento para poder promover a transformação social.
Diante de tudo isso, não é difícil imaginar como Marx via o processo educativo. Não acreditava na ideia de que a educação poderia ser a atividade que seria capaz de pro- mover por si mesma a transformação que a sociedade necessitaria. Pelo contrário, o filósofo Leando Konder explica que para Mark
a atividade do educador era parte do sistema e, portanto, não podia encaminhar a superação efetiva do modo de produção entendido como um todo. O educador não deveria nunca ser visto como um sujeito capaz de se sobrepor à sua socieda- de e capaz de encaminhar a revolução e a criação de um novo sistema.
A atividade do educador tem seus limites, porém, é atividade humana, é práxis. É intervenção subjetiva na dinâmica pela qual a sociedade existe se transforman- do. Contribui, portanto, em certa medida, para o fazer-se da história. (KONDER, 2002, p. 19-20)
A ideia central nessa concepção de educador como parte do sistema é de que o educa- dor não está descolado da sociedade em que vive, pelo contrário, é sujeito histórico e pro- duto dessa sociedade, portanto, resultado das condições materiais em que foi “formado”. Isso determinava a forma como se comportava diante das demandas impostas pela socie- dade capitalista, em sua essência desigual e excludente. Mas, mesmo não vendo a educação como uma instituição que seria capaz de promover a transformação revolucionária, acredi- tava que ela pudesse ser o meio pelo qual se poderia inserir novas formas de ver o mundo, desde que estimulassem a reflexão crítica para combater o imobilismo e a apatia diante do quadro de exploração da sociedade capitalista.
Assim, apesar de não haver escrito sobre educação, Marx trouxe grande contribuição para a sociologia da educação, principalmente por ter chamado a atenção para o fato de que o homem é um ser social construído historicamente, sempre que duvida de alguma coisa e questiona o que parece já estar estabelecido. Podemos pensar então que, segundo essa teo- ria, a educação é sempre uma via de mão dupla: questiona-se tudo, discute-se, buscam-se novos caminhos, às vezes passando pelo conflito de interesses. Suas análises da vida social e do homem repercutem na educação na medida em que apontam para o importante papel que o educador pode vir a desempenhar, caso esteja convencido da necessidade de sempre duvidar do ideal de sua prática pedagógica e de questionar a sociedade na qual se insere (e da qual seus alunos e sua escola também fazem parte). Caso contrário, a educação se tor- na “uma das mais importantes formas de perpetuação da exploração de uma classe sobre a outra, utilizada pelo capitalista para disseminar a ideologia dominante, para inculcar no trabalhador o modo burguês de ver o mundo” (RODRIGUES, 2001, p. 49).
Max Weber (1864-1920) analisa a sociedade de seu tempo, quando o capitalismo se con- solidou como modo de produção, e trava um diálogo profundo com a obra de Marx, de quem discorda em muitos pontos. Weber partia do princípio de que, para entender a socie- dade, era preciso entender a ação do homem, tentando compreender, explicar e interpretar o social em análises não valorativas, sempre considerando seu caráter dinâmico. Afasta-se de Marx ao explicar a sociedade com base nas relações estabelecidas pelos homens no capita- lismo, e não apenas baseado na economia. Para ele, há vários grupos sociais em sociedades diferentes,com culturas diferentes, que devem ser consideradas, inclusive na ação educati- va. Ele não nega a luta de classes, mas não enxerga aí todas as causas ou possibilidades de mudanças sociais.
Sua sociologia compreensiva tem como premissa básica que para entender a sociedade capitalista em seus sistemas sociais e intelectuais, seria necessário compreender a ação do homem em interação. Pautado no recurso metodológico do tipo ideal, preocupava-se com o estudo da ação social e da interação, vista por ele como o processo básico de constituição do ser social, da cultura e da própria sociedade, sempre partindo de uma base teórico-metodo- lógica consistente. É o pioneiro nos estudos empíricos na sociologia.
Base da interação social, a comunicação é um aspecto fundamental do pensamento weberiano e exigiria a compreensão das partes envolvidas. À medida que há uma aceitação das semelhanças e diferenças entre os indivíduos e uma certa padronização na forma de pensar e de agir com base em valores e padrões que foram interiorizados tem-se o equilíbrio social, objetivo maior a ser alcançado na vida social.
Mesmo enfatizando as relações de poder e não negando os conflitos de classe, Weber discorda de Marx ao afirmar que haveria muitas causas para se explicar o capitalismo – cau- salidades múltiplas. A realidade poderia ser compreendida pelo fato de que é determinada por vários fatores que se influenciam mutuamente. Diferente de Marx, para Weber, segun- do a pedagoga Rita Vilela, o foco da análise “é como os homens (individuais e culturais) atuaram especificamente na construção desta forma econômica” (2002, p. 84). Daí sua ideia de uma sociologia compreensiva, uma ciência que deve se reconhecer como analítica, mas, também, parcial. Conclui que nenhuma ciência poderá dizer aos homens o que devem fazer,
mas que sempre poderão dizer “não” a qualquer determinismo, inclusive ao econômico. Aqui, novamente, se distancia de Marx.
Mais uma vez vale a pena recorrer a Vilela (2002, p. 90), quando a autora diz que “o eixo da sociologia da educação de Weber está na demonstração de que através dos sistemas esco- lares (e das práticas sociais no interior desses sistemas) se desenvolve um processo peculiar de imposição dos caracteres dos grupos sociais e do poder estabelecido”.
Assim, o importante para Weber é entender como e por meio de que tipo de relações so- ciais se mantém o modelo de sociedade e de que maneira os processos de dominação estru- turariam a vida social. Considera que os valores cultivados pelo indivíduo dizem respeito ao seu lugar ideal na sociedade e à sua posição, não apenas ao fato de ser ou não possuidor dos meios de produção.
Os sistemas de educação serão por ele discutidos, também, com base na tipologia ideal. E a partir desse recurso metodológico é que elabora o quadro composto por três tipos-ideais de educação, todos correspondentes a um tipo de dominação que os sustentariam: educação carismática (um dom), formativa (para orientar atitudes e comportamentos) e especializada (instrução em busca de conhecimentos e saberes importantes para o exercício dos papéis sociais). Esse último tipo estaria relacionado à dominação legal e ligado ao processo de ra- cionalização e burocratização da sociedade do seu tempo.
Mas, talvez, a maior contribuição de Weber esteja no fato de que ele, por meio de suas análises da escola, trouxe para a sociologia da educação novos temas para serem discutidos, muitos deles ainda bastante atuais, especialmente aqueles ligados à questão da dominação e reprodução social. E mesmo não produzindo uma teoria sociológica da educação, em muito contribui para a percepção do papel e da função da educação – os sistemas escolares e a ordem burocrática e as diferentes formas de acesso à educação; enfim o processo educativo, sua estrutura, funcionamento e ideologia.
2.2 As teorias sociológicas e a educação
De acordo com o que foi apresentado nessa síntese das ideias dos pioneiros da sociolo- gia, o que você observou? Percebeu que sempre há uma preocupação central que norteia a trajetória de vida e, consequentemente, a caminhada intelectual de cada um dos pensadores cujas ideias conhecemos? Isso acontece porque sempre há uma ideologia, isto é, um conjun- to de valores que formam a consciência do indivíduo, resultante de sua posição de classe e dos interesses a ela relacionados.
Em alguns momentos, a ideologia teve uma conotação negativa, sinônimo de “falsa consciência”, como em Marx, para quem esse é um conceito fundamental e tem forte cono- tação política. Mas é um conceito que pouco aparece em Durkheim e Weber, quase sempre associado a um conjunto de crenças e valores que norteiam o pensamento e a ação dos in- divíduos e dos grupos sociais, gerando uma visão de mundo que orienta a ação individual e coletiva. Aproxima-se muito, para alguns teóricos, da noção de cultura. Pode espelhar ou não os ideais da classe dominante. Seja como for, nota-se uma tendência à reprodução dos valores ligados às camadas dominantes da sociedade.
Esse e outros conceitos, tais como hegemonia, de Gramsci, ou de aparelhos ideológicos de Estado, de Louis Althusser3, decorrem da noção de ideologia. Mas é importante destacar que vários autores discutiram as relações de poder que acontecem na sociedade.
Para Gramsci, por exemplo, a cultura seria o espaço no qual se travaria a luta de classes e, portanto, seria por meio de uma revolução cultural que se poderia mudar a estrutura da sociedade. Destaca, então, o papel fundamental que a escola e os intelectuais exerceriam nesse processo, estratégias para que o sucesso pudesse ser alcançado. Essa escola, que cha- mou de única (e unitária do ponto de vista do conhecimento) seria frequentada tanto por operários quanto por intelectuais, todos recebendo uma formação profissional e a cultura clássica. Esse processo resultaria na formação do intelectual orgânico, comprometido com sua classe social e com um saber (erudito e técnico-profissional).
Acreditava que somente dessa maneira não se teria mais a separação entre trabalho intelectual e trabalho material, possibilitando que esse intelectual fosse promotor da mobi- lização política que levaria à revolução cultural que, por sua vez, transformaria a sociedade.
Já Althusser identificava-se bastante com o marxismo, sendo, portanto, crítico do capi- talismo e engajado com as questões do seu tempo e do seu país, especialmente o maio de 19684. Concorda, mas vai além de Marx ao discutir o conflito e fazer uma conexão entre a educação e o que chamou de aparelhos ideológicos de Estado, certos dispositivos que quando acionados tendem a manter as classes dominantes no poder. As instituições escolares seriam um desses aparelhos5 e funcionariam como aparelhos de reprodução e alienação, meios atra- vés dos quais o Estado exerceria o controle da sociedade, sem utilizar a violência e/ou a repressão, gerando e mantendo a reprodução social e submetendo o indivíduo à ideologia dessa classe dominante. A escola seria, então, o aparelho ideológico mais expressivo, até em função do tempo em que o indivíduo permanece “exposto” à sua influência.
Quando esse processo não atinge seu objetivo, isto é, controlar os indivíduos, “mode- lando-os” para a vida em sociedade, entraria em ação, segundo Althusser, um dos aparelhos repressivos do Estado, a polícia, para conter qualquer manifestação de descontentamento ou resistência ao sistema.
Essa discussão se coloca no momento em que se entende o processo educativo como uma das maneiras por meio das quais é transmitida a ideologia dominante que, conforme o momento histórico, pode estar ligada à Igreja ou ao Estado. A escola, vista como instituição, efetivamente assume esse papel, quer tenhamos ou não consciência disso. A mudança social
3 Ver algumas obras desses autores, em especial:
ALTHUSSER, Louis. Aparelhos ideológicos de Estado. 10. ed. São Paulo: Graal, 2007.
 	. Sobre a reprodução. Rio de Janeiro: Vozes, 1999.
GRAMSCI, Antonio. Cadernos do Cárcere. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.
 	. Intelectuaise a organização da cultura. São Paulo: Civilização Brasileira, 1989.
4 Maio de 1968 foi um momento de intensas transformações políticas, sociais e comportamentais que marcaram a segunda metade do século XX, no Ocidente, e que atingem o auge quando as mani- festações estudantis ocorridas nas universidades de Nanterre e Sorbonne, na França, repercutem em diversas universidades de países da Europa e das Américas, ganhando uma dimensão ainda maior com a ampliação das revoltas para a classe trabalhadora. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com. br/folha/especial/2008/maiode68/>. Acesso em: 7 jun. 2018.
5 Ao lado da Igreja e de outras instituições sociais.
pode ou não acontecer, segundo os valores que estejam sendo transmitidos e internalizados pelas crianças e pelos jovens educandos. A educação pode ou não reproduzir a ordem social vigente, fato para o qual chamou a atenção o sociólogo francês Pierre Bourdieu.
A ideologia se faz presente em todo o sistema educacional, em especial nos livros didá- ticos e no currículo. Como profissional de educação, certamente você já percebeu o quanto os livros podem ser veículos de transmissão de valores distorcidos, preconceituosos, até porque na sociologia, na educação, como em qualquer outra área do conhecimento humano, sabe-se que não há neutralidade.
Na sua disciplina ou na sua prática pedagógica, já notou ideias e/ou atitudes preconcei- tuosas? Como você lida com essas situações?
 (
Dicas de estudo
)
Filmes:
· A ONDA. Direção: Dennis Gansel. Alemanha: Hat Pack Filmproduktion, 107 min.
Para propor uma reflexão sobre o papel da ideologia e como a educação pode ser fun- damental para propagar ideias, transformar ou manter sistemas já consolidados na so- ciedade, um professor alemão resolve fazer uma experiência prática sobre o fascismo e, conforme os alunos aderem à experiência, ele acaba perdendo o controle. Vale a pena assistir ao filme para entender melhor o poder da palavra, do discurso, da necessidade de ser aceito a fazer parte de um grupo, algo tão importante especialmente para os jovens.
Leituras:
· CARVALHO, Alonso Bezerra de; SILVA, Wilson Carlos Lima. Sociologia e educa- ção: leituras e interpretações. São Paulo: Avercamp, 2006.
· OLIVEIRA, Pérsio Santos de. Introdução à Sociologia de educação. 3. ed. São Paulo: Ática, 2007.
· SOUZA, João Valdir Alves de. Introdução à Sociologia da educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.
 (
Atividades
)
1. Com base no que você viu até aqui, aponte algumas diferenças entre Durkheim, Marx e Weber quanto à função e o papel da educação na sociedade capitalista.
2. Sempre se diz que a Sociologia é fundamental para o desenvolvimento do espírito crítico de um indivíduo. Tanto é assim que sempre há, especialmente em governos menos populares e/ou democráticos, uma ação no sentido de retirar a disciplina dos currículos das escolas. Por que isso ocorre?
3. O que é e por que é importante o “pensar sociologicamente”?
 (
3
A sociologia da
 
educação
no
 
Brasil
)
A trajetória da sociologia no Brasil, como não poderia deixar de ser, está rela- cionada com o contexto histórico-social do país, intercalando momentos de livre expressão com outros de forte repressão, chegando até mesmo ao banimento das instituições educacionais.
 (
27
)Não se pode deixar de pensar que, diante desse quadro, a sociologia brasileira tenha adquirido um caráter particular, marcado pela busca de explicações/análises/ soluções que respondessem às demandas geradas pela sociedade capitalista brasileira, tão distinta em sua essência de outros países também capitalistas. Lembre-se de que uma das características do capitalismo é o aprofundamento da divisão social do traba- lho e a luta de classes. Por mais que a produção dos bens materiais e do próprio conhe- cimento sejam coletivos, nessas sociedades esses bens tendem a ser distribuídos de maneira desigual, reforçando, também, as diferenças entre os homens e cristalizando relações de poder pautadas na submissão, na exploração e na exclusão.
 (
Sociologia da Educação
)
Segundo a socióloga e pedagoga Sônia M. P. Kruppa (1994, p. 29),
uma das contradições da sociedade capitalista está na existência simultânea da concentração de saber e das técnicas que permitiriam democratizá-lo, mas que não são usadas com essa finalidade. Na sociedade capitalista, quem detém o poder detém as condições de determinados saberes, que permitem controlar a sociedade. Assim, na sociedade capitalista, não só saber é poder, como poder e, geralmente, condição de saber.
De acordo com a autora e com outros teóricos, em especial aqueles ligados às teorias críticas da sociologia, o papel dessa ciência seria então pensar sobre tudo isso.
Mas ela chama a atenção para o fato de que, além da divisão social do trabalho, é pre- ciso “que a organização da produção e da sociedade esteja montada de forma a prevalecer uma hierarquia entre quem tem conhecimento e poder e quem não tem” (1994, p. 28). Essa questão é de fundamental importância para se começar a pensar a sociologia da educação no Brasil – país marcado pela desigualdade em vários níveis e de vários tipos, inclusive de oportunidades – onde a opção histórica feita pelo Estado tem sido pelas camadas da socie- dade mais favorecidas economicamente, refletindo-se esse modelo de sociedade também na escola e no processo educativo.
3.1 Formação da sociedade brasileira: economia agrário-exportadora e economia industrial
No Brasil, os problemas educacionais tornaram-se objeto de estudo recentemente tam- bém a partir do enfoque sociológico. E isso ocorre exatamente em função das demandas geradas por essas desigualdades históricas, que se mantêm ao longo do tempo, desde a colonização, passando pelas marcas deixadas pelo escravismo, por uma vida política mar- cada pela falta de participação da maioria nos processos decisórios, por períodos ditatoriais e por um lento e gradual processo de abertura e amadurecimento político. Mas a presença da sociologia nas escolas é um pouco mais antiga, remonta ao início do século XX, quando a disciplina começou a ser ministrada no Ensino Médio e em algumas faculdades. Esse pro- cesso de institucionalização da sociologia, e inclusive da sociologia da educação, insere-se no contexto da época, na medida em que o Positivismo dominava a cena intelectual do momento. Sendo assim, partindo das teorias clássicas da ciência social, também no Brasil se começou a tentar investigar os problemas sob a ótica científica, com um corpo conceitual e uma metodologia específica. Pedro Demo (1998, p. 158) chama a atenção para a necessidade que a sociologia no Brasil teria de poder tratar dos nossos principais problemas, preferen- cialmente vinculada à prática, contemplando o tema da desigualdade social e discutindo a questão da dependência, do imperialismo, dos obstáculos ao desenvolvimento, sempre con- siderando que nós mesmos somos os atores desta sociedade e que é preciso “desmascarar” as desigualdades.
No contexto do Positivismo, a educação era vista como um instrumento para formar uma nova mentalidade, voltada mais para as ciências ditas positivas, isto é, mais objetivas.
 (
3
) (
A sociologia da educação no Brasil
)
 (
 
 
3
) (
A sociologia da educação no Brasil
)
 (
28
) (
Sociologia da Educação
)
 (
29
) (
Sociologia da Educação
)
A elite que surgia de outros segmentos da sociedade brasileira e que tinha acesso à educação tentava assim manter seus privilégios. O contexto histórico do final do século XVIII, espe- cialmente após a Proclamação da República e primeiras décadas do século XX, é marcado pelo colapso do modelo agroexportador, por uma crescente urbanização, pela industrializa- ção e por uma certa “desordem” social.
Tal como aconteceu na Europa, as mudanças decorrentes da consolidação do capitalis- mo também deixam suas marcas na vida social e na mentalidade da população brasileira. Especialmente com a emergência de novas classes sociais ligadas às novas atividades econô- micas, ao lado da insatisfação com o modelo de educação que se tinhano país na década de 1920 e a instabilidade política que marca a década de 1930, formava-se o cenário ideal para o desenvolvimento da sociologia no país.
Na busca por soluções para os problemas que apareciam nessa nova ordem, a socio- logia passa a fazer parte do currículo do Ensino Médio e Superior. Um pouco mais tarde, passa a fazer parte também dos cursos de formação de professores. Várias reformas de ensino aconteceram em pouco mais de 10 anos (entre 1925 e 1935). É por meio das facul- dades de Pedagogia, após 1930, que passa a fazer parte do currículo regular, como foi o caso da Faculdade de Educação da Universidade do Distrito Federal (1937), por Anísio Teixeira. Os cursos de Magistério e Ensino Médio também ensinam a disciplina nesse momento, o que não se constitui exatamente numa novidade, visto que a sociologia ain- da associada à moral já era ministrada em alguns cursos secundários, por volta de 1890. É preciso destacar que nesse momento, e por algum tempo ainda, a educação não era o foco dos estudos sociológicos.
Somente após 1932, o ensino de sociologia é incentivado como forma de preparar as novas gerações para o país que surgia após tantas e tão intensas mudanças econômicas, so- ciais e políticas, e a educação passa, assim, a ter um fim específico. Os problemas brasileiros pedem soluções urgentes para restabelecer a “ordem”. Aliás, a própria educação passa a ser vista como um problema social e um fator de mudança. Era preciso propor reformas que ajustassem a educação à nova ordem social. Mas é fundamental entendermos que, nesse momento, educadores e pensadores sociais – os cientistas sociais – se distanciam muito, uma vez que, para estes, a educação não desperta interesse como objeto de pesquisa. Isso só aconteceria mais tarde, depois de alguns trabalhos sem muito embasamento teórico e com grandes deficiências em termos metodológicos. Apesar de tudo, no final da década de 1940, a sociologia se institucionalizava como um campo específico de conhecimento.
Nos anos 1950-1960, com o avanço do nacionalismo e do populismo, formam-se os pri- meiros sociólogos. Com o objetivo, naquele momento, de analisar os problemas brasileiros de forma mais independente em termos teóricos, isto é, produzir uma sociologia “abrasilei- rada”, mais de acordo com as necessidades do país. Nessa conjuntura, a educação é vista como agente de transformação social e as escolas são analisadas de acordo com suas especi- ficidades e diferenciações regionais. Isso se explica por toda uma política governamental que se volta para as diferenças regionais, particularmente entre o Sudeste rico e industrializado e o Nordeste arcaico e atrasado. Surgem iniciativas tais como a criação das superintendências regionais (Sudan, Sudene etc.). É estabelecida uma relação entre educação e desenvolvimento,
enquanto os aspectos sociológicos da educação, como, por exemplo, o estudo da escola como instituição social, são pouco trabalhados. Age-se como se a educação, a escola e todos os atores envolvidos no processo educativo estivessem fora da realidade social como um todo. Como consequência, tem-se uma dispersão dos temas de pesquisa e pouco aprofundamento nos pro- blemas educacionais propriamente ditos. O analfabetismo é um dos temas que adquire maior visibilidade, até por conta das funções que eram atribuídas à educação. Mas há mais descrição do que análise e interpretação dos problemas.
Foi na Universidade de São Paulo (USP) que, nos anos 1960, alguns cientistas sociais começam a efetivamente se interessar pelo tema educação, muitos norteados pelo funcio- nalismo1, constituindo centros de estudos com o objetivo de analisar as relações de poder, particularmente aquelas entre a educação e a estrutura social.
Mesmo não seguindo mais adiante, nesse momento, a sociologia (e também a sociologia da educação) procura pensar o real, com o objetivo de encontrar maneiras de modificá-lo quando necessário, sempre partindo da ideia de diminuir as diferenças e as injustiças so- ciais. Trata-se de fornecer bases teóricas para a ação, inclusive educacional. Ao mesmo tem- po, tem-se um grande movimento em defesa da escola pública, vista como o caminho para a democratização do acesso à educação e meio de transformação social.
3.2 A sociologia continua seu caminho: dos anos 1970 aos dias atuais
Infelizmente, o caráter econômico ainda iria direcionar boa parte dos estudos nessa área, de acordo com o modelo desenvolvimentista da época, que priorizava o desenvol- vimento econômico sobre o social. Especialmente após o Golpe Militar de 1964, quando muitos cursos são fechados e a disciplina é suspensa nas escolas e universidades. Muitos pesquisadores e professores são afastados do trabalho, alguns até do país, por se oporem ao regime político.
Em razão da repressão imposta pela Ditadura Militar, a década de 1970 é marcada por estudos quantitativos sobre administração escolar e pouco se fala de temas “incômodos” como evasão, reprovação ou rendimento escolar. Mesmo assim, aparecem críticas ao mo- delo econômico e político da época, bem como uma contestação da própria política educa- cional dos militares, eminentemente voltados para a formação de técnicos e não de pessoas com espírito crítico.
Diante do quadro social e político desse momento, há um certo pessimismo em relação ao papel transformador da educação, em sua capacidade de promover mudanças sociais efe- tivas. Apesar de se ter durante a década de 1970 um bom número de trabalhos em educação,
1 Doutrina que concebe a sociedade como um sistema que deve estar em harmonia para “funcionar bem” e no qual os conflitos são apenas uma etapa de uma preparação para uma ordem cada vez maior. Busca relacionar um sistema normativo e a situação que seria definida por esse conjunto de restrições estáveis e coerentes aos olhos daqueles que não desejam que alguma coisa mude na ordem social. É vista como uma teoria conservadora.
não há estudos na área de sociologia da educação; discutem-se teorias da aprendizagem, teorias do currículo, programas, a atividade docente, entre outros temas.
O desenvolvimento de reflexões de caráter marxista estabelece relações entre algumas variáveis que antes eram consideradas isoladamente, pouco acrescentando em termos teóri- cos. É o caso das condições socioeconômicas do aluno e seu rendimento escolar: ao estabe- lecer essa correlação, tem-se o que se chama de explicação sociológica para os fenômenos da evasão e/ou da repetência, por exemplo. O sociólogo Roberto Martins Ferreira afirma que é observada uma mudança em termos de percepção do processo educativo, que é visto como conjunto de relações externas (interdependência, por exemplo) e internas (o sistema edu- cacional é um todo composto de partes que têm relação entre si) (FERREIRA, 1993, p. 26).
A preocupação com a democratização do ensino, como já se disse, torna-se o foco dos educadores e sociólogos, que agora são muito mais críticos, denunciando o quanto o sistema educacional estava a serviço do poder político. É aqui que teóricos como Pierre Bourdieu e Louis Althusser, entre outros, divulgam suas teorias, chamadas de teorias do conflito. Voltando ao exemplo dado, nesse momento, a reprovação e a evasão que a ela se seguia passam a ser vistas como exclusão, problemas que exigem solução na qualidade de fenômenos sociais ligados ao subdesenvolvimento brasileiro.
Com a abertura política, como ficou conhecido o período de transição que marcou o fim da Ditadura Militar no Brasil e que ficou marcado, entre outras coisas, pela promulgação de uma nova Constituição em 1988 e pelo restabelecimento da ordem democrática (ainda que muito devagar), consolidaram-se os estudos marxistas e os questionamentos sobre o caráter ideológico do material didático, por exemplo. Entretanto, não se estuda a dinâmica interna da escola, nem os movimentos educacionais. O que se tinha eram trabalhos ainda muito marcados pelos levantamentos estatísticos, sem muita reflexão teórica ou proposições práticas, a partir dos dados coletados. Outras ciênciasviriam colaborar com a sociologia da educação, fornecendo-lhe subsídios em termos metodológicos, indicando procedimentos de pesquisa mais adequados aos temas que os pesquisadores se propunham a trabalhar.
Com tudo isso, o que se pode notar é que ainda permanece uma certa distância entre os educadores e os sociólogos, tendo, inclusive, nos anos 1990, aumentado o desinteresse pela sociologia da educação, apesar do esforço de muitos e do fato de que a maioria dos proble- mas com os quais o Brasil se debatia há mais de 30 anos permanecem. Apesar do inegável avanço e melhoria dos indicadores sociais do país, amplamente divulgados pelo governo, ainda vivemos uma situação de profundas desigualdades sociais, decorrentes da absurda concentração de renda e da falta de um projeto real de reforma agrária.
Apesar das dificuldades, a sociologia e a sociologia da educação estão consolidadas no país, em centros de ensino e pesquisa, publicações especializadas e com vários trabalhos que alcançaram o reconhecimento internacional. Os profissionais da área trabalham no sen- tido de pensar a realidade brasileira e fornecer subsídios para a implementação de políticas públicas voltadas para o atendimento das necessidades das populações mais carentes, mas, sobretudo, para propor temas para debate nacional.
 (
Dicas de estudo
)
Filme:
· CENTRAL do Brasil, de Walter Salles Jr. Direção: Walter Salles. Produção: Donald Ranvaud; Arthur Gohn. Brasil: Europa Filmes, 1998. 105 min.
Procure retirar do filme alguns elementos que demonstram o quanto o acesso à educa- ção é desigual no país. Avalie o peso do analfabetismo para boa parte da população, que se vê excluída e privada de seus direitos fundamentais.
Leitura:
· GIDDENS, Anthony. Sociologia. 4. ed. Porto Alegre: Artimed, 2005.
 (
Atividades
)
1. Partindo do que foi apresentado neste capítulo, qual a importância da sociologia da educação para o Brasil?
2. Leia o fragmento abaixo.
A sociologia mostra a necessidade de assumir uma visão mais ampla sobre porque somos como somos e porque agimos como agimos. Ela nos ensina que aquilo que encaramos como natural, inevitável, bom ou verdadeiro, pode não ser bem assim e que os “dados” de nossa vida são fortemente influenciados por forças históricas e sociais (GIDDENS, 2005, p. 24).
Explique como isso se relaciona com a educação.
 (
4
Educação e família
)
Quando se fala em educação, pensamos logo em escola, educação formal ou coisas do gênero, não é? E quando o assunto é família, o que você logo pensa? Na verdade,- são dois temas bastante complexos, cuja própria definição demanda esclarecimentos. O que se entende por família? E por educação?
 (
33
)Educação é muito mais do que escola e escolarização, é um processo social e um dos agentes de socialização que tem como objetivo a transformação do homem bioló- gico em um ser social.
 (
Sociologia da Educação
)
Entretanto, quando se tenta definir a noção de família, a situação se complica um pou- co. De qual família estamos falando? De que tipo? Em qual contexto? Com quais funções? Calma! Não desanime, porque vamos juntos tentar perceber como, ao longo do tempo, a família foi mudando e se constituindo tal como a entendemos hoje. Em seguida, vamos verificar como família e educação podem ter os mesmos objetivos, em certos momentos da história. Estudar a história da família é importante para tentar entender a natureza das so- ciedades. Sendo uma instituição social fundamental, suas características influenciam todas as demais instâncias da vida social, em particular, o processo de socialização e, por fim, o processo educativo.
Mas o que vem a ser o processo de socialização, que nunca termina, e que em cada momento da vida do indivíduo pode apresentar uma influência maior ou menor de um determinado agente desse processo? Qual seria então o papel da família? Ao mesmo tempo em que o indivíduo é moldado pela sociedade, ele age no sentido de transformá-la. Nesse processo, mesmo que não se perceba claramente, sempre há alguém que ensina e alguém que aprende. Essa é a essência da socialização. É por meio da socialização que o homem se faz um ser social, isto é, torna-se apto para conviver em sociedade e vivenciar aquilo que o torna diferente de outros seres vivos. É o que lhe dá humanidade!
Socialização, segundo Lakatos (1999, p. 90), é
o processo pelo qual o indivíduo biológico se transforma em pessoa social [...], aprende e interioriza os elementos socioculturais do seu meio, integrando-os na estrutura de sua personalidade sob a influência de experiências de agentes so- ciais significativos, e adaptando-se assim ao ambiente social em que deve viver.
Portanto, de acordo com a autora, somente a pessoa socializada “consegue comparti- lhar ideias, gostos, crenças e sentimento com os componentes do grupo, e assim pode a eles ‘pertencer’” (LAKATOS, p. 91) e é esse compartilhar da cultura que garante a identidade do grupo, a preservação de suas tradições e, principalmente, a transmissão de valores, senti- mentos, normas e regras importantes para garantir a coesão e a estabilidade do grupo social.
Ao conceito de socialização outros estão relacionados1, tais como ação social (con- ceito básico da sociologia), processo social, contato social, interação social, todos media- dos pela comunicação.
4.1 As transformações da família
É no seio da família que tem início o que se chama de socialização primária, processo por meio do qual se torna possível a assimilação por parte do indivíduo dos valores, normas e até mesmo expectativas do seu grupo social. A atitude educadora da família, por exemplo, está presente nas conversas, na alimentação, no tipo de roupas usadas, nas formas de lazer, enfim, em todos os momentos de sociabilidade.
1	Para entender esses conceitos, ver, a partir da página 385, o trabalho de COSTA, Cristina. Sociolo- gia. Introdução à ciência da sociedade. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2005.
 (
4
) (
Educação e família
)
 (
 
 
4
) (
Educação e família
)
 (
34
) (
Sociologia da Educação
)
 (
35
) (
Sociologia da Educação
)
Mais tarde, a escola e outras instituições e/ou outros grupos de relacionamento passam a dividir com a família a tarefa de socializar o indivíduo, constituindo o que a sociologia cha- ma de socialização secundária, “que se refere a qualquer processo posterior que induza o indi- víduo a interiorizar setores particulares do mundo objetivo de sua sociedade” (TEDESCO, 1995, p. 99). A dificuldade nesse processo reside no fato de que opera com indivíduos que já passaram ou estão passando pela socialização primária e, portanto, a secundária deve estar em certa concordância com a cultura e a estrutura básica do indivíduo.
É no contexto da aprendizagem que socialização e educação se encontram, uma vez que, assim como a família, a educação também é um “conjunto de padrões de comportamento compartilhados pela sociedade e orientados para satisfação das necessidades do grupo [...] São aquelas que se referem aos padrões de comportamento que orientam as pessoas na satisfação das suas necessidades sociais básicas” (PESSOA, 1997, p. 52). A sociedade modela o indivíduo e esse, por sua vez, pode transformar a sociedade em que vive. Isso só é possível porque, como se viu, o processo de socialização nunca está finalizado e nem é completo.
Família é uma ideia, um modo de ordenar a vida social, uma construção histórica e so- cial, portanto, dinâmica e sujeita às transformações pelas quais passa a sociedade, ao mesmo tempo em que pode “formar” pessoas com capacidade de transformar o meio em que vivem.
Em inúmeras discussões teóricas e estudos acerca desse tema, percebemos que o con- ceito de família se modifica ao longo do tempo, o que demonstra a dificuldade em deter- minar exatamente o que é família. Mas o que não se pode perder de vista, é que família é uma construção da subjetividade e, sendo assim, não é possível haver uma só sociologia da família, da mesma forma que não há uma só história. As transformações que se podem verificar ao longo da trajetória

Continue navegando