Buscar

3 De boas intenções o inferno está cheio ou quem se responsabiliza pelas crianças que estão na esco (1)

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 3 páginas

Prévia do material em texto

3. LER O TEXTO E RESPONDER AS QUESTÕES.
De boas intenções o inferno está cheio ou quem se responsabiliza pelas crianças que estão na escola e não estão aprendendo?
Telma Weisz
 Vivemos um momento importante na educação brasileira, porque de mudança, e não sem tempo. Hoje, os esforços de todos os bem-intencionados organizam-se da maneira que podem para combater uma cultura que no último meio século dizimou milhões de crianças brasileiras: a cultura da repetência. Mas enfrentamos, como em todos os grandes movimentos de mudança, armadilhas que, se não forem percebidas, atrasarão o avanço que estamos tentando fazer em direção a uma educação eficiente e de boa qualidade para todos.
 Uma dessas armadilhas consiste em acreditar que, engajados na nova e boa palavra de ordem 'o aluno não deve ser reprovado', os professores passarão a aprová-lo, enviando-o para a série seguinte munido de todas as competências necessárias para cursá-la com sucesso. Como se até então não o fizessem simplesmente por descaso com seu próprio trabalho, ou por acreditarem que professor bom é o que reprova.
 Essa situação costuma ser mais dramática no contexto das primeiras séries do ensino fundamental, que é quando são tomadas decisões de importância vital: se o aluno aprende a ler e a escrever nos dois primeiros anos e será promovido, ou se ficará retido ali, ano após ano, até desistir da escola; se, mesmo sem aprender, será promovido e engrossará o número dos que, cada vez mais, chegam analfabetos à 4a série.
 Em recente experiência acompanhando o projeto de formação em serviço em um município nordestino1, foi possível analisar um fenômeno de que tínhamos notícia, mas que nunca havia sido empiricamente verificado e, principalmente, nunca tinha sido quantificado: os professores têm dificuldade para reconhecer quanto seus alunos aprenderam e se estão ou não em condições de serem aprovados para a série seguinte.
 Darcy Ribeiro costumava dizer que atribuir nossos extraordinários índices de fracasso escolar a uma hipotética incompetência da escola era uma rematada tolice. Que a nossa escola era não só competente como também eficiente, pois preparava a população para aceitar a exclusão e atribuí-la à sua própria incapacidade. Reprovar 50% dos alunos ao fim da 1a série – situação que não existia em nenhum outro país – era algo que só podia ser explicado dessa maneira.
 A partir de 1982, com os primeiros governos democráticos em Estados e municípios, esforços no sentido de mudar esse quadro vêm sendo feitos por várias secretarias de educação, desde a instituição de ciclos até programas para melhorar a formação dos professores. Apesar de sucessos pontuais, quando se olha para o país, o avanço é quase imperceptível.
 Há quem contradiga essa posição, defendendo que a mudança da 'cultura da escola' – que agora, em vez de se orgulhar, deve envergonhar-se de reprovar – dará conta de levar adiante a transformação pretendida. Isto é falso. A cultura de uma instituição como a escola pública não resulta da vontade pessoal de ninguém. As pessoas vivem dentro dela de forma não-consciente e tendem a pensar o modo de funcionamento institucional como natural, e não como cultural, como algo que sempre foi e sempre será.
 Nessa cultura, a produção de multirrepetentes em massa decorre da visão de que o aluno é sempre responsável por sua aprendizagem. Essa maneira de olhar para a questão do fracasso escolar, embora não produza diretamente a repetência maciça, é certamente responsável pela aceitação institucional do fenômeno, por sua naturalização. Tanto que, quando se trata de crianças de apenas sete anos, consideradas pelo bom senso jovens demais para tanta responsabilidade, a suposta falta de empenho é transferida para a família.
 Por isso, situações extremas, como a da classe cujas notas aparecem no documento a seguir, não costumam provocar grande comoção nas escolas onde acontecem, nem ter qualquer conseqüência além da própria repetência dos alunos.
 A despeito de todas as boas intenções, o atual esforço de transformação da educação brasileira será sugado pelo buraco negro da nossa incapacidade de alfabetizar os alunos no início da escolaridade obrigatória2. Prova disso é que, para desespero dos que sabem para onde isso sempre nos tem levado, estamos assistindo à transformação da generosa idéia de progressão continuada nessa perversão que está tornando-se conhecida como 'promoção automática'.
 Para a sociedade, que hoje assiste atentamente à discussão sobre a necessidade de melhorar a qualidade da escola pública, ambas parecem a mesma coisa – afinal, em ambas o aluno não repete o ano. No entanto, a progressão continuada dentro de ciclos não se resume à não-reprovação. A hipótese que a fundamenta é a de que as crianças que chegam ao fim de uma série sem terem aprendido tudo o que precisavam não devem recomeçar, no ano seguinte, do zero, e sim continuar aprendendo a partir de onde estavam. Contudo, para que isso aconteça, elas precisam de mais ensino, de apoio pedagógico e, principalmente, do respaldo de um coletivo de professores convencidos de que a aprendizagem de cada um de seus alunos é um desafio profissional.
 Quando havia a reprovação, a professora da 1a série observava seus alunos no início do ano letivo e rapidamente podia dividir a classe entre 'os que vão' e 'os que não vão'. Como a cultura escolar está impregnada da idéia de que 'os que não vão' não vão por serem menos ou pouco capazes, a professora podia abandoná-los. É claro que a profecia inicial realizava-se no fim do ano com a reprovação dos que não 'iam'.
 Atualmente, com a progressão continuada, as classes continuam divididas entre 'os que vão' e 'os que não vão', mas com uma pequena diferença: antes eram os que 'vão aprender e passar de ano e os que não vão aprender nem passar de ano' e agora todos 'passam de ano', porém só alguns 'vão' aprender. Nas escolas de 1a a 4a séries, começam a se tornar freqüentes as classes de 3a e 4a séries de alunos que não sabem ler nem escrever. E, como se isso não bastasse, começam a aparecer também as 5as séries nas mesmas condições. Estamos a caminho de produzir analfabetos com certificado de oito anos de escolaridade?
 A escola brasileira continuará a ser uma poderosa máquina de exclusão social enquanto não conseguir alfabetizar todas as crianças. 
QUESTÕES
1 – Comente a Progressão Continuada dentro da visão de Telma Weiz.
__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
2 – Segundo Telma Weiz, os professores tem grandes dificuldades de verificarem o que seus alunos sabem e o que não sabem. Explique por quê?
__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Continue navegando