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Segunda-feira, 20 de julho de 2020 | Diário | Ano XVI | N.º 4288 | € 2.50 Diretor André Veríssimo | Diretor adjunto Celso Filipe Frulact compra negócio de concorrente nos EUA Fundos sustentáveis nacionais têm quase 20 mil investidores Há um enorme risco de contágio em transportes lotados PRIMEIRA LINHA 4 a 8 EMPRESAS 14 e 15 ECONOMIA 12 e 13 Multinacional maiata detida pelo fundo Ardian adquiriu a carteira de clientes da norte-americana Sensient Technologies Corporation. “Se os médicos não pararem um bocado, pode ser desastroso”, avisa o bastonário da classe. Sondagem PS já não capitaliza com a pandemia Primeiro-ministro está em queda mas o presidente do PSD, Rui Rio, não conse- gue aproveitar esta tendência. CONVERSA CAPITAL MIGUEL GUIMARÃES Estrangeiros batem recorde de projetos que a covid-19 pode tirar Aquisições isoladas impedem benefício fiscal ao investimento Estudo EMPRESAS 15 Caso BES Ministério Público chama testemunhas que já apontou como culpadas Setores para ganhar com o “Green Deal” MERCADOS 20EMPRESAS 16 e 17 Exigências feitas pelos “cinco frugais” travam recuperação da Europa ECONOMIA 10 ECONOMIA 11 Popularidade de Costa está a baixar MERCADOS 18 e 19 Corrida às ações da EDP antes do aumento de capital Títulos da elétrica liderada por Miguel Stilwell registaram uma valorização de 4,5%. Energia M ig ue l B al ta za r 2 | SEGUNDA-FEIRA | 20 JUL 2020 HOME PAGE OPINIÃO HOME PAGE OPresidente republi-cano norte-america-no, Donald Trump, desvalorizou nova-mente, numa entre- vista ao canal Fox News, uma son- dagem recente das eleições presi- denciais, que o mostra em dificul- dades crescentes perante o rival democrata, Joe Biden. “Antes de mais nada, não estou a perder, porque são sondagens falsas”, disse o político milionário sobre uma sondagem que mostra Biden com um avanço de oito pontos percentuais, com 49% contra 41% de Trump. “Biden é incapaz de alinhar duas frases seguidas”, atacou de seguida o Presidente norte-ame- ricano, que quando foi questiona- do se considerava o oponente “se- nil” não foi tão longe. “Não quero dizer isso, eu diria que ele não está qualificado para ser Presidente. Para ser Presiden- te tem de ser perspicaz, sólido e muitas outras coisas. Ele nem se- quer sai da sua cave”, criticou Trump. O Presidente norte-america- no referia-se assim ao facto de Joe Biden, de 77 anos, passar a maior parte do tempo isolado na sua re- sidência no Estado de Delaware, lutando para dar um impulso me- diático na campanha para a Casa Branca. Trump quer fazer teste de QI com Biden Trump recusou também dar cré- dito a uma sondagem da Fox News na qual os inquiridos o con- sideraram menos “competente” que o rival democrata. Além dis- so, sugeriu que esse assunto pode- ria ser resolvido com um teste de inteligência QI imposto aos dois candidatos na casa dos 70 anos. “Vamos fazer um teste. Faze- mos o teste agora. Vamos sentar- -nos, eu e o Joe, e fazer um teste” disse o líder republicano, que vai enfrentar o ex-vice-presidente de Barack Obama nas eleições de 03 de novembro. Outra sondagem divulgada no domingo pelo canal de televi- são ABC e pelo jornal The Wa- shington Post mostra que a lide- rança de Joe Biden sobre Donald Trump nas intenções de voto é ainda mais clara, com 55% con- tra 40%. Trump continua a pagar caro a má administração da crise da co- vid-19 nos Estados Unidos, com uma taxa de aprovação de políti- cas gerais a cair para 39% e com 57% de reprovação. Os Estados Unidos são o país com mais mortos (140.120) e mais casos de infeção confirmados (mais de 3,7 milhões). LUSA Última sondagem coloca Joe Biden com 49% enquanto o atual presidente dos EUA se fica pelos 41%. Em entrevista à Fox News, confrontado com os números, Donald Trump diz que não está a perder porque as sondagens são “falsas”. Donald Trump diz que o seu adversário, Joe Biden, “é incapaz de alinhar duas frases seguidas”. Trump atribui maus resultados a “sondagens falsas”“Carlos Costa acabou com o reinado ruinoso e criminoso de Ricardo Salgado.” LUÍS MARQUES MENDES A taxa de reprovação de Donald Trump situa-se agora nos 57%. PÁGINA 28 “Desde cedo se percebeu que íamos fazer figuras de pedintes no Conselho Europeu.” CAMILO LOURENÇO PÁGINA 27 “Estamos presos a uma dívida de dimensões bíblicas que nos suga milhares de milhões de euros todos os anos em juros.” ANTÓNIO MOITA PÁGINA 27 “O operador do novo sistema será público - a IP Telecom - e pautará a sua gestão por ser exclusivamente grossista e neutra.” ALBERTO SOUTO DE MIRANDA PÁGINA 30 Jonathan Ernest/Reuters SEGUNDA-FEIRA | 20 JUL 2020 | HOME PAGE | 3 DIA O Estado vai ficar com a maioria do capital so-cial da TAP, mas ainda assegurou que a com-panhia terá um tratamento distinto. As em-presas do grupo TAP SGPS ficam fora de al-gumas das condições impostas a empresas públicas, em particular no que toca à seleção e remunera- ção dos gestores públicos. Trata-se de uma decisão acertada porque os limites sa- lariais impostos nas empresas públicas não são compatí- veis com a necessidade de encontrar gestores qualificados e disponíveis para uma tarefa que se avizinha hercúlea. O que se lamenta é que seja pontual. E o passado está rechea- do de histórias que sustentam esta observação. Por exemplo, em 2004, o agora presidente da CGD, Pau- lo Macedo, esteve no centro da polémica ao ter sido nomea- do pela então ministra das Finanças, Manuela Ferreira Lei- te, para inspetor-geral das Finanças, com um salário mui- ta acima da média. A verdade é que Paulo Macedo cumpriu exemplarmente a sua tarefa, oleando a máquina e conse- guindo atingir o maior objetivo que lhe tinha sido coloca- do, o de aumentar de forma substantiva a receita fiscal. Ou seja, o custo mais do que se justificou. Um dos problemas da gestão pública em Portugal é pre- cisamente esse. Não se procuram os melhores, mas sim aque- les que estão disponíveis para aceitar as condições de um es- tatuto de gestor público, o que não raras vezes abre caminho para os afamados “jobs for the boys” e também para o defi- nhamento das empresas. Este quadro acaba por ser poten- cialmente promíscuo e, nessa exata medida, abre caminho para que os objetivos fiquem mais longe de atingir. O caso da TAP, sendo exceção, devia ser regra. Só não o é porque isso aumentaria ainda mais a discrepância entre os salários pagos aos gestores e os vencimentos dos governan- tes, uma diferença politicamente incorreta. Contudo, esta falsa probidade acaba por ter mais custos do que benefícios. O Estado precisa dos melhores para tratar da coisa pú- blica e de ser eficiente na fiscalização das empresas que es- tão na sua órbita, sobretudo das que funcionam num am- biente concorrencial. Portugal está recheado de casos que confirmam o aforismo “o barato sai caro” para mal dos nos- sos pecados coletivos. Se o futuro CEO da TAP cumprir o caderno de encargos que lhe é imposto e concluir com êxi- to a reestruturação da companhia, o salário que vier a usu- fruir estará mais justificado. EDITORIAL O barato sai caro 18 CELSO FILIPE Diretor adjunto cfilipe@negocios.pt Ericsson dispara para máximos de 2015 depois de apresentar lucros Variação este ano: 19,43% Valor em bolsa: 327.744 milhões de coroas suecas A Ericsson disparou mais de 11% na última sessão, para o nível mais ele- vado desde 2015. Isto depois de ter reportado uma subida de 40% nos lucros do segundo trimestre, uma evolução que superou as expectati- vas do mercado. A tecnológica sue- ca viu as vendas dispararem nesse período, numa altura em que desen- volveu novos sistemas para dar res- posta às necessidades da população em teletrabalho. AÇÃO FOTOFRASE NÚMERO 11,43% O outro bloqueio que Cuba começa agora a levantar Cuba continua bloqueada pelos EUA mas está lentamente a sair de outro bloqueio, o dacovid- -19, que afetou seriamente a economia à escala global. Para mitigar os efeitos desta crise, o país começou agora a abrir as suas praias ao turismo internacional desde que sejam cumpridas certas condições para minimizar a propagação da doença. E em Varadero há vida outra vez. Fotografia: Yander Zamora/EPA Aguardemos agora notícias sobre o apoio público socialista à dispendiosa contratação do novo treinador do Benfica. O Governo reforçou para 18 milhões de euros o pacote de medidas de resposta à crise no setor dos vinhos causada pela covid-19. “ RUI RIO Presidente do PSD Börje Ekholm é o presidente executivo da tecnológica sueca Ericsson. 4 | SEGUNDA-FEIRA | 20 JUL 2020 CONVERSA CAPITAL H á doentes “sem rosto” que não entraram no sis-tema porque evi-taram os centros de saúde e os hospitais. Em entre- vista ao Negócios e à Antena 1, o bastonário da Ordem dos Médi- cos, Miguel Guimarães, quantifi- ca a quebra no número de consul- tas e de acesso aos serviços de ur- gência e propõe um plano “exce- cional” de três a cinco meses para recuperar consultas, cirurgias e exames de diagnóstico. Estamos numa fase delicada. Há os doentes covid, mas tam- bém a necessidade de recupe- rar tudo o que ficou para trás. Começo por dizer que o que fi- cou para trás já é irrecuperável... porque é impossível saber quem fi- cou para trás em 2020. Se nem che- gou a entrar no sistema, se não hou- ve diagnóstico de cancro da mama, de cancro do cólon, se não há refe- renciação dos cuidados de saúde primários aos cuidados hospitala- res, se não há inscrição de novos doentes para cirurgia porque os doentes não entram no sistema é difícil as pessoas terem um rosto e é nesse sentido que é irrecuperável. Se compararmos estes três meses de 2019 – março, abril e maio – com os mesmos meses de 2020 os dados são estes: em termos de con- sultas hospitalares, ou seja, primei- ras consultas e subsequentes, fo- ram feitas menos 900 mil consul- tas em números redondos, o que corresponde a uma quebra de cer- ca de 38% no que seria a atividade normal. Eu lembro que muitas das consultas hospitalares que estão aqui registadas em 2020 não foram propriamente consultas, foram contactos telefónicos. Nas cirurgias a quebra é de 93 mil cirurgias, ok? Pensem que a nossa ministra da Saúde disse que demoraríamos três meses a recuperar as cerca de oito mil cirurgias que não foram fei- tas na greve cirúrgica dos enfermei- ros. Se aplicássemos aqui uma re- gra de três simples isso demoraria três anos, mas não vai ser o caso. Esses números são recolhidos pela Ordem? São oficiais, da Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS), atenção. É ir às tabelas da ACSS e fazer as contas. Nos cuida- dos de saúde primários foram fei- tas menos 3 milhões de consultas presenciais, ou seja, menos 57%. No serviço de urgência no total fo- ram menos 44% de doentes que acederam. O que é que esses números lhe dizem? Deixam-me preocupado. É que por um lado as pessoas ficaram com receio de ir aos serviços de saú- de. Era importante fazermos uma campanha a explicar que situações como o enfarte agudo do mio- cárdio, o acidente vascular cerebral, a insuficiência cardíaca, a doença pulmonar crónica obstrutiva ou a asma, as doenças oncológicas de uma forma geral são mais graves do que a própria covid-19. O facto de as pessoas ficarem em casa e não acorrerem ao serviço de urgência se tiverem uma dor torácica aguda que pode ser um enfarte agudo do miocárdio… mesmo que a pessoa não morra do enfarte agudo do miocárdio vai ficar com uma cica- triz no coração que vai levar a uma insuficiência cardíaca grave. E mor- rer a curto, médio prazo. Mas esse medo ainda não foi ultrapassado? Está a ser ultrapassado devagar. Para darmos uma resposta adequa- da precisaríamos de ter a correr si- multaneamente com a atividade normal um programa excecional de recuperação de todos os doen- tes que estão em consultas e de to- dos os doentes que estão à espera de cirurgias. Os hospitais não conseguem criar o seu próprio plano de re- cuperação e fazê-lo? No estado de emergência era possível que tivessem essa liberda- de. Neste momento não tenho cer- teza que os hospitais tenham essa liberdade a não ser dentro daquilo que já existe que é o chamado sis- tema de gestão de inscritos para ci- rurgias, conhecido como SIGIC. Agora para terem um programa ex- cecional, para eventualmente con- tratarem mais pessoas para recu- perar a lista de espera ao fim de se- mana, imagine… Foram criados novos incenti- vos esta semana. Incentivos existem. Mas não foi dada autonomia aos hospitais para poderem tomar decisões sobre esta matéria, isto é, para fazerem da for- ma que considerem mais adequa- da. Imagine um hospital que tem a sua capacidade física completa- mente cheia e que faz um acordo com o setor social para alguns dos doentes que o hospital tem serem tratados pelos próprios médicos do hospital fora do horário de traba- lho ao fim de semana. O que está a sugerir quando propõe um pro- grama excecional são parcerias com outros ato- res? Se for necessário. Cada hospital tem de avaliar a sua capacidade. Se não tiver lugar para internar os doentes não consigo operá-los. O que fize- mos na pandemia quando não havia espaço? Criámos hospi- tais de campanha. Alguns não chegaram a ser necessários. Mas outros deram jeito. O hos- pital de campanha de Ovar foi fundamental para que o Hos- pital de Ovar conseguisse dar a resposta que deu. Mas o que é que esse pla- no excecional comporta- ria? A possibilidade de recurso a privados? O que fosse necessário. O que é que nós temos em atra- “Sem um programa excecional, muitos doentes não covid vão perder a oportunidade” Mostrando-se preocupado com os doentes que não chegaram a entrar no sistema, Miguel Guimarães defende a criação de um “plano excecional” para recuperar consultas, exames e cirurgias que garanta mais autonomia aos hospitais. “O que ficou para trás já é irrecuperável” MIGUEL GUIMARÃES BASTONÁRIO DA ORDEM DOS MÉDICOS “Era importante fazer uma campanha a explicar que situações como o enfarte agudo do miocárdio ou o acidente vascular cerebral são mais graves do que a própria covid-19.” CATARINA ALMEIDA PEREIRA catarinapereira@negocios.pt ROSÁRIO LIRA, ANTENA 1 MIGUEL BALTAZAR Fotografia SEGUNDA-FEIRA | 20 JUL 2020 | CONVERSA CAPITAL | 5 so? Além dos números que já dei temos milhares, para não dizer milhões, de endoscopias digesti- vas que não foram feitas nestes três meses. Temos exames com- plementares de diagnóstico, TAC, ecografias, ressonâncias, biópsias, transplantes que não foram feitos [...]. A maior parte dos médicos tem consultas marcadas para os próximos três, quatro, cinco, seis meses. [O plano] significa o servi- ço nacional de saúde esgotar a sua capacidade toda. Existem hospi- tais em que eventualmente esta capacidade já está esgotada e es- tão no limite, serão poucos. Não estamos a fazer ainda a retoma. Tenho conhecimento de um caso de oncologia em que foi dito que só daqui a seis me- ses é que seria marcada a primeira consulta. Mal. Seja qual for a situação oncológica. Esse doente tem de ser visto mais cedo. Tem de haver solução. [...] Significa claramente rutura. Se nos ficarmos pelo SI- GIC [para cirurgias] e não tiver- mos um programa verdadeira- mente excecional, uma coisa para três ou cinco meses, há muitos doentes que vão perder comple- tamente a oportunidade. [...] Tem de ser um programa à parte para consultas, cirurgias, e exames complementares de diagnóstico. Mas depois há medidas urgentes a tomar. Continuamos com mais de 700 mil portugueses que não têm médico de família atribuído. E temos de melhorar a integração dos cuidados de saúde primários com os cuidados hospitalares. Olhando para o Orçamento suplementar parece que isso não vai acontecer, certo? De todo.O Orçamento suple- mentar de 504 milhões de euros é uma mão-cheia de nada e pare- ce que não são bem 504 milhões de euros, como no outro dia ex- plicou o Bloco de Esquerda. […] Precisaríamos de cerca de 1.200 milhões de euros. Repare: temos de fazer o reforço da capacidade de resposta para o inverno, na área da saúde pública, na área dos cuidados intensivos. Ainda ago- ra a comissão que fez o relatório dos cuidados intensivos apresen- ta-nos números extraordinaria- mente preocupantes, e diz-nos que a resposta nos cuidados in- tensivos só foi possível porque os recursos humanos e técnicos fi- caram todos concentrados na doença covid-19. Os doentes não covid deixaram de ser operados, deixaram de ser necessários cui- dados intensivos, etc., e muitos profissionais que não eram dos cuidados intensivos tiveram a aju- dar. Se tivermos gripe sazonal mais covid-19, mais os doentes não covid que não podemos dei- xar outra vez para trás, seria de- sastroso para o país. Isso pode acontecer se houver um novo surto? Temos de ter capacidade de res- ponder à covid e à não covid. A Ordem dos Médicos fez uma su- gestão que não foi seguida de exis- tirem hospitais covid e hospitais não covid. Se tivéssemos feito isso nós tínhamos respondido à covid na mesma, até porque aca- bámos por fazer um confinamen- to relativamente bem feito. O nos- so primeiro-ministro esteve mui- to bem, é figura de eleição no combate a esta pandemia, além dos profissionais de saúde. Bastonário e médico em exercício PERFIL Licenciado em Medicina e Cirurgia pela Universidade do Porto, cidade onde nasceu há 58 anos, Miguel Gui- marães desenvolveu a sua carreira na especialidade de urologia. Faz parte da equipa de transplantação do Centro Hospitalar Universitário de São João, tendo participado, des- de 1994, “em mais de 400 cirurgias de transplante renal”, de acordo com a biografia oficial. Com um lon- go percurso associativo, chegou a presidente do Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médicos em 2011. Foi eleito em janeiro para um segundo mandato como bastonário. Mantém as consultas à quinta-feira e integra as escalas de transplante um fim de semana por mês. A 12 de março defendeu, em entrevista ao Público, o encerramento de “esco- las, cinemas, discotecas e bares”, contrariando a decisão do Conselho Nacional de Saúde Pública, tal como faria horas depois o primeiro-minis- tro, António Costa. É casado e não tem filhos. Se não fosse a pandemia passaria férias fora do país. Este ano escolhe o Algarve. “O Orçamento suplementar é uma mão-cheia de nada.” “O nosso primeiro-ministro é a figura de eleição no combate a esta pandemia, além, naturalmente, dos profissionais de saúde.” C riticando Marta Temi-do pelo que considera ser a falta de valoriza-ção dos profissionais de saúde, o bastonário da Ordem dos Médicos também refere que os profissionais não precisam de pré- mios com um alcance por definir, como os que foram aprovados no Parlamento, mas antes de uma re- visão da carreira. Existe realmente uma situa- ção de exaustão entre os mé- dicos e de rutura? Claro que existe. Estamos a fa- lar de exaustão, de ‘burnout’, de sofrimento ético, não vamos falar por exemplo de suicídios, que é complicado, não o podemos fazer publicamente... mas muita coisa aconteceu nestes meses. Muito mais do que as pessoas imaginam. Não vamos falar de suicídios mas poderíamos falar. Mas poderíamos falar. Não va- mos falar. Há muita coisa que aconteceu nos últimos meses muito complicada, eu espero que a senhora ministra esteja a par de tudo. Acha que está? Não sei se está, sinceramente. Os profissionais de saúde este ano já fizeram no primeiro semestre mais 17% de horas extraordiná- rias. No ano passado os médicos fizeram 6 milhões de horas ex- traordinárias, isto é uma coisa bru- tal. Por si só dava para contratar 3.300 médicos a trabalharem 40 horas por semana durante um ano inteiro para o SNS. Mas a circunstância de os médicos terem atingido nal- guns casos esses estados de exaustão e terem de descan- sar está a refletir-se nos ser- viços? Neste momento temos uma situação extremamente comple- xa que não é a covid. O mais im- portante é os doentes não covid. Os médicos precisam de parar um bocado porque não parar pode ter consequências desastrosas, em termos de saúde mental, mas tam- bém do ‘burnout’ e sobretudo aquilo que é o sofrimento ético, que é a pessoa querer continuar a dar o melhor de si, querer conti- nuar a trabalhar, saber que se não o fizer vai prejudicar o serviço, que em última instância tem implica- ções negativas sobre os próprios doentes e saber também que não está em condições. Se está com uma ansiedade elevadíssima, em depressão, isto depois dá aquilo que se chama o sofrimento ético. Se houver uma segunda vaga os médicos vão estar igual- mente disponíveis? Eu acredito, sinceramente, como representante dos médicos, que estarão sempre disponíveis para ajudar o país. Mas era impor- tantíssimo que quem tem respon- sabilidades políticas valorizasse mais os profissionais de saúde e lhes desse uma palavra de consi- deração… Não foi dada? Não está a ser dada. O Dia do Médico foi no dia 18 de junho, ou- CONVERSA CAPITAL Miguel Guimarães diz que a pandemia gerou situações “muito complicadas” nos hospitais e alerta para as consequências da exaustão dos profissionais de saúde, que reclamam uma revisão da carreira. “Se os médicos não pararem um bocado, pode ser desastroso” MIGUEL GUIMARÃES BASTONÁRIO DA ORDEM DOS MÉDICOS CATARINA ALMEIDA PEREIRA catarinapereira@negocios.pt ROSÁRIO LIRA, ANTENA 1 MIGUEL BALTAZAR Fotografia “Nos últimos meses aconteceu muita coisa muito complicada. Espero que a senhora ministra esteja a par de tudo. Não sei se está, sinceramente.” 6 | SEGUNDA-FEIRA | 20 JUL 2020 O bastonário da Ordem dos Médicos faz uma apreciação muito positiva do desempe- nho do primeiro-ministro - uma “figura de eleição no combate à pandemia” - mas aponta falhas à ministra da Saúde na valorização dos pro- fissionais e acusa a diretora- -geral da Saúde, Graça Freitas, de faltar à verdade. “Eu conheço bem a douto- ra Graça Freitas, é verdade que ela às vezes diz mais do que devia dizer, é verdade que tenta justificar o injustificável, e quando temos de justificar alguma coisa temos de falar a verdade. O que eu acho que às vezes tem faltado é um discur- so de verdade”. Miguel Gui- marães refere-se à decisão de autorizar os aviões a circular com a lotação máxima, “uma decisão europeia à qual Por- tugal aderiu”. “Não podemos dizer que isso não tem um pro- blema porque as pessoas vão a olhar para a frente, como ela disse. Não podemos fazer isto. A autoridade de saúde tem de dizer a principal regra de com- bate à pandemia, nos aviões, vai ser quebrada, que é o dis- tanciamento social. A segun- da é a máscara.” Graça Freitas “tenta justificar o injustificável” DOUTOR Normalmente está associado a médico. MÉDICO É um ser humanista e solidário, que no caso desta pandemia deu uma resposta absolutamente ex- cecional. MISERICÓRDIAS As Misericórdias podem ser mais importantes ainda no contexto da resposta que estamos a dar à pandemia. RICARDO SALGADO Não conheço o processo. RACISMO É feio, não devia existir. DONALD TRUMP Uma desgraça para os EUA e para o mundo. EUTANÁSIA Uma situação complexa à qual obviamente a Ordem dos Médi- cos não é favorável. AMIGO Sempre. FÉRIAS Não fica bem dizer agora o sítio que eu ia dizer, portanto Algar- ve. MAR Azul. VIDA Viver. ESPERANÇA É a última coisa a morrer. PORTUGAL Sempre. Respostas rápidas viu alguma palavra de algum po- lítico nacional sobre o Dia do Médico? O Presidente francês dedicou o Dia da Bastilha, o dia nacional de França, a homena- gear os profissionais de saúde. Você já viu isto em Portugal? E oprémio de desempenho aprovado pelo Parlamento, correspondente a metade do salário-base não é uma motivação? É um prémio que não está, sequer, bem definido. Será para quem está na linha da frente. O que é que é a linha da frente? São os centros de saúde? São os hos- pitais? É o serviço de urgência? São os centros de deteção dos testes de covid? É quem está a aguentar os doentes que estão internados? É quem está a tra- tar os doentes que estão nos cui- dados intensivos? É quem está a fazer as consultas dos doentes não covid para eles não ficarem para trás? Isso ainda não foi es- clarecido e nós vamos ter sur- presas quando chegarmos ao prémio. E depois, estes profis- sionais não precisam de prémio. Estes profissionais precisam de uma revisão da sua carreira, ver a sua carreira valorizada. Numa altura em que você vê a Hungria, a Holanda, a Alemanha, a Fran- ça, enfim… quase todos da Euro- pa a valorizarem aquilo que é o trabalho dos profissionais de saúde, em Portugal dá-se um prémio que não se sabe que pré- mio é que vai ser. Acha que será possível ne- gociar carreiras com o agravamento da situação económica e orçamental? Sabe que estas coisas têm um ‘timing’ para serem feitas. Nós somos peritos a fazer pla- nos a dez anos. Mas nós temos de responder às pessoas hoje. Eu percebo que não conseguimos fazer tudo de uma vez, eu perce- bo que existem limites para fa- zer as coisas. Mas há um mo- mento para valorizar estas pes- soas, que mostraram que a saú- de num país é extraordinaria- mente importante, que deram um exemplo ao mundo de qual é a posição de Portugal na área da saúde, que tem uma taxa de letalidade que compara favora- velmente com a maior parte dos países europeus. Estes profissio- nais merecem um bocado mais de consideração. E eu lamento dizê-lo, mas acho que quem tem a responsabilidade direta sobre os profissionais – estou a falar da ministra da Saúde, sendo obje- tivo – não o tem feito. Bem pelo contrário. Ainda estamos a tem- po. Explicou que um estudo feito há dois anos mostrou que 66% dos médicos têm alguma dimensão de ‘bur- nout’. Já percebemos tam- bém que no decurso desta pandemia houve situações extremas de suicídio entre os médicos, e sobre isso também vão ter dados nes- se estudo? Ou tem neste momento? Não, não temos dados ofi- ciais sobre essa matéria. Essa matéria, como sabe, é uma ma- téria complexa. É uma matéria que pode ter outro tipo de con- tornos. Nós temos conhecimen- to de situações, não temos pro- priamente dados sobre essa ma- téria nem estamos a procurá-los neste momento. Mas vão procurar? Talvez. Não os podemos di- vulgar, por isso são mesmo só para nós. Um novo inquérito da Ordem dos Médicos conclui que há 49 médicos infetados em cerca de 2.600 inquiridos (2%). “Trans- pondo isto para o número de médicos que temos no país, isto corresponde a cerca de 1.017 médicos que já estiveram infe- tados ou que estão infetados”, um número superior ao que tem sido divulgado pelas auto- ridades, conclui o bastonário da Ordem dos Médicos. Em entrevista ao Negó- cios e à Antena 1, Miguel Gui- marães diz também que a percentagem de médicos que tiveram contacto mais direto com pessoas com covid e que ainda não foram testados está ligeiramente abaixo dos 47% apurados no inquérito divul- gado em maio. Apesar de reconhecer que a percentagem de médicos tes- tados aumentou, o bastonário acrescenta que ao contrário do que chegou a admitir o Gover- no, a “política de testagem está exatamente igual”. A Ordem contesta a norma da da DGS que determina que “um médico ou enfermeiro que tenha tido um contacto de alto risco, ou seja, que tenha es- tado com um doente covid-19 ou com um doente suspeito de ter covid-19 não deve fazer tes- tes a não ser que tenha sinto- mas”. O objetivo da norma será que “não se detete tanta gente se calhar infetada por- que aí depois não há capital humano”. Política de testagem de médicos “está exatamente igual” Em Portugal, dá-se um prémio que não se sabe o que vai ser. Os profissionais de saúde não precisam de um prémio, precisam de uma valorização da carreira. SEGUNDA-FEIRA | 20 JUL 2020 | CONVERSA CAPITAL | 7 8 | SEGUNDA-FEIRA | 20 JUL 2020 O discurso do desconfinamento foi “demasiado otimista”, mas era expectável um aumento de casos. Faltam meios em Lisboa, mas Miguel Guimarães considera que a situação está “mais ou menos controlada”. A pesar da falta de meios na região de Lisboa, a situação está “mais ou menos con- trolada”, defende o bastonário da Ordem dos Médicos, sublinhan- do que não seria possível descon- finar sem aumentar novos casos. Portugal continua diaria- mente com mais de 300 no- vas infeções. Do seu ponto de vista, estes números são preocupantes? E correspon- dem à realidade? Eu não sei se correspondem à realidade ou não, eu tenho de acreditar que aquilo que a autori- dade da Saúde nos comunica está correto. Sabemos que os sistemas de informação não têm funciona- do como deve ser. Mas é preciso que se diga que no desconfina- mento é sempre possível que os casos aumentem. Claro que nós estamos a ter mais do que os ou- tros [países] mas já temos mais tempo de desconfinamento. O que é que está a falhar? Está a fa- lhar a comunicação que foi feita ao país, existiu um discurso de- masiado otimista, o discurso que estava tudo bem, tudo controla- do. Ora, se por um lado esse dis- curso ajuda ao desconfinamento por outro lado é facilitador de que as pessoas não cumpram as pró- prias regras da DGS. Além disso aqui na região de Lisboa e Vale do Tejo existem de facto deficiências a nível do capital humano, dos técnicos que dão apoio à saúde pública, dos enfermeiros. Isso não tem permitido atuar com rapidez na identificação das pessoas, no isolamento e na testagem, even- tualmente se necessário usando cercas sanitárias. E neste caso da AML isso de- via ter sido feito? Eu não tenho a informação que permita dar uma resposta cor- reta. Esse é outro dos problemas. A informação que é disponibiliza- da à comunidade médica e cientí- fica é a que sai na newsletter da DGS, que é uma mão-cheia de nada. Relativamente à questão de Lisboa, e referia que é preci- so mais meios para tentar ul- trapassar, recordo que por exemplo o PSD criticou a atuação do presidente da câ- mara, diz que falhou na pre- venção e que acordou tarde. Isto faz sentido? Eu recordo que as chefias dos hospitais dos ACES e os próprios presidentes de câmara do Norte do país [no início da pandemia] tiveram um comportamento ir- repreensível. Foi o presidente da Câmara de Ovar que pediu a cer- ca sanitária. Houve um compor- tamento que provavelmente não teve lugar aqui em Lisboa em Vale do Tejo. Por outro lado, por exemplo a questão dos transpor- tes públicos: continua a insistir- -se que não tem importância e – isto agora é uma brincadeira – se calhar porque o vírus já não con- segue entrar no metro, num au- tocarro. Numa determinada fase as pessoas estão amontoadas umas em cima das outras. E isto de facto não é isolamento social. E é impossível alguém dizer se esta situação já contribuiu para as infeções ou não. Existe probabilidade de ha- ver contágio em transportes lotados? É enorme. Sabemos disso, é aliás como nos campos de futebol. Ainda bem que os jogos de futebol não tiveram assistência e espero que a Champions também não vá ter, porque senão será um desas- tre. O público não se consegue conter. As médias que estamos a ter preocupam-no? Se nós compararmos com o que está a acontecer na Europa no nú- mero de novos infetados por dia não estamos bem. Continuamos muito bem na taxa de letalidade, que se deve diretamente aos pro- fissionais de saúde. Agora eu não estou propriamente muito preo- cupado, porque eu acho que a si- tuação está mais ou menos con- trolada, ok? Onde há algum des- controlo é nos meios, nos meca- nismosde controlo da própria in- feção. Desde o início que faltam médicos de saúde pública aqui na região de Lisboa e Vale do Tejo, faltam pessoas para ajudar a fazer os contactos, depois isolar e fazer o rastreamento total dos poten- ciais infetados. [...]Isto é uma ca- deia. Se não conseguir rapida- mente ter os resultados dos tes- tes, ou seja, se os resultados não forem rápidos, eu vou demorar muito tempo a saber quem é po- sitivo e quem não é positivo. Há um risco “enorme” de contágio em transportes lotados MIGUEL GUIMARÃES BASTONÁRIO DA ORDEM DOS MÉDICOS CATARINA ALMEIDA PEREIRA catarinapereira@negocios.pt ROSÁRIO LIRA, ANTENA 1 MIGUEL BALTAZAR Fotografia CONVERSA CAPITAL Publicidade 10 | SEGUNDA-FEIRA | 20 JUL 2020 ECONOMIA A inda que tenham em vista o aumen-to da rentabilidade da empresa ou da sua produtividade, a redução de desperdícios ou mes- mo a modernização, a aquisição de ativos isolados que não estejam integrados num projeto de inves- timento não podem ser aceites pelo Fisco para efeitos de aplica- ção do Regime Fiscal de Apoio ao Investimento (RFAI). Por outras palavras, não contam para efeitos deste aplicação deste benefício. Em causa está uma recente in- terpretação, sancionada pela di- retora de serviços do IRC e agora divulgada pelo Fisco. Ainda que respeite a um caso concreto, terá efeitos para a generalidade dos contribuintes, uma vez que, sen- do uma informação vinculativa, deverá passar a ser esta a orienta- ção seguida pelos serviços sempre que apreciem situações idênticas. O RFAI está previsto no Códi- go Fiscal do Investimento e tem como objetivo promover o inves- timento e a criação de postos de trabalho. Permite uma significati- va redução do IRC e em 2018 (úl- timas estatísticas disponíveis), foi o benefício mais utilizado pelas empresas portuguesas, represen- tando cerca de 165 milhões de eu- ros de deduções à coleta de IRC. Na prática, corresponde a uma de- dução à coleta de 25% do investi- mento relevante para investimen- tos até 15 milhões de euros e 10% quanto ao remanescente. Em re- gra há um limite até 50% da cole- ta, mas se for uma empresa em iní- cio de atividade, o RFAI poderá concorrer até 100% da coleta. A dedução é feita no ano seguinte, mas se não houver coleta, pode ser reportada por 10 exercícios. Central telefónica e música No caso agora avaliado pelo Fis- co, na sequência de dúvidas colo- cadas por contribuintes, estava em causa uma empresa que tinha efe- tuado investimentos em tecnolo- gia e imagem, adquirindo uma central telefónica digital e softwa- re de apoio à produção. Tinha também comprado música, a uma produtora, para inserir no seu site. Ora, o CFI considera, de fac- to, que são elegíveis, para efeitos do RFAI, os investimentos nos ativos fixos tangíveis, adquiridos em estado de novo, desde que afe- tos à exploração da empresa e os investimentos em ativos intangí- veis, constituídos por despesas com transferência de tecnologia, nomeadamente através da aqui- sição de direitos de patentes, licen- ças, ‘know-how’ ou conhecimen- tos técnicos. Porém, o mesmo có- digo prevê expressamente que só são aceites as aplicações que res- peitem a “investimentos iniciais”. Mas em que consiste, afinal, este conceito de investimento ini- cial? Serão, desde logo, os custos relacionados com a criação de um novo estabelecimento. Mas, tam- bém, os que potenciem o aumen- to da capacidade de um estabele- cimento já existente ou os que con- corram para a diversidade da pro- dução de uma empresa. E, final- mente, o investimento efetuado na sequência de “uma alteração fun- damental do processo de produ- ção global de um estabelecimento já existente”. É dentro destes pa- râmetros que o Fisco define o que é ou não aceite para efeitos de RFAI e, de acordo com a interpre- tação agora determinada pela AT, não se considera “como aplicação relevante a ‘aquisição isolada’ de ativos que não integrem tal concei- to”, não sendo igualmente “elegí- vel como aplicação relevante o in- vestimento na ‘aquisição de equi- pamentos de substituição’”, lê-se na informação vinculativa. Isto porque, acrescenta o Fis- co, “tem sido entendimento” que se “pressupõe a existência de uma estratégia global de investimento, realidade que não se compagina com a aquisição isolada de qual- quer bem do ativo”. Ou seja, ape- sar de até estar em causa o aumen- to da rentabilidade e produtivida- de da empresa, ou a sua moderni- zação, se os investimentos em cau- sa não se inserirem “numa estra- tégia global de investimento” com vista a um “aumento da capacida- de de um estabelecimento já exis- tente” ou ”diversificação da produ- ção no que se refere a produtos aí não fabricados anteriormente”, não podem ser aceites para efeitos deste benefício. IMPOSTOS Compras isoladas não contam para o RFAI Aquisição de ativos isolados ou de equipamentos de substituição não podem ser aceites para efeito de aplicação do regime do apoio ao investimento. A decisão é da AT que assim vem interpretar o regime de benefícios fiscais mais usado pelas empresas. Os benefícios fiscais no âmbito do regime de apoio ao investimento foram os mais usados em 2018. MIguel Baltazar FILOMENA LANÇA filomenalanca@negocios.pt A Inspeção-Geral de Finanças reco- mendou recentemente à Autoridade Tributária e Aduaneira que reforce a sua ação de fiscalização à forma como está a ser utilizado pelas em- presas o Regime Fiscal de Apoio ao Investimento (RFAI). Numa audito- ria ao triénio 2015/2017, a IGF dete- tou situações irregulares num total de 34 milhões de euros, “resultantes de diferenças nos saldos transitados, de incoerências entre saldos inicial e final do mesmo exercício e do in- cumprimento da regra de dedução máxima de 50% da coleta do IRC”. A IGF concluiu que “as metodologias de controlo deste importante bene- fício fiscal de IRC estavam desatua- lizadas e que algumas normas apli- cáveis ao RFAI necessitam de clarifi- cação (como por exemplo, quanto aos requisitos relativos à criação de postos de trabalho, à gestão dos in- vestimentos relevantes intragrupo, ao apuramento da dotação RFAI e ao limite de dedução à coleta)”. IGF detetou falhas no controlo SEGUNDA-FEIRA | 20 JUL 2020 | ECONOMIA | 11 Três dias de negociações in-tensas e dezenas de reu-niões bilaterais foram in-suficientes para os líderes da União Europeia chegarem um entendimento até ao jantar que de- correu na noite de ontem em Bru- xelas, altura em que persistiam grandes divisões entre o bloco de cinco países conhecido por “frugais” e os restantes estados-membros . No fecho desta edição, à mesa do tenso jantar que decorria no ple- nário do Conselho Europeu, o ce- nário mais provável apontava para um fracasso. Holanda, Áustria, Di- namarca e Suécia, grupo a que se juntou a Finlândia, estavam isola- dos do resto da UE, mas mostra- vam-se intransigentes na redução adicional das subvenções do plano de recuperação da pandemia O grupo de países liderado pelo primeiro-ministro holandês Mark Rutte pretendia reduzir o valor do fundo de recuperação para 700 mil milhões de euros. E que o dinheiro fosse dividido em partes iguais em subvenções e empréstimos com ju- ros reduzidos, ambas com fatias de 350 mil milhões de euros. Uma so- lução bem distinta da proposta for- mulada inicialmente pelo presi- dente do Conselho Europeu (500 mil milhões em subvenções e 250 mil milhões em empréstimos) e que no sábado já tinha sido revista para ir ao encontro das pretensões dos “frugais”. A meio do Conselho Europeu Charles Michel tinha cortado o montante do fundo de recuperação da UE a distribuir pelos países a fundo perdido de 500 para 450 mil milhões. E transferiu esse valor para a rubrica a conceder a título de empréstimos (300 mil milhões de euros), mantendo o montante glo- bal de 750 mil milhões de euros de dívida conjunta que a Comissão Europeia se propõe assegurar jun- to dos mercados.Mark Rutte comentou que esta proposta representava um “passo na direção certa”, mas exigiu que presidente do Conselho Europeu fosse mais longe. Mas Charles Mi- chel, Merkel e Macron colocaram o limite mínimo das subvenções nos 400 mil milhões de euros. Europa dividida Com os dois lados ainda longe de um consenso, ao início da noite de ontem vários líderes europeus ad- mitiam um prolongamento nas ne- gociações até segunda-feira, a tem- po de ter uma solução antes da abertura dos mercados europeus. A Europa já por diversas vezes conseguiu fechar acordos impro- váveis após maratonas negociais pela noite dentro. Mesmo que tal se repita agora, parece certo que o fundo de recuperação não terá o “poder de fogo” previsto no início e o Conselho Europeu mostra uma vez mais como são profundas as di- visões, sobretudo norte-sul e leste- -oeste na Europa. No jantar de ontem um dos lí- deres dos “frugais” rebateu as críti- cas de que estavam a ser intransi- gentes, lembrando que entraram neste Conselho Europeu a defen- der ausência de subvenções e ago- ra estavam dispostos a aceitar 350 mil milhões de euros. Já do outro lado a cedência tinha sido a redu- ção de “apenas” 50 mil milhões de euros nos apoios a fundo perdido. A dificultar o acordo estava também o próximo quadro finan- ceiro plurianual (2021-27), que foi mantido em 1,074 mil milhões de euros e os frugais pretendem me- nos ambicioso para reduzir as res- petivas contribuições nacionais. Além disso continuam também a defender que se mantenha o meca- nismo de rebate, uma espécie de desconto aplicado em benefícios dos contribuintes líquidos para o orçamento comunitário. Há ainda um outro bloqueio, porventura o mais sensível de to- dos e que tem Mark Rutte como principal promotor. Trata-se do chamado modelo de gestão das re- formas e investimentos que os Es- tados-membros terão de prosse- guir, como contrapartida para o re- cebimento dos fundos. O confronto verbal subiu on- tem de tom ao longo do dia, com o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, a dizer que o acordo estava bloqueado “por causa do tipo ho- landês” e o primeiro-ministro ita- liano a considerar que a “Europa está a ser chantageada”. A presi- dente do BCE transmitiu uma mensagem que pode ser entendi- da como um tranquilizador para os mercados. “Mais vale chegar a acordo sobre um plano ambicioso, mesmo que demore mais algum tempo”. CONSELHO EUROPEU Exigências dos “cinco frugais” travam recuperação da Europa Os “cinco frugais” pretendem reduzir o valor do fundo de recuperação e baixar os apoios a fundo perdido para 350 mil milhões de euros. O presidente do Conselho Europeu, Merkel e Macron não vão além de um corte para 400 mil milhões de euros. Intensas reuniões no conselho europeu de três dias não foram suficientes para aproximar posições até ao jantar de domingo. Francisco Seco/Pool/EPA NUNO CARREGUEIRO nc@negocios.pt DAVID SANTIAGO dsantiago@negocios.pt Falhar um acordo será uma péssima notícia para a Europa, um péssimo sinal para todos os agentes económicos. ANTÓNIO COSTA “ 12 | SEGUNDA-FEIRA | 20 JUL 2020 ECONOMIA M esmo estando em queda nas inten-ções de voto pelo segundo mês se- guido, o PS continua próximo de valores que podem conferir uma maioria absoluta e com uma van- tagem destacada sobre o PSD de 15 pontos percentuais. A sondagem de julho da Inter- campus para o Negócios e o CM/CMTV atribui 39% das in- tenções de voto aos socialistas, que assim recuam um ponto percen- tual relativamente ao registado no mês passado. Após ter crescido nas inten- ções de voto perto de nove pontos percentuais entre março e maio, para chegar aos 40,3%, o partido chefiado por António Costa pare- ce agora estar a deixar de tirar par- tido da pandemia e do chamado efeito “rally round the flag”, se- gundo o qual os detentores do po- der executivo tendem a beneficiar, pelo menos numa primeira fase, do surgimento de uma crise. Também o maior partido da oposição surge em perda, ainda que ligeira, com o PSD a não ir além dos 23,9% e Rui Rio a mos- trar-se incapaz de aproximar os sociais-democratas do PS. O PSD afasta-se novamente dos 27,8% obtidos nas legislativas de outu- bro último. Já o Bloco de Esquerda ganha força pelo terceiro mês consecu- tivo ao fixar-se em 10,4%, o que permite aos bloquistas consolida- rem a posição de terceira maior força política nacional e afasta- rem-se do Chega. CDU “apanha” Chega É que o partido populista liderado pelo também candidato presiden- cial André Ventura mantém a ten- dência de queda e perde meio pon- to para 6,2%, deixando-se assim apanhar pela CDU (coligação elei- toral entre o PCP e o PEV- parti- do ecologista os Verdes ), uma vez que a aliança encabeçada por Je- rónimo de Sousa mantém precisa- mente os mesmos 6,2% já regista- dos no mês passado. Tal como o Bloco, também o CDS cresce pela terceira vez se- guida. O partido presidido por Francisco Rodrigues dos Santos ganha mais de meio ponto percen- tual para atingir 4,8% das inten- ções de voto. IL é o partido que mais sobe Além do Bloco e do CDS, só a Ini- ciativa Liberal reforça a respetiva expressão no mais recente baró- metro da Intercampus. A força po- lítica liderada por João Cotrim Fi- gueiredo avança praticamente um ponto para 2,8%, ficando quase colado ao PAN mas ainda aquém dos 3,2% observados em maio. Por seu turno, e numa altura em que atravessa uma fase de grande instabilidade interna, o partido de André Silva permane- ce estável com 3%. Depois de causar sensação nas legislativas de 2015 e de, em 2019, ter reforçado a posição no Parla- mento, elegendo quatro deputa- dos (isto para além de ter garanti- do presença no Parlamento Euro- peu com a eleição de Francisco Guerreiro), o PAN assistiu a uma debandada de alguns dos seus mais importantes elementos diri- gentes. A agora deputada não ins- crita Cristina Rodrigues e o atual- mente eurodeputado indepen- dente Francisco Guerreiro, entre outros, abandonaram o partido. Suplementar sem repercussões Este estudo de opinião foi realiza- do entre os dias 8 e 13 de julho, já depois, portanto, da aprovação do Orçamento suplementar em que o Governo ajustou as contas para acomodar a quebra económica causada pela crise pandémica. Contudo, as votações no reti- ficativo parecem não ter tido in- fluência direta nas intenções de voto dos inquiridos pela Inter- campus no presente mês. O suple- mentar foi aprovado com votos a favor do PS e viabilizado pelas abstenções de PSD, Bloco e PAN, enquanto PCP e Verdes, pela pri- meira vez desde a geringonça, vo- taram contra. Se PS, PSD e PAN apresen- tam variações negativas face ao mês anterior, o Bloco sobe e a CDU permanece estável. SONDAGEM Depois de terem beneficiado da eclosão da pandemia, os socialistas caem pelo segundo mês consecutivo nas intenções de voto medidas pela Intercampus, contudo permanecem no limiar da maioria absoluta. Só Bloco, CDS e IL sobem face a junho. DAVID SANTIAGO dsantiago@negocios.pt PS já não capitaliza com pandemia mas ainda ronda maioria PS CONTINUA DESTACADO Intenções de voto Os socialistas são o partido que mais cai nas intenções de voto face a ju- nho, porém mantém a liderança destacada. O PSD consegue uma ligeira aproximação, mas continua a distantes 15 pontos percentuais do PS. CDU cola ao Chega e IL, ao registar a maior subida, aproxima-se do PAN. Fonte: Intercampus Objetivo Sondagem realizada pela INTERCAMPUS para a CMTV, com o objetivo de conhecer a opinião dos Portugueses sobre diversos temas da política nacional, incluindo a intenção de voto em eleições legislativas. Universo População portuguesa, com 18 e mais anos de idade, eleitoralmente recenseada, residente em Portugal Continental. Amostra A amostra é constituída por n=620 entrevistas, com a seguinte distribuição proporcional por Género (291 homens e 329 mulheres), Idade (132 entre os 18 e os 34 anos; 232 entre os 35 eos 54 anos; 256 com mais de 55 anos) e Região (234 no Norte, 146 no Centro; 165 em Lisboa, 47 no Alentejo e 28 no Algarve). Seleção da amostra A seleção do lar fez-se através da geração aleatória de números de telefone fixo / móvel. No lar a seleção do respondente foi realizada através do método de quotas de género e idade (3 grupos). Foi elaborada uma matriz de quotas por Região (NUTSII), Género e Idade, com base nos dados do Recenseamento Eleitoral da População Portuguesa (31/12/2016) da Direção Geral da Administração Interna (DGAI). Recolha da informação A informação foi recolhida através de entrevista telefónica, em total privacidade, através do sistema CATI (Computer Assisted Telephone Interviewing). O questionário foi elaborado pela INTERCAMPUS e posteriormente aprovado pelo cliente. A INTERCAMPUS conta com uma equipa de profissionais experimentados que conhecem e respeitam as normas de qualidade da empresa. Estiveram envolvidos 31 entrevistadores, devidamente treinados para o efeito, sob a supervisão dos técnicos responsáveis pelo estudo. Os trabalhos de campo decorreram entre 08 a 13 de Julho. Margem de erro O erro máximo de amostragem deste estudo, para um intervalo de confiança de 95%, é de ± 3,9%. Taxa de resposta A taxa de resposta obtida neste estudo foi de: 63%. FICHA TÉCNICA Bloco e CDS crescem pela terceira vez consecutiva e IL é o partido que mais sobe. CDU apanha o Chega. SEGUNDA-FEIRA | 20 JUL 2020 | ECONOMIA | 13 Está a desvanecer-se o efeito po- sitivo generalizado que o surto do novo coronavírus teve na ava- liação que os portugueses fazem do desempenho dos líderes par- tidários. O barómetro de julho da Intercampus para o Negócios e o CM/CMTV mostra que a po- pularidade dos líderes dos prin- cipais partidos recuou para níveis próximos dos que se verificavam antes da pandemia. O primeiro-ministro e secre- tário-geral do PS, António Cos- ta, merece uma nota de 3,4 (numa escala de 1 a 5), precisa- mente a mesma avaliação que os inquiridos pela Intercampus fa- ziam do líder socialista em mar- ço, antes de ser decretado o pri- meiro estado de emergência de- vido à crise sanitária. Ainda assim, Costa mantém- -se acima do 3 recebido em feve- reiro antes de ter sido detetado o primeiro caso de covid-19 em Por- tugal, pese embora esteja mais dis- tante do pico de 3,8 alcançado em abril e maio e dos 3,7 de junho. O presidente do PSD acom- panha a tendência de perda de popularidade, sendo que a ava- liação feita a Rui Rio está mais estabilizada. Rio obtém em julho os mesmos 3,2 conseguidos no mês anterior, abaixo dos 3,4 de abril e maio, ainda que acima da aceitação de que beneficiava em março (3) e fevereiro (2,9). Já a avaliação feita ao traba- lho de Catarina Martins recuou para 3, a mesma avaliação atri- buída à coordenadora do Bloco de Esquerda em fevereiro. Em junho, Costa, Rio e Cata- rina Martins eram os líderes par- tidários cuja avaliação mais ha- via beneficiado com a pandemia . Jerónimo, Silva e Ventura pior que antes da pandemia As avaliações feitas ao secretá- rio-geral comunista, Jerónimo de Sousa (2,6), ao líder do PAN, André Silva (2,6), e ao presiden- te do Chega, André Ventura (2,2), no mês de julho são infe- riores àquelas que estes protago- nistas políticos detinham em fe- vereiro, porém apenas os dois primeiros perdem popularidade relativamente a junho. Se se comparar a evolução da avalia- ção dos líderes entre o período prévio à crise sanitária e julho, ve- rifica-se que o mais penalizado é Ventura, agora mais distante dos 2,6 de fevereiro. Os presidentes do CDS e da Iniciativa Liberal, Francisco Ro- drigues dos Santos e João Cotrim Figueiredo, respetivamente, re- gistam variações simétricas, com a nota do primeiro a cair de 2,7 em junho para 2,6 em junho e a do se- gundo de 2,6 para 2,5. A avaliação de “Chicão” e Cotrim Figueiredo no presente mês é a mesma que ti- nham em fevereiro. DS Tal como acontece com as intenções de voto, o impacto favorável que a pandemia da covid-19 teve na popularidade dos líderes partidários entre março e junho dilui-se no presente mês de julho. Popularidade de Costa aproxima-se de nível pré-covid António Costa recolhe agora uma avaliação idêntica à de março. Mário Cruz/Lusa O presidente do PSD acompanha a tendência de perda de popularidade. Avaliação está mais estabilizada. Atividade económica aprofunda queda em junho O indicador do Banco de Por- tugal (BdP) que mede o pulso da atividade económica no país recuou 5% em junho deste ano, depois de em maio ter desliza- do 3,8%, registando uma que- da pelo décimo quarto mês consecutivo. Em abril, este in- dicador coincidente caiu 1,3 pontos percentuais face a mar- ço, naquele que foi a maior queda desde 1978, quando os registos do BdP começaram. De acordo com os dados di- vulgados na última sexta-feira pelo BdP, o consumo privado desacelerou pelo nono mês consecutivo de uma variação homóloga de -8,3% em março para uns -10,4% em abril. Também em abril deste ano, este indicador registou a maior queda mensal desde os primór- dios dos registos da instituição portuguesa. “Em junho, o indicador coincidente mensal para a ati- vidade económica e o indica- dor coincidente mensal para o consumo privado voltaram a registar uma redução acentua- da, atingindo novos mínimos históricos”, pode ler-se no co- municado divulgado pelo BdP. O banco sublinha que “os indicadores coincidentes são indicadores compósitos que procuram captar a evolução subjacente da variação homó- loga do respetivo agregado ma- croeconómico. Assim sendo, apresentam um perfil mais ali- sado e não se destinam a refle- tir em cada momento do tem- po a evolução da taxa de varia- ção homóloga do respetivo agregado de contas nacionais”. Estes valores podem ainda ser revistos, devido quer “a re- visões estatísticas da informa- ção de base, quer devido à in- corporação de nova informa- ção”, diz o BdP. Agora, a síntese económica de conjuntura publicada esta sexta-feira pelo Instituto Na- cional de Estatística mostra que quatro meses depois do início da pandemia a economia portuguesa continua a registar uma “contração intensa”, em- bora menos forte do que nos meses anteriores. A “informação disponível continua a revelar uma contra- ção intensa da atividade eco- nómica em junho, embora me- nor quando comparada com o mês anterior”, refere a publi- cação do INE, dando conta que “os indicadores de confiança dos consumidores e de clima económico prolongaram em junho a recuperação, já verifi- cada no mês anterior, das for- tes reduções observadas em abril”. No primeiro trimestre des- te ano, a economia portuguesa contraiu 2,4%, num período que só contou com um mês (março) de efeito da pandemia de covid-19. Face ao final do ano passado, a contração foi de 3,9%, a maior queda trimestral desde pelo menos 2007, se- gundo a estimativa rápida do INE (Instituto Nacional de Es- tatística). A Comissão Europeia esti- mou que o PIB de Portugal possa contrair 6,8% em 2020, menos que os 7,7% estimados para a Zona Euro. GONÇALO ALMEIDA O indicador que mede o pulso da atividade económica no país recuou pelo décimo quarto mês consecutivo. BANCO DE PORTUGAL 14 | SEGUNDA-FEIRA | 20 JUL 2020 EMPRESAS João Miranda assumiu o cargo de “chairman” da Frulact após a sua família ter vendido o grupo, em janeiro passado, ao megafundo francês Ardian. Paulo Duarte N o início deste ano, aquando da venda da Frulact ao fun-do francês Ardian, ficou a promessa de acelerar o plano estratégico e consolidar a posição do grupo maiato como um dos líderes glo- bais na indústria alimentar, trans- formando-a numa plataforma agregadora de novas aquisições. Seis meses depois, num con- texto adverso, de crise pandémi- ca mundial, aí está a primeira ope- ração de aquisição neste novo ci- clo de vida da Frulact: estabeleceu um acordo comvista à compra da totalidade da carteira de clientes à norte-americana Sensient Te- chnologies Corporation, que ser- via na área dos preparados de fru- ta no mercado da América do Norte. “O racional da aquisição é muito fácil de explicar”, atirou à João Miranda, “chairman” da Frulact. “A Sensient é um ator glo- bal muito relevante, com um vas- to portefólio de ingredientes, que na América do Norte, onde tem a sua principal sede, fornece um conjunto de atores muito relevan- tes naquele mercado”, começou por explicar. “Em 2014, a Sensient encetou um plano de reestruturação estra- tégico das suas atividades, tendo decidido alienar a atividade de preparados de fruta, inicialmente no Canadá, que na altura precipi- tou a decisão da Frulact de inves- tir em Kingston [onde abriu uma fábrica há três anos], tendo con- centrado essa atividade na sua unidade de Illinois [nos Estados Unidos]”, prosseguiu Miranda. Mais recentemente, rematou, “a Sensient decidiu vender total- mente essa sua operação, para alo- car de forma mais eficiente os seus recursos a outras atividades ‘core’, como são os negócios de aromas e corantes”. Sinalizada esta oportu- nidade, a Frulact avançou. “Este é um movimento estratégico, pois vamos tomar conta do espaço que estava a ser ocupado por um con- corrente, que o deixará de ser”, concluiu o mesmo gestor. Exportações valem 97,5% de 115 milhões de euros Sem querer revelar o valor da aquisição, o “chairman” da Frulact também não mensurou o poten- cial acréscimo de vendas por esta via. “Isso não poderemos dizer, mas acreditamos que, com a inte- gração desta nova carteira, a par de projetos que vamos conseguir ganhar à medida que consolidar- mos a relação, acreditamos que esta aquisição terá um significati- AGROALIMENTAR Frulact compra negócio de concorrente dos EUA A multinacional maiata, que a família Miranda vendeu ao fundo francês Ardian, há meia dúzia de meses, adquiriu a totalidade da carteira de clientes da norte-americana Sensient Technologies Corporation, que servia na área dos preparados de fruta para a indústria alimentar na América do Norte. RUI NEVES ruineves@negocios.pt SEGUNDA-FEIRA | 20 JUL 2020 | EMPRESAS | 15 vo impacto no nosso crescimento na América do Norte”, afiançou. Esta geografia representou 15% dos 115 milhões de euros de faturação da Frulact em 2020, com a Europa a valer 58% do to- tal, tendo a França como principal destino de vendas. Portugal gera apenas 2,5% das receitas. E de que forma a pandemia condicionou o negócio com a Sensient? “Não teve influência nenhuma”, garan- tiu Miranda. “Trouxe desafios, mas, ao mesmo tempo, revela que empresas como a Frulact , apesar do contexto desfavorável, conti- nuam ativas no mercado e na prossecução dos seus objetivos e planos estratégicos, sendo possí- vel concretizar oportunidades”, defendeu. Com 750 trabalhadores , dos quais mais de metade em Portu- gal, as suas nove fábricas – em três continentes – não pararam, “têm laborado sem qualquer restrição”, pelo que “as vendas da Frulact de- correm, nesta fase, dentro de um cenário de normal atividade, com uma performance positiva, em li- nha” com o orçamentado pela em- presa para 2020. “ Este é um movimento estratégico, pois vamos tomar conta do espaço que estava a ser ocupado por um concorrente. As nossas unidades industriais têm laborado sem qualquer restrição. As vendas da Frulact decorrem dentro de um cenário de normal atividade, com uma performance positiva, em linha com o nosso plano para 2020. JOÃO MIRANDA “Chairman” da Frulact “ Portugal atraiu, no ano passado, 158 projetos de investimento estrangeiro, mais do dobro face a 2018. Segundo uma análise da EY, cerca de 30 projetos podem ficar pelo caminho devido à covid-19. Investimento direto estrangeiro bate recorde mas pandemia pode roubar 20% Foi anunciado com pompa e cir- cunstância. A britânica Ineos ti- nha escolhido Estarreja para ins- talar uma fábrica de jipes, pre- vendo investir 300 milhões de euros e criar 500 postos de tra- balho. No início de julho, tudo caiu por terra. Por causa da pan- demia o investimento foi cance- lado. Segundo um estudo da EY, não deverá ser o único. Devido à covid-19, Portugal poderá per- der 20% dos projetos de investi- mento estrangeiro anunciados no ano passado. A análise anual da consulto- ra que mede a atratividade de Portugal enquanto destino de investimento conclui que, em 2019, foi batido um recorde: fo- ram anunciados 158 projetos de investimento direto estrangeiro (IDE), mais 84 face ao ano an- terior. Volkswagen, Nokia e Oracle são alguns dos conheci- dos. O recorde de projetos tra- duz-se também num valor má- ximo de postos de trabalho cria- dos, que deveriam ser 12.549. Em 2018 foram 6.100. Mas a covid-19 veio alterar este cenário. Destes 158 projetos, “aproximadamente 20%”, o equivalente a 30 investimentos, “podem estar em risco de ser adiados, fortemente ajustados ou cancelados”, antecipam os espe- cialistas. A análise indica que, ainda assim, Portugal está abaixo da média europeia nas intenções de cancelamento, que ronda os 35%, “o que se explica pelo per- fil do IDE na economia nacio- nal”. Apesar do período “exce- cional de incerteza”, a EY ante- cipa que Portugal será “mais re- siliente no curto prazo do que a maioria das economias congé- neres europeias”. Isto porque “uma larga fatia” dos projetos de IDE previstos destinam-se a ati- vidades menos suscetíveis ao choque da crise pandémica, como o desenvolvimento de software ou a criação de centros de serviços partilhados. De acordo com as contas da EY, dos 158 projetos anunciados em 2019, 42 são da área digital. Se nenhum destes investimentos for cancelado, este setor deverá criar 3.766 postos de trabalho. Segue-se a fabricação e forneci- mento de equipamento de trans- porte, na qual foram anunciados 31 projetos e 4.148 postos de tra- balho. O estudo sugere que os seto- res mais expostos à pandemia, e que correm, por isso, mais riscos de ver investimentos cancela- dos, são o turismo, o setor auto- móvel e os transportes. Em sentido inverso nas ex- pectativas dos investidores sur- ge tudo o que está relacionado com tecnologias e energias re- nováveis. Um exemplo é a “aposta num grande investi- mento na área da produção de hidrogénio verde”, que deverá ser fulcral para a captação de IDE nos próximos anos. “A nível geral, penso que Por- tugal, se conseguir manter os seus principais fatores de atrativida- de, conseguirá posicionar-se nas grandes tendências da economia e, por isso, do IDE, para o futu- ro”, antecipa ao Negócios Flor- bela Lima, “partner” e “leader” da EY-Parthenon. Na visão da es- pecialista, “pela sua muito vanta- josa posição geográfica”, Portu- gal “poderá ser um dos pivôs cen- trais, na Europa, da reconfigura- ção e proximidade das cadeias de valor”. E no futuro, “mais do que um impacto negativo, a econo- mia portuguesa pode beneficiar deste novo contexto”, conclui Florbela Lima. Alentejo menos atrativo A análise geográfica aos proje- tos anunciados em 2019 revela que 108 têm origem na Europa. No entanto, a proporção do in- vestimento europeu caiu de 80% para 68%, já que o núme- ro de projetos oriundos de ou- tros continentes mais do que tri- plicou, de 15 para 50. O destaque vai para os Esta- dos Unidos, que em 2019 anun- ciaram 26 projetos para o terri- tório português, mais do que qualquer outro país. Seguem-se a Alemanha e a França, com 22 e 21 projetos, respetivamente. O Reino Unido passou de seis para 15 investimentos. A região de Lisboa surge como a mais atrativa para os in- vestidores, tendo captado 62 projetos, que equivalem a 4.090 postos de trabalho. O Norte do país, apesar de ter captado me- nos 11 projetos que Lisboa, des- taca-se pelos empregos previs- tos, que chegam a 5.722. Para o Centro foram anunciados 26 projetos e 1.518 postos de traba- lho. Sóo Alentejo se destaca pela negativa, já que estão previstos para esta região nove projetos de IDE, menos 12 do que em 2018. No ano passado, Portugal foi a 11.ª economia mais atrativa da Europa para os investidores es- trangeiros, tendo captado 2,5% do volume total de IDE. ANA SANLEZ ESTUDO 158 INVESTIMENTO Em 2019 foram anunciados para Portugal 158 projetos de investimento direto estrangeiro, mais do dobro face a 2018. 2,5 VOLUME Portugal captou 2,5% do volume total de IDE da Europa em 2019, uma subida face aos 1,2% registados no ano anterior. 26 ESTADOS UNIDOS O país mais interessado em investir em Portugal são os EUA, com 26 projetos anunciados. Segue-se a Alemanha. 16 | SEGUNDA-FEIRA | 20 JUL 2020 EMPRESAS O Ministério Público (MP) chamou como testemunhas do pro-cesso Universo Espíri- to Santo cinco antigos administra- dores que, noutro processo, o da insolvência do Banco Espírito Santo (BES), considerou como culpados pela queda do banco, in- cluindo José Maria Ricciardi. Es- tes ex-gestores são agora ilibados de culpas pelo colapso do grupo. O processo de insolvência do BES decorre no Tribunal do Co- mércio de Lisboa desde 2016. No ano seguinte, a comissão liquida- tária do BES qualificou a insol- vência do banco como culposa, apontando 13 antigos administra- dores como os responsáveis pelo colapso. Já em 2018, o MP con- cordou na íntegra com a versão dos liquidatários, considerando que os 13 tinham tido uma condu- ta culposa na gestão do banco. Os antigos gestores em causa eram Ricardo Salgado, José Ma- nuel Espírito Santo, Amílcar Mo- rais Pires, Manuel Fernando Es- pírito Santo, José Maria Ricciar- di, António Souto, João Freixa, Joaquim Goes, Jorge Martins, Stanislas Ribes, Pedro Mosquei- ra do Amaral e Ricardo Abecassis. No final do ano passado, o MP mudou de posição em relação a Pedro Mosqueira do Amaral e a Ricardo Abecassis, deixando de considerar os dois como culpados pela queda do banco, sem justifi- car porquê. A comissão liquidatá- ria do BES acompanhou esta mu- dança de posição e também aca- bou por deixar de considerar que estes dois gestores eram culpados. Finalmente, já este ano, o juiz res- ponsável pelo processo de insol- vência do BES decidiu seguir es- tas duas entidades e declarar que Mosqueira do Amaral e Ricardo Abecassis “não deverão ser afeta- dos numa eventual qualificação da insolvência como culposa”. Sobraram, assim, 11 gestores que continuam a ser tidos como os culpados pela queda do BES. Des- tes, quatro são agora arguidos também no processo Universo Espírito Santo, cujo despacho de acusação foi divulgado na semana passada: Ricardo Salgado, Manuel Fernando Espírito Santo, Amílcar Morais Pires e José Manuel Espí- rito Santo. Jorge Martins e Stanislas Ri- bes são referidos no processo, mas não são acusados nem chamados a testemunhar. E cinco não só não são apontados como culpados como são chamados como teste- munhas da acusação: José Maria Ricciardi, Joaquim Goes, António Souto, João Freixa e Rui Silveira. KPMG também é chamada Estes cinco ex-administradores fazem parte de um grupo de 148 testemunhas indicadas pelo MP, entre as quais estão Fernando Ulrich, antigo presidente do BPI, Helder Bataglia, ex-administra- dor da Escom, ou Pedro Queiroz Pereira, já falecido mas cujo de- poimento que foi prestado em vida o MP pretende usar. Para além destes, o MP cha- mou Inês Viegas e Fernando An- tunes, auditores da KPMG Portu- gal responsáveis pela fiscalização externa das contas do BES, e ain- da Sikander Sattar, presidente da KPMG em Portugal. De fora da lista de testemunhas ficou Sílvia Gomes, funcionária da KPMG que também era responsável por auditar as contas do BES. José Maria Ricciardi é um dos antigos gestores do BES apontados como culpados pela queda do banco e que agora é testemunha do MP. 148 TESTEMUNHAS No despacho de acusação do processo Universo Espírito Santo, o Ministério Público pede para que sejam ouvidas 148 testemunhas. CASO BES No processo de insolvência do BES, cinco ex-gestores foram apontados pelo Ministério Público como culpados pela queda do banco. No processo Universo Espírito Santo, não só não são acusados de qualquer crime como são chamados como testemunhas. RAFAELA BURD RELVAS rafaelarelvas@negocios.pt MP chama testemunhas que já apontou como culpadas SEGUNDA-FEIRA | 20 JUL 2020 | EMPRESAS | 17 Sérgio Lemos A Zyrcan, uma das empresas do Gru- po Espírito Santo (GES) que, de acor- do com o Ministério Público, seria usada para movimentar dinheiro dentro do grupo, é uma das entida- des envolvidas no “apagão fiscal” das transferências para paraísos fis- cais. Em causa está a falha, ocorri- da entre 2011 e 2014, que permitiu que 10 mil milhões de euros em transferências realizadas para pa- raísos fiscais comunicadas pelos bancos não tenham passado pelo controlo da Autoridade Tributária e Aduaneira, um caso noticiado pelo Público em 2017, que levou o Minis- tério Público a abrir um inquérito. Terá sido graças a este “apagão”, noticia agora o Jornal Económico, que a Zyrcan conseguiu escapar ao controlo do Fisco. Esta era uma so- ciedade com sede nas Ilhas Virgens Britânicas e servia como uma das peças do alegado esquema financei- ro que terá sido liderado por Ricar- do Salgado ao longo de vários anos enquanto presidente do BES. GES envolvido no “apagão fiscal” Recorde-se que, no ano passa- do, o Banco de Portugal (BdP) acusou a KPMG Portugal de ter prestado, ao regulador, informa- ções falsas relativas ao BES, ao mesmo tempo que acusou Inês Viegas e Fernando Antunes de in- frações especialmente graves. Síl- via Gomes também chegou a ser acusada pelo BdP, mas acabou por não ser condenada. Mais tarde, ainda em 2019, es- tes três sócios da KPMG, cuja ido- neidade estava a ser avaliada tam- bém pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), decidiram adiantar-se à decisão do regulador e afastar-se, por ini- ciativa própria, da profissão. As- sim, deixaram de exercer a ativi- dade de auditoria durante um pra- zo mínimo de dois anos, mas não chegou a ser-lhes retirada a ido- neidade. No despacho de acusação do processo Universo Espírito San- to, contudo, o MP iliba os audito- res de quaisquer responsabilida- des, por considerar que “foram manipulados” por uma rede orga- nizada que não permitia “supor a envergadura do que era crimino- samente feito para retardar a ca- pitulação do GES”. No âmbito do processo conhecido por Universo Espírito Santo, o Ministério Público quer cha- mar 148 testemunhas. Entre elas, estão antigos administradores do BES, que chegaram a ser apontados como culpados pela queda do banco, Fernando Ulrich e José Guilherme, e ainda alguns membros da família Espírito Santo e os auditores da KPMG. Antigos administradores, auditores, Fernando Ulrich e o construtor José Guilherme. Quem são as testemunhas da acusação TOME NOTA OS ANTIGOS GESTORES DO BES José Maria Ricciardi, António Sou- to, Rui Silveira, João Freixa e Joa- quim Goes, antigos administrado- res do BES, foram considerados culpados, por parte do Ministério Público, pela queda do banco no âmbito do processo de insolvên- cia. Já no processo Universo Espí- rito Santo, o Ministério Público não lhes aponta qualquer culpa e são chamados como testemunhas da acusação. ULRICH E PEDRO QUEIROZ PEREIRA Em 2013, Ricardo Salgado quis as- sumir o controlo da Semapa, o grupo de Pedro Queiroz Pereira. O empresário acusou o banquei- ro de querer capturar liquidez fora do GES, através do grupo Se- mapa, e deu-se início a uma dis- puta judicial. O conflito entre os dois acabou por ter intermediá- rios, incluindo o então presiden- te executivo do BPI, Fernando Ulrich. É nesta altura que Fernan- do Ulrich tem conhecimento de problemas de solidez no GES, fa- zendo chegar informação sobre os mesmos ao Bancode Portugal. É por este contexto que Ulrich é agora chamado como testemu- nha da acusação. O Ministério Pú- blico também pretende usar o de- poimento de Pedro Queiroz Perei- ra, falecido em 2018. OS AUDITORES DA KPMG Sikander Sattar, presidente da KPMG Portugal, Inês Viegas e Fer- nando Antunes, sócios da audito- ra, que era responsável pela fis- calização externa das contas do BES, são chamados como teste- munhas. De fora fica Sílvia Go- mes, auditora da KPMG que tam- bém era responsável por auditar o BES. A KPMG foi acusada pelo Banco de Portugal de ter presta- do informações falsas relativas ao BES, mas é ilibada de culpas por parte do Ministério Público, que considera que a auditora terá sido manipulada. O CONSTRUTOR JOSÉ GUILHERME O Ministério Público quer chamar José Guilherme, o construtor ci- vil da Amadora que ofereceu 14 milhões de euros a Ricardo Salga- do. O antigo banqueiro justificou esta oferta como um presente pessoal do construtor, que era cliente do BES. O presente, trans- ferido para a conta pessoal de Ri- cardo Salgado na Suíça, terá sido um agradecimento pelo apoio dado pelo BES, que permitiu a José Guilherme entrar em Ango- la como um dos maiores investi- dores imobiliários de Luanda. FRANCISCO CARY E ANTÓNIO RAMALHO Francisco Cary, hoje administra- dor da Caixa Geral de Depósitos e antigo administrador do BESI, o banco de investimento do grupo que era liderado por José Maria Ricciardi, também é chamado, tal como António Ramalho, presi- dente do Novo Banco, o banco que nasceu da resolução do BES. OS MEMBROS DA FAMÍLIA Para além de José Maria Ricciar- di, outros membros da família Es- pírito Santo são chamados como testemunhas. É o caso de António Ricciardi, pai de José Maria Ric- ciardi. Peter Brito e Cunha, primo de Ricardo Salgado e antigo pre- sidente da Tranquilidade – que ordenou um financiamento de 150 milhões de euros ao GES, que acabou por descapitalizar a segu- radora –, também é chamado. O mesmo acontece com Carloto Bei- rão da Veiga, que era administra- dor do fundo da Herdade da Com- porta. Ricardo Salgado, José Ma- nuel Espírito Santo e Manuel Fer- nando Espírito Santo são os úni- cos membros da família acusados pelo Ministério Público. OS LIQUIDATÁRIOS O Ministério Público quer ainda ouvir César Brito, da comissão li- quidatária do BES, e Alain Ruka- vina e Paul Laplume, responsá- veis pela liquidação das empre- sas do GES no Luxemburgo. O despacho de acusação do MP foi divulgado na semana passada. Hugo Correira/Reuters 18 | SEGUNDA-FEIRA | 20 JUL 2020 MERCADOS A rranca esta segun-da-feira o aumento de capital da EDP. Com as novas ações a serem colo- cadas com um desconto que os analistas consideram bastante atrativo, os investidores querem garantir que têm ações em mão antes de arrancar a operação. Em apenas duas sessões, os títulos va- lorizaram 4,5%, aumentando para cerca de 28% o valor do desconto aplicado na operação. As ações da EDP encerraram a última sessão a valorizar 2,1% para 4,565 euros, um preço que está 4,5% acima da cotação de fe- cho de quarta-feira, dia em que a elétrica anunciou que iria com- prar a Viesgo e realizar um au- mento de capital para financiar parte da operação. A expectativa que este negócio seja uma boa oportunidade de crescimento e de criação de sinergias, assim como o preço a que serão colocadas as novas ações – 3,30 euros – origi- nou uma reação positiva no mer- cado. De acordo com o prospeto da operação enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) na última quinta-feira à noite, as ações da EDP nego- ceiam esta segunda-feira pela úl- tima vez com os direitos de subs- crição do aumento de capital in- corporados, pelo que vão ter um ajuste técnico para refletir este destaque. Se fecharem com a mes- ma cotação de sexta-feira (4,565 euros), as ações arrancam a ses- são de terça-feira com um preço teórico de 4,466 euros. Cada di- reito ficará avaliado em 9,9 cênti- mos, sendo que o seu valor real será determinado quando come- çar a ser negociado em bolsa a par- tir de 23 de julho. Os acionistas têm direito de preferência neste aumento de ca- pital, pelo que vão receber um di- PATRÍCIA ABREU pabreu@negocios.pt NUNO CARREGUEIRO nc@negocios.pt O negócio anunciado por Miguel Stilwell foi bem recebido pelo mercado, com as ações a reagirem em forte alta à aquisição da Viesgo. BOLSA Corrida às ações da EDP antes do aumento de capital Os títulos da elétrica valorizam cerca de 4,5% desde o anúncio da aquisição da empresa espanhola, com os investidores a comprarem ações da EDP antes do aumento de capital, que arranca hoje. O desconto a que vão ser vendidos os novos títulos já é de 28%. 28% DESCONTO As novas ações da EDP vão ser colocadas a 3,30 euros, um preço que está a negociar com um desconto de 27,7% face à cotação atual. SEGUNDA-FEIRA | 20 JUL 2020 | MERCADOS | 19 A parceria da EDP com a Macquarie, criada para a com- pra da espanhola Viesgo, veio reforçar os ativos de energia limpa do grupo português, as- sim como o potencial de cres- cimento neste setor. Confron- tada com a possibilidade de ha- ver uma nova tentativa de inte- gração da EDP Renováveis na própria EDP, a casa-mãe con- sidera que esta “não é uma prioridade”, embora não ex- clua diretamente a opção. “Esse movimento não é uma prioridade”, afirma fonte oficial da elétrica, perante a questão de se volta a fazer sen- tido a integração da EDP Re- nováveis na EDP. A elétrica já lançou uma oferta pública de aquisição (OPA) sobre a EDP Renováveis em 2017, para fi- car com os 22,5% que não de- tinha na altura, mas não con- cretizou o objetivo: comprou apenas mais 5% e possui, atualmente, uma participação de cerca de 83%. Agora, no acordo da com- pra da Viesgo, a EDP Renová- veis herdou os ativos verdes da elétrica espanhola: 24 parques eólicos e duas centrais mini- -hídricas, localizadas em Es- panha e Portugal. Com isto, a EDP Renováveis reforça em 511 MW a sua capacidade ins- talada de energias limpas, ele- vando para 74% o peso das re- nováveis no grupo. “Esta aqui- sição reforça a posição da EDP enquanto líder mundial no segmento renovável” e “o seu potencial de crescimento em renováveis”, refere a elétrica. Acordo é vencedor e Macquarie está para ficar A Macquarie entrou no negó- cio da compra da Viesgo com uma participação minoritária, de 24,9%, tendo a EDP ficado dona dos restantes 75,1%. Questionada sobre o prazo de permanência do parceiro aus- traliano, a EDP assegura que “o acordo celebrado com a Macquarie será de longo pra- zo” e que “não existe acordo para alteração de condições no futuro”. Já sobre o valor do negó- cio, que ficou avaliado em 2 mil milhões, a elétrica afirma ter pago um múltiplo de 11,8 vezes o EBITDA e que este “está abaixo dos múltiplos observa- dos em transações compará- veis na Europa, tanto para re- des elétricas, como para ativos renováveis”. Este múltiplo é calculado com base no EBITDA registado pela Vies- go em 2019, “não incorporan- do ainda os benefícios que o projeto industrial EDP/Vies- go aportará ao longo dos pró- ximos anos”, realça a elétrica. Numa nota da apresentação aos analistas, assume, contu- do, que os ativos do carvão também não estão contempla- dos nos cálculos, “dado que o processo de descomissiona- mento das centrais já foi inicia- do”. ANA BATALHA OLIVEIRA Integração da EDP Renováveis “não é prioridade” Após a compra da Viesgo, da qual resultou um reforço nas energias renováveis, a EDP afasta, pelo menos para já, a integração da subsidiária de energia verde. reito por cada ação que detive- rem em carteira até ao fecho da sessão de segunda-feira (20 de julho). Cada direito vai permitir subscrever 0,085035375 novas ações. O arredondamento será feito por defeito para o número inteiro de ações ordinárias mais próximo. Um investidor que, por exemplo, seja titular de 1.000 ações da EDP,