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A FORMAÇÃO E ATUAÇÃO DO PROFISSIONAL PARA O ENSINO NA EDUCAÇÃO ESPECIAL PROFESSOR (A): COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA A FORMAÇÃO E ATUAÇÃO DO PROFISSIONAL PARA O ENSINO NA EDUCAÇÃO ESPECIAL PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe Sumário APRESENTAÇÃO .............................................................................................. 4 1. INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS ACERCA DA FORMAÇÃO DO PROFISSIONAL PARA A EDUCAÇÃO ESPECIAL: saberes, competências e atitudes ............................................................................................................... 6 DIMENSÃO DOS SABERES .......................................................................... 9 DIMENSÃO DAS COMPETÊNCIAS ............................................................. 10 DIMENSÃO DAS ATITUDES ........................................................................ 11 2. A FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA A EDUCAÇÃO INCLUSIVA: LEGISLAÇÃO, DIRETRIZES POLÍTICAS E RESULTADOS DE PESQUISAS 14 3. FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA EDUCAÇÃO INCLUSIVA: POLÍTICAS PÚBLICAS, DISCURSOS E PRÁTICAS ...................................... 26 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 26 O DIREITO DE TODOS À EDUCAÇÃO: GARANTIA À DIVERSIDADE ....... 27 A FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA: alguns apontamentos ............................................................... 28 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ..................................................... 31 RESULTADOS E DISCUSSÕES .................................................................. 32 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 35 4. A FORMAÇÃO DO PROFESSOR PARA O AEE COM RECURSOS EDUCACIONAIS ESPECIAIS .......................................................................... 37 5. A FORMAÇÃO DO PROFESSOR PARA O USO DA SALA DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS ........................................................................................ 56 6. POLÍTICAS PARA A INCLUSÃO: estudo realizado em uma escola estadual de Belo Horizonte ............................................................................................. 59 Introdução ..................................................................................................... 59 Educação inclusiva e a formação de professores ......................................... 60 Metodologia .................................................................................................. 67 Caracterização da pesquisa ...................................................................... 68 Caracterização do local da pesquisa ......................................................... 68 Procedimentos de coleta dos dados .......................................................... 68 Caracterização das participantes ............................................................... 68 Resultados e discussão ................................................................................ 69 Apresentação das oito categorias identificadas nas falas das docentes ... 69 Diretora da DESP (Diretoria de Educação Especial) ................................. 73 Depoimento da diretora da escola ......................................................... 73 PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe Considerações finais ..................................................................................... 74 7. CARACTERÍSTICAS PSICOSSOCIAIS DO CONTATO INICIAL COM ALUNOS COM DEFICIÊNCIA .......................................................................... 76 Introdução ..................................................................................................... 76 Método .......................................................................................................... 80 Participantes .............................................................................................. 80 Instrumentos e procedimentos para a coleta de dados ............................. 81 Procedimentos de análise .......................................................................... 82 Resultados e discussão ................................................................................ 82 Atribuição de origem social às dificuldades vivenciadas na relação .......... 82 Presença de forte mobilização subjetiva no contato inicial com a deficiência ................................................................................................................... 84 Considerações Finais .................................................................................... 92 8. MATERIAIS DE APOIO ................................................................................ 93 9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................. 95 REFERÊNCIAS BÁSICAS ............................................................................ 95 REFERÊNCIAS COMPLEMENTARES ......................................................... 96 PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe APRESENTAÇÃO Caro (a) aluno(a), O Instituto IBE apresenta este módulo, com o intuito contínuo de proporcionar-lhe um ensino de qualidade, com estratégias de acesso aos saberes que conduzem ao conhecimento, na área da Educação. Nesse sentido, todos os nossos projetos são, fortemente, comprometidos com o seu progresso educacional, na perspectiva do seu melhor desempenho, como aluno-profissional permissivo à busca do crescimento intelectual. Sendo assim, e, em busca desse conhecimento, homens e mulheres se comunicam, têm acesso à informação, expressam opiniões, constroem visões, diferenciadas, de mundo e produzem cultura, a partir e através de estudos e pesquisas, que essa instituição quer garantir a todos os seus alunos, a saber: o direito às informações necessárias para o exercício de suas variadas funções. Assim, expressamos nossa satisfação em apresentar o seu novo material de estudo, moderno, atual e, totalmente baseado nas mais renomadas autoridades da área, formulado pelo nosso setor pedagógico, que está sempre empenhado na facilitação de um construto melhor para os respaldos teóricos e práticos exigidos ao longo do curso. Contudo, para a obtenção do sucesso esperado por você, é necessário que seja dispensado um tempo específico para a leitura deste material, produzido com muita dedicação pelos Doutores e Mestres que compõem a equipe docente do Instituto IBE. Leia com atenção os conteúdos aqui abordados, pois eles nortearão o princípio de suas ideias, que se iniciam com um intenso processo de reflexão, análise e síntese dos saberes. Este módulo está disponível apenas como base para estudos deste curso. Não obstante, o material aqui ofertado não tem sua comercialização permitida, em nenhum formato, sendo, os créditos de autoria dos conteúdos deste material, dados aos seus respectivos autores citados nas Referências. PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe Em sendo, desejamos sucesso nesta caminhada e esperamos, mais uma vez, alcançar o equilíbrio e contribuição profícua no processo de conhecimento de todos! Atenciosamente, Coordenação Pedagógica do Instituto IBE PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte- MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe 1. INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS ACERCA DA FORMAÇÃO DO PROFISSIONAL PARA A EDUCAÇÃO ESPECIAL: saberes, competências e atitudes Pensar a Educação Especial implica retomar o Plano Nacional de Educação (PNE). No âmbito do PNE (BRASIL, 2010, p. 86), foi considerada como um grande avanço a ser desenvolvido na década: a “criação de uma escola inclusiva” baseada na formação de recursos humanos. Nesse sentido, A formação de recursos humanos com capacidade de oferecer o atendimento aos educandos especiais nas creches, pré-escolas, centros de educação infantil, escolas regulares de ensino fundamental, médio e superior, bem como em instituições especializadas e outras instituições é uma prioridade para o Plano Nacional de Educação. Não há como ter uma escola regular eficaz quanto ao desenvolvimento e aprendizagem dos educandos especiais sem que seus professores, demais técnicos, pessoal administrativo e auxiliar sejam preparados para atendê-los adequadamente. (BRASIL, 2010, p. 87). A preocupação com o atendimento aos “educandos especiais” nas escolas regulares e nas instituições especializadas revela que a proposta de escola inclusiva no período se aproximava de uma compreensão de inclusão processual, desenvolvida em diferentes espaços físicos e institucionais. Ao mesmo tempo, registra-se a atenção dedicada ao preparo/formação dos profissionais, já anunciando a importância que a formação em serviço ganhou ao longo da década no país. Assim, segundo a Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008), para atuar na educação PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe especial, o professor deve ter como base da sua formação, inicial e continuada, conhecimentos gerais para o exercício da docência e conhecimentos específicos da área. Essa formação possibilita a sua atuação no atendimento educacional especializado e deve aprofundar o caráter interativo e interdisciplinar da atuação nas salas comuns do ensino regular, nas salas de recursos, nos centros de atendimento educacional especializado, nos núcleos de acessibilidade das instituições de educação superior, nas classes hospitalares e nos ambientes domiciliares, para a oferta dos serviços e recursos de educação especial. Esta formação deve contemplar também, conhecimentos de gestão de sistema educacional inclusivo, tendo em vista o desenvolvimento de projetos em parceria com outras áreas, visando à acessibilidade arquitetônica, os atendimentos de saúde, a promoção de ações de assistência social, trabalho e justiça (BRASIL, 2008). Percebe-se que a formação docente é um dos vieses de grande interesse quando se trata de política de educação especial e inclusiva. Nesse sentido, de acordo com o PNE (2010), Na formação inicial é preciso superar a histórica dicotomia entre teoria e prática e o divórcio entre a formação pedagógica e a formação no campo dos conhecimentos específicos que serão trabalhados na sala de aula. A formação continuada assume particular importância, em decorrência do avanço científico e tecnológico e de exigência de um nível de conhecimentos sempre mais amplos e profundos na sociedade moderna. Este Plano, portanto, deverá dar especial atenção à formação permanente (em serviço) dos profissionais da educação. (BRASIL, 2010, p. 98). Verifica-se, ainda, que a formação se encontra no documento como uma das prioridades da educação: PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe Valorização dos profissionais da educação. Particular atenção deverá ser dada à formação inicial e continuada, em especial dos professores. Faz parte dessa valorização a garantia das condições adequadas de trabalho, entre elas o tempo para estudo e preparação das aulas, salário digno, com piso salarial e carreira de magistério. (idem, p. 35). Em relação à educação especial, um dos princípios a ser considerado na constituição dos cursos de formação foi a “inclusão das questões relativas à educação dos alunos com necessidades especiais [...] nos programas de formação” (idem, p. 99). Tal princípio remete para uma discussão já bastante desenvolvida no campo, segundo a qual a simples inserção de disciplinas e/ou conteúdos específicos não atribui à formação docente uma perspectiva orgânica acerca da educação dos sujeitos da educação especial, quer seja no curso de pedagogia ou nas demais licenciaturas. Essas discussões foram desencadeadas, em grande medida, pela portaria ministerial n. 1.793, de 27 de dezembro de 1994 (BRASIL, 1994a), que foi analisada, entre outros trabalhos, por Chacon (2001). A partir de 2007, o programa passou a desenvolver outra modalidade de curso, qual seja, Curso de Aperfeiçoamento de Professores do Atendimento Educacional Especializado1. Tal ação de formação está diretamente articulada ao Programa de Implantação de Salas de Recursos Multifuncionais2. Estes programas mencionados constituem o esteio da atual política para a educação especial no Brasil e estão vinculados ao Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), o plano de metas do governo federal 1 Integra o programa de formação de professores de educação especial em ação conjunta com a Universidade Aberta do Brasil (UAB). 2 O programa apoia os sistemas de ensino na implantação de salas de recursos multifuncionais (SRMs) com materiais pedagógicos e de acessibilidade para a realização do atendimento educacional especializado, complementar ou suplementar à escolarização. A intenção é atender alunos matriculados nas classes comuns do ensino regular, uma vez que o programa é destinado às escolas das redes estaduais e municipais de educação, nas quais os alunos com deficiências, altas habilidades e transtornos globais do desenvolvimento estejam registrados no censo escolar do Ministério da Educação (MEC)/Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP). PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe que apresenta um corpo de projetos para diferentes níveis e modalidades da educação nacional (GARCIA, 2013). Rodrigues (2008) ressalta que a disseminação do modelo de Educação Inclusiva, nomeadamente pela inclusão de alunos com condições de deficiência na escola regular, origina novos desafios para a formação de professores. Já não se trata de formar professores para alunos que são educados num modelo segregado, mas, sim, professores que são capazes de trabalhar com eficácia com turmas assumidamente heterogêneas. Para isto, é necessário um novo olhar sobre os saberes, as competências e as atitudes que são necessárias para se trabalhar com classes inclusivas. Essas competências são complexas e diversificadas. Espera-se que o professor seja competente num largo espectro de domínios que vão desde o conhecimento científico do que ensina à sua aplicação psicopedagógica, bem como em metodologias de ensino, de animação de grupos, atenção à diversidade, entre outras. Isto sem considerar as grandes expectativas que existem sobre o que o professor deve promover no âmbito educacional mais geral, tal como a educação para a cidadania, educação cívica, sexual, comunitária, entre outras. Alguns autores têm, por isso, denominado a missão do professor na escola contemporânea como uma “missão impossível” (BEN-PERETZ, 2001 apud RODRIGUES, 2008). O mesmo autor acima acredita que existem três dimensões de formação que devem ser consideradas para capacitaros professores no apoio à Educação Inclusiva tanto no âmbito de especialização como nível generalista: os saberes, as competências e as atitudes. DIMENSÃO DOS SABERES A dimensão dos saberes refere-se ao conjunto de conhecimentos de índole mais teórica que fundamentam as opções de intervenção3. Estes conhecimentos vão desde aspectos mais diretamente teóricos, tais como o contato com o pensamento e a teorização de diferentes autores, até (e, 3 Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=437- revista-inclusao-n-6-1&category_slug=documentos-word&Itemid=30192 PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe sobretudo) trabalhos de investigação feitos em contextos reais que possam fundamentar a adoção de determinadas opções metodológicas. No que respeita à Educação Inclusiva, esta dimensão de saberes envolve o conhecimento das características de desenvolvimento e de aprendizagem de alunos com condições não habituais. Envolve certamente a caracterização pedagógica destas condições não habituais de desenvolvimento. Tradicionalmente é dada uma grande ênfase ao estudo das condições de deficiência nomeadamente à etiologia e à patologia em termos clínicos. Precisamos, pelo contrário, reforçar o olhar educacional para as dificuldades encaradas sob o ponto de vista educacional; isto é, conhecer como se avalia, como se planeja, como se desenvolve um processo educacional e de aprendizagem em alunos com dificuldades ou com deficiências que, se não forem enquadradas, poderão influenciar a plena participação no processo educativo. A dimensão dos saberes implica também conhecer formas diversificadas de animação de grupos, quer na esfera da decisão quer no nível do desenvolvimento do currículo, bases sobre o trabalho com famílias e com comunidades em diferentes escalas de compreensão ecológica. DIMENSÃO DAS COMPETÊNCIAS A dimensão das competências relaciona-se com o “saber fazer”, isto é, o conhecimento específico que o professor deve ter para conduzir, com sucesso, processos de intervenção em contextos assumidamente diversos4. Cabe aqui refletir sobre os objetivos do trabalho pedagógico com grupos assumidamente heterogêneos. Podemos dizer “assumidamente” porque todos os grupos são heterogêneos em termos de aprendizagem; a questão é se nós os tratamos como tal (considerando que a heterogeneidade é inerente ao grupo e, portanto, “natural”) ou se nos relacionamos como grupos (naturalmente) heterogêneos como se fossem problemáticos só pelo fato de não serem homogêneos. 4 4 Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=437- revista-inclusao-n-6-1&category_slug=documentos-word&Itemid=30192 PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe Trabalhar com grupos assumidamente heterogêneos é, pois, considerar em termos de avaliação, planejamento e intervenção, que a heterogeneidade é própria do grupo e a situação anômala seria a de encontrar um grupo de aprendizagem que se pudesse considerar homogêneo (RODRIGUES, 2008). Ainda refletindo sobre o trabalho com grupos assumidamente heterogêneos, cabe perguntar o que significa considerar as diferenças dos alunos, porque o simples conhecimento das diferenças não conduz inexoravelmente à adoção de modelos inclusivos. O conhecimento das diferenças entre os alunos pode servir para justificar a sua não inclusão. Pode servir, ainda, para encontrar estratégias e metodologias que levem à anulação dessas diferenças. Neste caso, conhecer as diferenças seria só o primeiro passo para anulá-las; considerar a heterogeneidade não seria mais que a primeira etapa de um processo educativo, que teria como finalidade promover a homogeneidade dos alunos. DIMENSÃO DAS ATITUDES De pouco serviriam os saberes e as competências se os professores não tivessem atitudes positivas face à possibilidade de progresso dos alunos. É fundamental que os professores do ensino regular e de Educação Especial conheçam por experiência própria situações em que uma adequada modificação do currículo e das condições de aprendizagem consiga eliminar barreiras à aprendizagem e promover a aquisição de novos saberes e competências aos alunos5. Um professor para desenvolver atitudes positivas, não pode, como era tradicional, construir a sua intervenção baseado no déficit, mas, sim, naquilo que o aluno é capaz de fazer para além da sua dificuldade. Basta imaginar qual seria o futuro acadêmico de um jovem que tendo dificuldades, por exemplo, em Matemática, visse todo o seu currículo escolar ser referenciado a essa matéria. Assim, a construção curricular baseada na deficiência ou na dificuldade, para além de ter uma duvidosa probabilidade de 5 5 Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=437- revista-inclusao-n-6-1&category_slug=documentos-word&Itemid=30192 PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe sucesso para o aluno, evidencia uma visão do professor que mais realça as dificuldades do aluno do que as suas potencialidades. Para desenvolver expectativas positivas, é essencial que o professor conheça múltiplas formas de eliminar e contornar dificuldades e barreiras e que possa, a partir deste trabalho, acreditar e fazer acreditar que o aluno é muito mais do que as suas dificuldades e que existem variadas formas para se chegar ao sucesso. Conhecer casos de boas práticas, conhecer percursos pessoais para além da idade escolar, conhecer, enfim, depoimentos de pessoas que conseguiram construir vidas autônomas e úteis apesar de condições adversas, são certamente fatores que influenciam a formação de atitudes. Claro que quanto maior for a implicação e proximidade da pessoa com estes processos bem sucedidos, mais sedimentada e convicta será a sua atitude positiva face à possibilidade de sucesso de alunos com dificuldade. De acordo com os documentos oficiais, a educação especial, modalidade de educação escolar, é um processo educacional definido por uma proposta pedagógica que assegure recursos e serviços educacionais especiais, organizados institucionalmente para apoiar, complementar, suplementar e, em alguns casos, substituir os serviços educacionais comuns, de modo a garantir a educação escolar e promover o desenvolvimento das potencialidades dos educandos que apresentam necessidades educacionais especiais, em todas as etapas e modalidades da educação básica. Ela não caminha sozinha, isolada, ao contrário, hoje é entendida como inclusiva nos sistemas regulares de ensino, tendo como objetivo, não acabar com as diferenças, mas mantê-las ativas para poderem ser rentabilizadas na educação de todos os alunos. A anulação ou impermeabilização das diferenças impede que os alunos se confrontem com outros pontos de vista e realidades e por este motivo empobrece a qualidade da educação (RODRIGUES, 2008). Fazendo uma síntese retrospectiva, vimos que a educação especial se fundamenta em bases filosóficas, históricas, sociológicas, legislativas e pedagógicas. Há um artigo elaborado por Luiza Cortesão (pesquisadora e professora portuguesa), “O arco-íris e o fio da navalha – problemas em face das PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe diferenças” que propõe duas metáforasem que o arco-íris simboliza uma situação de preocupação e intranquilidade, mas oferece também esperança; já o fio da navalha, segundo a autora, poderá acentuar a vertente da dificuldade, do risco que comporta cada passo dado e cada iniciativa. Estas metáforas representam o equilíbrio e a ousadia que ora tombam para um lado, ora para outro. Pois bem, trabalhar com educação especial no contexto da educação inclusiva é complexo, é desafiador e igualmente motivador se nossas opções passarem por vias de mão dupla onde transitem autonomia e emancipação para todos, bem como, demanda a nossa formação continuada, específica e atualizada e nesse sentido, disponibilizaremos para leitura e análise, o artigo6 “A formação de professores para a educação inclusiva: legislação, diretrizes políticas e resultados de pesquisas”, em que a autora objetiva levantar alguns aspectos relativos à formação de professores no Brasil, com ênfase para a inclusão de pessoas com necessidades educacionais especiais no ensino regular. Para tal, a autora tomou como base três referências: a legislação nacional e as diretrizes políticas específicas do Ministério da Educação (MEC); o resultado de pesquisas e a literatura especializada sobre o tema. O texto está organizado em três partes. Primeiro aborda-se a fundamentação da formação de professores estabelecida nos documentos oficiais. Em seguida, apresentam-se os resultados de diferentes pesquisas sobre o tema. Por fim, traçam-se alternativas para a inclusão educacional. 6 Publicado pela revista Educar em Revista. Print version. ISSN 0104-4060. Online version. ISSN 1984- 0411. Educ. rev. no.33 Curitiba 2009. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-40602009000100010. Autora: Márcia Denise Pletsch - Educadora Especial com habilitação em Educação Especial pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM/Brasil). Mestrado e doutoramento em Educação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ/Brasil). Atua como professora de Pedagogia do Instituto Multidisciplinar da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe 2. A FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA A EDUCAÇÃO INCLUSIVA: LEGISLAÇÃO, DIRETRIZES POLÍTICAS E RESULTADOS DE PESQUISAS Nos últimos, ocorreram avanços importantes em relação à formação de professores no Brasil, não apenas em termos de legislação, mas, também, em relação à produção do conhecimento acadêmico voltado para o tema. Em relação à legislação, destaca-se como marco jurídico-institucional fundamental a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB 9394/96), aprovada em 20 de dezembro de 1996. O objetivo dessa lei foi iniciar um processo de mudanças em todos os níveis da educação, que foram reorganizados em educação básica - que abarca a educação infantil, o ensino fundamental, o ensino médio - e ensino superior. A LDB dedica um capítulo à formação de professores, assinalando os fundamentos metodológicos, os tipos e as modalidades de ensino, bem como as instituições responsáveis pelos cursos de formação inicial dos professores. Também, no artigo 13, a LDB estabelece as incumbências dos professores, independentemente da etapa escolar em que atuam. No artigo 87 nas Disposições Transitórias (Título IX)7, a LDB instituiu a "Década da Educação", durante a qual todos os professores da educação básica deveriam ser habilitados em nível superior ou formados por treinamento em serviço. Vale lembrar que as Disposições Transitórias não se sobrepõem às definições da LDB. Por isso, o artigo 62 revogou o disposto nas Disposições Transitórias. Assim, continua-se admitindo professores formados em cursos de nível médio, na modalidade normal, para a educação infantil e as quatro primeiras séries do ensino fundamental. Literalmente: Art. 62. A formação de docentes para atuar na educação básica far-se- á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nas quatro 7 Artigo 87 § 4.º - Até o fim da "Década da Educação" somente serão admitidos professores habilitados em nível superior ou formados por treinamento em serviço. PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade Normal. Nesse artigo, a LDB reafirma o ensino superior como nível desejável, apesar de admitir a formação mínima em curso normal para a atuação na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental. Essa deliberação foi confirmada por meio do parecer n.º 1 do Conselho Nacional de Educação (CNE), aprovado em 19 de fevereiro de 2003, segundo o qual todo professor concursado que atue em turmas de educação infantil ou séries iniciais do ensino fundamental tem assegurado o seu cargo, mesmo que não frequente curso em nível superior. Com isso, perdem os educandos, os educadores e toda a sociedade, pois a profissão docente precisa dar respostas adequadas e fazer as necessárias intervenções que envolvem situações diversas e singulares do desenvolvimento humano. Assim, podemos justificar a formação em nível superior como uma das medidas essenciais a serem tomadas para que ocorram mudanças educacionais efetivas. Contudo, deve-se levar em consideração a heterogeneidade socioeconômica do Brasil, em que acabar com o modelo atual de formação de professores sem planejamento adequado poderia provocar consequências "catastróficas" para o sistema educacional. Por outro lado, investimento na formação docente em nível superior por si só não resolverá a complexidade dos problemas educacionais brasileiros historicamente reproduzidos, como, por exemplo, o analfabetismo. É preciso compreender que mudanças na educação para atender ao paradigma vigente de inclusão educacional dependem de diversos fatores, como, por exemplo, o contexto social, econômico e cultural em que se insere a escola, as concepções e representações sociais relativas à deficiência e, por fim, os recursos materiais e os financiamentos disponíveis à escola (MENDES, 2002). Ou seja, a formação deve atender às necessidades e aos desafios da atualidade. Para tanto, sugerimos que o professor seja formado de maneira, a saber, mobilizar seus conhecimentos, articulando-os com suas competências mediante ação e reflexão teórico-prática. Neste aspecto merece destaque a Proposta de Diretrizes para a Formação de Professores da Educação Básica em Cursos de Nível Superior PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe (MEC, 2000). No item referente à formação de professores, assinalam-se as competências que devem ser dominadas como parte de um processo permanente de desenvolvimento profissional. Destacam-se aquelas referentes à compreensão do papel social da escola, ao domínio dos conteúdos, à interdisciplinaridade, ao conhecimento dos processos de investigação, ao gerenciamento do próprio desenvolvimento profissional e ao comprometimento com os valores estéticos, políticos e éticos inspiradores da sociedade democrática. O documento acima referido aponta para uma revisão urgente do processo de formação inicial de professores, de modo a superar problemas em nível institucional e no campo curricular. No que se refere ao âmbito institucional, o documento assinala, entre outros, dois problemas centrais: a) a segmentação da formação dosprofessores, da qual a descontinuidade na formação dos alunos da educação básica é uma expressão; b) o distanciamento entre os cursos de formação e o exercício da profissão de professores no ensino fundamental e médio. Ambos os aspectos reforçam o fato de que a formação vem se dando sem uma maior articulação entre teoria e prática (MEC, 2000, p. 21-24). Já no campo curricular, os principais problemas identificados na formação inicial de professores são: a) a desconsideração do repertório de conhecimentos dos professores no planejamento e desenvolvimento de ações pedagógicas; b) o uso desarticulado e o tratamento inadequado dos conteúdos das várias áreas do conhecimento na prática pedagógica; c) a falta de oportunidades para o seu desenvolvimento cultural; d) o tratamento restritivo da sua atuação profissional, ligado tão-somente à preparação para a regência de classe, deixando de lado outras dimensões fundamentais, como a sua participação na formulação do projeto político-pedagógico da escola, o seu relacionamento com alunos e com a comunidade; e) a ausência de estímulo para se desenvolver uma postura investigativa, capaz de relacionar teoria e prática; PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe f) a ausência de conteúdos relativos às novas tecnologias da informação e comunicação; g) a desconsideração das especificidades próprias dos níveis e/ou modalidades de ensino em que são atendidos os alunos da educação básica; h) a desconsideração das especificidades das áreas do conhecimento que compõem o quadro curricular na educação básica (MEC, 2000, p. 24- 34). Por fim, a Proposta de Diretrizes para a Formação de Professores da Educação Básica delineia as exigências que se colocam para o desempenho do papel docente frente às novas concepções de educação do mundo contemporâneo: Orientar e mediar o ensino para a aprendizagem dos alunos; responsabilizar-se pelo sucesso da aprendizagem dos alunos; assumir e saber lidar com a diversidade existente entre os alunos; incentivar atividades de enriquecimento curricular; elaborar e executar projetos para desenvolver conteúdos curriculares; utilizar novas metodologias, estratégias e material de apoio; desenvolver hábitos de colaboração e trabalho em equipe (MEC, 2000, p. 5, grifo nosso). Diversos estudos mais recentes têm reafirmado a necessidade da melhoria da formação de professores como condição essencial e premente para a promoção eficaz da inclusão de alunos com necessidades especiais em rede regular de ensino (GLAT; PLETSCH, OLIVEIRA; ANTUNES, 2006; PLETSCH; FONTES, 2006). Não é para menos. A realidade evidenciada por uma pesquisa recente em âmbito nacional mostrou que os professores, de maneira geral, não estão preparados para receber em sua sala de aula alunos especiais (GLAT; FERREIRA; OLIVEIRA; SENNA, 2003)8. Diagnóstico semelhante também foi traçado por Castro (2002) numa pesquisa realizada na rede municipal de educação de Santa Maria/RS, que 8 A pesquisa foi financiada pelo Banco Mundial, envolveu professores e alunos de graduação e pós- graduação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/RJ) e da Universidade Metodista de Piracicaba São Paulo. Disponível em: <www.cnotinfor.pt/projectos/worldbank/inclusiva>. PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe analisou representações e sentimentos de professores da rede regular de ensino diante da inclusão de alunos com necessidades especiais em "suas" salas de aula. Castro mostrou que os professores, de modo geral, não se sentem capacitados para receber um aluno com deficiência, apesar de acreditarem nos méritos da inclusão. É o que se pode depreender das seguintes falas, proferidas por diferentes professores: ✓ Eles [alunos especiais incluídos] exigem uma atenção que não temos condição de dar. ✓ [...] Não temos condição de oferecer o que eles realmente necessitam, pois não somos educadoras especiais, apesar de termos boa vontade. ✓ [...] Não temos preparo suficiente para fazer um trabalho com muitos resultados positivos. ✓ [...] Há muito despreparo nas classes regulares e nos cursos de formação do magistério. ✓ [...] Eu acho ruim [a inclusão], pois os professores precisam de conhecimento para trabalhar com esses alunos. ✓ [...] Desde que não atrase muito o ritmo do grupo em geral pode acontecer. ✓ [...] É um direito assegurado a todos. E é possível a inclusão se o sistema educacional estiver preparado a aceitar e tiver conhecimento específico para lidar com as diferenças (p. 41-43). Outrossim, devemos destacar o estudo desenvolvido por Carneiro (1999), que investigou professores que atuavam em turmas de pré-escola à 4.ª série do ensino fundamental da rede regular de ensino de Juiz de Fora/MG. Os resultados evidenciaram a necessidade de uma formação continuada em serviço desses professores para a efetivação com qualidade da educação inclusiva. Já a pesquisa de Magalhães (1999), realizada na rede municipal de educação do Rio de Janeiro, ouviu a opinião de professores e diretores sobre a inclusão educacional de alunos especiais em rede regular de ensino, segundo a qual a formação de professores foi destacada como um aspecto relevante para a implementação da proposta inclusiva. Esses resultados foram PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe confirmados pela pesquisa de Tonini e Costas (2005) realizada em uma escola pública estadual de Santa Maria/RS. Diante do exposto, avaliamos que o despreparo e a falta de conhecimentos estão diretamente relacionados com a formação ou capacitação recebida. Além disso, podemos afirmar que existe um grande descrédito sobre a capacidade do aluno especial se desenvolver e agir de forma autônoma. Neste sentido, advertimos que, num primeiro momento, são comuns sentimentos de incapacidade e até mesmo de medo frente ao ingresso de um aluno com algum tipo de deficiência ou distúrbio de comportamento em sala de aula regular, podendo afastar o professor daquilo que não conhece e lhe suscitar estranheza (NAUJORKS, 2002 e 2003; BEYER, 2003). Em outras palavras, muitas vezes a falta de preparo e informação impede o professor de desenvolver uma prática pedagógica sensível às necessidades do aluno especial incluído. Portanto, o atual e grande desafio posto para os cursos de formação de professores é o de produzir conhecimentos que possam desencadear novas atitudes que permitam a compreensão de situações complexas de ensino, para que os professores possam desempenhar de maneira responsável e satisfatória seu papel de ensinar e aprender para a diversidade. Para tanto, faz- se necessário elaborar políticas públicas educacionais voltadas para práticas mais inclusivas, adequar a formação de professores às novas exigências educacionais e definir um perfil profissional do professor, ou seja, habilidades e competências necessárias aos professores de acordo com a realidade brasileira (NUNES SOBRINHO; NAUJORKS, 2001). Essas parecem ser, hoje, medidas urgentes a serem adotadas para que ocorra uma mudança no status quo da educação inclusiva. No que se refere ao conjunto de habilidades e competências necessárias aos professores para a prática com alunos incluídos, o Council for Exceptional Children9 (CEC) estabelece balizas em nível internacional para a 9 Conselho para Crianças Excepcionais (CEC) é uma organização internacionalque tem como missão melhorar, com base em pesquisas empíricas, as práticas educacionais com indivíduos com necessidades especiais. Sua sede se localiza nos Estados Unidos. PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe preparação, certificação e a prática do profissional em educação (NUNES SOBRINHO; NAUJORKS, 2001). Algumas delas devem ser aqui destacadas: a) partir da ideia de que "todos os alunos podem aprender", valorizando as potencialidades de aprendizagem de cada um; b) reafirmar que a aprendizagem é um processo individual, ocorrendo de maneira ativa em cada pessoa, de tal maneira que é o aluno que controla o seu processo de aprendizagem, sempre partindo do que sabe e influenciado por sua história pessoal e social; c) desenvolver a autoestima como uma das condições de aprendizagem, uma vez que o sentimento de pertencer a um grupo social, sentindo-se útil e valorizado, possibilita o agir e o crescer com o outro; d) estimular a autonomia dos alunos mediante a construção de sua aprendizagem; e) avaliar permanentemente as aprendizagens; f) avaliar o progresso de cada aluno segundo seu ritmo, do ponto de vista da evolução de suas competências ao resolver problemas de toda ordem e na participação da vida social; g) desenvolver a cooperação entre os alunos e certas formas de ensino mútuo, pois toda pedagogia diferenciada exige cooperação ativa dos alunos e dos seus pais, diminuindo a discriminação entre eles; h) envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu trabalho, despertando o desejo de aprender e propondo tarefas cognitivas de maneira lúdica e interessante, a partir das quais deveria ser desenvolvido no educando a capacidade de auto-avaliação; i) inserir-se no universo cultural dos alunos (VALLE; GUEDES, 2003, p. 52-53). Resumindo, podemos dizer que o professor deve valorizar a diversidade como aspecto importante no processo de ensino-aprendizagem. Além disso, necessita ser capaz de construir estratégias de ensino, bem como adaptar atividades e conteúdos, não só em relação aos alunos considerados especiais, mas para a prática educativa como um todo, diminuindo, assim, a segregação, a evasão e o fracasso escolar. PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe É relevante destacar que, de modo geral, a formação recebida pelos professores influencia diretamente no desenvolvimento dos alunos (LIBÂNEO, 1998). No caso específico aqui tratado, de fato, como ressalta Braibant, "a aquisição de competências e habilidades pelo aluno com necessidades especiais tem no professor o indispensável apoio e a orientação segura para o seu desenvolvimento" (1999 apud MEC/SEESP 2003, p. 37). Por outro lado, isto ocorre de forma mais intensa quando, a partir de sua formação, o professor alimenta sua própria capacidade reflexiva no trabalho em equipe. Como salienta Ainscow (1997), a reflexão crítica em equipe é fundamental para criar as condições para a implementação da educação inclusiva. Um fator que precisa ser levado em consideração quando se fala em formação de professores é a diversidade regional e socioeconômica do Brasil e seu rebatimento na universidade, instituição responsável pela formação de parte significativa dos professores. Esse aspecto é de grande importância e deve ser analisado no que tange aos investimentos necessários para o intercâmbio e a disseminação do conhecimento produzido pela academia (GATTI, 1996). Atualmente, são poucos os intercâmbios de experiências positivas de inclusão em âmbito nacional. Além disso, pouco se dissemina em termos de pesquisas empíricas envolvendo a temática. Com certeza esse aspecto fragiliza a implementação de políticas inclusivas (PLETSCH, 2005; PLETSCH; FONTES, 2006). No Brasil, a formação de professores e demais agentes educacionais ligados à educação segue ainda um modelo tradicional, inadequado para suprir as reivindicações em favor da educação inclusiva. Vale destacar que, dentre os cursos de Pedagogia e de Pedagogia com habilitação em Educação Especial, poucos são aqueles que oferecem disciplinas ou conteúdos voltados para a educação de pessoas com necessidades especiais. Essa situação de carência no oferecimento de disciplinas e conteúdos vem ocorrendo apesar da exigência de um dispositivo legal pelo § 2.º do artigo 24 do Decreto n.º 3298, de 20 de dezembro de 1999. Além desse Decreto, há também a Portaria n.º 1793/94, que recomenda a inclusão da disciplina "Aspectos ético-político-educacionais da normalização e integração da pessoa portadora de necessidades especiais" prioritariamente em todos os cursos de licenciatura. PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe O fato é que, de maneira geral, as licenciaturas não estão preparadas para desempenhar a função de formar professores que saibam lidar com a heterogeneidade posta pela inclusão. Isso é preocupante, pois os alunos bem ou mal estão sendo incluídos e cada vez mais as salas de aula se diversificam, embora, evidentemente, não no ritmo desejado (GLAT; PLETSCH, 2004; PLETSCH; FONTES, 2006). Em outras palavras, trata-se de uma inclusão precarizada. Por outro lado, limitar-se a oferecer uma disciplina com conteúdos sobre crianças com necessidades especiais, sem maior reflexão e aprofundamento acerca das capacidades e individualidades humanas, pode acabar auxiliando a manutenção de práticas segregacionistas. É o que destaca Bueno: A inserção de uma disciplina ou a preocupação com conteúdos sobre crianças com necessidades educativas especiais pode redundar em práticas exatamente contrárias aos princípios e fundamentos da educação inclusiva: a distinção abstrata entre crianças que possuam condições para se inserir no ensino regular e as que não as possuam, e a manutenção de uma escola que, através de suas práticas, tem ratificado os processos de exclusão e de marginalização de amplas parcelas da população escolar brasileira (1999b, p. 18). Frente a esse conjunto de problemas, vem ocorrendo todo um debate centrado na formulação de propostas para sua resolução. Uma parte da discussão tem se voltado para a questão da formação de professores. Trataremos aqui da proposta defendida por Bueno (1999a e 2001), segundo a qual o modelo inclusivo requereria a formação de dois tipos de professores: a) os chamados generalistas, que seriam responsáveis pelas classes regulares e capacitados com um mínimo de conhecimento e prática sobre a diversidade do alunado; b) os professores especialistas, capacitados em diferentes necessidades educacionais especiais e responsáveis para oferecer o necessário PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe suporte, orientação e capacitação aos professores do ensino regular visando à inclusão, ou para atuar diretamente com alunos em classes especiais, salas de recurso10, etc. (GLAT; PLETSCH, 2004; MENDES, 2002 e 2004; PLETSCH, 2005). É oportuno lembrar que a própria LDB (1996), em seu artigo 59, reconhece a importância de se formar professores especializados para atender pessoas com necessidades especiais, sob quaisquer modalidades de ensino: Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com necessidades especiais: III - professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para a integração [leia-se, inclusão] desses educandos nas classes comuns (grifo nosso). De acordo com a propostade Bueno acima referida, combinar-se-iam o trabalho do professor regular e a atuação do professor especializado, pois o generalista teria o mínimo de conhecimento e prática com alunos especiais, enquanto o especialista teria conhecimento aprofundado e prática sistemática no que concerne a necessidades educacionais específicas. A formação pedagógica do especialista deveria ser de caráter geral, com aprofundamentos específicos que permitiriam um atendimento especializado. Antes de tudo, portanto, seria um professor, encarregado de auxiliar o professor regular. As linhas centrais dessa proposta constam do Plano Nacional de Educação (MEC, 2000), que aponta a integração entre professores da Educação Especial e da educação regular como uma das ações necessárias para efetivação da educação inclusiva. E acrescenta: Art. 8. As escolas da rede regular de ensino devem prever e prover na organização de suas classes: 10 É uma modalidade de atendimento da Educação Especial que geralmente se dá num espaço destinado ao trabalho com os alunos portadores de necessidades especiais [lê-se alunos com necessidades educacionais especiais] incluídos em classes regulares, tendo como objetivo aprofundar conhecimentos que contribuam para o seu desenvolvimento e aprendizagem, com a utilização de recursos específicos que atendam às suas necessidades (IHA, 2001). PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe I - professores das classes comuns e da educação especial, capacitados e especializados, respectivamente, para o atendimento às necessidades educacionais especiais dos alunos; II - condições para reflexão e elaboração teórica da educação inclusiva, com protagonismo dos professores, articulando experiência e conhecimento com as necessidades ou possibilidades surgidas na relação pedagógica, inclusive por meio de colaboração com instituições de ensino superior e de pesquisa (grifo nosso). Partindo desse pressuposto, propõe-se, como uma das alternativas para a efetivação da inclusão educacional na realidade brasileira o ensino itinerante (PLETSCH, 2005). Essa proposta pode ser entendida como um desdobramento da ideia de Bueno sobre os professores generalistas e especialistas, a qual, como se viu, tem fundamento na legislação e em diretrizes de política educacional do MEC. O ensino itinerante, de acordo com o MEC (MEC/SEESP, 1995), consiste num suporte oferecido por um professor especializado ao professor regular que tem em sua classe alunos especiais. Além disso, o professor itinerante deve também dar apoio ao educando incluído, o qual pode ser individual ou em grupo, de acordo com as necessidades específicas de cada caso e, se necessário for, o professor itinerante pode ainda trabalhar com o aluno incluído em horário distinto do tempo de aula. Em recente pesquisa etnográfica realizada na Rede Pública de Ensino da Cidade do Rio de Janeiro, foi evidenciado que o trabalho do professor itinerante constitui um instrumento favorável para a viabilização da inclusão de pessoas com necessidades especiais. O estudo mostrou que as professoras itinerantes podem atuar como agentes de mediação, sensibilização e mobilização pró-inclusão junto ao conjunto de personagens - diretores, coordenadores pedagógicos, professores regulares e demais funcionários - responsáveis pela dinâmica cotidiana das escolas. Seu trabalho, portanto, não se limita à questão pedagógica stricto sensu, mas envolve a esfera da cultura e dos valores constitutivos das relações intraescolares e da escola com a comunidade em seu entorno (PLETSCH, 2005). PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe No entanto, apesar das evidências claras a respeito da viabilidade e da potencialidade do ensino itinerante, não adianta apenas incluir os alunos especiais em classes regulares. É necessário mudar concepções preconceituosas a respeito do que seja educação inclusiva, bem como possibilitar aos professores regulares conhecimentos sobre essa proposta, já que a maioria não se sente preparada para receber esses alunos, como visto anteriormente. Essa situação reforça a ideia de investimentos no ensino itinerante, não apenas como instrumento de suporte e capacitação aos professores regulares, mas também como agente de "internalização" nas escolas da política de inclusão de pessoas com necessidades especiais. Por fim, para que ocorram mudanças efetivas no quadro educacional brasileiro em relação à inclusão de alunos com necessidades especiais, nunca é demais lembrar a necessidade de combater os problemas educacionais gerais, como, por exemplo, o fracasso e evasão escolares e a deterioração da qualidade do ensino público. Incluir pessoas com necessidades especiais no atual contexto de precarização, não rompe por si só com o circuito da exclusão. Por isso, a proposta de inclusão não pode ser pensada de maneira desarticulada da luta pela melhoria e transformação da educação brasileira como um todo. PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe 3. FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA EDUCAÇÃO INCLUSIVA: POLÍTICAS PÚBLICAS, DISCURSOS E PRÁTICAS INTRODUÇÃO O movimento pela universalização do ensino e a redemocratização das práticas escolares encontra-se respaldado nos discursos e documentos que apregoam a inclusão escolar como paradigma educacional emergente. Fundamenta-se na concepção dos direitos humanos, contextualizando as circunstâncias históricas da produção da exclusão dentro e fora do ambiente escolar (BRASIL, 2008). Atualmente o Estado vem constituindo políticas públicas que visam assegurar educação de qualidade para todos os alunos, com necessidades educacionais especiais ou não, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação. Os Indicadores Demográficos e Educacionais do Estado do Amazonas apontam uma população estimada 3.478.723 habitantes, destas, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), estima-se que haja 5% de deficientes. Os novos desafios trazidos pela “era” da inclusão escolar evidenciam a necessidade de repensar a formação dos educadores que atuam com estes alunos, bem como o cumprimento do que diz a legislação sobre a formação específica na área de educação inclusiva, tendo em vista o Atendimento Educacional Especializado (AEE) e o apoio pedagógico de caráter complementar e suplementar (BRASIL, 1996; 2008; 2011; 2013). Diversos estudos vêm contribuindo para avaliação e implementação das políticas públicas no Brasil (CASTRO; SILVA, 2003; SAVIANI, 2009), especialmente das políticas inclusivas (ALVES, 2009; BAPTISTA; CAIADO; JESUS, 2010; MAGALHÃES, 2011). Na Região Amazônica, ao longo da última década, os estudos publicados nos Programas de Pós-Graduação em Educação vêm crescendo de forma surpreendente, mas ao mesmo tempo, PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe apresentam pouca expressividade se comparados aos Programas de Pós- Graduação em Educação e Educação Especial das regiões Sul e Sudeste (VINENTE, 2013). O estudo11 reveste-se de relevância científica, social e acadêmica por elencar os marcos políticos-legais que subsidiam a formação docente para a Educação Inclusiva, analisando documentos publicados no período de 1988 a 2013, que direcionam políticas públicas voltadas para os estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação(BRASIL, 2008, 2011, 2013 ). A pesquisa objetivou conhecer na Gerência de Educação Especial (SEMED/AM), os marcos políticos-legais que subsidiam a formação dos professores atuantes com crianças que apresentam Paralisia Cerebral na Rede Municipal de Manaus. Partindo disto, analisou-se na Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2008), a orientação oficial da formação docente no contexto inclusivo. Outros documentos são observados concatenando um enfoque sobre a formação docente. O DIREITO DE TODOS À EDUCAÇÃO: GARANTIA À DIVERSIDADE A educação básica, como um direito e como um conceito, ainda é recente em nosso país. Jamil Cury (2008, p. 294) afirma que o conceito de educação básica é novo, além de tratar-se de um direito e uma nova forma de organização da educação nacional expressa na Lei nᵒ 9.394/1996. O capítulo V, artigos 58, 59 e 60 desta lei asseguram a inclusão escolar de alunos com deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino. No artigo 58, a educação especial é entendida como “[...] modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação”. (BRASIL, 2013, p. 10) O direito à educação é assegurado em nosso ordenamento jurídico maior, como direito do cidadão e dever do Estado, mediante oferta qualificada 11 Autores: VINENTE, Samuel; SILVA, Ketlen Júlia Lima da; SILVA, Ketlis Lima da. PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe (CURY, 2008). Para o autor, o conceito de educação ganha força, pois a Constituição Federal se nutre da democracia, do amplo acesso, da participação de todos, texto este cujo teor se transparece do universalismo de vários direitos sociais, tais como educação, saúde, alimentação, trabalho, moradia, lazer, previdência social etc. (BRASIL, 1988) Mesmo que de forma polissêmica, o termo “inclusão” é encontrado nove vezes na Carta Magna de nossa República Federativa. Além disso, pode- se observar o termo “educação” colocado na Constituição por sessenta e seis vezes, o que vem legitimando o dever do Estado no oferecimento de uma educação voltada para as mais diferentes pessoas, cada qual com suas especificidades. O acesso e permanência na escola é um direito garantido em diversos documentos, porém, muitas pessoas não tem acesso a este conhecimento, se colocando ou sendo colocado à margem da escola e da sociedade. Este é o caso de muitas crianças com deficiência, que por desconhecimento da cidadania plena ou até mesmo imposição dos pais ficam escondidos em casa, por terem sua deficiência vista como doença incurável e/ou transmissível. O movimento pela universalização do ensino e a entrada de alunos deficientes na Educação Básica suscitou o debate se o AEE deveria ser oferecido em salas regulares junto com os demais alunos sem necessidades especiais, ou em classes especiais juntos aos alunos com necessidades específicas (MATOS, 2008; MANTOAN, 2011; MAGALHÃES, 2011). Este processo vem se efetivando ainda, em alguns lugares a passos curtos. Dependendo do lócus da pesquisa, os dados coletados e apresentados nos eventos que os pesquisadores têm participado, vêm mostrando resultados diferentes, porém que trazem as mesmas reflexões. A FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA: alguns apontamentos Um dos marcos políticos-legais de abrangência mundial que subsidia a formação docente de educadores para atuação na Educação Inclusiva data de 1994, consistindo na Declaração de Salamanca, onde foram traçadas metas e PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe diretrizes para a inclusão de alunos com “necessidades educacionais especiais” nos sistemas de ensino. Tal documento apregoava a mobilização de apoio de organização dos profissionais de ensino em questões relativas ao aprimoramento de docentes no que se refere às necessidades especiais (UNESCO, 1994) No mesmo ano de 1994, o Ministério da Educação expede a Portaria de n° 1.793, de dezembro de 1994, considerando a necessidade de complementar os currículos de formação de docentes e de outros profissionais que atuam com educandos “portadores de necessidades especiais” (BRASIL, 1994). A mesma Portaria recomenda a inclusão da disciplina “Aspectos ético- político-educacionais da normalização e integração da pessoa portadora de necessidades especiais”. O artigo 59 de LDB assegura que os sistemas de ensino deverão atender aos educandos com necessidades educacionais especiais, garantindo: I – Currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos, para atender às suas necessidades; II – Terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências, e aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar para superdotados; III – professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns; (BRASIL, 2010, p. 44). Entende-se que os docentes, atuantes com educandos deficientes, devem ter uma formação específica, de forma inicial e contínua (BRASIL 1996, 2008, 2011). Os desafios para a inclusão apresentam-se nas mais variadas formas e contextos, em que os processos de formação são discutidos e PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe rediscutidos, e as práticas pedagógicas são refletidas através da ressiginificação da inclusão como paradigma escolar atual. Segundo Mantoan (2011), a proposta revolucionária de incluir todos os alunos em uma única modalidade educacional, o ensino regular, tem encontrado outras barreiras, entre as quais se destaca a cultura assistencialistas e terapêutica que foi criada e transmitida ao longo dos anos nos discursos e nas políticas públicas que se implementaram nas últimas décadas de forma ineficiente. Sobre o mesmo foco, Magalhães apregoa que, mais do que designar para a educação especial aspectos clínicos, “[...] devemos considerar a educação especial como prática social historicamente produzida, e não simplesmente como uma especialização para alguns profissionais das áreas de educação e saúde.” (MAGALHÃES, 2011, p. 14). A proposta da educação inclusiva aberta às diferenças deve atender à todos com qualidade, abarcando as necessidades e potencialidades de cada indivíduo, especialmente nesta investigação, a criança amazonense. Sendo assim, uma das grandes e atuais discussões no que se refere ao processo de inclusão se dá, na maneira como os educadores concebem a forma de adaptação pedagógica e a organização física do ambiente escolar, para a recepção de educandos com deficiência. As barreiras que impedem educandos com deficiência de terem todas as suas necessidades satisfeitas podem ser rompidas, mas esse papel não é somente do professor. A inclusão requer mudanças, na qual a escola precisa e deve criar condições de acessibilidade a estes educandos. É dever da escola, oferecer educação de qualidade para todos, a começar pela formação inicial e continuada de professores qualificados para o AEE. Na cidade de Manaus, pesquisas vêm mostrando que cursos de formação contínua sobre inclusão escolar devem ser priorizados aos professores. Nesse sentido, o AEE vem se implantando de forma efetiva, mas ainda são muitos os desafios paraa implementação das políticas de formação dos professores para a educação inclusiva, desafios esses que perpassam a política de formação e adequações dos métodos e técnicas de ensino às reais necessidades dos educandos deficientes. PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS A pesquisa foi aprovada pelo Comitê Científico da Área de Ciências Sociais Aplicadas, por meio do Departamento de Apoio à Pesquisa, vinculado a Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (DAP/PROPESP/UFAM). Pressupôs levantamento de dados, seguindo critérios detalhados na seleção das informações precisas e essenciais para a compreensão dos processos formativos na docência, bem como a implementação das políticas de inclusão. O estudo se deu numa abordagem qualitativa (FAZENDA, 2008), partindo do pressuposto de que a realidade dos fenômenos sociais está mais apreendida por meio de maior aproximação com a realidade. Marconi e Lakatos (2006) trazem método e métodos em níveis claramente distintos, principalmente no que se refere à inspiração filosófica, seu grau de abstração e sua finalidade para interpretação de parte de uma realidade estudada. O método dialético “[...] penetra o mundo dos fenômenos através de sua ação recíproca, da contradição inerente ao fenômeno e da mudança dialética que ocorre na natureza e na sociedade” (p. 106). O método foi escolhido de forma coerente com as políticas de inclusão por elas se tratarem muitas vezes mostrando antagonismos entre o que é dito, assegurado em documentos, normatizado e o que é vivenciado nas práticas escolares durante o cotidiano de alunos e professores. Teve como principal lócus a Secretaria Municipal de Educação (SEMED), por meio da Gerência de Educação Especial. Além dos documentos oficiais que subsidiam o fazer docentes dos professores que atuam com educandos que apresentam Paralisia Cerebral na rede pública municipal de ensino em Manaus, foram também consultadas as fontes de outros órgãos estaduais e municipais que versem sobre a temática e normatizem o AEE no contexto regional. A pesquisa bibliográfica foi realizada em fontes primárias e secundárias, tendo em vistas as publicações atuais dos Programas de Pós- Graduação em Educação, Educação Especial e Psicologia e em periódicos PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe especializados, tais como a Revista Brasileira de Educação Especial (UNESP), Revista de Educação Especial (UFSM) e Educação e Pesquisa (USP). Foi acessado o Portal de Periódicos da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e a base de dados Scielo para a consulta em artigos publicados do ano 2000 em diante e o Portal Domínio Público. Na fase de pesquisa documental, as publicações oficiais do Ministério da Educação foram identificadas a partir de sites de buscas. Foram incluídos na análise materiais que orientem a prática docente atuante com crianças que apresentam necessidades educacionais especiais. Seguindo recomendações de Diehl e Tatim (2004), propôs-se um processo de organização que pode ser resumido em: • Seleção: partiu da verificação detalhada dos dados coletados para que se pudesse verificar falhas ou erros, evitando informações distorcidas ou incompletas. • Classificação: baseou-se na ordenação dos dados de acordo com determinados critérios, o que orientou sua divisão em classes ou categorias. • Codificação: consistiu na atribuição de símbolos (abordagem quantitativa), a fim de transformar os dados em elementos quantificáveis para posterior tratamento estatístico. Na abordagem qualitativa, foi atribuído um nome conceitual às categorias, relacionando-se ao que os dados representam no contexto da pesquisa. • Representação: esta última fase proposta resumiu-se na apresentação dos dados de modo que haja facilitação no processo de inter-relação entre eles e a relação com a hipótese. RESULTADOS E DISCUSSÕES O processo de inclusão de alunos com deficiências na escola regular ainda é recente no Brasil. A escola como instituição social se caracterizou ao longo do tempo pela visão da educação que delimitou a escolarização como privilégio de poucos, legitimando nas políticas e nas práticas educacionais a PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe exclusão, reproduzindo a ordem social (BRASIL, 2008; FIGUEIRA, 2011; MAZOTTA, 2005). Com a promulgação da atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e diversos documentos que respondem aos anseios da sociedade e da UNESCO para a inclusão, as políticas públicas vêm implantando-se no Brasil, com a supervisão do Ministério da Educação e demais órgãos interligados ao setor da educação. Sobre este movimento Figueira comenta: [...] um novo conceito ganho força: a inclusão escolar e social. Antes, essas pessoas eram habilitadas ou reabilitadas para fazerem todas as coisas que as demais, sendo que por meio da integração social passavam a conviver conosco em sociedade. Agora, na inclusão social, as iniciativas são nossas, Somos nós que estamos nos preparando, criando caminhos e permitindo que elas venham conviver conosco. Por esse motivo, cada vez mais vemos crianças e pessoas com deficiências em nossas escolas, nos espaços de lazer e em todos os lugares da vida diária. E devemos estar preparados para essa convivência, aceitando as diferenças e a individualidade de cada pessoa, uma vez que o conceito de inclusão mantém este lema: todas as pessoas têm o mesmo valor. (FIGUEIRA, 2011, p. 28-29). A Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais (1994), organizada pelo Governo da Espanha, em colaboração com a UNESCO, definiu uma política que inspira governos, organizações internacionais e nacionais e outros organismos para a efetivação do resultado desta Conferência: a Declaração de Salamanca. A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2008) traz uma retrospectiva sobre a publicação de documentos anteriores. Os materiais analisados trazem algumas considerações que podem ser elencadas abaixo: • Constituição da República Federativa do Brasil (1988): No capítulo II da CF (BRASIL, 1988) a educação é vista como um direito social. Neste PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe contexto, esta redação foi dada através da Emenda Constitucional n. 64/2010. No capítulo III, Seção I, Artigo 208, Inciso III, é assegurado o Atendimento Educacional Especializado aos deficientes, preferencialmente na rede regular de ensino, mas em nenhuma parte da redação da CF é dado instruções aos docentes sobre como atuarem com educandos que apresentam PC. • Lei de Diretrizes e Bases da Educação (1996): nesta Lei, no artigo 59, incisos I, II e III, é previsto currículos, métodos e técnicas, bem como recursos educativos para atendimento das necessidades educacionais destes alunos. Especifica a necessidade de qualificação para o AEE, e assegura a inclusão destes alunos na preferencialmente na rede regular de ensino. • Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva: assegurado a inclusão de alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação, através do Decreto 6571/2008, revogado posteriormente através do Decreto 7611/2011. • Decreto 7611/2011: garante implantação das salas de recursos multifuncionais, assegurando o Atendimento Educacional Especializado. Prevê formaçãode gestores, educadores e demais profissionais da escola para a educação na perspectiva da educação inclusiva, particularmente na aprendizagem, na participação e na criação de vínculos interpessoais. No que se diz respeito ao AEE, o quadro a seguir apresenta o crescimento da implantação de salas de recursos multifuncionais nos anos de 2005 a 2011, mostrando que principalmente após a criação do Plano de ações Articuladas (PAR), esse número vem crescendo de forma surpreendente. Observa-se a necessidade de que seja garantida a formação com especialização adequada em nível superior aos educadores para o atendimento dos educandos com necessidades educacionais especiais na rede regular de ensino. PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe Algumas publicações do Ministério da Educação relacionam diretrizes para que gestores, docentes e demais profissionais da educação atuem nos sistemas de ensino com uma formação específica consolidada. O campo de atuação destes profissionais é amplo, pois a cada ano aumenta a quantidade de salas onde é realizado o processo de AEE. Os dados apresentados e os documentos analisados evidenciam a necessidade de se repensar a organização pedagógica e física das escolas, mostrando principalmente aspectos legais da formação docente para a qualificação deste profissional. Acredita-se que enquanto práxis pedagógica, teoria e prática são indissociáveis e devem fazer parte do cotidiano da escola inclusiva. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao longo do tempo, o paradigma da integração foi cedendo espaço ao paradigma da inclusão social. Partindo disso, inúmeros movimentos sociais foram realizados para a efetivação de políticas públicas voltadas para a inclusão de todas as pessoas na escola, no mercado de trabalho, e nos demais espaços da sociedade brasileira. A questão da inclusão educacional de alunos com necessidades educacionais especiais perpassa fatores ideológicos, políticos, sociais e éticos. Observa-se que são impostas mudanças no sentido de favorecer o atendimento desses alunos nas classes regulares, respeitando as diferenças de cada um e suas necessidades educacionais. Portanto, acreditar numa escola inclusiva é exercer a cidadania. Resignificar os conceitos e práticas desse paradigma emergente inclusivo, traz inúmeras possibilidades de repensar a formação inicial/continuada dos educadores, bem como os desafios vivenciados por estes no cotidiano escolar. A referente pesquisa traz questões norteadoras para a construção de processos estratégicos emergenciais, que sejam fortalecidas através de ações que permitam um “viver” e não sobreviver como quase sempre tem ocorrido, permitindo também um “incluir” e não excluir. A escola é o local ideal para a PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe reprodução de valores culturais inclusivos, onde as crianças podem aprender dia após dia o respeito às diferenças e o convívio social. É essencial que os pressupostos teóricos e metodológicos justifiquem a prática docente do professor na sala de aula, no tratamento do educando com necessidades educacionais especiais na escola, através de atividades voltadas para o seu desenvolvimento e não apenas como mera transmissão de conhecimentos, mas na formação de um cidadão crítico e capaz de superara dia após dia, as dificuldades que a paralisia ainda lhe põe como obstáculos a serem superados. Os desafios na atualidade postos para serem discutidos e debatidos são inúmeros, porém o trabalho discute alguns desses aspectos de forma incremental. Muito ainda tem que ser feito em Manaus e em cidades do Brasil inteiro, mas isso não será possível, enquanto as políticas públicas educacionais não se concretizaram no dia a dia da prática do professor, na formação continuada, numa remuneração decente e principalmente no investimento na qualidade da educação dessa geração que influenciará a outra e transmitirá esse ideário inclusivo, até que, quem saiba um dia, os preconceitos não existam mais. PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe 4. A FORMAÇÃO DO PROFESSOR PARA O AEE COM RECURSOS EDUCACIONAIS ESPECIAIS São muitos os enfoques e abordagens para a educação de pessoas com necessidades especiais. Geralmente, cada escola desenvolve uma proposta de trabalho diferente, de todo modo, é preciso um projeto pedagógico que atenda à todas as diferenças. Traçar um diagnóstico da clientela, delinear qual perfil do seu aluno, quantos são, quais as suas necessidades, bem como os recursos materiais, humanos e financeiros disponíveis são passos importantes para iniciar um trabalho pedagógico efetivo. [...] a inclusão não prevê a utilização de práticas de ensino escolar específicas para esta ou aquela deficiência, mas sim recursos, ferramentas, tecnologias que concorrem para diminuir/eliminar as barreiras que se interpõem aos processos de ensino e de aprendizagem (MANTOAN, 2007, p. 49). Como se observa, não há como falar de necessidades especiais sem adentrar no campo da inclusão. E nesse sentido, Mantoan (2004) ressalta que a aprendizagem é o centro das atividades escolares e o sucesso dos alunos são metas da escola. Acolher as diferenças não é aceitá-las com suas possibilidades, mas sim a receptividade diante dos diferentes níveis de desenvolvimento das crianças e jovens. Segundo Zacharias (2007), é de extrema importância que sejam consideradas primeiramente todas as possibilidades de utilização da escola comum, como um recurso integrado com outras formas de atendimento que o aluno tenha necessidade. PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe A formação dos professores da educação especial na perspectiva inclusiva tem ganhado centralidade nos debates educacionais, tendo em vista sua relevância para a inclusão escolar dos alunos com necessidades educacionais especiais. Essa discussão ganha repercussão com a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394/96 que passa a considerar a educação especial como modalidade de ensino, ofertada na rede regular de ensino com objetivos, finalidades e serviços específicos para o atendimento dos estudantes com necessidades educacionais especiais: Art. 58. Entende-se por Educação Especial, para os efeitos desta lei, a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais. §1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular, para atender às peculiaridades da clientela de Educação Especial. §2º O atendimento educacional será feito em classes, escolas, ou serviços especializados, sempre que, em função das condições específicas dos estudantes, não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular. Para atender todas as peculiaridades da educação especial, a LDB nº 9.394/1996, preconiza no artigo 59 que os sistemas de ensino devem se organizar para favorecer o processo de escolarização dos alunos com necessidades educacionais especiais. Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com necessidades especiais: I – currículo, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específica, para atender às suas necessidades. II – terminalidade específica para aqueles que não possam atingir o nível exigido para a conclusão do Ensino PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO