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Estrutura Tridimensional das Proteínas Níveis Estruturais das Proteínas As proteínas são polímeros que consistem de aminoácidos ligados por ligações peptídicas. Muitas conformações (estruturas tridimensionais) diferentes são possíveis para as proteínas. Devido à essa complexidade, tornou-se usual a definição de quatro níveis de estruturas para as proteínas. A estrutura primária é a ordem na qual os aminoácidos estão ligados, como por exemplo o peptídeo: Leu-Gly-Thr-Val-Arg-Asp-His Nessa estrutura a ordem dos aminoácidos pode ser escrita em uma linha. A estrutura secundária é o arranjo de átomos do esqueleto de uma cadeia polipeptídica no espaço. Os arranjos em α- hélice e folhas β pregueadas, mantidos por pontes de hidrogênio, são os dois tipos de estrutura secundária. A estrutura terciária inclui o arranjo tridimensional de todos os átomos da proteína, incluindo os das cadeias laterais e dos grupos prostéticos (grupos de átomos não pertencentes a aminoácidos). A estrutura quaternária consiste na união de várias estruturas terciárias (subunidades) por meio de interações não covalentes, como pontes de hidrogênio. A Estrutura Primária A estrutura primária de uma proteína é de extrema importância, pois determina todas as outras estruturas. Na anemia falciforme as hemácias não são capazes de ligar o oxigênio de forma eficiente. Essa consequência tem origem na troca de um resíduo de aminoácido na sequência da estrutura primária. A sequência de aminoácidos de uma estrutura primária pode ser obtida em várias etapas. A Etapa 1 é estabelecer quais são os aminoácidos que constituem e em qual proporção eles estão. A proteína é degradada por hidrólise e os aminoácidos são separados e identificados individualmente. Na Etapa 2, são determinadas as identidades dos aminoácidos N-terminal e C-terminal. Nas Etapas 3 e 4 são determinadas a sequência dos aminoácidos a partir da extremidade N-terminal, em que cada aminoácido é modificado, removido por clivagem e identificado. → Clivagem: as proteínas podem ser clivadas em sítios específicos por enzimas ou reagentes químicos. A enzima tripsina cliva as ligações peptídicas com aminoácidos que possuem grupos R carregados positivamente. A clivagem ocorre de maneira que o aminoácido com o radical carregado passa a constituir a extremidade C-terminal. A clivagem produz uma mistura de peptídeos, que podem ser separados por métodos tradicionais. O uso de vários reagentes (além da tripsina) produz misturas diferentes que podem ser arranjadas na ordem correta. → Método de Edman: a sequência de um peptídeo pode ser facilmente determinada por esse método. O reagente de Edman, o fenil-isotiocinato, reage com o resíduo N-terminal do peptídeo. O aminoácido modificado pode então ser removido por clivagem, deixando o restante do peptídeo intacto. O segundo aminoácido pode, então, ser tratado da mesma maneira e, em seguida, o terceiro até que todo o peptídeo seja sequenciado. A Estrutura Secundária A estrutura secundária das proteínas é o arranjo do esqueleto da cadeia polipeptídica, mantido por pontes de hidrogênio. A combinação do grupo peptídeo planar (ligação C-N), do carbono α rotativo e das pontes de hidrogênio entre os aminoácidos cria as diversas formas da estrutura secundária. Dois tipos de estrutura secundária são encontrados frequentemente nas proteínas: a α-hélice e a folha β pregueada. Ambas são mantidas pelas pontes de hidrogênio. Alfa Hélice (α-hélice) A α-hélice é estabilizada por pontes de hidrogênio paralelas a seu eixo que ocorrem no interior do esqueleto de uma única cadeia polipeptídica. Contando-se a partir da extremidade N-terminal, o grupo C=O de cada resíduo de aminoácido está ligado por pontes de hidrogênio ao grupo N-H do aminoácido posicionado quatro resíduos adiante, na sequência linear mantida por ligações covalentes. A conformação helicoidal permite um arranjo linear dos átomos envolvidos nas pontes de hidrogênio, o que confere força máxima às pontes e torna essa conformação muito estável. Nas α-hélices, todas as cadeias laterais estão situadas do lado externo da estrutura. Se os peptídeos possuírem radicais carregados (com possibilidade de repulsão/atração de outros radicais), ou muito volumosos as α-hélices não são formadas. Folha Beta (Folha β) O arranjo dos átomos na configuração de folha β difere-se muito do arranjo observado na α-hélice. O esqueleto peptídico nas folhas β está estendido em forma de zigue-zague. Essa estrutura dá origem a uma aparência pregueada da folha em geral. As cadeias laterais dos aminoácidos adjacentes se projetam da estrutura em zigue-zague em direções opostas, criando um padrão alternado. Pontes de hidrogênio podem ser formadas entre diferentes partes de uma mesma cadeia dobrada sobre si mesma (pontes intracadeia) ou entre diferentes cadeias (pontes intercadeia). Se as cadeias peptídicas se estenderem em uma mesma direção (se todas estiverem alinhadas em termos de suas extremidades N-terminais e C-terminais), será formada uma folha pregueada paralela. Quando cadeias alternadas se estenderem em direções opostas, será formada uma folha pregueada antiparalela. As pontes de hidrogênio intercadeias são alinhadas nas folhas β antiparalelas, enquanto elas são distorcidas na variante paralela. α-Hélices e Folhas β em Proteínas As α-hélices e as folhas β são combinadas de muitas maneiras à medida que a cadeia polipeptídica de uma mesma proteína dobra sobre si. Por razões espaciais (por ser pequena e flexível), a glicina é encontrada em voltas reversas. As voltas β (ou alças) conectam as extremidades de dois segmentos adjacentes de uma folha β antiparalela. Tal estrutura é uma volta de 180° que envolve quatro resíduos, com o oxigênio carboxílico do primeiro resíduo ligado ao hidrogênio do grupo amino do quarto resíduo por uma ponte de hidrogênio. Os dois resíduos centrais não formam pontes. Além da glicina, a prolina também ocorre em voltas reversas, pois suas ligações peptídicas envolvendo o nitrogênio amino facilmente assume a configuração cis, forma acessível em uma volta fechada. Voltas β dos tipos I e II são as mais comuns e se distinguem pelos ângulos das ligações que ligam os quatro resíduos que formam a volta. Voltas do tipo I ocorrem mais vezes e as voltas do tipo II normalmente possuem a glicina como terceiro resíduo. A combinação de fitas α e β produz várias estruturas supersecundárias nas proteínas. A estrutura mais comum é a unidade βαβ, na qual duas fitas paralelas de folha β estão conectadas por um segmento de α-hélice. Diagrama esquemático da unidade βαβ. As setas indicam as direções das cadeias polipeptídicas. Uma unidade αα consiste de duas hélices antiparalelas. Nesse tipo de arranjo, existem contatos energicamente favoráveis entre os radicais das duas hélices. Diagrama esquemático da unidade αα. Em um meandro β, uma folha antiparalela é constituída por uma séria de voltas (alças) reversas, formando ângulos fechados que conectam segmentos da cadeia polipeptídica. Diagrama esquemático de um meandro β Um outro tipo de folha antiparalela é formado quando a cadeia polipeptídica dobra sobre si mesma em um padrão conhecido como chave grega, nome de um desenho decorativo encontrado em cerâmicas do período clássico. Diagrama esquemático de uma chave grega, que lembra os padrões geométricos de vasos gregos antigos. Quando as folhas β forem extensas, poderão dobrar sobre si mesmas, formando um barril β, uma estrutura característica que ocorre em várias proteínas. Além do barril outra interação pode ocorrer formando as selas. Um barril β envolvendo unidades βαβ alternados ocorre na triose fosfato isomerase muscular da galinha: As duas figuras são diferentes representações do barril β encontrado na triose fosfato isomerase, enzima queatua no metabolismo. Uma conformação de sela encontrada na carboxipeptidase A bovina: Carboxipeptidase A bovina, enzima capaz de cortar peptídeos na porção C-terminal. Proteínas Fibrosas Considerando os níveis terciários e quaternários de estrutura, foram designados dois grandes grupos de proteínas: as proteínas fibrosas, com cadeias polipeptídicas arranjadas em longos filamentos ou folhas e as proteínas globulares, com cadeias polipeptídicas dobradas sobre si mesma em forma globular (as interações do barril e das selas com as estruturas supersecundárias formam as proteínas globulares, como a carboxipeptidase A bovina). As proteínas fibrosas são constituídas de um elemento simples de estrutura secundária que se repete, sendo insolúveis em água. O colágeno, um componente dos ossos e do tecido conjuntivo, é a proteína mais abundante em vertebrados, sendo organizado em fibras insolúveis resistentes. Uma fibra de colágeno consiste de uma “tripla hélice”, com três cadeias polipeptídicas torcidas sobre si mesmas. Cada cadeia possui uma sequência repetida de três resíduos de aminoácidos: X-Pro-Gly ou X-Hyp-Gly Qualquer aminoácido designado por X pode ocupar a primeira posição e Hyp representa hidroxiprolina (prolina que foi modificada por uma enzima hidroxilante). Como observado, cada terceira posição deve ser ocupada por uma glicina, pois a tripla hélice está arranjada de modo que cada terceira resíduo esteja no interior da hélice e somente a glicina é pequena o suficiente para ficar em tal local. As três cadeias do colágeno são hélices diferentes da α-hélice e cada uma está torcida em volta das demais em um arranjo super helicoidal mantido por pontes de hidrogênio, envolvendo os resíduos de hidroxiprolina e hidroxilisina. A molécula helicoidal tripla é chamada de tropocolágeno. No colágeno também ocorrem ligações covalentes, formadas entre os resíduos lisina e histidina. A quantidade de ligações aumenta com a idade, tornando a carne de animais mais velhos duras. A tripla hélice do colágeno As α-queratinas constituem os pelos, cabelos, unhas, garras, penas, chifres, cascos e a parte externa da pele. Elas são formadas por uma α-hélice voltada para a direita. Duas fibras de α- queratina (α-hélices), em paralelo, são enroladas uma sobre a outra formando uma espiral torcida. A torção amplifica a força da estrutura. As superfícies onde as duas hélices se tocam são formadas por aminoácidos hidrofóbicos (como Ala, Val, Leu, Ile, Met e Phe), e seus radicais se entrelaçam em um padrão regular. As α-queratinas possuem uma estrutura terciária simples, dominada por uma estrutura secundária α-helicoidal. O entrelaçamento de dois peptídeos α- helicoidais forma a estrutura quaternária. As ligações que estabilizam a estrutura quaternária são as pontes de dissulfeto. Em α-queratinas mais duras, como nos chifres, até 18% dos resíduos são cisteínas envolvidas nessas pontes. A α-queratina do cabelo é uma longa α-hélice. Os pares destas hélices são enrolados em um sentido anti-horário para formar duas cadeias em espiral enrolada. Estas se combinam para formar os protofilamentos e as protofibrilas. Cerca de quatro protofibrilas se juntam para formar um filamento intermediário. Proteínas Globulares Nas proteínas globulares, segmentos diferentes das cadeias polipeptídicas se dobram uns sobre os outros, gerando uma forma esférica. Esse enovelamento garante que as proteínas exerçam suas diversas funções biológicas, como as enzimas, proteínas transportadoras, imunoglobulinas, etc. As proteínas globulares são formadas pelas várias estruturas supersecundárias já citadas anteriormente, que se adaptaram de acordo com a função biológica necessária. Cada proteína globular está dobrada de forma compacta, com seus radicais hidrofóbicos orientados ao centro e seus radicais hidrofílicos orientados para a superfície. As estruturas também são estabilizadas por pontes de hidrogênio. A Estrutura Terciária A estrutura terciária de uma proteína é o arranjo tridimensional de todos os átomos da molécula. As conformações dos radicais e a posição dos grupos prostéticos são partes dessa estrutura. Nas proteínas fibrosas, a estrutura secundária fornece muita informação a respeito da terciária, pois o esqueleto helicoidal não dobra sobre si e o único aspecto não especificado na estrutura secundária é o arranjo dos radicais. Nas proteínas globulares são necessárias mais informações, pois é preciso saber como as hélices e folhas dobram sobre si e a posição dos radicais e grupos prostéticos. Forças Envolvidas no Enovelamento de Proteínas: A ordem das estruturas secundárias e terciárias dependem de interações não covalentes; se a proteína possuir várias subunidades (estrutura quaternária), a interação entre essas subunidades também dependerá de interações não covalentes. As pontes de hidrogênio são os principais determinantes das estruturas secundárias. Essas pontes também ligam os radicais entre si. Resíduos apolares tendem a ficar no interior das proteínas por interações hidrofóbicas. A atração eletroestática entre radicais de cargas opostas resulta na proximidade destes. As pontes de dissulfeto formam ligações covalentes entre os radicais de cisteínas, restringindo o número de dobramentos viáveis entre as cadeias polipeptídicas. A conformação tridimensional de uma proteína é o resultado da interação de todas essas forças estabilizadoras, criando os diversos tipos de enovelamentos. Mioglobina: Exemplo de Estrutura Terciária e Globular A mioglobina é uma proteína globular que possui um grupo prostético, o grupo heme e possui uma estrutura compacta composta de oito α-hélices. As pontes de hidrogênio estabilizam as regiões de α-hélice e algumas cadeias laterais. Resíduos polares estão no exterior da molécula, enquanto o interior é composto de resíduos apolares. Dois resíduos polares de histidina estão no interior da molécula, pois interagem com o grupo heme. Esse grupo heme é mantido em posição por atrações hidrofóbicas entre seu anel e os radicais apolares da proteína. O grupo heme consiste de um íon metálico, o Fe (II), e uma porção orgânica, a protoporfirina IX. Uma molécula de mioglobina. Os segmentos helicoidais (de A a H); NH3 (N-terminal); e COOH (C-terminal) Desnaturação e Renaturação A perda de estrutura tridimensional suficiente para causar a perda de função é chamada de desnaturação. As interações não covalentes das proteínas são fracas, podendo ser facilmente desfeitas. Além disso, a redução das pontes de dissulfeto leva a uma desorganização ainda maior da estrutura terciária. Sob condições experimentais apropriadas, a estrutura desfeita pode ser completamente recuperada por meio da renaturação. O processo de desnaturação e renaturação é uma demonstração da relação entre a estrutura primária e as forças da estrutura terciária. A maioria das proteínas pode ser desnaturada pelo calor, que tem efeitos nas interações fracas. Uma pequena mudança da temperatura pode promover uma perda abrupta da estrutura. Em extremos pHs (altos/baixos), algumas cargas das proteínas são perdidas e, por isso, as interações eletroestáticas são reduzidas de modo drástico, desestabilizando a proteína nativa. Alguns detergentes, como o dodecil-sulfato de sódio (SDS), desnaturam as proteínas, pois tendem a desfazer as interações hidrofóbicas e se eles possuírem cargas elétricas ainda podem desfazer as interações eletroestáticas. Outros reagentes e solutos, como a ureia e o hidrocloreto de guanidina, formam pontes de hidrogênio com a proteína, que são mais fortes que os que ocorrem nela, desfazendo assim os já existentes e as interações hidrofóbicas. O mercaptoetanol é utilizado para reduzir as pontes de dissulfeto, formando dois grupos sulfidrila. Em geral adiciona-se ureia à mistura da reação para facilitaro dobramento da proteína, e para aumentar a acessibilidade dos dissulfetos ao redutor. A conformação nativa da proteína poderá ser recuperada (renaturação) quando o mercaptoetanol e a ureia forem removidos. A Estrutura Quaternária A estrutura quaternária é uma propriedade das proteínas constituídas por mais de uma cadeia polipeptídica (subunidade). Proteínas com várias subunidades são muito comuns por várias razões. Em grandes arranjos de proteínas, como nas fibrilas de colágeno é mais vantajoso ter várias subunidades do que uma grande cadeia polipeptídica, pois os defeitos podem ser reparados simplesmente substituindo-se a subunidade defeituosa em vez de toda a proteína. Nas enzimas, aumentar o tamanho de uma enzima pela associação de unidades idênticas é mais eficiente do que aumentar o comprimento de sua cadeia polipeptídica, uma vez que cada subunidade tem um sítio ativo. A Interação entre as Subunidades Uma proteína pode ser constituída por cadeias polipeptídicas idênticas ou não. Proteínas com subunidades idênticas são chamadas de oligômeros, e tais subunidades idênticas são chamadas de protômeros. A hemoglobina, por exemplo é um dímero (oligômero de dois protômeros). Desse modo, a hemoglobina consiste em duas cadeias α e duas cadeias β, formando a composição α2β2. Cada cadeia α tem 141 resíduos de aminoácidos e cada cadeia β tem 146 resíduos. Importante: neste caso α e β não se referem às estruturas secundárias. As letras gregas são usadas para distinguir dois tipos diferentes de subunidades de uma proteína com múltiplas subunidades. As subunidades interagem entre si de maneira não covalente. Como resultado, mudanças sutis na estrutura da proteína podem causar mudanças drásticas nas propriedades. Proteínas que exibem essa propriedade são chamadas alostéricas. Representação da estrutura quaternária de uma desóxi-hemoglobina (hemoglobina sem as moléculas de oxigênio ligadas ao grupo heme) na forma de fitas, relevando os elementos estruturais secundários da estrutura e a posição dos grupos heme. As subunidades α estão em tons de cinza e as subunidades β estão em tons de azul. Purificação e Análise de Proteínas As proteínas purificadas são essenciais para o exame detalhado de suas propriedades físicas. A fonte de uma proteína é geralmente um tecido ou uma célula microbiana. Desse modo, a primeira etapa de qualquer procedimento de purificação de proteínas é romper suas células, liberando suas proteínas em uma solução chamada de extrato bruto. Pode ser utilizada a centrifugação diferencial para preparar frações subcelulares ou para isolar organelas específicas. Centrifugação diferencial de um tecido Um outro método é a cromatografia que pode ser por adsorção ou por camada fina. Ambas utilizam um tecido inicial e este é levado a uma solução de metanol/água e clorofórmio que dissolve lipídeos e carboidratos, apenas restando as proteínas. Na cromatografia de adsorção as separações ocorrem através de interações eletrostáticas e pontes de hidrogênio entre a fase estacionária (sólido) e os componentes a separar da fase móvel (liquido). A adsorção se refere a um fenômeno onde uma substância se acumula na superfície de um outro material, portanto, no final do processo diferentes proteínas terão sido separadas. Na cromatografia de camada fina, a solução de solventes orgânicos (metanol/água e clorofórmio) e proteínas é aplicada em uma placa revestida por uma camada fina de adsorvente. As diferentes proteínas percorrem sobre essa placa de várias maneiras, sendo possível a separação. Tomando como base a centrifugação diferencial, uma vez que o extrato bruto está finalizado, vários métodos (além dos dois anteriores) estão disponíveis para purificar as proteínas nele contidas. Em geral o extrato é submetido a um fracionamento para separar as proteínas. Um método de fracionamento pode ser pela adição de alguns sais nas proteínas, pois a solubilidade delas é reduzida na presença de sais pelo efeito de salting out e, desse modo, algumas proteínas podem precipitar, enquanto outras permanecem na solução. As proteínas precipitadas são removidas da solução por centrifugação. A diálise é um procedimento que separa proteínas de solutos pequenos se aproveitando do tamanho maior das proteínas e pode ser utilizada para remover os sais utilizados na preparação proteica. Os métodos mais eficientes utilizam a cromatografia em coluna, que se utiliza das diferenças nas cargas das proteínas, tamanho, afinidade de ligação e outras propriedades. Um material sólido poroso (face estacionária) é mantido em uma coluna, e uma solução tamponada (fase móvel) migra através dela. A proteína, dissolvida na solução tampão, é colocada no topo da coluna, atravessando a matriz sólida e se diferenciando de acordo com as propriedades diferentes entre proteínas. Cromatografia em coluna A cromatografia por gel filtração (de exclusão por tamanho), separa as proteínas de acordo com o tamanho. Neste método, as proteínas grandes emergem da coluna mais cedo do que as menores. A fase sólida consiste em grânulos de polímeros com poros projetados com um determinado tamanho. Proteínas grandes não entram nesses poros e, desse modo, tomam o caminho mais curto e mais rápido. Proteínas pequenas tomam penetram nos poros e são retardadas em seu caminho de labirintos pela coluna. A cromatografia de afinidade se baseia na afinidade de ligação. Os grânulos da coluna têm um grupo químico ligado covalentemente chamado de ligante. Quando uma mistura de proteínas é adicionada à coluna, qualquer proteína com afinidade para esse ligante se liga aos grânulos, e sua migração através da matriz é retardada. Após a lavagem das proteínas que não se ligam na coluna, a proteína ligada é eluida por uma solução contendo uma alta concentração de sal ou um ligante livre. O sal enfraquece a ligação iônica da proteína ao ligante. O ligante livre compete com o ligante ligado aos grânulos, liberando a proteína da matriz. Além dessas cromatografias, também pode ocorrer uma cromatografia de troca iônica, que explora as diferenças no sinal e magnitude da carga elétrica final de proteínas em determinado pH. Cromatografia de afinidade Eletroforese Outra técnica de separação de proteínas se baseia na migração de proteínas carregadas em um campo elétrico, a eletroforese. Sua vantagem é que as proteínas podem ser visualizadas, bem como separadas, permitindo ao pesquisador estimar o número de proteínas diferentes em uma mistura ou o grau de pureza de uma preparação proteica específica. Além disso, ela pode determinar o ponto isoelétrico (pI) das proteínas e estimar sua massa molecular. A eletroforese é realizada em géis de poliacrilamida. O gel de poliacrilamida age como uma peneira molecular, retardando a migração de proteínas em proporção à sua razão carga-massa e sua forma. Um método empregado para estimar a pureza e massa molecular utiliza o detergente dodecil sulfato de sódio (SDS). Aproximadamente uma molécula de SDS será ligada para cada resíduo de aminoácido. Um SDS contribui para tornar a carga da proteína insignificante e negativa e para tornar a forma das proteínas a mesma em todos (semelhante a um bastonete). Assim, o SDS separa as proteínas quase exclusivamente com base em sua massa molecular. Após a eletroforese, as proteínas são visualizadas pela adição de um corante, que se liga as proteínas, mas não ao gel em si. Um pesquisador pode monitorar o progresso da purificação à medida que o número de bandas de proteína visíveis ao gel diminui após cada fase de fracionamento. Quando comparada às posições para as quais as proteínas de massa molecular igual migram no gel, a posição de uma proteína não identificada pode fornecer uma boa estimativa de sua massa molecular. Estimando a massade uma proteína Proteínas-padrão de massa molecular conhecida podem ser usadas para estimar a massa molecular de uma proteína desconhecida (entre 31 e 45) A focalização isoelétrica é um procedimento utilizado para determinar o pI de uma proteína. Um gradiente de pH é estabelecido permitindo-se que uma mistura de ácidos e bases de baixo peso molecular se distribua em um campo elétrico gerado ao longo do gel. Ao serem aplicadas, as proteínas migram até alcançar o pH correspondente ao seu pI. Proteínas com ponto isoelétrico diferente são, assim, distribuídas de modo diferente ao longo do gel. Eletroforese Diferentes amostras são colocadas em poços no topo do gel. As proteínas se movem para o gel quando um campo elétrico é aplicado Focalização isoelétrica A combinação da focalização isoelétrica com a eletroforese SDS criou a eletroforese bidimensional. Esse processo separa proteínas de massa molecular idêntica que diferem em seu pI, ou ainda separa proteínas com valores de pI semelhantes, mas com massa diferente: Vale ressaltar que a eletroforese bidimensional tem um papel extremamente importante na medicina, pois é possível fazer uma comparação de amostras por eletroforese bidimensional e se houver diferenças de migração das proteínas pode indicar uma doença. Diferenças de migração podem indicar doenças ELISA Um Elisa (do inglês enzyme-linked immunosorbent assay, ou ensaio imunossorvente ligado a enzima) pode ser usado para fazer uma triagem rápida da quantidade de antígeno em uma amostra. O antígeno é adsorvido em uma superfície inerte. A superfície é lavada com uma solução de uma proteína não específica para bloquear a adsorção das proteínas introduzidas depois aos locais vazios da placa. A superfície é então tratada com solução contendo o anticorpo primário (contra o antígeno). Anticorpos não ligados são removidos por lavagem, e a superfície é tratada com uma solução contendo o anticorpo secundário (contra o anticorpo primário) ligado a uma enzima que catalisa uma reação que faz um produto colorido. Após a remoção do anticorpo secundário não ligado, é adicionado o substrato da enzima que cria a cor. A intensidade da cor é proporcional à concentração do antígeno. Cristalografia Para a resolução da estrutura de uma proteína por meio da cristalografia de raios x, primeiro ela é precipitada sob condições que formam grandes cristais bem ordenados. Os cristais montados em capilares de quartzo são primeiramente irradiados com raios x monocromáticos para confirmar que eles são proteicos. Então, os cristais podem ser congelados no nitrogênio líquido para coleta de dados de alta resolução.
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