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OBRA ANALISADA O mulato 
GÊNERO Romance 
AUTOR Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo 
DADOS BIOGRÁFICOS Nascimento: 14 de abril de 1857, São Luís, MA 
Morte: 21 de janeiro de 1913, Buenos Aires, 
Argentina. 
 
É o fundador da Cadeira nº 4 da Academia Brasileira 
de Letras, que tem por patrono Basílio da Gama. 
BIBLIOGRAFIA = Romances e novelas 
 
Uma lágrima de mulher (1880), primeiro romance; 
O mulato (1881); 
Casa de pensão (1884); 
Filomena Borges (1884); 
O homem (1887); 
O cortiço (1890); 
O esqueleto (mistérios da casa de Bragança) 
(1890), publicado sob o pseudônimo de Victor Leal 
em parceria com Olavo Bilac; 
Aos Vinte Anos (1895); 
O Coruja (1895), publicado primeiro em rodapé de 
O País (1889); 
A mortalha de Alzira (1893); 
O livro de uma sogra (1895); 
Girândola de Amores (1900), publicado primeiro em 
folhetim na Folha Nova (1882), sob o título de 
Mistério da Tijuca; 
A condessa de Vésper (1902), publicado primeiro 
em rodapé da Gazetinha, sob o título Memórias de 
um condenado (1882). 
= Contos 
Demônios (1890). 
= Crônicas 
O Bom Negro; 
O touro negro; 
O Japão. 
= Teatro 
 Os doidos (1879), comédia escrita em colaboração 
com Artur de Azevedo; 
Mattos, Malta ou Matta? (farsa, 1893); 
Casa de Orates; 
Flor de Lis; 
Em flagrante; 
Caboclo; 
Um caso de adultério; 
Venenos que curam; 
República; 
Fritzmac, dos irmãos Arthur e Aluísio de Azevedo. 
 
 
Até 1895 escreveu ao todo 19 trabalhos, entre 
romances e peças teatrais. Continuou colaborando 
em jornais e revistas, com caricaturas, contos, 
críticas e novelas. 
Em 1895, fez concursos na Secretaria do Exterior 
para cônsul, sendo nomeado vice-cônsul, em Vigo, 
em 1895. Desde então, não mais publicou um livro, 
vendendo sua propriedade literária a H. Garnier. Em 
 
 
1910, foi promovido a cônsul de primeira classe. Em 
1911, sem prejuízo das funções consulares foi 
transferido para o posto de Adido Comercial junto às 
legações do Brasil na Argentina, Chile, Uruguai e 
Paraguai. 
RESENHA 
 
 
 
A narrativa inicia com a história de Manuel Pescada 
e sua filha Ana Rosa, a quem, a mãe, em leito de 
morte, pedira para não se casar sem amor. 
“Minha filha, disse-lhe a infeliz já nas vésperas 
da morte, não consintas nunca que te casem, 
sem que ames deveras o homem a ti destinado 
para marido. Não te cases no ar! Lembra-te que 
o casamento deve ser sempre a conseqüência de 
duas inclinações irresistíveis. A gente deve casar 
porque ama, e não ter de amar porque casou. Se 
fizeres o que te digo, serás feliz!” 
Apenas no capítulo dois, aparece a figura de 
Raimundo, o mulato, sobrinho de Manuel – filho de 
seu irmão com a escrava Domingas. 
Manuel recebe do amigo cônego a informação de o 
sobrinho embarcava para o Brasil, no próximo 
paquete. 
A informação aborrece o cônego: 
— Até lhe digo mais.. nem precisava cá vir, 
porque... continuou Diogo, abaixando a voz, 
ninguém aqui lhe ignora a biografia; todos 
sabem de quem ele saiu! 
E causa desconforto a Manuel que não sabe se deve 
ou não hospedar o sobrinho: 
— Mas o que eu digo, compadre, é se devo 
recebê-lo na qualidade de meu sobrinho. 
— Sobrinho bastardo, está claro! Que diabo tem 
você com as cabeçadas de seu mano José?... 
— Sim! disse o cônego, impacientando-se, mas 
os pobres dos caixeiros são todos uns moscas-
mortas, e nós não sabemos a que nos saiu o tal 
doutor de Coimbra!... Homem, compadre, o 
melro vem de Paris, deve estar mitrado!... 
Mais adiante, temos a explicação sobre Raimundo. 
José da Silva dispensava muitos cuidados à negra 
Domingas e a seu filho, o que despertava o ciúme 
da esposa D. Quitéria. A mulher a todos momento 
arrumava meios de castigar a negra. 
Preocupado com a segurança do filho, José da Silva 
resolveu levá-lo para casa de seu irmão, sob os 
cuidados de Mariana, que ainda não tivera filhos. 
A retornar, Jose da Silva flagra Quitéria e o jovem 
padre Diego juntos. Cego de revolta com o 
adultério, José da Silva mata Quitéria. 
 
 
Para encobertar o adultério, ele e o padre selam um 
acordo. 
O padre Diogo, pois era dele a outra voz, não 
tivera tempo de fugir e caíra, trêmulo, aos pés de 
José. Quando este largou das mãos a traidora, 
para se apossar do outro, reparou que a tinha 
estrangulado. Ficou perplexo e tolhido de 
assombro. 
 
— Vamos lá!... disse o padre afinal, sorrindo e 
batendo no ombro do português. Tudo neste 
mundo se pode arranjar, com a divina ajuda de 
Deus... só para a morte não há remédio! Se 
quiser, a defunta será sepultada com todas as 
formalidades civis e religiosas... 
Pouco tempo depois da morte da mulher, José da 
Silva morre atocaiado, com um tiro. 
A negra Quitéria, que encontrara o corpo, acusa o 
padre, mas como já era tida como louca. 
— Foi ele! Não foi outro! Foi aquele malvado! Foi 
aquele padre do diabo! 
E pôs-se a rir e a dançar, batendo palmas e 
cantando. Era a loucura que voltava. 
De volta ao Brasil, Raimundo hospeda-se na casa de 
seu tio, onde é muito bem recebido. Os modos do 
rapaz, educado e bem instruído logo despertam 
interesse de Ana Rosa. 
Raimundo é descrito como um rapaz elegante e 
belo, de pele amulatada e olhos azuis. 
Raimundo tinha vinte e seis anos e seria um tipo 
acabado de brasileiro se não foram os grandes 
olhos azuis, que puxara do pai. Cabelos muito 
pretos, lustrosos e crespos; tez morena e 
amulatada (…) 
Tinha os gestos bem educados, sóbrios, despidos 
de pretensão, falava em voz baixa, distintamente 
sem armar ao efeito; vestia-se com seriedade e 
bom gosto; amava as artes, as ciências, a 
literatura e, um pouco menos, a política. 
Na província, pretendia descobrir suas origens, 
tomar conhecimento de sua verdadeira mãe. Desejo 
que alimentava ainda na Europa. 
Manuel começa a perceber o interesse da filha em 
Raimundo e decide casá-la com Luis Dias, seu 
funcionário. 
O relacionamento de Raimundo e Ana Rosa não era 
visto com bons olhos nem pelo pai, nem pela avó 
nem pelo cônego. Todos reprovavam o 
relacionamento da jovem com o filho de uma 
escrava. 
Apesar da insistência do pai, de casar a filha com 
Dias, ela reluta. 
 
 
A jovem envolvia-se às escondidas com Raimundo. 
Ao descobrir-se grávida, e diante da insistência do 
pai em casá-la com Luis Dias, Ana Rosa e Raimundo 
decidem fugir, mas a fuga é frustrada pelo cônego e 
por Dias, acompanhado de policiais. 
Desolado, Raimundo retorna para casa, mas ao girar 
a chave, é atingido pelas costas. 
Ana Rosa fica muito doente ao saber que seu amado 
fora morto, chegando a ficar à beira da morte. 
A narrativa adianta-se no tempo. Agora vemos um 
jovem e festejado casal: 
O par festejado eram o Dias e Ana Rosa, casados 
havia quatro anos. Ele deixara crescer o bigode e 
aprumara-se todo; tinha até certo emproamento 
ricaço e um ar satisfeito e alinhado de quem 
espera por qualquer vapor o hábito da Rosa. 
O romance finaliza com Ana Rosa casada com Luis 
Dias, preocupando-se com a família e os três filhos. 
ESTILO DE ÉPOCA Naturalismo 
 
O mulato é considerado marco do Naturalismo. 
 
A obra critica aspectos sociais do Maranhão, cidade 
natal do autor. 
 
Aproximando-se dos romances de costumes, O 
mulato apresenta tipos, segmentos da nossa 
sociedade através dos tipos maranhenses. 
 
Criticam-se os burgueses, a igreja e até mesmo a 
escravidão. O período no qual a obra é escrita é 
turbulento repleto de manifestações abolicionistas. 
 
INTERTEXTUALIDADE O romance trata muito da temática da escravidão, 
dialogando com outros autores que tratavam do 
tema. 
Uma Megera Domada às avessas – Ana Rosa é o 
inverso de Catarina (de A megera indomada) – 
enquanto Ana só deseja casar, a outra não. 
Uma é avessa ao casamento a outra sofre por ele – 
mas ambas, quando se apaixonam, interessa-se por 
pessoas completamente opostas. 
VISÃO CRÍTICA A crítica de forma contundente é, ao mesmo tempo, 
sutil e irônica. 
 
De um lado apresenta aspectos cotidianos, de outro 
aponta falhas: 
 
 
Os corretores de escravos examinavam, à plena 
luz do sol, os negros e moleques que aliestavam 
para ser vendidos; revistavam-lhes os dentes, os 
pés e as virilhas; (…) 
como se estivessem a comprar cavalos 
 
 
 
 
Critica, também, ao apontar-lhe os vícios e as 
falhas, o cônego Diego e aquilo que ele representa 
– o Clero. 
 
Mostra um padre adúltero, racista e elitista. 
 
O romance deixa clara a posição retrograda da 
sociedade: um negro não poderia ser padre, 
comerciante ou possuir bens. 
 
Além disso, há uma crítica à escola literária 
anterior: 
 
(…) cuja sensibilidade romântica, longe de o 
comover, havia muita vez de importuná-lo. 
 
Como toda obra naturalista, esta, também, fica 
entre o lógico e o não lógico, optando pela ciência.

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