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As Afinidades Eletivas Entre Currículo e Sociedade W B A 0 17 0 _ V 1. 0 2/202 As Afinidades Eletivas Entre Currículo e Sociedade Autor: Franz Carlos Oliveira Lopes Como citar este documento: LOPES, Franz Carlos Oliveira. Especialização em Gestão e Organização da Escola. Valinhos: 2016. Sumário Apresentação da Disciplina 04 Unidade 1: Educação e currículo no Brasil: dos jesuítas à atualidade 06 Assista a suas aulas 28 Unidade 2: A inter-relação entre as políticas educacionais e o currículo escolar 35 Assista a suas aulas 56 Unidade 3: Contextualização das dimensões de um novo paradigma curricular: aspectos políticos, filosóficos, culturais e sociais 63 Assista a suas aulas 82 Unidade 4: Currículo e formação de professores 89 Assista a suas aulas 104 2/202 3/2023 Unidade 5: Currículo real e currículo oculto: concepções e práticas 111 Assista a suas aulas 127 Unidade 6: Teorias não críticas: tendências liberais 134 Assista a suas aulas 148 Unidade 7: Teorias críticas: tendências progressistas 155 Assista a suas aulas 169 Unidade 8: Teorias pós-críticas: enfoque multicultural 176 Assista a suas aulas 195 Sumário As Afinidades Eletivas Entre Currículo e Sociedade Autor: Franz Carlos Oliveira Lopes Como citar este documento: LOPES, Franz Carlos Oliveira. Especialização em Gestão e Organização da Escola. Valinhos: 2016. 4/202 Apresentação da Disciplina O ser humano, no processo de transformação da natureza, instaura leis que regem a sua convivência com os demais grupos, cria es- truturas sociais que se estabelecem e se soli- dificam à medida que se vai constituindo em locus de formação humana. Nesse sentido, a escola, enquanto criação do ser humano, só se justifica e se legitima diante da sociedade, ao cumprir a finalidade para a qual foi cria- da, que tange ao desempenho de sua função social de formadora de sujeitos históricos e possibilita a construção e a socialização do conhecimento produzido e significado pela humanidade. Contudo, é fundamental que a escola pos- sa ser estudada sobre a organização do seu trabalho, sobretudo na administração esco- lar, e a organização do trabalho pedagógico e técnico-administrativo. A organização es- colar é um elemento a ser investigado, por se tratar de uma construção social efetivada pelos professores, alunos, pais e integrantes da comunidade local, tendo, assim, um inte- resse público e toda uma intencionalidade na sua forma de existir. O tipo de gestão que se propõe na atualida- de é a democrática, aquela que pressupõe a participação dos sujeitos que fazem parte da vida cotidiana da escola. Esse modelo de gestão foi indicado na Constituição Federal e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), entre outros documentos expressivos da legislação nacional. Dessa forma, é importante compreender que a de- mocratização da gestão escolar é condição estruturante para a qualidade e efetividade da educação, e possibilita à escola criar vín- culos, no intuito de concretizar um currículo 5/202 que atenda à realidade local, tendo em vista a melhoria e ampliação da aprendizagem e desenvolvimentos dos estudantes. Pelos motivos expostos, anunciamos que esta disciplina tem como objetivo discutir e refletir sobre a realidade e o contexto educa- cional no Brasil e suceder uma breve histori- zação da trajetória social, política e econô- mica que transformou as relações interpes- soais no mundo. Contudo, serão abordados no material didático eixos em relação a três esferas de conceber o currículo nas escolas, bem como na organização e gestão desse processo. Para isso, serão apresentadas e destrinchadas as teorias tradicionais do cur- rículo, teorias críticas e pós-críticas. 6/202 Unidade 1 Educação e currículo no Brasil: dos jesuítas à atualidade Objetivos 1. Entender o contexto histórico da edu- cação nacional. 2. Refletir sobre novas formas de pensar a educação nas escolas. 3. Implementar uma nova prática edu- cacional nas escolas. Unidade 1 • Educação e currículo no Brasil: dos jesuítas à atualidade7/202 Introdução No campo educacional formal, quase sem- pre se tem a ideia de que os elementos que constituem uma educação de qualidade estão calcados no que os alunos aprende- rão durando o percurso de escolarização, no entanto a ótica tradicionalista no con- texto de uma sociedade em transformação social, na qual a divisão de tarefas nas fa- mílias configurou-se de forma fragmenta- da – as mulheres ficaram confinadas no lar, passando a ser dependentes dos homens, enquanto esses saíam para trabalhar –, foi um dos aspectos que desenhou a edu- cação em sua formalidade nos dias atuais. Outro elemento foi a organização política, que tomou contornos de mudanças, estru- turando-se entre governantes, sacerdotes, mercadantes, produtores e escravos, crian- do-se uma hierarquia de riqueza, poder, ex- clusão e pobreza. Todo esse contexto exigiu uma grande re- configuração que transferiu as bases de uma educação igualitária e difusa, difundindo a seguinte problemática: enquanto pequenos grupos sociais eram privilegiados ao aces- sar os conhecimentos na escola, o restan- te da população não tinha direitos políticos das classes dominantes, sendo que esse modelo caracterizou-se por boa parte dos continentes europeus e americano e até os tempos atuais, esse fato está no centro do debate na educação (ARANHA, 2006). Unidade 1 • Educação e currículo no Brasil: dos jesuítas à atualidade8/202 As orientações sobre como educar no cur- rículo1, no contexto exposto acima, perme- avam os livros sagrados cristãos que ofere- ciam regras de conduta segundo as prescri- ções religiosas e morais, com a finalidade de redigir costume e evitar a transgressão das normas sociais. Com o princípio do conhe- cimento da escrita não foi diferente. Houve uma grande restrição ao seu acesso, devido ao seu caráter sagrado e esotérico, e, com o tempo, o número de pessoas que procurava a educação nos moldes descritos aumen- tou, contudo o acesso foi sempre restrito. As pesquisas atuais configuram que as civiliza- ções consideradas mais antigas nessa nova 1 Currículo: experiências escolares que se desdobram em torno do conhecimento, permeadas pelas relações sociais, articulando vivências e saberes dos estudantes com os con- hecimentos historicamente acumulados e contribuindo para construir as identidades dos educandos (BRASIL, 2013). ordem social e educacional foram o Egito e a Mesopotâmia (ARANHA, 2006). Em decorrência desses fatos, segundo a au- tora, estabeleceu-se uma diferença entre o currículo destinado aos estudos sagrados e a administração e os estudos voltados aos adestramentos para diversos ofícios espe- cializados. Tiveram início, então, o dualismo escolar que destinava o conhecimento “eli- tista” no currículo para nobres e altos fun- cionários na nobreza e da igreja. E ao “povo” só restava uma educação sem reflexão e orientada somente para executar ordens. Com isso, uma expressiva parte da popu- lação era excluída da escola e submetida à educação familiar informal. Todos esses elementos foram primordiais para caracterizar a educação em muitos pa- Unidade 1 • Educação e currículo no Brasil: dos jesuítas à atualidade9/202 íses do mundo. Aqui no Brasil, on contexto histórico, no que se refere à educação, tra- mitaram forças que resultaram em lutas em torno da educação, que, por sua vez, envol- veram questões ideológicas. Essas concep- ções estão vigentes desde a chegada dos Jesuítas até os tempos atuais. Mesmo com as questões conservadoras no campo educacional vigente no Brasil, ou- tras linhas foram pensadas a partir do pon- to de vista de criticar o modelo conservador e transgredir, com isso contradisseram o modelo liberal2, que tinha certos adeptos. A corrente chamada progressista3 foi uma 2 Liberal: doutrina baseada na defesa da liberdade individual, nos campos econômico, político, religioso e intelectual, contra as ingerências e atitudes coercitivasdo poder estatal. 3 Progressista: favorável ao progresso, às transformações ou às reformas, esp. nos campos político, social e/ou econômico. dessas linhas que posteriormente fez valer suas vozes dentro do cenário educacional. Em terras tupiniquins, o primeiro Governa- dor-Geral, Tomé de Souza, chegou ao Brasil em 1549 e veio acompanhado por diversos jesuítas, encabeçados por Manoel da Nó- brega. Quinze dias após de sua chegada, os missionários já faziam funcionar na recém- -fundada cidade de salvador uma escola de “ler e escrever”. Era o início, segundo Ara- nha (2006), do processo de criação de es- colas elementares, secundárias, seminários de missão espalhadas pelo Brasil até o ano de 1759, data qual os jesuítas foram expul- sos pelo Marques de Pombal. Várias medidas antecederam as primeiras providências mais efetivas na gestão Pom- bal e foram levadas a efeito só a partir de Unidade 1 • Educação e currículo no Brasil: dos jesuítas à atualidade10/202 1772, quando teria sido implantado o en- sino público oficial. Com isso, a Coroa no- meou professores, estabeleceu planos de estudo e inspeção e modificou o curso de humanidades, típico do ensino jesuítico para o sistema de aulas regia4 de disciplinas isoladas. Para o pagamento dos professo- res, o governo instituiu o “subsídio literário” a fim de gerar recursos que “nem sempre foram aplicados na manutenção das aulas”. As vantagens proclamadas pelo ensino re- formado para a autora decorriam da inten- ção de oferecer aulas de línguas modernas, como o francês, além de desenho, aritméti- ca, geometria, ciências naturais, no espírito dos novos tempos e contra o dogmatismo da tradição jesuítica. 4 As aulas régias compreendiam o estudo das humanidades, sendo pertencentes ao Estado e não mais restritas à Igreja – foi a primeira forma do sistema de ensino público no Brasil. De acordo com a historiografia, o marquês de Pombal não conseguiu de imediato in- troduzir as inovações de sua reforma no Brasil, após ter desmantelado a estrutura jesuítica, o que teria provocado o retroces- so de todo o sistema educacional brasileiro segundo parte de população que foi contra a reforma. 1. Uma Trajetoria Curricular. Os estudos mais recentes descobriram na colônia um movimento etnocêntrico5 que se orientava pelas ideias iluministas6, e as 5 Etnocentrismo : é um conceito da Antropologia definido como a visão demonstrada por alguém que considera o seu grupo étnico ou cultura o centro de tudo, portanto, num plano mais importante que as outras culturas e sociedades. 6 Iluminismo : foi um movimento intelectual que ocorreu na Europa do século XVIII e teve sua maior expressão na França, Unidade 1 • Educação e currículo no Brasil: dos jesuítas à atualidade11/202 referências “afrancesadas” que já circula- vam em Portugal por meio das publicações dos intelectuais “estrangeirados” também tiveram sua divulgação no Brasil. Não só pela atuação dos professores formados pela Universidade de Coimbra, mas pela difusão entre entrelaçamentos de obras iluministas e aquelas que foram condenadas como re- ferências que tinham menções religiosas. De modo geral, podemos dizer que no sécu- lo XIX ainda não havia uma política de edu- cação sistemática e planejada aqui no Bra- sil. As mudanças tendiam a resolver proble- mas imediatos, sem encará-los como um todo. Tempos depois, a família real chegou ao Brasil e ainda existiam as aulas régias do tempo de Pombal, o que obrigou o rei a criar palco de grande desenvolvimento da Ciência e da Filosofia. escolas, superiores, a fim de atender às ne- cessidades do momento. Além das adapta- ções administrativas, houve o implemento das atividades culturais antes inexistentes ou simplesmente proibidas, sendo que es- sas iniciativas fomentavam a educação com o movimento iluminista que já ganhava cor- po na Europa. Com isso, o Brasil desenhou seu sistema de ensino com três níveis nos períodos do Pri- meiro e do Segundo Império, porém nota- vam-se as dificuldades de sistematização dos dois primeiros níveis, por conta dos in- teresses elitistas da monarquia, bem como dos jesuítas no primeiro momento, que não se importavam com a educação da maioria da população, que era predominantemen- te rural. O ensino secundário daquele mo- Unidade 1 • Educação e currículo no Brasil: dos jesuítas à atualidade12/202 mento histórico foi conturbado à medida que se configurava propedêutico7 a favo- recer os interesses elitistas, portanto atre- lado aos interesses do ingresso nos cursos superiores. Segundo a autora, a educação teria atraves- sado todo o século XIX, inorganizada, inces- santemente desagregada por conta de um currículo que estava configurado no dualis- mo educação para “elite” e educação para o “povo”. Sem articulação, o ensino primá- rio e o secundário foram dois mundos que se orientaram em direção distintas. Esse fracionamento sem um eixo unitário, com uma dualidade de sistema, fazia com que a educação nacional não tivesse uma coesão. 7 Propedêutico: que prepara, introduz (algo); introdutório, preliminar. Enquanto outros países caminhavam em direção oposta, promovendo a educação nacional, nosso ensino perdia ainda mais a unidade de ação. O precário sistema de tributação tornava a falta de recursos um crônico empecilho para qualquer realização estrutural na construção de escolas, seja na formação inicial, ou a sua remuneração. Por isso, não era boa a qualidade do ensino, com professores improvisados, com forma- ção precária, os quais, devido aos baixos sa- lários, eram obrigados a se dedicar a outras atividades com a finalidade de complemen- tar o orçamento familiar. Com todo esse quadro exposto, a vinculação entre os currículos dos diversos níveis não existia, aliás, nem se poderia falar propria- mente em currículo, segundo a autora, em Unidade 1 • Educação e currículo no Brasil: dos jesuítas à atualidade13/202 razão da escolha aleatória de disciplinas, sem nenhuma exigência de se completar um curso para iniciar outro. Ao contrário, eram os parâmetros do ensino superior que determinavam a escolha das disciplinas do ensino secundário, obrigando-o a se tornar destinado a preparar os jovens para os cur- sos superiores. Esse fato, segundo Aranha, foi o que preju- dicou de vez a educação brasileira, no en- tanto, uma emenda à Constituição, o Ato Adicional de 1834, deu contornos a uma reforma e descentralizou o ensino, atribuin- do à Coroa a função de promover e regula- mentar o ensino superior, enquanto as pro- víncias (futuros estados) foram destinadas à escola elementar e à secundária. Desse modo, a educação da elite ficou a cargo do poder central, e a do povo, confiada às pro- víncias8. A descentralização impedia a unidade or- gânica do sistema educacional, com o agra- vante de deixar o ensino elementar para a incipiente iniciativa das províncias, com suas múltiplas orientações. Como resulta- do, muitos decretos e projetos de lei apre- sentados às câmaras legislativas transfor- mavam-se rapidamente em letra morta. A partir de meados da década de 1860, no- vos debates tomaram conta das assembleias politicas e da sociedade civil no sentido de inferir nas escolas uma postura ideológi- ca liberal, movimento esse que aconteceu 8 Províncias: foram subdivisões do território brasileiro, criadas no Reino do Brasil e herdadas pelo Império do Brasil. Foram in- stituídas após a transformação das capitanias em províncias, pelas Cortes Gerais e Extraordinárias da Nação Portuguesa Unidade 1 • Educação e currículo no Brasil: dos jesuítas à atualidade14/202 junto com os Estados Unidos, de defesa das ideias de liberdade de ensino e de consci- ência, bem como as novidades pedagógicas que circulavam no exterior. Leôncio de Car- valho, segundo Aranha (2006) “o inovador no ensino mais audacioso e radical do pe- ríodo do Império” estabeleceu normas para o ensino primário, secundário e superior na reforma de 1879 com laços na ideologia li- beral. Nessalei, defendia-se a liberdade de ensino (inclusive sem a fiscalização do governo), de frequência de credo religioso (os não católicos ficavam desobrigados de assistirem às aulas de religião), a criação de escolas normais e o fim da proibição de matrícula de escravos. Estimulou-se ainda a organização de colégios com propostas divergentes, como, por exemplo, os de ten- dência positivista9, que valorizavam as ciên- cias e o ensino acadêmico e humanista da tradição colonial. E teve a iniciativa de su- gerir a adoção do método intuitivo10 ou de lições de coisas, no entanto nem todas es- sas propostas se efetivaram. A reforma de Leôncio de Carvalho, embora radical, esteve em vigor por pouco tempo, mas a discussão sobre a interferência ou não do Estado continuou acesa. Por exem- plo, Rui Barbosa atribuía ao Estado a obri- gação de tomar para si os cuidados com a 9 Positivismo: defende a ideia de que o conhecimento científ- ico é a única forma de conhecimento verdadeiro. De acordo com os positivistas somente pode-se afirmar que uma teoria é correta se ela foi comprovada através de métodos científicos válidos. 10 Método intuitivo: é aquele que em todo ensino faz apelo a essa força sui generis, a esse olhar do espírito, a esse ímpeto espontâneo da inteligência em direção da verdade. Unidade 1 • Educação e currículo no Brasil: dos jesuítas à atualidade15/202 educação, porque, entre outras coisas, as escolas particulares se orientavam pelas leis do mercado. Essas discussões repercu- tiriam de maneira mais efetiva nos primei- ros anos da República. Uma das características da atuação do Es- tado tivera início no final do século XIX, to- mando força nas primeiras décadas do sé- culo seguinte, ao se esboçar um modelo de escolarização baseado na escola seriada, com normas, procedimentos, métodos, ins- talações adequadas, como se constata com a construção de prédios monumentais para os estabelecimentos, sobretudo os grupos escolares. Evidentemente, isso significava desvio substancial na aplicação das minguadas verbas para o ensino, mas essas edificações visavam ao interesse do governo pelo ensi- no público. O projeto político republicano tinha a intenção de implantar a educação escolarizada, oferecendo o ensino para to- dos. É bem verdade que se tratava ainda de uma escola dualista, em que para a elite era reservada a continuidade dos estudos, so- bretudo científicos, já que os republicanos recusavam a educação tradicional huma- nista, enquanto o ensino para o povo fica- va restrito ao elementar e profissional, não distante das concepções egípcia e mesopo- tâmia destacadas no texto. A Constituição Republicana de 1891, ao re- afirmar a descentralização do ensino, atri- Unidade 1 • Educação e currículo no Brasil: dos jesuítas à atualidade16/202 buiu à União a incumbência da educação superior e secundária, reservando aos es- tados o ensino fundamental e profissional. Desse modo, reforçou o viés elitista, já que a educação elementar recebia menor aten- ção. O ensino secundário, privilégio das eli- tes, permanecia acadêmico e voltado para a preparação ao curso superior e humanísti- co, apesar dos esforços dos positivistas para reverter tal quadro (ARANHA, 2006). Os liberais eram os simpatizantes da Esco- la Nova. Segundo a autora, esse modelo de currículo tinha as experiências dos alunos como ponto principal, e seus divulgadores estavam imbuídos da esperança de demo- cratizar e de transformar a sociedade por meio da escola e do currículo. Para tanto, procuravam reagir ao individualismo e ao academicismo da educação tradicional, propondo a renovação das técnicas e a exi- gência da escola única (não dualista), obri- gatória e gratuita. Eram conhecidos como educadores “profissionais”, devido à espe- cialização de seus interesses, focados na educação. Vale lembrar o caráter científico das novas técnicas, as quais estão ampara- das no conhecimento da Sociologia, Psico- logia, Biologia e Pedagogia moderna. Aqui no Brasil, Anísio Teixeira foi um dos percussores desse modelo nas escolas. Após uma viagem aos Estados Unidos, ele voltou com as ideias de John Dewey, e sua lógica era colocar um ativismo pedagógi- co. Representantes desse novo olhar para a educação elaboraram um manifesto para fixar uma marca ou uma ruptura para com Unidade 1 • Educação e currículo no Brasil: dos jesuítas à atualidade17/202 antigas concepções de educação. Assim, os escolanovistas colocariam um “divisor de águas”, reiterando a necessidade de o Es- tado assumir a responsabilidade pela edu- cação, que se achava em defasagem com as exigências do desenvolvimento. Outra forma de orientar o currículo foi o tecnicista, que, inserido na educação, resul- tou da tentativa de aplicar na escola o mo- delo empresarial, que se baseia na “racio- nalização”, própria do sistema de produção capitalista. Um dos objetivos dos teóricos dessa linha era adequar a educação às exi- gências da sociedade industrial e tecnoló- gica, baseando-se em economia de tempo, esforços e custos. Em outras palavras, para inserir o Brasil no sistema do capitalismo in- ternacional, seria preciso tratar a educação como capital humano. Investir em educação significaria possibilitar o crescimento eco- nômico. No Brasil, a tendência tecnicista foi introduzida no período da ditadura militar, nas décadas de 1960 e 1970. Ainda sobre o tecnicismo, uma das conse- quências funestas11 foi a excessiva buro- cratização do ensino fato que se deu para o controle das atividades, havia inúmeras exi- gências de preenchimento de papéis. Evi- dentemente, essa tendência ignorava que o processo pedagógico que tem sua pró- pria especificidade e jamais permite a rígida separação entre concepção e execução do trabalho. Nesse caso, para os teóricos críti- cos do tecnicismo, não teria sentido redu- 11 Funesto: adjetivo na língua portuguesa, é utilizado para qualificar algo que é mortal ou que provoca a morte. Unidade 1 • Educação e currículo no Brasil: dos jesuítas à atualidade18/202 zir o professor a mero executor de tarefas organizadas pelo setor de planejamento, tampouco seria possível imaginar que a ex- celência dos meios técnicos pudesse tornar a função do professor secundária. É importante destacar que, diante da con- juntura liberal e positivista que pairava so- bre a educação da época, outras formas de resistências foram organizadas. A princípio, nas primeiras décadas da República, houve diversas tentativas de implantar uma edu- cação não atrelada aos interesses capita- listas, mas que articulasse os trabalhadores em geral e seus filhos no sentido de uma crí- tica à ideologia burguesa, libertista e positi- vista. Ainda na Primeira República, as ideias socialistas e anarquistas influenciaram na organização de grupos de defesa dos direi- tos dos trabalhadores, desde a formação de sindicatos, de partidos políticos, até a reali- zação de congressos, que fomentaram gre- ves e reivindicações que buscavam novos co- nhecimentos (SILVA, 2013; ARANHA, 2006). 2. A Crítica Chega Definitiva- mente. Segundo Silva (2013), a década de 1960 foi um período de grandes agitações e trans- formações sociais, politica e econômicas. Os movimentos de independência nas antigas colônias europeias; os protestos tis na Fran- ça e em vários outros países; a continuação do movimento dos direitos civis nos Esta- dos Unidos; os protestos contra a guerra do Vietnã; os movimentos de contracultura; Unidade 1 • Educação e currículo no Brasil: dos jesuítas à atualidade19/202 o movimento feminista; e as lutas contra a ditadura no Brasil são apenas alguns dos importantes movimentos sociais e culturais que caracterizaram os anos 1960. Não por coincidência, foi também nessa década que surgiram livros, ensaios, teorizações que colocavam em xeque o pensamento tradi- cional da educação, ou seja, os liberais, po- sitivistas e até mesmo o pensamento da es- cola nova. O movimento que criticava os conservado- res no campoeducacional se alastrou por diversos países e continentes. Assim, para a literatura educacional estadunidense, a renovação da teorização sobre currículo foi chamada de “movimento de reconceptua- lização”. Da mesma forma que a literatura inglesa reivindica prioridade para a chama- da “nova sociologia da educação”, um mo- vimento identificado com o sociólogo inglês Michael Young também o faz, enquanto os franceses certamente não deixariam de destacar o papel dos ensaios fundamentais de Althusser, Bourdieu e Passeron, Baudelot e Establet, entre outros movimentos pelo mundo. Uma avaliação mais equilibrada argumen- taria que o movimento de renovação da te- oria educacional queria abalar a teoria edu- cacional tradicional, tendo influência não apenas teórica, mas inspirando verdadeiras revoluções nas próprias experiências edu- cacionais que “explodiram” em vários locais ao mesmo tempo. Uma revisão brasileira não deixaria de assinalar o importante pa- pel da obra de Paulo Freire e Demerval Sa- Unidade 1 • Educação e currículo no Brasil: dos jesuítas à atualidade20/202 viani na crítica aos modelos de educacionais tradicionais (SILVA, 2013). As chamadas teorias críticas do currículo, conforme Silva (2013), efetuam uma completa inver- são nos fundamentos das teorias tradicionais. Como vimos, os modelos tradicionais vinham de concepções religiosas, elitistas, conservadoras, iluministas e positivistas e não estavam absolu- tamente preocupados em fazer qualquer tipo de questionamento mais radical relativamente aos arranjos educacionais existentes, uma vez que esses estavam a serviço de tais estruturas sociais. Como a escola transmite a ideologia? A escola atua ideologicamente atra- vés de seu currículo, seja de uma forma mais direta, através das matérias mais suscetíveis ao transporte de crenças explícitas sobre a desejabilidade das estruturas sociais existentes, como Estudos Sociais, História, Geogra- fia, por exemplo; seja de uma forma mais indireta, através de disciplinas mais “técnicas”, como Ciências e Matemática. Além disso, a ideologia atua de forma discriminatória: ela inclina as pessoas das classes subordinada a submissão e a obediência, enquanto as pessoas das classes dominantes aprendem as comandar e a controlar (SILVA, 2013, p. 31). Unidade 1 • Educação e currículo no Brasil: dos jesuítas à atualidade21/202 Ao tomar o status quo12 como referência de- sejável, as teorias tradicionais do currículo se concentravam nas formas de organiza- ção e elaboração do currículo. Os modelos tradicionais de currículo restringiam-se à atividade técnica de como fazer o currículo. As teorias críticas sobre o currículo, em con- traste, começam por colocar em questão precisamente os pressupostos dos presen- tes arranjos sociais e educacionais vigen- tes que não dialogavam com certas classes sociais. As teorias críticas desconfiam do status quo, responsabilizando-o pelas de- sigualdades e injustiças sociais, bem como pelas relações de classe. As teorias tradi- cionais eram teorias de aceitação, ajuste e 12 Status quo: significa estado atual e é um termo em latim. O status quo está relacionado ao estado de fatos, situações e coisas, independente do momento. adaptação. As teorias críticas são teorias de desconfiança, questionamento e trans- formação radical. Para as teorias críticas, o importante não é desenvolver técnicas de como fazer o currículo, mas desenvolver conceitos que nos permitam compreender o que o currículo faz (SILVA, 2013). De acordo com Neira e Nunes (2009), além das teorias tradicionais do currículo e teo- rias críticas, outros campos teóricos estão construindo novos currículos, alicerçados pelas teorias pós-criticas13 que realizam na educação brasileira substituições, rupturas e mudança de ênfase com relação às teorias críticas, sendo que suas produções têm ela- borado propostas de práticas educacionais, 13 Terias Pós-críticas: pode ser encontrado esses conceitos no livro: Silva, Tomaz Tadeu da. Teoria cultural e educação. Belo Horizonte : Autêntica, 2000. Unidade 1 • Educação e currículo no Brasil: dos jesuítas à atualidade22/202 currículos e pedagogia que apontam para a “diferença”. O currículo pós-crítico14 inclui novas técni- cas e categorias para maior compreensão das relações de poder e identidade social, entre a escola e a sociedade pós-moder- na. Nesse sentido, a teorização pós-críti- ca incorpora o multiculturalismo crítico, os estudos feministas, a teoria queer, os estu- dos étnicos e raciais, o pós-modernismo, o pós-estruturalismo, os estudos culturais, o pós-colonialismo, os ecológicos, a filosofia da diferença, a filosofia intercultural, a visão de pedagogia como cultura e da cultura como pedagogia. Unidade 1 • Educação e currículo no Brasil: dos jesuítas à atualidade23/202 Glossário Currículo: experiências escolares que se desdobram em torno do conhecimento, permeadas pelas relações sociais, articulando vivências e saberes dos estudantes com os conhecimentos historicamente acumulados e contribuindo para construir as identidades dos educandos. Educação: aplicação de métodos em instituições formais ou informais para assegurar a forma- ção. Escola: conjunto de pessoas que estão em prol de um bem comum. Questão reflexão ? para 24/202 Considere que todos nós já passamos pela instituição escola e nela carregamos recordações de sucesso ou in- sucesso. Tendo esse contexto como pano de fundo, ela- bore um breve relato de suas experiências na escola, po- dendo ser de sucesso ou insucesso, que dialogam com as teorias tradicionais e críticas apontadas no texto. 25/202 Considerações Finais (1/2) • Nesta seção, discorremos sobre como as primeiras formas de educação que permearam o território brasileiro foram implementadas pelos colonizadores e jesuítas que doutrinavam o ensino. As representações do modelo de conví- vio social no Egito e na Mesopotâmia foram tão expressivas que estruturou o ensino das escolas em diversos países até hoje; • Posteriormente, a produção curricular se fez presente nas ideias iluministas e liberalistas de uma sociedade em transformação. Junto com as concepções positivistas, o desenho no campo educacional no Brasil era conservador. As teorias que fundamentavam o currículo foram as tradicionais: o tecnicismo e a escola nova que tiveram grande importância na educação; • No entanto, outros estudiosos já sinalizavam algo que não agradava nas concepções tradicionais e a construção de uma teoria crítica do currículo foi criada tomou no Brasil não foi diferente; 26/202 • Para além das teorias tradicionais e críticas, os aspectos pós-críticos amplia- ram os olhares para a educação e educadores com sua maneira de artistas na construção do currículo. Considerações Finais (2/2) Unidade 1 • Educação e currículo no Brasil: dos jesuítas à atualidade27/202 Referências ARANHA, Maria. L.A. História da Educação e da Pedagogia: Geral e Brasil. São Paulo: Moderna 2006. SILVA, Tomaz. T. Documentos de identidade: uma introdução às teorias de currículo. Belo Horizon- te: Autêntica, 2013. NEIRA, Marcos G.; NUNES, Mário L. F. Educação física, currículo e cultura. São Paulo: Phorte, 2009. 28/202 Assista a suas aulas Aula 1 - Tema: Educação e currículo no brasil: Dos jesuítas à atualidade. Bloco I Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ a7785d8e7f8404aa2c2660680bb5f1dc>. Aula 1 - Tema: Educação e currículo no brasil: Dos jesuítas à atualidade. Bloco II Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ d9c2131ad0ea1cb9f43226b0b83d8290>. http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/a7785d8e7f8404aa2c2660680bb5f1dc http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/a7785d8e7f8404aa2c2660680bb5f1dc http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/a7785d8e7f8404aa2c2660680bb5f1dchttp://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/d9c2131ad0ea1cb9f43226b0b83d8290 http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/d9c2131ad0ea1cb9f43226b0b83d8290 http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/d9c2131ad0ea1cb9f43226b0b83d8290 29/202 1. Os estudos mais recentes descobriram que na colônia havia um movi- mento etnocêntrico que se orientava pelas ideias iluministas. As referências “afrancesadas” que já circulavam em Portugal por meio das publicações dos intelectuais “estrangeirados” também tiveram sua divulgação no Brasil. A centralidade da filosofia e da teoria, nesse caso, era: a) Modernidade; pós-modernidade; teoria pós-Crítica. b) Iluminismo; modernidade; teoria crítica. c) Modernidade; pós-modernidade; teoria tradicional. d) Colonialismo; modernidade; teoria tradicional. e) Iluminismo; modernidade; teoria tradicional. Questão 1 30/202 2. Quais foram as características da atuação do Estado no final do século XIX, que tomou força nas primeiras décadas do século seguinte e orientou a escolarização baseada na organização técnica? a) Escola seriada, com normas, procedimentos, métodos. b) Escola por ciclo, com normas, procedimentos, métodos. c) Escola seriada, com normas, atitudes, métodos. d) Escola seriada, sem normas, procedimentos, métodos. e) Escola seriada, com normas, procedimentos, metodologias. Questão 2 31/202 3. A organização política que modificou estruturando-se entre governan- tes, sacerdotes, mercadante e produtores e escravos criou uma hierarquia de: a) Riqueza, poder, inclusão e pobreza; b) Riqueza, poder, equidade e pobreza; c) Riqueza, poder, exclusividade e pobreza; d) Riqueza, poder, exclusão e pobreza; e) Riqueza, poder, escravismo e pobreza. Questão 3 32/202 4. Para Neira e Nunes, além das teorias tradicionais do currículo e teorias crí- ticas outros campos teóricos estão construindo novos currículos, alicerçados pelas teorias pós-criticas. Nesse sentido, a teorização pós-crítica incorpora como categoria de análise: a) a teoria queer, os estudos étnicos e raciais, o modernismo; b) a teoria queer, os estudos étnicos, o pós-modernismo; c) a teoria queer, os estudos raciais, o pós-modernismo; d) a teoria da tradução, os estudos étnicos e raciais, o pós-modernismo; e) a teoria queer, os estudos étnicos e raciais, o pós-modernismo. Questão 4 33/202 5. Houve diversas tentativas de implantar uma educação não atrelada aos interesses capitalistas, mas que articulasse os trabalhadores em geral e seus filhos, no sentido de uma crítica à: a) ideologia burguesa, liberalista e positivista; b) ideologia francesa, liberalista e positivista; c) ideologia da riqueza, liberalista e positivista; d) ideologia europeia, liberalista e positivista; e) ideologia burguesa, liberalista e progressista. Questão 5 34/202 Gabarito 1. Resposta: E. Esses são princípios do etnocentrismo que propõem uma única versão para os fenô- menos e desmerecem qualquer outro tipo de explicação. 2. Resposta: A. Tento o vista o tempo cronológico e as teo- rias vigente do período esses são itens pri- mordiais na formação. 3. Resposta: D. Todo camada da estratificação social foi ex- clusa do processo de apropriação do conhe- cimento. 4. Resposta: E. São pilares fundamentais e completos para analisar dentro das teorias pós-criticas. 5. Resposta: A. Esses são pilares fortemente ligado ao capi- talismo. 35/202 Unidade 2 A inter-relação entre as políticas educacionais e o currículo escolar Objetivos 1. Analisar como foram os impactos das políticas públicas e do currículo em um certo recorte da história do Brasil. 2. Refletir sobre as políticas públicas no currículo e suas interferências na prá- tica pedagógica. 3. Sugerir uma organização curricular que dialogue com cada realidade edu- cacional. Unidade 2 • A inter-relação entre as políticas educacionais e o currículo escolar36/202 Introdução O Brasil vem implementando, desde os anos 1990, algumas políticas educacionais, com isso impactando direta ou indireta- mente com os ajustes econômicos e sociais, ou seja, a educação e suas transformações podem ser enxergadas como diretrizes e medidas pelas quais o país se moderniza e adquire as condições de inserção no mundo globalizado1 e, assim, ajusta-se às exigên- cias do mercado em relação ao capital. O fato é que se faz presente em todas essas políticas o discurso da modernização edu- cativa, da diversificação, da flexibilidade, da competitividade, da produtividade, da efici- ência e da qualidade dos sistemas educati- vos, da escola e do ensino. 1 Mundo Globalizado/ Globalização: para o autor o conceito de é um dos processos de aprofundamento internacional da integração econômica, social, cultural e política As consequências da inversão de priorida- des estariam, por exemplo, no abandono da exigência de democratização do acesso e permanência de todos na escola básica, em nome da qualidade do ensino, a qual é aferida, muitas vezes, por critérios quanti- tativos, levando à diminuição dos índices de evasão e repetência, sem, no entanto, conseguir assegurar a todas as crianças e jovens uma aprendizagem escolar sólida e duradoura (LIBÂNEO, 2012). Outra consequência, segundo o autor, diz respeito ao descompromisso do Estado ao descentralizar as ações educativas para a atuação da comunidade, desobrigando de manter políticas públicas, especialmente as sociais, e repassando encargos para outras instâncias administrativas institucionais Unidade 2 • A inter-relação entre as políticas educacionais e o currículo escolar37/202 sem poder decisório nas ações da escola. Exemplos disso são as ações assumidas pelo voluntariado em questões de responsabili- dade do Estado. A ênfase sobre as questões da qualidade do ensino revelada contraditoriamente acima gerou certo desprezo pelas questões políti- cas e sociais que proviam do Estado2 e con- dicionou o sucesso do aluno e a obtenção da cidadania a partir dos números nas avalia- ções externas, responsabilizando o profes- sor pelo fracasso escolar caso os números não fossem satisfatórios. Além disso, nas políticas educacionais dos anos 1990, hou- ve a argumentação de que a esfera privada é detentora de maior eficiência, enfraque- 2 Estado: É uma entidade com poder soberano para governar um povo dentro de uma área territorial delimitada. cendo o setor público que levou à privatiza- ção desenfreada de serviços educacionais, principalmente na educação superior. Essas são algumas das características das reformas educacionais nos anos 1990. Essa breve análise histórica das políticas edu- cacionais possibilitará identificar elemen- tos nos diferentes momentos da educação brasileira. A estrutura e a organização do sistema de ensino podem ser feitas com base em pares conceituais, que expressam as tensões econômicas, políticas, sociais e educacionais de cada período: centraliza- ção/descentralização; qualidade/quantida- de; público/privado. Na transição das décadas de 1995 e 2002, a reforma educacional brasileira em curso teve início com um elenco amplo de ações, Unidade 2 • A inter-relação entre as políticas educacionais e o currículo escolar38/202 porém sem aumento nos recursos financei- ros para a manutenção no desenvolvimento de ensino. A centralização no âmbito fede- ral com o Fundo de Manutenção e Desen- volvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (FUNDEF) possi- bilitou melhoria relativa nas áreas mais po- bres do país, no entanto os resultados das avaliações externas denunciaram perda no padrão de qualidade. No programa deno- minado Acorda Brasil: Hora da Escola, fo- ram destacados cinco pontos: a) distribui- ção de verbas diretamente para as escolas; b) melhoria da qualidade dos livros didáti- cos; c) formação de professores por meio da educação a distância; d) reforma curricular (estabelecimento de parâmetrocurricula- res nacionais PCN e Diretrizes Curriculares Nacionais – DCN); e) avaliação das escolas. A ampla e muitas vezes exagerada divulga- ção de ações e programas gerou a convic- ção de que a educação estava finalmente mudando. Porém, os resultados negativos do Sistema Nacional de Avaliação minaram o otimismo criado, a falta de vagas para mi- lhares crianças e os baixos salários foram deixando a qualidade da educação nacional bem abaixo da meta estipulada pelo Estado. Já no ano de 2003 a 2006, os holofotes fo- ram alterados para três princípios: a) demo- cratização do acesso e garantia da perma- nência; b) qualidade social da educação; c) instauração do regime de colaboração e da democratização da gestão. No item (a), a democratização não significa apenas cons- truir novas escolas, mas sim garantir o aces- so à permanência juntamente com os pro- Unidade 2 • A inter-relação entre as políticas educacionais e o currículo escolar39/202 gramas suplementares que estão inseridos na LDB (alimentação, transporte, saúde, material didático), Mesmo assim, para dar efeito nas escolas, foi de suma importân- cia o processo de uma gestão democrática e participativa, gerando certa autonomia dentro das Unidades de Ensino. Na questão de qualidade social da educação item (b), a educação para todos em todos os níveis e modalidades da Educação Básica é ponto fundamental, padrões de excelência e de adequação os interesses da maioria da população, ou seja, uma inclusão social no âmbito da educação. Conjuntamente, foi necessário repensar os tempos e espaços escolares, bem como os currículos estavam se construindo nas escolas, e a valorização do profissional da educação se efetivou com um piso nacional, plano de carreira e formação continuada. No último item (c), o Regime de colaboração e gestão democrática era o debate central. Nesse caso, foi instituído um sistema na- cional de educação, normativo e delibera- tivo organizado pela União, Estados e Pre- feituras. Foi criado um fórum nacional de educação, fóruns escolares com orçamento participativo nas esferas do governo e das unidades escolares. Normas de aplicação de recursos federais, estaduais e munici- pais, com base na definição de custo qua- lidade por aluno, e o Fundo de Manutenção de Desenvolvimento da Educação Básica (FUNDEB) (LIBÂNEO, 2012). Unidade 2 • A inter-relação entre as políticas educacionais e o currículo escolar40/202 1. PCNS uma Breve Análise. As estruturas econômicas, sociais e políti- cas da década de 1990 abriram as portas para uma nova forma de educação, confor- me citado. Os cenários mundial e nacional proporcionaram um olhar para a educação que visava à inclusão de todos na escola. Ações de distribuição de verbas diretamen- te para as escolas, a melhoria da qualidade dos livros didáticos e a formação de pro- fessores por meio da educação a distância, bem como a reforma curricular, foram eixos de extrema importância. O espaço significativo no que se refere ao currículo se concretizou com ações como o estabelecimento de Parâmetro Curricula- res Nacionais – PCN e Diretrizes Curricula- res Nacionais – DCN; sendo esse um ponto crucial, o coração da escola nas áreas de conhecimento, os PCN tinham foros privile- giados nas políticas públicas para alavancar os objetivos da educação nacional. Os Parâmetros Curriculares Nacionais estão situados historicamente e não são princí- pios atemporais. Sua validade depende de estarem em consonância com a realidade social, necessitando, portanto, de um pro- cesso periódico de avaliação e revisão, a ser coordenado pelo MEC. O segundo nível de concretização diz res- peito às propostas curriculares dos Esta- dos e Municípios. Os Parâmetros Curricula- res Nacionais poderão ser utilizados como recurso para adaptações ou elaborações curriculares realizadas pelas Secretarias de Unidade 2 • A inter-relação entre as políticas educacionais e o currículo escolar41/202 Educação, em um processo definido pelos responsáveis em cada local. O terceiro nível de concretização refere- -se à elaboração da proposta curricular de cada instituição escolar, contextualizada na discussão de seu projeto educativo. Enten- de-se por projeto educativo a expressão da identidade de cada escola em um processo dinâmico de discussão, reflexão e elabo- ração contínua. Esse processo deve contar com a participação de toda equipe pedagó- gica, buscando um comprometimento de todos com o trabalho realizado, com os pro- pósitos discutidos e com a adequação de tal projeto às características sociais e culturais da realidade em que a escola está inserida. É no âmbito do projeto educativo que profes- sores e equipe pedagógica discutem e or- ganizam os objetivos, conteúdos e critérios de avaliação para cada ciclo. Os Parâmetros Curriculares Nacionais e as propostas das Secretarias devem ser vistos como materiais que subsidiarão a escola na constituição de sua proposta educacional mais geral, num processo de interlocução em que se compartilham e explicitam os va- lores e propósitos que orientam o trabalho educacional que se quer desenvolver e o es- tabelecimento do currículo capaz de aten- der às reais necessidades dos alunos. O quarto nível de concretização curricular é o momento da realização da programação das atividades de ensino e aprendizagem na sala de aula. É quando o professor, segun- do as metas estabelecidas na fase de con- cretização anterior, faz sua programação, Unidade 2 • A inter-relação entre as políticas educacionais e o currículo escolar42/202 adequando-a àquele grupo específico de alunos. A programação deve garantir uma distribuição planejada de aulas, distribuição dos conteúdos segundo um cronograma referencial, definição das orientações didáticas prioritárias, seleção do material a ser utilizado, planejamento de pro- jetos e sua execução. Apesar de a responsabilidade ser essencialmente de cada professor, é fun- damental que essa seja compartilhada com a equipe da escola por meio da corresponsabilidade estabelecida no projeto educativo (BRASIL, 1997). Os objetivos propostos nos Parâmetros Curriculares Nacionais concretizam as intenções educativas em termos de capacidades que devem ser desenvolvi- das pelos alunos ao longo da escolaridade. A decisão de definir os objetivos educacionais em termos de capacidades é crucial nesta proposta, pois as ca- pacidades, uma vez desenvolvidas, podem se expressar numa variedade de comportamentos. O professor, consciente de que condutas diversas podem estar vinculadas ao desenvolvimento de uma mesma capacidade, tem diante de si maiores possibilidades de atender à diversidade de seus alunos. Assim, os objetivos se definem em termos de capacidades de ordem cognitiva, física, afetiva, de relação interpessoal e inserção social, ética e estética, tendo em vis- ta uma formação ampla (BRASIL, 1997, p. 47). Unidade 2 • A inter-relação entre as políticas educacionais e o currículo escolar43/202 E, por fim, a avaliação das escolas, tendo como parâmetro para ver o rendimento dos alunos equipe técnica e currículos. Porém, no final do processo, conforme já citado, os índices ficaram abaixo da meta. 2. Currículo um Novo Olhar. Como já anunciamos, em 2003 a 2006 foram criados três princípios que nortearam a implemen- tação de políticas públicas para os diversos eixos temáticos, incluindo o currículo: a) democrati- zação do acesso e garantia da permanência; b) qualidade social da educação; c) instauração do regime de colaboração e da democratização da gestão. A garantia de padrão de qualidade é um dos princípios da LDB (inciso IX do artigo 3º). Conhecimentos e valores. Socializar a cultura inclui garantir a pre- sença dos sujeitos das aprendizagens na escola. Assim, a qualidade social da educação escolar supõe a sua permanência. Unidade 2 • A inter-relação entre as políticas educacionais e o currículo escolar44/202 Daí entenderem que toda política curricular é uma política cultural,pois o cur- rículo é fruto de uma seleção e produção de saberes: campo conflituoso de produção de cultura, de embate entre pessoas concretas, concepções de co- nhecimento e aprendizagem, formas de imaginar e perceber o mundo. Assim, as políticas curriculares não se resumem apenas a proposta e práticas enquan- to documentos escritos, mas incluem os processos de planejamento vivencia- dos e reconstruídos em múltiplos espaços e por múltiplas singularidades no corpo social da educação (BRASIL, 2013, p. 27). No ensino fundamental e nas demais etapas da educação básica, a qualidade não tem sido tão estimulada quanto a quantidade segundo o documento, então: depositar atenção central sobre a quantidade, visando à universalização do acesso à escola, é uma medida necessária, mas que não assegura a permanência, essencial para compor a qualidade. Em outras palavras, a opor- tunidade de acesso, por si só, é destituída de condições suficientes para inserção no mundo do conhecimento. O conceito de qualidade na escola, numa perspectiva ampla e basilar, remete a uma determina- da ideia de qualidade de vida na sociedade e no planeta Terra, incluindo tanto a qualidade pe- Unidade 2 • A inter-relação entre as políticas educacionais e o currículo escolar45/202 dagógica quanto a qualidade política, uma vez que requer compromisso com a perma- nência do estudante na escola, com sucesso e valorização dos profissionais da educação. Trata-se da exigência de se conceber a qua- lidade na escola como qualidade social, que se conquista por meio de acordo coletivo. Ambas as qualidades – pedagógica e polí- tica – abrangem diversos modos avaliativos comprometidos com a aprendizagem do estudante, interpretados como indicações que se interpenetram ao longo do processo didático-pedagógico, o qual tem como alvo o desenvolvimento do conhecimento e dos saberes construídos histórica e socialmente (LIBÂNEO, 2012). O compromisso com a permanência do es- tudante na escola é, portanto, um desafio a ser assumido por todos, porque, além das determinações sociopolíticas e culturais, das diferenças individuais e da organização escolar vigente, há algo que supera a políti- ca reguladora dos processos educacionais: há os fluxos migratórios, além de outras va- riáveis que se refletem no processo educa- tivo. Essa é uma variável externa que com- promete a gestão macro da educação, em todas as esferas, e, portanto, reforça a pre- mência de se criarem processos gerenciais que proporcionem a efetivação do disposto no artigo 5º e no inciso VIII do artigo 12 da LDB, quanto ao direito ao acesso e à perma- nência na escola de qualidade. A gestão escolar deve promover o “encontro pedagogicamente pensado e organizado de gerações, de idades diferentes” inscritos Unidade 2 • A inter-relação entre as políticas educacionais e o currículo escolar46/202 num contexto diverso e plural, mas que se pretende uno, em sua singularidade própria e inacabada, porque em construção dialéti- ca permanente. Na instituição escolar, a gestão democrática é aquela que tem nas instâncias colegiadas, o espaço em que são tomadas as decisões que orientam o conjunto das atividades es- colares, aprovam o projeto político-peda- gógico, o regimento escolar, os planos da escola (pedagógicos e administrativos), as regras de convivência. Como tal, a gestão democrática é entendida como princípio que orienta os processos e procedimentos administrativos e pedagógicos, no âmbito da escola e nas suas relações com os de- mais órgãos do sistema educativo de que faz parte (LIBÂNEO, 2012). Essa é uma das diversas formas de organi- zação das políticas públicas e sua interface com o currículo escolar, porém não pode- mos deixar de ressaltar que a escola, bem como a comunidade escolar no seu contex- to macro, possui suas particularidades que devem ser mapeadas e inseridas no PPP e no Regimento Escolar, sendo essa a autonomia que a escola tem para implementar as prá- ticas de ensino organizadas pelo gestores e professores com olhar para uma aprendiza- gem significativa. 3. Currículo e Organização da Escola. Depois do breve panorama exposto sobre as políticas educacionais e sua relação com o Unidade 2 • A inter-relação entre as políticas educacionais e o currículo escolar47/202 currículo e outros eixos educacionais, nesta seção a temática ficará por conta das relações so- bre as políticas públicas apresentadas e a construção de currículo. Para isso, abrimos esse item anunciando que o entendimento aqui expresso sobre o currículo são: Práticas que proporcionam a produção e a socialização de significados no es- paço social e que contribuem, intensamente, para a construção de identidades sociais e culturais dos estudantes. E reitera-se que deve difundir os valores fun- damentais do interesse social, dos direitos e deveres dos cidadãos, do respeito ao bem comum e à ordem democrática, bem como considerar as condições de escolaridade dos estudantes em cada estabelecimento, a orientação para o trabalho, a promoção de práticas educativas formais e não formais (BRASIL, 2013, p. 27). Ainda nas concepções do documento, na educação básica, a organização do tempo curricular deve ser construída em função das peculiaridades de seu meio e das características próprias dos seus estudantes, não se restringindo às aulas das várias disciplinas. O percurso formativo deve, nesse sentido, ser aberto e contextualizado, incluindo não só os componentes curriculares centrais obrigatórios, previstos na legislação e nas normas educacionais, mas também, confor- Unidade 2 • A inter-relação entre as políticas educacionais e o currículo escolar48/202 me cada projeto escolar estabelecer, outros componentes flexíveis e variáveis que pos- sibilitem percursos formativos que aten- dam aos inúmeros interesses, necessidades e características dos educandos. A concepção e a organização do espaço curricular se imbricam e se alargam com os espaços físicos, isso por incluir nos desen- volvimentos curriculares ambientes didáti- co-pedagógicos e equipamentos que não se reduzem às salas de aula, incluindo outros espaços da escola e de outras instituições escolares, bem como os socioculturais e es- portivo-recreativos do entorno, da cidade e mesmo da região. Essa ampliação e diversificação dos tempos e espaços curriculares pressupõe, segun- do o documento, profissionais da educação dispostos a reinventar e construir essa es- cola, numa responsabilidade compartilha- da com as demais autoridades encarrega- das da gestão dos órgãos do poder público, na busca de parcerias possíveis e necessá- rias, até porque educar é responsabilidade da família, do Estado e da sociedade. A escola e sua gestão precisa acolher dife- rentes saberes, diferentes manifestações culturais e diferentes óticas e empenhar-se para se constituir, ao mesmo tempo, em um espaço de heterogeneidade e pluralidade, situada na diversidade em movimento, no processo tornado possível por meio de re- lações intersubjetivas, fundamentada no princípio emancipador. Cabe às escolas desempenhar o papel so- cioeducativo, artístico, cultural, ambiental, Unidade 2 • A inter-relação entre as políticas educacionais e o currículo escolar49/202 fundamentadas no pressuposto do respeito e da valorização das diferenças, entre ou- tras, de condição física, sensorial e socio- emocional, origem, etnia, gênero, classe social, contexto sociocultural, que dão sen- tido às ações educativas, enriquecendo-as, visando à superação das desigualdades de natureza sociocultural e socioeconômica. Contemplar essas dimensões significa a re- visão dos ritos escolares e o alargamento do papel da instituição escolar e dos educa- dores, adotando medidas proativas e ações preventivas (BRASIL, 2013). Outro ponto importante para fazer valer os três itens elencados como metas para a construção de uma escola inclusiva é uma gestão democrática. Essa tem o pressupos- to da organização do trabalho pedagógicoe da gestão da escola e conceber organiza- ção e a gestão das pessoas, do espaço, dos processos e procedimentos que viabilizam o trabalho expresso no projeto político-pe- dagógico e em planos da escola, em que se conformam condições de trabalho definidas pelas instâncias colegiadas3, sempre res- peitadas as normas legais e as do seu siste- ma de ensino, que têm incumbências com- plexas e abrangentes, as quais exigem outra concepção de organização do trabalho pe- dagógico, como distribuição da carga ho- rária, remuneração, estratégias claramente definidas para a ação didático-pedagógica coletiva que inclua a pesquisa, a criação de novas abordagens e as práticas metodoló- gicas, incluindo a produção de recursos di- 3 Colegiado: Grêmio/ Associação de Pais e Mestres/ Conselho de escola. Unidade 2 • A inter-relação entre as políticas educacionais e o currículo escolar50/202 dáticos adequados às condições da escola e da comunidade em que a unidade educa- cional esteja inserida (BRASIL, 2013). É obrigatória a gestão democrática no ensi- no público e prevista nos escritos legislati- vos que em todas as instituições de ensino tenha essa configuração, o que implica de- cisões coletivas que pressupõem a partici- pação da comunidade escolar na gestão da escola e a observância dos princípios e fina- lidades da educação. Outro item é a avaliação institucional in- terna, que deve ser prevista no projeto político-pedagógico e detalhada no plano de gestão, realizada anualmente, levan- do em consideração as orientações conti- das na regulamentação vigente, para rever o conjunto de objetivos e metas a serem concretizados, mediante ação dos diver- sos segmentos da comunidade educativa, o que pressupõe delimitação de indicadores compatíveis com a missão da escola, além de clareza quanto ao que seja qualidade so- cial da aprendizagem e da escola (BRASIL, 2013). Unidade 2 • A inter-relação entre as políticas educacionais e o currículo escolar51/202 Glossário Políticas públicas: conjunto de ações e decisões do governo, voltadas para a solução de pro- blemas encontrados na sociedade. Globalização: refere-se à uniformização e à homogeneização cultural, sobretudo aquelas efe- tuadas por meio da mídia televisão, cinema, música, jornais e revistas. Nessa perspectiva, a globalização tenderia a apagar ou a diminuir a diversidade cultural em favor da difusão de uma cultura global que reflete, sobretudo os gostos, os valores e as características culturais da cul- tura de massa dos países centrais do capitalismo. Sociopolíticas: relativas simultaneamente a questões sociais e políticas. Questão reflexão ? para 52/202 Com o panorama exposto no texto, considere importan- te realizar uma tarefa que comtemple a seguinte ques- tão: na função de gestor, quais métodos você utilizaria para colher as informações econômicas e sociopolíticas da comunidade? 53/202 Considerações Finais (1/2) • O Brasil vem implementando, desde os anos 1990, algumas políti- cas educacionais. Esse processo impacta direta ou indiretamente nos ajustes econômicos e sociais, transformando a educação em artefato voltado estritamente para o mundo do trabalho e propondo quase sempre uma educação com viés técnico; • Quatro níveis de organização relacionados com os eixos foram impo- tentes para realizar uma avaliação crítica da política pública sobre o programa Acorda Brasil: Hora da Escola; • Na trajetória de gestões, as intervenções no campo educacional so- freram alterações na democratização do acesso e garantia da per- manência; qualidade social da educação; instauração do regime de colaboração e da democratização da gestão. Esses foram os pilares estruturantes para uma educação de qualidade social; 54/202 • A organização das políticas públicas e sua interface com o currículo escolar possui um contexto que deve ser mapeado e inserido no PPP e no regimento escolar, as características da região. Essa é a autonomia que a escola tem para implementar as práticas de ensino organizadas pelo gestores e professores com olhar para uma aprendizagem signi- ficativa. Considerações Finais (2/2) Unidade 2 • A inter-relação entre as políticas educacionais e o currículo escolar55/202 Referências BRASIL. Lei 9394 – 24 de dezembro de 1996. Lei de diretrizes e bases da educação nacional. Brasília: Ministério da Educação, 1996. BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação Básica/ Ministério da Educa- ção. Secretária de Educação Básica. Diretoria de Currículos e Educação Integral. Brasília: MEC, SEB, DICEI, 2013. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: introdução aos parâmetros curriculares nacionais / Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1997. LIBANÊO, José. C.; OLIVEIRA. João F.; TOSCHI, Mirza. S. Educação Escolar: Políticas, estrutura e organização. São Paulo: Cortez, 2012. 56/202 Assista a suas aulas Aula 2 - Tema: A inter-relação entre as políticas educacionais e o currículo escolar. Bloco I Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ 669f9d6ca41f2629e110bff08184e16d>. Aula 2 - Tema: A inter-relação entre as políticas educacionais e o currículo escolar. Bloco II Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ ea8bf1b29bbaf613b6088865907d22c9>. http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/669f9d6ca41f2629e110bff08184e16d http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/669f9d6ca41f2629e110bff08184e16d http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/669f9d6ca41f2629e110bff08184e16d http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ea8bf1b29bbaf613b6088865907d22c9 http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ea8bf1b29bbaf613b6088865907d22c9 http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ea8bf1b29bbaf613b6088865907d22c9 57/202 1. A estrutura e a organização do sistema de ensino no Brasil da década de 1990 foram feitas com base em pares conceituais em prol de demandas: a) econômicas, políticas, sociais e educacionais; b) sociais e educacionais, econômicas, políticas; c) políticas, sociais e educacionais, econômicas; d) econômicas, políticas, educacionais e sociais; e) econômicas, sociais e educacionais, políticas. Questão 1 58/202 2. A escola precisa acolher diferentes saberes, manifestações culturais e óti- cas, além de empenhar-se para se constituir, ao mesmo tempo, em um es- paço de: Questão 2 a) heterogeneidade e pluralidade, situada na homogeneidade; b) heterogeneidade e pluralidade, situada na heterogeneidade; c) heterogeneidade e pluralidade, situada na pluralidade; d) heterogeneidade e pluralidade, situada na homeostase; e) heterogeneidade e pluralidade, situada na diversidade. 59/202 3. É obrigatória a gestão democrática no ensino público e prevista, em geral, para todas as instituições de ensino, o que implica decisões coletivas que: Questão 3 a) pressupõem a participação da comunidade escolar na organização da escola e a observân- cia dos princípios e finalidades da educação; b) pressupõem a participação da comunidade escolar na estruturação da escola e a observân- cia dos princípios e finalidades da educação; c) pressupõem a participação da comunidade escolar na gestão da escola e a observância dos princípios e finalidades da educação; d) pressupõem a participação da comunidade escolar na vivência cotidiana da escola e a ob- servância dos princípios e finalidades da educação; e) pressupõem a participação da comunidade escolar na conservação da escola e a observân- cia dos princípios e finalidades da educação. 60/202 4. A gestão escolar deve promover o “encontro pedagogicamente pensado e organizado de gerações, e idades diferentes” inscritos numcontexto diverso e plural, mas que se pretende: Questão 4 a) singularidade própria e acabada; b) singularidade própria e alterada; c) singularidade própria e inalterada; d) singularidade própria e inacabada; e) singularidade própria e fechada. 61/202 5. Na instituição escolar, a gestão democrática é aquela que tem, nas instân- cias colegiadas, o espaço em que são tomadas as decisões que orientam o conjunto das atividades escolares e: Questão 5 a) aprovam o projeto político-pedagógico, o regimento escolar, os planos dos professores (pe- dagógicos e administrativos) e as regras de convivência; b) aprovam o projeto político-pedagógico, o regimento escolar, os planos da escola (pedagógi- cos e administrativos) e as regras de convivência; c) aprovam o projeto político-pedagógico, o regimento escolar, os planos dos gestores (peda- gógicos e administrativos) e as regras de convivência; d) aprovam o projeto político-pedagógico, o regimento escolar, os planos dos alunos (pedagó- gicos e administrativos) e as regras de convivência; e) aprovam o projeto político-pedagógico, o regimento escolar, os planos do pessoal de apoio técnico e ADM (pedagógicos e administrativos) e as regras de convivência: 62/202 Gabarito 1. Resposta: A. A cronologia tencionou a implantação das políticas nas sobre a luz das três questões consecutivamente. 2. Resposta: E. São elementos cruciais para construir uma escola que privilegie as múltiplas vozes da comunidade escolar. 3. Resposta: C. Esse princípio é fundamental uma vez que a comunidade participa das principais deci- sões dentro do grupo colegiado. 4. Resposta: D. A escola possui uma singularidade que deve ser orientada pelo PPP e Inacabada, uma vez que esse pode ser revisitado e alterado constantemente. 5. Resposta: B. Esses são elementos primordiais para que a comunidade tome ciência. 63/202 Unidade 3 Contextualização das dimensões de um novo paradigma curricular: aspectos políticos, filosófi- cos, culturais e sociais Objetivos 1. Entender o contexto de uma educa- ção conservadora. 2. Refletir sobre novas formas conceitu- ais de conceber o currículo e sua ges- tão. 3. Propor uma gestão multicultural na educação. Unidade 3 • Contextualização das dimensões de um novo paradigma curricular: aspectos políticos, filosóficos, culturais e sociais64/202 Introdução Esse texto se propõe a discutir as dicoto- mias1 e suas repercussões no campo edu- cacional, sobretudo no currículo da edu- cação brasileira, tendo em vista um novo paradigma para o século XXI. Para isso, esse processo de reflexão implica entender a in- tensificação da demanda de homogeneiza- ção cultural no globo terrestre, que levou a posições antagônicas as relações multi- culturais. Contudo, é inegável que a reação imposta pelos grupos detentores de poder hegemônico ou que querem manter o sta- tus quo2 cresce com a vontade de uma não transformação do cenário conservador. Por outro lado, ganha corpo a articulação de di- 1 Dicotomia: é a divisão de um elemento em duas partes, em geral contrária. 2 Status Quo : Significa estado atual, e é um termo em latim. O status quo está relacionado ao estado de fatos, situações e coisas, independente do momento. ferentes movimentos de afirmação do direi- to à diferença e o fortalecimento de grupos marginalizados social e culturalmente que transitam em diversas esferas da sociedade (SANTOS; LOPES 2012). Esse quadro delineado para a educação confere múltiplos desafios, pois a grande complexidade das questões dessa área re- vela-se concretamente, quando determi- nadas posições e práticas escolares são vol- tadas para a preservação de valores univer- sais ou para a defesa do direito à diferença, apresentando resultados opostos e causan- do um desequilíbrio ou o dissenso. Segundo Moreira e Candau (2008), para examinarmos possíveis respostas a tais questões, é necessário esclarecer o que se entende pela palavra currículo, uma vez que Unidade 3 • Contextualização das dimensões de um novo paradigma curricular: aspectos políticos, filosóficos, culturais e sociais65/202 o eixo em questão se torna palco principal no que se refere ao ensino e aprendizagem dos alunos. Por mais que essa palavra tenha se tornado tão familiar a todos que traba- lham nas escolas e nos sistemas educacio- nais, é sempre importante contextualizá- -la. Por causa dessa familiaridade, à palavra currículo associam-se distintas concepções, que derivam dos diversos modos de como a educação é concebida historicamente, bem como das influências teóricas que a afetam e se fazem hegemônicas em um dado mo- mento. Diferentes fatores socioeconômicos, políti- cos e culturais contribuem, assim, para que currículo venha a ser entendido, como: (a) os conteúdos a serem ensinados e apren- didos; (b) as experiências de aprendizagem escolares a serem vividas pelos alunos; (c) os planos pedagógicos elaborados por profes- sores, escolas e sistemas educacionais; (d) os objetivos a serem alcançados por meio do processo de ensino; (e) os processos de avaliação que terminam por influir nos con- teúdos e nos procedimentos selecionados nos diferentes graus da escolarização. Diferente dos aspectos acima mencionados, o entendimento de currículo nessa produ- ção é: experiências escolares que se desdo- bram em torno do conhecimento, em meio a relações sociais, e que contribuem para a construção das identidades de nossos/as estudantes; logo, o currículo associa-se, as- sim, ao conjunto de esforços pedagógicos desenvolvidos com intenções educativas. Por esse motivo, a palavra tem sido usa- Unidade 3 • Contextualização das dimensões de um novo paradigma curricular: aspectos políticos, filosóficos, culturais e sociais66/202 da para todo e qualquer espaço organiza- do para educar pessoas. Contudo, o termo cunhado nesse texto é apenas para nos re- ferirmos às atividades organizadas por ins- tituições escolares. De certo, pensar em currículo é pensar em concepções ideológicas no contexto esco- lar. Nesse texto, iremos descrever três teo- rias de currículo: a primeira é vista como um processo de racionalização de resultados educacionais, cuidadosa e rigorosamente especificadas e medidas no modelo institu- cional, tendo sua centralidade a concepção de currículo pensado no modelo da fábrica. Sua inspiração “teórica” é a “administração científica”, de Taylor. Nesse modelo, os es- tudantes devem ser processados como um produto fabril. Nesse caso, o currículo é su- postamente isso: a especificação precisa de objetivos, procedimentos e métodos para a obtenção de resultados que possam ser precisamente mensurados. Na escola, esses conceitos aparecem na ideologia das teo- rias tradicionais que têm como categorias: ensino, aprendizagem, avaliação, metodo- logia, didática, organização, planejamento, eficiência e objetivos. Pode-se pensar que essas concepções dia- logam com algumas das ideias elencadas por Moreira e Candau (2008); logo, Silva (2013) traduz que essas categorias estão disseminando um currículo tradicional que tem como centralidade a filosofia moderna. Esse paradigma começa a sofrer alterações quando há uma crítica contundente ao pro- cesso sobre como o modelo tradicional é Unidade 3 • Contextualização das dimensões de um novo paradigma curricular: aspectos políticos, filosóficos, culturais e sociais67/202 pensado. As teorias críticas ganham força no meio acadêmico e, em contraste, come- çam por colocar em xeque os pressupostos dos presentes arranjos sociais e educacio- nais que estão sobre os holofotes das te- orias tradicionais. As teorias críticas des- confiam do status quo, responsabilizando- -o pelas desigualdades e injustiças sociais (SILVA, 2013). As teorias tradicionais são teorias de acei- tação, ajuste e adaptação aos modelos im- postos pela economia, política e cultura, segundo o autor. Sendo assim, as teorias críticas têm a desconfiança sobre a ordem social liberal3 imposta pela tradição. 3 Liberalismo:doutrina baseada na defesa da liberdade indi- vidual, nos campos econômico, político, religioso e intelectual, contra as ingerências e atitudes coercitivas do poder estatal. Para as teorias críticas, o importante não é desenvolver técnicas de como fazer o cur- rículo, mas desenvolver conceitos que nos permitam compreender o que o currículo faz ideologicamente na formação dos alu- nos. As categorias que discorrem sobre as teorias críticas são: ideologia; reprodução cultural e social; poder; classe social; capi- talismo; emancipação e libertação; resis- tência. 1. Novo Paradigma para a Edu- cação. Para Neira e Nunes (2009), um novo para- digma está sendo construído nas escolas, o currículo pós-crítico, que, segundo os au- tores, inclui novas temáticas e categorias Unidade 3 • Contextualização das dimensões de um novo paradigma curricular: aspectos políticos, filosóficos, culturais e sociais68/202 para maior compreensão das relações entre poder e identidade social, entre a escola e a sociedade pós-moderna. Nesse sentido, a teorização pós-crítica incorpora como ca- tegoria o multiculturalismo crítico, os es- tudos feministas, a teoria queer, os estudos étnicos e raciais, os pós-modernistas, os pós-estruturalistas, os estudos culturais, os pós-colonialistas, os ecológicos, a filosofia da diferença, a filosofia intercultural, a vi- são de pedagogia como cultura e da cultura como pedagogia. Cabe registrar, segundo os autores, que as teorias pós-críticas da educação consti- tuem sistemas abertos, compostos por li- nhas variadas que, além de tomar empres- tados argumentos de diferentes enfoques, como, por exemplo, das teorias críticas, criam outros campos de enfoques. O currí- culo pós-crítico, tendo essas especificida- des, jamais poderá ser predefinido como os demais; ele não é linear, muito menos pres- critivo. Reinventa-se em uma escrita cons- tante, consistindo em uma multiplicidade que contém várias formas de conceber o currículo escolar. As teorias pós-críticas realizam, no campo educacional brasileiro, substituições, rup- turas e mudanças de ênfases com relação às teorias críticas. Suas produções e invenções têm elaborado e proposto práticas educa- cionais, currículos e pedagogias que apon- tam para a diferença, a abertura, a trans- gressão, a subversão, a multiplicação de sentidos dentro de um sistema muitas vezes ainda tradicional. A teorização pós-crítica Unidade 3 • Contextualização das dimensões de um novo paradigma curricular: aspectos políticos, filosóficos, culturais e sociais69/202 desestabiliza os especialistas da educação e abre espaços para que todos os professores gestores e alunos se tornem curriculistas (NEIRA; NUNES, 2009). O currículo, nessa perspectiva, constitui um dispositivo em que se concentram as rela- ções entre a sociedade e a escola, entre os saberes e as práticas socialmente constru- ídos e os conhecimentos escolares. Pode- mos dizer que os primeiros constituem as origens dos segundos. Em outras palavras, os conhecimentos escolares provêm de sa- beres e conhecimentos socialmente produ- zidos nos chamados “âmbitos de referência dos currículos”. Que são esses âmbitos de referência? Podemos considerá-los como correspondendo: (a) às instituições produ- toras do conhecimento científico (universi- dades e centros de pesquisa); (b) ao mun- do do trabalho; (c) aos desenvolvimentos tecnológicos; (d) às atividades desportivas e corporais; (e) à produção artística; (f) ao campo da saúde; (g) às formas diversas de exercício da cidadania; (h) aos movimentos sociais (MOREIRA; CANDAU, 2008). Para isso, esclarecemos que os aspectos po- líticos estão caudados em uma política de identidade, que consiste em um conjunto de atividades políticas centrada em torno na reivindicação de reconhecimento na identi- dade de grupos considerados subordinados relativamente às identidades hegemônicas (SILVA, 2000). Unidade 3 • Contextualização das dimensões de um novo paradigma curricular: aspectos políticos, filosóficos, culturais e sociais70/202 A nova problemática, fruto das transformações sociais e das mudanças demográficas e culturais relatadas ao longo destas páginas, gerou outra tensão social: a equalização entre uma política de igualdade e uma política de diferença. Desencadearam-se diversas lutas sociais, embora indepen- dentes, assentadas nos mesmos pressupostos: o direito à igualdade e o direito à diferença. Trata-se de um agenciamento político que reconheça não só a necessidade da redistribuição social-econômica, como também o enfrentamento das diferenças culturais. As lutas travadas na seara das “po- líticas” devem partir do princípio de que todas as culturas se diferenciam internamente e, portanto, tão importante quanto reconhecer a diversidade entre as culturas é reconhecer a diversidade de cada cultura. Para além de identificá-la, há que se ter em conta a resistência, a diferença e a luta por visibilidade e reconhecimento que habitam o interior de um mesmo grupo cultural (NEIRA; NUNES, 2008, p. 209). Sendo a escola um espaço constituinte da teia social e um dos primeiros locais de contato e “conflito” entre os diferentes, segundo os autores, as lutas e os movimentos de resistência saltam Unidade 3 • Contextualização das dimensões de um novo paradigma curricular: aspectos políticos, filosóficos, culturais e sociais71/202 aos olhos até dos mais desatentos, o que in- viabiliza julgá-los irrelevantes ou dissimu- lar sua premência4. Quem é capaz de negar o aumento das fronteiras entre as diversas “tribos” que compõem as culturas juvenis ou entre elas e a cultura escolar? O confli- to entre funkeiros, pagodeiros, roqueiros ou sertanejos, evangélicos, clubbers, grafitei- ros, rappers, emos, skatistas e tantos outros se não surpreende mais, causa indignação e insegurança aos olhos de certa ótica con- servadora. Porém, ora se agregam, ora se opõem, fato que enuncia a problemática dos confrontos identitários na escola que atualmente se nomeia multicultural. Ainda no terreno es- colar, o mesmo se pode dizer dos embates 4 Premência: que aperta; que faz compressão que, por vezes, emergem nas salas de aula em razão da diversidade étnica, dos locais de origem das famílias, das crenças pelas quais se norteiam alunos e professores, dos diferentes projetos de futuro, das ocupa- ções profissionais dos pais, das preferências pelas vestimentas etc. Apelidos depreciativos que aludem5 às ca- racterísticas étnicas, docentes que exter- nam valores religiosos, jovens que usam piercings, bonés, camisetas curtas, ber- mudas arriadas, coturnos, aparelhos ele- trônicos etc. constituem-se em textos que afirmam identidades e diferenças. Por essa razão, o currículo pós-crítico incorpora o multiculturalismo e abrange a natureza das 5 Alusão: ato ou efeito de aludir, de fazer rápida menção a al- guém ou algo. Unidade 3 • Contextualização das dimensões de um novo paradigma curricular: aspectos políticos, filosóficos, culturais e sociais72/202 respostas provenientes do contato entre a diversidade cultural presente na instituição educativa e nas ações pedagógicas, e entre as teorias que sustentam as práticas esco- lares e as políticas públicas que determinam o funcionamento do ensino. Na escola democrática desses tempos, uma educação orienta pelo viés multicultural implica a assunção de um posicionamen- to claro a favor da luta contra a opressão, o preconceito e a discriminação aos quais foram submetidos alguns grupos histori- camente desprovidos de poder, sem que se perca de vista a perene composição de no- vos grupos culturais. 2. Novos Caminhos Curricula- res. Para elaborar novos aspectos políticos, fi- losóficos, culturais e sociais, é necessário elaborar currículos culturalmente orienta- dos que demandam uma nova postura por parte da comunidade escolar, em relação à abertura das distintas manifestações cul- turais dentro das escolas. Para isso, faz-se indispensável superar
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