Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
IDENTIFICAÇÃO DE MELHORIAS NO CONTROLE DA QUALIDADE PARA OBTENÇÃO DA CONFORMIDADE EM OBRAS DE EDIFICAÇÕES Rodrigo Figueiredo Garcia Rio de Janeiro Setembro, 2017 IDENTIFICAÇÃO DE MELHORIAS NO CONTROLE DA QUALIDADE PARA OBTENÇÃO DA CONFORMIDADE EM OBRAS DE EDIFICAÇÕES Rodrigo Figueiredo Garcia Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia Civil da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientador: Jorge dos Santos Rio de Janeiro Setembro, 2017 iii IDENTIFICAÇÃO DE MELHORIAS NO CONTROLE DA QUALIDADE PARA OBTENÇÃO DA CONFORMIDADE EM OBRAS DE EDIFICAÇÕES Rodrigo Figueiredo Garcia PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE ENGENHARIA CIVIL DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO CIVIL. Examinada por: __________________________________________________ Prof. Jorge dos Santos, D. Sc. __________________________________________________ Prof. Isabeth Mello, M.SC __________________________________________________ Prof. Guilherme Cardoso Salles, M.SC __________________________________________________ Prof. Wilson Wanderley da Silva RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL SETEMBRO DE 2017 iv Garcia, Rodrigo Figueiredo Identificação de melhorias no controle da qualidade para obtenção da conformidade em obras de edificações/ Rodrigo Figueiredo Garcia. – Rio de Janeiro: UFRJ/ Escola Politécnica, 2017. XII, 93 p.: il.; 29,7 cm. Orientadores: Jorge dos Santos Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/ Curso de Engenharia Civil, 2017. Referências Bibliográficas: p. 89-93. 1. Controle da qualidade. 2. Conformidade. 3. Obras de Edificações. I. Santos, J.II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Curso de Engenharia Civil. III. Identificação de melhorias no controle da qualidade para obtenção da conformidade em obras de edificações. v AGRADECIMENTOS Primeiramente a Deus que me protege, ilumina, me deu minha vida, família, saúde e tudo mais que tenho. Agradeço a minha família, em especial meus pais Roberto e Lúcia, por todo o apoio, paciência, torcida, e amor durante toda minha vida. Ao meu irmão Rafael pela amizade e companheirismo. Sou extremamente grato a vocês, após as dezenas de mudanças de cidades e estados sempre estivemos juntos e vocês seguem sendo a base de tudo. A minha linda namorada Marcele Cunha, por todo o carinho, compreensão e conselhos. Por todos os momentos ao meu lado, sempre apoiando e fazendo o possível e o impossível para me ajudar. A todos os amigos desses longos anos de faculdade, desde os primeiros semestres na UnB aos últimos na UFRJ. Manhãs, tarde e noites, estudando, ensinando, aprendendo, ajudando, sem eles seria impossível concluir esse curso, muito obrigado! Por fim, agradeço ao meu orientador Prof. Jorge Santos pela paciência, flexibilidade, disponibilidade e apoio na elaboração deste trabalho, desde a escolha do tema aos ajustes finais, sem ele seria impossível a conclusão deste trabalho. vi Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/UFRJ como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Civil. IDENTIFICAÇÃO DE MELHORIAS NO CONTROLE DA QUALIDADE PARA OBTENÇÃO DA CONFORMIDADE EM OBRAS DE EDIFICAÇÕES Rodrigo Figueiredo Garcia SETEMBRO/2017 Orientador: Prof. Jorge dos Santos Curso: Engenharia Civil Os problemas relacionados à qualidade e produtividade no setor de construção civil no Brasil são, cada vez mais, alvos de pesquisas e discussões, gerando uma tendência ao crescimento de métodos de avaliação e acompanhamento de problemas relacionados à não-conformidade dos produtos e serviços neste setor. Com foco na melhoria dos processos de produção, algumas ferramentas foram desenvolvidas e adaptadas à construção civil. A partir disso, surgiu a necessidade de realizar uma pesquisa sobre as formas de controle da qualidade que são utilizados pelo setor de construção. De forma que a indústria da construção civil pudesse rastrear e eliminar os problemas relacionados à baixa de qualidade e produtividade relacionadas ao setor. A presente monografia buscou embasamento bibliográfico para realizar uma pesquisa junto a uma construtora com certificado emitido pelo SiAC/PBQP-H, a fim de compreender como o controle da qualidade auxilia na obtenção da conformidade em edificações Palavras-chave: Conformidade em Edificações, Controle da Qualidade, Melhorias, vii Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of the requirements for the degree of Engineer. IDENTIFICATION OF IMPROVEMENTS IN QUALITY CONTROL TO OBTAIN CONFORMITY IN BUILDING WORKS Rodrigo Figueiredo Garcia SEPTEMBER/2017 Advisor: Jorge dos Santos Course: Civil Engineering Problems related to quality and productivity in the construction industry in Brazil are increasingly being the subject of research and discussions, generating a trend towards the growth of methods of evaluation and follow-up of problems related to non- conformity of products and services in this sector. Focusing on the improvement of the production processes, civil construction developed and adapted some tools. From this came the need to research on forms of quality control that are being used by construction industry uses. So that the construction industry could track and eliminate the problems related to the low quality and productivity related to the sector. The present monograph sought a bibliographic basis to carry out a research with a construction company with certificate of conformity in order to understand how the quality control assists in obtaining conformity in buildings Keywords: Conformity in Buildings, Quality Control, Improvements. viii Sumário 1 INTRODUCÃO ................................................................................................................................................ 1 1.1 IMPORTÂNCIA E JUSTIFICATIVA DO TEMA .................................................................................................................. 1 1.2 OBJETIVOS ........................................................................................................................................................................ 1 1.3 METODOLOGIA ................................................................................................................................................................ 2 1.4 ESTRUTURA DA MONOGRAFIA ...................................................................................................................................... 2 2 NÃO CONFORMIDADE EM OBRAS DE EDIFICAÇÕES ........................................................................ 4 2.1 CONCEITUAÇÃO ............................................................................................................................................................... 4 2.2 FALHAS GERADAS EM DIFERENTES ETAPAS DA OBRA ............................................................................................ 10 2.2.1 Aspectos Gerais ............................................................................................................................................. 10 2.2.2 Concepção (planejamento/ projeto/ materiais) ............................................................................. 14 2.2.3 Execução ......................................................................................................................................................... 16 2.2.3.1 Fundações ................................................................................................................................................................16 2.2.3.2 Estrutura .................................................................................................................................................................. 18 2.2.3.3 Vedações .................................................................................................................................................................. 19 2.2.3.4 Instalações hidrossanitárias ........................................................................................................................... 21 2.2.3.5 Instalações elétricas ........................................................................................................................................... 22 2.2.3.6 Acabamentos .......................................................................................................................................................... 23 2.2.3.7 Impermeabilização .............................................................................................................................................. 26 2.2.4 Utilização ........................................................................................................................................................ 27 2.3 CUSTOS DAS NÃO CONFORMIDADES .......................................................................................................................... 29 2.4 NÃO CONFORMIDADES DEVIDO À NBR 15575:2013.......................................................................................... 34 3 CONTROLE DA QUALIDADE EM OBRAS DE EDIFICAÇÕES ........................................................... 36 3.1 DEFINIÇÕES .................................................................................................................................................................. 36 3.2 ASPECTOS HISTÓRICOS ............................................................................................................................................... 37 3.3 O PROCESSO COMO PONTO DE PARTIDA ................................................................................................................... 39 3.3.1 Conceito de processo .................................................................................................................................. 39 3.3.2 Como desenhar o processo ....................................................................................................................... 40 3.3.3 Identificação de pontos críticos nas atividades para ação do controle da qualidade ..... 41 3.4 O CONTROLE DA QUALIDADE NA EXECUÇÃO DE EDIFICAÇÕES .............................................................................. 43 3.4.1 Tipos de controle em diferentes etapas .............................................................................................. 43 3.4.2 Equipamentos utilizados no controle da qualidade ...................................................................... 45 3.5 O CONTROLE DA QUALIDADE NA VISÃO DO SIAC/PBQP-H ................................................................ 45 3.5.1 Planejamento da Obra ............................................................................................................................... 46 3.5.2 Projeto ............................................................................................................................................................. 48 3.5.3 Aquisição ......................................................................................................................................................... 49 3.5.4 Operações de produção e fornecimento de serviço ........................................................................ 51 3.5.5 Controle de dispositivos de medição e monitoramento ................................................................ 52 3.5.6 Medição, análise e melhoria .................................................................................................................... 53 3.5.7 Medição e monitoramento de processo .............................................................................................. 53 3.5.8 Inspeção e monitoramento de materiais e serviços de execução controlados e da obra 54 4 MÉTODOS DE REALIZAÇÃO DO CONTROLE DA QUALIDADE DE OBRAS DE EDIFICAÇÕES 56 4.1 ASPECTOS GERAIS ........................................................................................................................................................ 56 4.2 FERRAMENTAS DE CONTROLE DA QUALIDADE ....................................................................................................... 57 4.2.1 PDCA ................................................................................................................................................................. 57 4.2.2 Procedimentos de execução de serviços ............................................................................................. 58 4.2.3 Folha de Verificação ................................................................................................................................... 61 4.2.3.1 Ficha de verificação de materiais ................................................................................................................. 62 4.2.3.2 Ficha de verificação de serviços ................................................................................................................... 65 4.2.4 Diagrama de Causa e Efeito .................................................................................................................... 67 4.2.5 5W e 1H ........................................................................................................................................................... 69 4.2.6 Diagrama de Pareto ................................................................................................................................... 70 4.3 EQUIPAMENTOS UTILIZADOS ..................................................................................................................................... 72 ix 5 PESQUISA DE CAMPO: MELHORIAS NO CONTROLE DA QUALIDADE ...................................... 73 5.1 METODOLOGIA ............................................................................................................................................................. 73 5.1.1 Características da pesquisa ..................................................................................................................... 73 5.1.2 Instrumento de pesquisa .......................................................................................................................... 73 5.1.3 Definição dos entrevistados ..................................................................................................................... 73 5.2 CARACTERIZAÇÃO DA EMPRESA ................................................................................................................................ 74 5.3 QUESTIONÁRIO ............................................................................................................................................................. 75 5.4 DESCRIÇÃO DAS INFORMAÇÕES OBTIDAS ................................................................................................................. 76 5.4.1 Generalidades da obra .............................................................................................................................. 76 5.4.2 Controle da qualidade na aquisição de materiais .......................................................................... 77 5.4.3 Controle da qualidade da execução de serviços .............................................................................. 77 5.4.4 Registro e controle das não conformidades ...................................................................................... 81 5.4.5 Comprometimento da mão de obra com a qualidade ...................................................................82 5.4.6 Influência do controle da qualidade na produtividade ................................................................ 82 5.4.7 Demais avaliações e controles ................................................................................................................ 83 5.5 SUGESTÕES DE MELHORIAS PARA OS MÉTODOS DE CONTROLE DA QUALIDADE ................................................. 83 5.5.1 Melhorias no controle da qualidade na aquisição ......................................................................... 83 5.5.2 Melhorias no controle da qualidade da execução de serviços ................................................... 84 5.6 MELHORIAS GERAIS NO CONTROLE DE QUALIDADE DA OBRA ............................................................................... 85 5.6.1 Verificação eletrônica de serviços......................................................................................................... 86 5.6.1.1 Características ....................................................................................................................................................... 86 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................................................... 87 6.1 CONCLUSÕES ................................................................................................................................................................. 87 6.2 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS.................................................................................................................. 88 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................................................... 89 x 1 LISTA DE FIGURAS Figura 1: Gráfico que relaciona as principais causas de patologias. .............................. 13 Figura 2: Percentual de ocorrência de não conformidades. ............................................ 20 Figura 3: Tipos de fissuras.............................................................................................. 21 Figura 4 Patologias nas Instalações Hidrossanitárias. .................................................... 22 Figura 5: Gráfico das solicitações. Jan2005/Mai2008.................................................... 32 Figura 6- Fluxograma das possibilidades de controle .................................................... 43 Figura 7- Procedimento executivo de serviço de azulejo. .............................................. 61 Figura 8- Ficha verificação de recebimento de azulejos ................................................ 64 Figura 9- FVS de alvenaria estrutural ............................................................................ 66 Figura 10 – Modelo de Diagrama de Ishikawa............................................................... 68 Figura 11 – Gráfico de Pareto por itens defeituosos. ..................................................... 71 Figura 12- PES Impermeabilização ................................................................................ 79 Figura 13- FVS parte 1. .................................................................................................. 80 Figura 14- FVS parte 2. .................................................................................................. 80 xi 2 LISTA DE TABELAS Tabela 1- VUP. ................................................................................................................. 8 Tabela 2- VUP em diferentes partes da edificação........................................................... 9 Tabela 3- Tipos de erros que afetam a qualidade na construção civil. ........................... 11 Tabela 4 -Análise percentual de problemas patológicos ................................................ 12 Tabela 5: Solicitação por causa- jan2005/mai2008 ........................................................ 31 Tabela 6: Custo por causa- jan2005/mai2008. ............................................................... 33 Tabela 7- Requisitos do Sistema de Gestão da Qualidade ............................................. 46 Tabela 8- Definição dos serviços controlados. ............................................................... 55 xii 3 LISTA DE SIGLAS ABNT- Associação Brasileira de Normas Técnicas. CDC - Código de Defesa do Consumidor. CDHU - Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano. FVS - Ficha de Verificação de Serviço FVP - Ficha de Verificação de Produto PBQP-H - Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat. PES - Procedimento de Execução de Serviços PQO - Plano de Qualidade da Obra. PROCON - Órgão de Proteção e Defesa do Consumidor. QUALIHAB - Programa da Qualidade da Construção Habitacional do Estado de São Paulo. SiAC - Sistema de Avaliação da Conformidade de Empresas de Serviços e Obras da Construção Civil. VES – Verificação Eletrônica de Serviços VUP- Vida Útil de Projeto. 1 1 INTRODUCÃO 1.1 Importância e Justificativa do Tema O aquecimento do mercado imobiliário ocorrido no Rio de Janeiro nos anos 2000 a 2012 trouxe às empresas da construção civil uma preocupação maior no que diz respeito à diferenciação de seus produtos. Mesmo com o grande período recessivo iniciado Brasil em 2013, as exigências do mercado ficaram ainda maiores uma vez que a grande oferta contrastava coma pequena demanda. Os problemas relacionados à qualidade e produtividade no setor de construção civil no Brasil são, cada vez mais, alvos de pesquisas e discussões, gerando uma tendência ao crescimento de métodos de avaliação e acompanhamento de problemas relacionados à não-conformidade dos produtos e serviços neste setor. Com foco na melhoria dos processos de produção, algumas ferramentas foram desenvolvidas e adaptadas à construção civil. A partir disso surgiu a necessidade de realizar uma pesquisa sobre as formas de controle da qualidade que são utilizados pelo setor de construção. De forma que a indústria da construção civil pudesse rastrear e eliminar os problemas relacionados à baixa de qualidade e produtividade relacionadas ao setor. 1.2 Objetivos O presente trabalho tem como objetivo identificar as melhorias no controle da qualidade para obtenção da conformidade em obras de edificações. São muitos os métodos de controle que podem ser utilizados para garantir a qualidade em edificações, desde a fase de projetos à execução da obra. A revisão bibliográfica visa exemplificar não conformidades comuns e seus custos na obra, e propõe formas de reduzi-las. O foco na execução dos serviços se faz necessário, pois é a área que mais sofre com a falta de preparo da mão de obra. 2 1.3 Metodologia A metodologia aplicada foi desenvolvida a partir da revisão bibliográfica, com coleta de dados e busca por conceitos associados ao tema do trabalho e também estudo de caso de uma empresa construtora. Foram realizados levantamentos bibliográficos referentes aos temas de controle da qualidade e obtenção da conformidade na construção de edificações. Tais levantamentos se deram tanto em artigos científicos como em trabalhos acadêmicos e livros, possibilitando um desenvolvimento teórico do trabalho. Após uma fundamentação teórica com base nessas pesquisas, foi realizado um estudo de caso em uma empresa construtora, para a análise prática da situação em questão. 1.4 Estrutura da Monografia O presente trabalho contém a seguinte estrutura em forma de capítulos: O Capítulo 1 é onde está sendo apresentado o tema, o objetivo do trabalho, a justificativa para tal escolha, a metodologia adotada e a estruturação em capítulos; No Capítulo 2 apresenta-se o resultado do levantamento bibliográfico sobre o que são não conformidades em obras edificações, conceituando-as, etapas das obras que são mais recorrentes e as consequências advindas. Os custos das não conformidadese seu impacto na qualidade, produtividade e prazo das obras de edificações; No Capítulo 3 faz-se um levantamento bibliográfico e disserta-se sobre o controle da qualidade de obras de edificações seus aspectos históricos, como surgiu, sua evolução em obras de edificações legislação e normas técnicas relativas ao controle da qualidade, quando há obrigatoriedade e as etapas das obras de edificações para quais as construtoras fazem controle da qualidade, o que é controlado e a abrangência do controle. 3 O Capítulo 4 traz um levantamento bibliográfico sobre os diversos métodos de controle da qualidade usados por construtoras para as obras de edificações, abordando de forma detalhada alguns métodos disponíveis, as ferramentas usadas, e vantagens associadas; No Capítulo 5 apresenta-se a pesquisa junto à construtora e empresas terceirizadas relativas às melhorias nos processos de controle da qualidade de obras. Utiliza-se um questionário com base no que foi levantado na bibliografia, procurando. O público alvo da pesquisa foram gestores de obra, engenheiros civis, técnicos de edificações, mestres, inspetores, auditores de qualidade. Propõe-se sugestões de melhorias para os métodos de controle de qualidade com base na bibliografia estudada e na pesquisa de campo descrevendo as vantagens que poderão agregar a conformidade da obra de edificações; O Capítulo 6 apresenta as considerações finais e sugestões para trabalhos futuros. 4 2 NÃO CONFORMIDADE EM OBRAS DE EDIFICAÇÕES 2.1 Conceituação A NBR ISO 9000:2015 define não conformidade como “não atendimento a um requisito” (ABNT, 2015). No caso da construção civil os requisitos obrigatórios são declarados pela norma de referência Sistema de Avaliação da Conformidade de Empresas de Serviços e Obras da Construção Civil (SiAC) no âmbito do PBQP-H, que é baseado na NBR ISO 9001:2008 uma vez que o mesmo ainda não foi adequado a última versão que é de 2015. As definições de não conformidade maior e menor são apresentadas pelo SiAC (PBQP-H, 2017): [...] Não conformidade menor não afeta a capacidade do sistema de gestão de atingir os resultados pretendidos, porém não conformidades menores associadas ao mesmo requisito podem demonstrar uma falha sistêmica e constituir uma não conformidade maior. Não conformidade maior é aquela que afeta a capacidade do sistema de gestão de atingir os resultados pretendidos ou que pode gerar dúvida significativa de que há um controle efetivo de processo ou de que produtos ou serviços irão atender aos requisitos especificados. A ausência de um ou mais requisitos do sistema de gestão da qualidade, ou a falha em implementá-los e mantê-los, ou uma situação que vá, com base em evidência objetiva disponível, levantar dúvida significativa quanto à qualidade dos produtos ou serviços que a empresa oferece, impedindo a sua certificação é conhecido como não conformidade maior ou crítica (PBQP-H, 2017). Para Bernardes et al (1998) não conformidades são “defeitos que do ponto de vista do usuário final não atendem às características esperadas de desempenho das edificações” sendo desempenho definido pela NBR 15575-1 como “comportamento em uso de uma edificação e seus sistemas” a norma também define, entre outros, os critérios de desempenho que são “especificações quantitativas dos requisitos de 5 desempenho, expressos em termos de quantidades mensuráveis, a fim de que possam ser objetivamente determinados”. Ainda Bernardes et al (1998) ressalta que “as não conformidades estão diretamente ligadas à falta de qualidade no produto final, e suas origens, basicamente, relacionam-se às falhas organizacionais das empresas, tanto gerenciais como processuais”. Thomaz (2001) aponta que parte considerável desta má qualidade origina- se na “subestimação de ações, na incompatibilidade entre projetos, na especificação equivocada de materiais ou de processos, na inobservância de detalhes construtivos e no não atendimento de requisitos técnicos elementares”. Ainda segundo Thomaz (2001), a não qualidade verificada em obras de construção civil pode ser atribuída a “omissões, falhas de detalhamento ou estudo insuficiente das interferências entre projetos”. Maldaner (2003) diz que “A busca pela melhoria de qualidade no setor da construção civil atualmente é uma constante e não qualidade ganhou o sinônimo de não conformidade que merece estudo mais aprofundado na bibliografia em função da importância e atualidade do tema para o setor. As não conformidades estão associadas ao não atendimento de um produto ou serviço às especificações, podendo ocorrer de forma intencional ou não (THOMAZ, 2001). Segundo Bernardes et al (1998), “a ocorrência das não conformidades estão diretamente ligadas à falta de qualidade no produto final”, e para os clientes a construção civil apresenta seis dimensões que são básicas para a definição de qualidade: a) Desempenho: características operacionais primárias do produto, como impermeabilização, tubulações hidráulicas, etc; 6 b) Características: itens que complementam o funcionamento básico do produto, número de dormitórios, tipos de acabamentos, etc; c) Confiabilidade: a taxa de falhas por unidade de tempo é uma das medidas mais relevantes em bens duráveis; d) Conformidade: é o grau de igualdade entre o projeto e os padrões pré- estabelecidos com o produto final utilizado pelo usuário; e) Durabilidade: quanto a um produto ser usado antes de se deteriorar fisicamente; f) Assistência Técnica: rapidez, cortesia e competência no reparo. Para Bernardes et al (1998), se as empresas atenderem as seis dimensões básicas para se ter qualidade nos produtos do ponto de vista dos clientes, estarão criando condições para minimizar a ocorrência das não-conformidades. A norma de desempenho (ABNT, 2013) também apresenta o conceito de vida útil, que é importante para compreensão deste trabalho, como “período de tempo em que um edifício e/ou seus sistemas se prestam às atividades para as quais foram projetados e construídos considerando a periodicidade e a correta execução dos processos de manutenção especificados no respectivo Manual de Uso, Operação e Manutenção (a vida útil não pode ser confundida com prazo de garantia legal e certificada) ”. Souza e Ripper (1998) definem vida útil como o período no qual as propriedades permanecem em níveis superiores aos limites mínimos aceitáveis e, para a elaboração de programas de manutenção adequados, assim como orçamentos para a obra, é fundamental conhecer a curva de deterioração de cada material. Já Oliveira (2013), definiu o termo vida útil como o tempo em que a estrutura consegue conservar as mais diversas características aceitáveis de resistência, 7 funcionalidade e aspectos externos. Isso leva em conta o fato de que as estruturas citadas devem ser projetadas, construídas e operadas para que, sem necessitar de reparos imprevistos com custos indesejados, consigam manter sua aparência, funcionalidade e aspectos de segurança a níveis aceitáveis. Para Souza e Ripper (1998), o termo desempenho pode ser compreendido como o comportamento em serviço de determinado produto, ao longo de sua vida útil. Esse desempenho deverá ser representado e medido com o resultado do trabalho a ser desenvolvido nas diversas etapas de projeto, construção e manutenção. Por sua vez, Borges (2010), diz que o termo desempenho deve ser abordado de maneira que se pense primeiramente em termos de fins, ao invés de meios. Deve-se levar em conta os requisitos que a construção deverá atender, e não com a prescrição de como a mesma deve ser executada. A norma de desempenho também define durabilidade como capacidade da edificação ou de seus sistemas de desempenhar suas funções, ao longo do tempo e sob condições de uso e manutenção especificadas (ABNT, 2013). Durabilidade também pode ser definida comoo resultado da interação entre diversos elementos, como estrutura de concreto, ambiente e condições de uso, operação e manutenção. Ou seja, uma mesma estrutura pode apresentar comportamentos diversos nesse aspecto, pois depende de uma série de fatores (HELENE, 2001). A NBR 6118 (ABNT, 2014) diz que o termo durabilidade “consiste na capacidade de a estrutura resistir às influências ambientais previstas e definidas em conjunto pelo autor do projeto estrutural e o contratante, no início dos trabalhos de elaboração do projeto”. Na prática, todas as normas técnicas em vigência no Brasil são prescritas definindo caminhos de como executar determinado trabalho, não havendo a cobrança de 8 resultados. Porém, na abordagem de desempenho explicada no parágrafo anterior, deve- se partir do desempenho desejado de maneira global, ou seja, os fins. A NBR 15575-1 (ABNT, 2013) define ainda uma quantidade de anos para classificar a vida útil de projeto (VUP) entre mínima, intermediária, superior. A tabela 1 demonstra esses valores. Tabela 1- VUP. Fonte: ABNT (2013). A VUP não pode ser confundida com tempo de vida útil, durabilidade, prazo de garantia legal ou contratual. Segundo a NBR 15575-1 (ABNT, 2013) a VUP é o período estimado de tempo para o qual um sistema é projetado a fim de atender aos requisitos de desempenho estabelecidos nesta norma, considerando o atendimento aos requisitos das normas aplicáveis, o estágio do conhecimento no momento do projeto e supondo o atendimento da periodicidade e correta execução dos processos de manutenção especificados no respectivo Manual de Uso, Operação e Manutenção. A tabela 2 mostra a VUP das diferentes partes da edificação segundo a norma. 9 Tabela 2- VUP em diferentes partes da edificação. Fonte: ABNT (2013). É importante destacar também que não conformidades em obras de edificações podem ser entendidas como patologias. Patologia é definida pela norma de desempenho NBR 15575-1 como não conformidade que se manifesta no produto em função de falhas no projeto, na fabricação, na instalação, na execução, na montagem, no uso ou na manutenção bem como problemas que não decorram do envelhecimento natural (ABNT, 2013). 10 Segundo Andrade e Silva (2005), a patologia em uma estrutura é definida quando compromete alguma exigência da construção, seja de caráter funcional, mecânico ou estético. “Os problemas patológicos têm suas origens motivadas por falhas que ocorrem durante a realização de uma ou mais das atividades inerentes ao processo genérico a que se denomina de construção civil, processo este que pode ser dividido, em três etapas básicas: concepção (planejamento/ projeto/ materiais), execução e utilização” (SOUZA e RIPPER, 1998). A qualidade obtida em cada etapa é importante no resultado final do produto, na satisfação do usuário e no controle de manifestações patológicas nas edificações na fase de uso. Com um maior controle de qualidade nestas etapas do processo pode se obter a redução ou eliminação dos problemas patológicos futuros. 2.2 Falhas geradas em diferentes etapas da obra 2.2.1 Aspectos Gerais Couto e Couto (2007), divide o processo de construção em três etapas, sendo elas a concepção (cálculos, planejamento, desenhos, etc.), execução (realização de atividades respeitando o cronograma da obra) e utilização condizente com o que foi previamente projetado Embora separadas, deve-se entender que cada etapa citada anteriormente possui grande importância para que o produto final atenda a requisitos mínimos de qualidade e segurança, a fim de garantir a satisfação do cliente e minimizar a incidência de patologias, uma vez que, mesmo não sendo possível extingui-las, é possível controlá- las. (MACEDO, 2017) 11 Meseguer (1991) aponta na figura 1 os fatores que desencadeiam as falhas que resultam nas não conformidades relatadas na construção civil em três fatores. Tabela 3- Tipos de erros que afetam a qualidade na construção civil. Fonte: MESEGUER (1991). A tabela 3 demonstra que os fatores que levam à ocorrência de falhas na construção civil têm suas origens em quase todas as áreas da organização. Focando nos fatores técnicos Souza e Ripper (1998) diz que “o surgimento de problema patológico em dada estrutura indica, em última instância e de maneira geral, a existência de uma ou mais falhas durante a execução de uma das etapas da construção, além de apontar para falhas também no sistema de controle de qualidade próprio a uma ou mais atividades. ” 12 Tabela 4 -Análise percentual de problemas patológicos Fonte: SOUZA e RIPPER (1998). SOUZA e RIPPER (1998) observam que um aspecto curioso nesta questão tem sido a tentação de se procurar definir qual a atividade que tem sido responsável, ao longo dos tempos, pela maior quantidade de erros. A tabela 4 demonstra como é considerada extensa a lista de pesquisadores que têm procurado relacionar, percentualmente, as várias causas para a ocorrência de problemas patológicos. As conclusões, entretanto, nem sempre são concordantes, o que se justifica primeiramente porque os estudos foram realizados em diferentes continentes, e, em segunda instância, porque em alguns casos as causas são tantas que pode ter sido difícil definir a preponderante. 13 Nesse sentido, há diversos tipos de patologias que podem surgir em estruturas, com causas variadas e consequências prejudiciais ao comportamento da edificação. A Figura 1 apresenta gráfico relacionando patologias na estrutura de edificações com suas possíveis causas. Figura 1: Gráfico que relaciona as principais causas de patologias. Fonte: Adaptado de COUTO e COUTO (2007). No presente trabalho, as não-conformidades são consideradas como sinônimo de patologias, falhas, tanto internas como externas, e também são aprofundados conceitos referentes às falhas internas durante o processo produtivo. Vazquez e Santos (2010) desenvolveu estudo para selecionar as não conformidades de maiores ocorrências e custos. Através da utilização de um banco de dados de solicitações, causas e custos de manifestações patológicas ocorridas na etapa de pós-entrega de empreendimentos, comerciais e residenciais multifamiliares. A fim de realizar um levantamento das não conformidades, Bernardes et al (1998) analisou as edificações de algumas construtoras na cidade de São Paulo, sendo que esse estudo foi feito considerando os cinco primeiros anos de existência das edificações. 14 Neste item são abordadas as não conformidades identificadas por diversos autores que desenvolveram pesquisas sobre o tema. As não conformidades estão associadas as etapas executivas de uma edificação, a saber: concepção; execução e utilização 2.2.2 Concepção (planejamento/ projeto/ materiais) De acordo com Souza e Ripper (1998), várias são as falhas possíveis de ocorrer durante a etapa de concepção do empreendimento. Elas podem se originar durante o estudo preliminar (lançamento da estrutura), na execução do anteprojeto, ou durante a elaboração do projeto de execução, também chamado de projeto final de engenharia. Thomaz (2001) diz que falhas em projetos e na construção aparecem com muita frequência, sem que boa parte dos programas de qualidade exerça com eficácia sua principal função de prevenção. Constata-se que falhas originadas de um estudo preliminar deficiente são responsáveis, principalmente, pelo encarecimento do processo de construção, enquanto falhas geradas durante a realização do projeto final de engenharia são responsáveis por não conformidades e problemas patológicos como: Elementos de projeto inadequados; Falta de compatibilização entre a estrutura e a arquitetura, bem como os demais projetos civis; Especificação inadequada de materiais; Detalhamento insuficiente ou errado; Falta de padronização das representações. De acordo com Pichi (1993),no decorrer das etapas do processo da construção, a qualidade dos materiais utilizados, bem como sua conformidade com as especificações é um dos fatores que interferem na qualidade final do produto. Rocha (1997) afirma “os problemas patológicos nas edificações devidos à ausência de qualidade dos materiais e componentes, tais como a baixa durabilidade em relação à 15 especificada, a falta de rigor dimensional e baixa resistência mecânica são cada vez mais frequentes”. Fabricantes de materiais têm se mostrado bastante ativos buscando melhorar e lançar produtos inovadores no mercado, no entanto, a escolha destes materiais novos pode ser dificultada pela deficiência de informações técnicas para guiar e subsidiar a especificação e à ausência ou deficiência de normalização correlata (ROCHA 1997). Lungisansilu (2015) afirma que com a multiplicação de novos materiais no mercado, sem que sejam realizados devidamente testes para comprovar a conformidade com os requisitos e critérios de desempenho, a probabilidade de patologias é significativamente crescente estará submetido, a compatibilidade com os demais materiais em contato, bem como os custos de aplicação e de possíveis serviços de manutenção. O bom desempenho dos materiais utilizados na construção de edificações depende de um sistema de controle de qualidade que comtempla os processos de escolha, aquisição, recebimento e aplicação dos mesmos. Além desses fatores, é crucial avaliar as restrições e as exigências decorrentes das condições climáticas como as intempéries, o comportamento do material sob condições semelhantes à que que estará submetido, a compatibilidade com os demais materiais em contato, bem como os custos de aplicação e de possíveis serviços de manutenção. É de extrema necessidade exigir que os materiais entregues no canteiro de obra sejam de qualidade ou atendam aos requisitos de conformidade. Dessa forma, a qualidade na aquisição dos materiais de construção deve comportar os seguintes itens: a) Especificações técnicas para compra de produtos; b) Controle de recebimento dos materiais em obra; c) Orientações para o armazenamento e transporte dos materiais; 16 d) Seleção e avaliação de fornecedores de materiais e equipamentos. É sabido que, em uma obra de construção civil, quanto antes for diagnosticado um problema, melhor. Como numa fase de projeto, por exemplo, a fim de se evitar patologias de ordem estrutural. O custo envolvido numa recuperação da estrutura posterior ao término da construção é muito maior se comparado à alguma intervenção a nível de projeto ou execução inicial. Diante do total gasto para o erguimento de um empreendimento, os custos de projeto variam de 3% a 10% desse valor (DAL MOLIN, 1988). Erros de projeto causados por estudos geotécnicos subdimensionados tem um impacto enorme no projeto de fundações, segundo Do Carmo (2003) esses erros causados por interpretação equivocada de dados coletados e ensaios, avaliação incorreta de valores de esforços atuantes na estrutura, tensão admissível do solo inadequada podem manifestar três danos: Na arquitetura, que comprometem a estética da edificação. Danos funcionais, que comprometem diretamente o desempenho e funcionalidade da edificação, necessitando reforços e reparos para conter o avanço da patologia e até mesmo danos estruturais que afetam a vida útil, durabilidade e desempenho comprometendo os elementos estruturais da edificação e implicam na instabilidade da edificação, podendo levá-la ao colapso. 2.2.3 Execução 2.2.3.1 Fundações Segundo Schwirck (2005), dentre as falhas envolvendo a execução de fundações, pode-se citar o assentamento em solos de diferentes comportamentos dos previstos, reaterros mal executados, substituição do solo por material sem compactação adequada, sapatas executadas de maneira inadequada, dentre outras. 17 Falhas durante a execução podem causar um dos maiores problemas em fundações é o recalque diferencial, que segundo Verçoza (1991), é responsável por fissuras, rachaduras, trincas e outras patologias em edifícios. As não conformidades podem ser causadas por problemas estruturais, como a falta de qualidade do concreto ou a falta de adequação das dimensões e geometria das fundações. Thomaz (1989), em seu estudo sobre trincas em edifícios, cita que os solos são constituídos por partículas sólidas, envoltas por água, ar e material orgânico. Todos os solos deformam-se de alguma maneira, pois estão sujeitos a cargas externas. Quando as deformações são diferenciadas ao longo do plano das fundações de uma obra, uma grande intensidade de tensões é aplicada na estrutura, podendo gerar trincas O recalque diferenciado dos solos e, consequentemente as fissurações das construções podem ser causadas por diversos fatores relacionados à fundações (MAGALHÃES, 2004), como por exemplo: a) Carga de trabalho superior a carga admissível do solo ou de camadas inferiores; b) Falta de homogeneidade do solo; c) Rebaixamento do lençol freático; d) Influência de cargas de entorno e vizinhança; e) Condições diferenciadas de apoio e carga; f) Solapamento, erosão, escavação; g) Influência de vegetação ou tubulação adjacente; h) Congelamento, inundações, terremotos; Alves (2009) aponta ainda que outros problemas em fundações surgem mesmo após a conclusão das mesmas. As causas são variadas, é possível citar a alteração no uso 18 da edificação, modificações imprevistas na fase de projeto, execução de grandes escavações e oscilações não previstas do nível d’agua. 2.2.3.2 Estrutura A NBR 14931(ABNT,2004) define como execução da estrutura de concreto todas as atividades desenvolvidas na sua execução, ou seja, sistema fôrmas, armaduras, concretagem, cura e outras, bem como as relativas à inspeção e documentação de como construído, incluindo a análise do controle de resistência do concreto. Falhas construtivas durante a etapa de execução da obra podem causar repercussões danosas ao desempenho da estrutura de concreto. No que diz respeito à sequência de execução, a NBR 12655(ABNT,2015a) estabelece que primeiramente deve ser feita a caracterização dos materiais componentes do concreto, seguida de um estudo de dosagem e ajuste e comprovação do traço. Por fim, o concreto é preparado, levando em conta novamente, que falhas na concretagem podem trazer sérias consequências à estrutura, ainda mais em regiões agressivas ou de difícil acesso para inspeções Segundo Souza e Ripper (1998) nesta atividade, devem ser tomados todos os cuidados necessários ao bom andamento da construção. Assim, uma vez iniciada a construção podem ocorrer falhas diversas, associadas a causa como falta de condições de local de trabalho, não capacitação profissional da mão de obra, inexistência de controle de qualidade de execução e má qualidade de matérias e componentes. Ainda Souza e Ripper (1998) ressaltam que se tratando de uma obra de edificação habitacional, alguns erros são grosseiros. Casos como falta de prumo, de esquadro e de alinhamento de elementos estruturais e alvenarias, desnivelamento de pisos, falta de caimento correto em pisos molhados, ou execução de argamassas de 19 assentamento de pisos cerâmicos demasiado espessas, e flechas excessivas em lajes, são exemplos de erros facilmente constatáveis. Outros erros, no entanto, são de difícil verificação e só poderão ser adequadamente observados após algum tempo de uso, como é o caso de deficiências nas instalações elétricas e hidráulicas, por exemplo. 2.2.3.3 Vedações Magalhães (2004) destaca que as paredes de alvenaria têm como finalidade a vedação dos ambientes, os configurando e compartimentando, além disso, elas devem ter o controle sobre a ação de agentes externos, criando condições de habitabilidade para as edificações e atuando em conjunto com as esquadrias e os revestimentos. Dentre os váriosproblemas encontrados em alvenarias pode-se destacar as fissuras, desnivelamento de superfície, falta de prumo, entre outros. Segundo Thomaz (1989), o problema das fissuras é o mais importante, devido a três aspectos fundamentais: o aviso de um eventual estado perigoso para a estrutura, o comprometimento do desempenho da obra em serviço (estanqueidade à água, durabilidade, isolação acústica etc.), e o constrangimento psicológico que a fissuração do edifício exerce sobre seus usuários. Segundo observações feitas por Brandão (2007), em edificações no estado de Goiás, o maior índice de manifestações patológicas em alvenarias foi verificado na etapa executiva da parede, com um percentual de 22%, sendo que desse total, as fissuras tiveram um percentual de 69%. Na figura 2 pode ser vista a distribuição dessas manifestações. 20 Figura 2: Percentual de ocorrência de não conformidades. Fonte: adaptado de BRANDÃO (2007) Brandão (2007) ressalta que as fissuras classificadas como trincas diversas (43%) estão relacionadas a diferentes fatores, de acordo com as áreas das edificações analisadas. Segundo Gonçalves (2015), fissuras podem ser definidas como aberturas que afetam a superfície do elemento estrutural, facilitando a entrada e ação de agentes agressivos. Esse tipo de patologia pode surgir após anos de uso, dias, ou até mesmo horas, e suas causas são das mais variadas, assim como seus diagnósticos. As causas destas fissuras são várias e de diagnóstico difícil. “A fissuração pode ser considerada a patologia que mais ocorre, ou pelo menos a que chama mais atenção dos proprietários” (SOUZA e RIPPER, 1998). As trincas podem começar a surgir de forma congênita, logo no projeto arquitetônico da construção. Os profissionais ligados ao assunto devem se conscientizar de que muito pode ser feito para minimizar-se o problema, pelo simples fato de reconhecer-se que as 21 movimentações dos materiais e componentes das edificações civis são inevitáveis. (THOMAZ, 1989). Na figura 3 Dal Molin (1988) indicou as principais causas de fissuras e suas respectivas incidências. Figura 3: Tipos de fissuras. Fonte: DAL MOLIN (1988) 2.2.3.4 Instalações hidrossanitárias As instalações hidrossanitárias, além de exercerem sua função de abastecer de maneira adequada os usuários, tanto com água fria como quente, condução de esgotos, instalações de gás, entre outros, devem também ter a capacidade, dentre outras funções, de absorver as deformações e esforços gerados pelos outros sistemas que estão interrelacionados com a estrutura do edifício. Assim, o desempenho de um sistema afeta outros sistemas e vice-versa, e o desempenho global do edifício deve ser encarado como um sistema integrado (BORGES,2008). Brandão (2007) realizou uma análise nos relatórios elaborados pelo CREA-GO, a fim de obter os itens com maior número de incidências na etapa de instalações hidrossanitárias. De acordo com as observações nas edificações pesquisadas, as 22 manifestações patológicas relacionadas às instalações hidráulicas tiveram 9% das ocorrências e tiveram seus defeitos distribuídos conforme a figura 4 Figura 4 Patologias nas Instalações Hidrossanitárias. Fonte: Adaptado de BRANDÃO (2007). 2.2.3.5 Instalações elétricas No estudo realizado por Bernardes (1998) sobre as não conformidades nas instalações elétricas, elas representaram 6,95% do total pesquisado, que ficaram classificadas como: defeito em acabamento (48%), cabos soltos (20%), falta de espelho (20%), erro no fechamento de circuitos (1%). A NBR 5410 (ABNT, 1997), que trata das instalações elétricas de baixa tensão, recomenda que as instalações elétricas sejam ensaiadas durante o processo de execução, recorrendo-se a alguns testes básicos. Dentre eles pode-se mencionar a verificação do isolamento do cabeamento, continuidade das conexões, verificação da resistência do eletrodo terra, verificação do funcionamento dos dispositivos de proteção e manobra. Thomaz (2001) destaca como falhas gerais em instalações elétricas a falta de identificação de circuitos nas caixas de alimentação ou distribuição, instalação de caixas 23 de tomadas ou interruptores em cota errada, caixas e eletrodutos muito reentrantes ou muito salientes nas paredes e tetos, eletrodutos com curvas de pequeno raio e/ou introduzidos sob tensão em rasgos ou aberturas. Conforme mencionado por Thomaz (2001), o choque elétrico é o problema mais grave que pode ocorrer em instalações elétricas Para as instalações são do tipo elétricas, Rodrigues (2013) cita os seguintes tipos principais de patologias: a) Interferência entre distribuição elétrica e hidráulica; b) Curtos circuitos; c) Quedas de luz; d) Fiação deficiente; e) Defeitos na fabricação de interruptores e tomadas; f) Queima de lâmpadas e reatores; g) Fios soltos. 2.2.3.6 Acabamentos Um sistema de edificação é basicamente composto de estrutura, vedação e revestimento. As manifestações patológicas tanto da estrutura ou vedação e do próprio revestimento aparecem no revestimento. “A principal função dos acabamentos é a de proteção dos elementos estruturais e alvenarias de vedação. Os acabamentos protegem a edificação das intempéries aumentando sua vida útil e desempenho” (DEUTSCH, 2011). Podemos observar nas edificações os seguintes fenômenos, prejudiciais ao aspecto de paredes e tetos: 24 a) pintura encontra-se parcial ou totalmente fissurada, deslocando da argamassa de revestimento; b) existência de formação de manchas de umidade, com desenvolvimento de bolor; c) existência de formação de eflorescência na superfície da tinta ou entre a tinta e o reboco; d) a argamassa do revestimento descola inteiramente da alvenaria, em placas compactas ou por desagregação completa; e) a superfície do revestimento apresenta fissuras de conformações variada; f) a superfície do revestimento apresenta vesículas com deslocamento da pintura; g) o reboco endurecido empola progressivamente, deslocando do emboço. Estes fenômenos podem se apresentar como resultados de uma ou mais causas, atuando sobre a argamassa de revestimento, tais como: a) tipo e qualidade dos materiais utilizados no preparo da argamassa de revestimento; b) má proporção das argamassas; c) má aplicação de revestimento; d) fatores externos ao revestimento; As patologias dos acabamentos podem ser separadas em patologias nas argamassas e nos revestimentos cerâmicos. Deustch (2011) salienta: A base que receberá os revestimentos deverá ser corretamente especificada e preparada, para se evitarem problemas de falta de aderência, entre outros. As argamassas, assim como o concreto, também são plásticas nas primeiras horas, e endurecem com o tempo, ganhando elevada resistência e durabilidade. A correta especificação da dosagem é essencial para um bom desempenho e trabalhabilidade. 25 Principais patologias nas argamassas: a) manchas de umidade e mofo; b) descolamento da argamassa do substrato; c) aparecimento de bolhas; d) aparecimento de fissuras; e) retrações – ocorrem quando a argamassa seca muito rapidamente; um reboco em parede muito ensolarada deverá ser mantido úmido por no mínimo três dias, adquirindo resistência as tensões de secagem; f) pulverulência – excesso de finos nos agregados ou traço pobre. As patologias nos revestimentos cerâmicos podem ter origem na etapa de projeto, quando são escolhidos os materiais, ou quando o projetista não leva em consideração as interações do revestimento com outras partes da construção (esquadrias, estrutura etc.), ou na fase de execução. As patologias nos revestimentos cerâmicos de pisos são: a) caimento inadequado; b) manchas decorrentes da umidade ascendente; c) deficiência de impermeabilização; d) eflorescências; e) descolamentos e destacamentos. E nos revestimentos de paredes ou fachadas são:a) descolamentos e destacamentos das placas; b) trincas e fissuras; c) eflorescências; d) deterioração das juntas; e) bolor. 26 2.2.3.7 Impermeabilização Segundo a NBR 9575 (ABNT, 2003), impermeabilização é o produto resultante de um conjunto de componentes e elementos construtivos que objetivam proteger as construções contra a ação deletéria de fluidos, de vapores e da umidade. As falhas nos processos de impermeabilização causam diversas manifestações patológicas em uma edificação. De acordo com Moraes (2002), as origens dos defeitos devido aos problemas de projeto podem ocorrer devido a: a) Ausência do próprio projeto; b) Especificação inadequada de materiais; c) Falta de dimensionamento e previsão do número de coletores pluviais para escoamento d’água; d) Interferência de outros projetos na impermeabilização. Entre as causas dos defeitos devido à execução, Moraes (2002) destaca: e) Falta de argamassa de regularização que ocasiona a perfuração da impermeabilização; f) Não arredondamento de cantos e arestas; g) Execução de impermeabilização sobre a base úmida, no caso de aplicações de soluções asfálticas, comprometendo a aderência e podendo gerar bolhas que ocasionarão deslocamento e rupturas da camada impermeabilizante; h) Execução da impermeabilização sobre base empoeirada, comprometendo a aderência; i) Juntas travadas por tábuas ou pedras, com cantos cortantes que podem agredir a impermeabilizante; j) Uso de camadas grossas na aplicação da emulsão asfáltica, para economia de tempo, dificultando a cura da emulsão; 27 k) Falhas em emendas; l) Perfuração de mantas pela ação de sapatos com areia, carrinho, etc. Pinto (1996), destaca as seguintes patologias: a) Desagregação da argamassa, a qual se inicia na superfície dos elementos de concreto com uma mudança de coloração, seguida de aumento de fissuras pela perda do caráter aglomerante do cimento; b) Desagregação de tijolos maciços pela formação de pó de coloração avermelhada e na forma de escamas; c) Eflorescências: formação de depósitos de sais cristalizados originados pela migração de água, rica em sais, do interior da alvenaria ou concreto; d) Gotejamento de água pela umidade excessiva que se encontra em um ponto da superfície por tensão superficial, caindo por gravidade ao atingir determinado volume; e) Mancha de umidade devido a parte circunscrita da superfície que se apresenta impregnada de água, apresentando cor diferente do restante da mesma; f) Vegetação em determinados pontos da estrutura, geralmente em locais com fissuras e com umidade; g) Formações de bolhas na pintura, que apresentam em seu interior cores branca, preta e vermelha acastanhada. 2.2.4 Utilização Após a conclusão e entrega do produto, cabe ao seu usuário cuidar de utilizá-la da maneira mais eficiente, com o objetivo de manter as características originais ao longo de toda a sua vida útil. A eficiência relaciona-se tanto com as atividades de uso, como, por exemplo, garantir que não sejam ultrapassados os carregamentos previstos 28 em projeto, quanto com as atividades de manutenção, já que o desempenho da estrutura tende a diminuir ao longo da sua vida útil (ANDRADE e SILVA, 2005). Segundo Souza e Ripper (1998), os problemas patológicos ocasionados por ausência de manutenção ou mesmo por manutenção inadequada, têm sua origem no desconhecimento técnico, na incompetência, no desleixo e em problemas econômicos. A falta de destinação de verbas para manutenção pode vir a tornar-se fator responsável pelo aparecimento de problemas estruturais de maior gravidade, implicando em grandes gastos e, dependendo da situação, pode levar até mesmo a demolição da estrutura. Portanto, para garantir a satisfação dos clientes é fundamental que a construtora os oriente sobre os procedimentos mais adequados ao melhor aproveitamento da edificação, à redução dos custos de manutenção e preservação da sua vida útil, minimizando a ocorrência de falhas. Estas informações devem ser apresentadas num manual destinado aos proprietários, usuários e administradores das edificações O Manual do Usuário, também conhecido como Manual de uso, operações e manutenção, auxilia na utilização correta e manutenção do imóvel, contendo as principais informações sobre o uso, características construtivas, materiais empregados, informações técnicas de projeto, cuidados necessários durante as operações de limpeza, manutenção e garantias, orientando sobre os direitos e deveres que assistem aos usuários. A norma NBR 14037 (ABNT, 2011) o manual de operação, uso e manutenção das edificações tem por finalidade a) Informar aos usuários as características técnicas da edificação construída; b) Descrever procedimentos recomendáveis para o melhor aproveitamento da edificação; c) Prevenir a ocorrência de falhas e acidentes decorrentes do uso inadequado; 29 d) Contribuir para o aumento da durabilidade da edificação De acordo com a norma NBR 15575 (ABNT, 2013), o Manual de uso, operação e manutenção deve conter informações como prazos de garantia, vida útil de projeto, a correta utilização da edificação, cronograma de manutenções, áreas de acesso, especificação dos materiais utilizados. O Manual de uso operação e manutenção deve ser claro e direto evitando assim que se torne um problema. Manuais confusos e burocráticos não cumprem a função de orientar e guiar os usuários da edificação, principalmente no Brasil onde a população tem a cultura de realizar reformas e manutenções, mesmo que pequenas, sem a participação de profissionais especializados ou regulamentados. Essas reformas ilegais e manutenções, muitas vezes incorretas, comprometem o desempenho da edificação. Por exemplo, reformas em obras de alvenaria estrutural, onde o usuário por conta própria remove ou abre janelas ou portas em paredes que exercem função estrutural e não somente de vedação. Esta intervenção tem serias consequências podendo causar até o colapso da estrutura. O objetivo principal da elaboração do Manual de Operação, Uso e Manutenção de Edificações é manter a comunicação entre fornecedores e proprietários de forma simples, clara, direta e de fácil compreensão, sem utilizar recursos sofisticados ou técnicos de linguagem. Logo, um bom Manual do Proprietário, com informações precisas, tornará a fase de utilização, que é a mais longa de todo processo construtivo, segura e satisfatória ao usuário. 2.3 Custos das não conformidades Para Carpinetti e Rossi (1998), a execução dos serviços no canteiro de obras, “interferem diretamente nos custos, na produtividade e na qualidade do produto final da 30 construção civil e quando mal gerenciados ocasionam grandes desperdícios, tanto de materiais como de mão de obra”. Thomaz (2001) diz que boa parte das não conformidades em obras, “ocorrem principalmente devido às omissões, à falta de projetos executivos, falhas de detalhamento ou estudo insuficiente das interferências, além de outros intervenientes que ocorrem muitas vezes até por desconhecimento dos processos”. Com a promulgação do Código de Defesa do Consumidor (CDC) através da Lei nº 8078 de 1990, foram introduzidos diversos direitos e garantias aos consumidores. Estes direitos foram ampliados ainda mais com o novo Código Civil de 2003 e reforçados com o surgimento do Órgão de Proteção e Defesa do Consumidor (PROCON). Para adaptar-se às mudanças da legislação e ao novo perfil de consumidor, o setor da construção civil teve que readequar seus processos, em busca de uma melhor eficiência qualidade do produto “edificação” (VAZQUEZ e SANTOS,2010). As empresas de construção civil, de acordo com Souza (1995), têm consciência do elevado índice de desperdícios que estão presentes nos processos produtivos, e sabem que o combate aos mesmos possibilita redução de custos de produção e aumento de competitividade tãoimportantes no mercado atual. As falhas construtivas geram gastos na etapa de pós-ocupação, onerando os custos previstos inicialmente do empreendimento, quando da elaboração e quantificação inicial. Além disto, a incidência das patologias nas edificações tem gerado despesas extras aos condomínios de edifícios que, muitas vezes precocemente, têm que submetê- las a intervenções que poderiam perfeitamente ser evitado (SILVA, 2008). Vazquez e Santos (2010) apresentam um estudo estatístico com informações de um banco de dados de uma grande construtora. Estes dados ajudam a caracterizar a relação das patologias ocorridas nos empreendimentos estudados e sua respectiva causa. 31 Tabela 5: Solicitação por causa- jan2005/mai2008 Fonte: VAZQUEZ e SANTOS(2010) Vazquez e Santos (2010) transformam os dados da tabela 5, obtidos nos 40 meses de 2005 a 2008, em um gráfico conforme demonstrado na figura 5. 32 Figura 5: Gráfico das solicitações. Jan2005/Mai2008 Fonte: VAZQUEZ e SANTOS (2010). De acordo com a Figura 5, as instalações hidráulicas são as mais recorrentes de todas as causas de não conformidades, atingindo 25,79% do universo amostral das solicitações nesses 40 meses. Em seguida temos impermeabilização, pintura e limpeza com 15,95% e 7,88% respectivamente. Na tabela 6 é possível ver o custo dessas patologias. 33 Tabela 6: Custo por causa- jan2005/mai2008. Fonte: VAZQUEZ e SANTOS (2010) Observa-se na tabela que mesmo sendo a causa com maior número de ocorrências o custo das instalações hidrossanitárias é menor que o da 34 impermeabilização. “Logo, não significa que certa patologia possua número de incidência e custos igualmente proporcionais” (VAZQUEZ, 2010). Surge dessa forma à necessidade de controlar a qualidade para evitar o custo da não-conformidade e segundo Tschohl (1996), fazer o trabalho corretamente pela primeira vez, impedindo consequentes reclamações, produz nos clientes maior satisfação e maior lealdade à marca. O desperdício é mais uma característica deste custo para a empresa e se manifesta na forma de falhas na fase de pós-ocupação das obras, caracterizadas por patologias construtivas. Os desperdícios são normalmente denominados no meio técnico da construção civil como subprodutos das não conformidades (MALDANER, 2003). Thomaz (2001) afirma que os desperdícios de insumos e a má utilização da mão de obra na construção civil são acentuados quando comparados àqueles da maioria das indústrias fixas, Souza (1995) afirma que o desperdício é característica marcante no setor da construção civil. Ele é um dos indicadores da existência dos custos da não qualidade que resultam de falhas internas dentro do processo de produção das empresas. 2.4 Não conformidades devido à NBR 15575:2013 Diferentemente da versão anterior da NBR 15575 de 2008 a nova versão da norma deixa de abordar apenas os edifícios de até cinco pavimentos para tratar de todos os novos edifícios residenciais. Além dessa mudança uma série de outros requisitos foram incorporados, não somente aos itens que já existiam, mas também a novos, como por exemplo os desempenhos térmicos, acústicos e lumínicos. A edificação deve reunir características que atendam às exigências de desempenho térmico, considerando-se as zonas bioclimáticas definidas na NBR 15.220 -Desempenho Térmico de Edificações. A norma apresenta ainda níveis mínimos de iluminância (natural e artificial) para os ambientes. Com relação ao desempenho 35 acústico, a edificação deve atender ao limite mínimo de desempenho estabelecido nas partes 3, 4 e 5 da NBR 15.575. Portanto, ainda não há estatísticas sobre as não conformidades associadas a norma de desempenho que foi revisada em 2013, porém em função das exigências uma nova tendência de não conformidades certamente será gerada em relação ao desempenho das edificações. 36 3 CONTROLE DA QUALIDADE EM OBRAS DE EDIFICAÇÕES 3.1 Definições Thomaz (2001) propõe definir qualidade como “o conjunto de propriedades de um bem ou serviço que redunde na satisfação das necessidades de seus usuários, com a máxima economia de insumos e energia, com a máxima proteção à saúde e integridade física dos trabalhadores na linha de produção, com a máxima preservação da natureza” Para Deming (1990) o termo qualidade deve ser entendido como o atendimento às necessidades atuais e futuras do consumidor, o autor acredita que as empresas devem compreender e oferecer produtos que satisfaçam as necessidades dos clientes, propondo um direcionamento empresarial voltado para a melhoria da qualidade através do controle dos processos produtivos. Ainda Deming (1993) diz “Qualidade é tudo aquilo que melhora o produto do ponto de vista do cliente”. Para Crosby (1994) “Qualidade é a conformidade do produto às suas especificações. ” As necessidades devem ser especificadas, e a qualidade é possível quando essas especificações são obedecidas sem ocorrência de defeito. A norma de qualidade NBR ISO 9000 (ABNT, 2015) diz que a qualidade é o “grau em que um conjunto de características inerentes de um objeto satisfaz requisitos”, portanto qualidade pode ser acompanhada dos adjetivos má, boa ou excelente e afins. A NBR ISO 9000 (ABNT, 2015) apresenta outros conceitos relacionados a qualidade, entre eles surge o controle da qualidade definido como “parte da gestão da qualidade focada em prover atendimento dos requisitos da qualidade” Além do conhecimento sobre os diversos conceitos de qualidade apresentados, as empresas necessitam ter uma visão sistêmica de todo o processo empresarial para que seja facilitada a implantação do sistema de gestão da qualidade (SOUZA, 1995). 37 3.2 Aspectos Históricos Garvin (1992) diz que o Controle de Processo foi abordado pela primeira vez por Shewhart na obra Economic Control of Quality, em 1931. Nesta publicação, Shewhart define de forma precisa e mensurável o controle de fabricação, admite a existência da variação no produto e desenvolve técnicas de como distinguir as variações aceitáveis das flutuações que indicassem problemas. Este foi o primeiro passo para o controle estatístico da qualidade. Segundo Picchi (1993), os métodos estatísticos possibilitam uma inspeção mais eficiente, eliminando a necessidade de checar 100% das peças, mas mantendo ainda o enfoque corretivo e não influindo no enorme número de produtos defeituosos sucateados. No Brasil os primeiros movimentos em relação ao controle de qualidade ocorrem a partir da década de 40 com a criação da ABNT. A ABNT é o Foro Nacional de Normalização por reconhecimento da sociedade brasileira desde a sua fundação, em 28 de setembro de 1940, e confirmado pelo governo federal por meio de diversos instrumentos legais. A ABNT é responsável pela elaboração das Normas Brasileiras (ABNT NBR), elaboradas por seus Comitês Brasileiros (ABNT/CB), Organismos de Normalização Setorial (ABNT/ONS) e Comissões de Estudo Especiais (ABNT/CEE) (ABNT, 2011). A criação de uma organização Nacional de normalização terminou ligada ao desenvolvimento da construção civil e a um domínio técnico bem específico - o uso do concreto armado. De maneira até surpreendente, os engenheiros civis brasileiros tiveram condições de avançar de modo pioneiro em termos mundiais e puderam 38 perceber, de forma imediata e relativamente autônoma, as necessidades e o potencial da normalização Desde 1950, a ABNT atua também na avaliação da conformidade e dispõe de programas para certificação de produtos, sistemas e rotulagem ambiental. Esta atividade está fundamentada em guias e princípios técnicos internacionalmente aceitos e alicerçada em uma estrutura técnica e de auditores multidisciplinares, garantindo credibilidade, ética e reconhecimento dos serviços prestados. As primeiras Normas Técnicas Brasileiras: a NB-1 – Cálculo e Execução de Obras de Concreto - ea MB-1 – Cimento Portland – Determinação da Resistência à Compressão. Os dois documentos já vinham sendo utilizados pela engenharia nacional, tendo sido elaborados ainda no final dos anos 1930 (ABNT, 2011) Em 1992 foi lançado o PBQP-H, que propõe organizar o setor da construção através da melhoria da qualidade nas obras brasileiras frente a iminente competição global aliado à modernização de toda a cadeia produtiva. Carpinetti e Rossi (1998) dentre os programas de qualidade, além das normas ISO o PBQP-H tem se difundido com boa aceitação, em nível nacional. O PBQP-H foi instituído pela Portaria nº 134, de 18 de dezembro de 1998, do Governo Federal, tendo por objetivo básico: “apoiar o esforço brasileiro de modernidade e promover a qualidade e produtividade do setor da construção habitacional, com vistas a aumentar a competitividade de bens e serviços por ele produzidos”. No ano de 2000, seu propósito foi ampliado, passando a englobar também as áreas de saneamento e infraestrutura urbana, e passou a se chamar Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade na Construção Habitat, conceito então mais amplo e que reflete melhor a sua área de atuação (PBQP-H, 2017). 39 O PBQP-H foi estruturado em projetos, sendo que cada projeto corresponde a um conjunto de ações que contribui diretamente para o desenvolvimento do Programa, e busca solucionar um problema específico na área da qualidade da construção civil. Para este trabalho convém abordar o SiAC. 3.3 O processo como ponto de partida A providência inicial para dar o início no desenvolvimento do controle da qualidade de uma obra é estabelecer o processo de cada atividade a ser desenvolvida e em seguida identificar os materiais e atividades críticas dos mesmos para estabelecer como o controle da qualidade deve atuar. 3.3.1 Conceito de processo Segundo Davenport (1994), “um processo é um conjunto de atividades estruturadas e medidas destinadas a resultar em um produto especificado para um determinado cliente ou mercado”. Ainda Davenport (1994) o processo “é uma ordenação específica das atividades de trabalho no tempo e no espaço, com um começo, um fim, e inputs e outputs claramente identificados: uma estrutura para a ação. ” Citando Gomes (2006), “os processos correspondem a um conjunto de recursos e atividades inter-relacionados que recebe insumos e transforma-os, de acordo com uma lógica pré-estabelecida e com agregação de valor, em produtos-serviços, para responderem às necessidades dos clientes”, reiterando a articulação da idéia, proposta por Davenport, de processo de trabalho ao fornecimento de um produto com clientes específicos. Assim, um processo é uma sequência especifica de atividades orientadas à ação através do tempo e lugar, com um começo e fim, e com entradas e saídas claramente identificadas. 40 3.3.2 Como desenhar o processo Processos apresentam algumas características muito claras. Uma primeira delas é a delimitação: têm um começo e um fim claramente estabelecidos. Em geral, os processos tendem a articular-se entre si no interior de uma organização ou no âmbito da cadeia de suprimentos. Com isso, normalmente o fim de um processo é o evento de disparo (início) de outro processo. Isto faz com que a intervenção de redesenho de um processo leve em conta essas ligações com outros. Dificilmente é possível alterar apenas um processo, isoladamente. Por exemplo, não é possível alterar o processo de gestão de estoques de suprimentos sem intervir também no processo de sua aquisição. O Fluxograma, ou gráfico de processamento para análise administrativa, é a representação de fenômenos quaisquer, traduzindo, de um ponto de vista, um raciocínio esquematizado, cujo objetivo é facilitar a compreensão da exata tramitação de certo fluxo de trabalho, de um formulário ou de uma rotina (CURY,2000). Esta ferramenta é uma representação gráfica que mostra todos os passos de um processo. Serve para descrever e estudar um processo ou planejar as etapas de um novo Rossato (1996) descreve Fluxograma como uma ferramenta fundamental, tanto para o planejamento (elaboração do processo) como para o aperfeiçoamento (análise, crítica e alterações) do processo. Um Fluxograma pode ser construído: (ROSSATO, 1996) a) Para identificar o fluxo atual ou o fluxo ideal do acompanhamento de qualquer produto ou serviço, no sentido de identificar desvios; b) Para verificar os vários passos do processo e se estão relacionados entre si; c) Na definição de projeto, para identificar as oportunidades de mudanças, na definição dos limites e no desenvolvimento de um melhor conhecimento detodos os membros da equipe; 41 d) Nas avaliações das soluções, ou seja, para identificar as áreas que serão afetadas nas mudanças propostas, etc. Para a elaboração de um Fluxograma é necessário: a) Envolver as pessoas que participam do processo b) Identificar as fronteiras do processo, mostrando o início e o fim, usando sua simbologia adequada (ROSSATO, 1996); c) Documentar cada etapa do processo, registrando as atividades, as decisões e os documentos relativos ao mesmo (ROSSATO, 1996). As vantagens do Fluxograma são: a) Definir claramente os limites do processo. b) Útil no treinamento de novos funcionários. c) Utiliza símbolos simples (linguagem padrão de comunicação). d) Visão global do processo. e) Assegura solução para todas as alternativas. f) Identifica ciclos de retrabalho. g) Facilita a identificação de clientes e fornecedores. 3.3.3 Identificação de pontos críticos nas atividades para ação do controle da qualidade Segundo Suzuki (2000), para se obter qualidade é necessário controlar cada serviço, isto é, padronizar e planejar sua execução, treinar a mão de obra envolvida, fazer de acordo com o que foi planejado, checar o que foi realizado e enfim tomar ações corretivas quando necessário. Nos processos críticos, é necessário destacar a identificação dos pontos de inspeção (onde realizar), as formas de controle (quando realizar) e os métodos de monitoramento (SANTOS, 2003). 42 Thomaz (1999), a seguinte classificação: a) Falhas Críticas (FC) – Não conformidades que podem afetar a segurança ou a durabilidade da obra, interferir seriamente com outros serviços, prejudicar as condições de saúde e segurança no trabalho; b) Falhas Graves (FG) – Não conformidades que podem repercutir em importantes desperdícios ou retrabalhos, comprometer a programação e os prazos e prejudicar o desempenho da obra acabada; c) Falhas Secundárias (FS) – Não conformidades que produzem pequenos desperdícios, podendo, todavia, sofrer correções nem muito onerosas ou nem muito trabalhosas. Ainda Thomaz (1999), afirma que as falhas devem ser prevenidas através de controle da qualidade mais ou menos rigorosos, com uma ponderação sugerida em função de sua importância, como a seguir: a) Controles Essenciais (CE) – São aqueles vitais para garantia do desempenho dos processos; b) Controles Importantes (CI) – Destinados a melhorar a qualidade, evitar desperdícios, cumprir programação; c) Controles Ocasionais (CO) – Otimizam a qualidade dos serviços e da obra. Essa classificação leva em conta as repercussões negativas de uma falha específica, como a possibilidade de comprometimento na cadeia de qualidade dos serviços seguintes. A definição do tipo de controle e da forma de inspeção dependerá da época e das condições de normalidade. A figura 6 traz um fluxograma elaborado por Thomaz (1999) a fim de ilustrar as possibilidades do tipo de controle da qualidade a ser realizado 43 Figura 6- Fluxograma das possibilidades de controle Fonte: THOMAZ (1999) 3.4 O controle da qualidade na execução de Edificações 3.4.1 Tipos de controle em diferentes etapas Visando a conformidade do produto final e utilizando a classificação proposta por Thomaz (1999) descrita no item
Compartilhar