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PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO Registro: 2016.0000594102 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº 2082707-06.2014.8.26.0000, da Comarca de Franca, em que são agravantes COURO WAY LTDA. ME e JULIANO CÉSAR NEVES, é agravado HSBC BANK BRASIL S/A.. ACORDAM , em 20ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores LUIS CARLOS DE BARROS (Presidente) e REBELLO PINHO. São Paulo, 15 de agosto de 2016. CORREIA LIMA RELATOR Assinatura Eletrônica PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO Agravo de Instrumento nº 2082707-06.2014.8.26.0000 - Franca - Voto nº 32261 2 VOTO Nº: 32261 AGRV. Nº: 2082707-06.2014.8.26.0000 COMARCA: Franca (3ª V. Cív.) AGVTES.: Couro Way Lt da. Me. e J ul i ano César Neves (Exct dos.) AGVDO.: HSBC Bank Brasi l S.A. Banco Múl t i plo (Exqt e.) EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO Execução por título extrajudicial Deferimento de penhora de imóveis indicados pelo exequente Alegada impossibilidade, em razão de os imóveis serem de propriedade exclusiva do cônjuge mulher Acolhimento da arguição Prova do casamento do devedor com a real proprietária dos imóveis sob o regime de participação final nos aquestos Propriedade exclusiva do adquirente do bem que não se estende ao cônjuge, com o patrimônio pessoal deste não se comunicando – Artigos 1.672 e 1.673 do Código Civil Impenhorabilidade reconhecida Recurso provido. 1. Trata-se de agravo de instrumento oferecido por Couro Way Ltda. Me. e Juliano César Neves, em execução por título extrajudicial (contrato para financiamento de capital de movimento ou abertura de crédito e financiamento para aquisição de bens móveis ou crédito pessoal, ou prestação de serviços e outras avenças nº 11560465581, de 18.09.2008, no valor de R$60.000,00, para pagamento em 12 parcelas de R$5.723,13, não trasladado, conforme Ap. nº 0005468-90.2010.8.26.0196) movida por HSBC Bank Brasil S.A. Banco Múltiplo, contra r. decisão reproduzida a fls. 8 (fls. 170 dos autos originários) que, dentre outras providências, deferiu a penhora dos imóveis indicados pelo credor, por sua conta e risco, determinando a lavratura do respectivo termo nos próprios autos e a intimação dos executados sobre a constrição, bem como a intimação de eventual cônjuge. Alegam os agravantes, em resumo, que (1) os imóveis indicados pelo agravado não são passíveis de penhora, pois são de propriedade exclusiva da esposa do executado Juliano, casados sob o regime de participação final nos aquestos, (2) não havendo qualquer PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO Agravo de Instrumento nº 2082707-06.2014.8.26.0000 - Franca - Voto nº 32261 3 participação do devedor nos imóveis alvo da constrição, a penhora recairá sobre bens de terceiro estranho à lide, (3) já houve penhora de outros bens, sendo a agravante Couro Way titular de outro imóvel que pode ser penhorado (fls. 1/7). Pede-se o efeito suspensivo e o provimento para que seja reformada a r. decisão impugnada, declarando-se a impenhorabilidade dos imóveis. Processada a insurgência, concedeu-se o efeito suspensivo postulado, dispensaram-se informações (fls. 55/56) e o agravado apresentou contraminuta (fls. 60/63). É o relatório. 2. A irresignação comporta provimento. 3. Dispõem os artigos 1.672 e 1.673 do Código Civil, invocados pelo agravante, in verbis: “Art. 1.672. No regime de participação final nos aquestos, cada cônjuge possui patrimônio próprio, consoante disposto no artigo seguinte, e lhe cabe, à época da dissolução da sociedade conjugal, direito à metade dos bens adquiridos pelo casal, a título oneroso, na constância do casamento. Art. 1.673. Integram o patrimônio próprio os bens que cada cônjuge possuía ao casar e os por ele adquiridos, a qualquer título, na constância do casamento. Parágrafo único. A administração desses bens é exclusiva de cada cônjuge, que os poderá livremente alienar, se forem móveis.” “Pelo regime de participação final nos aquestos, os cônjuges vivem sob verdadeira separação de bens, vale dizer, cada cônjuge tem a livre administração de seus próprios bens, enquanto PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO Agravo de Instrumento nº 2082707-06.2014.8.26.0000 - Franca - Voto nº 32261 4 durar a sociedade conjugal. A eficácia desse regime de bens quanto à efetiva participação final nos aquestos só surge com o fato jurídico da dissolução da sociedade conjugal. Antes disso o casal vive sob o regime da separação de bens. Na constância da sociedade conjugal, tudo o que os cônjuges adquirirem integrará, respectivamente, a massa do patrimônio de cada um. No momento da dissolução da sociedade conjugal serão apurados os bens adquiridos na constância da sociedade conjugal, a título oneroso, e divididos pela metade para cada um dos cônjuges. Nesse sentido: Rolf Madaleno. Do regime de bens entre os cônjuges (Dir. Fam. Novo CC, n. 6, p. 171).” (NERY JUNIOR, Nelson e NERY, Rosa Maria de Andrade. Código Civil Comentado. 11ª ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2014, p. 1.914, nota 2 ao art. 1.672). Entende-se por patrimônio próprio a “Massa patrimonial de cada cônjuge sob sua exclusiva administração, composta de todos os bens e direitos que estavam sob sua titularidade antes da celebração do casamento, bem como por todos os que, a qualquer título, durante a constância do casamento, tenham sido acrescidos à massa patrimonial, onerosa ou gratuitamente, ou ainda, que tenham vindo para o patrimônio pessoal do cônjuge em virtude da eficácia diferida de causas originadas antes ou depois do casamento.” (op. citada, p. 1.915, nota 2 ao art. 1.673). 4. In casu, o executado-agravante apresentou nos autos originários, ao formular seu pedido de declaração, na execução, de impenhorabilidade dos imóveis indicados pelo exequente-agravado, cópia da certidão de casamento com sua esposa (fls. 26) e da escritura pública de pacto antenupcial (fls. 27/28), evidenciado que se casou sob o regime de participação final nos aquestos, cujas especificidades foram ressalvadas acima. As cópias das matrículas dos imóveis alvo do pedido PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO Agravo de Instrumento nº 2082707-06.2014.8.26.0000 - Franca - Voto nº 32261 5 de penhora do agravado fazem prova de que a titularidade do respectivo domínio pertence exclusivamente à esposa do executado (fls. 33/34, registro 4, e fls. 38, registro 7, respectivamente). De acordo com as especificidades mencionadas acerca do regime nupcial mencionado, conquanto os imóveis tenham sido adquiridos pela esposa do devedor-agravante durante a constância da sociedade conjugal, não se comunicam ao patrimônio desse executado. Sendo assim, conforme o disposto no artigo 789 do atual Código de Processo Civil, que estabelece que o devedor responde com os seus bens para o cumprimento de suas obrigações, bem como de acordo com o disposto no artigo 674 do mesmo diploma instrumental, que determina que quem, não sendo parte no processo, sofrer constrição ou ameaça de constrição sobre bens que possua ou sobre os quais tenha direito incompatível com o ato constritivo, poderá requerer seu desfazimento ou sua inibição por meio de embargos de terceiro, a impenhorabilidade dos imóveis indicados pelo credor na execução originária, por não pertencerem aos devedores, mas a terceira, não se comunicando, na espécie, com o patrimônio dos executados, era a medida acertada que ao caso se impunha. 5. Isto posto dá-se provimento ao recurso a fim de reformar a r. decisão recorrida (fls. 170 dos autos da execução nº 0037264-36.2009.8.26.0196),declarando-se insubsistentes, se já formalizadas, as penhoras dos imóveis objeto das matrículas n° 12.501 e 63.929 do 2º Cartório de Registro de Imóveis de Franca-SP (fls. 32/39), impondo-se tornar sem efeito a constrição indevida. CORREIA LIMA RELATOR Assinatura Eletrônica
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